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Caderno Criminologia

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Aula 1
conceito, objeto e método da criminologia:
- conceito positivista (manuais de direito): "exame causal-explicativo do crime e dos
criminosos", trabalha com o método causal e explicativo de forma técnica, sobre o crime e
seus constituinte (agente, ambiente, etc.) é o conceito mais difundido na literatura do direito
penal.
- ciência penal para von liszt era composta por:
1. criminologia: ciência no seu sentido estrito que operaria da mesma maneira que as
ciências naturais, podem ser investigados de maneira técnica e causal (estudo das
causas de um fenômeno externo).
2. política criminal: o que fazer sobre o crime, quais estratégias políticas adotar, a partir
do conhecimento científico
3. Direito penal (dogmática): Carta magna do delinquente, barreira infranqueável da
política criminal. Garantias expressas pelo direito para limitar o exercício da
realização de uma política criminal a partir de determinados parâmetros normativos
são garantias mínimas daqueles que eram objetos das políticas criminais do estado.
Tal compreensão positivista hoje não satisfaz pois se revelou limitada e equivocada. Assim, de
maneira mais atualizada, novos conceitos que reúnem todos os conhecimento produzidos ao longo
da sucessão de pesquisas criminológicas realizadas são:
- Conceito critico: atividade intelectual que estuda os processos de criação das normas penais
e das normas sociais que estão relacionadas com o comportamento desviante dessas normas;
e a reação social, formalizada ou não, que aquelas infrações ou desvios tenham provocado: o
seu processo de criação, a sua forma e os seus efeitos” (Lola Aniyar de Castro).
Essa definição é muito mais abrangente que um desdobramento causal desviante das normas sociais
pois estuda todos os processos de reação social, as infrações e desvios ocorridos - institucional ou
não, o processo de criação do crime e todos os efeitos que se produz no convívio humano e reação
em tomar essa medida é o objeto de estudo da criminologia.
- Conceito sucinto: “corpo de conhecimentos que observa o delito como fenômeno social”
(Anitua) → “making the law, breaking the law and de social reaction to it” (Sutherland).
Aqui, interessa tanto a atividade de construção da lei de criminalização de condutas, o contexto de
violação dessas condutas e o contex de reação social a esse desvio
As formas de compreensão do delito se distingue no estudo dos ramos do saber descritos e
distinguidos abaixo:
Criminologia Direito Penal Política Criminal
Objeto de estudo:
Delito, delinquente, vítima, Agências
de controle social do delito (de que
maneira se dá a definição de uma
conduta como criminosa), a acao e
reacao do fenômeno criminoso na
sociedade
Objeto de estudo:
Delito (ainda que tangencia a
vítima e o delinquente) não há a
preocupação de descrever o crime
como fenômeno social
Objeto de estudo:
A criminologia como base material,
substrato teórico, e o direito penal como
um dos possíveis veículos de
transformação ou perpetuação
(transforma a experiência criminológica
em estratégias concretas podendo ou não
serem adotadas pelo legislador)
Objeto empírico e interdisciplinar
(dialoga principalmente com a
sociologia)
Objeto jurídico-normativo (ação
típica, ilícita e culpável)
Ambos
Pretende conhecer a realidade para
explicá-la
Valora, ordena e orienta a
realidade, a partir de critérios
axiológicos e define a forma de
comportamento juridicamente
correta dos participantes da
sociedade
Busca transformar a experiência
criminológica em opções e estratégias
concretas assumidas pelo legislador (+
ou – direito penal) e pelos poderes
públicos (agências)
Ciência empírica e causal-explicativa Ciência valorativa e normativa
Não é uma ciência, mas a arte de
governar
Método indutivo (parte do individual
para explicar o todo) e
interdisciplinar
Método dedutivo (parte de uma
regra geral para explicar o micro) e
dogmático
Diversas formas de governo
Crítica de Vera Malaguti ao modelo total de von Liszt:
- É preciso desconstruir o conceito de crime como algo ontológico, um dado da realidade
externa passível de observação neutra e rigorosamente científica fruto unicamente de uma
construção política. É a criminologia antes de tudo um discurso político não podendo ser
afastada da política criminal. A definição de uma conduta como crime é politicamente
orientada.
- Não há como separar a criminologia da política.
- A decisão de traduzir a conflitividade e a violência no sentido “do criminal” é já uma
escolha política.
- Aceitar a definição jurídica de crime como critério para delimitar seu objeto de estudo é já
uma escolha política (“ciência auxiliar” do direito penal).
- É o poder, os discursos políticos dominantes de cada época, que determinam a existência e a
forma da criminologia.
- Por isso, Zaffaroni define a criminologia como “saber e arte de despejar discursos
perigosistas”.
- E é por isso que a criminologia surge como ciência exatamente na mesma época em que o
Estado expropria os conflitos intersubjetivos e passa a monopolizar a violência como forma
de exercício concentrado do poder.
- A criminologia, portanto, não orienta o poder. Seus discursos são determinados pelo poder,
com o agravante de que, nesse caso, estão livres do embaraço das garantias e limites
impostos pelo Direito (por serem descritivos). A ciência é definida pela sociedade e é
mutável a partir do entendimento que se tem dela.
- Contra os perigos revolucionários que pregam a igualdade, a legitimação ‘científica’ da
desigualdade; Contra a insuficiências do Estado do Bem Estar Social, o crime como ruptura
da coesão social pactuada; Contra a massa de excluídos do neoliberalismo, a antecipação
atuarial, encarceramento em massa e extermínio.
Aula 2
Genealogia da criminologia
Zaffaroni: o primeiro modelo integrado de criminologia, política criminal e direito penal e
processual penal surge com o acontecimento político da Inquisição (Século XIII) - uma vez que a
criminologia é a ciência que estuda os fatos criminosos, como método de investigação da verdade,
de criação e identificação do “outro” a ser enfrentado.
“O martelo das feiticeiras” (Malleus Maleficarum) – publicado em 1486, reuniu os conhecimentos
da época para determinar as causas do mal, as formas em que ele se apresenta e o método para
combatê-lo.
- Bruxa, ontem/ Traficante, hoje (crime e pecado; tortura como método; delação como prova,
etc). Permanências. A construção do medo hoje não está necessariamente vinculada a
conceitos religiosos mas a função ideia de crime ainda se relaciona com a ideia de
"pecado". Construção do discurso com base na identificação e combate a uma possível
desconstrução da harmonia social estabelecida.
• A criminologia como racionalidade positiva é uma resposta e se amolda a adequar seu
discurso racional à demanda por ordem de cada momento histórico que vai mudando de
acordo com o processo de acumulação do capital (idéia de virtude na acumuacao de
riquezas), das demandas sociais, etc. Racionaliza o perigo para a construção racional de um
medo e, assim, usa legitimamente o uso da força contra os criminosos de cada época. O
discurso tem que sensibilizar para produzir efeitos na massa de pessoas que não seriam
passíveis de um controle com discurso puramente bélico. Domínio por meio do medo atinge
não somente o corpo mas a alma.
• Vera Malaguti: “O Capital precisou sempre de um grande projeto de assujeitamento
coletivo, de corpo e alma”. Os discursos criminológicos surgem para conquistar a alma da
coletividade. Nesse sentido, não é gratuita a parceria originária da criminologia com a Igreja
(discurso misturado com a crença dos indivíduos produzia muito mais efeito do que
somente a ameaça de sanção).
Foucault: A ideia de controle dos indesejáveis (a busca por ordem) vai oscilar entre dois modelos: o
do leprosário, segregativo e excludente (só a exclusão permite a proteção do resto do grupo da
contaminação); e o da peste, disciplinar e inclusivo. Ao longo da história, esses dois modelos vão
oscilar.
• Revolução industrial: a ascensãoda burguesia vai demandar novos discursos de
racionalização do poder. Faz surgir uma demanda de uma reformulação dos discursos
perigosistas.
• Ao invés do poder divino dos reis, o contrato social, que tem na propriedade seu grande
eixo ordenador.
• Os proprietários necessitavam de garantias face ao Estado, até há pouco Absoluto e livre de
qualquer limite (Limitação do poder do Estado em face dos indivíduos). Surge, assim, o
princípio da legalidade, a vincular o poder punitivo estatal. Nesse contexto, surgem as
primeiras Constituições como forma de contenção do poder arbitrário e ilimitado presente no
absolutismo.
Francesco Carrara (Escola Clássica do Direito Penal): o delito é uma “infração da lei do Estado,
promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem,
positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso”. É uma ação contrária ao
contrato social celebrado para manutenção da convivência pacífica.
•A ideia de livre-arbítrio, que é a premissa do contrato social, está também na essência do que
se compreende por delito - é a livre escolha de violação do contrato.
• Para os adeptos da Escola Clássica, o objeto do direito penal é o crime, e não o criminoso,
a análise individual do sujeito que cometeu o delito.
• Já os despossuídos (não proprietários) aparecem nesse contexto do surgimento do Estado
moderno como solução e problema: de um lado, sua força de trabalho constitui patrimônio
dos possuidores; de outro, é necessário sujeitá-los, para que não saiam do controle.
• A Escola positivista (em oposição à Escola Clássica) nasce do medo da burguesia já
estabelecida de novas revoluções populares.
O princípio da igualdade (Revolução Francesa) perde força, frente à demonstração “científica” da
diferença entre os humanos.
- O racismo, que foi uma invenção da colonização, vira discurso científico.
- Em 1830, Darwin buscava o “elo perdido” entre o homem e o macaco em nosso continente, o que
contribuiu para naturalizar a ideia política e economicamente conveniente de inferioridade das
raças.
- Spencer transpôs a ideia para as ciências sociais, inspirando o evolucionismo social.
- Com a frenologia, buscou-se comprovar, por meio da medição dos crânios e pesagem dos
cérebros, a superioridade da raça branca caucasiana.
Lombroso: utilizará essa nova tecnologia para explicar em termos patológicos a criminalidade. O
discurso criminológico ganha, pela primeira vez, ares de cientificidade.
- “O homem delinquente” (1876) – livro fundacional da Escola Positiva italiana: tautologia do
laboratório prisional.
- O foco do discurso penal se desloca do crime para o criminoso.
- A humanidade se divide agora entre os normais e os anormais e os tratamentos vão dar conta
dos seres humanos recuperáveis e tratar de neutralizar os irrecuperáveis.
- O crime passa a ser entendido como algo determinado pela natureza (biológicos
principalmente) e não uma ação dirigida pelo livre-arbítrio humano. Já não interessa mais o
delito, mas sim o delinquente. O delito é apenas um sintoma da personalidade patológica
intrínseca ao criminoso.
- Contra o delito, ganham força as estratégias correcionalistas: curativas, reeducativas,
ressocializadoras (ideologias “re”, modelo da peste), assim como uma noção da pena como
“defesa social”, principalmente em relação aqueles classificados como irrecuperáveis, para
os quais vale a exclusão (modelo do leprosário).
- As primeiras prisões para cumprimento de pena começam a surgir, a partir do Século XVI,
na forma de Casas de Correção, um dispositivo disciplinador subalterno à fábrica (Melosi e
Pavarini), onde muitas vezes eram misturados os “pobres inocentes” e os “pobres culpados”.
- Esse pensamento criminológico positivista teve grande influência na América Latina e, em
especial, no Brasil (com o bahiano Nina Rodrigues e o carioca Afrânio Peixoto).
Aula 3
Ideologia da defesa social e seus princípios (ou mitos)
• Quer se veja a Escola Penal Clássica como algo anterior ou como o primeiro capítulo da
história do pensamento criminológico, o fato é que, tanto ela, quanto a criminologia
positivista, contribuíram para a afirmação de uma “Ideologia da Defesa Social” que serviu de
base pretensamente científica de um novo modelo teórico e político para o Estado moderno. A
legitimação do uso da força é a defesa da sociedade contra o "mau”, aquele que rompeu com
as normas para a harmonia social.
• Nasce com a revolução burguesa e busca fundamentar o Poder punitivo após a queda do
absolutismo.
• Nesse sentido, as escolas positivistas herdaram a Ideologia da Defesa Social da Escola
Clássica, transformando-a em algumas de suas premissas.
• Com o tempo, o conteúdo dessa ideologia passa a ser a filosofia dominante na ciência
jurídica e no senso comum (naturalização de que se o estado não estiver presente para
defender o cidadão, tudo será a barbárie social).
Pode ser expressa em 6 princípios (ou mitos) básicos:
Princípio Mito fundador
Princípio da legitimidade
A ação repressiva do Estado representa a legítima reação da sociedade,
ou da maioria dela, dirigida à reprovação de comportamentos
individuais desviantes e à reafirmação dos valores e normas sociais
(toda ação repressiva do estado é legítima pois representa o interesse da
sociedade, a vontade estatal se sobrepõe a comportamentos individuais
reconhecidos como desviantes - "princípio da supremacia do interesse
público").
Princípio do bem e do mal O desvio criminal é o mal; a sociedade constituída, o bem.
Princípio da culpabilidade
O delito é expressão de uma atitude interior reprovável (de vontade
livre), porque contraria valores e normas sociais presentes antes mesmos
de sancionadas pelo legislador.
Princípio da finalidade ou da prevenção
A pena não tem somente a função de retribuir, mas também de prevenir
o crime, seja pela dissuasão (prev. geral negativa), seja pela
ressocialização (prev. esp. positiva).
Princípio da igualdade A lei penal é igual para todos e se aplica igualmente a todos os autoresde delitos.
Princípio do interesse social e do delito
natural
Como regra, o direito penal, pela imposição de pena, protege interesses
comuns a todos os cidadãos (delitos naturais). Só excepcionalmente
expressa a violação de arranjos políticos e econômicos (delitos
artificiais). (Entretanto, toda tomada de decisão de uma conduta como
crime é também uma decisão política)
Princípio Refutação empírica (desvelando o mito)
Princípio da legitimidade Teorias psicanalíticas da criminalidade
Princípio do bem e do mal Teorias psicanalíticas da criminalidadeTeoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia
Princípio da culpabilidade Teorias psicanalíticas da criminalidadeTeoria das subculturas criminais e da associação diferencial
Princípio da finalidade ou da prevenção Labelling Approach ou enfoque da reação social
Princípio da igualdade Recepção alemã do labelling approach
Princípio do interesse social e do delito
natural Sociologia do conflito
• Embora o próprio discurso criminológico tenha contribuído para a construção da Ideologia
da Defesa Social, a hipótese de Baratta é que a pesquisa criminológica, hoje, já avançou e
desmistificou vários desses princípios, podendo contribuir, assim, para uma emancipação
crítica do direito penal.
• Propõe o autor um “confronto entre a teoria jurídica e a teoria sociológica da
criminalidade”, com vistas à “fundação de uma economia política da pena e da
‘criminalidade’”.
• Crítica externa do pensamento penalístico a partir do desenvolvimento da sociologia
criminal norte-americana e europeia dos últimos cinquenta anos.
• O atraso do pensamento penalístico é tanto que não poderia mais ser recuperado a partir de
uma “crítica imanente, ou de uma autocrítica situada no interior da ciência jurídica”.
• “Novo modelo de ciência penal integrada”.
• Zaffaroni realiza isso (Em busca das penas perdidas), mas alega não necessitar adotar o
enfoque macrossociológico da criminologia crítica.
Aula 4
Inicio dos estudos que contribuiram para o desvelamento dos mitose princípios da defesa social, as
primeiras foram:
TEORIAS PSICANALÍTICAS DA CRIMINALIDADE
E DA SOCIEDADE PUNITIVA
• Já em torno dos anos 20 e 30, algumas orientações de pesquisa incluíram a sociedade
(mesmo que considerada historicamente) no interior do esforço explicativo da criminalidade
e da repressão a ela.
• O positivismo criminológico é produto direto dos saberes psi desenvolvidos a partir do
grande internamento do século XVIII, em especial da psiquiatria forense.
• A invenção freudiana da psicanálise representará uma importante ruptura no pensamento
criminológico.
• A passagem no método freudiano da natureza para a cultura permitiu uma ruptura com o
paradigma etiológico, abrindo caminhos para a substituição do método causal-explicativo
para a interpretação subjetiva da questão criminal.
• As teorias psicanalíticas da criminalidade têm raízes na doutrina freudiana da neurose.
• Segundo Freud, a repressão de instintos delituosos pela ação do superego não destrói esses
instintos, mas deixa que eles se sedimentam no inconsciente.
• No inconsciente, esses instintos delituosos sedimentados formam o sentimento de culpa e a
tendência de confessar.
• A confissão desses instintos se daria precisamente com o comportamento delituoso, de
modo que a culpa precederia o crime e não o inverso. Negação do princípio da
culpabilidade. Pois tecnicamente, de acordo com essa teoria, o indivíduo não é realmente
livre agindo nas suas plenas capacidade para cometer o delito, o sujeito tem sua
personalidade determinada por esses impulsos que se externalizam no ato ilícito, ele não é
livre para agir em conformidade ou contrario ao contrato social, o indivíduo é escravo dos
seus impulsos.
• As teorias psicanalíticas colocam em dúvida também o princípio da legitimidade, já que a
reação penal ao comportamento delituoso não tem a função de eliminar a criminalidade, mas
corresponde a mecanismos psicológicos em face dos quais o desvio criminalizado aparece
como necessário e ineliminável da sociedade. Não é por meio da imposição da pena e
externalização da conduta que se previne a ocorrência dos delitos, pois o processo interno de
acumulação só iria aumentar a culpa no superego, só reforça o processo de surgimento da
conduta delituosa. Não há como por esse meio controlar o superego do sujeito e evitar o
comportamento delituoso.
• Em Totem e Tabu, Freud estabelece uma analogia entre neurose, como doença individual, e
tabu, como formação social. Tanto num caso, quanto no outro, a punição externa serviria
para expiar a culpa por impulsos preexistentes no sujeito, com a diferença de que o impulso
reprimido de violação ao tabu está presente em todo o corpo social, o que explicaria a
punição espontânea e praticamente automática de sua violação.
• A pena realizaria, assim, segundo Theodor Reik, um efeito catártico no processo de
identificação da sociedade com o delinquente - está relacionado a reações/explosões de
processos internos do sujeito com raízes no inconsciente - , e as teorias retributiva e
preventiva da pena não seriam mais do que racionalizações de fenômenos que fundam raízes
no inconsciente da psique humana:
1. A teoria retributiva encontra sua correspondência nas auto punições inconscientes que
encontramos nos neuróticos - assim, a pena não pode ter um efeito preventivo do crime pois
a imposição da pena não tem a capacidade de prevenir o surgimento da culpa que se dá por
repressão interna, muitas vezes ela reafirma;
2. As teorias preventivas (geral e especial) são estritamente complementares e correspondem à
natureza bifronte da punição, dirigida ao mesmo tempo ao indivíduo e à sociedade. Se o
sentimento de culpa não é consequência do delito, mas sua mais profunda motivação, a pena
não pode ter efeitos preventivos sobre o crime, na medida em que reafirma a culpa, e não a
apaga.
“Talvez virá um tempo em que a necessidade de punição será menor do que na atualidade, e em que
os meios de que se dispõe para evitar o delito estarão para a pena assim como o arco-íris está para o
tremendo temporal que o precedeu” (Theodor Reik).
• Por outro lado, a teoria psicanalítica da finalidade da pena desenvolvida por Franz
Alexander e Hugo Staub dirá que a pena dirigida a um delinque seria um mecanismo para
contrabalançar (contribuir) a pressão dos impulsos reprimidos - como se fosse um
reforço externo à eles, que o exemplo de sua liberação no delinquente torna mais forte nos
demais. A punição representaria, de tal modo, uma defesa e um reforço do superego. Uma
forma de “desencorajar os impulsos: o que nós proibimos ao delinquente, vós também
podeis renunciar”.
- É um paliativo para que a pessoa procure outro mecanismo para supressão dos
impulsos internos para ser externalizado ou tratado de outra maneira que não a
conduta criminosa, ajudando o superego e potencializando o mecanismo de
autocontrole.
• Existe, aqui, uma reafirmação, por outros meios, do princípio da finalidade da pena.
• Mas, ainda segundo Alexander e Staub, haveria um segundo efeito psicológico na
imposição de pena. É que a simples inibição cumulativa dos impulsos antissociais pelo
reforço normativo do superego operado pelo direito penal deixaria irresolvidos uma série de
conflitos internos. A existência de uma válvula de escape, de uma instância de violência
legítima à qual o indivíduo pode se identificar, dá à pena oficial:
"Um significado de recompensa pela renúncia ao sadismo; este mecanismo de identificação com a
sociedade punitiva conduz à diminuição da quantidade de agressões para inibir e, portanto, a um
alívio do trabalho de inibição.
A identificação é favorecida pelo caráter ritual e espetacular dos procedimentos judiciários e, em
particular, da execução da pena capital”. Desejo pelo castigo violento, que produz dor, na sociedade
funciona como uma expressão dessa válvula de escape dos nossos processos de impulsos violentos
contidos na neurose. A pena é uma expressão dos impulsos violentos, é a expressão macrológica
dos impulsos internos dos indivíduos, sendo na esfera maior a uma expressão individual de
violência.
• Assim como Reik, Alexander e Staub também põem em dúvida a capacidade da pena
de prevenir delitos, na medida em que, para que semelhante resultado seja possível, é
necessário não só que os homens alcancem um maior controle do ego sobre a vida afetiva,
mas também que as tendências agressivas das massas encontrem mais ampla eliminação
através de sublimação.
• Mas o caminho imaginado por Alexander e Staub não é tão colorido quanto aquele
proposto por Reik, tendo sua obra servido como base para previsões muito mais sombrias e
pessimistas, tal como aquelas desenvolvidas por Paul Reiwald.
• Os conceitos de Projeção e bode expiatório.
• É por meio do mecanismo da “projeção” que a sociedade punitiva busca separar-se do
homem delinquente, transferindo para ele as próprias agressões. Reforço ao Princípio do
bem e do mal.
• Por meio do “mass media”, os membros “ordeiros” da sociedade projetam, por meio da
fantasia, as próprias tendências antissociais em figuras de delinquentes particularmente
temíveis.
• O “bode expiatório” é a figura mítica que assume esse papel de destinatário das projeções
agressivas correspondentes ao sentimento de culpa da sociedade sobre o delinquente.
“Em lugar de voltar-se contra si próprio, insulta-se e pune-se o objeto desta transferência, o bode
expiatório, para o qual é sobretudo característico o fato de que se encontra em condição indefesa”
(Edward Naegeli).
• Essa “projeção das sombras” (de tudo o que é negativo no outro) é especialmente
perigosa quando provêm da parte de toda uma comunidade e se voltam sobre
minorias e grupos marginais (os mais vulneráveis).
• Críticas: (i) não rompe com o paradigma etiológico (localiza a causa eficiente do
crime num processo interno de construção das nossas subjetividades, e estimulada
por mecanismos de controle externo de manutenção da ordem) ela diz que o ato
violento é da própria natureza, reafirmando que existe uma explicação natural - com
a inclusãode elementos subjetivo (a alma); (ii) visão ahistórica e universalizante
(busca as causas do crime como um dado universal observado em todas as
sociedades por ser intrínseco ao ser humano, mostra uma cerca incompletude no
entendimento do fenômeno criminal)..
• Por outro lado, a ruptura psicanalítica na criminologia abriu novos objetos de pesquisa a
partir da demonstração de como os afetos (em especial, o medo e a culpa) estão
intrinsecamente ligados à nossa matriz punitivista racista e patriarcal.
Ela (teoria) abriu novos campos de pesquisa a respeito de como os sentimentos estão ligados
a raiz punitivista e que serviu para explicar o caráter estrutural da seletividade da punição.
• Nosso punitivismo é expressão, antes de tudo, lá nas nossas profundezas, dos nossos
próprios medos, das nossas próprias expiações.
Aula 6
a partir daqui a criminologia sofre uma virada sociológica, se opõe aos caracteres biopsicologicos
do delinquente como fator para a infração do delinquente.
TEORIA DA ANOMIA
•Virada sociológica. Primeira alternativa clássica à concepção dos caracteres
biopsicológicos do delinquente.
“Se existe um fato cujo caráter patológico parece incontestável, é o crime”. Por outro lado, não
existe nenhum tipo de sociedade “na qual não exista criminalidade”. Ainda que suas características
variem, o delito “aparece estreitamente ligado às condições de toda vida coletiva”. Por tal razão,
considerar o crime como uma doença social “significaria admitir que a doença não é algo acidental,
mas, ao contrário, deriva, em certos casos, da constituição fundamental do ser vivente (está se
referindo a sociedade)”. O delito faz parte, enquanto elemento funcional, da fisiologia e não da
patologia da vida social” (Durkheim, Les règles de la méthode sociologique – 1895. Apud Baratta).
O delito não é a exceção, mas a regra da vida e funcionamento do organismo social - oposição a
ideia de que o crime é um desvio de personalidades anormais e patológicas.
•Se insere no âmbito das teorias funcionalistas, assim entendidas aquelas que focam sua
atenção analítica nas consequências dos fenômenos sociais e não nas suas causas.
• O pensamento funcionalista considera a sociedade como um todo orgânico, que tem na
“sobrevivência” e na “reprodução” suas finalidades últimas.
• O organismo social, como qualquer outro organismo vivo, é constituído de diversos
componentes que executam funções próprias (digestão, respiração, etc) para a sobrevivência
do todo.
• Se há uma disfunção de algum dos componentes, a máquina social deve reagir para
corrigir a falha e, assim, garantir os meios necessários para sua autopreservação.
• Hebert Spencer e Émile Durkheim são os grandes precursores desse modo de raciocínio.
• Durkheim desenvolveu o conceito de anomia para designar situações de ausência ou de
desintegração das normas sociais que colocam em risco a sobrevivência do corpo social.
•Essa situação de anomia se torna mais frequente ou provável em momentos de crise de
valores, próprias dos momentos de grandes transformações comportamentais e sem a
definição de novas regras para redefinição daquele organismo que o estabilizam. Onde não
exista uma orientação normativa de como deve funcionar aquele componente entrando em
estado de disfuncionalidade.
• Durkheim trabalha a partir da ideia de que existe uma “consciência coletiva”, formada
pelo conjunto de crenças e dos sentimentos compartilhados pela média dos membros de uma
sociedade em determinado tempo e lugar.
• Nas sociedades arcaicas, baseadas no predomínio das relações primárias, prevalece aquilo
que Durkheim denomina de “solidariedade mecânica”, ambiente em que a consciência
coletiva abrange a maior parte das consciências individuais. Na verdade, a solidariedade é
construída por semelhança, de modo que as diferenças entre os membros da sociedade são
menores e menos frequentes.
“Nas sociedades primitivas, cada indivíduo é o que são os outros; na consciência de cada um
predominam, em número e intensidade, os sentimentos comuns a todos, os sentimentos coletivos”.
De fato, somente a partir do Iluminismo é que vamos encontrar o conceito histórico de indivíduo,
daí por que, não de outra forma, é que se consubstanciou (...) o princípio da personalidade das
penas” (Shecaira). Nas sociedades arcaicas a consciência individual e mecânica se confundem pois
os indivíduos têm um nível de diferenciação bem menor. A própria ideia de delimitação do eu e dos
outros, dos indivíduos não existe, predominam os sentimentos coletivos. É também por essa noção
de individualidade surgida no iluminismo que passou a noção de individualidade da pena.
•Nas sociedades contemporâneas, de outro lado, predomina o individualismo, de modo que
os laços sociais, as relações de dependência e de trocas são estabelecidos por uma complexa
diferenciação funcional entre as diversas partes do todo social.
• A essa forma de funcionamento das sociedades complexas contemporâneas Durkheim
denomina de “solidariedade orgânica”. Há a construção da solidariedade na medida em
que é cumprida a regra para o funcionamento do todo, que deve funcionar de forma
harmônica. A questão personalíssima do conhecimento de todos os indivíduos neste tipo de
sociedade não é necessária para a solidariedade e confiança, ela se estabelece no
funcionamento do todo que se baseia nas regras de organização desse corpo social.
• Aqui também há consciência coletiva, mas essa é formada pela intermediação de um
intrincado conjunto de normas e instituições econômicas, políticas e culturais envolvidas.
• E a anomia surge justamente quando esse conjuntos de mecanismos institucionais
reguladores do bom gerenciamento da sociedade deixam de cumprir seu papel funcional. a
existência de um desvio não é um problema, mas um fenômeno social que cumpre seu papel de
preservação e auto regulação das instituições do corpo social, a funcionalidade do desvio se
caracteriza no papel de reforçar a solidariedade entre os indivíduos e mostrar a desaprovação do
comportamento visando o individual sociais ao coletivo.
• O crime, por si só, é um fenômeno de toda a estrutura social. Como qualquer fenômeno
social ele tem sua função no todo orgânico, qual seja, a de reforçar a solidariedade entre
aqueles que agem de acordo com a consciência coletiva. A punição ao crime, assim, serve
como instrumento de reafirmação da consciência comum, da validade das normas de
convívio social. É desta forma que se manteria a coesão social. Negação do princípio do
bem e do mal. O "mal'' é também parte da sociedade como um todo, ele fortalece a
solidariedade orgânica entre os indivíduos.
• Durkheim é o precursor da teoria da prevenção geral positiva, entendendo que a pena
atua principalmente sobre o ânimo das pessoas honestas, daqueles que compartilham da
consciência coletiva, de modo a reafirmar nelas a convicção de que as normas seguem
valendo, apesar do desvio pontual. Ao invés de ser entendida como um contra estímulo aos
potenciais delinquentes, imaginando que as pessoas tenham um desejo pelo que promove a
conduta delituosa e a sanção como um contra estímulo a satisfação desse desejo. A pena é
um reforço à adesão da consciência coletiva em detrimento da consciência individual.
• Há ainda um outro viés positivo na ocorrência do desvio. Muitas vezes, o crime é a antecipação da
moral futura:
“Para que a originalidade moral do idealista, que sonha transcender o próprio tempo, possa
manifestar-se, é necessário que aquela do criminoso, dominada pelo próprio tempo, seja possível.
Uma não ocorre sem a outra”. (Durkheim, Les Règles). [Fui crime, serei arte].
• O problema surge quando o fenômeno do desvio passa a ser negativo para a existência e o
desenvolvimento da estrutura social, quando todo o sistema de regras de conduta perde valor
e enquanto um novo sistema ainda não se firmou (anomia).
• A ideia é retomada na literatura mais recente com força na obra de Robert Merton (Teoria
social e estrutura social – 1938).
• Merton parte da distinções entre dois conceitos fundamentais para explicarcomo as
situações de anomia surgem:
o na Estrutura cultural → conjunto de valores normativos que governam a conduta
comum dos membros de uma determinada sociedade ou grupo; orienta a conduta das
pessoas, os desejos que direcionam suas ações. Os valores culturais compartilhados
orientam as ações dos indivíduos na sociedade.
o Na Estrutura social → conjunto organizado de relações sociais, no qual os
membros da sociedade ou grupo são implicados de várias maneiras, são as condições
materiais sociais para a vida em comum.
• A anomia se dá quando há desproporção aguda entre as normas e objetivos culturais, de
um lado, e as capacidades (socialmente estruturadas) dos membros do grupo de agirem de
acordo com essas normas e objetivos, de outro.
• Essa desproporção é estrutural na sociedade capitalista, onde a acumulação e o consumo é
transformado em principal valor cultural, a virtude da vida é acumular o máximo possível.
• Nos EUA da época, por exemplo, o American Dream levava cada americano, em cada
nível de renda, a querer 25% a mais do que aquilo que ele tem. Essa situação cria um
desequilíbrio pois a consciência individual nunca consegue alcançar uma sincronia com a
consciência coletiva.
• Esse relevo da riqueza como símbolo básico do sucesso, sem correspondência nas vias
disponíveis para o acúmulo de bens materiais, cria uma delicada tensão, que pode conduzir à
prática de comportamentos desviados.
• Segundo Merton, a adaptação individual a essa situação de desequilíbrio entre a estrutura
cultural e a estrutura social poderia seguir 5 padrões diferentes:
1. Conformista: Conformo meus objetivos culturais aos meios institucionalizados. Desejo, mas
me controlo. Padrão mais comum e difundido, que garante a estabilidade social, apesar de
suas desigualdades.
2. Ritualista: Renúncia aos objetivos valorizados culturalmente por ser incapaz de realizá-los.
Mas, a despeito de desprezar os valores, segue as normas institucionais compulsivamente,
ritualmente.
3. Retraimento: são os párias, errantes, mendigos, etc. Renunciam tanto aos valores culturais
quanto aos meios institucionais.
4. Inovador: adota meios muitas vezes proibidos, mas eficientes para atingir os objetivos
valorados culturalmente. Aqui, se concentra a criminalidade propriamente dita.
5. Rebelião: refuta os padrões vigentes na sociedade e busca substituí-los por novos objetivos,
com a institucionalização de novos meios para atingi-los. São os mais perigosos para a
manutenção do sistema. Subversivos, crimes políticos, etc.
• Merton: toda vez que a sociedade acentua a importância de determinadas metas, sem
oferecer à maioria das pessoas a possibilidade de atingi-las, por meios legítimos, estar-se-á
diante de uma situação de anomia.
Críticas à teoria:
1. Coesão em torno de quê? Se o desvio e sua consequente punição é instrumento de reforço da
coesão social, não questiona os critérios utilizados para o estabelecimento das metas
culturais, nem para a distribuição dos meios institucionais necessários para atingi-los; qual a
relevância da preservação de uma sociedade preservada na extrema desigualdade, visto que
o organismo vivo está baseado na exclusão de uma parte do seu todo?
2. Como explicar a delinquência que não persegue o lucro?
3. Como explicar que a reação social às diferentes formas de delinquência opere de forma e
com intensidade diversas?
4. Não permite uma análise crítica da estrutura social, mas no máximo uma descrição das
diferentes estratégias individuais de colocação numa sociedade competitiva como a nossa. A
teoria da anomia não responde a seletividade na aplicação da pena.
Aula 6
Teoria da associação diferencial
•Surge com o pensamento de Edwin Sutherland (1883-1950).
• Sutherland sofreu grande influência dos autores da Escola de Chicago (também chamados
teóricos da ‘ecologia criminal’ ou da ‘desorganização social’).
Excurso: ESCOLA DE CHICAGO
• O positivismo criminológico foi dominante na Europa e na América Latina, mas não teve
grande influência nos EUA. A teoria foge do positivismo criminológico predominante na
europa e américa latina.
• Lá prevaleceu o pensamento da Escola de Chicago, que, na virada do século XIX para o
século XX, via nos movimentos migratórios e nas diferenças raciais não como fatores
negativos, mas potencialmente positivos para a formação e o fortalecimento da coesão
social.
• Escola de Chicago como outra via para a virada sociológica da criminologia.
• A principal contribuição é o desenvolvimento da Teoria da Ecologia Criminal, que foca
na análise da organização social nas grandes cidades.
- Para o pensamento ecológico, o essencial na vida urbana é a ideia de saturação, de sobrecarga. E
a resposta das pessoas a essa sobrecarga típica das grandes cidades é o anonimato.
- Como estratégia de sobrevivência nessas condições, o habitante da cidade tende a agir de maneira
segmentada e funcional. Predomínio de relações secundárias; individualismo. É apenas o
cumprimento de papéis sociais que determinada função do indivíduo existe, para que a relação seja
bem sucedida não importa a maneira em que o indivíduo se comporta no ambiente privado.
- Importância da vizinhança para a manutenção das relações primárias. É nesses ambientes de
condição em comum que permite de maneira mais própria a construção de relações primárias
devido ao conhecimento mais direto do outro, é uma existência menos isolada e individualista pois
há o controle maior e vigilância em relação em que prevalece a relação anônima. Esses ambientes
explicariam a maior ou menor incidência de crimes.
● 2 conceitos básicos da Teoria Ecológica:
- Desorganização social – como fator de estímulo para a ocorrência do delito. Isto porque: (i) fraca
presença do Estado; (ii) poucos laços sociais entre as pessoas; (iii) grande rotatividade dos que ali
habitam; (iv) sensação de anomia, que favorece o surgimento de justiceiros e bandos armados.
- Áreas de delinquência (gradient tendency) – uma cidade se desenvolve segundo círculos
concêntricos: 1 - Loop (zona comercial); 2 – zona de transição; 3 – zonas residenciais (3ª zona –
trabalhadores pobres; 4ª zona – classe média; 5ª zona – classe alta).
Aqui, o ambiente é o principal fator reprodutor de condutas criminosas. Um problema é
que a teoria não leva em conta os crimes que, por exemplo, são praticados nas zonas de área
comercial entre aqueles que têm poder decisório de crimes dessa natureza, como os crimes de
colarinho branco. Ela não foge o modelo etiológico de buscar as causas do crime na individualidade
do sujeito e sua questão psíquica porém, peca na análise baseada praticamente exclusiva na
convivência social e apresenta um poder explicativo muito pontual, não tão abrangente e, não tem
capacidade de englobar todos os fatores que contribuem para a ocorrência de crimes dentro do fato
social complexo.
TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIA
• Surge com o pensamento de Edwin Sutherland (1883-1950).
• Sutherland sofreu grande influência dos autores da Escola de Chicago (também chamados
teóricos da ‘ecologia criminal’ ou da ‘desorganização social’).
• Principal contribuição: crimes de colarinho branco.
• Contexto Histórico: quebra da bolsa de Nova York (1929), após os anos de crescimento
econômico e euforia na bolsa que seguiram ao fim da 1ª Guerra Mundial nos EUA. Fica
evidente os crimes de colarinho branco, o que leva o autor ao interesse pela pesquisa no
assunto.
• Saída da crise econômica: New Deal, implementado por Franklin Roosevelt a partir das
ideias de John Keynes.
• Impulsionamento da economia pelo Estado e regulação do mercado (controle da atividade
empresarial).
• A maior regulação da economia e a diminuição dos lucros faz surgir interesses de quebra
das regras do jogo, tornando mais evidente a existência de criminalidade também entre os
ricos.
• Para a teoria da associação diferencial:
1. O crime não é exclusividade das classes menos favorecidas;
2. O desvio não é produto de uma má formação ou das deficiências estruturais do indivíduo,
mas algo que o homem aprende socialmente;Para violar as normas e obter vantagens no
mercado de capitais é preciso dominar essas técnicas, um nível de elaboração para passar a
perna e subtrair.
3. Influenciado por Gabriel Tarde, Sutherland resgatará a ideia de que a sociedade é constituída
pela lei da imitação e o crime (o desvio), como qualquer socialização, é resultado de um
processo de aprendizagem; é a repetição/imitação dos comportamentos sociais dos outros e
o desvio não se diferem nisto, também é resultado de um processo de aprendizagem e
imitação de um comportamento social.
4. O processo de aprendizagem ocorre no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo
com seus familiares e as pessoas do seu meio. Assim, a influência criminógena depende do
grau de proximidade do contato entre as pessoas.
5. Quanto maior a interação, maior a aprendizagem. Daí porque a comunicação
(principalmente, em massa - meios midiáticos) é fundamental nesse processo;
6. o aprendizado não é somente a execução do crime mas inclui a técnica de cometimento do
delito, as motivações, impulsos, atitudes e até a racionalização (justificação) da conduta
delitiva;
7. Princípio da associação diferencial: uma pessoa se converte em delinquente quando as
definições favoráveis à violação da norma superam as definições desfavoráveis, já que todo
mundo está o tempo sob a influência desses dois códigos;
8. as associações diferenciais podem variar em frequência, duração, prioridade e intensidade;
9. o conflito cultural é a causa fundamental da associação diferencial e, portanto, do
comportamento criminoso sistemático;
10. a desorganização social é a causa básica do comportamento criminoso sistemático.
● Conceito de crime de colarinho branco: é aquele que é cometido no âmbito da sua profissão
por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. Não se pode explicar a
desorganização social como fator que levou ao cometimento do ato criminoso.
- Cinco aspectos importantes: 1. crime de colarinho branco é crime (apesar das altíssimas
cifras negras); 2. é cometido por pessoas respeitáveis; 3. com elevado estatuto social
(não pode ser explicado pela pobreza); 4. praticado no exercício da profissão; 5. importa
numa quebra de confiança social.
● Pontos positivos:
1. Contribuiu decisivamente para o descrédito das tradicionais explicações de natureza
individual centradas na “antropologia” criminal ou nas circunstâncias sociais dos autores de
crime; ruptura com o positivismo criminológico e tendência natural de determinados seres
humanos a práticas do ato criminoso.
2. Muitas das ideias mais difundidas hoje em criminologia surgem com Sutherland:
seletividade das agências, cifra negra, etc. que contribuíram para entender melhor o
fenômeno criminal.
● Críticas à teoria:
1. Desconsideração da incidência de fatores individuais de personalidade;
2. O crime nem sempre decorre de padrões racionais e utilitários.
Aula 07
TEORIA DO ROTULACIONISMO
OU LABELLING APPROACH
• Movimento criminológico surgido nos anos 1960, marco da chamada Teoria do Conflito. Surgiu
juntamente com a explicação da vivência social pelo conflito e não pelo consentimento, há uma
mudança de paradigma a respeito da organização da sociedade e vivência social.
• Abandono do paradigma etiológico-determinista (que tenta explicar o paradigma social e as
ocorrência do crime vinculadas ao modelo de organização social ou de uma condição psíquica do
sujeito) e redirecionamento para um paradigma crítico. Na verdade, somente mais tarde, com o
surgimento da Criminologia Crítica é que os teóricos do labelling approach passarão a ser
chamados de rotulacionistas, interacionistas ou da reação social. Antes, eles eram simplesmente
teóricos críticos (no sentido de reflexivos). Orientavam o olhar crítico para a produção da atividade
de observação do fenômeno social do crime. Eles investigaram a forma de reação social ao crime.
• Já não trabalha com a ideia da sociedade como um todo orgânico, que opera sem fissuras e
orientada à coesão social.
• Reconhece a existência de relações conflitivas na sociedade que determinam o funcionamento de
suas instituições, principalmente aquelas voltadas ao controle dos desvios, de forma muito mais
decisiva do que a preservação de um consenso, de uma coesão, puramente artificial (pense na ideia
de igualdade, que está na base do contratualismo, mas que não existe num modelo capitalista de
sociedade). As formas de convívio são obtidas por meio de um controle e coesão artificial pois
estruturalmente a sociedade é formada por classes desiguais e relações de conflitos constantes que
podem levar a uma revolução, ficam adormecidos ou reprimidos pela agências de controle da
coesão artificial.
•Reorientação do objeto de investigação: do criminoso/do crime para o funcionamento do sistema
de controle social e suas consequências. Mudança do referencial de estudo, agora um olhar para o
objeto mais amplo: o processo de construção social do crime e as estruturas que visam controlar o
conflito. É o entendimento de todo o sistema que passa pela produção do crime e da reação a ele.
• Fortalecimento do interesse sobre o papel da vítima na relação delitual como outra consequência
do protagonismo da ideia de conflito. Só existe o crime e o conflito se um outro é atingido, no caso,
a vítima. Começa dentro do âmbito da criminologia o estudo da vitimologia.
• Outra consequência: explicitação da influência da política na construção dos discursos científicos
(O crime seria algo construído socialmente), inclusive na criminologia. Rancière:
- “o consenso quer suprimir a política, seu povo e seus litígios arcaicos. Quer substituí-los
pela população, suas partes e os simples problemas de repartição de esforços e riquezas. (...)
Quando se quer substituir a condução política dos litígios pelo tratamento gestionário dos
problemas, vê-se reaparecer o conflito sob uma forma mais radical, como impossibilidade de
coexistir, como puro ódio do outro”.
O trecho vincula uma série de fenômenos que explicam a mudança de paradigma na criminologia:
as escolas acreditavam na posse de gerenciamento do crime, de um controle da ocorrência criminal
de um direcionamento mais eficiente de suas causa imaginando que existe um convívio harmônico
socialmente mas, enquanto se aborda o fenômeno social dessa maneira há a repressão e ocultação
dos conflitos que expressam um litígio que é do âmbito da propria política. A gestão eficiente como
o discurso criminológico acaba na verdade agravando os problemas pois reprime os conflitos que
são próprios da organização desigual e no limite essa repressão explode em impulsos violentos.
•A ruptura, a quebra de paradigmas surge no contexto dos movimentos sociais de forte contestação
da ideologia do consenso que se instalou na sociedade americana (e também europeia) após a 2ª
guerra mundial, com a edição das novas Constituições, com a guerra fria e o fortalecimento da
coesão interna contra o inimigo externo e com o fortalecimento do Estado de bem estar social.
Colocavam em risco as normas e valores da sociedade mais ampla - pelos movimentos de
contestação e questionamento - fazendo acreditar que estaria se chegando a uma possível situação
de anomia.
• Contra esse marasmo cultural, surge a geração beatnik, que rejeita o American way of life, e mais
tarde os hippies, que são uma versão colorida dessa contestação de valores (1969 – Woodstock).
• 1967 – Marcha ao Pentágono: oposição à guerra do Vietnam.
• 1968 – Movimentos estudantis em todo o mundo (Maio de 68, Paris).
Estopim – Reforma Fouchet: “tem estudantes demais nas universidades”.
Os partidos comunista e socialista, que controlavam os sindicatos, não dão apoio, inicialmente, à
greve e são ignorados pelos estudantes.
No Brasil, a morte do estudante Edson Luiz leva à passeata dos Cem mil.
•Paralelamente: movimentos de crítica racial se espalham pelos EUA.
• Caso Rosa Parks – ônibus com discriminação de assentos.
• Martin Luther King Jr. e o uso estratégico das táticas de ação não-violenta de Gandhi –
condenado à prisãopela mobilização da sociedade no boicote aos ônibus com assentos segregados.
• Discurso histórico contra o American Way of Life: “I have a dream”.
• E também movimentos feministas: Betty Friedan defenderá o abandono do American Dream, no
qual as mulheres são vistas como donas de casa, para que possam passar a frequentar a
universidade, lutar por melhores empregos e alcançar independência financeira.
• Surgimento das políticas de “ação afirmativa”.
- Principais ideias:
Interacionismo simbólico
● A ideia de que as relações sociais em que as pessoas estão inseridas as condicionam
reciprocamente. Elas são produzidas - a compreensão de si mesmo - é determinada pela
forma com que se dá a relação com o próximo, somos determinados pelo próximo não dá
para se compreender isolado do mundo e nem enxergá-lo afastado de si.
● Conceito de Self: em 1934, George Mead começa a trabalhar a consciência de si na relação
com os outros, entendendo a identidade como resultado de uma conversação social.
● Etnometodologia, de Margareth Mead → investiga a construção social de significados e de
identidades. A importância do estudo do diferente, do outro para compreensão do seu
próprio contexto social, fenômenos e identidades, não há como estudar o contexto com um
ser externo, a compreensão do fenômeno social não se dá individualmente mas é produto de
uma relação intersubjetiva.
● A Partir de todas essas influências a criminalidade deixa de ser lida como uma realidade
objetiva para ser lida como uma definição. É aquilo que tratamos socialmente nas nossas
relações em sociedade e rotulamos como crime
● A principal ruptura metodológica é com o paradigma etiológico: o processo de interação
dá um sentido radicalmente diferente ao método causal-explicativo, a explicação é tentar
entender como é rotulado como crime e socialmente construído, os fatos típicos e os
chamados criminosos.
● O que está em jogo passa a ser quem tem o poder de definir e quem sofre a definição e o
principal interesse do criminólogo, uma vez que é formado socialmente os conceitos de
criminoso e o próprio crime.
● Para compreender a “criminalidade”, é imprescindível estudar a ação do sistema penal.
● Positivismo → "Quem é o criminoso”?
- Rotulacionismo → "Quem é definido como criminoso”? o criminoso é um processo de
construção e não um dado da natureza.
● Ganha-se força uma proposta já iniciada em 1950, quando Edwin Lemert distinguirá entre
os conceitos de criminalização primária vs. criminalização secundária;
- Criminalização primária é o processo de caracterização e escolha de crime e criminoso
certas práticas e pessoas e não outras. Quem é o que é criminalizado, é esse processo de
definição quais as condutas que serão definidas como criminosas.
- Criminalização secundária: Que são os objetos de repressão penal e agências de controle
social para fins de definir autores das condutas tipificadas. Processo que aprofunda os juízos
políticos de tratamento desigual, em relação a preferências na orientação dos órgãos de
repressão do crime.
● Mas, somente nos anos 60, surge o caldo de cultura necessário para transformar esses
conceitos numa Teoria da rotulação social.
● Contra os movimentos sociais que tentavam romper com a estrutura cultural, questionando
os valores em vigor, o Estado responderá com repressão, tornando claro que a transformação
de alguém em criminoso é um processo de construção e não a mera constatação de um dado
objetivo. Criminoso é aquele a quem é atribuído o status de criminoso e isso é bem
sucedido.
- “O labelling approach desloca o problema criminológico do plano da ação
(criminosa) para o da reação ao crime (dos bad actors para os powerful reactors),
fazendo com que a verdadeira característica comum dos delinquentes seja a resposta
das agências de controle” (Shecaira).
O que define um criminoso é aquele que recebe pelas suas ações o rótulo de criminoso. Não sao as
características naturais comuns aqueles que são por natureza delinquentes mas as características
daqueles que receberam o'mesmo rótulo são delinquentes pq não a sua natureza mas as
caracteristicas sao iguais entre aqueles que receberam a defnicao de criminoso. ele se distingue do
hoemem comum pela estigmatizacao que recebe. aos criminosos se atribuiu com sucesso o estigma
de criminoso.
● A conduta desviante é o resultado de uma reação social e o delinquente apenas se distingue
do homem comum devido à estigmatização que sofre (Erving Goffman - Estigma).
● Outro autor importante é Howard Beck (Outsiders) e seu conceito de desviante: o desviante
é alguém a quem o rótulo social de criminoso foi aplicado com sucesso.
“Assim, a reação é fundamental para definir a conduta desviada e ela varia também conforme a
pessoa que comete o ato. Um jovem de classe média terá, pois, uma reação diversa da reação que é
tida por um jovem da favela. (...) se um dado ato é desviado ou não, vai depender em parte da
natureza do ato (isto é, se ele viola ou não uma regra imposta pela sociedade) e em parte como
decorrência do que as outras pessoas vão fazer em face daquele ato, se há um interesse na sociedade
em penalizar aquele desvio. O desvio de conduta deixa de ser uma simples qualidade em si,
presente em alguns atos humanos e ausente em outros”. A questão é quem é o autor do ato, visto
que alguns que cometem não são tratados como criminosos e outros que praticam a mesma conduta
são.
Não mais se indaga o porquê de o criminoso cometer crimes. A pergunta passa a ser: por que é que
algumas pessoas são tratadas como criminosos.
● Os critérios utilizados pelas estruturas de reação social ao crime seguem normas, mas não
necessariamente as normas contidas na lei.
● De um lado, os parâmetros definidos na lei não necessariamente seguidos (cifras negras). De
outro lado, há critérios que orientam as práticas de reação ao crime que não estão escritos
nas normas formais, mas que compõem aquilo que Fritz Sack de meta-regras ou basic rules:
“1) Os mecanismos de distribuição da qualidade negativa ‘criminalidade’ são um produto de
acomodação social, como aqueles que regulam a distribuição de bens positivos em uma sociedade.
(...) 3) A criminalidade, e de modo mais geral o comportamento desviante, deve ser compreendida
como um processo no qual os partners, de um lado, o que se comporta de modo desviante, e de
outro, o que define este comportamento como desviante, são colocados um de frente ao outro. 4)
Neste sentido, comportamento desviante é o que os outros definem como desviante. Não é uma
qualidade ou uma característica que pertence ao comportamento como tal, mas que é atribuída ao
comportamento” (Fritz Sack).
Há critérios para distribuir as riquezas e o status de criminoso. O convívio social desigual é presente
e define os critérios de quem é e quem não é criminoso, critérios esses que muitas vezes não estão
escritos na lei mas que orientam a reação social ao desvio e ao desviante de forma desigual. Todos
esses parâmetros direcionam e definem selecionadamente aqueles que são criminosos.
● Assim, todos cometem desvios. Mas só alguns recebem a reação social que os transformam
em crimes na prática. Negação do princípio da igualdade.
● É da reação social, e não do desvio em si, que decorre a atribuição do novo status ao
indivíduo, fazendo um novo sujeito. Eles só existem a partir de uma reação social bem
sucedida do crime e status de criminoso - a eficiência se dá em relação a determinados
grupos.
A partir da nova identidade socialmente atribuída, o sujeito se vê diante de novas rotinas, muitas
criadas pelas próprias agências de controle, fazendo com que ele se aproxime de seus iguais, dando
início a uma carreira criminal. Tendo recebido o status de criminosos, há a potencialização de
novas ações de seleção desigual dessas pessoas como criminosos instaurando círculos viciosos da
carreira criminal.
● “Cerimônias degradantes” e de “desculturamento”, próprias das instituições totais
(Goffman). Há uma iniciação de aculturamento prisional pela identidade atribuída a pessoa
de criminosa.A pessoa passa a se compreender como uma criminosa pois a sociedade a
rotula como tal.
● À medida que o mergulho no papel desviado cresce, há uma tendência para que o autor do
delito define-se como os outros o definem.
● Self fulfilling prophecy (profecia auto realizável): delinquência primária → resposta
ritualizada e estigmatização → distância social e redução de oportunidades → surgimento de
uma subcultura delinquente com reflexo na auto-imagem → estigma da institucionalização
→ carreira criminal → delinquência secundária. Ele se aceita com o novo estigma e se vê
como criminosos. Assume essa nova identidade e passa a agir de acordo com ela gerando
reincidência.
Mas como romper esse ciclo vicioso?
- “Política dos quatro D´s”: Descriminalização, Diversão, Devido processo legal e
Desinstitucionalização. Diminuição do contato dos desviantes do sistema de reação
social ao crime, a descriminalização e recondução dos conflitos para outras formas de
tratamento de reação social. Tentativa de não reafirmar a identidade de criminoso.
● Crítica da Criminologia Crítica ao Labelling Approach:
● A teoria dá conta bem do que sucede e de como sucede, mas não explica por que sucedeu,
por que ela opera dessa maneira.
● Não leva necessariamente à abolição do sistema, mas admite trabalhar com propostas
reformistas, que apostam na melhoria do sistema como uma alternativa democrática para a
prisão e o direito penal; a não fomentação do círculo vicioso mas tratamento do conflito de
maneira menos estigmatizante.
Aula 08
Sociologia do conflito
e sua aplicação criminológica
• Assim como a teoria do labelling approach, a sociologia do conflito tem sua condição de
surgimento e efervescência com as transformações sociais experimentadas a partir do
esgotamento da onda de polarização externa e conservadorismo interno que caracterizou o
período da guerra fria.
• A irrupção de inúmeros conflitos sociais, raciais, estudantis e ideológicos vai promover o
contexto propício para a crítica do modelo funcional-estruturalista de sociedade mertoniano
e fortalecimento de uma abordagem descritiva focada no conflito ao invés do consenso. É
uma série de conflitos controlados e reprimidos pelo uso da força que garante a ruptura
absoluta da sociedade em que convivemos, conflitos causados pela distribuição desigual de
bens e status social.
• No âmbito criminológico, labelling approach e sociologia do conflito se apoiam e
fortalecem reciprocamente. Os conflitos profundos caracterizam o modelo social e
explicitados - os tratamentos desiguais - reivindicam uma nova organização social pelo
reconhecimento dos conflitos e estabelecimento de novos valores. Essas duas teorias devem
ser abordadas paralelamente.
• Em especial, a sociologia do conflito vai colocar em xeque o princípio da ideologia da
Defesa Social que, de certa forma, reabsorve todos os outros: o princípio do interesse social
e do delito natural.
•Afinal, ainda que se possa questionar a subsistência dos chamados “delitos artificiais”
(condutas tornadas criminosas em razão de interesses dominantes), há sempre um núcleo
duro daquilo que se pode chamar de “delitos naturais”.
• Mas e o homicídio? É também uma construção social? Uma simples rotulação? Ou
teríamos aí um exemplo válido de delito natural, de um fenômeno ontologicamente
criminal?
• Para enfrentar essas questões, Baratta vai trabalhar com a obra de Georg Vold, apontado
por ele como “a primeira expressão madura de uma verdadeira e própria teoria da
criminalidade na perspectiva da sociologia do conflito”.
• Muito antes de Vold, no entanto, Baratta identifica num escrito de Sutherland dos anos 30 a
reunião de todos os elementos que ele reputa essenciais em uma criminologia do conflito.
Vejamos:
“[O crime] é parte de um processo de conflito, de que o direito e a pena são as outras partes.
Este processo começa na comunidade, antes que o direito tenha existência, e continua na
comunidade e no comportamento dos delinquentes particulares, depois que a pena foi
infligida. Este processo parece que se desenvolve mais ou menos do seguinte modo: um
certo grupo de pessoas percebe que um de seus próprios valores – vida, propriedade,
beleza da paisagem, doutrina teológica é colocado em perigo pelo comportamento de
outros. Se o grupo é politicamente influente, o valor importante e o perigo sério, os
membros do grupo promovem a emanação de uma lei e, desse modo, ganham a
cooperação do Estado no esforço de proteger o próprio valor. O direito é o instrumento
de uma das partes em causa, em conflito com outra das partes em causa, pelo menos nos
tempos modernos. Aqueles que fazem parte do outro grupo não consideram tão
altamente o valor que o direito foi chamado a proteger, e fazem algo que anteriormente
não era crime, mas que se tornou crime com a colaboração do Estado. Este é a
continuação do conflito que o direito tinha sido chamado a eliminar, mas o conflito se
tornou maior no sentido de que agora envolve o Estado. A pena é um novo instrumento
usado pelo primeiro grupo no conflito com o segundo grupo, por meio do Estado”
(Sutherland)."
Os que têm maior influência orientam o Estado a definir como crime aquilo que vai contra os seus
interesses trazendo esse terceiro membro para o conflito.
• A concepção de Sutherland abarca 3 elementos fundamentais destacados por Baratta e que ele
vai também identificar na obra de Vold:
a) A precedência lógica dada ao processo de criminalização sobre o comportamento criminoso; Os
conflitos existem antes da criminalização, são fenômenos sociais que somente depois são
considerados fatos típicos,
b) A referência do processo de criminalização e do comportamento criminoso à existência, aos
interesses e à atividade dos grupos sociais em conflito; a definição de algo como crime em relação a
outros conflitos são para fins de preservação da estrutura social.
c) O caráter político que assume todo o fenômeno criminal: criminalização, comportamento
criminalizado e pena são aspectos de um conflito que se resolve mediante a instrumentalização do
direito e do Estado, ou seja, de um conflito no qual o grupo mais forte consegue definir como
ilegais comportamentos de outro grupo, contrários ao próprio interesse, que, assim, é constrangido a
agir contra a lei. Quando o estado interfere em favor de um dos grupos em disputa é que surge o
fenômeno como crime. O processo de criminalização está diretamente associado aos conflitos entre
os grupos sociais e a instrumentalização do Estado se dá em favor de tutela em favor dos interesses
de um desses grupos atuando com poder político. O grupo mais forte consegue definir como ilegais
os comportamentos do outro grupo sendo agora o conflito regulado pelo Estado como status de
crime - caráter do processo político da criminalização. Determinado grupo fica evidente que tem
poder para influir no estado para definir condutas como criminosas e quais atores serão
criminalizados pela conduta existente. Nesse sentido, todo crime é um crime político.
• O problema do crime e da criminalidade se desloca, assim, para o poder de definição que um
grupo detém em desfavor de outro grupo.
• Assim, enquanto no labelling o foco recai sobre o processo de criminalização secundária, nas
teorias do conflito, o foco desloca-se para o processo de criminalização primária.
• Uma outra tendência das teorias conflituais da criminalidade é a de naturalizar a associação do
grupo dominante com o Estado e, a partir daí, reduzir o conflito de classes a uma oposição entre o
próprio Estado e grupos oprimidos.
• Baratta reputa válida a proposição formulada por Austin Turk, por exemplo, no sentido de que
“não pode existir crime, se não existe Estado”.
• Mas não é o Estado que inaugura o conflito, alerta ele:
“Uma vez definidos como ‘autoridades legais’ os sujeitos que têm o poder de decidir sobre a
criação e a aplicação das normas, a perspectiva sócio-econômica do conflito entre grupos sociais é
comprimida na relação política entre autoridades e súditos. Estamos diante, como se vê, do
costumeiro equívocoda sociologia do conflito: a ação dos grupos de interesse é transferida
imediatamente na ação do Estado, sem levar em conta o caráter bem mais complexo da mediação
política dos conflitos na sociedade industrial avançada. (...) Toda esta delicada temática da
sociologia política, tão indispensável a uma teoria realista do conflito, é ‘superada’ com a
identificação tout court, por via de definição, de uma das duas partes do conflito com o Estado.
Parece preclusa, por outro lado, à criminologia do conflito, a compreensão das complexas relações
que intercorre entre hegemonia e ideologia, entre exercício e legitimação do poder, entre
comportamento dirigido à realização de necessidades e consciência, em última análise: entre classe
e consciência de classe.
• No nível do conflito entre classes, Baratta critica a formulação de Turk de ser demasiadamente
formal, quase naturalizando as disputas de força que caracterizam as sociedades desiguais
capitalistas. A luta não é contra o Estado, mas contra a classe que orienta a posição do Estado para
fortalecer seu lado da disputa de força.
• Ilustraria isso, por exemplo, a forma utilizada por Turk para descrever o viés seletivo com que
opera o sistema punitivo. Segundo ele, a importância e a visibilidade do conflito entre grupos está
diretamente relacionada ao “nível de organização” e de “refinamento” daqueles que infringem as
normas.
• Quanto mais organizados e menos refinados forem os que se encontram na parte errada da
diferença cultural definida como ilegal pela autoridade (p. ex., bando de delinquentes), maior a
probabilidade do conflito vir a ser criminalizado. Ao contrário, quanto menos organizados
(difusos) e ultra-refinados forem os desviantes (p. ex., estelionatários profissionais), menor a
probabilidade de conflito - dificilmente serão perseguidos pelo Estado sob forma de criminalização.
• As diferenças na criminalização também teriam relação com variáveis relacionadas às agências de
reação ao crime: (i) a “força relativa” delas frente ao grupo desviante; e (ii) o “grau de realismo”
nas manobras usadas no conflito. Quanto à primeira, pode-se dizer que quanto maior a força das
agências de repressão em relação aos grupos desviantes, maior a exposição destes à autuação
daquelas. Quanto à segunda, pode-se dizer que, quanto menos refinados são os violadores das
normas, tanto mais realizam manobras não-realistas e tanto maior é a probabilidade de
criminalização. Isso explicaria, em certa medida, o caráter seletivo e desigual da persecução penal.
Crítica de Baratta a criminologia do conflito:
- Acaba reduzindo a questão criminal a uma “partida de xadrez” entre jogadores mais ou
menos “refinados”, com lances mais ou menos “realistas”.
- A teoria “não vai um passo além de uma pura descrição dos fenômenos”. Que o processo de
criminalização é dirigido, de modo altamente seletivo, para os estratos sociais mais débeis e
marginalizados, já se sabe. Mas por quais razões o grupo que tem mais poder ‘decide’
criminalizar principalmente quem tem menos e, ao contrário, deixar isentos os ‘adversários’
bastante fortes? Isso é explicado por Turk com “uma série de variáveis que se resolvem, em
substância, nas diferenças de poder. Com o que a explicação do fato é substituída pelo fato
a explicar”. Pune-se de forma desigual porque a relação de forças é desigual.
- “Em que sentido e em que limites a sociologia do conflito não constitui uma alternativa ao
estrutural-funcionalismo”?, pergunta-se Baratta. E emenda: “o modelo do conflito não
exclui, em realidade, o do equilíbrio, mas, quando muito, representa uma integração”.
- Palavras fortes.
- Em resumo, dirá ele: “o defeito fundamental desta teoria está na incapacidade de descer da
superfície empírica dos fenômenos à sua lógica objetiva, confundindo assim os atores dos
processos econômicos (individuais e grupos) com os seus sujeitos reais (o capital)”.
● Avanços trazidos pelas teorias conflituais:
- Correção da imagem, própria das teorias funcionalistas e psicanalistas, de ver o
desvio como como relação antagônica entre indivíduo e sociedade, substituindo-a
pela relação entre grupos sociais.
- Transportam o enfoque da reação social, das estruturas paritárias dos pequenos
grupos e dos processos informais de interações que se desenvolvem em seu interior,
às estruturas gerais da sociedade e aos conflitos de interesse e de hegemonia.
- Passagem de uma perspectiva microssociológica para uma perspectiva
macrossociológica. Não se trata mais de uma teoria de médio alcance, aplicável
somente a certos tipos de criminalidade/criminalização.
- Negação do princípio do interesse social e do delito natural.
Aula 09 CRIMINOLOGIA CRÍTICA
•Também denominada Criminologia Radical ou Nova Criminologia, surgiu
concomitantemente nos EUA e na Inglaterra, irradiando-se para outros países. Ela reivindica
o lugar de ápice do discurso crítico pois vincula o fenômeno criminológico à ideologia
marxista. O engajamento político é incorporado pela teoria crítica dando maior capacidade
reflexiva que as teorias que a antecederam.
• No Brasil, o Prof. Juarez Cirino dos Santos é o primeiro e maior representante (A
criminologia radical, 1981).
• Taylor, Walton e Young: The new criminology, 1973, e Critical criminology, 1975.
• Se tomamos o abolicionismo como uma influência, então o livro de Thomas Mathiesen
(The politics of abolition, 1971) também é uma referência importante. Influenciou
fortemente os criminólogos críticos.
• Autor com maior influência no Brasil: Alessandro Baratta (Criminologia Crítica e Crítica
do Direito Penal), que junto com Melossi, Pavarini e Bricola formava a “Escola de
Bolonha”, que desde 1975 publica a revista La Questione Criminale.
• Principais influências: teoria econômica marxista e pesquisas criminológicas do labelling
approach. Leitura da sociedade capitalista com uma reivindicação dentro da pesquisa
empírica expandindo o objeto de pesquisa para a atuação das instâncias superiores de reação
formal e informal ao crime, vai além da análise única e exclusivamente do criminoso.
•Ideia principal: o delito é um fenômeno dependente do modo de produção capitalista, é
produto dessa organização social capitalista. A distribuição desigual de riquezas é o fator
que gera como produto o crime. Logo, a solução para o problema do crime depende da
eliminação da exploração econômica e da opressão política de classe. O grupo que se
apropria da mais-valia e da máquina estatal e que leva ao processo de criminalização.
À medida que as sociedades capitalistas se industrializam, a divisão entre as classes sociais vai
crescendo e as leis penais vão, progressivamente, tendo que ser aprovadas e aplicadas para manter
uma estabilidade temporária, encobrindo confrontações violentas entre as classes sociais. A
eliminação do poder de um explorar o outro é o fator sine qua non para a resolução do problema do
crime.
“A criminologia crítica é a crítica final de todas as outras correntes criminológicas,
fundamentalmente por recusar assumir este papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois
considera o problema criminal insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade capitalista”
(Shecaira). Não adianta querer mudar na superestrutura, é necessário mudar na infraestrutura, na
superação do capitalismo. Não há muito o que fazer no âmbito da superestrutura pois a luta se dá na
mudança na estrutura econômica da sociedade. O crime é fruto da relação seletiva e desigual da
sociedade pois ela existe - a superestrutura - para a preservação e a manutenção desse modelo
desigual de organização entre os indivíduos, portanto, não há a possibilidade de reformá-la para
extinguir o fenômeno criminoso.
• Em oposição à teoria funcionalista, a criminologia crítica não vê o crime como algo funcional para
a manutenção da coesão social, mas sim como justificativa para o controle político legal das
massas.
• O primeiro e principal ponto a ser enfrentado pelos criminólogos críticos foi o de explicar, a partir
de análises macrossociológicas, as razões políticase econômicas para a criminalização primária de
umas condutas e não de outras.
Dois livros fundamentais: “Punição e Estrutura Social”, Rusche e Kirchheimer; “Vigiar e Punir”,
Michel Foucault. O materialismo histórico busca reivindicar o campo teórico e a prática social, o
conhecimento deve intervir para uma ação social emancipatória para transformação do estado de
coisas, é necessário a formação de uma consciência crítica para uma atitude de emancipação social.
• Desse trabalho, resultaram três tendências distintas no interior da criminologia contemporânea: o
neo-realismo de esquerda, a teoria do direito penal mínimo e o pensamento abolicionista.
1) Neo-realismo de esquerda:
● O delito, como problema real, é muito mais um fenômeno interclassista do que
intraclassista.
● E a existência do crime dentro da classe mais vulnerável - e mais vitimadas pelas agências
de proteção social ao crime - acaba desfocando o principal problema: o capitalismo, o que
cria as condições sociais seletivas para a repressão e para o próprio processo de prática de
crime.
● Propõem uma reorientação das agências de repressão: de um lado, para reprimir os crimes
que mais atingem a classe trabalhadora: roubos, violência infantil, violências raciais,
violências nos locais de trabalho e no transporte público, crimes cometidos por governos e
grandes empresas. Tentativa de equilibrar a desigualdade de forças entre as diferentes
classes.
● Aproximação entre Polícia e Comunidade. Medidas de humanização da atividade de
controle, começar a enxergar a atividade de policiamento como uma prestação de um
serviço que pode atender a reclamos legítimos das vítimas preferenciais da ocorrência de
crimes.
● Defendem a manutenção da prisão, ainda que somente para casos extremos. Uso estratégico
da pena de prisão.
● Forte influência da vitimologia.
● Desdobramento punitivista da Criminologia Crítica, sem dúvida (esquerda punitiva?).
Movimento políticos da sociedade civil que reivindicam o aparato estatal para garantia dos
seus direitos e punição legítima para repressão de determinados desvios que acredita-se
merecer um tratamento mais rigoroso em função dos danos sociais que produz.
● Defendido por alguns dos teóricos fundadores da Criminologia Crítica, como Jock Young, p.
ex.
2. Abolicionismo
● Parte da ideia de descrença absoluta no poder punitivo como instrumento de prevenção ao
crime e de defesa social. Parte da ideia de que os princípios da defesa social são mitos e o
exercício do poder punitivo gera mais conflitos do que os previne. Não nega a existência do
conflito e que devem ser tratados, mas que a intervenção punitiva do Estado atrapalha esse
encaminhamento de superação e resolução do conflito que os atinge. Não dá pra acabar com
os conflitos mas eliminar a reação social a eles que reforça e perpetua novos conflitos na
sociedade, o sistema penal só serve para perpetuar as injustiças existentes e manter o
controle.
● O sistema penal só serve para legitimar e reproduzir desigualdades e injustiças sociais.
● Não há como fazer o direito penal operar de forma não seletiva. Essa é uma característica
constitutiva sua.
● Como não há como corrigir o poder punitivo, a saída seria seguir por novas matrizes
ideológicas de resolução do conflito. São ela:
-Matrizes ideológicas: anarquismo (luta por discurso abolicionista do Estado), marxismo
(abolição do poder punitivo sem derrubar o capitalismo - a superestrutura) e liberal/cristã
(prática da não violência e a partir do exemplo fortalecer o valor moral - não intervenção
violenta).
- Defendem que, na prática, já vivemos sem o direito penal na grande maioria dos casos,
como o comprova a Cifra Negra.
3. Minimalismo penal = desdobramento do abolicionismo "a longo prazo".
● Estratégia de curto e médio prazo dirigidas à abolição do poder punitivo como objetivo final
(utópico?) Contenção do poder punitivo mas este não pode ser excluído e abolido de uma
vez só, tem que ser aos poucos.
● A maior parte dos autores abolicionistas adotam o minimalismo como estratégia (exs: Nils
Christie; Alessandro Baratta; Juarez Cirino).
● Funcionalismo redutor (Zaffaroni)
Poder punitivo (=Guerra) = os dois têm a mesma substância e raiz de "legitimidade", a guerra só
se dá quando perde-se a condição racional de resolução de conflitos. O poder punitivo equipara a
guerra nesse sentido vs. Direito Penal (=Direito Humanitário) o direito penal e o conhecimento
que serve para limitar a imposição de pena e do uso da força, os limites jurídicos servem para impor
limites mínimos para que não haja barbárie por meio de restrições. A criminologia aponta para o
direito penal que os discursos de legitimação da pena não se sustentam e que, para além disso, a
pena realiza funções não declaradas que, no limite, podem favorecer a conduta de crimes.
- Funções declaradas e latentes da pena privativa de liberdade
Mito (função da pena) Desvelamento do mito
Prevenção esp. positiva
Teoria do labelling approach: conceito de “desvio secundário”
(Edwin Lemert) e a “self-fulfilling prophecy” (Howard Becker).
Natureza criminógena da pena de prisão.
Prevenção esp. negativa
Para o preso, o período de prisão nunca é neutro. Não existe
neutralização. A experiência da prisão cria novas subjetividades
(aculturamento ou dessocialização).
Prevenção geral negativa
“Criminalização secundária” e “cifras negras” (Sutherland);
“Metarregras ou basic rules” (Fritz Sack): status de criminoso
como “bem negativo”, tanto na criminalização primária, quanto na
secundária.
Prevenção geral positiva
Indemonstrável empiricamente que seja a punição dos desviantes o
que leva à coesão social. Ao contrário, é mais provável que a
coesão social dispense o uso da punição como regra.
Mais pena não garante maior coesão. Apenas reflete o baixo nível
de coesão e confiança mútua das pessoas.

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