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Avaliação fonologica em crianças com DEL

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Avaliação fonológica de crianças com Distúrbio Específico da 
Linguagem sob a ótica da Fonologia de Uso 
 
 
 
 
 
 
Aline de Azevedo Ferreira 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado em Lingüística 
apresentada à Coordenação de Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro. 
 
 
Orientadora: Profª.Drª. Christina Abreu Gomes. 
Co-orientador: Prof. Dr. Gastão Coelho Gomes 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2007 
 
 
 
 
 
 
Aline de Azevedo Ferreira 
 
 
 
 
 
 
Avaliação fonológica de crianças com Distúrbio Específico da 
Linguagem sob a ótica da Fonologia de Uso 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado em Lingüística 
apresentada à Coordenação de Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro. 
 
 
Orientadora: Profª.Drª. Christina Abreu Gomes 
Co-orientador: Prof. Dr. Gastão Coelho Gomes 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ferreira, Aline de Azevedo 
Avaliação fonológica de crianças com Distúrbio Específico da Linguagem sob 
a ótica da Fonologia de Uso / Aline de Azevedo Ferreira. Rio de Janeiro , 
2007. 
88 f.: il. 
 
Dissertação (Mestrado em Lingüística) – 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de 
Letras, 2007. 
 
Orientadora: Christina Abreu Gomes 
Co-orientador: Gastão Coelho Gomes 
 
1. Fonologia de uso. 2. Distúrbio específico de linguagem. 
3. Fonoaudiologia – Dissertações. 
 
I.Gomes, Christina Abreu (Orient.). II. 
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade 
de Letras. Programa de Pós-Graduação em Lingüística III. Título. 
 
 
 
 
DEFESA DE DISSERTAÇÃO 
 
FERREIRA, Aline de Azevedo. Avaliação Fonológica 
de Crianças com Distúrbio Específico da Linguagem 
sob a Ótica da Fonologia de Uso. Rio de Janeiro, 
UFRJ, Faculdade de Letras, 2007. Dissertação de 
Mestrado em Lingüística. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
Professora Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ 
Orientadora 
 
 
Professor Doutor Gastão Coelho Gomes – UFRJ 
Co-orientador 
 
 
Professora Doutora Renata Mousinho Pereira da Silva – UFRJ 
 
 
Professora Doutora Myrian Azevedo de Freitas – UFRJ 
 
 
Professora Doutora Maria Maura Cezário – UFRJ 
 
 
Professor Doutor Alexandre Victorio Gonçalves – UFRJ 
 
 
 
 
Defendida a Dissertação: 
 
Conceito: 
 
Em: / / 2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao Universo, 
Energia central da vida. 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, 
Pela dedicação e apoio nos momentos mais importantes. 
 
 
 
 
 
 
E a todos aqueles que de forma direta ou indireta participaram desta 
jornada. 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta dissertação com todo carinho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
À Professora Doutora Christina Abreu Gomes, orientadora excepcional, pelo 
incentivo, confiança e determinação. 
 
Ao Professor Doutor Gastão Coelho Gomes pela orientação no tratamento 
estatístico dos dados. 
 
Aos meus mestres da graduação, em especial a Professora Mônica Rocha e a 
Professora Claudia Drummond por terem plantado em mim o interesse pela 
pesquisa. 
 
Ao Anderson, meu amor e companheiro, pela paciência e compreensão nos 
momentos difíceis de estresse e pela ajuda indispensável com o computador. 
 
Aos meus familiares e amigos pela compreensão e tolerância durante esta jornada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FERREIRA, Aline de Azevedo. Avaliação Fonológica de Crianças com Distúrbio 
Específico da Linguagem sob a Ótica da Fonologia de Uso. Rio de Janeiro, UFRJ, 
Faculdade de Letras, 2007. Dissertação de Mestrado em Lingüística. 
 
 
 
 
Resumo 
 
 
O objetivo deste estudo foi checar o conhecimento fonológico de oito crianças 
com diagnóstico de Distúrbio Específico de Linguagem (DEL), comparando com os 
dados de crianças com desenvolvimento típico (grupo controle), com idades entre 4 
a 6 anos, a partir da Prova Fonológica do Teste ABFW (nomeação e imitação), 
fazendo uma análise segundo os pressupostos da Fonologia Probabilística ou 
Fonologia de Uso. 
Foram analisados os casos de discrepância entre o alvo e a produção da 
criança em função das categorias do teste, procurando identificar se há relação 
entre a incidência de tipos de erros relacionados aos diferentes graus de abstração 
propostos na fonologia de uso e o tamanho do léxico da criança. 
 Os dados obtidos no grupo DEL indicam um maior comprometimento nas 
estruturas que envolvem a representação mais abstrata dos itens (coarser-grained 
representation), ao passo que as alterações que envolvem a representação fonética 
mais detalhada (fine-grained phonetic representation) são menos freqüentes. Os 
resultados também sugerem uma relação entre conhecimento fonológico e o 
tamanho do léxico para as crianças DEL. 
Palavras-chaves: AQUISIÇÃO, DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM, 
FONOLOGIA PROBABILÍSTICA, FONOLOGIA DE USO. 
 
 
 
 
 
FERREIRA, Aline de Azevedo. Avaliação Fonológica de Crianças com Distúrbio 
Específico da Linguagem sob a Ótica da Fonologia de Uso. Rio de Janeiro, UFRJ, 
Faculdade de Letras, 2007. Dissertação de Mestrado em Lingüística. 
 
Abstract 
 
This work aimed to check the phonological knowledge of 8 children with 
Specific Language Impairment (SLI), compared to data from typically developing 
children (the control group), with ages between 4 and 6 years old, using the 
Phonological Test of the ABFW Test (naming and repetition), and taking the 
theoretical background of Probabilistic Linguistic and Usage-based Phonology. 
 The differences between the target and the child´s production were analyzed 
according to the test categories, aiming to identify the relationship between chidren´s 
errors and the degrees of abstraction proposed in Usage-based Phonology, and the 
size of the child´s lexicon. 
 Children with Specific Language Impairment show more errors in structures 
related to the coarsed-grained level, although the ones related to the word phonetic 
shape were less affected. The results also suggest a relationship between 
phonological knowledge and the size of the lexicon for the SLI children. 
Key-words: acquisition; specific language impairment; Probabilistic Phonology; 
Usage-based Phonology. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1.INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12 
2.PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.............................................................................. 14 
2.1Conhecimento Fonológico sob a perspectiva dos modelos 
multirepresentacionais 
2.2.Aquisição Fonológica na Fonologia de Uso 
2.2.1. Breve Retrospectiva da Aquisição Fonológica 
2.2.2. Fonologia de Uso 
3.DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM (DEL) E CONHECIMETO 
FONOLOGICO ......................................................................................................... 26 
3.1.O estudo de Beckman, Edwards & Muson 
 3.1.1.Efeitos de probabilidade dos difones em crianças com DEL 
4.METODOLOGIA E HIPOTESES DE TRABALHO ............................................... 36 
4.1.Amostra 
 4.1.1.Critérios de inclusão dos sujeitos 
4.2.Coletas dos dados 
 4.2.1.Instrumentos 
 4.2.2.Descrição dos Testes 
4.2.2.1.Prova Fonológica – ABFW 
4.2.2.2.Analise dos Processos Fonológicos 
 4.2.3.Testede Vocabulário Receptivo de Peabody (PPVT-III) 
4.3.Metodologia de quantificação e analise dos processos do teste 
4.4.Hipóteses de trabalho 
5.ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................ 55 
5.1.Análise do grupo DEL 
5.2.Análise do grupo controle 
5.3.Comparando os dados dos dois grupos 
6.CONCLUSÃO ........................................................................................................73 
7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 75 
8. ANEXOS ...............................................................................................................79 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 Templates das primeiras palavras de Raivo: ‘Estrutura Nasal...................22 
 
 
Tabela 2 Templates das primeiras palavras de P: ‘Estrutura Sibilante’ ....................22 
 
 
Tabela 3 (Templates das primeiras palavras de Madli .............................................23 
 
 
Tabela 4 Produtividade dos processos fonológicos de acordo com a idade.............41 
 
 
Tabela 5 Protocolo de Registro Nomeação...............................................................42 
 
 
Tabela 6 Protocolo de registro imitação....................................................................43 
 
 
Tabela 7 Possibilidades de Ocorrência dos Processos Fonológicos.........................45 
 
 
Tabela 8 Peabody – Tabela de Idades......................................................................50 
 
 
Tabela 9 Percentual de Ocorrência dos Processos no grupo DEL...........................57 
 
 
Tabela 10 Percentual de Ocorrência dos Processos no Grupo Controle..................64 
 
 
Tabela 11. Estimação de α e β do grupo DEL...........................................................68 
 
 
Tabela 12. Estimação de α e β do grupo CON..........................................................69 
 
 
Tabela 13. Estimação dos α e β da equação 1 correspondente ao grupo CON 
eliminando o ponto de influência (Criança 5) ............................................................70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
 
 
 
Figura 1Figura Beckman (2004).............................................…….....………………32 
 
 
Figura 2 Prancha de treino (Peabody)………….............................…………............48 
 
 
Figura 3. Cálculo do Escore (Peabody).....................................................................49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
 
 
 
Gráfico 1 Alterações na Representação Abstrata do Grupo com DEL....................59 
 
 
Gráfico 2.Alterações no Detalhamento Fonético Fino no grupo DEL.......................60 
 
 
Gráfico 3 Relação da representação fonológica em relação ao tamanho do 
léxico..........................................................................................................................61 
 
 
Gráfico 4 Representação Abstrata Grupo Controle...................................................65 
 
 
Gráfico 5 Detalhamento Fonético Fino Grupo Controle............................................66 
 
 
Gráfico 6.Relação da representação fonológica em relação ao tamanho do léxico no 
Grupo Controle...........................................................................................................67 
 
 
Gráfico 7. DEL...........................................................................................................71 
 
 
Gráfico 8. Grupo Controle.........................................................................................71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Essa dissertação procurou avaliar o desempenho fonológico de crianças com 
distúrbio específico de linguagem (DEL) em comparação ao desempenho de 
crianças com desenvolvimento típico (grupo controle), através de uma nova 
perspectiva teórica rotulada de Modelos baseados no Uso (Bybee, 2001). O objetivo 
desse estudo é observar se há diferença de desempenho entre os dois grupos e se 
podemos estabelecer essas diferenças, além de verificar se existe correlação entre 
o conhecimento fonológico e o tamanho do léxico, como sugere Beckman et al. 
(2004). 
Esta dissertação se organiza da seguinte forma. No capitulo 2, serão 
abordados os pressupostos teóricos que sustentam a análise e interpretação dos 
dados apresentados aqui, com a apresentação dos principais postulados da 
Fonologia de Uso (Bybee, 2001) ou Fonologia Probabilística (2003). 
 No capitulo 3 serão apresentados trabalhos relativos ao distúrbio específico 
da linguagem, principalmente no que diz respeito às alterações fonológicas. O 
distúrbio específico de linguagem (DEL) caracteriza-se por um transtorno na 
aquisição de múltiplos aspectos da linguagem, especialmente dos componentes 
fonológico e morfossintático, levando a criança a apresentar dificuldades nas 
habilidades comunicativas e de aprendizagem. (Bishop, 2002; Giacheti, 2001) 
Os testes utilizados na pesquisa foram o ABFW (Prova Fonológica) e o 
Peabody (compreensão de vocabulário). A avaliação fonológica proposta pelo teste 
segue, a principio, os pressupostos teóricos da fonologia natural, cujo foco central 
está nos traços distintivos e a análise fonológica é feita através de processos 
fonológicos que serão suprimidos no decorrer da aquisição da fonológica. A 
 
 
 
descrição dos testes e os critérios metodológicos de coleta e análise dos dados 
serão vistos no capítulo 4. 
No capítulo 5 iremos tratar da análise dos dados obtidos na pesquisa segundo 
a ótica da Fonologia Probabilística. De acordo com essa perspectiva teórica, a 
organização fonológica está representada em dois níveis de representação, um mais 
abstrato, que está diretamente relacionado com a estrutura abstrata da palavra, e a 
representação fonética fina, que se refere à forma sonora da palavra. 
Finalmente, no capítulo 6 estão apresentados os principais resultados obtidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 
 
 Este capítulo trata dos pressupostos teóricos que sustentam a análise dessa 
pesquisa, a saber, os modelos multirepresentacionais da Fonologia de Uso ou 
Probabilística (Bybee, 2001, Pierrehumbert, 2003), Teoria dos Exemplares 
(Pierrehumbert, 2001) e os relativos à aquisição fonológica nesses modelos. 
Fonologia de Uso e Fonologia Probabilística compartilham de características 
semelhantes em seus pressupostos e serão tratadas aqui sob o mesmo rótulo de 
Fonologia de Uso. 
 
2.1. Conhecimento Fonológico sob a perspectiva dos Modelos 
Multirepresentacionais 
O modelo de Fonologia de Uso (Pierrehumbert, 2003) postula que a 
organização da representação fonológica se dá através da emergência de 
generalizações que acontecem em vários níveis diferentes de abstração. Cada 
forma familiar de palavra tem uma representação distribuída no espaço fonético 
paramétrico que captura generalizações pertinentes em cima da experiência 
perceptiva do falante. Em outras palavras o falante abstrai uma forma familiar a 
partir das formas expostas no uso. Uma representação paralela mais abstrata 
emerge da formas fonéticas representadas no léxico. Portanto, a gramática 
fonológica é abstraída das formas das palavras armazenadas no léxico. 
Cada palavra é codificada na memória episódica que localiza as 
representações paramétricas detalhadas do que é ouvido e padrões articulatóriosque são experimentados em itens específicos da palavra. Nessa proposta assume-
se que freqüência de ocorrência (token frequency) de um item lexical e a freqüência 
 
 
 
de tipo (type frequency), recorrência de estruturas abstratas afetam a representação, 
a produção e percepção, como já foi observado em diversos trabalhos (Bybee, 2000, 
Jurafsky, Bell e Girand, 2002, e Munson e Solomon,2004). 
A freqüência de ocorrência trata da quantidade de vezes que um item ocorre 
em uma amostra, podendo esta ser oral ou escrita. Esta variação provoca dois 
efeitos muito importantes. Um deles dá conta da mudança fonética motivada que 
ocorre mais rápido em palavras mais freqüentes. O outro está relacionado com a 
categorização dos itens lexicais, pois as palavras mais freqüentes são mais 
resistentes a mudanças que ocorrem através de generalizações. Sendo assim as 
palavras mais usadas são mais fortes, isto é, apresentam maior robustez no 
armazenamento, preservando sua forma fonética e são menos sujeitas à analogia. 
Segundo observam Beckman et al (2004), os estudos sobre efeitos de 
freqüência de tipo, por outro lado, sugerem diferenças segundo a codificação da 
forma de cada palavra, em termos de generalizações abstratas sobre padrões 
fonológicos sublexicias que ocorrem periodicamente nas palavras. Por exemplo, 
sucessões de fonemas freqüentes em muitas palavras (difones1 de alta-
probabilidade) são percebidas e produzidas diferentemente dos encontrados em 
poucas palavras (difones de baixa-probabilidade). Além disso, também tem sido 
observado que a probabilidade de ocorrência dos difones afeta o tempo de resposta 
de palavras reais e pseudopalavras, mas de maneira oposta. Palavras reais são 
repetidas mais lentamente se elas contêm seqüências de alta-freqüência e 
sugestionam um efeito de competição de percepção de outras palavras semelhantes 
que têm codificações baseadas em instâncias ricas ao nível fonético paramétrico. As 
pseudopalavras são repetidas, através de contraste, mais rapidamente se elas 
 
1 Difone é um par de fones adjacentes. O termo também é usado para se referir à transição entre os 
dois fones. 
 
 
 
 
contêm itens de alta-freqüência. Segundo concluem os autores, esta assimetria 
sugere que o acesso é robusto para as representações fonéticas paramétricas 
detalhadas pertinentes para produzir uma forma nova e é dependente de 
generalizações abstratas sobre a estrutura fonológica de palavras reais e está de 
acordo com a proposta de Pierrehumbert (2001) de um modelo de "gramática 
fonológica" como um passo na "escada de abstrações", que parte da imagem 
sensorial imediata do sinal de fala até chegar à representação de relações 
morfossintáticas. Nesse modelo processar uma nova palavra demanda uma 
codificação em termos de categorias fonológicas como “todas as sílabas fortes”, 
“todas as oclusivas velares iniciais seguidas de vogal anterior”. Essa codificação é, 
portanto, mais abstrata, relativa a forma das palavras individuais, que por sua vez 
constituem abstrações sobre diferentes instâncias da mesma palavra no espaço 
paramétrico. 
As representações de alta-freqüência com abstrações em cima da freqüência 
de tipos também são consistentes com os padrões observados de variação nos 
julgamentos de gramaticalização de falantes adultos. Os falantes adultos têm maior 
probabilidade de julgar uma pseudopalavra como uma possível palavra se esta 
contém seqüências de difones que acontecem em muitas palavras do idioma. Tal 
variação será esperada se a gramática fonológica codificar formas de 
pseudopalavras em um nível emergente de abstração através da experiência do 
falante, incorporando muitas formas de palavras inicialmente novas no léxico 
(Beckman et al., 2004: 2). 
Segundo Bybee (2001) os itens no léxico estão organizados em similaridades 
fonéticas e semânticas formando redes lexicais. Essa proposta de organização do 
léxico se baseia no modelo de exemplares proposto por Johnson (1997). 
 
 
 
Modelo de Exemplares 
 O modelo de representação da Fonologia de Uso segue o modelo de 
exemplares proposto inicialmente na área de processamento da fala (Johnson, 
1997), onde a informação referente à variabilidade tem um papel fundamental, não 
sendo desprezada. 
 Na Teoria de Exemplares cada categoria fonética é representada na memória 
por uma nuvem de exemplares (tokens) que foram armazenados para tal categoria. 
Estes exemplares são organizados num mapa cognitivo. Categorias mais freqüentes 
têm um maior numero de exemplares e as menos freqüentes possuem poucos 
exemplares. Esta nuvem apresenta informações lingüísticas e não lingüísticas 
(Pierrehumbert, 2001). 
 Quando um item novo é encontrado, é classificado na teoria dos exemplares 
de acordo com suas semelhanças para os exemplares armazenados. A percepção 
que codifica o novo item localiza este no espaço paramétrico pertinente. Sua 
semelhança pode ser computada para qualquer exemplar único armazenado com 
uma distância do exemplar no espaço paramétrico. Para classificar o novo item é 
computado o rótulo mais provável dado o rótulo dos exemplares vizinhos. Um 
tamanho fixo na vizinhança ao redor do item novo determina o conjunto de 
exemplares que influencia a classificação. As semelhanças computadas são 
somadas para os exemplares de cada rótulo imediato naquela vizinhança, a 
semelhança para cada exemplar será sobrecarregada pela força ( ou ativação) 
daquele exemplar. 
 Resumindo, o acesso a um exemplar está associado à aproximação com a 
nuvem de recordações de percepção detalhada que cada categoria do sistema 
possui. As recordações são granularizadas como uma função da acuracidade do 
 
 
 
sistema perceptual. A freqüência não é totalmente codificada no modelo. Ao 
contrário, é intrínseca às representações cognitivas para as categorias. Categorias 
mais freqüentes têm mais exemplares e serão mais ativadas que categorias menos 
freqüentes, se tornando assim mais robustas. 
 Podemos dizer que a dinâmica de exemplar provê evidências importantes 
para o Modelo de Fonologia de Uso. A suposição de que os falantes aprendem ou 
adquirem categorias fonológicas através de lembranças dos muitos itens 
armazenados nestas categorias explica a habilidade para aprender padrões 
fonéticos finos (detalhamento fonético) de um idioma (Pierrehumbert, 2001) 
Segundo o modelo adotado pela fonologia de base gerativa para o dicionário 
mental, cada item é listado no léxico (mental) e associado exclusivamente a uma 
única forma fonológica. Para este modelo a representação mental é similar à entrada 
do dicionário, contendo informações sintáticas, semânticas e fonológicas e é o 
ouvinte que selecionará a entrada para o dicionário mental através do processo de 
reconhecimento da palavra (Cristófaro-Silva, 2003). 
Pierrehumbert (2001) sugere uma proposta que engloba percepção e 
produção da fala. Nesta visão os falantes possuem um conhecimento fonético 
detalhado dos itens lexicais e fazem uso deste conhecimento na interpretação e na 
produção dos itens. Estudos em Fonologia de Laboratório reforçam esta idéia (ver 
Pierrehumbert, Beckman & Ladd (2000)) assim como inúmeros estudos demonstram 
que o detalhamento fonético é essencial para o mapeamento fonológico (ver Bybee 
(2000, 2001), Vihman (2002), Cristófaro-Silva (2002)). 
Segundo a Teoria de Exemplares o detalhamento fonético é aprendido como 
parte da palavra. Sons se encontram em contexto e a palavra é lócus de 
categorização e a freqüência é fundamental no mapeamento fonológico, pois 
 
 
 
assume-se nesta teoria que a memória de propriedadesfonéticas é associada a 
itens lexicais individuais. O léxico e a Gramática interagem entre si, pois apresentam 
graus específicos de generalizações de memórias fonéticas. A freqüência de tipo e 
de token são essenciais na organização das representações fonológicas, conforme 
já observamos nesse capítulo. 
 
2.2. Aquisição Fonológica na Fonologia de Uso 
A aquisição fonológica vem sendo interesse de estudos por décadas tanto 
nos modelos tradicionais como, mais recentemente, também nos modelos 
alternativos, como os modelos multirepresentacionais. Nesta seção apresentaremos 
as questões da aquisição nos modelos multirepresentacionais. 
 
2.2.1. Breve Retrospectiva da Aquisição Fonológica 
 As hipóteses de aquisição fonológica estão relacionadas aos pressupostos 
estabelecidos pela teoria fonológica para a organização do conhecimento fonológico. 
Por exemplo, segundo Jakobson (1941) o desenvolvimento fonológico consiste em 
um desdobramento gradual de um sistema de contrastes, já que para o 
estruturalismo a fonologia de uma língua se baseia no sistema de contrastes. Para 
Stampe (1969) a gramática inicial consiste em um conjunto desordenado de regras 
inatas, enquanto a gramática final constitui um subconjunto ordenado destas regras. 
O desenvolvimento fonológico consistia então em suprimir as regras impróprias à 
gramática do adulto e ordenar apropriadamente as mesmas. Já na Teoria da 
Otimalidade, que postula um conhecimento fonológico baseado em restrições 
universais e inatas hierarquizadas de boa formação dos outputs fonéticos, a 
 
 
 
aquisição fonológica consistiria na ordenação dessas restrições para permitir a 
geração das formas fonológicas possíveis na língua adquirida (Boersma, 2004). 
Adotamos o referencial teórico da Fonologia de Uso para postular as 
hipóteses e realizar a análise dos dados coletados na pesquisa. Fizemos uso do 
Teste ABFW (prova fonológica) que será discutido na seção 4.2.2.1 do capítulo 4 e 
que se baseia em outro referencial teórico, provavelmente o da Fonologia Natural de 
Stampe, embora esse referencial teórico não esteja explicitado. 
De acordo com a proposta de Stampe, a aquisição fonológica se dá via 
processos fonológicos, tidos como um percurso necessário ao desenvolvimento do 
domínio fonológico da língua (Yavas, 1992; Wertzner et al., 2001). Por esta noção, a 
aquisição e o uso sistemático dos fonemas obedece a uma hierarquia - processos 
fonológicos, que identificam grupos de fonemas, cujo conjunto de traços que os 
compõem e os distinguem uns dos outros, apenas por um único traço, os 
designados traços distintivos dos fonemas. Desta forma, para esse ponto de vista 
da fonologia torna-se relevante, na aquisição da fala, a eleição do traço distintivo, 
para o emprego de um determinado fonema, opondo-se assim, ao seu par correlato 
constituído pelo mesmo grupo de processo fonológico. No percurso da aquisição da 
fala há processos fonológicos desviantes do padrão adulto, mas que são pertinentes 
à aprendizagem da fala. Outros, no entanto, não são pertinentes ao 
desenvolvimento, e demonstram uma possível vulnerabilidade, por parte da criança, 
em identificar e discriminar as características dos traços distintivos dos pares dos 
fonemas (BEFI –LOPES, 2000). Essas questões serão revistas e discutidas no 
capítulo 4. 
 
 
 
 
 
2.2.2. Fonologia de Uso 
 Uma vez que a Fonologia de Uso não postula um conjunto de informações 
lingüísticas inatas e caracteriza a organização fonológica como um nível emergente 
das formas fonéticas dos itens lexicais armazenados no léxico, como se postula a 
aquisição fonológica nesse caso? 
Para Vihman e Kunnari (2006) o desenvolvimento fonológico é gradual e é 
dependente do desenvolvimento das habilidades articulatórias, isto é, do domínio 
dos gestos articulatórios necessários para produzir os sons da língua em que a 
criança está imersa, conjugado à intenção comunicativa da criança. Inicialmente a 
forma da palavra está ligada a esse domínio. Vihman organiza em três etapas os 
dados obtidos em um estudo longitudinal com crianças falantes do inglês, finlandês 
e francês observando as mesmas características. Entre os 10-12 meses, fase das 
primeiras palavras (early words), estão as palavras produzidas espontaneamente 
pelas crianças obtidas nas primeiras sessões. Nessa fase as crianças produziram de 
3 a 4 palavras identificáveis, portanto caracterizando uma média de 4 palavras. A 
fase rotulada de “selecionada” (selected), de dados obtidos alguns meses depois, é 
o período em que se observa que há uma generalização seletiva com mais 
características fonológicas. Ela considera que há evidências para admitir que há um 
princípio de organização em funcionamento nesse período entre as primeiras 
palavras e o fim do período das palavras-únicas (entre 14 e 16 meses). O rótulo 
“selected” significa que a tentativa de produzir a palavra alvo por parte da criança 
grosso modo se aproxima da forma do adulto. Por exemplo, nas formas seletivas a 
criança apresenta redução de sílaba, harmonização consonantal. Mais tarde 
observa-se a fase da forma “adaptada” (adapted) da palavra alvo. O rótulo “adapted” 
corresponde ao fato de que a forma da palavra alvo é adaptada para encaixar no 
 
 
 
padrão da criança. Esse é o momento em que, segundo Vihman, inicia-se a 
organização fonológica propriamente dita, a emergência de padrões abstratos. 
Esse padrão ou TEMPLATE emerge como o produto da aquisição das 
palavras. Observem-se os templates extraídos de Vihman e Croft (2006) a seguir. 
São dados de crianças adquirindo o estoniano e o inglês. 
Tabela 1. Templates das primeiras palavras de Raivo: ‘Estrutura Nasal’ (Estoniano; 
idade 1;3.18-1;3.24) <nVN> 
 
 
(Vihman e Croft, 2007, adaptado de Vihman 1981) 
 
Tabela 2. Templates das primeiras palavras de P: ‘Estrutura Sibilante’ (inglês, idade 
1;6) <(plosiva)VS> 
 
 
(Vihman e Croft , 2007, adaptado de Waterson 1971) 
 
 
 
Tabela 3. Templates das primeiras palavras de Madli (Estoniano; idade 1;8) 
<(p, t)Vs> 
 
 
(Vihman e Croft , 2007, adaptado de Kõrgvee 2001) 
 
Os templates se caracterizam por um padrão consistente para um conjunto de 
palavras que envolvem estrutura silábica e ocorrência dos mesmos segmentos 
sonoros, portanto há coerência interna nas formas dos itens das crianças embora 
estes estejam mais distantes das formas do alvo. 
Vihman e Croft (2007) propõem três critérios para identificação de templates : 
A- Consistência de um padrão num número substancial de formas de palavras 
produzidas pela criança em uma ou mais sessões ou num período de 
semanas ou meses; 
B- Ocorrência de correspondências fonológicas não usuais entre a forma da 
criança e a forma do adulto, isto é regras, processos ou estratégias de 
reparo, sobre a influência de um padrão dominante; 
C- Freqüentemente um rápido aumento em produção de palavras que se 
encaixam nesse padrão. 
 
 
 
Segundo Vihman e Kunnari, (2006:145) o desenvolvimento de um ou mais 
templates reflete um passo na direção de um sistema fonológico e constitui um 
avanço em relação ao período das primeiras palavras. As formas adaptadas são 
uma regressão em acuracidade. 
A harmonia consonantal, metátese e outras formas observadas são formas de 
adaptação às rotinas articulatórias familiares ou já estabelecidas pela criança nessa 
fase e aos templates. As autoras também observam que as crianças podem 
desenvolver diferentes templates, ou seja, elas não apresentaram necessariamente 
os mesmos padrões, uma vez que os templates surgem dos itens lexicais 
armazenados e isso difere de criança para criançacomo resultado da exposição a 
diferentes ambientes lingüísticos. Nas tabelas 1,2, e 3 apresentadas acima , os 
templates se assemelham em função da estrutura silábica mas diferem em relação 
aos segmentos que os compõem. Também é mencionada a evidência de templates 
do tipo <VCV> em línguas com geminadas como o finlandês e o hindu ou com 
consoantes mediais foneticamente longas no galês. Ainda no estudo longitudinal de 
Vihman e Kunnari (2006) as autoras mostram evidências de templates diferentes 
para crianças adquirindo a mesma língua (francês, inglês, finlandês, galês). 
 Com relação à organização sonora abstrata do adulto, Vihman e Croft (2007) 
propõe também a continuidade dos templates. 
Podemos afirmar que nessa proposta a aquisição fonológica tem uma base 
fonética e é emergente, gradual, se expandindo em função da expansão do léxico. 
Os itens apreendidos/adquiridos através da percepção são armazenados e permitem 
práticas articulatórias relacionadas à percepção motora que favorece o acúmulo de 
experiência em direção ao alvo adulto, que alimentará a produção propriamente dita 
 
 
 
(alvo). Também o léxico é central para a organização do conhecimento fonológico, 
que tende a se expandir com a expansão do léxico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LINGUAGEM (DEL) E CONHECIMENTO 
FONOLÓGICO 
 
Neste capitulo iremos tratar de aspectos relacionados ao distúrbio específico 
de linguagem (DEL), no que diz respeito à aquisição fonológica. O DEL está 
enquadrado nos transtornos de aquisição e de desenvolvimento da fala e da 
linguagem. Estes transtornos apresentam um largo espectro de manifestações 
clínicas sem um fator etiológico definido, em alguns casos como, por exemplo, o 
distúrbio específico de linguagem – DEL. Outros transtornos de linguagem podem 
estar associados a diversos fatores etiológicos e/ ou comorbidades, sejam estes de 
ordem genética, psiquiátrica, neurológica, psicológica e de privação sensorial. 
O distúrbio específico de linguagem, também chamado transtorno específico 
de linguagem (specific language impairment – SLI), parece assumir alguns critérios 
distintos de identificação. O primeiro deles está na ausência de fator etiológico de 
qualquer natureza; o segundo, diz respeito ao desempenho lingüístico esperado em 
uma determinada faixa etária do desenvolvimento da aquisição da linguagem, 
dissonante do padrão etário de normalidade; e o terceiro, diz respeito à própria 
caracterização dessa diferença no desenvolvimento da linguagem, envolvendo 
principalmente alterações de cunho fonológico, morfossintático e de compreensão 
de sentenças. (Bishop, (2002), Hage e Guerreiro, (2004)) 
 De acordo com BISHOP (2002) e HAGE (2001) os achados de neuroimagem 
falam a favor de uma influência genética para estes distúrbios à medida que 
evidenciam diferenças neuroanatômicas e neurofuncionais nas crianças que 
apresentam DEL, embora ainda não sejam achados conclusivos para serem 
identificados com possíveis causas. 
 
 
 
 Estudos realizados buscando uma classificação de sub-categorias 
para os DEL, partiram da proposta de diferenciação das desordens no 
desenvolvimento de linguagem (Allen e& Rappin, 1988) tomando por base a 
alteração de níveis lingüísticos e suas interfaces, subdivididos em 6 sub-grupos: 
agnosia verbal auditiva; déficit fonológico-sintático; dispraxia verbal; déficit de 
programação fonológica; déficit semântico-pragmático e déficit léxico-sintático. 
Seguem abaixo as características de cada subtipo ((Bishop, 2003, Hage e 
Guerreiro, 2004): 
• Agnosia verbal auditiva: compreensão da linguagem oral muito prejudicada 
ou ausente, estando normal a compreensão de gestos; fala ausente ou muito 
restrita (apenas palavras isoladas com articulação prejudicada). 
• Déficit fonológico-sintático: compreensão prejudicada quando o enunciado é 
longo ou emitido com rapidez; linguagem oral se manifesta com atraso; 
alterações de morfossintaxe (frases simples, telegráficas, erros de flexão 
verbal e nominal; dificuldade de organização sintática; presença de varias 
alterações fonológicas. 
• Dispraxia verbal: Compreensão normal ou próxima do normal; linguagem oral 
se manifestando com atraso; o enunciado de restringe a uma ou duas 
palavras; a fluência pode estar comprometida. 
• Déficit de programação fonológica: Compreensão normal ou próxima do 
normal; o aparecimento da fala é normal ou com leve atraso; a estrutura dos 
enunciados é compatível com a faixa etária; a fala é ininteligível devido as 
alterações fonológicas, fluência preservada. 
• Déficit semântico-pragmático: o aparecimento da fala pode estar normal; 
enunciados e articulação desenvolvem-se normalmente ou com ligeiras 
 
 
 
dificuldades; fala fluente; as dificuldades estão relacionadas ao nível 
pragmático (inadequação da linguagem ao contexto, coerência temática 
instável, ecolalias; dificuldade na compreensão de enunciados longos e 
entendimento literal da palavra exagerado). 
• Déficit léxico-sintático: dificuldade de evocação e fixação do léxico; podem 
ocorrer alterações fonológicas, mas sem afetar a inteligibilidade da fala; 
fluência pode estar prejudica devido às dificuldades de evocação lexical; 
alteração na compreensão de frases; dificuldade de manter a seqüência dos 
elementos na frase ou de usar palavras com sentido gramatical. 
De acordo com HAGE (2001) e GUIACHETI (2001) as alterações mais 
freqüentes dos DEL concentram-se nos domínios fonológico e sintático, havendo 
bem menor freqüência de alterações de cunho semântico-pragmático. 
 Considerando-se que as alterações fonológicas são significativas no quadro 
de DEL, este trabalho tem seu foco no conhecimento fonológico de crianças com 
diagnóstico de DEL comparado ao de um grupo controle de crianças com 
desenvolvimento típico. Sendo assim, é importante investigar e compreender as 
alterações fonológicas do DEL como parte do quadro de aspectos que envolvem a 
caracterização do déficit. 
 
3.1. O estudo de Beckman, Edwards & Muson (2004) 
As discussões, procedimentos e análises desenvolvidas neste estudo tomam 
por base o estudo realizado por Beckman et al. (2004) que trata da aquisição do 
conhecimento fonológico que se estabelece através de generalizações que 
emergem das palavras armazenadas no léxico. Esse estudo foi desenvolvido tendo 
como base teórica a proposta de Pierrehumbert (2003), apresentada no capitulo 2, 
 
 
 
sobre a representação e organização das formas das palavras no léxico. Os autores 
fazem um estudo comparativo entre crianças de grupos diferentes, a saber: crianças 
com desenvolvimento típico, crianças diagnóstico de desvio fonológico e crianças 
com diagnóstico de distúrbio específico de linguagem (DEL). O objetivo foi buscar 
evidências que sustentem a postulação dos níveis de representação fonológica 
propostos por Pierrehumbert (2003) e de observar as diferenças entre os 3 grupos 
no que toca o conhecimento fonológico em aquisição. 
 Os pressupostos teóricos adotados por Beckman et al. (2004) são o modelo 
de fonologia Baseado no Uso (Bybee, 2000) e a Teoria dos Exemplares 
(Pierrehumbert, 2001). Os principais aspectos desses modelos foram apresentados 
no capítulo 2. O que se postula é que o conhecimento fonológico se faz através de 
uma hierarquia de abstrações que emergem das formas das palavras estocadas no 
léxico. Resultados de vários estudos com as duas populações clínicas, crianças com 
desvio fonológico e crianças com distúrbio específico da linguagem, sugerem queestes tipos diferentes de conhecimento fonológico podem se desenvolver 
separadamente. Crianças com desvio fonológico se assemelham às crianças com 
desenvolvimento típico mais jovens em termos da robustez de representações 
fonéticas paramétricas e vocabulário, se comparadas com as crianças com distúrbio 
específico de linguagem (DEL) que apresentam vocabulário restrito. 
Segundo os autores, estudos sobre conhecimento fonológico realizados na 
última década fortalecem modelos com apoio no léxico mental do adulto no qual a 
forma fonológica de cada palavra é codificada pelo menos de dois modos. Primeiro, 
cada forma familiar de palavra é codificada em termos de memória episódica que 
localiza as representações paramétricas detalhadas do que é ouvido e padrões 
articulatórios que são experimentados ouvindo ou dizendo itens específicos da 
 
 
 
palavra. Além disso, os estudos sobre efeitos de freqüência de tipo sugerem 
diferenças segundo a codificação da forma de cada palavra em termos de 
generalizações abstratas sobre padrões fonológicos sublexicias que ocorrem 
periodicamente nas palavras. Foram apresentadas no capítulo 2 evidências sobre o 
efeito da freqüência de difones na produção e percepção de palavras reais e 
pseudo-palavras. 
Além disso, Goldinger et al. (1992) mostram que semelhança fonológica ao 
nível abstrato facilita a identificação da palavra e decisão lexical até mesmo com 
longos intervalos entre a primeira e o alvo. Já em palavras com semelhança só ao 
nível paramétrico detalhado, observa-se inibição da identificação da palavra e da 
decisão lexical. Além disso, a inibição é particular a itens de baixa freqüência. 
Ainda conforme já mencionado no capítulo 2, segundo Beckman et al (2004), 
as representações de alta-frequência interferem nos julgamentos de aceitabilidade 
de formas de pseudo-palavras pelos adultos. Portanto, fica mais fácil interpretar o 
comportamento dos adultos se assumirmos o modelo hierárquico de codificação 
fonológica proposto em Pierrehumbert (2003). Isto é, descrever as generalizações 
de alta-ordem (relações fonotáticas, tipos estruturais silábicos etc) como abstrações 
de tipos de itens lexicais. De acordo com os autores, se esta suposição está correta, 
espera-se também ver variação no processamento de pseudo-palavras conforme o 
léxico da criança se expande na infância. Por exemplo, espera-se ver déficits na 
codificação fonética paramétrica que são independentes de qualquer déficit nas 
generalizações abstratas. Na seção a seguir são apresentados os resultados 
relevantes obtidos em diversos estudos conduzidos pelos autores relativos ao 
desenvolvimento fonológico de crianças e discutivos em Beckman et al. (2004), nos 
 
 
 
quais se observou o processamento de difones de alta-frequência contra difones de 
baixa-frequência nos três grupos de crianças mencionados acima. 
 
3.1.1. Efeitos de probabilidade dos difones em crianças com DEL 
No trabalho de Munson, Kurtz, e Windsor (2005), usou-se uma tarefa de 
repetição de pseudo-palavra para comparar os efeitos de probabilidade de difone em 
relação à produção por três grupos de crianças em idade escolar. Solicitou-se às 
crianças que repetissem as palavras ouvidas (pseudo-palavras montadas com 
difones de alta e baixa freqüência do inglês). Cada produção foi transcrita e a 
acuracidade medida em função de cada consoante e vogal que estive de acordo 
com a forma-alvo. 
O primeiro grupo era formado por 16 crianças com distúrbio específico de 
linguagem (DEL), com idade entre 8-13 anos. Para avaliar as crianças DEL foram 
usados testes como Clinical Evaluation of language Fundamentals – 3 (CELF-3; 
Shames, Wiig, e Secord 1997), que medem uma variedade de habilidades 
expressivas e receptivas em domínios estruturais diferentes, inclusive na morfologia, 
sintaxe e semântica. As crianças com DEL têm déficits bastante variáveis em 
diferentes habilidades da linguagem. Isto está de acordo com evidências de que as 
crianças com DEL têm dificuldade para repetir pseudo-palavras (por exemplo, 
Gathercole e Baddeley 1990; Dollaghan e Campbell 1998; Edwards e Lahey 1998). 
Portanto, tomando por base o modelo de gramática fonológica cujo conhecimento 
estrutural emerge de formas de palavras já estocadas e que é utilizado para 
processar novas palavras, muitas crianças com DEL poderiam ter problemas com as 
representações abstratas necessárias para processar pseudo-palavras e para 
aquisição robusta das palavras. Esses resultados estão apresentados a seguir. A 
 
 
 
Figura 1 foi extraída de Beckman et al (2004), pg. 5, e apresenta os resultados 
obtidos no teste de repetição de pseudo-palavras relacionados ao tamanho do léxico 
e da idade. 
 Figura 1 
 
Figura 1. Porcentagem de fones produzidos corretamente em estímulos compostos apenas de 
difones de alta-probabilidade (símbolos abertos) ou só de difones de baixa-probabilidade 
(símbolos fechados) em função da idade da criança (esquerda superior), tamanho de 
vocabulário expressivo (direito superior e esquerda inferior), e severidade de distúrbio de 
linguagem (direita inferior) em Munson, Kurtz, e Windsor (2004). Cada ponto representa o 
resultado de acuracidade para 34 crianças com desenvolvimento típico nos dois quadros 
superiores, e para 16 crianças com DEL (círculos) e com desenvolvimento típico da mesma 
idade (quadrados) nos dois quadros inferiores. 
 
Cada quadro da figura 1 representa a precisão de repetição em termos 
percentuais para as produções das crianças em relação a uma variável, como idade 
(quadro superior esquerdo), tamanho do léxico (quadro superior direito e inferior 
esquerdo), e habilidades lingüísticas (CELF-3) (quadro inferior direito). Os resultados 
foram calculados separadamente para pseudo-palavras que contêm seqüências com 
 
 
 
alta-probabilidade e para aquelas que contêm seqüências de baixa-probabilidade, de 
forma que cada criança é representada através de dois tipos de pontos. Dados das 
34 crianças com desenvolvimento típico são mostrados nos dois quadros superiores. 
No quadro superior à esquerda estão representadas as repetições dos itens em 
função da idade (em meses). No quadro superior direito os mesmos dados foram 
relacionados com o tamanho do vocabulário. A idade em meses prediz uma 
proporção significativa de discrepância tanto em pseudopalavras de alta freqüência 
quanto de baixa freqüência. Porém, a linha de tendência para a pseudopalavras de 
baixa probabilidade é mais íngreme, de forma que as duas linhas convergem à 
direita. Assim, idade não só prediz precisão global, mas também a diferença de 
precisão de repetição entre formas de alta e baixa freqüência; crianças mais velhas 
mostram um efeito menor de probabilidade fonotáticas que as crianças mais jovens. 
Isto é, com o avanço da aquisição a probabilidade fonotática interfere menos na 
acuracidade. 
A medida de tamanho de vocabulário que está no quadro superior direito é a 
pontuação no teste Expressive One-Word Picture Vocabulary Test (EOWPVT; 
Gardner, 2000). Esta medida também prediz uma proporção significativa de 
discrepância na repetição de itens de alta e baixa probabilidade, além da diferença 
entre eles. Este resultado não é surpreendente, desde que tamanho de vocabulário 
também esteja relacionado com idade. 
O papel do tamanho do vocabulário também é ilustrado no quadro inferior à 
esquerda da Figura 1. Este gráfico relaciona precisão de repetições sucessivas para 
palavras com difones de alta e baixa freqüência contra tamanho de vocabulário 
expressivo para as 16 crianças com DEL e as 18 crianças mais velhas com 
desenvolvimento típico. Aqui, a variação daidade é controlada de forma que enfatize 
 
 
 
a relação entre conhecimento fonológico e tamanho de vocabulário. Os círculos, 
representando os dados das crianças DEL, geralmente estão à esquerda dos 
quadrados (crianças com desenvolvimento típico). Essa distribuição mostra os 
vocabulários tipicamente reduzidos em crianças com DEL em relação às crianças 
com desenvolvimento típico da mesma idade. Os estímulos de alta e de baixa 
probabilidade têm curvas ascendentes e mostram que as crianças com DEL têm 
maior dificuldade global com a tarefa. Além disso, as duas curvas convergem à 
direita e mostram que as crianças com DEL são desproporcionalmente mais 
afetadas pela dificuldade de produzir as sucessões de baixa freqüência. Embora a 
curva não seja tão íngreme quanto no gráfico que inclui as crianças mais jovens, há 
uma relação clara entre as dificuldades que as crianças com DEL em sua maioria 
têm com pseudopalavras e a relação com o tamanho reduzido do vocabulário. 
Juntos, estes resultados sugerem que o DEL seja associado com dificuldades 
em fazer generalizações fonológicas abstratas através da nuvem de representações 
episódicas de itens lexicais. As generalizações abstratas estão relacionadas ao 
conjunto de itens armazenados no léxico. Por conseguinte, as crianças com DEL 
são mais pobres que as de idade cronológica semelhante para generalizar a 
produção correta do fonema para as seqüências pouco freqüentes. Este mesmo 
déficit deve ser parcialmente responsável pelos déficits para adquirir novas palavras: 
crianças com DEL não têm robustez nas representações fonológicas abstratas. 
No trabalho de Becklman et al (2004), o grupo de crianças com diagnóstico de 
desvio fonológico não apresentou dificuldade em relação à estrutura abstrata, isto é 
não houve comprometimento na acuracidade em função da probabilidade fonotática 
dos difones. Isto é, apresentaram o mesmo comportamento observado para as 
crianças com desenvolvimento típico. As crianças apresentaram baixo desempenho 
 
 
 
no detalhamento fonético fino (forma sonora), com uma produção muito próxima das 
de crianças com desenvolvimento típico mais jovens. Quanto ao tamanho do léxico 
não apresentaram grandes diferenças em relação às crianças com desenvolvimento 
típico, enquanto as crianças com DEL apresentam um léxico mais restrito e pouco 
robusto. 
Os resultados de Beckman et al.(2004) fornecem evidências para observar as 
diferenças entre crianças com DEL e crianças com desvio fonológico a partir da 
proposta de representação finer-grained (relacionada à forma sonora da palavra) e 
coarser-grained (relacionada à estrutura da palavra, forma mais abstrata) de 
Pierrehumbert (2003). De acordo com os resultados para processmento de 
pseudopalavras, foi possível estabelecer que os dois grupos, com DEL e com desvio 
fonológico, têm afetados níveis diferentes da representação sonora. 
Pretendemos observar as relações entre léxico e conhecimento fonológico, 
nos capítulos que se seguem, através dos dados da Pesquisa realizada no 
Ambulatório de Transtornos de Aquisição de Linguagem da UFRJ, a partir de dados 
de palavras reais de crianças falantes do português brasileiro com diagnóstico de 
distúrbio específico da linguagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. METODOLOGIA E HIPÓTESES DE TRABALHO 
O presente capítulo apresenta os testes utilizados para coleta dos dados, a 
metodologia de quantificação e análise e as hipóteses de trabalho. Foram avaliados 
dois grupos de crianças, crianças com distúrbio específico de linguagem – DEL e 
crianças com desenvolvimento típico (grupo controle), com objetivo de caracterizar 
as possíveis alterações fonológicas das crianças com diagnóstico de DEL e sua 
relação com o tamanho do léxico. 
Foram usados diferentes instrumentos para a obtenção dos dados, sendo o 
foco nos testes fonológico e compreensão de vocabulário, a saber; uma testagem do 
sistema fonológico através da Prova Fonológica do Teste ABFW e uma testagem 
para medir o vocabulário através do teste de Vocabulário Receptivo de Peabody III 
(PPVT- III), padronizados para a realidade brasileira. 
 
4.1. Amostra 
A amostra foi constituída por 9 crianças de faixa etária entre 4 e 6 anos. No 
decorrer dessa pesquisa, foi considerado conclusivo o diagnóstico de DEL para 8 
crianças, sendo uma considerada com diagnóstico de desvio fonológico que foi 
fechado ao final de todas as etapas da pesquisa, e por isso encontra-se incluído 
neste trabalho2. Todas as crianças são participantes do Projeto de Pesquisa Distúrbio 
Especifico de Linguagem (DEL) realizado pelo Curso de Fonoaudiologia da 
Faculdade de Medicina – UFRJ . Essas crianças são oriundas de escola pública e 
privada do município do Rio de Janeiro. O grupo Controle consiste de 11 crianças 
com idades entre 4 e 6 anos, sendo 7 crianças com idade equivalente ao grupo 
 
2 A criança com diagnostico de Desvio Fonológico não será comparada com as crianças com diagnóstico de 
DEL, pois temos apenas uma criança não sendo suficiente para conclusões a respeito da aquisição fonologica da 
mesma. 
 
 
 
diagnosticado com DEL, 2 com idade inferior a 4 anos e 2 crianças com idade 
superior a 6 anos. Todos os sujeitos do Grupo Controle são oriundos da Escola 
JENCE, instituição privada localizada no bairro de Jacarepaguá no Município do Rio 
de Janeiro. Com relação às características socioeconômicas as crianças dos dois 
grupos são semelhantes, todas os pais tem profissão e empregos definidos. 
 
4.1.1. Critério de inclusão dos sujeitos 
 Foram incluídas na amostra crianças que apresentam transtorno na aquisição 
da linguagem sem que haja qualquer fator etiológico que justifique tal transtorno, tais 
como: déficit sensorial auditivo, comprometimento neurológico e transtorno 
psiquiátrico, uma vez que a presença de qualquer um dos fatores supracitados, por si 
só, já descaracteriza o distúrbio específico de linguagem. Todos os sujeitos foram 
submetidos à avaliação audiológica no ambulatório de audiologia do Curso de 
Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, situado no Campus da Praia 
Vermelha. 
 Foram excluídas da amostra crianças com transtorno de aquisição de 
linguagem que apresentaram fatores etiológicos identificáveis como os citados acima. 
 
4.2. Coleta dos Dados 
4.2.1. Instrumentos 
 As crianças selecionadas para a pesquisa foram submetidas a avaliações para 
identificar as alterações fonológicas, o desempenho da memória de trabalho e o 
domínio do nível lingüístico morfossintático. 
 
 
 
 Todos os instrumentos selecionados foram devidamente eleitos para atender 
aos objetivos da pesquisa e já são amplamente utilizados na clínica fonoaudiológica 
como se observa nas publicações científicas. 
 Os instrumentos de avaliação fonoaudiológica foram compostos por testes 
formais, sendo os dois primeiros foco de interesse dessa pesquisa: a prova de 
fonologia ABFW (WERTZNER,2000); o teste de compreensão de vocabulário - 
Peabody (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 1997); a prova de memória e de recepção 
auditiva - ITPA (BOGOSSIAN; SANTOS, 1977), todos estes devidamente validados 
para a população brasileira e a avaliação observacional (HAGE,2001), através da 
qual, o desempenho lingüístico da criança foi analisado qualitativamente e através da 
triagem do processamento auditivo central. 
 A prova de memória e recepção auditiva do ITPA, spam de dígitos, avaliou a 
memória de trabalho e os resultados obtidos no grupo com DEL estava abaixo do 
esperado para todas as crianças. 
 
4.2.2. Descrição do Testesde Pesquisa 
4.2.2.1. Prova Fonológica – ABFW 
O ABFW – Teste de Linguagem Infantil é um teste nas Áreas de Fonologia 
(área de interesse deste trabalho), Vocabulário, Fluência e Pragmática, sendo 
aplicado para avaliação em crianças de 2 a 12 anos. É importante ressaltar que o 
teste está fundamentado nas experiências clínica e de docência das autoras 
(Claudia Regina Furquim de Andrade, Débora Maria Befi-Lopes, Fernanda Dreux 
Miranda Fernandes e Haydée Fiszbein Wertzner), e que está voltado para a 
realidade brasileira, pois o teste foi aplicado e realizado em crianças no período 
aquisitivo do português brasileiro. 
 
 
 
A Prova Fonológica é composta por uma avaliação do inventário fonético e 
outra que avalia quatorze processos fonológicos. São eles: 
• Redução de sílaba: quando há perda de uma das sílabas do vocábulo; 
• Harmonia consonantal: quando um fonema sofre interferência de outro 
fonema vizinho que o antecede ou o segue; 
• Plosivação de fricativas: o modo de articulação dos fonemas fricativos é 
transformado em um fonema plosivo; 
• Posteriorização para velar: um fonema plosivo linguodental se transforma 
em um plosivo velar; 
• Posteriorização para palatal: quando há alteração na zona de articulação 
transformando um fonema fricativo palatal em um fonema fricativo alveolar; 
• Frontalização de velar: quando há anteriorização de um fonema velar para 
um fonema plosivo liguo-alveolar; 
• Frontalização de palatal: quando anteoriza a produção de um fonema 
fricativo palatal; 
• Simplificação de líquida: quando há substituição, semivocalização e a 
omissão das vibrantes; 
• Simplificação da consoante final: quando elimina-se um dos membros do 
encontro consonantal (ClV e CrV); 
• Simplificação de encontro consonantal: quando se elimina ou substitui a 
consoante final do vocábulo ou da sílaba; 
• Sonorização de plosiva: quando um fonema plosivo surdo é substituído pelo 
correspondente sonoro; 
• Sonorização de fricativa: quando um fonema fricativo surdo é substituído pelo 
correspondente sonoro 
 
 
 
• Ensurdecimento de plosiva: quando um fonema plosivo sonoro é substituído 
pelo correspondente surdo; 
• Ensurdecimento de fricativa: quando um fonema fricativo sonoro é substituído 
pelo correspondente surdo. 
 
A elaboração do inventario fonético da criança é referente às posições de 
sílabas, inicial e final na palavra e dos segmentos na sílaba, onde são registrados os 
acertos, as substituições, etc. Numa segunda etapa observa-se a ocorrência dos 
processos fonológicos e faz-se o enquadre de acordo com as idades. Dos 14 
processos fonológicos, considera-se que 10 processos são observados 
frequentemente durante o período aquisitivo da linguagem e 4 (sonorização de 
plosiva, sonorização de fricativa, ensurdecimento de plosiva e ensurdecimento de 
fricativa) podem ser observados com menos freqüência durante o mesmo período 
(ABFW, 2004). O teste é acompanhado de uma tabela que contém a produtividade 
esperada de cada processo por faixa etária (Tabela 4). Não há uma explicitação no 
manual do teste sobre que evidências ou trabalhos de aquisição que essas 
previsões se baseiam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 4. Produtividade dos processos fonológicos de acordo com a idade (ABFW, 
2004) 
 
 
PROCESSOS FONOLÓGICOS 
 
 
IDADE PREVISTA PARA 
ELIMINAÇÃO DO USO 
PRODUTIVO 
1. Redução de sílaba 2;6 anos 
2. Harmonia consonantal 2;6 anos 
3. Plosivação de fricativas 2;6 anos 
4. Posteriorização para velar 3;6 anos 
5. Posteriorização para palatal 4;6 anos 
6. Frontalização de velares 3;0 anos 
7. Frontalização de palatal 4;6 anos 
8. Simplificação de líquida 3;6 anos 
9. Simplificação de encontro consonantal 7;0 anos 
10 .Simplificação de consoante final 7;0 anos 
11. Sonorização de plosivas - 
12. Sonorização de fricativas - 
13. Ensurdecimento de plosivas - 
14. Ensurdecimento de fricativas - 
 
O teste de fonologia é subdividido em duas provas, uma de nomeação e 
outra de imitação. Na prova de nomeação são apresentadas 34 pranchas que 
medem 12 cm X 21 cm com as figuras dos vocábulos alvos (anexo 1). Na imitação 
são apresentadas 39 palavras alvos que se encontram numa lista pré-estabelecida 
(tabelas 5 e 6.). A transcrição dos dados deve ser feita nos protocolos de marcação 
observados nos Anexos 2 e 3 (adaptação feita pelo Ambulatório de Transtornos de 
Linguagem da UFRJ). Os dados são coletados e transcritos a partir da gravação da 
sessão de aplicação das duas provas. 
 
 
 
 
 
Tabela 5. Protocolo de Registro Nomeação 
UFRJ - Faculdade de Medicina - Curso de Fonoaudiologia 
 
ABFW - FONOLOGIA - PROTOCOLO DE REGISTRO (NOMEAÇÃO) 
 
Nome: Idade: Data Exame: 
Resultados ---> Acerto: Distorção: Omissão: Substituição: 
 
Vocábulos Transcrição Fonemas Inicial Final 
 I.D. P.O E PROD I.D. P.O E PROD
 1. Palhaço p 3;6 3 3;6 1 
 2. Bolsa b 3;6 2 3;6 1 
 3. Tesoura t 3;6 2 3;6 5 
 4. Cadeira d 3;6 1 3;6 2 
 5. Galinha k 3;6 3 3;6 1 
 6. Vassoura g 3;6 2 3;6 1 
 7. Cebola f 3;6 2 3;6 2 
 8. Xícara v 3;6 1 3;6 1 
 9. Mesa s 3;6 3 3;6 3 
10. Navio z 3;6 1 3;6 2 
11. Livro ﮐ 3;6 1 3;6 1 
12. Sapo ʒ 3;6 1 3;6 1 
13. Tambor m 3;6 2 3;6 1 
14. Sapato n 3;6 1 3;6 1 
15. Balde η - 0 3;6 1 
16. Faca l 3;6 1 3;6 1 
17, Fogão ג - 0 4;0 1 
18. Peixe ſ - 0 3;6 4 
19. Relógio r 3;6 1 3;6 1 
20. Cama pR 4;0 1 - 0 
21. Anel bR 4;0 1 4;0 0 
22. Milho tR 5;0 1 - 0 
23, Cachorro dR 4;6 0 - 0 
24. Blusa kR 4;0 1 - 0 
25. Garfo gR 4;0 0 - 0 
26. Trator fR 4;6 0 - 0 
27. Prato pL 6;6 1 - 0 
28. Pasta bL 5;6 1 - 0 
29. Dedo kL 4;6 0 - 0 
30. Braço gL 4;0 0 - 0 
31. Girafa fL 4;6 0 - 0 
32. Zebra Arqui/S/ 4;0 1 4;0 1 
33. Planta Arqui/R/ 5;6 1 5;0 2 
34. Cruz Arqui/R/ 5;7 2 5;1 3 
 
LEGENDAS I.D --> Idade de domínio do fonema P.O --> Possibilidade de ocorrência 
 E --> Erros PROD --> Produtividade 
 
 
 
 
Tabela 6. Protocolo de registro imitação 
UFRJ - Faculdade de Medicina - Curso de Fonoaudiologia 
 
ABFW - FONOLOGIA - PROTOCOLO DE REGISTRO (IMITAÇÃO) 
 
Nome: Idade: Data Exame: 
Resultados --> Acerto: Distorção: Omissão: Substituição: 
 
Vocábulos Transcrição Fonemas Inicial Final 
 I.D. P.O E PROD I.D. P.O E PROD
 1. Peteca P 3;6 3 3;6 1 
 2. Bandeja B 3;6 2 3;6 3 
 3. Tigela T 3;6 1 3;6 5 
 4. Doce D 3;6 1 3;6 1 
 5. Cortina K 3;6 3 3;6 6 
 6. Gato G 3;6 1 3;6 2 
 7. Foguete F 3;6 1 3;6 1 
 8. Vinho V 3;6 1 3;6 2 
 9. Selo S 3;6 1 3;6 4 
10. Zero Z 3;6 1 3;6 1 
11. Chuva ﮐ 3;6 1 3;6 1 
12. Jacaré ʒ 3;6 1 3;6 1 
13. Machado M 3;6 1 3;6 2 
14. Nata N 3;6 2 3;6 1 
15. Lama η - 3;6 1 
16. Ônibus L 3;6 1 3;6 2 
17. Prego ג - 0 4;0 1 
18. Café ſ - 0 3;6 3 
19. Alface R 3;6 2 3;6 1 
20. RaposapR 4;0 1 - 0 
21. Borracha bR 4;0 1 4;0 0 
22. Abelha tR 5;0 1 - 0 
23. Carro dR 4;6 1 - 0 
24. Branco kR 4;0 1 - 0 
25. Travessa gR 4;0 1 - 0 
26. Droga fR 4;6 1 - 0 
27. Cravo pL 6;6 1 - 0 
28. Grosso bL 5;6 1 - 0 
29. Fraco kL 4;6 1 - 0 
30. Plástico gL 4;0 1 - 0 
31. Bloco fL 4;6 1 - 0 
32. Clube Arqui/S/ 4;0 2 4;0 2 
33. Globo Arqui/R/ 5;6 1 5;0 1 
34. Flauta 
35. Pastel 
36. Porco LEGENDAS I.D --> Idade de domínio do fonema 
37. Nariz P.O --> Possibilidade de ocorrência 
38. Amor E --> Erros 
39. Roupa 
PROD --
> Produtividade 
 
É feita uma transcrição fonética tradicional através da qual é possível verificar 
o inventário fonético registrando os tipos de ocorrência como omissão [Ø] , 
substituição [k→t], e acerto não se marca nada. Também são registradas as 
 
 
 
distorções, por exemplo [s*], que é quando o indivíduo produz um som que não tem 
no inventário fonético da sua língua. Nesse caso, usa-se um recurso simbólico para 
indicar o tipo de distorção, que nesse caso é o asterisco (*) significando que aquela 
articulação utilizada pela criança não faz parte do inventário fonético da língua, isto 
é, não constitui um dos alofones possíveis para aquele fonema. 
 Para o cálculo do índice de domínio de cada fonema nas posições inicial e 
final de sílaba, é preciso contar o número de acertos de produções do fonema nas 
estruturas consoante-vogal (CV). Os acertos referentes aos encontros consonantais 
são contados a partir da estrutura consoante-consoante-vogal (CCV), na qual são 
observados somente os eventos pertinentes ao grupo consonantal e não a cada 
fonema que o compõe. Por exemplo em [bluza] - [pruza] considera-se apenas 
substituição de encontro consonantal. São considerados como adequados os 
fonemas produzidos com mais de 75% de acerto, porém o teste não menciona a 
referência desse índice. Segundo Lamprecht (2004) para afirmarmos que um 
determinado segmento ou estrutura silábica está ou não adquirido pelas crianças em 
determinada faixa etária, faz-se necessário ter um critério de proporção de acertos 
de produção a partir do qual essa afirmação possa ser feita. Os pesquisadores de 
aquisição fonológica não consideram necessário que ocorra 100% de acertos pelas 
crianças, e em sua maioria adotam a faixa entre 75% e 90% de produção correta, 
também adotada nessa pesquisa. 
 
4.2.2.2 Análise dos Processos Fonológicos 
Na aplicação clínica, a análise dos processos fonológicos deve seguir os 
critérios dados pela autora do teste (ABFW 2004), já que estes processos estão 
divididos em dois grupos: aqueles observados frequentemente durante o 
 
 
 
desenvolvimento e os que não são observados frequentemente. Na tabela 7 
encontram-se as possibilidades de ocorrência dos processos fonológicos no teste 
(ABFW, 2004). Conforme pode ser observado, não há uma distribuição semelhante 
de possibilidade de ocorrência para todos os processos que compõem o teste em 
nenhuma das duas provas (nomeação e imitação). 
 
TABELA 7. POSSIBILIDADES DE OCORRENCIA DOS PROCESSOS 
FONOLÓGICOS (ABFW, 2004) 
 
PROCESSOS FONOLÓGICOS 
 
Prova de Imitação
 
Prova de Nomeação 
1. Redução de sílaba 52 45 
2. Harmonia consonantal 52 45 
3. Plosivação de fricativas 22 23 
4. Posteriorização para velar 13 12 
5. Posteriorização para palatal 7 11 
6. Frontalização de velares 17 9 
7. Frontalização de palatal 6 5 
8. Simplificação de líquida 8 11 
9. Simplificação de encontro 
consonantal 
12 8 
10 .Simplificação de consoante final 7 5 
11. Sonorização de plosivas 29 21 
12. Sonorização de fricativas 13 14 
13. Ensurdecimento de plosivas 17 14 
14. Ensurdecimento de fricativas 9 9 
 
 
 
Um outro aspecto importante no teste é a produtividade de cada processo 
fonológico que pode envolver a realização ou não do segmento. No teste ABFW 
cada processo fonológico pode ocorrer pelo menos 4 vezes, ocorrência potencial . 
Será, portanto, considerado como produtivo se o processo aparecer em mais de 
25% de suas possibilidades de ocorrência, como por exemplo, se a criança 
apresenta 3 ocorrências de frontalização de palatal, isto significa 50% de 
produtividade (este processo é produtivo para esta criança), produtivo nesse caso é 
a incidência de um processo. Para saber se um processo é produtivo é necessário 
consultar a tabela 7. Quando um processo for produtivo deve-se correlacionar este 
dado com a idade prevista para a eliminação do uso produtivo. Caso a idade da 
criança não corresponda à idade prevista no teste (tabela 4), significa que este 
processo não está resolvido para essa criança. Por exemplo, uma criança de 5 anos 
que apresenta uma produtividade de 50% para o processo de redução de silaba 
/sapo/ → [apo] pode ser considerada fora da faixa de normalidade estabelecida pelo 
teste. 
Feita a análise, são preenchidas as fichas de análise fonológica (anexos 5 e 
6), transcrevendo foneticamente cada produção do sujeito e classificando os 
processos utilizados. Em seguida preenche-se o quadro resumo da análise do 
sistema fonológico, onde se coloca o total de processos ocorridos, sua produtividade 
e se está ou não adequado à idade (anexo 5) . 
 
4.2.2. Teste de Vocabulário Receptivo de Peabody (PPVT-III) 
O Teste de Vocabulário Receptivo de Peabody (Dunn & Dunn, 1997) é um 
teste de compreensão que visa quantificar o conhecimento do vocabulário em 
crianças (a partir de 2 anos e meio) e adultos. Este teste ainda não está padronizado 
 
 
 
no Brasil, mas existe uma pesquisa sendo realizada por Capovilla (1997) para 
padronização para o português brasileiro. Este teste é utilizado como referência para 
os trabalhos em lingüística sobre aquisição e população clínica infantil (ver Jarvis et 
al, 2004). 
O teste de vocabulário receptivo consiste de uma série de cartões que 
especificam um total de 244 vocábulos, cada qual contendo 4 gravuras diferentes. 
Para cada cartão, a criança é solicitada a identificar a gravura que melhor representa 
o significado da palavra enunciada pelo examinador. O teste foi administrado 
conforme as instruções especificadas no manual, com as palavras traduzidas para o 
português (ver anexo 6). 
 Inicialmente faz-se um treinamento com a criança através dos itens A e B 
(figura 2) para crianças de 2 a 7 anos, C e D com pessoas a partir de 8 anos. Esses 
itens estão contidos na prancha de testagem. A criança é informada das 4 figuras da 
prancha, por exemplo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. Prancha de treino 
 
 
_ “Temos aqui 4 figuras diferentes. Aponta para mim a Bola”. A criança deve 
apontar a figura correta. Se isso não ocorrer usamos a prancha B (anexo 7), dando 
instrução da mesma natureza. Após o fim do treinamento inicia-se o teste a partir da 
série de Base. Seguem as instruções para definir a Série, item de início do teste, a 
Série de Base, a série do Teto e o Escore Bruto: 
• Regra da Série. Uma vez começado, uma série de itens, sempre administre 
todos os 12 itens na ordem da série, e sempre comece pelo 1º item de cada 
série. 
• Item de Início. Comece testando com o item de início, que é o 1º item da série 
apropriada para idade do Examinando. 
 
 
 
• Regra da Série de Base. É a série em que a criança tem 1 ou nenhum erro feito. 
Primeiro estabeleça a série de base. Se for precisovolte às séries anteriores, até 
que o examinando faça um ou nenhum erro em uma série. 
• Regra da Série de Teto. A série do teto são 8 erros ou mais em uma série. 
• Escore Bruto. É determinado pela subtração do último item do teto pelo total de 
erros na série. 
Estes dados devem ser inseridos na folha de rosto do teste, como mostra a 
figura a seguir. 
Figura 3. Cálculo do Escore (Peabody) 
 
 
 
 
 
 
 Após se obter o valor do escore bruto, iremos à tabela 8 onde se encontra a 
tabela de idades correlacionada com o número de pontos (escore padrão para cada 
idade). Checados os valores iremos confrontar com a idade da criança. Como no 
exemplo a seguir: Criança A, 4 anos e 7 meses 
Item do teto = 96 
Total de erros = 30 
Escore Bruto = 66 pontos equivalente a 5,1 anos 
Escore esperado para 4,7anos = 62 pontos 
Então, conclui-se que a criança A está acima do esperado para sua idade, 
correspondendo à pontuação esperada para uma criança de 5 anos e 1 mês. 
Calculando o Escore Bruto 
Anote o número do Item do Teto, Item do 
Que é o último Item da Série do Teto ________ 
Teto. 
Subtraia deste o número total de erros Total de 
Feito pelo examinando da Série da Erros ________ 
Base até a Série do Teto. Este será 
O Escore Bruto. Escore Bruto ______ 
 
 
 
 
Tabela 8. Peabody – Tabela de Idades 
 
 
IDADE EQUIVALENTE A PONTUAÇÃO 
Ponto
s 
Idade 
Média Pontos 
Idade 
Média Pontos
Idade 
Média Pontos 
Idade 
Média 
0-22 
23 
24 
25 
26 
27 
28 
29 
30 
31 
32 
33 
34 
35 
36 
37 
38 
39 
40 
41 
42 
43 
44 
45 
46 
47 
48 
49 
50 
51 
52 
53 
54 
55 
56 
57 
58 
59 
60 
<1-09 
1-9 
1-10 
1-11 
2-00 
2-01 
2-02 
2-04 
2-05 
2-06 
2-07 
2-08 
2-09 
2-10 
2-11 
3-00 
3-00 
3-01 
3-02 
3-03 
3-04 
3-05 
3-06 
3-07 
3-08 
3-09 
3-10 
3-11 
3-11 
4-00 
4-01 
4-02 
4-03 
4-04 
4-05 
4-05 
4-06 
4-07 
4-08 
61 
62 
63 
64 
65 
66 
67 
68 
69 
70 
71 
72 
73 
74 
75 
76 
77 
78 
79 
80 
81 
82 
83 
84 
85 
86 
87 
88 
89 
90 
91 
92 
93 
94 
95 
96 
97 
98 
99 
4-09 
4-10 
4-10 
411 
5-00 
5-01 
5-02 
5-03 
5-03 
5-04 
5-05 
5-06 
5-07 
5-08 
5-08 
5-09 
5-10 
5-11 
6-00 
6-01 
6-01 
6-02 
6-03 
6-04 
6-05 
6-06 
6-06 
6-07 
6-08 
6-09 
6-10 
6-11 
7-00 
7-01 
7-02 
7-02 
7-03 
7-04 
7-05 
100 
101 
102 
103 
104 
105 
106 
107 
108 
109 
110 
111 
112 
113 
114 
115 
116 
117 
118 
119 
120 
121 
122 
123 
124 
125 
126 
127 
128 
129 
130 
131 
132 
133 
134 
135 
136 
137 
138 
7-06 
7-07 
7-08 
7-09 
7-10 
7-11 
8-00 
8-01 
8-02 
8-03 
8-04 
8-05 
8-06 
8-07 
8-08 
8-09 
8-10 
8-11 
9-00 
9-01 
9-02 
9-03 
9-04 
9-06 
9-07 
9-08 
9-09 
9-11 
10-00 
10-01 
10-03 
10-04 
10-05 
10-06 
10-08 
10-09 
10-11 
11-00 
11-02 
139 
140 
141 
142 
143 
144 
145 
146 
147 
148 
149 
150 
151 
152 
153 
154 
155 
156 
157 
158 
159 
160 
161 
162 
163 
164 
165 
166 
167 
168 
169 
170 
171 
172 
173 
174 
175 
176 
177 
11-04 
11-05 
11-07 
11-09 
11-11 
12-00 
12-02 
12-04 
12-06 
12-08 
12-11 
13-01 
13-03 
13-05 
13-08 
13-10 
14-01 
14-03 
14-06 
14-09 
15-00 
15-03 
15-06 
15-09 
16-01 
16-04 
16-08 
17-00 
17-05 
17-09 
18-02 
18-07 
19-01 
19-09 
20-04 
20-11 
21-10 
22+ 
22+ 
 
 
 
 
 
 
 
4.3. Metodologia de quantificação e análise dos processos do teste 
O foco de interesse da pesquisa está nos 14 processos fonológicos citados, 
correlacionados com os resultados obtidos no Teste de Vocabulário (Peabody). A 
análise realizada separa os processos segundo a proposta da fonologia 
probabilística (Pierrehumbert, 2003, Beckman et al., 2004), ou seja, aqueles 
relacionados à representação mais abstrata dos itens (coarser-grained 
representation) e os relacionados à representação fonética fina (fine-grained 
phonetic representation). Consideramos que os processos a seguir correspondem 
ao nível mais abstrato: redução de silaba, simplificação de líquida, simplificação do 
encontro consonantal e simplificação de consoante final, uma vez que afetam a 
estrutura da palavra em relação ao número de sílabas, à estrutura silábica, número 
de segmentos, tipo de segmentos, etc. É importante ressaltar que optamos por 
excluir das observações a simplificação de consoante final, uma vez que boa parte 
dos itens do teste refere-se à consoante r em posição final de palavra que costuma 
ter um índice razoável de ausência na fala adulta. À representação fonética mais 
detalhada correspondem a harmonia consonantal, plosivação de fricativa, 
posteriorização para velar, posteriorização para palatal, frontalização de velares, 
frontalização de palatal, sonorização de plosivas, sonorização de fricativas, 
ensurdecimento de plosivas e ensurdecimento de fricativas. Estes processos afetam 
a forma sonora da palavra. 
A seguir estão exemplificados os processos do teste com dados obtidos na 
amostra. Os relacionados à representação mais abstrata, isto é, aqueles que alteram 
a estrutura da palavra como redução de sílaba ( peteca → [tεka] ); simplificação de 
líquida ( milho → [miyu] ); simplificação de encontro consonantal ( travessa → 
[tavεsa] ) e simplificação de consoante final ( pasta → [pata] ). Também foram 
 
 
 
observados dados de processos relacionados à representação fonética fina, isto é, 
que alteram a forma sonora da palavra, como harmonia consonantal ( cortina → 
[kokina] ); plosivação de fricativa ( selo → [telu] ); posteriorização para velar ( tambor 
→ [kãbor]3 ), posteriorização para palatal ( sapo → [šapu] ) , frontalização de velares 
( caro → [taru] ); frontalização de palatal ( peixe → [pesi] ); sonorização de plosivas 
(cadeira → [gadera] ); sonorização de fricativas ( faca → [ vaka] ); ensurdecimento 
de plosivas ( galinha → [kaliña] ) e ensurdecimento de fricativas ( jacaré → [šakarε] ). 
 O comportamento das crianças na situação de teste será observado em 
função das discrepâncias ou diferenças entre a forma produzida pela criança e a 
forma alvo. No teste ABFW essas diferenças são definidas como resultantes da 
aplicação de processos fonológicos, que se aplicam em função de aspectos da 
fonologia que são inatos. Tomando a Fonologia de Uso ou Probabilística com 
quadro teórico de referência, essas diferenças são entendidas como atualizações da 
forma das palavras que as crianças vão fazendo à medida que, ao mesmo tempo, 
vão dominando os esquemas motores dos sons da sua língua/dialeto. Por hipótese, 
as estruturas abstratas vão emergindo das formas fonéticas armazenadas no léxico. 
 As diferenças observadas (os processos do teste) foram traduzidas em 
valores percentuais. A percentagem foi obtida em função do total de possibilidades 
de ocorrência de discrepâncias/diferenças em relação ao alvo. Por exemplo, há 12 
possibilidades de simplificação de grupo consonantal no teste de repetição e 8 no de 
nomeação, totalizando 20 casos. O percentual é calculado, então em função do 
número de vezes que a criança não realizou o grupo em 20 chances. 
 A técnica estatística utilizada é a análise de regressão. Análise de regressão 
consiste em explicar uma variável em função de outras. Nesse caso percentual de 
 
3 A representação do arquifonema no teste

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