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Teorias sobre educação Sumário Introdução 1 - Teorias Antiautoritárias 2 - Teorias Crítico-Reprodutivista 3 - Teorias Construtivistas 4 - Teorias Progressistas e Tendências de uma Pedagogia do Século XXI Introdução Olá, prezado estudante! Nesta unidade, vamos analisar quais os principais aspectos das teorias a respeito da educação que mais in�uenciam o pensamento pedagógico dos dias de hoje. Inicialmente, analisaremos as teorias antiautoritárias, buscando compreender de que maneira ela decorre das diversas críticas que aparecem com relação à Escola Tradicional. Nesse aspecto, veremos de que maneira os movimentos emancipatórios e a psicologia in�uenciam essa corrente. AUTORIA Simone da Silva Viana Piterson Balmat Gonçalves Depois disso, estudaremos as principais características das teorias crítico- reprodutivistas e como a sua re�exão a respeito de como a sociedade pressupõe qualquer educação percebe problemas na simples reprodução do ensino para todos. Por �m, vamos analisar o construtivismo e o progressismo. Bons estudos! Teorias Antiautoritárias Após analisarmos uma possível Teoria Geral da Educação, estudando os aspectos metafísicos (que buscavam encontrar uma ética da educação), sociológicos e históricos (principalmente no que se refere à classi�cação das escolas tradicional e nova). Estudaremos as principais teorias constituídas a respeito da educação que se incorporam e realizam modi�cações na dita Teoria Geral, inspiradas em revisões psicológicas, sociológicas e na própria maneira de se elaborar uma escola da pedagogia. É dizer, essas teorias tratam de diversos problemas, localizados no bojo das formas de se pensar a escola, modi�cando, no �m das contas, a própria maneira de se ver a Teoria da Educação. As primeiras das teorias que podem ser citadas, dentro desse contexto, são as antiautoritárias, que surgem a partir das críticas realizadas à escola tradicional e ao seu aspecto autoritário. Com elas, noções como a de disciplina e de verticalização do sistema educacional passaram a ser objeto de re�exão, inclusive no que tange à sua necessidade para a pedagogia. Assim, inspirando-se em ideais de autonomia - que in�uenciam, aliás, em grande medida, a escola nova e diversas outras teorias sobre a educação -, as teorias antiautoritárias passaram a questionar a validade de processos pedagógicos que suprimisse a capacidade do educando em se transformar, livremente e com responsabilidade, para si e para o mundo que o cerca. Essas teorias são largamente inspiradas por pesquisas na área da psicologia, principalmente da psicanálise de Freud e sua crítica às formas de repressão. Como nos aponta Aranha: Embora Freud (1856-1939) não tenha se ocupado com a pedagogia nem possa ser considerado propriamente um teórico antiautoritário, sua análise da formação das neuroses dá elementos para se compreender como a atuação de pais e mestres na educação das crianças pode ser repressora (criando adultos doentes) ou libertadora (educando para a autonomia). (ARANHA, 2006, p. 181) Aliados a essa constatação de conteúdo psicológico, há também diversos movimentos históricos, de cunho revolucionário, que acabam por colocar em xeque a validade das autoridades existentes, visando a um interesse mais igualitário, em que as condições econômicas e culturais sejam realizadas de maneira menos vertical e mais horizontal. A esse exemplo, Aranha (2006, p. 181) cita a in�uência do movimento anarquista - que abomina qualquer relação hierárquica entre os homens - e a sua relação com o movimento socialista-comunista: Contemporâneos de Marx, partilham as mesmas críticas à sociedade capitalista e desejam a abolição da propriedade privada dos meios de produção, mas divergem quanto à forma de implantação da sociedade comunista, pois negam toda forma autoritária de poder. As noções de disciplina e autoridade tomam, assim, novas maneiras de se realizarem, criticando as formas de poder existentes e pleiteando uma relação emancipatória e participativa entre educador e educando. @freepik A repressão passa a ser, dessa maneira, vista como uma forma de conduzir a um estado de doença psíquica, devendo ser substituída, na medida do possível, por processos que gerem autonomia à criança. A ideia é que, com uma educação baseada em estruturas autoritárias, o educando tende a ocultar todas as suas facetas que lhe causam vergonha, sendo nele incutido um sentimento de insu�ciência perante a autoridade que é apresentada. A conclusão a que se chega é de que a postura autoritária do educador, em vez de criar disciplina e respeito, impede, muitas vezes, a compreensão de conteúdos pelo aluno, rompendo o elo que se buscava criar, sendo necessária a criação de novas formas de se realizar a educação. Por isso, essas teorias têm por características principais o fato de que o professor não mais dirige o aprendiz, mas cria meio para que ele possa agir de maneira plena. O conteúdo é muito mais re�exivo do que dogmático, levando todos a um ponto de autonomia. Metodologicamente, não há engessamento dos métodos, mas, sim, abertura de caminhos que levem a conclusões dos próprios estudantes. As formas de avaliação continuam existindo, mas excluindo de seu bojo qualquer elemento que crie disputas ou punições, passando a ser privilegiado o processo de re�exão a respeito do aprendizado, muitas vezes representado pela autoavaliação do educando. Conforme aborda Delors, a partir dessa corrente teórica, o conhecimento passa a ser visto como: Aprender a viver juntos, desenvolvendo o conhecimento acerca dos outros, da sua história, tradições e espiritualidade. E a partir daí, criar um espírito novo que, graças precisamente a esta percepção das nossas crescentes interdependências, graças a uma análise partilhada dos riscos e dos desa�os do futuro, conduza à realização de projetos comuns ou, então, a uma gestão inteligente e apaziguadora dos inevitáveis con�itos, Utopia, pensarão alguns, mas utopia necessária, utopia vital para sair do ciclo perigoso que se alimenta do cinismo e da resignação. (DELORS, 2002, p. 19). Nessa corrente, encontram-se autores como Carl Rogers e sua pedagogia que busca estabelecer uma educação não direcionada, sem conteúdos fechados, levando o educando a compreender a si mesmo, durante o processo educacional, o que deve se estabelecer de maneira concomitante. A ideia central do processo de aprendizagem é a interação entre os alunos, devendo o educador impedir que a relação entre eles se torne autoritária, sem mando e obediência. Alexander Neill, na mesma tendência não diretiva, estabelece uma escola baseada em sistemas de autogestão e compreensão das diversas compulsões vitais de seus alunos, a �m de criar condições para a emancipação. A tendência teórica antiautoritária adquire caráter libertário com Francisco Ferrer, que buscou projetar uma escola baseada na formação política do educando, sendo necessária uma educação de base conceitual, para a formação básica, e uma larga formação política, posteriormente. Há, ainda, as tendências teóricas antiautoritárias que visam criar novas formas de organização social. De�nidas, geralmente, como “institucionais”, essas teorias pensam em criar maneiras de emancipação e igualdade no ambiente escolar, baseando-se, largamente, em métodos fundados na participação e investigação externa. Dentro dela, podem ser destacados Célestin Freinet, Michel Lobrot, dentre outros. No Brasil, José Oiticica foi um dos principais representantes dessa corrente teórica. Figura 1 - Sujeitos da práxis pedagógica Fonte: light�eldstudios / 123RF. SAIBA MAIS Pedagogia - aprender a aprender, por Rubem Alves No vídeo a seguir, Rubem Alves aborda o papel do educador e sua importância na possibilidade de uma educação mais humanizada e re�exiva. É uma oportunidade de compreender os caminhos para uma educação que possibilite uma transformação social. Seu discurso contém diversos elementos das teorias antiautoritárias. Fique por dentro, acessando: https://www.youtube.com/watch?v=RbTPY0uAoXo.Acesso em: 17 ago. 2019. https://www.youtube.com/watch?v=RbTPY0uAoXo Teorias Crítico-Reprodutivistas Com a denominação “crítico-reprodutivista” busca-se fazer menção às teorias que criticam a tendência pedagógica instrumental, que visa reproduzir o conjunto de atividades que regem uma sociedade. Assim, por mais que a escola deva ser um veículo de transformação social, dando a todos os educandos condições de participarem igualmente das atividades, das “carreiras” existentes, as teorias que decorrem dessa crítica chamam a atenção para o fato de que a ideia de reprodução das condições sociais é, na verdade, um entrave à verdadeira emancipação. Isso porque o ponto de partida cultural de diferentes classes sociais e o objetivo a que se visa com essas carreiras impossibilitam, em grande medida, que a reprodução da educação instrumental para todos seja uma forma de eliminar as barreiras sociais. Nesse sentido, autores como Bourdieu, Passeron, Althusser, Baudelot e Establet formulam teorias e alternativas, a �m de superar esses entraves. Bourdieu e Passeron trabalharam, em conjunto, uma crítica à reprodução. Apoiados no estruturalismo, constataram que o uso da linguagem, mesmo dentro de um mesmo sistema linguístico, não é feito de maneira igual, mas obedece a regras sociais preestabelecidas, respondendo às necessidades de manipulação e controle social. Para tanto, lançam mão da noção de violência simbólica, que vem a ser uma forma incorpórea de manipulação, pela perpetuação das estruturas sociais por meio das ideias que a sociedade comunica. Dentro dessas estruturas, encontram-se a capacidade de doutrinação política, religiosa, estética e econômica, que limitam a maneira pela qual a sociedade deve se organizar e se manter. Por esse motivo, a prática pedagógica, mesmo que busque eliminar barreiras sociais, não terá sucesso em sua empreitada, a menos que localize o ponto de controle dos elementos comunicativos existentes. Esses elementos de controle se movem, dentro da sociedade sem qualquer questionamento, uma vez que são elaborados a �m de que todos aceitem suas diretrizes como pressupostos para qualquer ação humana. Contudo, na verdade, eles escondem interesses de determinadas parcelas da sociedade, que se favorecem diretamente com esse discurso, mantendo privilégios. Assim, um sistema pedagógico pensado para dar acesso à formação técnico- instrumental, necessária à estrutura social, gera discrepâncias na forma de aprender, criando um sistema educativo que não funciona, na prática, apenas legitima o estado de desigualdade. Nas palavras de Aranha (2006, p. 189): As crianças das classes desfavorecidas pertencem a outro universo de experiências e expressam-se de maneira diferente. O “falar vulgar” é discriminado em relação ao “falar burguês” a partir de índices como correção, sotaque, tom e facilidade de elocução. É natural que este estudante �que desambientado, perplexo mesmo, diante da descontinuidade entre o ambiente familiar e o escolar. A consequência dessas discrepâncias é o insucesso frequente dos estudantes vindos das classes pobres. A crítica se volta fundamentalmente, portanto, ao fato de que a ideia de participação e universalidade do ensino instrumental, criada pelo sistema burocrático, apenas reproduz as mesmas condições que existem, desestimulando o aprendizado. O questionamento das bases de controle é atividade essencial para uma verdadeira formação educacional. @freepik É essa tendência à reprodução, gerada pela violência simbólica, que legitima a formação técnica em diversas áreas do conhecimento, tornando o educando um pro�ssional capacitado para a atividade - como quando se forma um engenheiro ou um advogado. Como historicamente essas são atividades típicas das classes mais favorecidas, o acesso a essas carreiras é, em grande parte, mantido pelos membros dessas classes, segundo uma educação a que eles têm quase exclusivamente acesso. E ainda que alguém que não participe desses privilégios tenha acesso a essas carreiras, ou não as acessam da mesma maneira - por meio de instituições de ensino de menor capacidade de formação - ou, obtendo sucesso, dão legitimidade ao sistema. Diversos autores, recebendo in�uência das teorias crítico-reprodutivas, buscam pensar em como a pedagogia pode ser reformulada, para uma educação do futuro. Nesse sentido, Delors ressalta que: O século XXI enfrenta, assim, o seu maior desa�o: o da reconstrução das comunidades humanas. Abundam os sinais de impaciência; as sociedades humanas pressentem que uma projeção linear das pesadas tendências do século que se aproxima do seu termo não augura um destino feliz. À massi�cação e ao individualismo que caracterizam a primeira geração de tecnologias da informação e da comunicação, levando ao paroxismo o modelo econômico triunfante, sucede-se, no momento, uma segunda geração tecnológica em que se começa a recuperar a ideia de interação em redes bem como o valor das relações de vizinhança (virtual). A sociedade cognitiva assentada na ética da partilha do conhecimento e em fenômenos de cognição que brotam de relações interpessoais sem fronteiras, que se tornaram possíveis pela globalização do planeta, a�gura-se favorável ao alastramento de valores pós-materialistas (DELORS, 2002, p. 222). Sob essa ótica, recomendamos a leitura de um livro que aborda a pedagogia como uma ciência prática na consolidação de novas implementações para uma efetiva educação crítica. Althusser, por sua vez, critica a forma pela qual o sistema educacional gera aparelhamento ideológico. Ele entende que é a partir da educação que se dividem as condições materiais de produção da sociedade, que cria a separação de classes e as desigualdades sociais, uma vez que o engenheiro só é engenheiro porque foi ensinado, conforme as necessidades da própria sociedade. O ensino acaba sendo a reprodução dessa divisão, para que a ideologia dominante se perpetue. Ao lado do aparelhamento repressivo do Estado, impedindo que formas de direitos, distintas do Direito imposto, se legitimem, o seu aparelhamento ideológico reproduz a legitimidade do próprio sistema, impedindo, pela educação, que se altere o estado de coisas estabelecido. Baudelot e Establet, inspirados na mesma corrente teórica, pensam que não é possível superar as desigualdades, geradas pelo sistema reprodutivista, sem questionar a validade da própria divisão de classes e, a alteração desse estado só poderá ocorrer, de maneira concreta, com o �m da própria divisão entre classes. A seguir, uma re�exão crítica a respeito da educação reprodutivista. REFLITA Re�exão sobre a ação educativa “A ação educativa pretendida em uma proposta, ou em um projeto que visa à humanização do homem, caminha na direção de superação de tudo o que aliena, oprime, marginaliza”. Fonte: Marafon (2001, p. 68). Teorias Construtivistas O objeto das teorias construtivistas se situa, em grande medida, em procurar compreender de que maneira o processo de aprendizagem se realiza. Assim, as teorias construtivistas têm um enfoque mais analítico a respeito da formação do indivíduo, sem deixar de levar em consideração os aspectos externos, com os quais o educando interage e o levam à construção do saber. Nesse sentido, buscam explicar como surgem as diversas etapas do conhecimento, utilizando-se de pesquisas com crianças, concebendo a aprendizagem como processo dinâmico, na relação entre o que a criança recebe e como ela signi�ca o que foi recebido, entre a invenção e a descoberta. Há diversos autores nessa corrente, podendo ser destacados Piaget e Vygostsky. Piaget dedicou sua pesquisa na análise dos processos pelos quais a inteligência humana se constrói. A partir disso, formula sua teoria, destacando fases do desenvolvimento cognitivo, divididos em quatro etapas. Na primeira, que vai, em regra, do nascimento aos dois anos, a criança responde a comandos provocados na sua capacidade motora. Na segunda, que vai dos dois anos aos sete, a criança realiza processos a partir de sua capacidade de intuir a realidade,criando símbolos. Na terceira, que vai dos sete aos quatorze anos, a criança passa a �gurar condições concretas do que apreende, referindo o conhecimento à realidade. Na quarta, que se realiza a partir dos quatorze anos, a inteligência começa a se articular a partir de deduções daquilo que foi percebido, criando capacidade de associações abstratas a partir daquilo que é ensinado (ARANHA, 2006, p. 203). A criança vai, durante esse processo, organizando internamente o conhecimento recebido e adaptando-o, de acordo com as necessidades que se apresentam fora dela. A adaptação se realiza pela capacidade de assimilar e acomodar a realidade. Na explicação de Aranha: A adaptação supõe dois processos interligados, a assimilação e a acomodação. Pela assimilação, a realidade externa é interpretada por meio de algum tipo de signi�cado já existente na organização cognitiva do indivíduo, ao mesmo tempo que a acomodação realiza a alteração desses signi�cados já existentes (ARANHA, 2006, p. 203). Vygotsky, por outro lado, procura analisar a formação da criança a partir dos processos de compreensão da linguagem (ARANHA, 2006, p. 205). Contrário às tendências �siologistas de sua época, que eram, em larga medida, direcionadas à educação. Essas tendências, vale ressaltar, são o fundamento de uma corrente teórica denominada behaviorismo, que tem por pressuposto realizar análise psicológicas a partir dos estímulos que os objetos realizam e as respostas que eles representam nos indivíduos (e também animais). Em linha distinta, ele elabora uma teoria a respeito dos processos de formação psíquica baseado no pressuposto de que o movimento histórico altera as capacidades e as relações dos homens com o seu objeto de conhecimento, assim como na maneira de conhecê-los. A capacidade de desenvolvimento da aprendizagem, dessa maneira, se dá pela condição histórica do ser humano, que traz para dentro de si todos os problemas sociais vividos, assimilando-os conforme as condições em que ele está inserido. Para tanto, estabelece que o processo de compreensão de realidade do homem é intermediado pela sua capacidade de abstrair sistemas simbólicos, que, em última análise, se remete à aptidão do homem em superar di�culdades pela instrumentação da natureza e de apresentar signos - como no processo de soma de grandes quantidades - que superam essas di�culdades iniciais. Ambos são funções simbólicas, sendo a instrumentação uma capacidade de transformar o exterior e o estabelecimento de signos em auxiliares no processo interno de abstração. Esses processos de mediação estão ligados, no entanto, em última análise, à necessidade de abstrair todas as formas de compreensão de realidade, para o desenvolvimento de novas formas de instrumentação. Nas palavras de Aranha: @freepik A passagem de uma fase para a outra ocorre, em larga medida, pela mudança das características psico- biológicas da criança, que passa pela adaptação da inteligência, transformando a capacidade motora em pensamento e em capacidade re�exiva, afetiva, da indiferença para o egoísmo, e daí para a reciprocidade, assim como adaptação da consciência, não conhecendo leis ou controle, compreendendo a existência de controle, construindo, a partir disso, sua própria vontade. Dessa forma, tanto no desenvolvimento da espécie humana quanto em cada indivíduo, o uso desses artifícios externos passa por um processo de internalização. Veja (...) [como] a tentativa frustrada do bebê para pegar um objeto é transformada no gesto intencional de apontar, desde que a mãe perceba e interprete o movimento da criança (ARANHA, 2006, p. 205). É dessa forma que ele associa a faculdade de assimilação com a relação entre pensamento e linguagem, de maneira que, aplicada à realidade, de maneira instrumental, a linguagem retorna ao emissor da mensagem, para constituir processos de generalização do conhecimento transmitido. Essa generalização cria conceitos a partir de dados reais, tendo o seu signi�cado modi�cado conforme as determinações históricas em que o indivíduo a pratica. A relação dialógica, nesse ambiente, adquire um grande grau de importância, pois é nele que se estabelecem, primordialmente, novas formas de signi�cação e generalização do que se aprende. Como ponto de partida para o processo de aprendizagem, Vygotsky compreende, todavia, a necessidade de independência como fator determinante para a formação da criança, justamente porque é na problematização da realidade, que essa criança individualmente vive, que ela desenvolve a sua capacidade de abstração. Apenas quando desenvolvido o conceito é que ele deve ser levado à participação coletiva. De alguma maneira, isso quer dizer que o problema, não a dica, deve ser o primeiro Figura 2 - Autonomia do processo de aprendizagem Fonte: Ella Grynko / 123RF. objeto dado à criança - ao que se denominou zona de desenvolvimento proximal, aproximando o aprendiz do problema posto. Só depois disso que o desenvolvimento potencial - com a assistência de um instrutor - deve ser colocado à disposição. O brinquedo, nesse sistema, adquire grande importância, pois é a relação com os problemas que daí decorrem que o conhecimento se desenvolve. Teorias Progressistas e Tendências de uma Pedagogia do Século XXI Sob a denominação de teorias progressistas se concentram uma série de pesquisas e formulações que têm como denominador comum a crítica ao idealismo da educação - que inspira, grandemente, os projetos da Escola Nova, de servir à escola, como forma de solução dos problemas sociais -, buscando, por outro lado, uma necessária reforma escolar, em busca de um saber mais crítico e emancipatório. Nesse sentido, a educação é o caminho fornecido a todos - destacadamente, pela sua condição social, às classes menos favorecidas - para que possam encontrar, criticamente, novas formas de compreensão de realidade. A educação, por si só, não muda a sociedade, pois, para isso, seria preciso reformar a sociedade e suas estruturas, como um todo, não apenas ensinar uma classe. Conformando-se, assim, com a incapacidade de transformação da sociedade pelo ato de ensinar, a educação é a possibilidade individual de emancipação, de conscientização do educando, dando a ele mapas para projetar a sua própria forma de solução de problemas reais. Dentre os diversos autores que podem ser citados nessa linha teórica, podem ser destacados Paulo Freire e Gramsci, em linha também com posições antiautoritárias, devendo ser traçados alguns comentários a respeito de Snyders, a quem é atribuído o fato de ter usado, pela primeira vez, a expressão pedagogia progressista. Snyders, partindo de um pressuposto dialético - de que o conhecimento se processa em teses e antíteses, que, absorvidas em uma síntese, é a base para uma nova tese, que faz decorrer nova antítese etc. - compreende que a atenção do processo educacional deve se preocupar, primordialmente, com os conteúdos que são trabalhados. Dessa maneira, o processo de inserção do aluno na realidade cultural que o cerca se torna o ponto-chave, independentemente de eventual apropriação daquele sistema pela classe dominante, para que se crie um ambiente onde se possa trabalhar as diferenças e diminuir barreiras. São os problemas reais, as diferenças dos educandos frente às suas desigualdades, que criam condições de transformação da noção que ele tem da realidade. Agora, vamos tratar a respeito das tendências, dentro das teorias apresentadas, para uma educação do século XXI, representadas na �gura a seguir. Figura 3 - Desa�os da sociedade Desafios da Sociedade: Tecnologia Informação Educação força motor Fonte: elaborado pelo autor A práxis pedagógica debatida e estudada atualmente é aquela que objetiva a humanização dos homens. Muitos estabelecimentos de ensino e propostas educacionais buscam viabilizar caminhos e metodologias que oportunizem a compreensão do processo histórico e, desse modo, possibilitem, de fato, uma transformação da realidade. A prática pedagógica decorre da humanização do homem, possibilitando,aos educandos, experimentar e transformar o mundo. Nas palavras de Marafon: Mesmo com todos os desa�os da sociedade da informação, tecnológica e muitas vezes alienada a qual estamos inseridos, a educação é uma das forças motoras para o desenvolvimento de uma nação dentre outras forças que contribui para um pensamento reversível e re�exivo da sociedade, porém a educação sozinha não pode ser responsável pela superação da exclusão social ou das injustiças do mundo, é necessário iniciativas e políticas públicas e�cazes para o alcance de uma transformação social. Na educação a ação tem uma intencionalidade e se processa na inter- relação de sujeitos concretos, seres históricos. Há aí uma relação recíproca mediatizada pelo conhecimento do mundo. Tomando como pressuposto que o conhecimento parte da realidade em que os educandos e o educador se encontram, temos que os movimentos ou ações desses sujeitos constituem a categoria básica para o processo de conhecer. O conhecimento, processo do pensamento e no pensamento, parte do real dado, passa por abstrações e volta ao concreto numa totalidade de relações diversas e de determinações (MARAFON, 2001, p. 68). As mudanças na sociedade e também no sistema educativo não ocorrem sem con�itos. Sem dúvidas, as mudanças na sociedade, movidas pelo próprio avanço da tecnologia e do sistema capitalista, possibilitam dialogar e repensar qual educação queremos para o presente e para o futuro. Assistimos a mudanças no mundo do trabalho, nas relações sociais e culturais, na política e na economia, que in�uenciam diretamente a relação educador e educando, na práxis pedagógica. O discurso de liberdade e transformação social se torna preponderante na perspectiva educacional do século XXI. Surge a necessidade de se buscar um conhecimento dinâmico – ou saber fazer e saber ser –, que possibilite a oportunidade de ressigni�cação do homem, face a um esvaziamento do indivíduo enquanto sujeito de sua própria história. Nas palavras de Sacristán e Gómez: Em educação é mais importante - se cabe esta consideração, já que é o objetivo de toda prática educativa - provocar a reconstrução do conhecimento empírico do aluno/a, e isso não pode ser entendido nem se desenvolver sem respeito pela diversidade, pelas diferenças individuais que determinam o sentido, o ritmo e a qualidade de cada um dos processos de aprendizagem e desenvolvimento. A reconstrução do pensamento e da ação de cada aluno/a exige a atividade individual no contexto das interações na aula. Portanto, o conhecimento que se requer para orientar esse processo singular se cria, em parte, no sentido do próprio processo de reconstrução que não se repete (SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998, p. 105). No século XXI, veri�ca-se uma urgência na busca por sujeitos autônomos para atenderem à demanda do mercado capitalista na produção do saber, transformando as dimensões do pensar e da práxis pedagógica e, ao mesmo tempo, valorizando a educação colaborativa, re�exiva e crítica. Livro Web
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