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www.dizerodireito.com.br
Série Retrospectiva
Márcio André Lopes Cavalvante
10 Principais julgados de
DIREITO PENAL 2019
1. Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como personalidade ou 
conduta social desfavorável
Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a 
reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes 
criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta 
social do agente.
A conduta social e a personalidade do agente não se confundem com os antecedentes criminais, por-
quanto gozam de contornos próprios - referem-se ao modo de ser e agir do autor do delito -, os quais 
não podem ser deduzidos, de forma automática, da folha de antecedentes criminais do réu. Trata-se 
da atuação do réu na comunidade, no contexto familiar, no trabalho, na vizinhança (conduta social), 
do seu temperamento e das características do seu caráter, aos quais se agregam fatores hereditários 
e socioambientais, moldados pelas experiências vividas pelo agente (personalidade social).
Já a circunstância judicial dos antecedentes se presta eminentemente à análise da folha criminal do 
réu, momento em que eventual histórico de múltiplas condenações definitivas pode, a critério do 
julgador, ser valorado de forma mais enfática, o que, por si só, já demonstra a desnecessidade de se 
valorar negativamente outras condenações definitivas nos vetores personalidade e conduta social.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 1.311.636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/04/2019 
(Info 647).
2. O pagamento do débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não 
é causa de extinção da punibilidade
No caso de furto de energia elétrica mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebi-
mento da denúncia não extingue a punibilidade.
O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado ao inadimplemento tribu-
tário, de modo que o pagamento do débito antes do recebimento da denúncia não configura causa 
extintiva de punibilidade, mas causa de redução de pena relativa ao arrependimento posterior (art. 
16 do CP). Isso porque nos crimes contra a ordem tributária, o legislador (Leis nº 9.249/1995 e nº 
10.684/2003), ao consagrar a possibilidade da extinção da punibilidade pelo pagamento do débito, 
adota política que visa a garantir a higidez do patrimônio público, somente. A sanção penal é invoca-
da pela norma tributária como forma de fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal. 
Já nos crimes patrimoniais, como o furto de energia elétrica, existe previsão legal específica de causa 
de diminuição da pena para os casos de pagamento da “dívida” antes do recebimento da denúncia. 
Em tais hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que 
em nada afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena. 
Outrossim, a jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela 
prestação de serviço público, no caso de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessio-
nária, é de tarifa ou preço público, não possuindo caráter tributário. Não há como se atribuir o efeito 
pretendido aos diversos institutos legais, considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/1995 
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e no art. 9º da Lei nº 10.684/2003 fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contri-
buições sociais, não dizendo respeito às tarifas ou preços públicos.
STJ. 3ª Seção. RHC 101.299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 
13/03/2019 (Info 645).
3. O crime de assédio sexual pode ser caracterizado entre professor e aluno
O crime de assédio sexual (art. 216-A do CP) é geralmente associado à superioridade hierárquica em 
relações de emprego, no entanto pode também ser caracterizado no caso de constrangimento come-
tido por professores contra alunos.
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevale-
cendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de 
emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Caso concreto: o réu, ao conversar com uma aluna adolescente em sala de aula sobre suas notas, teria 
afirmado que ela precisava de dois pontos para alcançar a média necessária e, nesse momento, teria 
se aproximado dela e tocado sua barriga e seus seios.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.759.135/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. p/ Acórdão Min. Rogerio Schietti 
Cruz, julgado em 13/08/2019 (Info 658). 
4. É necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a humanidade tra-
zida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado
A definição dos crimes de lesa-humanidade, também chamados de crimes contra a humanidade, 
pode ser encontrada no Estatuto de Roma, promulgado no Brasil por força do Decreto nº 4.388/2002.
No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a humanidade. Diante da ausên-
cia de lei interna tipificando os crimes contra a humanidade, não é possível utilizar tipo penal descrito 
em tratado internacional para tipificar condutas internamente, sob pena de se violar o princípio da 
legalidade (art. 5º, XXXIX, da CF/88). 
Dessa maneira, não se mostra possível internalizar a tipificação do crime contra a humanidade trazida 
pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do Decreto n. 4.388, 
porquanto não há lei em sentido formal tipificando referida conduta. 
STJ. 3ª Seção. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/09/2019 (Info 
659).
5. A Lei nº 7.716/89 pode ser aplicada para punir as condutas homofóbicas e transfóbicas 
1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados 
de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas 
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou 
à identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em 
sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos 
primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese 
de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 
121, § 2º, I, “in fine”); 
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da 
liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e minis-
tros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das reli-
giões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela 
palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções 
de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo 
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sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos 
de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação 
individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendi-
das aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas 
em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero; 
3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos 
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestaçãode poder, de uma cons-
trução de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao 
controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignida-
de e da humanidade daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem 
ao estamento que detém posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados 
estranhos e diferentes, degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em 
consequência de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação 
de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 
em 13/6/2019 (Info 944).
6. Depois da Lei 13.497/2017, tanto o caput como o parágrafo único do art. 16 da Lei 10.826/2003 
são hediondos
A qualificação de hediondez aos crimes do art. 16 da Lei nº 10.826/2003, inserida pela Lei nº 
13.497/2017, abrange os tipos do caput e as condutas equiparadas previstas no seu parágrafo único.
STJ. 6ª Turma. HC 526.916-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 01/10/2019 (Info 657).
7. O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobra-
do do adquirente da mercadoria ou serviço comete o crime do art. art. 2º, II, da Lei 8.137/90
O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobra-
do do adquirente da mercadoria ou serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90.
O valor do ICMS cobrado do consumidor não integra o patrimônio do comerciante, o qual é mero 
depositário desse ingresso de caixa que, depois de devidamente compensado, deve ser recolhido 
aos cofres públicos. 
Vale ressaltar, contudo, que, para caracterizar o delito, é preciso comprovar a existência de intenção 
de praticar o ilícito (dolo).
STF. RHC 163334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019.
8. A medida de afastamento do local de trabalho, prevista no art. 9º, § 2º, da Lei é de competência do 
Juiz da Vara de Violência Doméstica, sendo caso de interrupção do contrato de trabalho, devendo a 
empresa arcar com os 15 primeiros dias e o INSS com o restante
O art. 9º, § 2º da Lei Maria da Penha prevê que:
O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integri-
dade física e psicológica, manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do 
local de trabalho, por até seis meses.
A competência para determinar essa medida é do Juiz da Vara de Violência Doméstica ou do Juiz do 
Trabalho?
Juiz da Vara de Violência Doméstica. O juiz da vara especializada em Violência Doméstica (ou, caso 
não haja na localidade, o juízo criminal) tem competência para apreciar pedido de imposição de 
medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista, por até seis meses, em razão de afastamen-
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to do trabalho de ofendida decorrente de violência doméstica e familiar. Isso porque o motivo do 
afastamento não advém da relação de trabalho, mas sim da situação emergencial que visa garantir a 
integridade física, psicológica e patrimonial da mulher.
Qual é a natureza jurídica desse afastamento? Sobre quem recai o ônus do pagamento?
A natureza jurídica do afastamento por até seis meses em razão de violência doméstica e familiar é 
de interrupção do contrato de trabalho, incidindo, analogicamente, o auxílio-doença, devendo a em-
presa se responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias, ficando o restante do período a 
cargo do INSS.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.757.775-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info 655).
9. A reconciliação entre a vítima e o agressor, no âmbito da violência doméstica e familiar contra a 
mulher, não é fundamento suficiente para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo para repa-
ração dos danos causados pela infração penal
A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente para afastar a ne-
cessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso IV, do CPP, seja porque não há pre-
visão legal nesse sentido, seja porque compete à própria vítima decidir se irá promover a execução 
ou não do título executivo, sendo vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação 
processual penal que determina a fixação do valor mínimo em favor da ofendida.
CPP/Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (...) IV - fixará valor mínimo para reparação dos 
danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
STJ. 6ª Turma. REsp 1.819.504-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/09/2019 (Info 657).
10. Crime de embaraçar investigação previsto na Lei do Crime Organizado não é restrito à fase do 
inquérito
A Lei das organizações criminosas (Lei nº 12.850/2013) prevê o seguinte crime:
Art. 2º (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investi-
gação de infração penal que envolva organização criminosa.
Quando o art. 2º, § 1º fala em “investigação” ele está se limitando à fase pré-processual ou abrange 
também a ação penal? Se o agente embaraça o processo penal, ele também comete este delito?
SIM. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.850/2013 limita-se à 
fase do inquérito não foi aceita pelo STJ. Isso porque as investigações se prolongam durante toda a 
persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal deflagrada pelo rece-
bimento da denúncia. 
Assim, como o legislador não inseriu uma expressão estrita como “inquérito policial”, compreende-se 
ter conferido à investigação de infração penal o sentido de “persecução penal”, até porque carece de 
razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do que a obstrução 
da ação penal.
Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no âmbito policial possuem o contraditório diferi-
do, de tal sorte que não é possível tratar inquérito e ação penal como dois momentos absolutamente 
independentes da persecução penal.
O tipo penal previsto pelo art. 2º, §1º, da Lei nº 12.850/2013 define conduta delituosa que abrange o 
inquérito policial e a ação penal.
STJ. 5ª Turma. HC 487.962-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019 (Info 650).

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