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APOSTAS MPSP FINAL 3 (1)

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TEMAS 
RELEVANTES
MPSP
2019
2 
 
SUMÁRIO 
 
Tema 02 - TAC em improbidade administrativa..........................................................................8 
Tema 03 - Acordo de não persecução penal - discussão sobre a (in)constitucionalidade...........10 
Tema 04 - Fornecimento de Medicamentos: decisões do STF e STJ.......................................14 
Tema 05 - Prejuízo/elemento subjetivo crimes e improbidade da lei de licitações.....................16 
Tema 06 - Alterações crimes sexuais.........................................................................................18 
Tema 07 - STJ e as hipóteses de cabimento de agravo de instrumento.......................................33 
Tema 08 - Alterações crimes contra o patrimônio (inconstitucionalidade)................................35 
Tema 09 - Quebra de sigilo e autorização judicial (Decisão STF)..............................................37 
Tema 10 - danos morais coletivos X danos sociais....................................................................40 
Tema 11 - Delação premiada na lei de lavagem de capitais (distinção com a colaboração)........43 
Tema 12 - Improbidade administrativa em matéria ambiental...................................................47 
Tema 13 - Arrependimento Posterior e a súmula 554 STF (crítica da examinadora)..................50 
Tema 14 - Decisões Manipulativas............................................................................................54 
Tema 15 - Acordo de não persecução penal...............................................................................56 
Tema 16 - Delitos sexuais - Novidades Legislativas..................................................................58 
Tema 17 - Prescrição da ação de ressarcimento de improbidade................................................60 
Tema 18 - Controle convencionalidade e precedentes STF e STJ..............................................62 
Tema 19 - Litígios estruturais e processo estrutural...................................................................64 
Tema 20 - Abstrativização do bem jurídico penal......................................................................66 
Tema 21 - Garantismo Hiperbólico Monocular.........................................................................71 
Tema 22 - Possibilidade ou Não de Sursis Processual no Homicídio Culposo do CTB..............74 
Tema 23 - Teoria do domínio do fato e sua aplicação no CP......................................................76 
Tema 24 – Funcionalismo teleológico X Funcionalismo sistêmico...........................................79 
Tema 25 - Progressão de regime de grávidas e alterações legislativas na LEP...........................80 
3 
 
Tema 26 - Crimes cibernéticos..................................................................................................82 
Tema 27 - Sigilo bancário e fiscal..............................................................................................84 
Tema 28- Similaridades e distinções tratamento jurídico do casamento e união estável............86 
Tema 30 - Teoria do Desvio Produtivo......................................................................................91 
Tema 31 - Abstrativização do controle difuso de constitucionalidade.......................................94 
Tema 32 - Controle de convencionalidade.................................................................................95 
Tema 33 - Valoração paralela na esfera do profano...................................................................97 
Tema 34 – Execução provisória da pena após condenação pelo tribunal do júri........................98 
Tema 35 - Remessa necessária em ações coletivas..................................................................100 
Tema 36 - Danos sociais vs danos morais................................................................................101 
Tema 37 - Teoria da perda do tempo útil..................................................................................103 
Tema 38 - Overbreadth Doctrine e a tipificação de atos de improbidade administrativa pela Lei 
n. 8.429/92...............................................................................................................................105 
Tema 39 - Lei de Anistia. STF x Corte Interamericana............................................................106 
Tema 40 - Cabimento do Agravo de Instrumento segundo o STJ.............................................107 
Tema 41 - Relação de causalidade. Teorias e classificações....................................................110 
Tema 42 - Colaboração premiada x acordo de colaboração premiada. Há direito subjetivo?...111 
Tema 43 - Oportunidade regrada na ação penal pública...........................................................113 
Tema 44 - Procedimento probatório crimes organizados.........................................................115 
Tema 45 - Natureza jurídica da legitimidade das associações nas ações coletivas...................121 
Tema 46 - Aborto e a decisão do STF sobre a interrupção da gravidez no terceiro mês de 
gestação...................................................................................................................................123 
Tema 47 - Possibilidade de celebração de TAC nas ações de improbidade administrativa......125 
Tema 48 - IRDR x IAC............................................................................................................127 
Tema 49- Fenômeno da espiritualização de bens jurídicos......................................................130 
Tema 50 - Neoconstitucionalismo latino-americano...............................................................132 
Tema 51 - Terrorismo doméstico (o que é e qual a justiça competente para julgar o delito?)...138 
4 
 
 
 
Tema 52- Diálogos Institucionais............................................................................................144 
Tema 53 - Negócio Jurídico Processual como instrumento de Controle de Políticas Públicas.146 
Tema 54 - Casamento entre pessoas menores de 16 anos: nulidade ou anulabilidade?............148 
Tema 55 - Possibilidade concessão de tutela provisória de ofício............................................152 
Tema 56 - Pronúncia e princípio do in dubio pro societate.......................................................153 
Tema 58 - STJ e RESE. Hipóteses não previstas no texto da Lei..............................................154 
Tema 59 - Controle de convencionalidade realizado pelo membro do MP..............................156 
Tema 60 - Teoria dos elementos negativos do tipo..................................................................158 
Tema 61 - Exceções ao princípio da obrigatoriedade da ação penal no ordenamento jurídico 
brasileiro..................................................................................................................................160 
Tema 62 - MP, processo civil. Sua atuação na defesa dos interesses do incapaz......................162 
Tema 63 - Diferencie descriminantes putativas por erro de tipo e por erro de proibição..........164 
Tema 64 - Vias do direito penal...............................................................................................171 
Tema 65 - Justiça penal negocial.............................................................................................172 
Tema 66 - Cabimento de mandado de segurança coletivo impetrado por Promotor de Justiça.174 
Tema 67 - Discricionariedade do oferecimento de acordo de colaboração premiada pelo MP e 
efeitos de eventual discordância do juiz...................................................................................176 
Tema 68 - Liquidação, espiritualização/materialização do Direito Penal................................178 
Tema 69 - Troca de informações entre COAF e o Ministério Público......................................180Tema 70 - Direito penal do inimigo e organizações criminosas...............................................188 
Tema 71 - Investigação Criminal Defensiva no Ordenamento Brasileiro................................192 
Tema 72 - Foro por prerrogativa de função e suas decorrências, envolvendo inclusive a ACP 
por ato de improbidade administrativa contra autoridades.......................................................195 
Tema 73 - Julgamento de casos repetitivos: sistemas da causa-piloto e da causa-modelo........198 
5 
 
Tema 74 - Contraditório Substancial e a (des)necessidade de prévia intimação das partes em 
caso de emendatio libelli..........................................................................................................200 
Tema 75- coisa julgada na ação de improbidade administrativa..............................................202 
Tema 76 - Furto com explosão que não cause perigo comum – capitular.................................203 
Tema 77 – Processo coletivo passivo.......................................................................................205 
Tema 78 - Legitimidade ativa nas ações coletivas (ordinária, extraordinária, sui generis, 
representação, substituição).....................................................................................................208 
Tema 79 - Teorias para os efeitos da decisão judicial em MI...................................................212 
Tema 80 - Litígio estratégico...................................................................................................215 
Tema 81 - Fossilização da CF por Carisia................................................................................217 
Tema 81 - Fossilização da CF por Yo......................................................................................218 
Tema 82 - Duplo juízo de validade de uma mesma prova........................................................221 
Tema 83 - Ação de improbidade ambiental e aplicação da lei anticorrupção em matéria 
ambiental.................................................................................................................................223 
Tema 84 - As cinco hipóteses (legal e jurisprudencial) de atipicidade do aborto......................224 
Tema 85 - Accountability horizontal e vertical na administração pública................................226 
Tema 86 - Administração policêntrica e Corrupção e Transparência.......................................227 
Tema 87 - População em situação de rua.................................................................................229 
Tema 89 – PAD (súmula e jurisprudência em tese do STJ)......................................................231 
Tema 91 - Princípio da boa-fé (funções Supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli e venire 
contra factum proprium...........................................................................................................235 
Tema 92 - Responsabilidade civil: danos indiretos/perda de uma chance................................240 
Tema 93 - HC coletivo - STF: grávidas....................................................................................242 
Tema 94 - Direitos sociais como cláusula pétrea.....................................................................244 
Tema 95 - Obrigatoriedade regrada no JECRIM......................................................................246 
Tema 96 - Princípio republicano..............................................................................................247 
Tema 97 - Legitimidade do MP para execução de multa (análise jurídica da alteração)...........249 
6 
 
Tema 98- Direito ao esquecimento..........................................................................................251 
Tema 100 - Controle externo da atividade policial pelo MP....................................................257 
Tema 101 - Direito de Intervenção...........................................................................................259 
Tema 102 - Prova Ilícita e ilegítima do Processo Penal............................................................260 
Tema 103 – Serendipidade......................................................................................................261 
Tema 104 – Regra da Corroboração na Colaboração...............................................................262 
Tema 105 - Colaboração Premiada Cruzada............................................................................263 
Tema 106 - Fluid recovery nas ações coletivas........................................................................264 
Tema 107 - (In) aplicabilidade da Lei Maria da Penha a pessoas transexuais...........................265 
Tema 108 - Autocomposição em ação de improbidade administrativa....................................267 
Tema 109 - Natureza jurídica do vício da falta de intervenção obrigatória do MP e possibilidade 
de reconhecimento de ofício pelo juiz......................................................................................269 
Tema 110 - Emenda constitucional 96/2017- Efeito Backlash.................................................271 
Tema 111 - Inaplicabilidade da SV 56 aos presos provisórios.................................................273 
Tema 112 - Sistema penitenciário x Estado de coisas inconstitucionais..................................274 
Tema 113 - Ministério Público e despesas processuais: CPC/2015 x Ações Coletivas............275 
Tema 114 - Conflito federativo e conflito entre entes federados..............................................276 
Tema 115 - Coculpabilidade às avessas...................................................................................277 
Tema 116 - Judicial deference no direito administrativo brasileiro..........................................278 
Tema 117 - Evolução patrimonial desproporcional do agente público - inversão do ônus da 
prova........................................................................................................................................280 
Tema 118 - Controle de evidência das leis penais....................................................................283 
Tema 119 - Litígios coletivos de difusão global, local e irradiada. Classificação de Edilson 
Vitorelli...................................................................................................................................285 
Tema 121 - Cadeia de custódia e a produção probatória..........................................................287 
Tema 123 - Eficácia dos direitos fundamentais. Eficácia horizontal, vertical, transversal e 
irradiada..................................................................................................................................289 
7 
 
Tema 124 - Decisão STF pela criminalização da homofobia x princípio da legalidade penal..291 
Tema 125 - Lei anticorrupção e atuação do MP.......................................................................309 
Tema 126 - Decisões estruturais no processo civil brasileiro...................................................311 
Tema 127 - Controvérsia envolvendo a possibilidade de ação coletiva passiva.......................317 
Tema 128 - Crimes preterdolosos e a teoria da versari in re illicita..........................................319 
Tema 129 - Fases e gerações da lavagem.................................................................................320 
Tema 130 - Teoria crítica do direito e atuação do Ministério Público......................................321 
Tema 131 - Esterilização compulsória.....................................................................................323 
Tema 132 - Teorias sobre júri - sistema brasileiro análise das medidas cabíveis ao MP...........325 
Tema 133 - Mandado de injunção e teorias de concretização...................................................337 
Tema 134 - Legitimidade Ativa MP para ação deestupro - alterações legislativas e 
jurisprudenciais.......................................................................................................................339 
Tema 135 - Conexão, continência e litispendência nas ações coletivas - suspensão de ofício (ou 
não) das ações individuais.......................................................................................................346 
Tema 136 – Crimes cometido no exterior e competência da Justiça Estadual..........................347 
Tema 137 – “Failing Firm Theory”..........................................................................................348 
Tema 138 – Derrotabilidade (“Defeseability”) e sua aplicação no Brasil................................350 
Tema 139 – Reexame necessário invertido improbidade administrativa.................................352 
Tema 140 – Inversão do ônus da prova e ação de improbidade administrativa........................354 
Tema 141 – Doutrina Chenery e o controle judicial de atos da Administração Pública............356 
 
 
 
 
 
8 
 
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA EM AÇÕES DE IMPROBIDADE 
ADMINISTRATIVA (Bárbara Scarpelli) 
 
Nos termos do art. 17, §1º da LIA, é vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações 
civis de improbidade administrativa. Deve-se interpretar tal dispositivo no sentido de que não 
se admitirá nenhum tipo de ajuste que importe em renúncia aos bens jurídicos tutelados 
pela LIA. 
Nada impede, contudo, que o ressarcimento do dano e a perda da vantagem ilícita sejam 
objeto de acordo. Impedir a autocomposição na dimensão ressarcitória da LIA criaria 
desnecessário embaraço à efetiva tutela do patrimônio público. Não há óbice, portanto, à 
celebração de ajuste quanto às condições, ao prazo e ao modo de reparação do dano ao erário 
ou mesmo quanto à perda da vantagem ilicitamente obtida pelo agente (Emerson Garcia, 
Adriano Andrade, Cleber Masson e Landolfo Andrade). 
A maior polêmica consiste na possibilidade de autocomposição na dimensão punitiva 
da LIA. Há corrente que não admite nenhuma espécie de acordo no tocante à aplicação das 
sanções político-administrativas do art. 12 da LIA ao argumento da natureza indisponível dos 
bens tutelados e da impossibilidade do legitimado ativo escolher, dentre as sanções legais, 
aquela que entenda mais razoável, uma vez que essa escolha cabe ao juiz. 
Já a segunda corrente (Didier, Masson...) admite o acordo inclusive na dimensão 
punitiva da LIA. Segundo essa corrente, a solução consensual para os conflitos na esfera de 
improbidade administrativa não importa disposição sobre os interesses difusos (renúncia), 
versará sobre a respectiva concretização e resultará, sempre, num negócio jurídico marcado 
pela nota da indisponibilidade dos direitos pelos legitimados coletivos, e não uma 
transação. Assim, as concessões do legitimado coletivo na dimensão punitiva da LIA não 
versarão sobre o conteúdo dos interesses tutelados, mas sim sobre as condições em que se dará 
a implementação da probidade administrativa, podendo, com elas, contemplar vários 
interesses legítimos do apontado responsável, tais como a programação financeira, celeridade 
e equacionamento da controvérsia e valorização de sua imagem pública. Alguns juristas 
apontam que a Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção Empresarial), ao admitir o acordo de 
leniência, derrogou tacitamente o art. 17, §1º da LIA (MPF já emitiu a nota técnica 1/2017 e a 
orientação 7/2017 com esse entendimento). 
9 
 
A Resolução nº 179/2017 do CNMP autorizou expressamente a celebração de 
compromissos de ajustamento de conduta na esfera de improbidade administrativa, tendo sido 
seguida pelo MPPR e MPMG. Ocorre que, para aqueles que defendem a aplicação literal do 
art. 17, §1º da LIA, interpretam a Resolução do CNMP no sentido de que ela admite a 
celebração de TAC pelo MP no bojo de Inquéritos Civis, ou seja, ANTES de ajuizada a ação 
de improbidade. 
Não há regulamentação do MPSP sobre o assunto. 
O examinador Sérgio Turra Sobrane (Subprocurador-Geral de Justiça Jurídico à época), 
em razão de estudos com a finalidade de encaminhamento de propostas acerca da nova lei de 
ação civil pública, sugeriu a alteração da lei nos seguintes termos: 
“§ No âmbito do inquérito civil para a apuração de ato de improbidade administrativa, 
o Ministério Público poderá fazer proposta de transação ao investigado, desde que envolva a 
reparação integral do dano ou a restituição total do produto do enriquecimento ilícito, além 
do pagamento de multa civil. A proposta poderá também contemplar a abstenção de 
contratação com o Poder Público ou de recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou 
creditícios, direta ou indiretamente, por prazo determinado. 
§ Será vedada a transação se anteriormente o demandado dela se beneficiou” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL E SUA CONSTITUCIONALIDADE1 
(Rodrigo Denis) 
 
Mateus foi preso em flagrante por ter praticado o crime de embriaguez ao volante (artigo 
306 do Código de Trânsito Brasileiro). Ele confessou à autoridade policial a ingestão de bebida 
alcoólica momentos antes de assumir a condução de seu veículo. Como é primário e para evitar 
os dissabores do processo, afirmou desejar, desde já, submeter-se ao cumprimento das penas 
restritivas de direito de prestação pecuniária e prestação de serviço à comunidade. Foi, então, 
encaminhado ao promotor de Justiça. Comparecendo à Promotoria no dia seguinte, assistido 
por advogado, celebrou acordo para não ser processado e cumprir imediatamente as sanções 
penais. 
Embora inexista lei que regulamente a feitura desse acordo, desde 7 de agosto de 
2017 essa solução consensual é possível e já vem ocorrendo2, com fundamento na 
Resolução 181/07 do Conselho Nacional do Ministério Público. 
O ordenamento jurídico brasileiro já está familiarizado com institutos de Justiça penal 
consensual como a transação penal, para delitos de pequeno potencial ofensivo, e colaboração 
premiada, para crimes graves que podem envolver organizações criminosas. No entanto, faltava 
um instituto consensual para crimes de médio potencial ofensivo. Essa lacuna foi suprida com 
o acordo de não persecução penal (ANPP); mas, pela primeira vez, o substrato normativo para 
a celebração do ajuste é um ato normativo infralegal. 
O artigo 18 da resolução estabelece que, não sendo o caso de arquivamento, o 
Ministério Público poderá propor ao investigado acordo de não persecução penal quando, 
cominada pena mínima inferior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou 
grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a sua 
prática, além de assumir o compromisso de: reparar o dano à vitima, pagar prestação pecuniária, 
 
1 Matéria extraída do site: https://www.conjur.com.br/2018-nov-30/hermes-morais-acordo-nao-
persecucao-penal-constitucional 
 
2 No estado de São Paulo, o procurador-geral de Justiça já se manifestou em sede de revisão de decisão 
de juiz que não homologara o acordo (artigo 28 do CPP) afirmando sua legalidade, validando assim, 
no âmbito institucional do MP-SP, a sua aplicação dentro dos contornos estabelecidos pelo CNMP. 
 
https://www.conjur.com.br/2018-nov-30/hermes-morais-acordo-nao-persecucao-penal-constitucional
https://www.conjur.com.br/2018-nov-30/hermes-morais-acordo-nao-persecucao-penal-constitucional
11 
 
cumprir prestação de serviço ou cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, 
desde que proporcional e compatível com a infração penal aparentemente praticada. 
Para parcela da doutrina, a ANPP é formalmente constitucional por não dispor sobre 
Direito Penal e Processo Penal, matérias que demandam lei em sentido formal oriunda da União 
nos termos do artigo 22, I, da Constituição da República. Ao invés, tratar-se-ia de matéria de 
política criminal, o que tornaria legítima a normatização realizada pelo CNMP.Exsurgem desse raciocínio dois problemas. Primeiro, considerar que a decisão do 
investigado em não se submeter ao processo criminal e cumprir imediatamente sanção 
penal trate-se apenas de uma questão de política criminal é um argumento frágil. 
Se por um lado a utilização do acordo pode vir a ser, se bem utilizado, instrumento de 
política criminal, seu conteúdo, isto é, o objeto sobre o qual as partes transacionam (pena 
imediata sem processo), é evidentemente processual penal. Outro equívoco é supor que a 
existência de eficácia normativa primária das resoluções do CNMP, reconhecida pelo Supremo 
Tribunal Federal no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade 123, permita que 
o órgão regulamente qualquer matéria uma vez que, inquestionavelmente, não se encontra entre 
as atribuições do CNMP estampadas no artigo 130-A, parágrafo 2º, da CF/88 normatizar sobre 
política criminal. 
Por outro lado, não se verifica ofensa ao princípio da obrigatoriedade da ação penal. 
Ao contrário da Constituição italiana (artigo 112), a CF/88 não o previu expressamente, sequer 
o Código de Processo Penal o fez. Assim, previsão normativa que o mitigue, como já fizeram 
a Lei 9.099/95 e a Lei 12.850/13, é compatível com nosso ordenamento jurídico. 
Em todo caso, foram propostas duas ações diretas de inconstitucionalidade contra a 
Resolução 181/2017, uma de iniciativa do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do 
Brasil, a ADI 5.793, e outra de autoria da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a 
ADI 5.790, cujos julgamentos ainda não se realizaram. 
Há de se reconhecer, entretanto, ante o princípio da presunção da constitucionalidade, 
que a norma que regulamenta o ANPP é eficaz e aplicável até ulterior análise de sua 
compatibilidade com a Constituição pelo STF. 
 
3 Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=372910. 
Acesso em 25 de novembro de 2018. 
 
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=359581
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=372910
12 
 
Mudando-se o enfoque do plano formal para o material, verifica-se que o regime 
jurídico erigido na resolução assegura, por meio de um procedimento detalhado, a observância 
de todas as garantias constitucionais ao investigado: inafastabilidade do controle judicial (artigo 
18, parágrafo 4º), defesa técnica (parágrafo 2º) e segurança jurídica (parágrafo 11º). 
Como esse fenômeno da expansão dos espaços de consenso na Justiça criminal é de 
ordem mundial, não uma exclusividade brasileira, é relevante observar que a Corte Europeia de 
Direitos Humanos, em 2014, no caso Togonidze v. Georgia, já teve oportunidade de manifestar 
que acordos criminais, similares ao ANPP, não ofendem ao contraditório e ao devido processo 
legal4. E nos EUA, a Suprema Corte reconheceu, no caso Brady v. USA, em 1970, a 
constitucionalidade do plea bargaining quando o tribunal estipulou algumas condições para 
que o acordo seja válido5. 
Importante também mencionar que a implementação de acordos criminais estão em 
consonância com as diretrizes estabelecidas nas Regras de Tóquio (item 5.1)6, normativa 
internacional impossível de ser ignorada. 
Há, sim, questões ainda não solucionadas, tais como a forma de se realizar o ANPP 
durante a audiência de custódia (artigo 18, parágrafo 7º) ou como estabelecer uma política 
criminal lógica e efetiva que preserve, por exemplo, o tratamento igualitário no aceite e recusa 
da celebração do acordo pelo membro ministerial e garanta também a repressão e prevenção de 
ilícitos penais em determinada comunidade. 
 
4 Disponível em: https://hudoc.echr.coe.int/eng#{"itemid":["001-122692"]}. Acesso em: 25 de 
novembro de 2018. 
 
5 Disponível em: https://canalcienciascriminais.com.br/a-plea-bargaining-no-sistema-processual-penal-
norte-americano/. Acesso em 25 de novembro de 2018. 
 
6 As Regras de Tóquio foram formuladas pelo Instituto da Ásia e do Extremo Oriente para a Prevenção 
do Delito e Tratamento do Delinquente (em 1986), cujo projeto foi aprovado em 14 de dezembro de 
1990, pela Assembleia Geral das Nações Unidas (8º Congresso), integrando a Resolução 45/110, 
oficialmente denominadas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas não 
Privativas de Liberdade. Disponível 
em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/09/6ab7922434499259ffca0729122b2d38.pdf. 
Acesso em 24 de novembro de 2018. 
https://hudoc.echr.coe.int/eng#{%22itemid%22:[%22001-122692%22]}
https://canalcienciascriminais.com.br/a-plea-bargaining-no-sistema-processual-penal-norte-americano/
https://canalcienciascriminais.com.br/a-plea-bargaining-no-sistema-processual-penal-norte-americano/
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/09/6ab7922434499259ffca0729122b2d38.pdf
13 
 
Mesmo que o destino seja louvável, o atalho tomado pelo CNMP foi equivocado, em 
especial por existir propostas legislativas em tramitação no Congresso Nacional que 
contemplam acordos dessa natureza. 
A despeito da consagração da Justiça penal consensual no Brasil decorrente da 
constatação de sua celeridade, efetividade e eficiência, cujo ápice se deu com a operação "lava 
jato", a aplicação do ANPP ainda é incipiente e incerta. 
Por ora, parece que se repetirá o enredo da colaboração premiada. Será a prática dos 
atores envolvidos nos acordos e a jurisprudência que moldarão os contornos do ANPP. 
Experiência similar à vivenciada pela Alemanha, onde, após larga utilização de acordos 
criminais sem previsão normativa, em 2007, o Tribunal Constitucional Federal reconheceu a 
validade de sua utilização por não violarem princípios constitucionais e processuais. 
O caminho do devido processo legislativo era o preferível, contudo, substancialmente, 
o ANPP é constitucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Fornecimento de Medicamentos: decisões do STF e STJ (Diogo Teixeira) 
 
Veja como o STF resumiu essas conclusões: 
A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, 
como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. 
É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro 
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao 
previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: 
a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de 
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); 
b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no 
exterior; e 
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 
STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. 
Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941). 
 
A decisão do STF no RE 657718/MG afeta, de algum modo, o entendimento do STJ 
fixado no REsp 1.657.156-RJ ? Apenas em parte do item “iii”. 
 O STJ decidiu que: 
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a 
presença cumulativa dos seguintes requisitos: 
i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido 
por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, 
assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; 
ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; 
iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados 
pela agência. 
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado 
em 12/09/2018 (recurso repetitivo) (Info 633). 
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Com a decisão do STF no RE 657718/MG, este item “iii” do julgado do STJ deverá ser 
lido com o acréscimo de uma exceção, da seguinte maneira: 
iii) “existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados 
pela agência”, podendo, excepcionalmente,haver a concessão judicial de medicamento sem 
registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior 
ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: 
a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de 
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); 
b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no 
exterior; e 
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
Exigência de prejuízo/ elemento subjetivo crimes e improbidade da lei de licitações 
(Guilherme Rodrigues Batalini) 
 
A lei de licitações, criada para regulamentar o disposto no artigo 37, XXI da 
Constituição da República. Tem por finalidade atender aos princípios da impessoalidade, 
eficiência, isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção 
do desenvolvimento nacional sustentável. 
A desobediência às regras contidas nesta lei pode gerar a punição do agente tanto em 
âmbito administrativo, como por crimes previstos especificamente na lei de licitações, ou, 
ainda, ato de improbidade administrativa, havendo previsões expressas na Lei de nº 8.429/92 
(art. 10, VIII ou mesmo o art. 11, caput ou inciso I) 
Quanto à esfera criminal, com relação ao tipo previsto no artigo 89 da Lei 8.666, há 
ainda forte divergência doutrinária e jurisprudencial com relação a alguns elementos do tipo, 
como sobre a exigência de elemento subjetivo específico, ou mesmo se exige-se prova do 
prejuízo, ou se se trata de tipo formal. 
Com relação ao elemento subjetivo, há hoje certo consenso, inclusive nos tribunais 
superiores, sobre tratar-se de tipo penal incongruente, havendo exigência, portanto, de um 
elemento subjetivo específico do tipo, a saber: a intenção específica de lesar o erário ou obter 
vantagem ilícita. Deste modo, a mera irregularidade, ou a simples inobservância de regra 
técnica, sem a presença deste animus é inapta a configurar o crime. 
No que diz respeito à consumação, há divergência. Há posição, adotada pela 2ª turma 
do STF e pelo STJ que entende ser exigida a demonstração de efetivo prejuízo para a 
consumação do delito, por tratar-se de crime material. Outra posição, adotada pela 1ª turma do 
STF, entende tratar-se de crime formal, sendo, portanto, dispensável a efetiva ocorrência do 
dano, que é, aliás, presumido, pela perda da possibilidade de a Administração selecionar o 
melhor parceiro para contratar. 
Com relação ao ato de improbidade administrativa, a depender de em qual dos artigos 
se amoldou a conduta, pode ser exigido o dolo, ou mesmo aceita a culpa, que é admitida apenas 
nos casos do inciso 10 (prejuízo ao erário). 
17 
 
Quanto à exigência de prova de efetivo prejuízo para a configuração de improbidade, 
não obstante a divergência, há jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no caso, 
entendendo tratar-se de dano presumido, ou seja, in re ipsa. 
Em conclusão, para aferir a presença do dolo específico na conduta do agente, tanto nos 
atos de improbidade, quanto no crime, a jurisprudência do STF tem adotado 3 critérios, a saber: 
1) a existência ou não de pareceres jurídicos corroborando a atitude; 2) a efetiva demonstração 
do especial intento do agente; e 3) descrição na inicial do vínculo subjetivo entre os agentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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As mudanças nos crimes sexuais promovidas pela Lei 13.718/20187 (Rodrigo Denis) 
 
1) A Lei 13.718/18 introduz diversas modificações na seara dos crimes contra a 
dignidade sexual. 
Sua ementa “Tipifica os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de 
estupro; altera para pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a 
dignidade sexual; estabelece causas de aumento de pena para esses crimes; cria causa de 
aumento de pena referente ao estupro coletivo e corretivo; e revoga dispositivo do Decreto-Lei 
nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais).” 
Em resumo, inserem-se no Código Penal: a) o art. 215-A, que tipifica a importunação 
sexual; b) o art. 218-C, que trata da divulgação de cena de estupro e de estupro de vulnerável, 
e de sexo ou pornografia sem autorização dos envolvidos; c) o § 5º no art. 217-A para tornar 
expresso na lei o fato de que o consentimento e a experiência sexual do vulnerável são 
irrelevantes para a caracterização do crime; d) o inciso IV no art. 226 para aumentar de um a 
dois terços a pena das formas de estupro coletiva e corretiva. 
Além disso, foram modificadas as redações dos artigos 225 e 234-A. 
No art. 225, a nova regra atinge a natureza da ação penal, que nos crimes contra a 
dignidade sexual passa a ser pública incondicionada. E, no art. 234-A, causas de aumento de 
pena foram reajustadas e ampliadas. Vejamos a seguir em que consistem, exatamente, tais 
novidades. 
 
2) IMPORTUNAÇÃO SEXUAL: 
 
O art. 215-A introduz em nosso ordenamento jurídico o crime de importunação sexual, 
consistente em: “Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de 
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”. A pena é de reclusão de um a cinco anos, se o ato 
não constitui crime mais grave. Considerando a pena cominada, a infração pode ser considerada 
de médio potencial ofensivo, admitindo a possibilidade de suspensão condicional do processo. 
 
7 Resumo Extraído do SITE: https://www.dizerodireito.com.br/2018/10/ola-amigos-do-dizer-o-direito-
lei-n-13.html 
https://www.dizerodireito.com.br/2018/10/ola-amigos-do-dizer-o-direito-lei-n-13.html
https://www.dizerodireito.com.br/2018/10/ola-amigos-do-dizer-o-direito-lei-n-13.html
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Em virtude da inserção deste tipo penal, a Lei 13.718/18 revoga a contravenção penal do art. 
61 do Decreto-lei 3.688/41 (importunação ofensiva ao pudor). 
Não se pode falar, no entanto, em abolitio criminis relativa à contravenção, pois 
estamos, na verdade, diante do princípio da continuidade normativo-típica. O tipo do art. 61 da 
LCP é formalmente revogado, mas seu conteúdo migra para outra figura para que a 
importunação seja punida com nova roupagem. 
Trata-se de crime comum, que não exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo, 
assim como pode vitimar qualquer pessoa. Note-se apenas que praticar, na presença de alguém 
menor de quatorze anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a 
fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem, caracteriza o crime do art. 218-A do CP, punido 
com reclusão de dois a quatro anos. A conduta consiste em praticar (levar a efeito, fazer, 
realizar) ato libidinoso, isto é, ação atentatória ao pudor, praticada com propósito lascivo ou 
luxurioso. O tipo exige que o ato libidinoso seja praticado contra alguém, ou seja, pressupõe 
uma pessoa específica a quem deve se dirigir o ato de autossatisfação. Assim é não só porque 
o crime está no capítulo relativo à liberdade sexual, da qual apenas indivíduos podem ser 
titulares, mas também porque somente desta forma se evita confusão com o crime de ato 
obsceno. 
Com efeito, responde por importunação sexual quem, por exemplo, se masturba em 
frente a alguém porque aquela pessoa lhe desperta um impulso sexual; mas responde por ato 
obsceno quem se masturba em uma praça pública sem visar a alguém específico, apenas para 
ultrajar ou chocar os frequentadores do local. O preceito secundário do art. 215-A contém 
subsidiariedade expressa: aplicam-se as penas da importunação sexual se a conduta não 
caracteriza crime mais grave. Por isso, a falta de anuência da vítima não pode consistir em 
nenhuma forma de constrangimento, que aqui deve ser compreendido no sentido próprio que 
lhe confere o tipo do estupro – obrigar alguém à prática de ato de libidinagem –, não no sentido 
usual, de mal-estar, de situação embaraçosa, ínsita ao próprio tipo do art. 215-Ae um de seus 
fundamentos. 
O tipo penal abrange situações como a ocorrida, certa vez, na cidade de São Paulo, 
quando uma mulher se encontrava num ônibus e foi surpreendida pela conduta de um homem 
que, masturbando-se, ejaculou em seu pescoço. O agente foi preso em flagrante pela prática do 
crime de estupro porque, segundo a avaliação inicial da autoridade policial, havia constrangido 
a vítima a permitir que com ela se praticasse ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Houve, 
na época, grande repercussão, especialmente porque o agente foi posto em liberdade logo em 
20 
 
seguida sob o argumento de que não se tratava de estupro, mas de importunação ofensiva ao 
pudor (art. 61 da LCP), o que não autorizava, isoladamente, a decretação da prisão preventiva 
(art. 313 do CPP). A decisão gerou intenso debate sobre a correta tipificação da conduta 
praticada, ou seja, se efetivamente se tratava de infração de menor potencial ofensivo ou se 
havia crime hediondo de estupro. O art. 215-A sem dúvida contempla condutas semelhantes e 
lhes atribui punição intermediária. 
Voluntariedade: É o dolo, consistente na vontade consciente de praticar o ato libidinoso 
contra alguém. O tipo ainda contém um elemento subjetivo: o crime se tipifica somente se o 
agente atuar com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. 
Consumação e tentativa: Consuma-se o crime com a prática do ato libidinoso. Apesar 
de teoricamente possível, na prática nos parece improvável a caracterização do conatus, pois, 
se o agente inicia a execução de qualquer ato libidinoso, há de se reconhecer a consumação. 
Antes disso, ocorrem apenas atos preparatórios. 
 
3) DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO E DE ESTUPRO DE 
VULNERÁVEL, E DE SEXO OU PORNOGRAFIA 
 
Têm sido comuns, já há alguns anos, situações em que pessoas são surpreendidas pela 
divulgação de imagens de sua intimidade na rede mundial de computadores. Seja em 
decorrência de colaboração involuntária da própria pessoa, que se deixa fotografar ou filmar, 
ou ainda envia imagens íntimas a alguém próximo, em caráter confidencial, e acaba 
surpreendida pela deslealdade, seja por violação da intimidade sem o conhecimento do 
interessado, são muitos os casos envolvendo anônimos e famosos que, repentinamente, veem-
se envolvidos na constrangedora situação de ter sua intimidade exposta virtualmente a bilhões 
de pessoas. 
Um dos casos compreendendo uma personalidade de destaque inspirou a aprovação da 
Lei 12.737/12, que inseriu no Código Penal o art. 154-A para punir a invasão de dispositivo 
informático. Denominado informalmente “Lei Carolina Dieckmann”, o diploma veio na esteira 
de uma conduta que vitimara a conhecida atriz, que teve seu computador pessoal violado para 
a subtração e posterior divulgação de fotos íntimas. 
21 
 
Por sua vez, o art. 218-C do Código Penal introduz a punição de quem promove a 
divulgação de cena de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento dos envolvidos, bem 
como de quem possibilita a publicação de cenas reais de estupro ou de estupro de vulnerável: 
“Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou 
divulgar, por qualquer meio, inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de 
informática ou telemática, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de 
estupro ou estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o 
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia”. A pena é de reclusão de um a 
cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave. 
A pena cominada denota mediana potencialidade ofensiva e admite a suspensão 
condicional do processo. O dispositivo contém dois parágrafos. 
No primeiro, a pena é aumentada de um a dois terços se o crime é praticado por agente 
que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima, ou com o fim de vingança 
ou humilhação. 
O segundo traz causa excludente da ilicitude em determinadas circunstâncias em que as 
condutas são praticadas. 
O crime é comum, isto é, pode ser cometido por qualquer pessoa. Também não se exige 
qualidade especial do sujeito passivo, mas, se a vítima mantém ou manteve relação íntima de 
afeto com o autor, aumenta-se a pena de um a dois terços (§1o.). 
Além disso, tratando-se de vítima menor de dezoito anos, o comportamento do agente 
pode subsumir-se ao disposto nos arts. 241 ou 241-A, ambos do ECA, a depender das 
circunstâncias do caso concreto. 
São nove as ações nucleares que compõem o tipo penal: oferecer (propor para 
aceitação), trocar (permutar, substituir), disponibilizar (permitir o acesso), transmitir (remeter 
de um lugar a outro), vender (ceder em troca de determinado valor) ou expor à venda (oferecer 
para a alienação), distribuir (proporcionar a entrega indeterminada), publicar (tornar manifesto) 
ou divulgar (difundir, propagar). 
Vê-se, portanto, que, ao contrário do que ocorre em figuras semelhantes tipificadas no 
ECA, não são punidas as condutas de aquisição, posse e armazenamento. 
O tipo é misto alternativo, razão pela qual a prática de mais de uma ação nuclear, no 
mesmo contexto fático, configura apenas um crime, mas nada impede – aliás, recomenda-se – 
22 
 
que o juiz analise eventual multiplicidade de condutas na aplicação da pena-base (circunstâncias 
do crime). 
As condutas típicas podem ser praticadas pelas mais diversas formas. O tipo faz 
referência à expressão qualquer meio e ainda esclarece que se incluem aqueles de comunicação 
de massa ou sistemas de informática ou telemática, isto é, qualquer meio que permita a 
transmissão de arquivos de fotos ou vídeos (e-mail, Skype, WhatsApp, Messenger, etc.) ou que 
admita a transmissão audiovisual (streaming), inclusive em tempo real. 
Os objetos materiais do crime são: fotografias, vídeos ou outros registros audiovisuais 
que: a) contenham cena de estupro ou de estupro de vulnerável: trata-se de violência sexual 
real, ao mesmo tempo registrada e depois difundida por qualquer meio. O tipo menciona 
também as cenas de estupro de vulnerável, mas devemos ter em mente que o vulnerável aqui é 
apenas quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para 
a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. Tratando-se 
de estupro de vulnerável menor de quatorze anos, a difusão das imagens não caracteriza este 
crime, mas um dos correlatos tipificados no ECA (arts. 241 ou 241-A), como veremos logo 
adiante; b) façam apologia ou induzam a sua prática: não é necessário que as imagens veiculem 
cenas sexuais. O que se busca punir é a divulgação de material que de alguma forma faça 
apologia ou induza a prática de estupro, como um vídeo em que alguém defenda a legitimidade 
da prática ou de alguma forma a conclame. Note-se que neste tipo penal não tem lugar, ao 
contrário do que ocorre no art. 287 do CP, a discussão sobre a necessidade de que a apologia se 
refira a crime já ocorrido. O art. 287 pune a apologia de fato criminoso, o que, para parcela da 
doutrina, restringe a abrangência do tipo a crimes já ocorridos, pois, do contrário, há apenas 
incitação. 
O dispositivo em estudo, no entanto, não contém a expressão fato criminoso, referindo-
se apenas à apologia do estupro. c) consistam em registros de cenas de sexo, nudez ou 
pornografia sem o consentimento da vítima: não se trata de cenas de violência sexual, mas de 
sexo, nudez ou pornografia sem que a pessoa fotografada ou gravada tenha dado consentimento 
para a difusão. É o caso, por exemplo, do casal que grava a si mesmo, ou permite que outrem o 
faça, e um deles, ou terceiro, promove a difusão das imagens sem autorização. 
O crime do art. 218-C é expressamente subsidiário, ou seja, tem lugar apenas se a 
conduta não constitui crimes mais graves, que, no caso, são os artigos 241 e 241-A do ECA. 
23 
 
O art. 218-C, aliás, é umacombinação dos núcleos típicos que compõem os dois 
dispositivos que visam à proteção de crianças e adolescentes. Dessa forma, se a conduta consiste 
em vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual com cena 
envolvendo criança ou adolescente, o crime é o do art. 241 do ECA, punido com reclusão de 
quatro a oito anos. Tratando-se das demais condutas envolvendo menores de idade, o crime é o 
do art. 241-A, punido com reclusão de três a seis anos. O § 2º estabelece excludente da ilicitude 
para as situações em que o fato é praticado em publicação de natureza jornalística, científica, 
cultural ou acadêmica, desde que sejam adotados recursos que impossibilitem a identificação 
da vítima. Se, por exemplo, um jornal televisivo exibe cena de estupro que tenha sido gravada 
e divulgada pelo próprio autor do crime, e o faça para facilitar a identificação daquele indivíduo, 
preservando a identidade da vítima, não se cogita a ocorrência do crime. Inserem-se também na 
justificante as condutas praticadas com prévia autorização de quem foi registrado nas imagens, 
desde que maior de dezoito anos. Se menor, o consentimento não tem relevância e incidem as 
regras do ECA. 
Voluntariedade: É o dolo, consistente em praticar uma das ações nucleares típicas. Não 
se exige elemento subjetivo específico, nem mesmo finalidade de lucro nas condutas de vender 
e de expor à venda. 
Consumação e tentativa: O crime se consuma no momento em que praticada uma das 
ações típicas. Certas modalidades podem fazer com que o crime seja permanente, como a 
exposição à venda, a disponibilização (acesso permanente por meio de página em endereço 
eletrônico, por exemplo) e a divulgação (que também pode ser promovida continuamente por 
meio eletrônico). A tentativa se afigura possível, exceto na conduta de oferecer, que não nos 
parece passível de fracionamento (até o ato de oferecimento, há apenas preparação). 
Majorante: Segundo o § 1º, o crime tem a pena majorada de um a dois terços se 
cometido: a) por quem mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima: relação 
íntima de afeto pode ser o casamento, a união estável ou o namoro. Não se inserem nesta 
definição relações casuais, sem maior vínculo entre o agente e a vítima, situações que se 
subsumem à forma básica do caput. Afinal, o fundamento da punição mais severa é a traição da 
confiança normalmente existente entre pessoas que mantêm ou mantiveram um relacionamento 
por relevante período de tempo; b) se tiver finalidade de vingança ou humilhação: no caso da 
finalidade de vingança ou humilhação, por outro lado, não há necessidade de prévia relação 
íntima de afeto, embora o mais comum seja que ela exista. Com efeito, trata-se aqui do 
denominado revenge porn, em que alguém, normalmente depois de terminado um 
24 
 
relacionamento amoroso, divulga na internet imagens ou vídeos íntimos do ex-parceiro. Mas o 
aumento pode incidir ainda que o autor e a vítima tenham tido apenas um encontro casual. 
 
4) IRRELEVÂNCIA DO CONSENTIMENTO E DA EXPERIÊNCIA SEXUAL 
NO ESTUPRO DE VULNERÁVEL No art. 217-A do Código Penal a Lei 13.718/18 inseriu 
o § 5º, que assim dispõe: “As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-
se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela já ter mantido relações 
sexuais anteriormente ao crime”. 
Para bem compreender as implicações da nova disposição, façamos uma análise do tipo 
objetivo do estupro de vulnerável. No art. 217-A pune-se o agente que tem conjunção carnal ou 
pratica outro ato libidinoso com vítima menor de quatorze anos (caput) ou portadora de 
enfermidade ou deficiência mental incapaz de discernimento para a prática do ato, ou que, por 
qualquer outra causa, não tenha condições de oferecer resistência (§ 1º) – pouco importando, 
neste último caso, se a incapacidade foi ou não provocada pelo autor. A entrada em vigor do 
Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/15) promoveu extensa alteração no 
tratamento dispensado pela lei à pessoa que padece de impedimentos de natureza física, mental, 
intelectual ou sensorial. Como exemplo, temos a revogação dos incisos do art. 3º do Código 
Civil, que antes considerava absolutamente incapaz aquele que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tivesse o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. Atualmente, 
o indivíduo que, por causa transitória ou permanente, não puder exprimir sua vontade é tratado 
como relativamente incapaz (art. 4º, inciso III). Isso ocorre sobretudo por influência do art. 6º 
da Lei nº 13.146/15, segundo o qual a deficiência não “afeta a plena capacidade civil da pessoa, 
inclusive para: I – casar-se e constituir união estável; II – exercer direitos sexuais e reprodutivos 
[destacamos]; III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a 
informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV – conservar sua 
fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V – exercer o direito à família e à 
convivência familiar e comunitária; e VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à 
adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. 
No campo penal, a entrada em vigor do Estatuto suscitou dúvidas a respeito da influência do 
disposto no inciso II acima transcrito na caracterização do crime de estupro de vulnerável, 
especificamente no caso do § 1º do art. 217-A do Código Penal, que pune a conduta de praticar 
conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato. A dúvida é a seguinte: se o 
25 
 
deficiente é plenamente capaz para “exercer direitos sexuais e reprodutivos”, qual a razão para 
rotulá-lo como vulnerável e, portanto, incapaz de consentir para o ato sexual? Existe uma 
contradição entre os documentos legais? Esse conflito era apenas aparente, mas, com a inserção 
do § 5º do art. 217-A, torna-se real. Vejamos. Não por acaso, os sujeitos passivos do estupro de 
vulnerável são separados entre o caput e o § 1º do art. 217-A: 1) O menor de quatorze anos: 
Antes da entrada em vigor da Lei 12.015/09, o Código Penal considerava, pelo disposto art. 
224, presumidamente violenta a relação sexual com menor de quatorze anos. Havia, então, 
extenso debate a respeito da natureza da presunção, isto é, se relativa ou absoluta. Uma primeira 
corrente sustentava a necessidade de apurar concretamente a incapacidade do menor para o 
consentimento, enquanto outra, majoritária, defendia a aplicação absoluta da regra relativa à 
idade. Com a edição da Lei 12.015/09, revogou-se o art. 224 do Código Penal e a regra da 
presunção de violência deixou de ser aplicada. A mesma lei incluiu no Código o art. 217-A, 
que, sem mencionar presunção de nenhuma ordem, pune, no caput, a conduta de ter conjunção 
carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de quatorze anos. A clara disposição legal, 
no entanto, não foi capaz de impedir a continuidade do debate a respeito da presunção, agora 
de vulnerabilidade. Afirma, por exemplo, Guilherme de Souza Nucci: “Agora, subsumida na 
figura da vulnerabilidade, pode-se tratar da mesma como sendo absoluta ou relativa. Pode-se 
considerar o menor, com 13 anos, absolutamente vulnerável, a ponto de seu consentimento para 
a prática do ato sexual ser completamente inoperante, ainda que tenha experiência sexual 
comprovada? Ou será possível considerar relativa a vulnerabilidade em alguns casos especiais, 
avaliando-se o grau de conscientização do menor para a prática sexual? Essa é a posição que 
nos parece acertada. A lei não poderá, jamais, modificar a realidade e muito menos afastar a 
aplicação do princípio da intervenção mínima e seu correlato princípio da ofensividade. Se 
durante anos debateu-se, no Brasil, o caráter da presunção de violência – se relativo ou absoluto–, sem consenso, a bem da verdade, não será a criação de novo tipo penal o elemento 
extraordinário a fechar as portas para a vida real.” (Crimes contra a dignidade sexual, p. 37-38) 
Prevaleceu, no entanto, tese diversa. A maioria da doutrina já lecionava não haver espaço para 
discussão a respeito da presunção de vulnerabilidade, pois a lei nada presume. Sua redação é 
clara e inequívoca: proíbe-se a relação sexual com menor de quatorze anos. Foi este o manifesto 
propósito do legislador com a revogação do art. 224 – este sim expresso sobre a presunção de 
violência. julgados. E, atendendo ao propósito da lei, o STJ firmou orientação no sentido de 
afastar pretensões para apurar concretamente a vulnerabilidade, como se extrai do enunciado 
da súmula nº 593: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou 
prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da 
26 
 
vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento 
amoroso com o agente”. Dessa forma, a nova disposição legal não modifica, na prática, a 
orientação que já vinha sendo adotada a respeito do estupro de vulnerável em razão da idade. 
Apenas torna inequívoca, pela via legislativa, a interpretação já consagrada sobre o caput do 
art. 217-A. 
2) aquele que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário 
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer 
resistência: Esta situação, extraída do § 1º do art. 217- A, em tudo difere da anterior – daí porque 
dissemos não ter sido por acaso que o legislador cindiu o tipo penal entre o caput e o § 1º para 
tratar do sujeito passivo do crime. Neste caso, assim como ocorria em relação ao menor de 
quatorze anos, o ordenamento anterior à Lei 12.015/09 presumia a violência por meio do mesmo 
art. 224 do Código Penal. Uma vez em vigor a referida lei, o tipo do § 1º do art. 217-A passou 
a punir o ato de ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém que, por 
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, 
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. Iniciando pela última hipótese, 
em que a vítima não pode, por qualquer causa, oferecer resistência, podemos citar como 
exemplos as situações da pessoa que, embora não padeça de nenhuma anomalia mental, 
embriaga-se até a inconsciência e, inerte, é submetida ao ato sexual sem que possa resistir; ou 
da pessoa que é induzida, por meio de drogas, à inconsciência por alguém que tem o propósito 
de com ela manter relação sexual não consentida. No caso do deficiente mental, não se pune a 
relação sexual pelo simples fato de ter sido praticada com alguém nesta condição, como ocorre 
no caso do menor de quatorze anos. Aqui caracteriza-se o crime se o agente mantiver conjunção 
carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém que, em virtude de enfermidade ou 
deficiência mental, não tem o necessário discernimento. É imprescindível, portanto, ao 
contrário do que se verifica no caput, apurar concretamente se a pessoa portadora de 
enfermidade ou deficiência mental tinha ou não discernimento para a prática do ato. Nessa 
linha, o Estatuto da Pessoa com Deficiência em nada interfere na caracterização do crime de 
estupro de vulnerável, pois desde a edição da Lei 12.015/09, em que a presunção de violência 
foi extirpada do nosso ordenamento jurídico, é necessário apurar se a enfermidade ou a 
deficiência mental de que padeça alguém ocasiona a falta de discernimento. As disposições do 
art. 6º do Estatuto podem servir para reforçar a indicação do Código Penal, mas não há mudança 
substancial na incidência do tipo. No entanto, o acréscimo do § 5o no art. 217-A provoca efetivo 
conflito entre o Estatuto da Pessoa com Deficiência e o Código Penal. Com efeito, se a 
27 
 
disposição legal estabelece que se caracteriza o crime independentemente do consentimento da 
vítima, impede-se que se apure se a enfermidade ou a deficiência mental provoca a falta de 
discernimento para consentir, o que acaba restringindo a abrangência do estatuto que visa a 
garantir a maior autonomia possível às pessoas com deficiência. A nova disposição contraria, 
ademais, o próprio § 1º, que, como demonstramos linhas acima, pressupõe, sem a menor sombra 
de dúvida, que o portador de enfermidade ou doente mental seja desprovido de capacidade de 
compreender a natureza do ato consentido. Ora, se é assim, a capacidade de consentimento deve 
afastar o delito. Diante disso, parece-nos mais adequado interpretar restritivamente a regra 
inserida no § 5º, que deve se ater às situações que envolvam o caput do art. 217-A, ou seja, os 
menores de quatorze anos. No caso dos deficientes, faz-se interpretação sistemática para 
compatibilizar os sistemas de proteção penal e de tutela de direitos relativos à liberdade 
individual. Isto nada mais é do que a aplicação da teoria do diálogo das fontes, segundo a qual, 
diante de eventuais conflitos normativos, ao invés de simplesmente excluir-se uma norma pela 
outra deve-se buscar compatibilizá-las para que se garanta uma aplicação coerente e 
coordenada. Devemos ter em mente, ademais, que o Estatuto da Pessoa com Deficiência tem 
inspiração na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em Nova 
York em 2007 e incorporada em nosso ordenamento jurídico com status constitucional. 
Segundo seu art. 19, os Estados subscritores “reconhecem o igual direito de todas as pessoas 
com deficiência de viver na comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais 
pessoas, e tomarão medidas efetivas e apropriadas para facilitar às pessoas com deficiência o 
pleno gozo desse direito e sua plena inclusão e participação na comunidade (...)”. 
Ora, diante de disposição tão clara, que se sobrepõe ao texto da lei ordinária, não há 
como admitir que a Lei 13.718/18 incida para limitar a liberdade de escolha de alguém que, não 
obstante seja deficiente, é capaz de se autodeterminar. 
 
5) AÇÃO PENAL: 
 
Antes da Lei 12.015/2009, a ação penal regra nos crimes sexuais era de iniciativa 
privada, de acordo com o que estabelecia o caput do art. 225. Havia, contudo, quatro exceções: 
a) procedia-se mediante ação pública condicionada à representação se a vítima ou seus pais não 
podiam prover às despesas do processo sem privar-se de recursos indispensáveis à manutenção 
própria ou da família; b) procedia-se mediante ação pública incondicionada se o crime era 
28 
 
cometido com abuso do poder familiar, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador; c) 
procedia-se mediante ação pública incondicionada se da violência resultasse na vítima lesão 
grave ou morte; d) a ação penal era pública incondicionada, de acordo com a Súmula 608 do 
STF, quando o crime de estupro era praticado mediante o emprego de violência real (aplicando-
se o mesmo ao atentado violento ao pudor). 
Com a reforma de 2009, a regra passou a ser ação penal pública condicionada, 
transformando-se em pública incondicionada quando a vítima fosse: I – menor de 18 anos; ou 
II – pessoa vulnerável. 
A Lei 13.718/18 altera novamente a sistemática da ação penal, que passa a ser sempre 
pública incondicionada. 
Ora, a regra geral determina que os crimes são de ação penal pública incondicionada a 
não ser que a lei disponha em sentido contrário. Dessa forma, teria sido de melhor técnica a 
simples revogação do art. 225, que se tornou absolutamente desnecessário. No mais, a mudança, 
a nosso ver, é mais negativa do que positiva. Como ponto positivo, tem-se, em primeiro lugar, 
que se encerra a discussão sobre o tipo de ação penal nos crimes agravados pelo resultado. Com 
efeito, há casos, como no crime de estupro, em que da violência pode resultar na vítima lesão 
grave ou morte. 
Como ponto positivo, supera-se definitivamente o debate a respeito da eficáciada 
Súmula 608 do STF: “No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é 
pública incondicionada.” Eram várias as vozes segundo as quais a súmula permanecia eficaz 
mesmo após a redação conferida ao art. 225 do CP pela Lei 12.015/09. Segundo Cezar Roberto 
Bitencourt, por exemplo, as disposições da súmula, apenas um reforço ao disposto no art. 101 
do CP a respeito da ação penal nos crimes complexos, continuavam aplicáveis exatamente por 
esse motivo: “No crime de estupro qualificado pelo resultado morte da vítima ou lesão grave, 
a ação penal é, inegavelmente, pública incondicionada, segundo a norma especial contida no 
art. 101 do Código Penal. Esse dispositivo legal, ao contrário do que se tem entendido, não 
consagra uma norma geral, pois sua razão de ser são exatamente as exceções quanto à natureza 
da ação penal pública incondicionada (regra geral), as quais se encontram na Parte Especial do 
Código Penal. Aliás, quanto à hipótese de estupro com resultado morte da vítima ou lesão grave, 
convém que se destaque, não houve alteração alguma, continua como sempre foi, ou seja, crime 
de ação pública incondicionada. (...) A previsão legal relativa ao crime complexo (art. 101), 
como estamos sustentando, não só é especial como também específica, uma vez que se destina 
a todos os crimes complexos distribuídos pelo Código Penal, independentemente do capítulo 
29 
 
em que se encontrem. Na realidade, as previsões sobre a ação penal constantes do art. 225 e seu 
parágrafo único fazem parte, como uma subespécie (complementar), daquela regra geral, 
segundo a qual a natureza da ação penal, quando não for incondicionada, deve vir expressa em 
lei; nesse sentido, a previsão casuística sobre a iniciativa da ação penal (v.g., arts. 145, 225 etc.) 
constitui norma geral complementar para esses crimes sexuais. Não teria sentido o afastamento 
do conteúdo do art. 101 por previsões sobre a natureza da ação penal, as quais, em razão do 
princípio da excepcionalidade, devem ser sempre expressas. Em outros termos, interpretação 
em sentido contrário esvaziaria a finalidade da previsão do art. 101, que poderia, inclusive, ser 
suprimido do Código Penal por absoluta inutilidade. Com efeito, se não houvesse tais previsões, 
seria desnecessária a definição contida no referido artigo, pois, na ausência de menção expressa, 
a ação penal seria sempre pública incondicionada (art. 100). Em outras palavras, o conteúdo do 
art. 101 do Código Penal destina-se especificamente àquelas infrações penais cuja persecutio 
criminis depende da iniciativa do ofendido, na medida em que as outras dele não necessitam: 
são de ação pública incondicionada. 
Sob a vigência da Lei 13.718/18, não há mais razão para invocar a súmula. Contudo, 
igualar todas as formas pelas quais o crime pode ser praticado para retirar da vítima qualquer 
capacidade de iniciativa parece ser um retrocesso – e aqui está o ponto negativo da mudança. 
O Estado, em crimes dessa natureza, não pode colocar seus interesses punitivos acima dos 
interesses da vítima. Em se tratando de pessoa capaz – que não é considerada, portanto, 
vulnerável –, a ação penal deveria permanecer condicionada à representação da vítima, da qual 
não pode ser retirada a escolha de evitar o strepitus judicii. Preocupado com a revitimização, 
aliás, já decidiu o STJ pela separação da vulnerabilidade permanente da vulnerabilidade 
ocasional. Em relação à vítima possuidora de incapacidade permanente de oferecer resistência 
à prática dos atos de libidinagem, a ação penal seria sempre incondicionada. Mas, em se 
tratando de pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos – 
ou seja, que não é propriamente vulnerável –, a ação penal deveria permanecer condicionada à 
representação da vítima (HC 276.510/RJ, j. 11/11/2014). 
Essa decisão, repise-se, buscou evitar que o Estado “atropelasse” direitos e garantias das 
vítimas em crimes dessa natureza. 
Há quem defenda a alteração promovida pela Lei 13.718/18 sob o argumento de que 
quando a ação penal era privada – e, depois, pública condicionada –, as vítimas – mulheres em 
especial – passavam por constrangimentos e muitas vezes deixavam de comunicar o crime e de 
buscar a punição do agressor por medo de represálias, principalmente nas situações em que os 
30 
 
fatos ocorriam no âmbito familiar. Isso fazia com que se multiplicassem casos de impunidade 
diante da extinção da punibilidade pela decadência. Argumenta-se que, diante de todo o avanço 
havido ao longo de décadas em relação ao papel social da mulher – o que, aliás, possibilitou 
um imenso incremento no sistema de proteção de mulheres vítimas de violência –, não há 
sentido na manutenção de uma regra que dificulta o ajuizamento da ação penal. Mas, a rigor, 
os mencionados avanços serviriam mesmo para justificar a manutenção da regra que confere à 
vítima maior poder de decidir se deseja ou não processar o agressor e se submeter ao 
constrangimento característico de um processo dessa natureza. Ora, justamente porque se 
identifica a tomada de consciência a respeito da igualdade entre homens e mulheres é que se 
deve pressupor que a mulher vítima de um crime sexual tem, como o homem, plenas condições 
de decidir sobre seus interesses. O argumento que agora trazem para estabelecer que a ação 
penal seja pública incondicionada serviria para algumas décadas atrás. Hoje o raciocínio deveria 
ser exatamente inverso. 
 
6) ESTUPRO COLETIVO E ESTUPRO CORRETIVO: 
 
O art. 226 do Código Penal contém majorantes relativas aos crimes contra a dignidade 
sexual. O inciso I aumenta a pena de quarta parte se o crime é cometido com o concurso de 
duas ou mais pessoas, ao passo que o inciso II majora de metade a pena se o agente é ascendente, 
padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou 
empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela. A Lei 13.718/18 
inseriu no dispositivo o inciso IV (o III já havia sido revogado pela Lei 11.106/05), que aumenta 
de um a dois terços a pena nas formas coletiva e corretiva do estupro. A forma coletiva se 
caracteriza pelo concurso de dois ou mais agentes; a corretiva é cometida com o propósito de 
controlar o comportamento social ou sexual da vítima. Notamos inicialmente que o estupro 
coletivo nada mais é do que uma forma de concurso de pessoas, já existente no inciso I e cuja 
única diferença é a fração de aumento. Trata-se de deslize do legislador? Pode ser, mas, a nosso 
ver, é plenamente possível compatibilizar ambos os dispositivos. O projeto que originou a Lei 
13.718/18 propunha nova redação ao inciso I, que passaria a ter duas alíneas majorando a pena 
para os crimes cometidos: a) em local público, aberto ao público ou com grande aglomeração 
de pessoas, ou em meio de transporte público; b) durante a noite, em lugar ermo, com o emprego 
de arma, ou por qualquer meio que dificulte a possibilidade de defesa da vítima. O Senado, no 
entanto, rejeitou a alteração sob o argumento de que não seria razoável estabelecer punição 
31 
 
mais severa apenas em razão do local ou do momento do dia em que o crime fosse cometido. 
Se a redação que seria conferida ao inciso I foi rejeitada, e não houve menção à revogação do 
dispositivo, resta-nos a conclusão de que a majorante do concurso de pessoas nele veiculada 
permanece em vigor juntamente com o novo inciso IV, que pune com ainda maior severidade 
o estupro coletivo. É possível, todavia, compatibilizar as disposições dos incisos I e IV. O inciso 
I, com efeito, nunca se restringiu ao crime de estupro, aplicando-se a quaisquer das figuras 
tipificadas nos capítulos I e II dos crimes contra a dignidade sexual. O inciso IV, por sua vez, é 
específico para os crimes de estupro (inclusive de vulnerável). 
Logo, a partir da Lei 13.718/18, o concurso de pessoas pode ensejar causas de aumento 
diversas a dependerda natureza do crime praticado: se estupro, aumenta-se a pena de um a dois 
terços segundo o inciso IV; nos demais casos, o aumento é de um quarto, conforme determina 
o inciso I. 
Já a majorante do estupro corretivo abrange, em regra, crimes contra mulheres lésbicas, 
bissexuais e transexuais, no qual o abusador quer "corrigir" a orientação sexual ou o gênero da 
vítima. A violação tem requintes de crueldade e é motivada por ódio e preconceito, justificando 
a nova causa de aumento. A violência é usada como um castigo pela negação da mulher à 
masculinidade do homem. Uma espécie doentia de ‘cura’ por meio do ato sexual à força. A 
característica desta forma criminosa é a pregação do agressor ao violentar a vítima. Os meios 
de comunicação indicam casos em que os agressores chegam a incitar a “penetração corretiva” 
em grupos das redes sociais e sites na internet (o que, isoladamente, pode caracterizar o crime 
do art. 218-C – apologia ou induzimento à prática do estupro – caso sejam veiculados 
fotografias ou registros audiovisuais). 
 
7) GRAVIDEZ, DOENÇA SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEL E VÍTIMA 
IDOSA OU DEFICIENTE: 
 
Finalmente, a Lei 13.718/18 altera os incisos III e IV do art. 234-A do Código Penal. O 
inciso III antes aumentava de metade a pena nos crimes contra a dignidade sexual dos quais 
resultasse gravidez. Agora o aumento passa a ser de metade a dois terços. O legislador busca, 
com a presente majorante, punir mais severamente o comportamento do autor, considerando, 
para tanto, a nefasta consequência do crime para a vítima (e familiares). Cuidando-se de 
consequência da infração penal, parece claro não necessitar ser alcançada pelo dolo (vontade 
32 
 
consciente) do agente. O inciso IV antes majorava de um sexto até a metade a pena se o agente 
transmitisse à vítima alguma doença sexual de que sabia ou devia saber ser portador. Agora, 
além de a majoração ser maior (de um a dois terços), há outras circunstâncias que se agregam 
à transmissão de doença sexualmente transmissível: a condição da vítima idosa ou deficiente. 
Para os efeitos da majorante, idoso é quem conta ao menos sessenta anos de idade, conforme 
estabelece o art. 1º da Lei 10.741/03. O conceito de pessoa portadora de deficiência é trazido 
pelo art. 2º da Lei nº 13.146/15, in verbis: “Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela 
que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, 
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na 
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º A avaliação da deficiência, 
quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e 
interdisciplinar e considerará: I – os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II – 
os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III – a limitação no desempenho de 
atividades; e IV – a restrição de participação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
DECISÕES DO STJ AMPLIANDO AS HIPÓTESES DE AGRAVO DE 
INSTRUMENTO (Ailton Weller) 
 
O Legislador, com o aparente escopo de reduzir a carga de trabalho dos Tribunais, optou 
por restringir as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento, apresentando, no art. 1.015, 
do CPC, rol de decisões interlocutórias recorríveis de imediato, em relação às quais a não 
interposição do indigitado recurso enseja preclusão sobre a questão decidida. 
Cumpre notar que as demais decisões não elencadas pelo Código não são absolutamente 
irrecorríveis, devendo ser impugnadas posteriormente, em razões ou contrarrazões de futuro 
recurso de apelação, sobre elas não incidindo, de imediato, o fenômeno da preclusão (art. 1.009, 
§ 1º, do CPC). 
Quanto ao ponto, é de se notar que algumas matérias relevantes e de interesse público, 
com potencial de trazer prejuízo imediato às partes, não integraram a lista da recorribilidade em 
apartado, tais como as decisões envolvendo competência (nulidade de atos) e valor da causa 
(recolhimento da taxa judiciária). 
Em decorrência da escolha política realizada e de suas consequências práticas, surgiu 
dúvida sobre a natureza do indigitado rol, se taxativo ou exemplificativo, bem como, sendo 
taxativo, acerca do modo como deve ser interpretado, se comportaria ou não interpretação 
ampliativa. 
Inicialmente, não se pode afirmar que a lista apresentada pelo Código de Processo Civil 
seja meramente exemplificativa, pois a intenção da Lei foi, inequivocamente, restringir a 
utilização de uma faculdade processual. Entender em sentido contrário implicaria retornar ao 
sistema processual de 1973, ignorando a atividade legislativa desenvolvida em 2015. 
De outro lado, a ideia de taxatividade pura e simples ensejaria a ressurreição da via 
autônoma do mandado de segurança como sucedâneo recursal, visando a impugnar eventual 
decisão não prevista no rol e que tenha o condão de causar imediato prejuízo à parte. Tal 
situação acabaria por, obliquamente, transmutar uma competência recursal do Tribunal em 
competência originária, frustrando o próprio objetivo de redução da carga de trabalho dos 
referidos órgãos, além de implicar retrocesso por exigir que impugnações a decisões sejam 
realizadas fora do âmbito recursal. 
34 
 
Nessa linha, considerando tratar-se de rol taxativo, restritivo de direitos, a exegese da 
norma não pode resultar em agravamento da restrição por ela imposta, devendo o texto legal 
ser interpretado de forma sistemática e teleológica, ampliando-se as hipóteses de recorribilidade 
imediata das interlocutórias. Assim, as hipóteses previstas no Código poderiam ser 
interpretadas de forma extensiva ou analógica, abarcando situações que não encontram respaldo 
na literalidade do texto, mas que se adequam à razão de ser da norma. 
Enfrentando a complexidade do tema, o Superior Tribunal de Justiça proferiu decisões 
pontuais, admitindo a possibilidade de ampliação do elenco de interlocutórias recorríveis de 
imediato, para abarcar situações envolvendo competência do juízo (REsp 1.679.909-RS, 4ª T., 
Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO), efeito suspensivo dos embargos à execução (REsp n. 
1.694.667- PR, Rel. MINISTRO HERMAN BENJAMIN), recuperação judicial (REsp n. 
1.722.866-MS, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO), contra decisões interlocutórias que 
deferem ou indeferem a distribuição dinâmica do ônus da prova ou quaisquer outras atribuições 
do ônus da prova distinta da regra geral, desde que se operem ope judicis e mediante 
autorização legal (REsp 1.729.110-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi), e contra decisão 
interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição, porquanto se trata de decisão de 
mérito, sob pena de formação de coisa julgada material sobre a questão (REsp 1.738.756-MG, 
Rel. Min. Nancy Andrighi). 
Considerando a multiplicidade de recursos especiais sobre o tema, o Superior Tribunal 
de Justiça afetou e julgou dois recursos sob o regime de casos repetitivos (REsp n. 1.696.396-
MT e REsp n. 1.704.520-MT, Corte Especial, Rela. Min. NANCY ANDRIGHI), tendo 
rechaçado as teorias até então existentes sobre a natureza do rol em tela (rol exemplificativo, 
taxatividade literal e taxatividade com interpretação analógica ou extensiva). 
Segundo o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, a lista trazida pelo 
Código possui taxatividade mitigada, admitindo-se, excepcionalmente, a interposição de agravo 
de instrumento contra decisões não previstas no art. 1.015, do CPC, com fulcro no requisito 
objetivo da urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. 
Por fim, no que tange ao sistema de preclusões, a Corte entendeu que o fenômeno 
somente se verificará caso a parte demonstre o excepcional cabimento do agravo de instrumento 
e o Tribunal dele conheça, decidindo a questão objeto do recurso. Caso o agravo não seja 
conhecido por ser considerado incabível, não haverá preclusão,

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