Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DEFINIÇÃO A avaliação de pacientes com dor abdominal é um dos grandes desafios para clínicos e cirurgiões. Corresponde a uma das queixas mais frequentes, tanto em unidades de emergência como em consultas ambulatoriais. Está presente em 75% dos adolescentes e em cerca da metade dos adultos saudáveis, questionados sobre sintomas gastrintestinais nos EUA. TIPOS DE DOR -Dor aguda: poucos dias de duração, geralmente com piora progressiva; -Dor crônica: dor que permanece inalterada por meses a anos. -Dor subaguda: dor que não pode ser classificada com facilidade em nenhuma das outras categorias. Requer considerações no diagnóstico diferencial tanto de causas agudas como crônicas. -Pacientes graves e instáveis devem sempre ser manejados como quadro agudo. Também deve-se lembrar que o paciente com dor abdominal crônica pode apresentar exacerbações agudas ou uma causa nova de dor, não relacionada à dor que apresentava anteriormente. ABDOME AGUDO -Por definição, abdome agudo é um grande quadro clínico abdominal variável que pode ser dividido em síndromes, sendo cada uma delas caracterizada por diferentes formas de instalação e progressão a depender da sua etiologia. O que todas as etiologias têm em comum é a necessidade de definição diagnóstica imediata, para determinar a terapêutica adequada e necessidade de intervenção cirúrgica, reduzindo a morbidade e a mortalidade. A maioria dos casos requer encaminhamento cirúrgico. CAUSAS MAIS COMUNS -As causas mais comuns de abdome agudo são apendicite aguda, gastroenterite aguda, síndrome do intestino irritável, várias cólicas e dor na ovulação. ETIOLOGIAS Abdome agudo pode ser dividido em grandes síndromes: Abdome agudo inflamatório, abdome agudo obstrutivo, abdome perfurativo, hemorrágico e abdome isquêmico. ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO - Pode ser definido como quadro de dor abdominal súbito e inesperado, originado de um processo inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade abdominal. -Em algumas situações, o quadro apresenta-se com peritonite, sendo mandatório o manejo cirúrgico nesses casos. Existem diversas causas de Abdome Agudo Inflamatório (AAI), mas suas principais etiologias são: apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda e diverticulite aguda. -É causada por processo inflamatório e/ou infeccioso em cavidade abdominal, órgãos ou estruturas adjacentes. Costuma cursar com manifestações de peritonite e alterações de ritmo intestinal. DOR ABDOMINAL -Caracteriza-se por dor de início insidioso e intensidade progressiva. Pode ser causado por um processo agudo ou pela agudização de uma doença crônica. -A apendicite é a causa mais comum de abdome agudo cirúrgico no mundo, podendo ocorrer em qualquer faixa etária, embora seja mais comum em adolescentes e adultos jovens. Epidemiologia Clinica -A dor abdominal é o sintoma preponderante no AAI, podendo ser decorrente de um processo recente, como na apendicite aguda, ou crônico agudizado tal qual nos casos de colecistite aguda por litíase biliar ou diverticulite por doença diverticular do cólon. -Costuma ser progressiva e quando evolui com piora progressiva uma conduta cirúrgica é necessária na maioria das vezes. -Dor exacerbada a movimentação é comum em abdome agudo inflamatório e indica peritonite. -Náuseas e vômitos podem ocorrer na evolução do AAI, podendo ser resultado do quadro álgico intenso ou até mesmo de estase intestinal secundária à irritação do peritônio visceral. -A febre é um sintoma comumente observado, podendo surgir já nas fases iniciais do processo, com temperaturas mais brandas, piorando com a evolução do quadro, sobretudo quando há processo supurativo instalado. -Obstipação comumente ocorre secundária à paralisia das alças intestinais. Entretanto, diarreia pode estar presente, sobretudo em casos de abscessos pélvicos. Diagnósticos etiológicos Apendicite Aguda -A apendicite aguda se dá por obstrução do lume apendicular por corpo estranho ou processo inflamatório. -Habitualmente encontra-se o indivíduo em posição antálgica e com um bom estado geral. Pode haver sinais de irritação peritoneal, com contratura da musculatura abdominal e/ou defesa voluntária à palpação. Sinais Fluxograma para diagnóstico Colecistite Aguda -Inflamação química e/ou bacteriana da vesícula biliar. Causas comuns são litíase vesicular ou colelitíase. Normalmente se dá por impactação de um cálculo, gerando estase do conteúdo biliar e, consequentemente, um fluxo retrógrado. A estase desse conteúdo gera fenômenos vasculares e inflamatórios. -O estado geral costuma estar preservado, podendo apresentar comprometimento na dependência da intensidade do processo inflamatório. -Pode haver irritação peritoneal e icterícia por impactação de cálculo no infundíbulo – essa impactação ocasiona edema e obstrução do ducto hepático comum, a chamada Síndrome de Mirizzi, e consequentemente, colestase. Sinal Fluxograma para diagnóstico Pancreatite aguda -Processo inflamatório do pâncreas por ativação enzimática inadequada. Apresenta um quadro menos bem caracterizado. 80% dos casos estão relacionados à doença biliar litiásica ou ingestão de álcool, mas outras causas podem ser apresentadas, como trauma e infecções. -80 a 90% dos casos tratam-se de casos leves com a presença de um estado geral regular e posição antálgica, sinais de desidratação e hipovolemia. - Nos casos de pancreatite grave (10 a 20%) pode-se encontrar um indivíduo com comprometimento do estado geral, taquicárdico, taquidispneico, hipotenso e com abdome distendido apresentando sinais de peritonite. -Se associado à litíase biliar, pode apresentar icterícia. Sinal -Esses sinais são apresentados em casos severos e após quadro mais tardio e são evidências de hemorragia retroperitoneal. Fluxograma para o diagnóstico -A elevação da amilase sérica ocorre de forma mais precoce, normalizando após 48h, enquanto a lipase eleva-se mais tardiamente, porém os níveis permanecem altos por mais tempo. Portanto, a amilase é mais sensível. Diverticulite aguda -Processo inflamatório de um ou mais divertículos do cólon. Divertículos são protrusões saculares da mucosa através da parede muscular colônica e Diverticulite é o processo inflamatório de um ou mais divertículos do cólon. -Paciente pode cursar com taquicardia discreta, distensão abdominal e sinais de peritonite – dor à descompressão brusca e à percussão. Pode haver massas palpáveis, habitualmente dolorosas, em FIE. O toque retal costuma ser doloroso. Fluxograma para o diagnóstico -A TC é o exame mais indicado para confirmação diagnóstica e detecção de complicações. Tratamento do abdome agudo inflamatório -O tratamento do AAI baseia-se em tratamento de suporte e específico: 1. Analgesia; 2. Reposição volêmica; 3. Correção de distúrbios eletrolíticos; 4. Tratamento do íleo adinâmico → jejum, sonda nasogástrica nos casos de distensão gástrica e intestino delgado considerável ou vômitos incoercíveis; 5. Antibioticoterapia ou antibioticoprofilaxia; 6. Tratamento de falência orgânica se houver → internamento em UTI (mais comumente observado na pancreatite aguda grave). Apendicite aguda -A apendicectomia é o tratamento padrão da apendicite complicada e não complicada; Estudos recentes analisaram o manejo com antibioticoterapia isolada em indivíduos com apendicite aguda não complicada, sugerindo que essa pode ser uma estratégia viável na possibilidade de seguimento dos pacientes, entretanto não existem evidências suficientes que indiquem seu uso rotineiro, uma vez que muitos desses pacientes necessitarão de abordagem cirúrgica na evolução do quadro.Colecistite aguda -Antibioticoterapia empírica: cefazolina, cefuroxima ou ceftriaxona nos casos leves a moderado. Nos casos mais graves podem ser usados carbapenêmicos, betalactâmicos com inibidores de betalactamase, fluoroquinolonas com metronidazol. -Colecistectomia de emergência em pacientes com instabilidade hemodinâmica ou dor intratável e para aqueles com complicações; Para os indivíduos estáveis, a colecistectomia deve ser realizada no mesmo internamento, dentro de três dias após o início dos sintomas – pacientes ASA I ou II. -Pacientes ASA III, IV ou V, sem indicação de colecistectomia de emergência, pode ser feito tratamento não cirúrgico inicialmente → antibioticoterapia e drenagem da vesícula biliar. Caso não respondam, tratamento cirúrgico deve ser instituído. Prefere-se cirurgia laparoscópica à laparotomia. Pancreatite aguda - Ressuscitação volêmica agressiva nas primeiras 24 horas; - Nutrição enteral após o quinto dia caso não tolere dieta oral; -Antibioticoterapia em caso de infecção documentada a partir da segunda semana de suporte clínico; - Estão indicadas terapias minimamente invasivas nos casos de complicações a partir da quarta semana, como a ultrassonografia endoscópica em vigência de pseudocisto pancreático; -CPRE nos casos de pancreatite secundária a colelitíase com evidência de colangite sobre. Diverticulite aguda -Tratamento hospitalar da diverticulite não complicada: - Antibioticoterapia venosa contra gram-negativos e anaeróbios; -Nos casos leves → continuação ou início do tratamento em caráter ambulatorial com antibioticoterapia oral por 7 a 10 dias, evolução gradual da dieta, com reavaliações a cada 2 a 3 dias inicialmente e semanalmente até resolução completa do quadro; -Pacientes estáveis hemodinamicamente devem ser submetidos à ressecção definitiva do segmento colônico acometido → Em pacientes classificados como Hinchey I ou II pode-se proceder à anastomose primária com ou sem ostomia protetora; -Pacientes instáveis necessitam de abordagem menos invasiva, como ressecção limitada ou drenagem percutânea de coleções → procedimento à Hartmann é preferido à anastomose primária em pacientes com apresentações mais graves (Hinchey III ou IV); -Nos casos de primeiro episódio de diverticulite aguda, com apresentação leve, não é mandatória a indicação de colectomia. ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO -Definição Abdome agudo obstrutivo (AAO) é uma situação de emergência na qual se encontra um fator obstrutivo em trato gastrointestinal (TGI) responsável pelo quadro clínico. Apresenta gravidade variável e caráter evolutivo necessitando de rápida intervenção, em sua maioria, cirúrgica. As causas de AAO podem ser divididas em mecânicas e funcionais, originadas no intestino delgado ou grosso, conforme tabela abaixo: Epidemiologia -É a segunda síndrome abdominal aguda mais frequente, ficando entre Abdome Agudo Inflamatório (1º) e Perfurativo (3º). Apresenta alta morbimortalidade quando há retardo no diagnóstico e/ ou manejo inapropriado, podendo alcançar taxas tão elevadas quanto 20%, sendo o sofrimento de alças intestinais um importante contribuinte para esse desfecho. -Cerca de 80% dos casos de abdome agudo obstrutivo envolvem o intestino delgado, sendo as aderências (bridas) secundárias a cirurgias prévias na cavidade abdominal o fator etiológico mais comum em países desenvolvidos (PD). -Nos países em desenvolvimento (PED), as hérnias compõem a primeira causa (30 a 40%) seguida por bridas (30%), tuberculose e doença de Crohn (10%). -Câncer de cólon representa a principal causa de obstrução no intestino grosso, além de volvo de sigmoide que se apresenta como frequente causa de obstrução intestinal baixa em nosso meio. Clínica -O quadro clínico é variável e depende de alguns fatores, como local e tempo da obstrução; presença de complicações, como sofrimento vascular e perfurações; grau de contaminação e status clínico do paciente. - Habitualmente os pacientes com AAO apresentam dor abdominal de início súbito, evoluindo com náuseas, vômitos e parada de eliminação de gazes e fezes. A distensão abdominal comumente encontra- se disposta centralmente na obstrução do intestino delgado e em flancos ou em abdome superior nas obstruções baixas (“em moldura”). Obstrução intestinal alta (Intestino delgado) -A parada de eliminação de fezes e gases é um sinal que ocorre tardiamente durante a evolução da obstrução, uma vez que o conteúdo colônico é esvaziado normalmente nas fases iniciais. Os ruídos hidroaéreos (RHA) podem estar aumentados inicialmente na tentativa de vencer o fator obstrutivo, a chamada peristalse de luta, apresentando aumento do timbre, conhecido caracteristicamente como som metálico, e gradualmente podem desaparecer devido à fadiga da musculatura lisa. Dor constante, de início súbito e com aumento da intensidade pode sugerir comprometimento vascular. Obstrução intestinal baixa (transição ileocecal e intestino grosso) -Na obstrução do cólon, normalmente há parada de eliminação de fezes e flatos precocemente associada à distensão abdominal importante. -A dilatação severa dos segmentos intestinais pode levar a comprometimento vascular com isquemia, necrose e perfuração. A perfuração ocorre principalmente em pacientes com válvula ileocecal (VIC) competente (75%), gerando obstrução em “alça fechada”, habitualmente na presença de tumores obstrutivos do cólon esquerdo ou sigmoide. Diferenças entre a obstrução alta e baixa Complicações -Ao exame físico, além dos sinais e sintomas descritos anteriormente, o paciente pode apresentar sinais de desidratação ou choque hipovolêmico. -A presença de sensibilidade/reatividade à palpação abdominal pode sugerir peritonite secundária ao estrangulamento de alça A presença de massas abdominais sugere processo inflamatório ou neoplásico. Diagnóstico - O diagnóstico de abdome agudo obstrutivo pode ser feito a partir de anamnese e exame físico minucioso. -Além disso, é necessário avaliar o estado geral do paciente, confirmar o diagnóstico e identificar a condição subjacente ao quadro obstrutivo. Exames complementares auxiliam no diagnóstico diferencial e na diferenciação entre obstrução funcional ou mecânica, sítio da obstrução e identificação de complicações. Exames de imagem Radiografia em decúbito dorsal e ortostase podem evidenciar dilatação de alças com nível líquido intraluminal proximais à obstrução, sugerindo o nível do processo obstrutivo. Na dilatação do jejuno podem-se verificar válvulas coniventes com aspecto de empilhamento de moedas. Dilatações ileais apresentam válvulas menos demarcadas. -Na dilatação colônica, normalmente verifica-se dilatação com padrão de “moldura” delineando a parede abdominal marginalmente. Não se evidencia gás no reto abaixo do fator obstrutivo. No vólvulo de sigmoide identifica-se a dilatação da alça associada ao megacólon. Ainda nesses casos pode haver impactação fecal com imagens em “miolo de pão” dentro da alça. Estudos contrastados -O trânsito intestinal e enema opaco - podem auxiliar no diagnóstico e manejo, principalmente em obstruções parciais do intestino delgado. Dado o risco potencial de perfuração, contrastes hidrossolúveis devem ser preferidos ao bário, uma vez que o extravasamento desses pode ocasionar peritonite grave. Tratamento Os objetivos do tratamento do abdome agudo obstrutivo são: A conduta conservadora pode ser escolhida em alguns casos, como em bolo de áscaris, invaginação intestinal, volvo de sigmoide, fecaloma e aderências. Em casos de aderências, acima de 75% dos casos a obstrução apresenta resolução apenascom tratamento conservador, caso não haja sinais de estrangulamento de alça. Obstruções do intestino delgado dificilmente se resolverão sem cirurgia caso não apresentem resolução dentro de 48 horas de tratamento conservador. Tratamento Cirúrgico -A cirurgia é indicada se existir uma causa subjacente que necessita de tratamento, a exemplo de tumor ou hérnias, mediante falha no tratamento conservador ou quando houver sinais de irritação peritoneal. -O procedimento de escolha depende da causa da obstrução, da existência de comprometimento vascular e da condição clínica do paciente. -Pacientes com obstruções do intestino delgado sem história sugestiva de aderências devem ser submetidos à laparotomia exploradora precocemente. Deve-se sempre melhorar a condição clínica do paciente antes da cirurgia com o intuito de reduzir a morbimortalidade associada ao quadro obstrutivo. -Quando há estrangulamento, após liberação de aderências, o cirurgião deve avaliar a viabilidade da alça acometida, analisando critérios como a integralidade da camada serosa, peristaltismo e pulsação de vasos mesentéricos. Nos casos de inviabilidade da alça deve-se proceder à ressecção do segmento com anastomose primária ou confecção de orifício dependendo da condição clínica do paciente. Nas obstruções colônicas o primeiro passo é a descompressão, sendo necessária cirurgia na maioria das obstruções mecânicas. A lesão obstrutiva deve ser removida sempre que possível. Tratamento Conservador -Volvo de sigmoide pode ser manejado clinicamente através da descompressão por retossigmoidoscopia; -Intussuscepção intestinal pode ser corrigida a partir do uso de enema opaco quando o contraste consegue vencer o fator obstrutivo, desfazendo a invaginação. Na síndrome de Olgivie, colonoscopia pode ser usada para descompressão dos cólons direito e transverso, mais tratamento com neostigmina. -Na vigência de distúrbios de motilidade sem, no entanto, apresentar fator mecânico obstrutivo, deve-se prosseguir à reposição hidroeletrolítica, à colocação de sonda nasogástrica e tratamento da causa subjacente. ABDOME AGUDO PERFURATIVO Definição -A principal característica dessa síndrome clínica é a dor abdominal, não traumática, de início súbito. Diferentemente do abdome agudo inflamatório, ocorre por perfuração de uma víscera oca. -As perfurações podem ainda ser classificadas como altas ou baixas, tendo como referência o Ligamento de Treitz. Nas perfurações altas geralmente se inicia por uma peritonite química, por liberação de sucos digestivos, que culmina com proliferação bacteriana e posterior processo infeccioso. Nas perfurações baixas, é esperado início por peritonite infecciosa de região já colonizada com evolução para um quadro sistêmico, podendo manifestar sinais de septicemia. Epidemiologia -É a terceira síndrome abdominal aguda mais frequente, ficando atrás de Abdome Agudo Inflamatório (1º) e Obstrutivo (2º). A taxa de mortalidade varia entre 8 a 10% se não tratada, dependendo a etiologia, como veremos adiante. -Dentre as principais etiologias, a úlcera péptica evolui com perfuração em 10% dos casos, havendo uma prevalência do duodeno em relação ao estômago (14:1). Fisiopatologia -A gênese dessa síndrome se dá pela perfuração de uma víscera oca. Essa perfuração pode ser decorrente de diversas causas, como: processo inflamatório, neoplásico, obstrutivo e infeccioso. Geralmente, a evolução se dá da seguinte forma: com o extravasamento de secreção luminal na cavidade temos uma inflamação peritoneal de natureza química de intensidade variável, seguida de invasão bacteriana secundária e progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e sistêmicas. As bactérias comumente encontradas são: Estômago e duodeno -As etiologias mais comuns são as úlceras agudas e crônicas, sendo essa perfuração geralmente associada à ingestão de álcool, corticoides e AINES. Neoplasias e corpos estranhos são causas importantes que podem também aparecer em outros segmentos. Intestino delgado -As perfurações proximais geram peritonite química inicialmente, já que há extravasamento de enzimas ativas, e as perfurações mais distais são acompanhadas de peritonite bacteriana. Intestino grosso -A peritonite é bacteriana desde o início. Além disso, a perfuração no colón direito é mais grave que a do esquerdo, devido à alta virulência dos germes e pela consistência líquida das fezes. - As perfurações podem ocorrer em peritônio livre com extravasamento do líquido e difusão para toda a cavidade abdominal, florindo o quadro clínico típico, ou de forma bloqueada gerando sinais e sintomas localizados – esses sinais e sintomas atípicos podem dificultar e retardar o diagnóstico. Clínica O sintoma invariável é a dor abdominal. A partir disso, as demais manifestações variam de acordo com local em que ocorreu a perfuração, o tempo decorrido entre o início do quadro e intervenção médica e o grau de distribuição dos líquidos extravasados. Lembrando que alguns pacientes, como idosos e imunosupressos podem ter o quadro mascarado. De um modo geral, temos: -A clínica pode ser acompanhada de sinais de sepse, hipotensão ou choque a depender da gravidade do caso. O acúmulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmática resultando em desconforto respiratório. -A dor pode ser lombar, nos casos de perfurações retroperitoneais, ou irradiarem para os ombros nos casos de perfuração em abdome superior que irritam o diafragma. -Abdome em tábua é uma contratura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonte difusa. No exame físico podem encontrar também distensão abdominal e ausência de ruídos hidroaéreos. -Lembrem sempre que os sinais e sintomas típicos ocorrem quando há peritônio livre – acometimento de toda cavidade abdominal com dor e peritonite generalizada. -Avaliar SEMPRE: se a peritonite é química ou bacteriana, nível da perfuração e presença de comprometimento sistêmico. Diagnósticos etiológicos Úlcera peptídica perfurada - São úlceras perfuradas que se estendem através da parede muscular serosa, permitindo a comunicação entre a luz da víscera e a cavidade abdominal, com extravasamento de conteúdo. As perfurações geralmente ocorrem por desequilíbrio entre secreção de ácidos e a barreira mucosa gástrica. Esse conteúdo gástrico e duodenal na cavidade abdominal resulta em peritonite química. Essas úlceras podem ser complicações da Doença úlcerosa peptídica e a prevalência de H. Pylori no desenvolvimento nessa doença faz com que essa colonização esteja relacionada ao Abdome Agudo Perfurativo. -Nesse caso, há aumento da secreção gástrica e diminuição da secreção de bicarbonato da mucosa. Divertículos -A perfuração espontânea de um divertículo em peritônio livre com consequente peritonite é rara, porém grave, podendo levar a óbito por sepse e falência de múltiplos órgãos. -Surgem por atividade cólica anormal, modificações da dieta ou fatores predisponentes constitucionais. Modificações na estrutura muscular dificultam o esvaziamento do conteúdo fecal, provocando erosões da mucosa e processos inflamatórios. Além disso, se houver comprometimento da perfusão sanguínea dos divertículos, pode haver necrose e perfuração intramural. -A pressão colônica força fezes e bactérias através da perfuração para dentro da cavidade abdominal, levando à peritonite generalizada e sepse. Corpos estranhos - Se um corpo estranho é ingerido por via oral ou retal é potencialmente capaz de causar um quadro de abdome agudo perfurativo. O esôfago costuma ser o local mais acometido por sua anatomia e localização, mas só a partir da cárdia, a perfuração começa a manifestar sintomas abdominais. Outroslocais acometidos são locais de estreitamento, como piloro, angulações duodenais e flexura duodenojejunal. Diagnóstico -O diagnóstico de um Abdome Agudo Perfurativo se baseia na história clínica minuciosa, exame físico criterioso e exames de imagem. Exames laboratoriais são inespecíficos, podendo nos ajudar a detectar apenas a presença de processos inflamatórios e infecciosos prévios. Assim, para confirmar a perfuração, métodos de imagem são os mais adequados. Diagnóstico por imagem -A característica principal é a presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, retroperitônio ou na parede dos órgãos. Em 75-80% dos casos há pneumoperitônio e nos demais casos é esperado bloqueio no local da perfuração e, portanto, ausência de gás no segmento perfurado. Radiografia simples -A radiografia é o exame inicial de escolha por ser um exame simples que mostra com facilidade o melhor indicador de perfuração: pneumoperitônio. -O quadrante superior direito é onde mais frequentemente vemos ar livre. A sensibilidade do exame pode ser elevada se o paciente permanecer na posição da incidência por 10-20 minutos. -A radiografia em ortostase é ideal para identificar ar entre o diafragma e o fígado ou estômago. Cerca de 50% do ar costuma se acumular abaixo do fígado ou no espaço hepatorrenal. Em decúbito lateral, temos boa visualização do ar entre o fígado e a parede abdominal lateral, enquanto em decúbito dorsal podemos visualizar alguns sinais que serão mostramos abaixo. Tomografia computadorizada - A TC é um método excelente por sua elevada sensibilidade e especificidade. Nos permite uma localização precisa da perfuração e distribuição do gás, além de possibilitar a visualização de abscessos, sinais sugestivos de obstrução e isquemia. Outros métodos - A videolaparoscopia pode ser útil principalmente nos paciente em unidade intensiva onde não há os parâmetros dos sinais e sintomas clínicos. Tratamento -A abordagem inicial consiste em medidas de suporte com monitorização e manejo inicial dos casos de hipotensão e choque. A antibioticoterapia de amplo espectro pode ser feita antes do tratamento definitivo ou no intra-operatório, podendo manter-se posteriormente. O tratamento é cirúrgico com objetivo de rafia da perfuração, com ou sem epiplonplastia nos casos de úlcera péptica perfurada, ou a ressecção da área comprometida, podendo fazer ressecção com anastomose primária ou com ostomia na impossibilidade de se realizar a anastomose: imunossupressão, desnutrição, infecção. ABDOME AGUDO ISQUÊMICO -Abdome agudo isquêmico é uma síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, não traumática, de início súbito ou intermitente, de intensidade variável, representado pela isquemia mesentérica ou intestinal por fornecimento inadequado de oxigênio para o intestino, que necessita de intervenção médica imediata por ser potencialmente fatal. A isquemia mesentérica pode ser aguda ou crônica, mesentérica (intestino delgado) ou colônica (intestino grosso). -A rapidez do diagnóstico está intrinsecamente ligada ao sucesso do tratamento e prognóstico. A taxa de mortalidade é elevada, com cerca de 30% nos casos de trombose e 75- 80% nos casos de obstrução arterial atribuído ao diagnóstico tardio. Fisiopatologia -Como dito, a isquemia mesentérica pode ser classificada pelo tempo de instalação em aguda ou crônica, e por localização como mesentérica e colônica. As três principais síndromes de isquemia intestinal são: -Como esperado, as regiões mais propensas à isquemia são as áreas pobres em circulação colateral, por dificuldade de compensar a perfusão em caso de obstrução na circulação principal, são áreas como a flexura esplênica e junção retossigmoide. Essa lesão intestinal pode se dar por dois mecanismos: - Na hipoperfusão, o comprometimento da oferta de oxigênio se dá com uma redução do fluxo intestinal maior que 50%. De forma geral, o intestino consegue compensar até 75% de hipoperfusão por até 12h sem dano substancial, pelo aumento da extração de oxigênio e circulação colateral. - Se houver manutenção da hipoperfusão, teremos vasoconstrição e redução do fluxo colateral. Em alguns casos, mesmo após restauração do fluxo, a vasoconstrição é mantida. Na reperfusão a lesão se dá por ação de espécies reativas de oxigênio. Principais fatores de risco: Cirurgia cardiovascular, doença cardíaca (em especial IAM), hemodiálise, trombofilias, DAOP podem constituir fatores de risco, assim como medicações vasoconstrictoras, como opióides, imunomoduladores e cocaína. Além disso, não podemos deixar de cogitar más formações arteriovenosas como origem da isquemia. CLÍNICA As manifestações de um quadro de abdome agudo isquêmico. As formas de apresentação e gravidade dependem dos fatores a seguir: Pode variar desde um quadro súbito (infartos) a quadros de angina abdominal crônica, além de apresentar sintomas variáveis como: -Sangramentos podem ocorrem na isquemia mesentérica crônica e na isquemia colônica, mas o principal sintoma presença em todos os casos é a dor abdominal. No abdome agudo isquêmico, a principal característica da dor abdominal é a desproporção entre a intensidade referida e o exame físico. No exame físico inicialmente o abdome pode estar normal, com dor leve a moderada. A peristalse normal ou aumentada como reação inicial à hipóxia. Com a progressão da isquemia, temos: Diagnóstico O diagnóstico precoce depende de reconhecer população de risco e o alto índice de suspeita clínica. Exames laboratoriais -Os exames laboratoriais são inespecíficos Pode haver: leucocitose em 75% dos casos, hemoconcentração, acidose metabólica, elevação do lactato, fosfato e amilase sérica (elevações menos que na pancreatite). Se houver necrose há elevação de LDH, CPK, Fosfatase Alcalina (fração intestinal). Exames de imagem -Devem ser solicitados nos casos de pacientes estáveis. O exame de primeira escolha pelo Colégio Americano de Radiologia na emergência é a Tomografia computadorizada com contraste de abdome, pois identifica aterosclerose e exclui outras causas de dor abdominal aguda. Nos casos de trombose da VMS, podemos ver: -A angiografia é o exame padrão ouro na isquemia mesentérica aguda e crônica, porém muitas vezes não é necessária devido ao diagnóstico pela TC. A vantagem da angiografia é que pode ser usada de forma terapêutica, como em uma abordagem endovascular ou injeção direta de vasodilatador. -Deve ser realizado nos casos suspeitados em outros exames de imagem. Além dos achados vasculares já descritos, podemos encontrar: Outros exames disponíveis: • USG com Doppler: pode ser feito como exame inicial nos casos de isquemia mesentérica crônica. Possui um valor preditivo negativo acima de 90%. É menos utilizado que a TC devido as suas desvantagens:examinador-dependente, interposição gasosa, cirurgia abdominal prévia. Colonoscopia: pode ser solicitada nos casos de isquemia colônica para confirmação diagnóstica. Deve ser feito com insuflação mínima para evitar distensão excessiva e somente nos casos estáveis, sem sinais de peritonite ou evidência de isquemia irreversível. Podemos visualizar: edema, eritema, mucosa friável, nódulos hemorrágicos, úlcera linear única no eixo longitudinal (sugestivo de isquemia). Tratamento -Em pacientes instáveis com suspeita de abdome agudo isquêmico, o tratamento não deve ser postergado visando confirmação diagnóstica com exames de imagem. -O manejo inicial inclui monitorização cardíaca e dos parâmetros ventilatórios, acesso venoso com reposição volêmicaindividualizada, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia e antibiótico venoso de amplo espectro. -O uso de antibiótico venoso protege contra translocação bacteriana e reduz inflamação intestinal por reduzir a flora intestinal. Os anticoagulantes são utilizados nos casos de oclusão arterial ou venosa e em alguns casos de isquemia mesentérica não oclusiva para evitar a formação de trombos e sua propagação, com exceção de casos de sangramento ativo. -A papaverina é um vasodilatador e pode ser utilizada nos casos de vasoconstricção, colocado diretamente na AMS. É importante fazer a suspensão de drogas vasoconstrictoras de uso prévio. -O tratamento definitivo é cirúrgico e pode ser necessário ressecção das alças isquemiadas. A exploração cirúrgica está indicada nos casos de: -Pode ser necessária uma segunda reabordagem (“second look”) em 24- 48h para reavaliar a persistência da isquemia. Nos casos de oclusão arterial mesentérica: Na isquemia mesentérica crônica geralmente o tratamento é conservador visando a prevenção da progressão da aterosclerose com terapia antiplaquetária e anticoagulação nos casos de trombos. A revascularização é indicada nos sintomáticos com estenose importante com o objetivo de prevenir infarto intestinal. -Na isquemia mesentérica crônica geralmente o tratamento é conservador visando a prevenção da progressão da aterosclerose com terapia antiplaquetária e anticoagulação nos casos de trombos. A revascularização é indicada nos sintomáticos com estenose importante com o objetivo de prevenir infarto intestinal. ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO -Inúmeras são as causas de hemorragia intra- abdominal. Possuem etiologias variadas abrangendo desde traumatismo abdominal, ruptura de aneurismas da aorta ou de alguma artéria visceral, neoplasias malignas até processos inflamatórios erosivos. Epidemiologia -Apesar de incomum, estando presente em apenas 2% dos pacientes que procuram atendimento de emergência com dor abdominal, se não diagnosticado precocemente, sua consequência pode ser fatal. -Sangramento abdominal pode ocorrer em qualquer idade, embora esteja mais presente entre 50 e 60 anos de idade. É mais frequente em homens, na proporção de 2:1. A etiologia varia de acordo com a idade e sexo. Etiologias Abdome Agudo Hemorrágico Vascular Ruptura de aneurisma de aorta abdominal -O aneurisma da aorta abdominal (AAA) está presente em 5-7% dos indivíduos acima dos 60 anos de idade, predominando mais no sexo masculino tendo como principais fatores de risco para essa categoria a idade >65 anos, hipertensão arterial (HAS), tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), aterosclerose, síndrome de Marfan, a síndrome de Ehlers-Danlos e antecedente familiar da doença. -Muitos pacientes com AAA são assintomáticos e o diagnóstico é suspeitado no exame físico pela palpação de massa pulsátil, distensão abdominal e dor à palpação. Nesses pacientes, o ultrassom ou a tomografia computadorizada confirma o diagnóstico. Em metade dos pacientes com AAA, a manifestação clínica inicial é apenas referida como desconforto ou dor abdominal mal caracterizada, podendo apresentar também dor na região dorsal. - Os sintomas associados à dor são vários, predominando náuseas e vômitos. Poucos pacientes, cerca de 12%, com ruptura de aneurisma sabem ser portadores de AA. -Quando ocorre ruptura, a hipotensão arterial está presente em 25% dos casos no atendimento inicial. O tratamento inicial é direcionado para estabilização hemodinâmica do paciente, sendo o grau desse acometimento definidor da urgência necessária na avaliação radiológica e na indicação cirúrgica. -Nos doentes instáveis hemodinamicamente, o diagnóstico da ruptura do AAA pode ser confirmado pelo ultrassom na sala de emergência, exame que detecta tanto a presença do AAA como de líquido livre na cavidade peritoneal. Ruptura de aneurisma das artérias viscerais abdominais 1-Aneurisma da artéria esplênica: é mais comum no sexo feminino e é o aneurisma mais comum entre os vasos viscerais abdominais, correspondendo a cerca de 60% de todos os aneurismas de artérias viscerais. -Tem como fatores de risco para ruptura desse aneurisma a hipertensão venosa portal, fibrodisplasia arterial e gravidez. O tratamento do paciente que é admitido no hospital com choque hipovolêmico em decorrência de sangramento por ruptura do aneurisma é a laparotomia exploradora imediata associada à reposição agressiva da volemia com soluções cristaloides e, quando necessário, com hemoderivados. -Quando o aneurisma se situa distalmente, nas proximidades do baço, o tratamento consiste na ligadura proximal da artéria, seguida de esplenectomia. 2-Aneurisma da artéria hepática: é predominante em homens acima de 60 anos de idade e corresponde ao segundo aneurisma de arterinal visceral mais comum. -Habitualmente é assintomático. Ao romper-se, manifesta dor no quadrante superior direito ou no epigástrio e mimetiza a colecistite e a pancreatite aguda. -Dependendo da localização, o sangramento pode exteriorizar-se por hematêmese ou melena, por erosão dos ductos biliares ou do tubo digestivo. A ressecção, ou a obliteração, dos aneurismas da artéria hepática está indicada em todos os pacientes. 3-Aneurisma da artéria mesentérica superior: é o terceiro mais comum. Ocorre em indivíduos abaixo de 50 anos e distribui-se igualmente entre os homens e as mulheres. -A maioria dos aneurismas da artéria mesentérica superior ocorre em consequência de endocardite bacteriana. -Os sintomas variam muito. Quando o aneurisma compromete a irrigação das alças intestinais, podem ocorrer cólicas abdominais após as refeições, sugestivas de claudicação intestinal. Quando há ruptura, a dor é intensa, difundida para todo o abdome e os sinais de choque tornam-se mais evidentes. -Pode ser acompanhada de náuseas. O tratamento dessas lesões é muito variável, dependendo localização do aneurisma, da condição de irrigação e de vitalidade das alças intestinais e da condição clínica do doente. Ruptura de Gravidez Ectópica -A gravidez ectópica (GE) ocorre entre 1-2% das gestações e corresponde a 10-15% das mortes maternas no 1º trimestre. Tem como principais ----- -fatores de risco cirurgias tubárias, gravidez ectópica prévia, uso de Dispositivo Intrauterino (DIU), tabagismo ≥ 20 cigarros por dia; técnicas de reprodução assistida e endometriose. -Quando forma da cavidade endometrial, o lugar mais frequente são as trompas, representando cerca de 95% dos casos. Contudo, também pode ocorrer nos ovários e na cavidade abdominal. -Os sintomas de uma GE rota pode se apresentar como atraso menstrual, geralmente o útero é menor do que o esperado, além de dor abdominal intensa, súbita, inicialmente em baixo ventre, que pode irradiar para ombro (Sinal de Lafond). Instabilidade hemodinâmica, hipotensão, taquicardia e choque hipovolêmico. Durante o exame físico há presença de dor à palpação abdominal, dor aguda ao toque do fundo de saco de Douglas. Além disso, pode apresentar sinal de Cullen. Os sintomas da gravidez inicial normal também estão presentes: aumento da sensibilidade mamária, náuseas e polaciúria. -O tratamento da GE rota consiste em avaliação da volemia materna, bem como reposição volêmica e tratamento do choque hipovolêmico. A abordagem cirúrgica de urgência, sendo realizado muitas vezes laparotomia exploratória com salpingectomia. -Em casos eventuais admite-se a salpingostomia com microcuretagem tubária e reconstituição da trompa atingida. É conduta alternativa reservada a paciente em boas condições, que deseja filhos e que possui a outra trompa comprometida. Diagnóstico Exames laboratoriais -Os exames laboratoriais podem ser importantespara quantificar o sangramento e suas repercussões fisiológicas. Na maioria das vezes, auxiliam no reconhecimento de alguma condição predisponente ao sangramento. Poucos são os que permitem definir sua causa. -Se as hemorragias forem quantidade considerável e se houver tempo suficiente para que se instalem os mecanismos compensatórios desencadeados pela hipovolemia, os valores da hemoglobina e a do hematócrito estarão reduzidos. -A leucocitose é usual e decorre da irritação peritoneal provocada pela hemoglobina e da própria resposta homeostática à hipovolemia. O número de leucócitos pode variar, dependendo do tempo de instalação do hemoperitônio. -A contagem do número de plaquetas é obrigatória. O estudo global da coagulação é útil para o diagnóstico e orienta o tratamento. A atividade da protrombina, a tromboplastina parcial ativada e a trombina são os mais utilizados. -O teste de gravidez é realizado quando a suspeita for prenhez ectópica rota Outros métodos diagnósticos -A ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, tem permitido o diagnóstico na maioria dos casos, com a vantagem de não serem invasivos. -A videolaparoscopia encontra sua indicação nos doentes com dor abdominal aguda cuja indicação cirúrgica é duvidosa e nas afecções cuja correção cirúrgica é viável por esse método de acesso. - Na dúvida diagnóstica, a videolaparoscopia pode reduzir a realização de laparotomia desnecessária de 19% para 0%. -Nas doenças ginecológicas agudas, a videolaparoscopia é capaz de confirmar o diagnóstico em 82% dos casos com cisto de ovário e em 80% das doentes com hemorragia do corpo lúteo. As contraindicações do videolaparoscopia são insuficiência respiratória grave, choque hipovolêmico, obesidade mórbida, múltiplas intervenções abdominais prévias e coagulopatias. ORIENTAÇÕES PARA O ATENDIMENTO DE ADOLESCENTES DESACOMPANHADOS NO PRONTO SOCORRO -A Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude recomenda que, em casos de Urgência/Emergência, os profissionais aceitem a internação da criança ou adolescente que esteja desacompanhado, para em seguida informar o fato ao Conselho Tutelar para que sejam adotadas providências no sentido de regularizar a situação do infante. -Nos casos de Intervenção Eletiva, somente deve ser aceita a internação da criança ou adolescente que esteja acompanhado, remetendo os casos de desacompanhados, ou com representação legal não regularizada, ao Conselho Tutelar, para viabilizar a pesquisa do histórico familiar do paciente. -As Recomendações da Promotoria de Justiça da Criança e do Adolescente, sobre a assistência médica ao paciente menor de idade, refere-se exclusivamente aos casos onde é necessário o internamento do menor em unidades de saúde; no Parecer Consulta em tela, o foco limita-se ao atendimento inicial da Criança ou do Adolescente desacompanhado, exclusos os demais casos. Adolescentes e jovens podem ser atendidos sozinhos, caso desejem, sendo reconhecidas sua autonomia e individualidade, e será estimulada sua responsabilidade para com sua saúde; eles devem ter garantido o direito ao sigilo das informações obtidas durante este atendimento. Mas, os fatores privacidade do paciente e sigilo do médico, devem ser equilibrados de tal forma que não resultem em diminuição da responsabilidade familiar ou sonegação do direito dos pais ou responsáveis de conhecer os problemas do menor. -A quebra deste sigilo deve ser considerada sempre que houver risco de vida ou outros riscos relevantes tanto para o paciente quanto para terceiros, a exemplo de situações como abuso sexual, risco ou tentativa de suicídio, risco ou tentativa de aborto, dependência de drogas, gravidez e outros. Nestes casos, a necessidade da quebra de sigilo deverá ser comunicada ao adolescente. -O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de maturidade, autonomia e risco do adolescente, e estes aspectos devem ser avaliados em conjunto com o paciente. Tanto a adesão inquestionável à confidencialidade como a ausência total da mesma é indesejável para a ética e a lei. -Quanto à questão legal, o princípio de beneficência é soberano. No caso da confidencialidade, é reconhecido seu benefício no atendimento do adolescente, pois favorece a formação de uma relação médico-paciente estável e facilita a adoção das medidas de prevenção. É recomendado que o médico mantenha uma terceira pessoa (acompanhante do paciente, profissional de enfermagem, etc.) durante o exame, especialmente se médico e paciente forem de sexos opostos ou se, na avaliação, estiver incluso exame de partes íntimas do paciente. FONTES: -Pareceres dos conselhos federal e regionais de medicina sobre o atendimento a adolescentes; Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. -Goldman, L.; Schafer, AI. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016. -ung PJ, Merrell RC. Acute abdomen. Gastroenterol Clin North Am. 1988;17:227-244. -Stefanidis D, Richardson WS, Chang L, et al. The role of diagnostic laparoscopy for acute abdominal conditions: an evidence-based review. Surg Endosc. 2009;23:16-23. -Maggio AQ, Reece-Smith AM, Tang TY, et al. Early laparoscopy versus active observation in acute abdominal pain: systematic review and meta- analysis. Int J Surg. -Medicina de emergência: revisão rápida / editores Herlon Martins...[et al.]. – Barueri, SP: Manole, 2017. 8;6:400-403. -Emergências clínicas: abordagem prática / Herlon Saraiva Martins…[et al.].-- 10. ed. rev. e atual. -- Barueri, SP: Manole, 2015. -Adriano Brunetti, Sandro Scarpelini. Abdômen agudo. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (3): 358- 67, jul./set -Abdome agudo: clínica e imagem. Antonio Carlos Lopes, Samuel Reibscheid, Jacob Szejnfeld. São Paulo: Editora Atheneu, 2006.
Compartilhar