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Anderson Soares Abdome Abdome OBJETIVOS 1. Compreender a epidemiologia, etiologia e fatores de risco do abdome agudo; 2. Discorrer sobre a caracterização e os tipos de abdome agudo; 3. Conhecer a fisiopatologia do abdome agudo 4. Listar as manifestações clínicas e complicações do abdome agudo; 5. Entender o diagnóstico, diagnóstico diferencial do abdome agudo; 6. Relatar o manejo do abdome agudo. EPIDEMIOLOGIA Não há números exatos disponíveis, mas entre 7% e 10% das visitas ao departamento de emergência são para dor abdominal. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), usando dados do National Hospital Ambulatory Medical Care Survey de 1999 a 2008, relataram que 11% das visitas ao pronto-socorro em 2008 foram por dor abdominal e que a dor abdominal foi responsável por 12,5% das emergências. ou pacientes urgentes. Cerca de um terço dos pacientes com dor abdominal são diagnosticados com dor abdominal inespecífica. Outros 30% têm cólica renal aguda. ETIOLOGIA As causas comuns de abdome agudo incluem apendicite aguda, colecistite, pancreatite e diverticulite. A peritonite aguda é uma causa de abdome agudo e pode resultar da ruptura de uma víscera oca ou como complicação de doença inflamatória intestinal ou malignidade. Os eventos vasculares que causam abdome agudo incluem isquemia mesentérica e aneurisma de aorta abdominal roto. Causas obstétricas e ginecológicas incluem gravidez ectópica rompida e torção ovariana. Condições urológicas, incluindo cólica ureteral e pielonefrite, também podem se apresentar como dor abdominal aguda. Muitos autores incluem a obstrução do intestino delgado como causa de abdome agudo. Os recém-nascidos podem apresentar enterocolite necrosante. O volvo do intestino médio apresenta 40% das vezes na primeira semana de vida, 50% no primeiro mês e 75% no primeiro ano. A intussuscepção geralmente ocorre em idades de nove a 24 meses. A causa mais comum de abdome agudo pediátrico é a apendicite FATORES DE RISCO Para o abdome agudo hemorrágico: • Arteriosclerose e hipertensão arterial • Coagulopatias • Uso de medicamentos que alteram a coagulação é usual: o Antiinflamatórios não-hormonais, o Anticoagulantes orais o Heparina de baixo peso molecular ou não. agudo Anderson Soares CARACTERIZAÇÃO Situação emergencial, caracterizada pelo aparecimento abrupto de sintomas abdominais, em geral graves, sugerindo uma evolução potencialmente fatal. Os termos abdome agudo ou abdome cirúrgico talvez não sejam os mais adequados, já que encontramos alguns casos de abdome rígido, em “tábua”, como na febre do Mediterrâneo, que não são agudos e os de pancreatite aguda edematosa, em que a cirurgia estaria contraindicada. Inúmeras tentativas de se retirar tais termos já foram feitas, sem sucesso. Talvez isso se deva ao fato de que os pacientes que tenham esse rótulo recebam maior atenção para que o diagnóstico e intervenções sejam praticados mais agilmente, melhorando seus prognósticos e complicações. Dessa forma, alguns autores sugerem a denominação “dor abdominal aguda de 1 a 72 horas”, já que sintomas por períodos maiores ou menores em geral não necessitam de diagnósticos imediatos e/ou tratamentos de urgência. TIPOS A maior parte dos casos é classificada em 5 síndromes: 1. OBSTRUTIVA • Obstrução pilórica; • Hérnias; • Bridas; • Por Áscaris, corpos estranhos, cálculo biliar etc.; • Vôlvulo; • Intussuscepção intestinal. 2. PERFURATIVA • Úlcera péptica; • Câncer gastrointestinal; • Processos inflamatórios intestinais (febre tifóide, amebíase, doença de Crohn etc.); • Perfuração de divertículos de colo; • Perfuração de apendicite; • Perfuração de vesícula biliar. 3. VASCULAR/ISQUÊMICA • Trombose da artéria mesentérica; • Torção do grande omento; • Torção do pedículo de cisto ovariano; • Infarto esplênico. 4. INFLAMATÓRIA • Apendicite aguda; • Colecistite aguda; • Pancreatite aguda; • Diverticulite dos colos; • Doença inflamatória pélvica; • Abscessos intracavitários; • Febre do Mediterrâneo. 5. HEMORRÁGICA • Prenhez ectópica; • Rotura de aneurisma de aorta abdominal; • Cisto hemorrágico de ovário; • Rotura de baço; • Endometriose; • Necrose tumoral. FISIOPATOLOGIA INFLAMATÓRIO É o tipo mais comum de abdome agudo. Habitualmente, o processo se inicia com a obstrução mecânica de vísceras ocas normais, ou anatomicamente alteradas (divertículos, por exemplo), originando diversos fenômenos inflamatórios na parede da víscera, com tendência à progressão para infecção franca e comprometimento da vascularização do órgão. O início do quadro geralmente é insidioso, com sintomas a princípio vagos (dor abdominal incaracterística, náuseas, anorexia, vômito, alteração do trânsito intestinal). A dor abdominal pode levar de uma a várias horas para atingir seu pico, ocasionalmente até dias, sendo inicialmente mal definida. Com o evoluir da doença, e com o acometimento do peritônio parietal adjacente ao órgão afetado, a dor torna-se bem localizada e piora progressivamente. É comum a presença de massas à palpação do abdome, resultantes da reação do peritônio à agressão, na tentativa de limitar o processo e preservar o restante da cavidade. Caso o peritônio não consiga bloquear o processo, e o tratamento adequado demore a ser instituído, observa- se evolução para peritonite disseminada. Todo agente inflamatório ou infeccioso, ao atingir o peritônio, acarreta irritação do mesmo, cuja intensidade é diretamente proporcional ao estádio do processo etiológico. Segue-se a instalação progressiva de íleo paralítico localizado ou generalizado. Esse fenômeno é justificado pela lei de Stokes que diz: “Toda vez que a serosa que envolve uma musculatura lisa sofre irritação, esta entra em paresia ou paralisia.” Por outro lado, a resposta do peritônio parietal exterioriza-se clinicamente por dor mais bem localizada e contratura da musculatura abdominal localizada ou generalizada, dependendo da evolução do processo. É importante salientar que a contratura muscular pode ser voluntária ou, mesmo, determinada por doença extraabdominal. Anderson Soares PERFURATIVO Trata-se de uma das causas mais frequentes de cirurgia abdominal de urgência. A dor tem início súbito, geralmente dramático, já começando de forma intensa, rapidamente atingindo seu pico. Os pacientes costumam precisar a hora exata do início do sintoma. O problema advém do extravasamento de secreção contida no trato gastrintestinal para a cavidade peritoneal, o que é traduzido por peritonite. A dor tipo somática vem da irritação química do peritônio, e, quanto menor o pH, maior a irritação. O exame clínico demonstra silêncio abdominal e rigidez muscular, detectada como "abdome em tábua". A temperatura é normal, e náuseas e vômito podem estar presentes. A radiografia simples revela pneumoperitônio, sendo o exame de imagem de escolha para o diagnóstico. Em 12 h de evolução do quadro, a peritonite química torna-se bacteriana, aparecendo os sinais de infecção. As perfurações costumam ser divididas em altas (gastroduodenal e delgado proximal) e baixas (delgado distai e cólon). Nas perfurações mais baixas de delgado, a dor abdominal é mais discreta, e os sinais de irritação peritoneal são menos exuberantes, mas originam quadros sépticos mais precoces, em função da flora bacteriana local. Perfurações do delgado proximal comportam-se como as gastroduodenais, com dor abdominal intensa e grande irritação peritoneal. Perfurações do intestino grosso traduzem manifestações clínicas e peritoneais intensas, com evolução rápida para peritonite fecal, devido ao conteúdo altamente infectado desse segmento. VASCULAR Lesão isquêmica inicial, decorrente da reduçãodo fluxo arterial ou venoso (o que leva a lesões precoces na mucosa, tornando-se posteriormente transmurais), perpetuada pelo vaso-espasmo reflexo da circulação mesentérica e completada pela lesão de reperfusão (principalmente pela formação e ação de radicais livres de oxigênio, que desencadeiam a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, podendo evoluir para falência de múltiplos órgãos). De forma geral, a principal artéria responsável pela perfusão intestinal pode ser considerada a artéria mesentérica superior (AMS); quando ocluída ou estenótica é a que mais freqüentemente causa sintomas de angina abdominal. Geralmente, a obstrução da artéria mesentérica inferior (AMI) e/ou do tronco celíaco (TC) costuma ser mais bem tolerada. Como se trata de um quadro abrupto, e principalmente nos casos de embolia, não há tempo para o desenvolvimento de uma rede de circulação colateral que seja suficiente para manter nem mesmo o metabolismo mínimo intestinal. O êmbolo aloja-se na circulação mais distal, poupa o óstio dos ramos principais e, assim sendo, pode preservar em maior ou menor grau territórios do órgão. A trombose aguda costumeiramente ocorre nos óstios das principais artérias e, associada a frequente presença de aterosclerose em múltiplas artérias, leva à isquemia de extensas áreas, sendo a sobrevida uma exceção. A respeito das causas não-oclusivas, durante o choque de qualquer origem ocorre a vasoconstrição arterial visceral a fim de dirigir o fluxo sangüíneo para as áreas mais críticas como cérebro e coração, o que, associado à vasoconstrição venosa, pode acrescentar até 30% de volume ao espaço intravascular. Por algum mecanismo ou pelo emprego de vasopressores para o controle da hipotensão, tal constrição pode prolongar-se por horas, mesmo após a normalização dos parâmetros hemodinâmicos. O sistema renina-angiotensina provavelmente exerce uma função central, visto que sua inibição parece proteger o intestino da isquemia durante o choque. Após a cirurgia para correção da coarctação do arco aórtico, a relativa hipertensão a que ficam expostos os vasos viscerais pode cursar com um vasoespasmo reflexo e um quadro de vasculite necrotizante de graves consequências. A mucosa intestinal, principalmente do delgado, é a primeira e mais gravemente afetada. Isquemia acima de uma hora pode produzir edema da submucosa seguido de desprendimento da mucosa, ulcerações e sangramento das vilosidades intestinais. Há perda da barreira entre o conteúdo intestinal e o sangue, produção de fatores inflamatórios locais que agravam as lesões através da mobilização das células de defesa e fagocitárias e risco de translocação bacteriana. Havendo a manutenção da isquemia, há piora do edema, que, associado ao processo inflamatório iniciado localmente, piora o ambiente celular local, permitindo a extensão da lesão para as demais camadas da alça. A camada muscular afetada não cumpre sua função de peristalse normal, determinando assim estase do conteúdo e aumento de pressão local, o que dificulta ainda mais a já deficiente perfusão tecidual. O último estágio desse processo mórbido compreende a gangrena de toda a parede intestinal, perda de sua estrutura física culminando em perfuração com extravasamento do conteúdo intestinal e, conseqüente, peritonite fecal. OBSTRUTIVO Embora a obstrução intestinal mecânica simples, a obstrução com estrangulamento, a obstrução em alça fechada e o íleo paralítico tenham muitos aspectos em comum, existem diferenças importantes na fisiopatologia e no tratamento dessas entidades. OBSTRUÇÃO INTESTINAL MECÂNICA SIMPLES As principais alterações fisiológicas do intestino com obstrução mecânica, porém com suprimento de sangue A intensidade dos sintomas e a gravidade do quadro clínico dependerão do local e do tempo de evolução da perfuração, do tipo de secreção extravasada e das condições do doente. Inicialmente, ocorre uma inflamação peritoneal de natureza química, principalmente nas perfurações altas do trato digestivo, seguida de invasão bacteriana secundária e progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e sistêmicas. Em relação ao intestino grosso, a peritonite é séptica desde o início. Anderson Soares intacto, são o acúmulo de líquido e gás acima do ponto de obstrução e a alteração da motilidade intestinal, que, somados, levam a alterações sistêmicas importantes. O fator tóxico da obstrução intestinal mecânica é a perda de líquidos e eletrólitos por vômito e sequestro na alça intestinal obstruída. O acúmulo de líquido no interior da alça intestinal obstruída ocorre de modo progressivo. O movimento de líquidos entre a luz intestinal e o sangue ocorre de duas maneiras: absorção (movimento de líquido da luz intestinal para o sangue) e secreção (movimento de líquido do sangue para a luz intestinal). Após 48 horas de obstrução intestinal, o movimento de líquido é predominantemente do sangue para a luz intestinal, aumentando muito a quantidade de líquido no intestino obstruído. O mesmo fenômeno acontece com o sódio e o potássio. A composição do líquido acumulado na luz intestinal é semelhante à do plasma. O principal componente do acúmulo de líquido na alça intestinal obstruída é o aumento de secreção. A distensão abdominal aumenta a secreção de prostaglandina, que, por sua vez, produz um aumento na secreção intestinal. O segmento proximal à obstrução fica repleto de líquido e eletrólitos, o que provoca mais distensão e compromete a circulação. Esse conteúdo caminha em sentido proximal, chegando a segmentos intestinais que ainda possuem a capacidade absortiva. Caso a obstrução não se resolva, esses segmentos proximais também ficam distendidos e com a circulação e a absorção comprometidas. Esse processo pode comprometer todo o intestino proximal à obstrução. Outro local de perda de líquidos e eletrólitos é a parede do intestino obstruído. A parede intestinal pode ficar bastante edemaciada a ponto de perder líquido através da serosa para a cavidade peritoneal. A quantidade de líquido e eletrólitos perdidos na parede intestinal e na cavidade peritoneal depende da extensão, da congestão venosa e edema e do tempo de obstrução. A perda mais óbvia de líquidos e eletrólitos é através do vômito ou do débito da sonda nasogástrica. A soma de todas essas perdas depleta o fluido do espaço extracelular, produzindo hemoconcentração, hipovolemia, insuficiência renal, choque e morte, a não ser que o tratamento seja instituído rapidamente. O gás do intestino delgado é composto de ar atmosférico, que, após ter sido deglutido, foi acrescido de outros gases não encontrados no ar ambiente. A absorção do gás intestinal depende da sua pressão parcial no intestino, no plasma e no ar da respiração. O nitrogênio é pouco difundido, porque a sua pressão parcial é muito semelhante nesses três locais. Já o dióxido de carbono é muito difusível, porque a sua pressão parcial é alta no intestino, intermediária no plasma e baixa no ar. Por esse motivo, o dióxido de carbono produzido no intestino contribui muito pouco para a distensão intestinal. Assim que a obstrução ocorre, o peristaltismo intestinal aumenta como resposta do intestino a fim de resolver a obstrução. Após algum tempo, o peristaltismo contínuo é substituído por períodos intermitentes de peristaltismo aumentado, intercalados com períodos de acalmia. O peristaltismo aumentado pode ser violento o bastante a ponto de traumatizar o intestino e provocar mais edema. A distensão intestinal proximal à obstrução provoca uma inibição do peristaltismo distal a ela. OBSTRUÇÃO COM ESTRANGULAMENTO Denomina-se obstrução com estrangulamento a obstrução intestinal associada ao comprometimento da irrigação sanguínea. A compressão dos vasos do mesentério éa causa da interrupção do suprimento de sangue ao intestino, acarretando isquemia e necrose. Essa situação é mais frequente na obstrução por aderências, hérnias ou volvo. À compressão das veias e à dificuldade do retorno venoso soma-se o problema do acúmulo de líquido e gás já descrito, levando a pequenos sangramentos na luz intestinal e na parede das alças. O segmento de intestino necrosado libera substâncias tóxicas na cavidade peritoneal e na luz do intestino. Os fatores que mais interferem na fisiopatologia da obstrução com estrangulamento são os seguintes: o conteúdo da alça obstruída é tóxico; as bactérias aí presentes são importantes para a produção dessas toxinas; os segmentos de intestino que não estão necrosados não participam na formação dessas toxinas; as toxinas não passam através de mucosa normal; a absorção das toxinas é mais importante do que a sua produção; e os sintomas podem estar correlacionados com a formação dessas toxinas. OBSTRUÇÃO EM ALÇA FECHADA Quando uma alça intestinal se encontra obstruída simultaneamente nas extremidades proximal e distal, caracteriza-se uma obstrução em alça fechada. A obstrução em alça fechada pode progredir rapidamente para o estrangulamento. A interrupção do suprimento sanguíneo pode ocorrer pela mesma causa que provocou a obstrução em alça fechada (aderências, hérnia ou volvo), ou simplesmente pela grande distensão da alça obstruída. A pressão no interior da alça obstruída pode atingir níveis iguais ao do sistema venoso, interrompendo o fluxo de sangue nas veias e aumentado o edema intestinal. ÍLEO PARALÍTICO O íleo paralítico pode apresentar-se sob três formas: o íleo adinâmico, o íleo espástico e o íleo da oclusão vascular. O íleo adinâmico é o mais comum e costuma ocorrer após cirurgias abdominais. A fisiopatologia do íleo adinâmico não está completamente esclarecida, porém parece envolver o comprometimento da resposta neuro- hormonal relacionada ao intestino. A recuperação da motilidade intestinal no período pós-operatório de cirurgia abdominal é diferente nos vários segmentos do trato gastrointestinal. O intestino delgado recupera sua motilidade em aproximadamente 24 horas, o estômago, em 48 horas e o intestino grosso, em três a cinco dias. Além da cirurgia abdominal, outras causas de inibição da motilidade intestinal são as inflamações peritoneais, como a apendicite e a pancreatite aguda, as patologias que envolvem o retroperitônio, como a cólica ureteral, o hematoma retroperitoneal ou a fratura de coluna, as lesões torácicas, como a pneumonia de base do pulmão, ou as fraturas de costelas e as causas sistêmicas, como a toxemia grave, a hiponatremia e a hipocalemia, ou a hipomagnesemia. Drogas como a morfina, a propantelina, os antiácidos, os anticoagulantes, as fenotiazinas e os agentes bloqueadores ganglionares também podem provocar íleo adinâmico. O íleo espástico não é comum, porém surge em consequência de uma hiper-reatividade do intestino. Pode ocorrer na intoxicação por metais pesados, na porfiria e, às vezes, Anderson Soares quando existe uremia. O íleo com oclusão vascular caracteriza-se por uma incapacidade de coordenação da motilidade intestinal, em consequência da morte celular resultante da isquemia. HEMORRÁGICO Nos quadros de abdome agudo hemorrágico, além da dor súbita, chama a atenção o rápido comprometimento hemodinâmico, com palidez intensa e hipovolemia acentuada Apesar da forte dor, não se encontra contratura muscular no hemoperitônio, visto que o sangue não é tão irritante para a serosa peritoneaL Os exames mostram queda progressiva dos níveis hematimétricos. A ruptura espontânea de vísceras parenquimatosas e a ruptura vascular não são situações comuns, e o abdome agudo hemorrágico é mais frequentemente associado ao trauma, ao pós-operatório e a complicações pós- procedimentos (biopsias hepáticas, por exemplo). Na mulher em idade fértil, sempre ponderar a possibilidade de gravidez ectópica rota. O tratamento é a cirurgia imediata, mas a arteriografia pode ser terapêutica em alguns casos. Nos casos de hematomas pós-operatórios estáveis, a conduta é expectante. Nos pacientes em uso de anticoagulantes, com formação de hematomas abdominais, a conduta também é expectante a princípio, com suspensão da anticoagulação. A ruptura de aneurisma de aorta abdominal acomete geralmente pacientes idosos do sexo masculino, população na qual a incidência de aneurisma é maior. A aterosclerose é a causa principal, mas trauma, infecção (sífilis) e arterites são causas possíveis. A sede mais comum do aneurisma é a aorta abdominal, estando quase todos localizados abaixo das artérias renais. O risco de ruptura aumenta com o tamanho do aneurisma, sendo baixo nos menores de 5 em. Cinquenta por cento dos aneurismas que atingem 6 em se rompem em 1 ano. A apresentação clássica é dor abdominal difusa, intensa, associada a hipotensão e massa abdominal pulsátil. Antes da ruptura, o aneurisma passa por um processo de distensão aguda (dito expansão), o que leva ao estiramento do plexo nervoso perivascular, gerando dor intensa nos flancos ou no dorso. O local mais comum de ruptura é no retroperitônio, e o hematoma que se forma contém a hemorragia por algumas horas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As informações obtidas pela história clínica, exame físico, exames laboratoriais e de imagem geralmente permitem um diagnóstico, mas ainda pode permanecer uma incerteza. O cirurgião deve tomar a decisão de operar ou não, baseado nas informações obtidas. É prudente dividir, baseado no raciocínio clínico, o abdômen agudo em "síndromes": inflamatória, perfurativa, obstrutiva, vascular e hemorrágica. INFLAMATÓRIO: a dor é de início insidioso, com agravamento e localização com o tempo. O paciente apresenta sinais sistêmicos, tais como febre e taquicardia. As doenças mais comuns são: apendicite aguda, colecistite aguda, diverticulite aguda, pancreatite, anexite aguda. A apendicite é a causa mais comum de abdômen agudo cirúrgico no mundo. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais comum em adolescentes e adultos jovens (Figuras 3 e 4). PERFURATIVO: a dor é súbita e intensa, comdefesa abdominal e irritação peritoneal. Há derramedo conteúdo de víscera oca no peritônio, geralmentesecundário à úlcera gastroduodenal, diverticulite, cor-pos estranhos e neoplasias (Figura 5). OBSTRUTIVO: a dor é em cólica, geralmente periumbilical. Associadamente surgem náuseas, vômitos, distensão abdominal, parada da eliminação de flatos e fezes. Acontece na oclusão mecânica por bridas hérnias, neoplasias e invaginação (Figura 6). Anderson Soares VASCULAR: a dor é difusa e mal definida, há desproporção entre a dor e o exame físico e as causas mais comuns são embolia e trombose mesentérica, com isquemia intestinal. HEMORRÁGICO: a dor é intensa, com rigidez e dor à descompressão; há sinais de hipovolemia, tais como hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese. As causas mais comuns são prenhez ectópica rota, ruptura de cistos, ruptura de aneurismas, rotura de baço(quadro 2).O cirurgião não precisa saber o diagnóstico, mas precisa saber se há ou não necessidade de cirurgia. Existem causas não-cirúrgicas de dor abdominal O cirurgião deve ser capaz de avaliar o paciente e decidir sobre a necessidade de cirurgia. Os antigos cirurgiões experientes diziam: "Não se deve esperar amanhecer para operar um paciente com abdômen agudo". DOR ABDOMINAL A dor representa o melhor elemento para caracterizar ou mesmo para tentar definir o abdome agudo, fato que justifica o aforismo: não existe abdome agudo sem dor. Não devemos nos esquecer, entretanto, de que a dor é uma sensação subjetiva, que depende da consciência para sua interpretação e que é modulada por fatoreseducacionais, afetivos, culturais, e até religiosos, bem como pelo próprio estado psíquico de cada indivíduo (ansiedade, depressão). Para facilitar a avaliação da dor, Cope aconselha pensar anatomicamente sempre que o conhecimento das relações estruturais dos órgãos representar vantagem (Figura 112.1). Porém, não é suficiente conhecer somente a anatomia macroscópica abdominal, precisamos compreender a inervação das estruturas e as vias de transmissão dos impulsos dolorosos. Os nociceptores são terminações nervosas livres que têm a função de receber os estímulos dolorosos que serão conduzidos pelas fibras nervosas até o cérebro, dando uma informação de dano ou lesão com a finalidade de proteção e manutenção da integridade do organismo. O peritônio visceral e os órgãos abdominais revestidos por ele são inervados por fibras tipo C, não mielinizadas, que caminham pelo sistema nervoso autônomo a uma velocidade de 0,5 a 2,0 m/s. Essas fibras são sensíveis a distensão, isquemia, tração, compressão e torção e conduzem uma dor difusa, de início lento e duração longa, com um componente emocional marcante e capaz de produzir manifestações sistêmicas, tais como náuseas, sudorese, diminuição da pressão arterial e da frequência cardíaca. Esta dor é percebida na projeção da linha mediana e recebe o nome de dor visceral. O peritônio parietal e a raiz do mesentério apresentam maior quantidade de nociceptores e são inervados por fibras tipo A delta, mielinizadas, que conduzem o estímulo doloroso a uma velocidade de 12 a 30 m/s (via da dor rápida-aguda). Essas terminações nervosas são estimuladas por diversos agentes irritantes (conteúdo gastrintestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue, pus) e por substâncias (bradicinina, serotonina, histamina, prostaglandina e enzimas proteolíticas) e conduzem a uma dor aguda, bem localizada, de curta duração e com componente emocional fraco. Essa dor piora com movimento de tosse e pode acarretar contratura muscular, que é reflexa à inervação comum do peritônio parietal e da musculatura abdominal. Essa dor recebe o nome de dor somática; seu exemplo clássico é a evolução da apendicite aguda, que se inicia com uma dor difusa pelo abdome e evolui para uma dor localizada no ponto de McBurney, isso quando o processo inflamatório atinge o peritônio parietal. A dor referida é percebida em local diferente do estímulo que a gerou. Dessa forma, um estímulo gerado em um nociceptor da serosa abdominal pode provocar contratura reflexa da musculatura do dermátomo correspondente, que apresenta inervação comum, ou uma mesma origem embrionária. Um exemplo clássico é a dor referida no ombro resultante de processos patológicos que afetam o diafragma ou a vesícula. NÁUSEAS E VÔMITO São sintomas equivalentes e muito comuns no abdome agudo de várias etiologias. As náuseas geralmente precedem o vômito, e é o seu equivalente. As principais causas para o aparecimento desses sintomas são: obstrução dos órgãos de musculatura lisa, irritação intensa dos nervos do peritônio e a toxemia. Durante a anamnese, é importante verificar a frequência dos vômitos, sua relação com o início da dor e o aspecto do material vomitado. Na apendicite e na colecistite agudas típicas, o vômito surge após o início da dor. Na pancreatite aguda, o vômito é frequente, intenso e persistente, surgindo com o início da dor. Na obstrução aguda do ureter e do colédoco, o vômito surge simultaneamente à dor e também é frequente. Na obstrução intestinal, ele está presente e será tão mais tardio quanto mais distai for o local da obstrução. FEBRE Uma temperatura axilar superior a 37,5°C pode estar presente em quase todos os quadros abdominais agudos; porém, a ausência de febre não descarta o diagnóstico de abdome agudo, principalmente em idosos e imunocomprometidos. O relato de calafrio pode Anderson Soares significar bacteremia, achado comum nos quadros de colangite e de peritonite. A elevação da temperatura retal não é específica de nenhuma doença, podendo ocorrer em qualquer processo inflamatório localizado na pelve. ANOREXIA O relato de anorexia precedendo o início da dor é comum em quadros de abdome agudo inflamatório. Todavia, anorexia precedendo o início do quadro em dias ou meses sugere doença maligna. FUNÇÃO INTESTINAL Durante a anamnese, é importante interrogar sobre a presença de constipação intestinal, diarreia, melena e enterorragia. Um longo período de constipação intestinal é achado frequentemente na obstrução por fecaloma ou vólvulo do sigmoide. A constipação intestinal com parada completa da eliminação de gases e fezes associada à dor abdominal em cólica e vômito caracteriza a tríade da obstrução intestinal. No entanto, não podemos esquecer que mesmo o paciente com obstrução total poderá eliminar o conteúdo fecal distai à oclusão e, até mesmo, apresentar diarreia, como em alguns casos de pinça ento intestinal. A diarreia é frequente em vários tipos de abdome agudo inflamatório, como: apendicite (principal ente em crianças), abscessos paracecais e DIP. Eliminação de sangue, misturado ou não nas fezes, pode estar presente em quadros de invaginação intestinal (crianças) e na neoplasia de cólon. CICLO MENSTRUAL Nas mulheres em fase reprodutiva, especialmente naquelas com vida sexual ativa, a dor abdominal deve ser correlacionada com o ciclo menstrual. Devemos interrogar sobre irregularidades nos três últimos ciclos, data da última menstruação, presença de dispareunia, características do corrimento vaginal, contato sexual e sangramentos, diferenciando se o sangue é coagulável, ou não. Várias doenças, como gravidez ectópica, ovulação dolorosa, endometriose e as anexites agudas, frequentemente são causa de abdome agudo. A peri- hepatite gonocócica (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis) pode confundir o raciocínio médico, mimetizando um quadro de colecistite aguda. MICÇÃO Durante a anamnese, é importante investigar a presença de transtorno da micção, como algúria, disúria, polaciúria e retenção urinária, bem como alteração no aspecto da urina. Várias afecções primitivas dos órgãos urogenitais, entre elas, cólica nefrética, pielonefrite aguda, cistite e retenção urinária aguda, podem ser causa de abdome agudo. Não podemos nos esquecer de que esses mesmos sintomas podem, também, estar presentes em outras doenças inflamatórias que acometem a pelve, por exemplo: apendicite aguda, diverticulite sigmoideana e as anexites. COMPLICAÇÕES Se não for tratado, um abdome agudo pode resultar no seguinte: • Sepse • Necrose e/ou gangrena do intestino • Fístula • Morte DIAGNÓSTICO Diante da diversidade etiológica da dor abdominal e do abdômen agudo, é fundamental termos uma metodologia investigativa adequada, para obtermos, do paciente, as informações necessárias para o diagnóstico correto. Todo processo semiótico é indispensável nesta avaliação. Os exames laboratoriais que auxiliam no Anderson Soares diagnóstico do abdômen agudo em geral são simples, rápidos e de fácil obtenção. A avaliação inicial deve consistir de hematológico completo, exame qualitativo de urina (urina rotina), amilase e teste de gravidez (mulheres em idade fértil). Após esta primeira avaliação se não foi possível a confirmação diagnostica, devemos iniciar uma avaliação radiológica, partindo da radiografia abdominal em decúbito dorsal e ortostático. Avançando-se para a ultrassonografia de abdômen, tomografia computadorizada (TC), e em alguns casos arteriografia e ressonância magnética. A videolaparoscopia e a laparotomia exploradora constituem-se nos meios diagnósticos definitivos, para aqueles casos onde toda a sequência de exames anteriores não foi suficiente, ou como meio terapêutico, para os casos onde os exames definiram uma patologiacirúrgica como causa da dor abdominal. Outro aspecto importante sobre a videolaparoscopia em situaçõeses de emergência é a necessidade de equipes treinadas e cirurgiões experimentados, habituados com esta técnica. Caso não exista esta disponibilidade, devemos optar pela laparotomia exploradora como técnica mais segura, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento. O algoritmo da Figura 1 tem o intuito de auxiliar e direcionar a investigação dos pacientes com dor abdominal, seguindo as diretrizes do consenso do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em 2006. Como podemos observar há muitas variáveis a serem consideradas, porém, até o momento, foram apresentadas as diretrizes para o diagnóstico, ainda não tendo sido discutido as opções terapêuticas específicas. Frequentemente, o tratamento específico se refere a uma intervenção cirúrgica (Figura 2). Contudo, em algumas situaçõeses de abdômen agudo, o tratamento especifico é eminentemente clínico como na pancreatite aguda. HISTÓRIA DO PACIENTE Concentre-se em trauma recente, história cirúrgica e médica e a relação da dor com febre, vômito, diarreia, disúria e menstruação. Determine o início, frequência, padrão, natureza e localização da dor. Avaliar a gravidade da dor. Observe os sintomas associados de sangramento retal, icterícia, perda de peso, anorexia e artrite. Identifique fatores precipitantes e condições predisponentes, incluindo constipação, medicamentos, picada de aranha/carrapato, doença falciforme, gravidez, cirurgia abdominal prévia e doença inflamatória intestinal. EXAME FÍSICO O exame físico criterioso somado à anamnese bem feita são os principais recursos com os quais o médico conta para seu raciocínio clinico e consequente avaliação diagnóstica e conduta. Embora pareça óbvio, é muito importante que o médico examine o "indivíduo" com dor abdominal aguda, e não o "abdome doente". O exame físico tem quatro importantes objetivos: 1. Identificar sinais clínicos específicos que irão demandar diferentes medidas suportivas (soroterapia, transfusão, analgesia etc.); 2. Identificar alterações objetivas e avaliar sua localização, extensão e correlação com as queixas do paciente, na tentativa de definir um diagnóstico etiológico; 3. Colher subsídios quanto à indicação e à urgência do trata- . . . Mento cirutgico; 4. Desvendar doenças não diretamente relacionadas com o abdome agudo, mas que podem contraindicar possível tratamento cirúrgico ou exigir precauções adicionais antes e durante a operação. O exame físico é dinâmico e se inicia com a inspeção geral e a ectoscopia. Deve-se observar, mais uma vez, a fácies, modo de andar, decúbito preferencial, o tipo de respiração e as atitudes do paciente. A ectoscopia geral deve ser realizada no paciente completamente despido, respeitando sua individualidade e seu pudor. Mucosas hipocoradas podem ser sinais de perda sanguínea, mucosas secas e olhos encovados são indicativos de desidratação, e a icterícia pode denotar colestase. A presença de manchas características na gengiva pode ser sinal de intoxicação por chumbo. Na pele, devem-se procurar púrpuras, que podem ser causa de abdome agudo, e lesões como herpes-zoster e equimoses. Estas, estando localizadas em flancos (sinal de Gray-Turner) ou região periumbilical (sinal de Cullen), sugerem pancreatite aguda grave. O ingurgitamento venoso cervical pode denotar insuficiência cardíaca congestiva ou pneumotórax espontâneo, capazes de causar dor relatada no abdome superior. Após cuidadosa inspeção geral e ectoscopia, segue-se à mensuração dos dados vitais (temperatura, pulso, pressão arterial e frequência respiratória). As variações dos dados vitais são frequentes nos casos de abdome agudo, mas sua alteração isolada é pouco especifica. Eles devem ser analisados em conjunto, considerando as queixas do indivíduo e relacionando-as com outros sinais. A temperatura discretamente elevada é vista na fase inicial do abdome agudo inflamatório, perfurativo e hemorrágico. Quando a dor abdominal é precedida de temperatura muito elevada, deve-se suspeitar de processo infeccioso renal ou pulmonar. Atualmente, é controversa a relação entre temperatura axilar e retal, sendo considerada supérflua para alguns autores. A alteração mais expressiva da pressão arterial e do pulso é o choque, que pode estar presente nos casos de hipovolemia, sepse e de falso abdome agudo, como nos casos de infarto do miocárdio. Um recurso semiológico na avaliação da hipovolemia é a presença de hipotensão arterial ortostática. A mensuração da pressão arterial deve ser realizada nos dois braços, pois diferença da pressão sistólica pode sugerir dissecção aguda da aorta. Pulso arrítmico secundário à fibrilação atrial pode ser foco de êmbolos para a artéria mesentérica. Paciente com respiração superficial pode estar com irritação peritoneal, taquipneia pode ser secundária à acidose metabólica e diversas outras alterações do padrão respiratório podem relacionar-se com várias situações ligadas ao abdome agudo. A mulher, em condição de higidez, apresenta respiração torácica; o homem, quase sempre, abdominal. Alterações desse padrão podem ser pistas importantes de irritação peritoneal. A ausculta cuidadosa do tórax pode revelar alterações do murmúrio vesicular e/ou a presença de ruídos adventícios, favorecendo o diagnóstico de doenças como a pneumonia e o pneumotórax. Anderson Soares Didaticamente, o exame físico do abdome compreende inspeção, ausculta, percussão e palpação. Deve-se salientar que os achados do exame do abdome estão essencialmente relacionados com a fase evolutiva da doença em curso. Durante a inspeção, devem-se avaliar a forma do abdome e a presença de distensões localizadas. Distensões assimétricas podem ser causadas por tumores e torção do sigmmde; distensão infraumbilical pode sugerir aumento vesical ou uterino e distensão supraumbilical, obstrução do delgado superior. Alguns casos de obstrução podem apresentar peristaltismo visível. É imprescindível inspecionar os pontos de fragilidade da parede abdominal à procura de hérnias, além de observar a presença de cicatriz cirúrgica, que pode indicar a possibilidade de existência de aderências ou suspeitar de algum evento complicador relacionado com a cirurgia prévia. Não desvalorizar a presença de equimoses ou outras possíveis alterações na pele. A ausculta abdominal é de suma importância, tanto na avaliação inicial quanto na evolução do quadro abdominal agudo. A principal informação que ela nos oferece é a característica do peristaltismo e, para tal, recomenda-se sua realização por tempo mínimo de 3 min. Para isso, fixa-se a campânula do estetoscópio em um local (não se deve mudar de local a todo momento). O peristaltismo se encontra aumentado nos quadros iniciais de obstrução intestinal mecânica e na hemorragia digestiva e pode estar reduzido ou abolido nos quadros de hemoperitônio, íleo reflexo e abdome agudo inflamatório. O silêncio abdominal em um paciente que evoluía com peristaltismo de luta e suspeita de obstrução intestinal vai apontar para sofrimento de alça. A percussão abdominal é um riquíssimo recurso semiológico e se presta para confirmar a presença de dor abdominal, pesquisar e localizar diferentes graus de irritação peritoneal e identificar massas, ar livre e líquido intra-abdominais. Deve ser realizada de maneira gentil, sempre iniciada fora da área de maior sensibilidade, estendendo-se a todo o abdome com a mesma intensidade. De um modo geral, é bem mais tolerada que a palpação. O encontro de timpanismo ao nível da linha axilar média sobre a área hepática é sugestivo de pneumoperitônio e recebe o nome de sinal de Jobert. A presença de macicez móvel é sugestiva de ascite. A punho-percussão lombar - sinalde Giordano - sugere processo inflamatório retroperitoneal, sendo muito comum nos casos de pielonefrite. Ainda, é a percussão suave que indicará o ponto de máxima dor, que o médico relacionará com o órgão abaixo situado. A palpação abdominal constitui o tempo mais importante do exame físico do paciente com abdome agudo, pois, além de fornecer orientações quanto a um possível diagnóstico etiológico, fornece elementos objetivos para a indicação cirúrgica, inclusive orientando quanto a maior ou menor urgência desta intervenção. Ela é realizada com o paciente deitado confortavelmente, em decúbito dorsal, solicitando sua cooperação para relaxar, ao máximo, a parede abdominal. A palpação precisa ser feita de maneira delicada, utilizando-se da técnica correta e iniciando-se do ponto de menor dor para o de dor mais intensa. A contratura muscular verdadeira (reflexa à irritação do peritônio parietal) constitui o sinal mais importante nos casos de abdome agudo. Os músculos voluntários e os nervos cerebroespinais da parede abdominal constituem estruturas anatômicas pouco variáveis em suas posições e fornecem precioso subsídio diagnóstico. O sinal do obturador refere-se à rotação interna da coxa previamente fletida até o seu limite externo, determinando dor referida no hipogástrio, e está presente em foco inflamatório pélvico como a apendicite pélvica e a pelviperitonite. Para avaliar o sinal do psoas direito, coloca-se o paciente em decúbito lateral esquerdo (e vice-versa) e realiza-se a hiperextensão da coxa. Isso provocará intensa dor nos casos de afecções retroperitoneais, como apendicite retrocecal e abscesso perinefrético. A manobra de Blumberg é utilizada para avaliar irritação peritoneal de qualquer origem, e não apenas decorrente de apendicite aguda, e consiste em comprimir a parede abdominal até o máximo tolerado, descomprimindo-a rapidamente, o que ocasionará súbito aumento da dor. O sinal de Rovsing é a percepção da dor no quadrante inferior direito, quando palpamos o quadrante inferior esquerdo, devido ao deslocamento de gases retrogradamente em direção ao ceco, que, distendido, provoca dor. Diferentemente da contratura muscular verdadeira, a contratura de defesa aparece quando o peritônio parietal comprimido toca a víscera doente, induzindo um repentino aumento da dor. Um exemplo clássico é a intensa dor provocada pela inspiração profunda, quando se palpa o ponto cístico de pacientes com colecistite, também conhecida como sinal de Murphy. Durante apalpação abdominal, consiste em um erro grosseiro deixar de examinar os pontos de fragilidade do abdome à procura de hérnias. Nos pacientes acima de 50 anos, apalpação é importante método para o diagnóstico de aneurisma. O exame do períneo informa quanto à presença de fístulas em pacientes com doença de Crohn. O exame da bolsa escrota! pode revelar doenças como orquite ou epididimite, possíveis causadores de dor pélvica. Os toques retal e vaginal devem ser rea zados, li sempre que possível, e fornecem importantes informações, como irritação peritoneal na pelve, presença de sangramentos, amolecimento uterino (indicativo de gravidez), tumoração anexial, neoplasia de reto e fecaloma. • EXAMES LABORATORIAIS • RADIOGRAFIA SIMPLES E CONTRASTADA • ULTRASSONOGRAFIA • TOMOGRAFIA • RESSONÂNCIA MAGNÉTICA • ARTERIOGRAFIA • LAPAROSCOPIA DIAGNÓSTICA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Aneurisma da aorta abdominal • Apendicite aguda • Colecistite aguda • Diverticulite aguda • Isquemia Intestinal Aguda • Úlcera péptica aguda • Pancreatite aguda • Úlcera péptica aguda • peritonite aguda • Pielonefrite aguda • Cólica ureteral aguda • Crise adrenal • Cólica biliar Anderson Soares • Obstrução intestinal • Vólvulo intestinal • Carcinoide • Gravidez ectópica com ruptura tubária • Febre familiar mediterrânea • Hemoperitônio • Pedra no rim • Torção ovariana • Ruptura do baço • Anemia de células siculares MANEJO ADMISSÃO E AVALIAÇÃO INICIAL Os pacientes com suspeita de Abdome Agudo Cirúrgico são admitidos no HRSC via Célula de Regulação do Sistema de Saúde (CERSI) ou provenientes de outros setores da própria unidade. Os pacientes internados sem outros setores da unidade têm solicitados pelo médico assistente um pedido de interconsulta para a Cirurgia Geral, descrevendo de maneira detalhada o quadro clínico vigente e a suspeita clínica para o caso. O Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC) programa a interconsulta e aciona o cirurgião de plantão. Os pacientes admitidos via CERSI são ser encaminhados para leito na Clínica Cirúrgica onde são admitidos spelo cirurgião. Os pacientes admitidos sem definição diagnóstica têm exames solicitados em caráter de urgência, conforme a suspeita clínica. Os pacientes admitidos com diagnóstico de Abdome Agudo definido são imediatamente inseridos no mapa cirúrgico e encaminhados ao centro cirúrgico. O médico esclarece ao paciente o procedimento proposto para posterior assinatura dos termos de consentimento (cirúrgico e anestésico) pelo paciente. O Plano Terapêutico Multidisciplinar é aberto na admissão médica. Após a admissão são avaliadas as medidas de suporte: jejum, acesso vascular, reposição de fluídos, uso de sintomáticos, passagem de sonda gástrica na presença de vômitos repetitivos e/ou distensão abdominal, além da possibilidade de passagem de sonda vesical de demora para guiar a reposição de líquidos. Os pacientes admitidos com suspeita de Abdome Agudo devem ter definição diagnóstica ematé6horasdointernamento e tratamento cirúrgico realizado, idealmente, nas primeiras 9 horas após a admissão. Os pacientes submetidos a investigação para Abdome Agudo que tenham as causas cirúrgicas descartadas, mas que persistam sintomáticos, são encaminhados à enfermaria de Clínica Médica via transferência interna para prosseguir com investigação clínica. INDICAÇÃO Após confecção de série histórica do indicador e análise das variáveis que impactam no processo, o intervalo de tempo entre admissão e cirurgia será repactuado, visando torná-lo mais oportuno. INTERAÇÕES DE PROCESSOS COM OS SERVIÇOS DE APOIO LABORATÓRIO Os resultados dos exames laboratoriais solicitados em caráter de urgência são disponibilizados no Sistema VITAE em até 03 horas após a solicitação. Os exames com resultados críticos são impressos e entregues na enfermaria à equipe assistencial (preferencialmente à equipe médica, podendo ser recebido pelo enfermeiro ou técnico de enfermagem do setor). Exames solicitados na rotina são disponibilizados em até 06 horas após a solicitação. RADIOLOGIA Os exames radiológicos solicitados em caráter de urgência/emergência são priorizados e têm seus laudos disponíveis em até 6 horas. Nos exames com alterações importantes (resultados críticos) há a comunicação do radiologista com o médico assistente via telefone como medida adicional para agilizar a definição diagnóstica. Tal ação não exime a obrigatoriedade de disponibilização do laudo digitalizado do exame. O HRSC dispõe de um Guia de proteção de nefropatia induzida por contraste que é aplicado a todos os pacientes que possuam fatores de risco para tal. Nos pacientes com disfunção renal deve-se avaliar risco-benefício do exame contrastado, cabendo ao radiologista a decisão final sobre a infusão do contraste. Os pacientes submetidos a Anderson Soares exames contrastados passam a ser acompanhados pelo serviço de Radiologia quanto a possibilidade de lesão renal induzida por contraste através da dosagem de creatinina 48h após a infusão do mesmo. AGÊNCIA TRANSFUSIONAL Todo paciente com indicação de laparotomia exploradora tem Tipagem Sanguínea coleta da e reserva cirúrgica de 01 concentrado de hemácias, sendo necessário o preenchimento da Requisição de Transfusão.Caso seja necessário transfusão pré operatória, esta é solicitada separadamente (a solicitação de hemocomponentes é realizada no Sistema VITAE, na Aba RT). As solicitações classificadas como não urgentes são disponibilizadas em até 24 horas, as urgentes em até 3 horas e as solicitações de extrema urgência (CS: O-) são liberadas em até 15 minutos da solicitação mediante assinatura de termo de responsabilidade pelo médico assistente. O HRSC dispõe de um Guia de Transfusional com orientações acerca das indicações de reserva cirúrgica e transfusão de cada hemocomponente. SCIH A equipe de enfermagem utiliza o Escore para Alerta Precoce (MEWS) como parâmetro de deterioração clínica, acionando o enfermeiro ou médico para avaliação do paciente, conforme a necessidade. Pacientes admitidos com quadro de sepse ou que evoluam no internamento com MEWS>4 devem ter o Protocolo de Sepse prontamente acionado para rastreio REFERÊNCIAS LOPES Antonio Carlos, REIBSCHEID Samuel, SZEJNFELD Jacob. Abdome agudo: clínica e imagem. São Paulo: Editora Atheneu, 2006. DANI Renato. Gastroenterologia essencial. 4. ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Consenso do XXVI Congresso Brasileiro de Cirurgia. Algoritmo no Diagnostico do Abdome Agudo. Boletim CBC ed esp; 2006. BRUNETTI, Adriano; SCARPELINI, Sandro. Abdômen agudo. Biblioteca Escolar em Revista, v. 40, n. 3, p. 358- 367, 2007. PROTOCOLO CLÍNICO GERENCIADO: ATENDIMENTO INICIAL AO PACIENTE COM ABDOME AGUDO. Governo do Estado do Ceará, 2020. FERES, Omar; PARRA, Rogério Serafim. Abdômen agudo. Medicina (Ribeirão Preto), v. 41, n. 4, p. 430-436, 2008.
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