Buscar

APG Abdome agudo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Anderson Soares 
Abdome 
 
Abdome 
 
OBJETIVOS 
1. Compreender a epidemiologia, etiologia e fatores 
de risco do abdome agudo; 
2. Discorrer sobre a caracterização e os tipos de 
abdome agudo; 
3. Conhecer a fisiopatologia do abdome agudo 
4. Listar as manifestações clínicas e complicações do 
abdome agudo; 
5. Entender o diagnóstico, diagnóstico diferencial do 
abdome agudo; 
6. Relatar o manejo do abdome agudo. 
EPIDEMIOLOGIA 
Não há números exatos disponíveis, mas entre 7% e 10% 
das visitas ao departamento de emergência são para 
dor abdominal. Os Centros de Controle e Prevenção de 
Doenças (CDC), usando dados do National Hospital 
Ambulatory Medical Care Survey de 1999 a 2008, 
relataram que 11% das visitas ao pronto-socorro em 2008 
foram por dor abdominal e que a dor abdominal foi 
responsável por 12,5% das emergências. ou pacientes 
urgentes. Cerca de um terço dos pacientes com dor 
abdominal são diagnosticados com dor abdominal 
inespecífica. Outros 30% têm cólica renal aguda. 
ETIOLOGIA 
As causas comuns de abdome agudo incluem 
apendicite aguda, colecistite, pancreatite e 
diverticulite. A peritonite aguda é uma causa de 
abdome agudo e pode resultar da ruptura de uma 
víscera oca ou como complicação de doença 
inflamatória intestinal ou malignidade. Os eventos 
vasculares que causam abdome agudo incluem 
isquemia mesentérica e aneurisma de aorta abdominal 
roto. Causas obstétricas e ginecológicas incluem 
gravidez ectópica rompida e torção 
ovariana. Condições urológicas, incluindo cólica ureteral 
e pielonefrite, também podem se apresentar como dor 
abdominal aguda. Muitos autores incluem a obstrução 
do intestino delgado como causa de abdome agudo. Os 
recém-nascidos podem apresentar enterocolite 
necrosante. O volvo do intestino médio apresenta 40% 
das vezes na primeira semana de vida, 50% no primeiro 
mês e 75% no primeiro ano. A intussuscepção geralmente 
ocorre em idades de nove a 24 meses. A causa mais 
comum de abdome agudo pediátrico é a apendicite
 
FATORES DE RISCO 
Para o abdome agudo hemorrágico: 
• Arteriosclerose e hipertensão arterial 
• Coagulopatias 
• Uso de medicamentos que alteram a coagulação 
é usual: 
o Antiinflamatórios não-hormonais, 
o Anticoagulantes orais 
o Heparina de baixo peso molecular ou 
não. 
 
agudo 
Anderson Soares 
CARACTERIZAÇÃO 
Situação emergencial, caracterizada pelo 
aparecimento abrupto de sintomas abdominais, em 
geral graves, sugerindo uma evolução potencialmente 
fatal. 
Os termos abdome agudo ou abdome cirúrgico talvez 
não sejam os mais adequados, já que encontramos 
alguns casos de abdome rígido, em “tábua”, como na 
febre do Mediterrâneo, que não são agudos e os de 
pancreatite aguda edematosa, em que a cirurgia estaria 
contraindicada. Inúmeras tentativas de se retirar tais 
termos já foram feitas, sem sucesso. Talvez isso se deva ao 
fato de que os pacientes que tenham esse rótulo 
recebam maior atenção para que o diagnóstico e 
intervenções sejam praticados mais agilmente, 
melhorando seus prognósticos e complicações. 
Dessa forma, alguns autores sugerem a denominação 
“dor abdominal aguda de 1 a 72 horas”, já que sintomas 
por períodos maiores ou menores em geral não 
necessitam de diagnósticos imediatos e/ou tratamentos 
de urgência. 
 
TIPOS 
A maior parte dos casos é classificada em 5 síndromes: 
1. OBSTRUTIVA 
• Obstrução pilórica; 
• Hérnias; 
• Bridas; 
• Por Áscaris, corpos estranhos, cálculo 
biliar etc.; 
• Vôlvulo; 
• Intussuscepção intestinal. 
2. PERFURATIVA 
• Úlcera péptica; 
• Câncer gastrointestinal; 
• Processos inflamatórios intestinais (febre 
tifóide, amebíase, doença de Crohn 
etc.); 
• Perfuração de divertículos de colo; 
• Perfuração de apendicite; 
• Perfuração de vesícula biliar. 
 
3. VASCULAR/ISQUÊMICA 
• Trombose da artéria mesentérica; 
• Torção do grande omento; 
• Torção do pedículo de cisto ovariano; 
• Infarto esplênico. 
4. INFLAMATÓRIA 
• Apendicite aguda; 
• Colecistite aguda; 
• Pancreatite aguda; 
• Diverticulite dos colos; 
• Doença inflamatória pélvica; 
• Abscessos intracavitários; 
• Febre do Mediterrâneo. 
5. HEMORRÁGICA 
• Prenhez ectópica; 
• Rotura de aneurisma de aorta 
abdominal; 
• Cisto hemorrágico de ovário; 
• Rotura de baço; 
• Endometriose; 
• Necrose tumoral. 
FISIOPATOLOGIA 
INFLAMATÓRIO 
É o tipo mais comum de abdome agudo. Habitualmente, 
o processo se inicia com a obstrução mecânica de 
vísceras ocas normais, ou anatomicamente alteradas 
(divertículos, por exemplo), originando diversos 
fenômenos inflamatórios na parede da víscera, com 
tendência à progressão para infecção franca e 
comprometimento da vascularização do órgão. O início 
do quadro geralmente é insidioso, com sintomas a 
princípio vagos (dor abdominal incaracterística, náuseas, 
anorexia, vômito, alteração do trânsito intestinal). A dor 
abdominal pode levar de uma a várias horas para atingir 
seu pico, ocasionalmente até dias, sendo inicialmente 
mal definida. Com o evoluir da doença, e com o 
acometimento do peritônio parietal adjacente ao órgão 
afetado, a dor torna-se bem localizada e piora 
progressivamente. É comum a presença de massas à 
palpação do abdome, resultantes da reação do 
peritônio à agressão, na tentativa de limitar o processo e 
preservar o restante da cavidade. 
Caso o peritônio não consiga bloquear o processo, e o 
tratamento adequado demore a ser instituído, observa-
se evolução para peritonite disseminada. 
Todo agente inflamatório ou infeccioso, ao 
atingir o peritônio, acarreta irritação do mesmo, 
cuja intensidade é diretamente proporcional ao 
estádio do processo etiológico. Segue-se a 
instalação progressiva de íleo paralítico 
localizado ou generalizado. Esse fenômeno é 
justificado pela lei de Stokes que diz: “Toda vez 
que a serosa que envolve uma musculatura lisa 
sofre irritação, esta entra em paresia ou 
paralisia.” Por outro lado, a resposta do peritônio 
parietal exterioriza-se clinicamente por dor mais 
bem localizada e contratura da musculatura 
abdominal localizada ou generalizada, 
dependendo da evolução do processo. É 
importante salientar que a contratura muscular 
pode ser voluntária ou, mesmo, determinada 
por doença extraabdominal. 
 
Anderson Soares 
PERFURATIVO 
Trata-se de uma das causas mais frequentes de cirurgia 
abdominal de urgência. A dor tem início súbito, 
geralmente dramático, já começando de forma intensa, 
rapidamente atingindo seu pico. Os pacientes costumam 
precisar a hora exata do início do sintoma. O problema 
advém do extravasamento de secreção contida no trato 
gastrintestinal para a cavidade peritoneal, o que é 
traduzido por peritonite. A dor tipo somática vem da 
irritação química do peritônio, e, quanto menor o pH, 
maior a irritação. O exame clínico demonstra silêncio 
abdominal e rigidez muscular, detectada como 
"abdome em tábua". A temperatura é normal, e náuseas 
e vômito podem estar presentes. A radiografia simples 
revela pneumoperitônio, sendo o exame de imagem de 
escolha para o diagnóstico. Em 12 h de evolução do 
quadro, a peritonite química torna-se bacteriana, 
aparecendo os sinais de infecção. 
As perfurações costumam ser divididas em altas 
(gastroduodenal e delgado proximal) e baixas (delgado 
distai e cólon). Nas perfurações mais baixas de delgado, 
a dor abdominal é mais discreta, e os sinais de irritação 
peritoneal são menos exuberantes, mas originam 
quadros sépticos mais precoces, em função da flora 
bacteriana local. Perfurações do delgado proximal 
comportam-se como as gastroduodenais, com dor 
abdominal intensa e grande irritação peritoneal. 
Perfurações do intestino grosso traduzem manifestações 
clínicas e peritoneais intensas, com evolução rápida para 
peritonite fecal, devido ao conteúdo altamente 
infectado desse segmento. 
VASCULAR 
Lesão isquêmica inicial, decorrente da reduçãodo fluxo 
arterial ou venoso (o que leva a lesões precoces na 
mucosa, tornando-se posteriormente transmurais), 
perpetuada pelo vaso-espasmo reflexo da circulação 
mesentérica e completada pela lesão de reperfusão 
(principalmente pela formação e ação de radicais livres 
de oxigênio, que desencadeiam a síndrome da resposta 
inflamatória sistêmica, podendo evoluir para falência de 
múltiplos órgãos). 
De forma geral, a principal artéria responsável pela 
perfusão intestinal pode ser considerada a artéria 
mesentérica superior (AMS); quando ocluída ou 
estenótica é a que mais freqüentemente causa sintomas 
de angina abdominal. Geralmente, a obstrução da 
artéria mesentérica inferior (AMI) e/ou do tronco celíaco 
(TC) costuma ser mais bem tolerada. 
Como se trata de um quadro abrupto, e principalmente 
nos casos de embolia, não há tempo para o 
desenvolvimento de uma rede de circulação colateral 
que seja suficiente para manter nem mesmo o 
metabolismo mínimo intestinal. 
O êmbolo aloja-se na circulação mais distal, poupa o 
óstio dos ramos principais e, assim sendo, pode preservar 
em maior ou menor grau territórios do órgão. 
A trombose aguda costumeiramente ocorre nos óstios 
das principais artérias e, associada a frequente presença 
de aterosclerose em múltiplas artérias, leva à isquemia de 
extensas áreas, sendo a sobrevida uma exceção. 
A respeito das causas não-oclusivas, durante o choque 
de qualquer origem ocorre a vasoconstrição arterial 
visceral a fim de dirigir o fluxo sangüíneo para as áreas 
mais críticas como cérebro e coração, o que, associado 
à vasoconstrição venosa, pode acrescentar até 30% de 
volume ao espaço intravascular. Por algum mecanismo 
ou pelo emprego de vasopressores para o controle da 
hipotensão, tal constrição pode prolongar-se por horas, 
mesmo após a normalização dos parâmetros 
hemodinâmicos. O sistema renina-angiotensina 
provavelmente exerce uma função central, visto que sua 
inibição parece proteger o intestino da isquemia durante 
o choque. Após a cirurgia para correção da coarctação 
do arco aórtico, a relativa hipertensão a que ficam 
expostos os vasos viscerais pode cursar com um 
vasoespasmo reflexo e um quadro de vasculite 
necrotizante de graves consequências. 
A mucosa intestinal, principalmente do delgado, é a 
primeira e mais gravemente afetada. Isquemia acima de 
uma hora pode produzir edema da submucosa seguido 
de desprendimento da mucosa, ulcerações e 
sangramento das vilosidades intestinais. Há perda da 
barreira entre o conteúdo intestinal e o sangue, 
produção de fatores inflamatórios locais que agravam as 
lesões através da mobilização das células de defesa e 
fagocitárias e risco de translocação bacteriana. 
Havendo a manutenção da isquemia, há piora do 
edema, que, associado ao processo inflamatório iniciado 
localmente, piora o ambiente celular local, permitindo a 
extensão da lesão para as demais camadas da alça. A 
camada muscular afetada não cumpre sua função de 
peristalse normal, determinando assim estase do 
conteúdo e aumento de pressão local, o que dificulta 
ainda mais a já deficiente perfusão tecidual. 
O último estágio desse processo mórbido compreende a 
gangrena de toda a parede intestinal, perda de sua 
estrutura física culminando em perfuração com 
extravasamento do conteúdo intestinal e, conseqüente, 
peritonite fecal. 
OBSTRUTIVO 
Embora a obstrução intestinal mecânica simples, a 
obstrução com estrangulamento, a obstrução em alça 
fechada e o íleo paralítico tenham muitos aspectos em 
comum, existem diferenças importantes na fisiopatologia 
e no tratamento dessas entidades. 
OBSTRUÇÃO INTESTINAL MECÂNICA SIMPLES 
As principais alterações fisiológicas do intestino com 
obstrução mecânica, porém com suprimento de sangue 
A intensidade dos sintomas e a gravidade do 
quadro clínico dependerão do local e do tempo 
de evolução da perfuração, do tipo de secreção 
extravasada e das condições do doente. 
Inicialmente, ocorre uma inflamação peritoneal 
de natureza química, principalmente nas 
perfurações altas do trato digestivo, seguida de 
invasão bacteriana secundária e progressivo 
processo infeccioso, com repercussões locais e 
sistêmicas. Em relação ao intestino grosso, a 
peritonite é séptica desde o início. 
Anderson Soares 
intacto, são o acúmulo de líquido e gás acima do ponto 
de obstrução e a alteração da motilidade intestinal, que, 
somados, levam a alterações sistêmicas importantes. 
O fator tóxico da obstrução intestinal mecânica é a 
perda de líquidos e eletrólitos por vômito e sequestro na 
alça intestinal obstruída. O acúmulo de líquido no interior 
da alça intestinal obstruída ocorre de modo progressivo. 
O movimento de líquidos entre a luz intestinal e o sangue 
ocorre de duas maneiras: absorção (movimento de 
líquido da luz intestinal para o sangue) e secreção 
(movimento de líquido do sangue para a luz intestinal). 
Após 48 horas de obstrução intestinal, o movimento de 
líquido é predominantemente do sangue para a luz 
intestinal, aumentando muito a quantidade de líquido no 
intestino obstruído. O mesmo fenômeno acontece com o 
sódio e o potássio. A composição do líquido acumulado 
na luz intestinal é semelhante à do plasma. O principal 
componente do acúmulo de líquido na alça intestinal 
obstruída é o aumento de secreção. A distensão 
abdominal aumenta a secreção de prostaglandina, que, 
por sua vez, produz um aumento na secreção intestinal. 
O segmento proximal à obstrução fica repleto de líquido 
e eletrólitos, o que provoca mais distensão e 
compromete a circulação. Esse conteúdo caminha em 
sentido proximal, chegando a segmentos intestinais que 
ainda possuem a capacidade absortiva. Caso a 
obstrução não se resolva, esses segmentos proximais 
também ficam distendidos e com a circulação e a 
absorção comprometidas. Esse processo pode 
comprometer todo o intestino proximal à obstrução. 
Outro local de perda de líquidos e eletrólitos é a parede 
do intestino obstruído. A parede intestinal pode ficar 
bastante edemaciada a ponto de perder líquido através 
da serosa para a cavidade peritoneal. A quantidade de 
líquido e eletrólitos perdidos na parede intestinal e na 
cavidade peritoneal depende da extensão, da 
congestão venosa e edema e do tempo de obstrução. 
A perda mais óbvia de líquidos e eletrólitos é através do 
vômito ou do débito da sonda nasogástrica. A soma de 
todas essas perdas depleta o fluido do espaço 
extracelular, produzindo hemoconcentração, 
hipovolemia, insuficiência renal, choque e morte, a não 
ser que o tratamento seja instituído rapidamente. 
O gás do intestino delgado é composto de ar 
atmosférico, que, após ter sido deglutido, foi acrescido 
de outros gases não encontrados no ar ambiente. A 
absorção do gás intestinal depende da sua pressão 
parcial no intestino, no plasma e no ar da respiração. O 
nitrogênio é pouco difundido, porque a sua pressão 
parcial é muito semelhante nesses três locais. Já o dióxido 
de carbono é muito difusível, porque a sua pressão 
parcial é alta no intestino, intermediária no plasma e 
baixa no ar. Por esse motivo, o dióxido de carbono 
produzido no intestino contribui muito pouco para a 
distensão intestinal. 
Assim que a obstrução ocorre, o peristaltismo intestinal 
aumenta como resposta do intestino a fim de resolver a 
obstrução. Após algum tempo, o peristaltismo contínuo é 
substituído por períodos intermitentes de peristaltismo 
aumentado, intercalados com períodos de acalmia. O 
peristaltismo aumentado pode ser violento o bastante a 
ponto de traumatizar o intestino e provocar mais edema. 
A distensão intestinal proximal à obstrução provoca uma 
inibição do peristaltismo distal a ela. 
 
OBSTRUÇÃO COM ESTRANGULAMENTO 
Denomina-se obstrução com estrangulamento a 
obstrução intestinal associada ao comprometimento da 
irrigação sanguínea. A compressão dos vasos do 
mesentério éa causa da interrupção do suprimento de 
sangue ao intestino, acarretando isquemia e necrose. 
Essa situação é mais frequente na obstrução por 
aderências, hérnias ou volvo. À compressão das veias e 
à dificuldade do retorno venoso soma-se o problema do 
acúmulo de líquido e gás já descrito, levando a 
pequenos sangramentos na luz intestinal e na parede das 
alças. O segmento de intestino necrosado libera 
substâncias tóxicas na cavidade peritoneal e na luz do 
intestino. Os fatores que mais interferem na fisiopatologia 
da obstrução com estrangulamento são os seguintes: o 
conteúdo da alça obstruída é tóxico; as bactérias aí 
presentes são importantes para a produção dessas 
toxinas; os segmentos de intestino que não estão 
necrosados não participam na formação dessas toxinas; 
as toxinas não passam através de mucosa normal; a 
absorção das toxinas é mais importante do que a sua 
produção; e os sintomas podem estar correlacionados 
com a formação dessas toxinas. 
OBSTRUÇÃO EM ALÇA FECHADA 
Quando uma alça intestinal se encontra obstruída 
simultaneamente nas extremidades proximal e distal, 
caracteriza-se uma obstrução em alça fechada. A 
obstrução em alça fechada pode progredir 
rapidamente para o estrangulamento. A interrupção do 
suprimento sanguíneo pode ocorrer pela mesma causa 
que provocou a obstrução em alça fechada 
(aderências, hérnia ou volvo), ou simplesmente pela 
grande distensão da alça obstruída. A pressão no interior 
da alça obstruída pode atingir níveis iguais ao do sistema 
venoso, interrompendo o fluxo de sangue nas veias e 
aumentado o edema intestinal. 
ÍLEO PARALÍTICO 
O íleo paralítico pode apresentar-se sob três formas: o íleo 
adinâmico, o íleo espástico e o íleo da oclusão vascular. 
O íleo adinâmico é o mais comum e costuma ocorrer 
após cirurgias abdominais. A fisiopatologia do íleo 
adinâmico não está completamente esclarecida, porém 
parece envolver o comprometimento da resposta neuro-
hormonal relacionada ao intestino. A recuperação da 
motilidade intestinal no período pós-operatório de 
cirurgia abdominal é diferente nos vários segmentos do 
trato gastrointestinal. O intestino delgado recupera sua 
motilidade em aproximadamente 24 horas, o estômago, 
em 48 horas e o intestino grosso, em três a cinco dias. 
Além da cirurgia abdominal, outras causas de inibição da 
motilidade intestinal são as inflamações peritoneais, 
como a apendicite e a pancreatite aguda, as patologias 
que envolvem o retroperitônio, como a cólica ureteral, o 
hematoma retroperitoneal ou a fratura de coluna, as 
lesões torácicas, como a pneumonia de base do pulmão, 
ou as fraturas de costelas e as causas sistêmicas, como a 
toxemia grave, a hiponatremia e a hipocalemia, ou a 
hipomagnesemia. Drogas como a morfina, a 
propantelina, os antiácidos, os anticoagulantes, as 
fenotiazinas e os agentes bloqueadores ganglionares 
também podem provocar íleo adinâmico. O íleo 
espástico não é comum, porém surge em consequência 
de uma hiper-reatividade do intestino. Pode ocorrer na 
intoxicação por metais pesados, na porfiria e, às vezes, 
Anderson Soares 
quando existe uremia. O íleo com oclusão vascular 
caracteriza-se por uma incapacidade de coordenação 
da motilidade intestinal, em consequência da morte 
celular resultante da isquemia. 
HEMORRÁGICO 
Nos quadros de abdome agudo hemorrágico, além da 
dor súbita, chama a atenção o rápido 
comprometimento hemodinâmico, com palidez intensa 
e hipovolemia acentuada Apesar da forte dor, não se 
encontra contratura muscular no hemoperitônio, visto 
que o sangue não é tão irritante para a serosa peritoneaL 
Os exames mostram queda progressiva dos níveis 
hematimétricos. 
A ruptura espontânea de vísceras parenquimatosas e a 
ruptura vascular não são situações comuns, e o abdome 
agudo hemorrágico é mais frequentemente associado 
ao trauma, ao pós-operatório e a complicações pós-
procedimentos (biopsias hepáticas, por exemplo). Na 
mulher em idade fértil, sempre ponderar a possibilidade 
de gravidez ectópica rota. O tratamento é a cirurgia 
imediata, mas a arteriografia pode ser terapêutica em 
alguns casos. Nos casos de hematomas pós-operatórios 
estáveis, a conduta é expectante. Nos pacientes em uso 
de anticoagulantes, com formação de hematomas 
abdominais, a conduta também é expectante a 
princípio, com suspensão da anticoagulação. 
A ruptura de aneurisma de aorta abdominal acomete 
geralmente pacientes idosos do sexo masculino, 
população na qual a incidência de aneurisma é maior. A 
aterosclerose é a causa principal, mas trauma, infecção 
(sífilis) e arterites são causas possíveis. A sede mais comum 
do aneurisma é a aorta abdominal, estando quase todos 
localizados abaixo das artérias renais. O risco de ruptura 
aumenta com o tamanho do aneurisma, sendo baixo nos 
menores de 5 em. Cinquenta por cento dos aneurismas 
que atingem 6 em se rompem em 1 ano. A apresentação 
clássica é dor abdominal difusa, intensa, associada a 
hipotensão e massa abdominal pulsátil. Antes da ruptura, 
o aneurisma passa por um processo de distensão aguda 
(dito expansão), o que leva ao estiramento do plexo 
nervoso perivascular, gerando dor intensa nos flancos ou 
no dorso. O local mais comum de ruptura é no 
retroperitônio, e o hematoma que se forma contém a 
hemorragia por algumas horas. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
As informações obtidas pela história clínica, exame físico, 
exames laboratoriais e de imagem geralmente permitem 
um diagnóstico, mas ainda pode permanecer uma 
incerteza. O cirurgião deve tomar a decisão de operar 
ou não, baseado nas informações obtidas. É prudente 
dividir, baseado no raciocínio clínico, o abdômen agudo 
em "síndromes": inflamatória, perfurativa, obstrutiva, 
vascular e hemorrágica. 
INFLAMATÓRIO: a dor é de início insidioso, com 
agravamento e localização com o tempo. O paciente 
apresenta sinais sistêmicos, tais como febre e taquicardia. 
As doenças mais comuns são: apendicite aguda, 
colecistite aguda, diverticulite aguda, pancreatite, 
anexite aguda. A apendicite é a causa mais comum de 
abdômen agudo cirúrgico no mundo. Pode ocorrer em 
qualquer faixa etária, mas é mais comum em 
adolescentes e adultos jovens (Figuras 3 e 4). 
 
PERFURATIVO: a dor é súbita e intensa, comdefesa 
abdominal e irritação peritoneal. Há derramedo 
conteúdo de víscera oca no peritônio, 
geralmentesecundário à úlcera gastroduodenal, 
diverticulite, cor-pos estranhos e neoplasias (Figura 5). 
 
 
OBSTRUTIVO: a dor é em cólica, geralmente 
periumbilical. Associadamente surgem náuseas, vômitos, 
distensão abdominal, parada da eliminação de flatos e 
fezes. Acontece na oclusão mecânica por bridas 
hérnias, neoplasias e invaginação (Figura 6). 
 
Anderson Soares 
VASCULAR: a dor é difusa e mal definida, há 
desproporção entre a dor e o exame físico e as causas 
mais comuns são embolia e trombose mesentérica, com 
isquemia intestinal. 
HEMORRÁGICO: a dor é intensa, com rigidez e dor à 
descompressão; há sinais de hipovolemia, tais como 
hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese. As causas 
mais comuns são prenhez ectópica rota, ruptura de 
cistos, ruptura de aneurismas, rotura de baço(quadro 
2).O cirurgião não precisa saber o diagnóstico, mas 
precisa saber se há ou não necessidade de cirurgia. 
Existem causas não-cirúrgicas de dor abdominal 
O cirurgião deve ser capaz de avaliar o paciente e 
decidir sobre a necessidade de cirurgia. Os antigos 
cirurgiões experientes diziam: "Não se deve esperar 
amanhecer para operar um paciente com abdômen 
agudo". 
 
DOR ABDOMINAL 
A dor representa o melhor elemento para caracterizar ou 
mesmo para tentar definir o abdome agudo, fato que 
justifica o aforismo: não existe abdome agudo sem dor. 
Não devemos nos esquecer, entretanto, de que a dor é 
uma sensação subjetiva, que depende da consciência 
para sua interpretação e que é modulada por fatoreseducacionais, afetivos, culturais, e até religiosos, bem 
como pelo próprio estado psíquico de cada indivíduo 
(ansiedade, depressão). 
Para facilitar a avaliação da dor, Cope aconselha pensar 
anatomicamente sempre que o conhecimento das 
relações estruturais dos órgãos representar vantagem 
(Figura 112.1). Porém, não é suficiente conhecer somente 
a anatomia macroscópica abdominal, precisamos 
compreender a inervação das estruturas e as vias de 
transmissão dos impulsos dolorosos. 
Os nociceptores são terminações nervosas livres que têm 
a função de receber os estímulos dolorosos que serão 
conduzidos pelas fibras nervosas até o cérebro, dando 
uma informação de dano ou lesão com a finalidade de 
proteção e manutenção da integridade do organismo. 
O peritônio visceral e os órgãos abdominais revestidos por 
ele são inervados por fibras tipo C, não mielinizadas, que 
caminham pelo sistema nervoso autônomo a uma 
velocidade de 0,5 a 2,0 m/s. Essas fibras são sensíveis a 
distensão, isquemia, tração, compressão e torção e 
conduzem uma dor difusa, de início lento e duração 
longa, com um componente emocional marcante e 
capaz de produzir manifestações sistêmicas, tais como 
náuseas, sudorese, diminuição da pressão arterial e da 
frequência cardíaca. Esta dor é percebida na projeção 
da linha mediana e recebe o nome de dor visceral. 
O peritônio parietal e a raiz do mesentério apresentam 
maior quantidade de nociceptores e são inervados por 
fibras tipo A delta, mielinizadas, que conduzem o estímulo 
doloroso a uma velocidade de 12 a 30 m/s (via da dor 
rápida-aguda). Essas terminações nervosas são 
estimuladas por diversos agentes irritantes (conteúdo 
gastrintestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue, pus) 
e por substâncias (bradicinina, serotonina, histamina, 
prostaglandina e enzimas proteolíticas) e conduzem a 
uma dor aguda, bem localizada, de curta duração e 
com componente emocional fraco. Essa dor piora com 
movimento de tosse e pode acarretar contratura 
muscular, que é reflexa à inervação comum do peritônio 
parietal e da musculatura abdominal. Essa dor recebe o 
nome de dor somática; seu exemplo clássico é a 
evolução da apendicite aguda, que se inicia com uma 
dor difusa pelo abdome e evolui para uma dor localizada 
no ponto de McBurney, isso quando o processo 
inflamatório atinge o peritônio parietal. 
A dor referida é percebida em local diferente do estímulo 
que a gerou. Dessa forma, um estímulo gerado em um 
nociceptor da serosa abdominal pode provocar 
contratura reflexa da musculatura do dermátomo 
correspondente, que apresenta inervação comum, ou 
uma mesma origem embrionária. Um exemplo clássico é 
a dor referida no ombro resultante de processos 
patológicos que afetam o diafragma ou a vesícula. 
 
 
NÁUSEAS E VÔMITO 
São sintomas equivalentes e muito comuns no abdome 
agudo de várias etiologias. As náuseas geralmente 
precedem o vômito, e é o seu equivalente. As principais 
causas para o aparecimento desses sintomas são: 
obstrução dos órgãos de musculatura lisa, irritação 
intensa dos nervos do peritônio e a toxemia. Durante a 
anamnese, é importante verificar a frequência dos 
vômitos, sua relação com o início da dor e o aspecto do 
material vomitado. 
Na apendicite e na colecistite agudas típicas, o vômito 
surge após o início da dor. Na pancreatite aguda, o 
vômito é frequente, intenso e persistente, surgindo com o 
início da dor. Na obstrução aguda do ureter e do 
colédoco, o vômito surge simultaneamente à dor e 
também é frequente. Na obstrução intestinal, ele está 
presente e será tão mais tardio quanto mais distai for o 
local da obstrução. 
FEBRE 
Uma temperatura axilar superior a 37,5°C pode estar 
presente em quase todos os quadros abdominais 
agudos; porém, a ausência de febre não descarta o 
diagnóstico de abdome agudo, principalmente em 
idosos e imunocomprometidos. O relato de calafrio pode 
Anderson Soares 
significar bacteremia, achado comum nos quadros de 
colangite e de peritonite. A elevação da temperatura 
retal não é específica de nenhuma doença, podendo 
ocorrer em qualquer processo inflamatório localizado na 
pelve. 
ANOREXIA 
O relato de anorexia precedendo o início da dor é 
comum em quadros de abdome agudo inflamatório. 
Todavia, anorexia precedendo o início do quadro em 
dias ou meses sugere doença maligna. 
FUNÇÃO INTESTINAL 
Durante a anamnese, é importante interrogar sobre a 
presença de constipação intestinal, diarreia, melena e 
enterorragia. Um longo período de constipação intestinal 
é achado frequentemente na obstrução por fecaloma 
ou vólvulo do sigmoide. A constipação intestinal com 
parada completa da eliminação de gases e fezes 
associada à dor abdominal em cólica e vômito 
caracteriza a tríade da obstrução intestinal. No entanto, 
não podemos esquecer que mesmo o paciente com 
obstrução total poderá eliminar o conteúdo fecal distai à 
oclusão e, até mesmo, apresentar diarreia, como em 
alguns casos de pinça ento intestinal. A diarreia é 
frequente em vários tipos de abdome agudo 
inflamatório, como: apendicite (principal ente em 
crianças), abscessos paracecais e DIP. Eliminação de 
sangue, misturado ou não nas fezes, pode estar presente 
em quadros de invaginação intestinal (crianças) e na 
neoplasia de cólon. 
CICLO MENSTRUAL 
Nas mulheres em fase reprodutiva, especialmente 
naquelas com vida sexual ativa, a dor abdominal deve 
ser correlacionada com o ciclo menstrual. Devemos 
interrogar sobre irregularidades nos três últimos ciclos, 
data da última menstruação, presença de dispareunia, 
características do corrimento vaginal, contato sexual e 
sangramentos, diferenciando se o sangue é coagulável, 
ou não. Várias doenças, como gravidez ectópica, 
ovulação dolorosa, endometriose e as anexites agudas, 
frequentemente são causa de abdome agudo. A peri-
hepatite gonocócica (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis) 
pode confundir o raciocínio médico, mimetizando um 
quadro de colecistite aguda. 
MICÇÃO 
Durante a anamnese, é importante investigar a presença 
de transtorno da micção, como algúria, disúria, 
polaciúria e retenção urinária, bem como alteração no 
aspecto da urina. Várias afecções primitivas dos órgãos 
urogenitais, entre elas, cólica nefrética, pielonefrite 
aguda, cistite e retenção urinária aguda, podem ser 
causa de abdome agudo. Não podemos nos esquecer 
de que esses mesmos sintomas podem, também, estar 
presentes em outras doenças inflamatórias que 
acometem a pelve, por exemplo: apendicite aguda, 
diverticulite sigmoideana e as anexites. 
 
 
COMPLICAÇÕES 
Se não for tratado, um abdome agudo pode resultar no 
seguinte: 
• Sepse 
• Necrose e/ou gangrena do intestino 
• Fístula 
• Morte 
DIAGNÓSTICO 
 
 
 
Diante da diversidade etiológica da dor abdominal e do 
abdômen agudo, é fundamental termos uma 
metodologia investigativa adequada, para obtermos, do 
paciente, as informações necessárias para o diagnóstico 
correto. Todo processo semiótico é indispensável nesta 
avaliação. Os exames laboratoriais que auxiliam no 
Anderson Soares 
diagnóstico do abdômen agudo em geral são simples, 
rápidos e de fácil obtenção. A avaliação inicial deve 
consistir de hematológico completo, exame qualitativo 
de urina (urina rotina), amilase e teste de gravidez 
(mulheres em idade fértil). Após esta primeira avaliação 
se não foi possível a confirmação diagnostica, devemos 
iniciar uma avaliação radiológica, partindo da 
radiografia abdominal em decúbito dorsal e ortostático. 
Avançando-se para a ultrassonografia de abdômen, 
tomografia computadorizada (TC), e em alguns casos 
arteriografia e ressonância magnética. A 
videolaparoscopia e a laparotomia exploradora 
constituem-se nos meios diagnósticos definitivos, para 
aqueles casos onde toda a sequência de exames 
anteriores não foi suficiente, ou como meio terapêutico, 
para os casos onde os exames definiram uma patologiacirúrgica como causa da dor abdominal. Outro aspecto 
importante sobre a videolaparoscopia em situaçõeses de 
emergência é a necessidade de equipes treinadas e 
cirurgiões experimentados, habituados com esta técnica. 
Caso não exista esta disponibilidade, devemos optar 
pela laparotomia exploradora como técnica mais 
segura, tanto para o diagnóstico quanto para o 
tratamento. 
O algoritmo da Figura 1 tem o intuito de auxiliar e 
direcionar a investigação dos pacientes com dor 
abdominal, seguindo as diretrizes do consenso do 
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em 2006. 
Como podemos observar há muitas variáveis a serem 
consideradas, porém, até o momento, foram 
apresentadas as diretrizes para o diagnóstico, ainda não 
tendo sido discutido as opções terapêuticas específicas. 
Frequentemente, o tratamento específico se refere a 
uma intervenção cirúrgica (Figura 2). Contudo, em 
algumas situaçõeses de abdômen agudo, o tratamento 
especifico é eminentemente clínico como na 
pancreatite aguda. 
HISTÓRIA DO PACIENTE 
Concentre-se em trauma recente, história cirúrgica e 
médica e a relação da dor com febre, vômito, diarreia, 
disúria e menstruação. Determine o início, frequência, 
padrão, natureza e localização da dor. Avaliar a 
gravidade da dor. Observe os sintomas associados de 
sangramento retal, icterícia, perda de peso, anorexia e 
artrite. Identifique fatores precipitantes e condições 
predisponentes, incluindo constipação, medicamentos, 
picada de aranha/carrapato, doença falciforme, 
gravidez, cirurgia abdominal prévia e doença 
inflamatória intestinal. 
EXAME FÍSICO 
O exame físico criterioso somado à anamnese bem feita 
são os principais recursos com os quais o médico conta 
para seu raciocínio clinico e consequente avaliação 
diagnóstica e conduta. Embora pareça óbvio, é muito 
importante que o médico examine o "indivíduo" com dor 
abdominal aguda, e não o "abdome doente". 
O exame físico tem quatro importantes objetivos: 
1. Identificar sinais clínicos específicos que irão 
demandar diferentes medidas suportivas 
(soroterapia, transfusão, analgesia etc.); 
2. Identificar alterações objetivas e avaliar sua 
localização, extensão e correlação com as queixas 
do paciente, na tentativa de definir um diagnóstico 
etiológico; 
3. Colher subsídios quanto à indicação e à urgência 
do trata- . . . Mento cirutgico; 
4. Desvendar doenças não diretamente relacionadas 
com o abdome agudo, mas que podem 
contraindicar possível tratamento cirúrgico ou exigir 
precauções adicionais antes e durante a 
operação. 
O exame físico é dinâmico e se inicia com a inspeção 
geral e a ectoscopia. Deve-se observar, mais uma vez, a 
fácies, modo de andar, decúbito preferencial, o tipo de 
respiração e as atitudes do paciente. A ectoscopia geral 
deve ser realizada no paciente completamente despido, 
respeitando sua individualidade e seu pudor. Mucosas 
hipocoradas podem ser sinais de perda sanguínea, 
mucosas secas e olhos encovados são indicativos de 
desidratação, e a icterícia pode denotar colestase. A 
presença de manchas características na gengiva pode 
ser sinal de intoxicação por chumbo. Na pele, devem-se 
procurar púrpuras, que podem ser causa de abdome 
agudo, e lesões como herpes-zoster e equimoses. Estas, 
estando localizadas em flancos (sinal de Gray-Turner) ou 
região periumbilical (sinal de Cullen), sugerem 
pancreatite aguda grave. O ingurgitamento venoso 
cervical pode denotar insuficiência cardíaca congestiva 
ou pneumotórax espontâneo, capazes de causar dor 
relatada no abdome superior. 
Após cuidadosa inspeção geral e ectoscopia, segue-se 
à mensuração dos dados vitais (temperatura, pulso, 
pressão arterial e frequência respiratória). As variações 
dos dados vitais são frequentes nos casos de abdome 
agudo, mas sua alteração isolada é pouco especifica. 
Eles devem ser analisados em conjunto, considerando as 
queixas do indivíduo e relacionando-as com outros sinais. 
A temperatura discretamente elevada é vista na fase 
inicial do abdome agudo inflamatório, perfurativo e 
hemorrágico. Quando a dor abdominal é precedida de 
temperatura muito elevada, deve-se suspeitar de 
processo infeccioso renal ou pulmonar. Atualmente, é 
controversa a relação entre temperatura axilar e retal, 
sendo considerada supérflua para alguns autores. A 
alteração mais expressiva da pressão arterial e do pulso 
é o choque, que pode estar presente nos casos de 
hipovolemia, sepse e de falso abdome agudo, como nos 
casos de infarto do miocárdio. Um recurso semiológico na 
avaliação da hipovolemia é a presença de hipotensão 
arterial ortostática. A mensuração da pressão arterial 
deve ser realizada nos dois braços, pois diferença da 
pressão sistólica pode sugerir dissecção aguda da aorta. 
Pulso arrítmico secundário à fibrilação atrial pode ser foco 
de êmbolos para a artéria mesentérica. Paciente com 
respiração superficial pode estar com irritação 
peritoneal, taquipneia pode ser secundária à acidose 
metabólica e diversas outras alterações do padrão 
respiratório podem relacionar-se com várias situações 
ligadas ao abdome agudo. A mulher, em condição de 
higidez, apresenta respiração torácica; o homem, quase 
sempre, abdominal. Alterações desse padrão podem ser 
pistas importantes de irritação peritoneal. A ausculta 
cuidadosa do tórax pode revelar alterações do murmúrio 
vesicular e/ou a presença de ruídos adventícios, 
favorecendo o diagnóstico de doenças como a 
pneumonia e o pneumotórax. 
Anderson Soares 
Didaticamente, o exame físico do abdome compreende 
inspeção, ausculta, percussão e palpação. Deve-se 
salientar que os achados do exame do abdome estão 
essencialmente relacionados com a fase evolutiva da 
doença em curso. Durante a inspeção, devem-se avaliar 
a forma do abdome e a presença de distensões 
localizadas. Distensões assimétricas podem ser causadas 
por tumores e torção do sigmmde; distensão 
infraumbilical pode sugerir aumento vesical ou uterino e 
distensão supraumbilical, obstrução do delgado superior. 
Alguns casos de obstrução podem apresentar 
peristaltismo visível. É imprescindível inspecionar os pontos 
de fragilidade da parede abdominal à procura de 
hérnias, além de observar a presença de cicatriz 
cirúrgica, que pode indicar a possibilidade de existência 
de aderências ou suspeitar de algum evento 
complicador relacionado com a cirurgia prévia. Não 
desvalorizar a presença de equimoses ou outras possíveis 
alterações na pele. 
A ausculta abdominal é de suma importância, tanto na 
avaliação inicial quanto na evolução do quadro 
abdominal agudo. A principal informação que ela nos 
oferece é a característica do peristaltismo e, para tal, 
recomenda-se sua realização por tempo mínimo de 3 
min. Para isso, fixa-se a campânula do estetoscópio em 
um local (não se deve mudar de local a todo momento). 
O peristaltismo se encontra aumentado nos quadros 
iniciais de obstrução intestinal mecânica e na 
hemorragia digestiva e pode estar reduzido ou abolido 
nos quadros de hemoperitônio, íleo reflexo e abdome 
agudo inflamatório. O silêncio abdominal em um 
paciente que evoluía com peristaltismo de luta e suspeita 
de obstrução intestinal vai apontar para sofrimento de 
alça. 
A percussão abdominal é um riquíssimo recurso 
semiológico e se presta para confirmar a presença de dor 
abdominal, pesquisar e localizar diferentes graus de 
irritação peritoneal e identificar massas, ar livre e líquido 
intra-abdominais. Deve ser realizada de maneira gentil, 
sempre iniciada fora da área de maior sensibilidade, 
estendendo-se a todo o abdome com a mesma 
intensidade. De um modo geral, é bem mais tolerada 
que a palpação. O encontro de timpanismo ao nível da 
linha axilar média sobre a área hepática é sugestivo de 
pneumoperitônio e recebe o nome de sinal de Jobert. A 
presença de macicez móvel é sugestiva de ascite. A 
punho-percussão lombar - sinalde Giordano - sugere 
processo inflamatório retroperitoneal, sendo muito 
comum nos casos de pielonefrite. Ainda, é a percussão 
suave que indicará o ponto de máxima dor, que o 
médico relacionará com o órgão abaixo situado. 
A palpação abdominal constitui o tempo mais 
importante do exame físico do paciente com abdome 
agudo, pois, além de fornecer orientações quanto a um 
possível diagnóstico etiológico, fornece elementos 
objetivos para a indicação cirúrgica, inclusive orientando 
quanto a maior ou menor urgência desta intervenção. 
Ela é realizada com o paciente deitado 
confortavelmente, em decúbito dorsal, solicitando sua 
cooperação para relaxar, ao máximo, a parede 
abdominal. A palpação precisa ser feita de maneira 
delicada, utilizando-se da técnica correta e iniciando-se 
do ponto de menor dor para o de dor mais intensa. A 
contratura muscular verdadeira (reflexa à irritação do 
peritônio parietal) constitui o sinal mais importante nos 
casos de abdome agudo. Os músculos voluntários e os 
nervos cerebroespinais da parede abdominal constituem 
estruturas anatômicas pouco variáveis em suas posições 
e fornecem precioso subsídio diagnóstico. O sinal do 
obturador refere-se à rotação interna da coxa 
previamente fletida até o seu limite externo, 
determinando dor referida no hipogástrio, e está 
presente em foco inflamatório pélvico como a 
apendicite pélvica e a pelviperitonite. Para avaliar o sinal 
do psoas direito, coloca-se o paciente em decúbito 
lateral esquerdo (e vice-versa) e realiza-se a 
hiperextensão da coxa. Isso provocará intensa dor nos 
casos de afecções retroperitoneais, como apendicite 
retrocecal e abscesso perinefrético. A manobra de 
Blumberg é utilizada para avaliar irritação peritoneal de 
qualquer origem, e não apenas decorrente de 
apendicite aguda, e consiste em comprimir a parede 
abdominal até o máximo tolerado, descomprimindo-a 
rapidamente, o que ocasionará súbito aumento da dor. 
O sinal de Rovsing é a percepção da dor no quadrante 
inferior direito, quando palpamos o quadrante inferior 
esquerdo, devido ao deslocamento de gases 
retrogradamente em direção ao ceco, que, distendido, 
provoca dor. Diferentemente da contratura muscular 
verdadeira, a contratura de defesa aparece quando o 
peritônio parietal comprimido toca a víscera doente, 
induzindo um repentino aumento da dor. Um exemplo 
clássico é a intensa dor provocada pela inspiração 
profunda, quando se palpa o ponto cístico de pacientes 
com colecistite, também conhecida como sinal de 
Murphy. Durante apalpação abdominal, consiste em um 
erro grosseiro deixar de examinar os pontos de fragilidade 
do abdome à procura de hérnias. Nos pacientes acima 
de 50 anos, apalpação é importante método para o 
diagnóstico de aneurisma. 
O exame do períneo informa quanto à presença de 
fístulas em pacientes com doença de Crohn. O exame 
da bolsa escrota! pode revelar doenças como orquite ou 
epididimite, possíveis causadores de dor pélvica. Os 
toques retal e vaginal devem ser rea zados, li sempre que 
possível, e fornecem importantes informações, como 
irritação peritoneal na pelve, presença de sangramentos, 
amolecimento uterino (indicativo de gravidez), 
tumoração anexial, neoplasia de reto e fecaloma. 
• EXAMES LABORATORIAIS 
• RADIOGRAFIA SIMPLES E CONTRASTADA 
• ULTRASSONOGRAFIA 
• TOMOGRAFIA 
• RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 
• ARTERIOGRAFIA 
• LAPAROSCOPIA DIAGNÓSTICA 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
• Aneurisma da aorta abdominal 
• Apendicite aguda 
• Colecistite aguda 
• Diverticulite aguda 
• Isquemia Intestinal Aguda 
• Úlcera péptica aguda 
• Pancreatite aguda 
• Úlcera péptica aguda 
• peritonite aguda 
• Pielonefrite aguda 
• Cólica ureteral aguda 
• Crise adrenal 
• Cólica biliar 
Anderson Soares 
• Obstrução intestinal 
• Vólvulo intestinal 
• Carcinoide 
• Gravidez ectópica com ruptura tubária 
• Febre familiar mediterrânea 
• Hemoperitônio 
• Pedra no rim 
• Torção ovariana 
• Ruptura do baço 
• Anemia de células siculares 
MANEJO 
ADMISSÃO E AVALIAÇÃO INICIAL 
Os pacientes com suspeita de Abdome Agudo Cirúrgico 
são admitidos no HRSC via Célula de Regulação do 
Sistema de Saúde (CERSI) ou provenientes de outros 
setores da própria unidade. Os pacientes internados sem 
outros setores da unidade têm solicitados pelo médico 
assistente um pedido de interconsulta para a Cirurgia 
Geral, descrevendo de maneira detalhada o quadro 
clínico vigente e a suspeita clínica para o caso. O Núcleo 
de Atendimento ao Cliente (NAC) programa a 
interconsulta e aciona o cirurgião de plantão. Os 
pacientes admitidos via CERSI são ser encaminhados 
para leito na Clínica Cirúrgica onde são admitidos spelo 
cirurgião. Os pacientes admitidos sem definição 
diagnóstica têm exames solicitados em caráter de 
urgência, conforme a suspeita clínica. 
Os pacientes admitidos com diagnóstico de Abdome 
Agudo definido são imediatamente inseridos no mapa 
cirúrgico e encaminhados ao centro cirúrgico. O médico 
esclarece ao paciente o procedimento proposto para 
posterior assinatura dos termos de consentimento 
(cirúrgico e anestésico) pelo paciente. O Plano 
Terapêutico Multidisciplinar é aberto na admissão 
médica. 
Após a admissão são avaliadas as medidas de suporte: 
jejum, acesso vascular, reposição de fluídos, uso de 
sintomáticos, passagem de sonda gástrica na presença 
de vômitos repetitivos e/ou distensão abdominal, além 
da possibilidade de passagem de sonda vesical de 
demora para guiar a reposição de líquidos. 
Os pacientes admitidos com suspeita de Abdome Agudo 
devem ter definição diagnóstica 
ematé6horasdointernamento e tratamento cirúrgico 
realizado, idealmente, nas primeiras 9 horas após a 
admissão. 
Os pacientes submetidos a investigação para Abdome 
Agudo que tenham as causas cirúrgicas descartadas, 
mas que persistam sintomáticos, são encaminhados à 
enfermaria de Clínica Médica via transferência interna 
para prosseguir com investigação clínica. 
INDICAÇÃO 
Após confecção de série histórica do indicador e análise 
das variáveis que impactam no processo, o intervalo de 
tempo entre admissão e cirurgia será repactuado, 
visando torná-lo mais oportuno. 
INTERAÇÕES DE PROCESSOS COM OS 
SERVIÇOS DE APOIO 
LABORATÓRIO 
Os resultados dos exames laboratoriais solicitados em 
caráter de urgência são disponibilizados no Sistema VITAE 
em até 03 horas após a solicitação. Os exames com 
resultados críticos são impressos e entregues na 
enfermaria à equipe assistencial (preferencialmente à 
equipe médica, podendo ser recebido pelo enfermeiro 
ou técnico de enfermagem do setor). Exames solicitados 
na rotina são disponibilizados em até 06 horas após a 
solicitação. 
RADIOLOGIA 
Os exames radiológicos solicitados em caráter de 
urgência/emergência são priorizados e têm seus laudos 
disponíveis em até 6 horas. Nos exames com alterações 
importantes (resultados críticos) há a comunicação do 
radiologista com o médico assistente via telefone como 
medida adicional para agilizar a definição diagnóstica. 
Tal ação não exime a obrigatoriedade de 
disponibilização do laudo digitalizado do exame. O HRSC 
dispõe de um Guia de proteção de nefropatia induzida 
por contraste que é aplicado a todos os pacientes que 
possuam fatores de risco para tal. Nos pacientes com 
disfunção renal deve-se avaliar risco-benefício do exame 
contrastado, cabendo ao radiologista a decisão final 
sobre a infusão do contraste. Os pacientes submetidos a 
Anderson Soares 
exames contrastados passam a ser acompanhados pelo 
serviço de Radiologia quanto a possibilidade de lesão 
renal induzida por contraste através da dosagem de 
creatinina 48h após a infusão do mesmo. 
AGÊNCIA TRANSFUSIONAL 
Todo paciente com indicação de laparotomia 
exploradora tem Tipagem Sanguínea coleta da e reserva 
cirúrgica de 01 concentrado de hemácias, sendo 
necessário o preenchimento da Requisição de 
Transfusão.Caso seja necessário transfusão pré 
operatória, esta é solicitada separadamente (a 
solicitação de hemocomponentes é realizada no Sistema 
VITAE, na Aba RT). As solicitações classificadas como não 
urgentes são disponibilizadas em até 24 horas, as urgentes 
em até 3 horas e as solicitações de extrema urgência (CS: 
O-) são liberadas em até 15 minutos da solicitação 
mediante assinatura de termo de responsabilidade pelo 
médico assistente. 
O HRSC dispõe de um Guia de Transfusional com 
orientações acerca das indicações de reserva cirúrgica 
e transfusão de cada hemocomponente. 
SCIH 
A equipe de enfermagem utiliza o Escore para Alerta 
Precoce (MEWS) como parâmetro de deterioração 
clínica, acionando o enfermeiro ou médico para 
avaliação do paciente, conforme a necessidade. 
Pacientes admitidos com quadro de sepse ou que 
evoluam no internamento com MEWS>4 devem ter o 
Protocolo de Sepse prontamente acionado para rastreio 
REFERÊNCIAS 
LOPES Antonio Carlos, REIBSCHEID Samuel, SZEJNFELD 
Jacob. Abdome agudo: clínica e imagem. São Paulo: 
Editora Atheneu, 2006. 
DANI Renato. Gastroenterologia essencial. 4. ed.- Rio de 
Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 
Consenso do XXVI Congresso Brasileiro de Cirurgia. 
Algoritmo no Diagnostico do Abdome Agudo. Boletim 
CBC ed esp; 2006. 
BRUNETTI, Adriano; SCARPELINI, Sandro. Abdômen 
agudo. Biblioteca Escolar em Revista, v. 40, n. 3, p. 358-
367, 2007. 
PROTOCOLO CLÍNICO GERENCIADO: ATENDIMENTO 
INICIAL AO PACIENTE COM ABDOME AGUDO. Governo 
do Estado do Ceará, 2020. 
FERES, Omar; PARRA, Rogério Serafim. Abdômen 
agudo. Medicina (Ribeirão Preto), v. 41, n. 4, p. 430-436, 
2008.

Outros materiais