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DENGUE • Provocada por um flavivírus: vírus do gênero Flavivirus e da família Flaviviridae - patógeno de RNA, envelopado e que possui 4 sorotipos bem estabelecidos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e o DENV-4, sendo que em termos de virulência, o 2 é o que mais se destaca, seguido pelo 3, depois o 4 e, por último, o sorotipo 1; • A transmissão é feita por meio de insetos - mosquito fêmea do Aedes aegypt; o Ciclo holometábolo: relacionado ao processo de metamorfose - o mosquito põe ovos que depois originam as larvas, que vão formar as pulpas e essas, então, evoluem para os mosquitos em si; os ovos são muito resistentes e conseguem sobreviver em latência por até 450 dias em desidratação - se ele for exposto água, ele terá a capacidade de retomar seu processo evolutivo e dar origem a novos mosquitos; o Discordância gonotrófica: o mosquito desenvolveu a habilidade de sugar menos sangue, mas de mais pessoas; FISIOPATOLOGIA Fase inicial: • O vírus penetra na corrente sanguínea e se descolar para 3 locais: monócitos, linfonodos e musculatura esquelética; o Objetivo: se multiplicar - o RNA viral vai ser interpretado nos lisossomos para que sejam produzidas proteínas virais e a maturação dos vírions irá ocorrer dentro de organelas (complexo de golgi, retículo endoplasmático), o que permitirá a liberação dos mesmos novamente na corrente sanguínea após um determinado período; • O vírus irá se disseminar por todo o corpo, estimulando a produção de citocinas pró- inflamatórias ( TNF-a e IL-6), iniciando a fase sintomática - uma das estruturas mais afetadas pela inflamação é a parede vascular: aumenta a permeabilidade e pode desencadear hemorragias ou a perda de plasma para terceiro espaço; QUADRO CLÍNICO • Quadro febril agudo (de no máximo 7 dias), acompanhado de pelo menos 2 dos seguintes sintomas: dor retroorbitária, mialgia, prostração, cefaleia, artralgia, exantema; • 3 fases: fase febril, fase crítica e fase de recuperação o Fase febril: corresponde ao período sintomático; ▪ Febre alta (39-40ªC) de início súbito e duração de 2 a 7 dias, associada a sintomas pouco específicos (cefaleia, adinamia, mialgia, artralgia e dor retro- orbitária); ▪ Pode ter náuseas e vômitos, anorexia, diarreia e exantema; dengue ▪ Diarreia: pouco volumosa, com fezes pastosas e frequência de 3-4x ao dia - facilita na diferenciação de quadros de gastroenterites; ▪ Exantema: presente em cerca de 50% dos casos, padrão máculo- papular, afetando todo o corpo; ▪ Prova do laço: teste que deve ser feito em todos os pacientes com suspeita de dengue que não apresentem sangramento espontâneo; • Consiste na insuflação do manguito do esfigmomanômetro até um valor médio entre a PAS e a PAD do paciente, sendo que isso será mantido por cerca de 5min (em crianças, 3min); • A partir daí, avalia-se uma área de aproximadamente 6,25cm3 (quadrado com lados de 2,5cm) no antebraço do paciente e checar se surgiram mais de 20 petéquias (ou mais de 10 em crianças) - prova positiva; • Prova do laço positiva indica que o paciente tem uma fragilidade capilar, mas não é patognomônico de dengue; o Fase crítica: se caracteriza por uma melhora da febre entre o 3º e o 7º dia; ▪ Associada a sinais de alarme: • Dor abdominal intensa; • Vômitos persistentes; • Acúmulo de líquidos; • Letargia/irritabilidade; • Hipotensão postural; • Hepatomegalia (>2cm); • Sangramento de mucosa; • Aumento de Ht; ▪ Hemoconcentração (aumento progressivo do Ht) é o principal achado laboratoriaL de extravasamento capilar; ▪ Choque: o quadro de inflamação sistêmica afeta as paredes dos vasos, o que leva a um aumento da permeabilidade vascular e favorece a perda de líquido para terceiro espaço, podendo causar choque (frequentemente entre o 4º e 5º dia de doença); ▪ Hemorragia Grave: se dá pelo acometimento vascular e pelo acometimentos das plaquetas - torna mais difícil o processo de tamponamento; • Por conta dessa complicação, é contraindicado o uso de medicamentos como o ácido acetil-salicílico (AAS) e os AINEs - afetam a cascata de coagulação; ▪ Disfunção Orgânica: comprometimento funcional de vários órgãos como o fígado (hepatite), o coração (miocardite), os rins (insuficiência aguda) e também o sistema nervoso central (convulsões, encefalites, etc.); • Incluir exames para avaliar função orgânica geral em pacientes com dengue grave - TGO e TGP, ECG, ureia e creatinina; o Fase de recuperação: melhora progressiva dos sintomas e do estado geral; ▪ O paciente irá começar a reabsorver o líquido perdido para terceiro espaço - risco de hiper- hidratação; • Crianças: pacientes pediátricos não costumam fazer o quadro clássico; o Tendem a se manter assintomáticos ou apresentar sintomas muito inespecíficos (adinamia, sonolência, náuseas e vômitos); • Gestantes: precisam ser acompanhadas pelo fato de a dengue aumentar a ocorrência alterações fisiológicas da gravidez, bem como de sangramentos obstétricos; o Sempre interrogar sobre episódios de febre nos últimos 7 dias; DIAGNÓSTICO • Quadro clínico clássico + período epidemiologicamente ativo: dispensa qualquer outra investigação; • O método de escolha para fazer o diagnóstico depende do tempo de início da doença; • Exames válidos: o Hemograma: presença de linfócitos atípicos e plaquetopenia; o Exames para disfunção orgânica: TGO e TGP, ureia e creatinina; • Durante os 5 primeiros dias da doença, o paciente ainda não vai ter desenvolvido sorologia para Dengue - a única forma diagnóstica é através da dosagem de partículas relacionadas ao próprio vírus causador; o Pesquisa de Antígeno Viral (NS1) - melhor opção: sensibilidade de 70% e especificidade de 95%, o que nos confere valores de RP+ de 14 e RP- de 0,3; ▪ Deve ser feita até o 3º dia da doença - depois disso, sua acurácia começa a cair; ▪ Caso o paciente já tenha tido dengue: perde um pouco do seu valor diagnóstico; o Teste de Amplificação Genética (RRT- PCR); o Imuno-histoquímica Tecidual; o Cultura; • A partir de 5 dias: do sexto dia em diante utiliza-se sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG; o IgG: mostra se o paciente já foi exposto ao vírus alguma vez; o IgM: sensibilidade e especificidade em torno de 80%, - RP+ de 4 e RP- de 0,25; mantém válido por até 90 dias após a infecção; ESTADIAMENTO • Classificação dos pacientes: • Paciente A/B: descobrir se ele tem alguma condição especial e que precise de um acompanhamento diferenciado - gestantes, crianças, idosos e portadores de doenças crônicas; o Se não tiver nada disso: A; e se tiver, como B; • Eixo C/D: se há presença de sinais de complicações (choque, hemorragia e disfunção orgânica); o Se o paciente não tiver nada disso, só os sinais de alarme, ele será C; se tiver, será D. TRATAMENTO • Categoria A: solicitar os exames diagnósticos e prescrever dipirona e/ ou paracetamol (controle dos sintomas); o Acompanhamento ambulatorial; o Orientar repouso e hidratação; • Categoria B: manter o acompanhamento em leitos de observação, mas com a mesma conduta para o paciente A (exames diagnósticos, medicamentos para controle álgico e hidratação oral) • Categoria C: internação e reposição volêmica imediata (10mL/kg de soro fisiológico na 1ª hora) + medicamentos para controle de sintomas; o Pacientes devem ser submetidos a todos os exames: Hemograma; Transaminases; Albumina Sérica; Ureia e Creatinina; Glicemia; Gasometria; ECG/ECO; Radiografia de Tórax; USG de Abdome; o Investigar se está evoluindo com alguma complicação (choque, hemorragia ou disfunção); o Se houver melhora: readaptara hidratação para 25mL/kg em 6h e se continuar melhorando, a próxima etapa é 25mL/kg em 8h; o Se não houver melhora: realocação para o grupo D; • Categoria D: manejo na sala de emergência + medicamentos para controle de sintomas + exames do grupo C + reposição volêmica imediata (20mL/kg de solução salina por via parenteral em até 20min); • Reavaliação a cada 15-30min e repetir o hemograma a cada 2h para que seja acompanhado o valor do Ht; Hidratação oral: o Para adultos: 60mL/kg/dia - preferencialmente, ingerir 2/3 do valor indicado nas primeiras 4-6h após o atendimento e distribuir o outro 1/3 entre o período restante; o Não é necessário interromper a alimentação. o Para crianças: ▪ Até 10 kg: 130 ml/kg/dia; ▪ Entre 10-20kg: 100 ml/kg/dia; ▪ Acima de 20kg: 80 ml/kg/dia; NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA • A dengue é uma doença de notificação compulsória; • O médico é obrigado a informar ao Ministério da Saúde os casos em que foi confirmada a doença e todos os casos de suspeita; • A notificação pode ser feita em 5 categorias diferentes: o Suspeita de Dengue; o Suspeita de Dengue com sinais de alerta; o Suspeita de Dengue Grave; o Caso confirmado; • Nos primeiros casos notificados, é obrigatório que essa confirmação seja feita com base em achados laboratoriais. Nos próximos podem ser baseados no quadro clínico epidemiológico; • Caso descartado: preciso de pelo menos 1 dos critérios: o Laboratório negativo; o Confirmação de outra doença; o Sem exames laboratoriais, mas com clínica e epidemiologia compatíveis com outra doença; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Brasileiro Filho, Geraldo. Bogliolo: patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Semiologia Médica: as Bases do Diagnóstico Clínico. Mario Lopez & J. Laurentys Medeiros. REVINTER. 5ª Edição. Fundação Oswaldo Cruz. Glossário de doenças. DIAS, Larissa. Dengue: Transmissão, Aspectos Clínicos, Diagnóstico e Tratamento. Medicina (Ribeirão Preto). 2010; Ministério da Saúde. Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico. 5ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Veronesi: Tratado de Infectologia. 5. Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015. http://www.agencia.fiocruz.br/dengue-0
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