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AS CIDADES SENSÍVEIS: NOTAS SOBRE A AUSÊNCIA DA EXPERIÊNCIA ATRAVÉS DE UMA ATIVIDADE PRÁTICA THE SENSITIVE CITIES:NOTES ON THE ABSENCE OF EXPERIENCE THROUGH A PRACTICAL ACTIVITY LAS CIUDADES SENSIBLES: NOTAS SOBRE LA AUSENCIA DE EXPERIENCIA A TRAVÉS DE UNA ACTIVIDAD PRÁCTICA CARVALHO, Ana Luiza Ribeiro Mestranda em Artes Urbanidades e sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del Rei, analucarvalhoo@gmail.com PEREIRA, Karla Maria de Oliveira Mestranda em Artes Urbanidades e sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del Rei, kmop1@hotmail.com SILVA, Flávio Silvério da Mestrando em Artes Urbanidades e sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del Rei, flavio.slvr@gmail.com RESUMO A proposta do presente artigo é trazer o relato proveniente da oportunidade de realização de um trabalho prático, performático, elaborado para a disciplina Troca de Saberes, do Programa Interdepartamental de Pós- Graduação Interdisciplinar em Artes, Urbanidades e Sustentabilidades da Universidade Federal de São João del Rei. A intenção de nossa atividade prática foi de ressaltar, por meio da influência do texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, de Jorge Larrosa Bondía, as experimentações que deixamos de nos submeter ao lidarmos com o cotidiano de nossas vidas corridas dentro do meio urbano. O texto expõe as motivações que levaram à proposição do trabalho, juntamente com a sua forma de desenvolvimento, colocando, por fim, as assimilações das experiências aguçadas com a performance aplicada e também nossa percepção diante de uma produção transdisciplinar. PALAVRAS-CHAVE: transdisciplinaridade, experiência, performance, urbano. ABSTRACT The purpose of this article is to present an account of the opportunity to perform a practical, performance- oriented work developed for the discipline Exchange of Knowledge, Interdepartmental Interdisciplinary Program in Arts, Urbanities and Sustainability of the Federal University of São João del The intention of our practical activity was to emphasize, through the influence of the text "Notes on the experience and the knowledge of experience", of Jorge Larrosa Bondía, the experiments that we stopped of submitting to us when we deal with the daily life of our races within the urban environment. The text exposes the motivations that led to the proposition of the work, along with its development, putting, finally, the assimilations of the experiences with the applied performance and also our perception of a transdisciplinary production. KEY-WORDS: Transdisciplinarity, experience, performance, urban. 1- INTRODUÇÃO Criado em 2016, o Programa Interdepartamental de Pós-Graduação Interdisciplinar em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade (PIPAUS) da Universidade Federal de São João Del-Rei, assumiu o desafio de explorar territórios de interseção entre esses três elementos que compõem os pilares de uma inédita proposta interdepartamental. As 'Artes', pensadas em um contexto amplo e plural, correspondem às provocações do espírito humano quanto à natureza da existência e das coisas, proporcionando experiências sensoriais e estéticas que tencionam a naturalidade da vida, e fazem perguntas sobre o que está por vir. As 'Urbanidades' acomodam a preocupação com as relações sociais, questionando e transformando as modalidades de ocupação do espaço e do tempo, fortalecendo as possibilidades de vida harmônica entre as comunidades. A 'Sustentabilidade', em franca especialização e tecnologização, que se apresenta como um conceito que permeia todas as esferas de relações, trazendo o convencimento de que não há projeto de longo prazo que possa prescindir de um entendimento sistêmico da vida no planeta, onde as tomadas de decisões no presente devem contemplar o futuro justo para todos os povos. O presente artigo surge das discussões iniciadas na disciplina “Troca de Saberes”, cursada no PIPAUS da UFSJ, a partir do texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” de Jorge Larrosa Bondía. Através das atividades desenvolvidas em sala nos foi permitido a criação de uma vivência, tendo como base a obra de Larrosa, que buscou relatar as experiências, ou a falta delas, diante do cotidiano em meio ao contexto urbano. Procuramos levantar questões relacionadas às ações rotineiras que, muitas vezes, estão inseridas nas condutas das cidades, e que acabam passando por nós de forma desapercebida, se tornando, cada vez mais, práticas impessoais e desumanas. Através do exercício desenvolvido, propomos a reflexão voltada à redução, ou inexistência, das experiências nos espaços públicos. Chamamos a atenção para a atrofiação das áreas de encontro dentro das cidades que dão origem a lugares banalizados, consolidados por meio de ambientes que são construídos limitados ao emaranhado de vias que se mostram presas à superficialidade da distribuição ordenada dos seres, que objetivam meramente chegarem aos seus destinos sem se atentarem ao próximo. Desta maneira, no texto que aqui se apresenta, fazemos um relato sobre a base teórica que nos impulsionou, e posteriormente continuou servindo de referência, para o desenvolvimento do trabalho prático proposto. Passamos pela descrição dos desdobramentos da atividade realizada e os objetivos que almejamos com a mesma. Ao final, relatamos as nossas percepções referentes às experiências citadas pelos usuários de nossa instalação, bem como nossas próprias expectativas e experiências diante de um trabalho transdisciplinar concretizado a partir do envolvimento das áreas da Cerâmica, Teatro e Urbanismo. 2- SOBRE AS CIDADES SENSÍVEIS Quais e quantas são as experiências que somos capazes de nos permitir no cotidiano em meio ao contexto urbano? Práticas ritmadas e ligações rotineiras que, muitas vezes, estão inseridas no dia a dia das cidades, tornam cada vez mais as relações estabelecidas no ambiente citadino impessoais e desumanas. Relatando assim a ausência de experiências nos espaços, a redução das áreas das cidades à lugares banalizados e a limitação das vias, presas à superficialidade da distribuição dos seres que objetivam apenas chegarem aos seus destinos sem se atentarem ao próximo. A cidade, enquanto tema, surge no livro As cidades Invisíveis de Ítalo Calvino, onde ele afirma: “Se meu livro continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjecturas: e também porque consegui construir uma estrutura facetada em que cada texto curto está próximo dos outros numa sucessão que não implica uma consequencialidade ou uma hierarquia, mas uma rede dentro da qual se podem traçar múltiplos percursos e extrair conclusões multíplices e ramificadas” (CALVINO,1990:P.85-6) Assim, o ambiente urbano, visto como uma performance, desloca o pensamento de um lugar comum em busca de uma ressignificação de nossas expressões e sentimentos no cotidiano. A imagem da cidade por meio de um espaço construído para o homem e pelo homem através de algumas técnicas carregadas de uma concepção das relações homem, natureza e sociedade, transformando a cidade assim, em um objeto significante. Heidegger(1987), afirma que é a experiência que nos alcança e nos transforma. Larrosa (2002, p. 21), acrescenta que a “experiência é aquilo ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação.” A cidade, como palco performático, surge em conjunto com a experiência de que nos fala Larrosa. Na busca de uma significação, ou mais precisamente, uma ressignificação do cotidiano urbano, deslocando o pensamento de um ambiente comum em busca de uma redefinição de nossas expressões e sentimentos. Enquanto performance, Féral (2008), define o “TeatroPerformativo” como o teatro da contemporaneidade, indo além de Lehmann (2007) que o definiu como teatro Pós Dramático. Para a autora o teatro performativo está em todo o palco, em todo o espetáculo, já que a performatividade está no centro de seu funcionamento, é o cerne do teatro contemporâneo. Neste sentido buscou conceituar performance através de dois vieses, a performance concebida como forma artística (performance arte) e a performance tida como instrumento teórico, para a conceituação do fenômeno teatral. Destaca ainda alguns elementos fundadores da performance, que modificaram o processo de criação do fazer teatral. Como: “A transformação do ator em performer, a descrição dos acontecimentos da ação cénica em detrimento da representação ou de um jogo de ilusão, o espetáculo centrado na imagem e na ação e não mais sobre o texto, apelo a uma receptividade do espectador de natureza essencialmente especular ou aos modos das percepções próprias da tecnologia...” (FÉRAL 2002,p 198) Mais uma vez em 2008, Féral afirma que tais elementos destacam a performatividade na cena; e estes são encontrados em grande parte das produções do teatro contemporâneo. Para descrever o conceito de Performance a autora se valeu ainda de dois autores: Richard Schechner e Andreas Huyssem. O primeiro, ampliou o conceito de performance, afirmando que “a performance transcende o fazer artístico e se inclui nos domínios da cultura tomando, para tanto, os aspectos “étnico e intercultural, histórico e a-histórico, estético e ritual, sociológico e político” para afirmar que performance está em todas as “manifestações teatrais, rituais, de divertimento e toda manifestação do cotidiano” (p.199)”. Por sua vez, Huyssem aborda a questão da performance no campo propriamente estético, defende o modernismo como o responsável pela ruptura da visão elitista da arte para com a cultura popular; e pelo afastamento da arte dos aspectos políticos e sociais. Também Schechner e Huyssen contribuíram sistematicamente para uma reflexão sobre o teatro performativo, assim podemos afirmar que ambos, definem o teatro como arte e a performance como experiência e competência, conceituam o teatro contemporâneo que tem em sua essência múltiplas especificidades. Para Schechner, três ações definem a performance: • Ser - être – being, no sentido de se comportar (“to behave”); • Fazer - (“doing”), a atividade de tudo que existe, desde os elementos físicos – quarks – até os seres humanos; • Mostrar o que faz (“showing doing”, ligado à natureza dos comportamentos humanos). Trata- se de aparecer, se mostrar dar um show. (2002, p.127) Ao citar Schechner, que estabelece a importância da execução de uma ação como primeira na concepção de performar, ela entende que o autor toca em um “ponto nevrálgico de toda performance cênica” (p.201). O “fazer” está implícito em toda a atividade cênica, porém no teatro performativo o “fazer” é primordial e fundamental para que ocorra a performance. Um outro aspecto destacado por Féral para estabelecer um conceito mais amplificado de performance e teatro performativo, é o fato de que a performance acontece, o ator executa a ação canta, dança e até representa, mas que na “sequência saem dele completamente”. O ator performa, pois coloca em frente “seu corpo, seu jogo e suas competências técnicas, mudando completamente de paradigma já que precisa mudar constantemente sua atuação. Enquanto ação, o habitante da cidade é o performer, ou seja, ele representa e é a ele que a experiência acontece. Para tanto, o objeto de reflexão da performance busca incitar em seus espectadores a ideia de Genius Loci proposta por Christian Norberg-Schulz, uma vez que ele se refere ao termo como o espírito do lugar, ou seja, o “como estamos no lugar” tendo a compreensão de que os lugares são possuidores de um espírito, de uma identidade, o que os torna únicos e onde cada indivíduo que o experiencia também é único. Para Norberg-Schulz (1980), a saída para esta crise ambiental é o desenvolvimento de uma fenomenologia do lugar, de modo que a arquitetura ofereça respostas formais a partir de uma base concreta, ajudando o homem a habitar de maneira verdadeira e significativa. 3- O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE PERFORMÁTICA Diante de tais colocações, propomos o desenvolvimento de uma atividade que contasse com dois cenários carregados de características bem peculiares, remetendo a ideia de Augé (1994) de “lugares” e “não-lugares”1. Primeiramente, a ideia de “não-lugar” é evidenciada por meio de um ambiente conturbado imerso ao caos pertinente do cenário urbano. Em um segundo momento, buscando a compreensão de “lugar”, objetivamos a reprodução de uma área que incentivasse a desaceleração de nossos pensamentos, criando a possibilidade de interação e convívio social. Este 1 Augé em sua obra “Não-lugares”, define como principal característica do lugar a identidade que o homem cria com ele. O lugar representa a construção física, ou simbólica, do espaço referido por todos aqueles que criam uma afetividade com esse espaço, dando a ele um sentido de pertencer ao mundo onde esse indivíduo vive. O “não-lugar” existe e se torna algo real, onde as relações humanas ocorrem, porém de uma forma diferente de um “lugar” propriamente dito. Para Augé (1994,102) “Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar”. segundo ambiente, dentro de nossa concepção criativa, foi elaborado com a ideia de se fazer menção a uma praça ou a um local de respiro dentro das cidade. Outro ponto relevante em nosso trabalho, se refere à presença de cores dentro dos ambientes proporcionados aos usuários. Neste ponto, destacamos nossas influências provenientes das produções cinematográficas como os filmes “Stalker” (1979), do diretor Andrei Tarkovski, e “Direito de amar” (2010), do diretor Tom Ford. Em ambas as obras existe uma sutil maneira de apresentação das cenas, que utiliza de composições monocromáticas e coloridas como forma de mostrar os sentimentos de prazer ou angústia dos respectivos protagonistas. Os ambientes agradáveis que geram excitação aparecem configurados por uma variedade de cores, ressaltadas muitas vezes pela luz do sol, diferentemente dos lugares de sensações ruins que são mostrados acompanhados por uma penumbra proveniente dos tons de cinza ou sépia. Passamos então para a descrição do desenvolvimento lógico de nosso trabalho, que aqui chamaremos de “cenas”, fazendo alusão às nossas referências do teatro, se tratando de uma performance, e do cinema: CENA 1: O não-lugar da não-experiência O primeiro ambiente, escuro e cinza, é esteticamente insosso e envolto por uma atmosfera impessoal. Nele, a nossa intenção é de que as pessoas sejam inundadas por uma sequência de imagens, captadas por profissionais críticos dos meios midiáticos sensacionalistas ou não, que levem ao pensamento analítico sobre a maneira como estamos passando nossas vidas sem se importar com as circunstâncias ao nosso redor, fazendo relação a definição de Augé (1994), com lugares que não nos levam a uma reflexão e identificação pessoal. Junto ao conjunto de imagens expostas de forma rápida, como flashes fotográficos, um som perturbador e incômodo, pertinente aos nossos densos centros urbanos faz a sonoplastia ambiente. Walter Benjamin (1985), fala da ausência da vivência de uma experiência autêntica, da pobreza das experimentações na modernidade e da impossibilidade de elaboração de uma comunicação que vise a experiência coletiva, visceral, prenhe de um amplo ordenamento cognitivo do mundo. Assim, as imagens que mencionamos são acompanhadas de perguntas relacionadas ao conhecimento pessoal entre as pessoas que fazem parte da atividadeproposta. Como por exemplo: “Você saberia dizer a data de aniversário da pessoa ao lado?” A intenção é mostrar que, assim como no ambiente urbano, muitas vezes não conhecemos ou não percebemos as pessoas que atuam diariamente naquele local, chamando a atenção para nossa falta de experiência com relação a isso. Os performers permeiam com passos rápidos e desordenados por entre os integrantes da atividade, ao mesmo tempo que sussurram em seus ouvidos provocações sobre a falta de experiência no dia a dia de cada um, distribuindo materiais para que estes escrevam no chão seus sentimentos no momento. CENA 2: O Lugar que nos toca é o Lugar que nos acontece Ao fim da turbulência visual e auditiva causada por tantas informações imagéticas e sonoras, os participantes são convidados a se retirarem da sala em direção a um espaço harmonioso, ao ar livre,sob a luz do sol, dotado de plantas e elementos que remetem a um jardim. Esse segundo recorte, faz referência aos espaços de “respiro” da cidade, que podem desempenhar um papel ímpar para a qualidade de vida urbana através da vivência dos sentidos e do estímulo das subjetividades. Com a presença humana, o lugar natural e o lugar construído devem possuir uma ligação recíproca, pois segundo defende Norberg-Schulz (1980), não podemos habitar verdadeiramente um lugar qualquer, isto implica um conjunto de qualidades e relações que o transforma em Lugar, possuidor de um caráter comum. Vieira (2004) admite que as áreas verdes assumem diferentes papéis na sociedade e suas funções estão diretamente ligadas ao bem estar dos ambientes urbanos. Para o autor, os usos dessas áreas estariam relacionados às funções social, ecológica, educativa e psicológica. Sem dúvidas, o contato da população com elementos naturais propiciam o alívio das tensões e o estresse do cotidiano, além da criação de afetividade e pertencimento com o local, tornando-se assim um “lugar” para o indivíduo. Assim, nesse segundo ambiente, denominado “lugar”, carregado de ares calmos, coloridos e convidativos a contemplação, é servido um chá em peças de cerâmicas, fazendo referência ao chanoyu ou cerimônia do chá praticada entre os japoneses, onde a experiência está intimamente ligada à prática. É nesse momento, em um ambiente que tem a função de induzir ao relaxamento, que as pessoas são convidadas a parar, observar, escutar, sentir, a pensar mais devagar, entregar-se aos detalhes, suspender o automatismo de qualquer ação e refugiar-se, a experiência de que fala Heidegger e Larossa é sentida. CENA 3: o sujeito da experiência Após a contemplação do ambiente cheio de plantas, os participantes são convidados a compartilhar suas experiências, do primeiro e do segundo espaço, falando sobre todo o acontecido e relatando de que forma os estímulos recebidos influenciaram as possíveis sensações em cada um. Segundo Larrosa (2002), o ato de se conquistar uma experiência é único, comparado a uma paixão. Desta maneira, a intencionalidade por detrás de nosso exercício é sim de incitar os participantes ao relato da experimentação sensitiva e sensorial proporcionada por cada ambiente, mas além disso, o que se almeja é proporcionar a chance de percepção e descobrimento dos outros colegas, através de uma forma inusitada. Para Umberto Eco, “quando não muda o objeto de indagação, mudam os métodos para interpretá-lo” (ECO, 1962, p.16). Portanto a reflexão sobre a cidade, no contexto da experiência, sugere uma ruptura com os automatismos cotidianos e propõe uma visão libertária através de uma ressignificação poética e experimental na busca da reflexão sobre esses espaços. Através disso, fazemos um alerta para a maneira como lidamos com as pessoas nas cidades através de relações extremamente superficiais, chamando a atenção para as oportunidades de experiência que o meio urbano nos propicia. A atividade performática induz a compreensão semiótica sobre o pensamento da cidade, como uma experiência, singular e individual com um ambiente aparentemente desconhecido, mas comum ao cotidiano de cada um. A entendimento da metrópole perante a materialização de sentimentos despertados busca relembrar que não somos simplesmente observadores da cidade, fazemos parte dela diretamente e que devemos desconstruir essa visão parcial e fragmentada para uma visão mais abrangente e participativa do lugar. Ítalo Calvino contribui para esse pensamento quando sugere que a ideia é percorrer a cidade com o pensamento, pois a travessia não é física, mas interior. 4- CONCLUSÃO Como conclusão, por meio do exercício desenvolvido para a disciplina Troca de Saberes, foi interessante perceber como os usuários de nossas instalações estavam submersos dentro de suas atividades diárias a ponto de não experimentar a cidade através de formas simples e diferentes daquelas que as suas respectivas rotinas exigiam. E isso se refletia mesmo dentro de sala de aula, onde muitas, vezes diante das condutas costumeiras, somos incapazes de compreender o nosso espaço, nossos colegas e funcionários de uma maneira diferenciada, mais particular, passível de uma verdadeira experiência. Dentre o relatos apontados, foi interessante perceber como muitas vezes em nossos caminhos diários cumprimentamos uma determinada pessoa, sem ao menos nos darmos ao trabalho de saber o seu nome. Como infalivelmente os barulhos fragorosos, tão pertinentes do cenário urbano, se tornam quase imperceptíveis perante à nossa pressa de chegar a um determinado lugar. É interessante observarmos como vários elementos do nosso dia a dia se tornam ubíquos nas paisagens das cidades, que em nosso trabalho procuramos materializar através de um pequeno recorte. O espaço da cidade contemporânea possui um tempo veloz, a informação corre através de cabos, o passo é apertado pelos muitos afazeres e, muitas vezes, a experiência fica em segundo plano. A ação performática aqui descrita teve o objetivo de pensarmos em nossas ações no dia a dia, intenso e voraz, das cidades e deixando-nos levar por detalhes que estão à nossa volta, fazendo com que tenhamos uma percepção de nosso valor, nossa identidade, nossa memória para além da ideia de correr contra o tempo. O tempo, por si só é inatingível, portanto a memória da experiência seria o ponto de conexão entre o próprio tempo e a vida. É a memória que cria a identidade de um lugar com o indivíduo. Assim, cada indivíduo terá suas próprias conclusões sobre as experiências vividas. Ainda, por meio de tais pressupostos, uma visão da transdisciplinaridade aplicada à práxis aparece com a oportunidade de uma composição feita sob o olhar de três áreas diferentes ( as artes aplicadas, arquitetura e o teatro), buscando a elaboração de um trabalho que almeja a compreensão dos espaços das cidades para além do campo da urbanidade, fazendo uma correlação entre lugar, tempo e performatividade por meio da experimentação do corpo, que sugere que somos parte indissociável dos espaços, nos levando inconscientemente ao mundo da percepção. Enquanto o corpo sente, a consciência cria. Assim, o corpo como centro de todas as nossas experiências, na relação com os outros e com o mundo, transita junto com a nossa consciência atuando como uma máquina de fotografias, registrando nossas experiências. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGÉ, Marc. Não-lugares. Papirus Editora, 1994. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985. BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista brasileira de educação, n. 19, 2002. CALVINO, Ítalo; INVISÍVEIS, Cidades. Tradução Diogo Mainardi. Um General na Biblioteca. São Paulo, 1990. DIREITO de amar. Direção de Tom Ford. Produção de Tom Ford, Chris Weitz, Andrew Miano, Robert Salerno. Los Angeles: Artina Films, 2010. (101 min.), son., color. Legendado. ECO, Umberto. Obra Aberta. São Paulo:Perspectiva, 2005. FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. Sala Preta, Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Eca/USP, São Paulo, n. 08, 2008. p.197-210. Tradução: Lígia Borges HEIDEGGER, Martin. La esencia del habla. In: De camino al habla Barcelona: Edicionaes del Serbal. 1987 LEHMANN, H.-T. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007. p. 224 NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius loci: Towards a phenomenology of architecture. Rizzoli, 1980. STALKER. Direção de Andrei Tarkovski. Roteiro: Andrei Tarkovski, Boris Strugatsky, Arkady Strugatsky. Estônia: Mosfilm, 1979. (163 min.), son., color. Legendado. VIEIRA, P.B.H. Uma Visão Geográfica das Áreas Verdes de Florianópolis-SC: estudo de caso do Parque Ecológico do Córrego Grande (PECG). 2004. 109 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
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