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AS CIDADES SENSÍVEIS

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AS CIDADES SENSÍVEIS: NOTAS SOBRE A AUSÊNCIA DA EXPERIÊNCIA 
ATRAVÉS DE UMA ATIVIDADE PRÁTICA 
THE SENSITIVE CITIES:NOTES ON THE ABSENCE OF EXPERIENCE THROUGH A 
PRACTICAL ACTIVITY 
LAS CIUDADES SENSIBLES: NOTAS SOBRE LA AUSENCIA DE EXPERIENCIA A TRAVÉS 
DE UNA ACTIVIDAD PRÁCTICA 
CARVALHO, Ana Luiza Ribeiro 
Mestranda em Artes Urbanidades e sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del Rei, 
analucarvalhoo@gmail.com 
PEREIRA, Karla Maria de Oliveira 
Mestranda em Artes Urbanidades e sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del Rei, 
kmop1@hotmail.com 
SILVA, Flávio Silvério da 
Mestrando em Artes Urbanidades e sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del Rei, 
flavio.slvr@gmail.com 
 
RESUMO 
A proposta do presente artigo é trazer o relato proveniente da oportunidade de realização de um trabalho 
prático, performático, elaborado para a disciplina Troca de Saberes, do Programa Interdepartamental de Pós-
Graduação Interdisciplinar em Artes, Urbanidades e Sustentabilidades da Universidade Federal de São João del 
Rei. A intenção de nossa atividade prática foi de ressaltar, por meio da influência do texto “Notas sobre a 
experiência e o saber de experiência”, de Jorge Larrosa Bondía, as experimentações que deixamos de nos 
submeter ao lidarmos com o cotidiano de nossas vidas corridas dentro do meio urbano. O texto expõe as 
motivações que levaram à proposição do trabalho, juntamente com a sua forma de desenvolvimento, 
colocando, por fim, as assimilações das experiências aguçadas com a performance aplicada e também nossa 
percepção diante de uma produção transdisciplinar. 
PALAVRAS-CHAVE: transdisciplinaridade, experiência, performance, urbano. 
 
ABSTRACT 
The purpose of this article is to present an account of the opportunity to perform a practical, performance-
oriented work developed for the discipline Exchange of Knowledge, Interdepartmental Interdisciplinary Program 
in Arts, Urbanities and Sustainability of the Federal University of São João del The intention of our practical 
activity was to emphasize, through the influence of the text "Notes on the experience and the knowledge of 
experience", of Jorge Larrosa Bondía, the experiments that we stopped of submitting to us when we deal with 
the daily life of our races within the urban environment. The text exposes the motivations that led to the 
proposition of the work, along with its development, putting, finally, the assimilations of the experiences with 
the applied performance and also our perception of a transdisciplinary production. 
KEY-WORDS: Transdisciplinarity, experience, performance, urban. 
 
 
 
1- INTRODUÇÃO 
Criado em 2016, o Programa Interdepartamental de Pós-Graduação Interdisciplinar em Artes, 
Urbanidades e Sustentabilidade (PIPAUS) da Universidade Federal de São João Del-Rei, assumiu o 
desafio de explorar territórios de interseção entre esses três elementos que compõem os pilares de 
uma inédita proposta interdepartamental. As 'Artes', pensadas em um contexto amplo e plural, 
correspondem às provocações do espírito humano quanto à natureza da existência e das coisas, 
proporcionando experiências sensoriais e estéticas que tencionam a naturalidade da vida, e fazem 
perguntas sobre o que está por vir. As 'Urbanidades' acomodam a preocupação com as relações 
sociais, questionando e transformando as modalidades de ocupação do espaço e do tempo, 
fortalecendo as possibilidades de vida harmônica entre as comunidades. A 'Sustentabilidade', em 
franca especialização e tecnologização, que se apresenta como um conceito que permeia todas as 
esferas de relações, trazendo o convencimento de que não há projeto de longo prazo que possa 
prescindir de um entendimento sistêmico da vida no planeta, onde as tomadas de decisões no 
presente devem contemplar o futuro justo para todos os povos. 
O presente artigo surge das discussões iniciadas na disciplina “Troca de Saberes”, cursada no 
PIPAUS da UFSJ, a partir do texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” de Jorge 
Larrosa Bondía. Através das atividades desenvolvidas em sala nos foi permitido a criação de uma 
vivência, tendo como base a obra de Larrosa, que buscou relatar as experiências, ou a falta delas, 
diante do cotidiano em meio ao contexto urbano. Procuramos levantar questões relacionadas às 
ações rotineiras que, muitas vezes, estão inseridas nas condutas das cidades, e que acabam passando 
por nós de forma desapercebida, se tornando, cada vez mais, práticas impessoais e desumanas. 
Através do exercício desenvolvido, propomos a reflexão voltada à redução, ou inexistência, das 
experiências nos espaços públicos. Chamamos a atenção para a atrofiação das áreas de encontro 
dentro das cidades que dão origem a lugares banalizados, consolidados por meio de ambientes que 
são construídos limitados ao emaranhado de vias que se mostram presas à superficialidade da 
distribuição ordenada dos seres, que objetivam meramente chegarem aos seus destinos sem se 
atentarem ao próximo. 
Desta maneira, no texto que aqui se apresenta, fazemos um relato sobre a base teórica que 
nos impulsionou, e posteriormente continuou servindo de referência, para o desenvolvimento do 
trabalho prático proposto. Passamos pela descrição dos desdobramentos da atividade realizada e os 
objetivos que almejamos com a mesma. Ao final, relatamos as nossas percepções referentes às 
 
experiências citadas pelos usuários de nossa instalação, bem como nossas próprias expectativas e 
experiências diante de um trabalho transdisciplinar concretizado a partir do envolvimento das áreas 
da Cerâmica, Teatro e Urbanismo. 
2- SOBRE AS CIDADES SENSÍVEIS 
Quais e quantas são as experiências que somos capazes de nos permitir no cotidiano em 
meio ao contexto urbano? Práticas ritmadas e ligações rotineiras que, muitas vezes, estão inseridas 
no dia a dia das cidades, tornam cada vez mais as relações estabelecidas no ambiente citadino 
impessoais e desumanas. Relatando assim a ausência de experiências nos espaços, a redução das 
áreas das cidades à lugares banalizados e a limitação das vias, presas à superficialidade da 
distribuição dos seres que objetivam apenas chegarem aos seus destinos sem se atentarem ao 
próximo. A cidade, enquanto tema, surge no livro As cidades Invisíveis de Ítalo Calvino, onde ele 
afirma: 
“Se meu livro continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais 
coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as 
minhas reflexões, experiências e conjecturas: e também porque consegui construir uma 
estrutura facetada em que cada texto curto está próximo dos outros numa sucessão que não 
implica uma consequencialidade ou uma hierarquia, mas uma rede dentro da qual se podem 
traçar múltiplos percursos e extrair conclusões multíplices e ramificadas” 
(CALVINO,1990:P.85-6) 
 
Assim, o ambiente urbano, visto como uma performance, desloca o pensamento de um lugar 
comum em busca de uma ressignificação de nossas expressões e sentimentos no cotidiano. A 
imagem da cidade por meio de um espaço construído para o homem e pelo homem através de 
algumas técnicas carregadas de uma concepção das relações homem, natureza e sociedade, 
transformando a cidade assim, em um objeto significante. Heidegger(1987), afirma que é a 
experiência que nos alcança e nos transforma. Larrosa (2002, p. 21), acrescenta que a “experiência é 
aquilo ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos 
transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação.” A 
cidade, como palco performático, surge em conjunto com a experiência de que nos fala Larrosa. Na 
busca de uma significação, ou mais precisamente, uma ressignificação do cotidiano urbano, 
deslocando o pensamento de um ambiente comum em busca de uma redefinição de nossas 
expressões e sentimentos. 
 
 
Enquanto performance, Féral (2008), define o “TeatroPerformativo” como o teatro da 
contemporaneidade, indo além de Lehmann (2007) que o definiu como teatro Pós Dramático. Para a 
autora o teatro performativo está em todo o palco, em todo o espetáculo, já que a performatividade 
está no centro de seu funcionamento, é o cerne do teatro contemporâneo. Neste sentido buscou 
conceituar performance através de dois vieses, a performance concebida como forma artística 
(performance arte) e a performance tida como instrumento teórico, para a conceituação do 
fenômeno teatral. Destaca ainda alguns elementos fundadores da performance, que modificaram o 
processo de criação do fazer teatral. Como: 
“A transformação do ator em performer, a descrição dos acontecimentos da ação 
cénica em detrimento da representação ou de um jogo de ilusão, o espetáculo centrado na 
imagem e na ação e não mais sobre o texto, apelo a uma receptividade do espectador de 
natureza essencialmente especular ou aos modos das percepções próprias da tecnologia...” 
(FÉRAL 2002,p 198) 
 
Mais uma vez em 2008, Féral afirma que tais elementos destacam a performatividade na 
cena; e estes são encontrados em grande parte das produções do teatro contemporâneo. Para 
descrever o conceito de Performance a autora se valeu ainda de dois autores: Richard Schechner e 
Andreas Huyssem. O primeiro, ampliou o conceito de performance, afirmando que “a performance 
transcende o fazer artístico e se inclui nos domínios da cultura tomando, para tanto, os aspectos 
“étnico e intercultural, histórico e a-histórico, estético e ritual, sociológico e político” para afirmar 
que performance está em todas as “manifestações teatrais, rituais, de divertimento e toda 
manifestação do cotidiano” (p.199)”. Por sua vez, Huyssem aborda a questão da performance no 
campo propriamente estético, defende o modernismo como o responsável pela ruptura da visão 
elitista da arte para com a cultura popular; e pelo afastamento da arte dos aspectos políticos e 
sociais. 
Também Schechner e Huyssen contribuíram sistematicamente para uma reflexão sobre o 
teatro performativo, assim podemos afirmar que ambos, definem o teatro como arte e a 
performance como experiência e competência, conceituam o teatro contemporâneo que tem em sua 
essência múltiplas especificidades. 
Para Schechner, três ações definem a performance: 
• Ser - être – being, no sentido de se comportar (“to behave”); 
• Fazer - (“doing”), a atividade de tudo que existe, desde os elementos físicos – quarks – até os 
seres humanos; 
• Mostrar o que faz (“showing doing”, ligado à natureza dos comportamentos humanos). Trata-
se de aparecer, se mostrar dar um show. (2002, p.127) 
 
 
Ao citar Schechner, que estabelece a importância da execução de uma ação como primeira 
na concepção de performar, ela entende que o autor toca em um “ponto nevrálgico de toda 
performance cênica” (p.201). O “fazer” está implícito em toda a atividade cênica, porém no teatro 
performativo o “fazer” é primordial e fundamental para que ocorra a performance. 
Um outro aspecto destacado por Féral para estabelecer um conceito mais amplificado de 
performance e teatro performativo, é o fato de que a performance acontece, o ator executa a ação 
canta, dança e até representa, mas que na “sequência saem dele completamente”. O ator performa, 
pois coloca em frente “seu corpo, seu jogo e suas competências técnicas, mudando completamente 
de paradigma já que precisa mudar constantemente sua atuação. 
Enquanto ação, o habitante da cidade é o performer, ou seja, ele representa e é a ele que a 
experiência acontece. Para tanto, o objeto de reflexão da performance busca incitar em seus 
espectadores a ideia de Genius Loci proposta por Christian Norberg-Schulz, uma vez que ele se refere 
ao termo como o espírito do lugar, ou seja, o “como estamos no lugar” tendo a compreensão de que 
os lugares são possuidores de um espírito, de uma identidade, o que os torna únicos e onde cada 
indivíduo que o experiencia também é único. Para Norberg-Schulz (1980), a saída para esta crise 
ambiental é o desenvolvimento de uma fenomenologia do lugar, de modo que a arquitetura ofereça 
respostas formais a partir de uma base concreta, ajudando o homem a habitar de maneira 
verdadeira e significativa. 
3- O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE PERFORMÁTICA 
Diante de tais colocações, propomos o desenvolvimento de uma atividade que contasse com 
dois cenários carregados de características bem peculiares, remetendo a ideia de Augé (1994) de 
“lugares” e “não-lugares”1. Primeiramente, a ideia de “não-lugar” é evidenciada por meio de um 
ambiente conturbado imerso ao caos pertinente do cenário urbano. Em um segundo momento, 
buscando a compreensão de “lugar”, objetivamos a reprodução de uma área que incentivasse a 
desaceleração de nossos pensamentos, criando a possibilidade de interação e convívio social. Este 
 
1 Augé em sua obra “Não-lugares”, define como principal característica do lugar a identidade que o homem cria com ele. O 
lugar representa a construção física, ou simbólica, do espaço referido por todos aqueles que criam uma afetividade com esse 
espaço, dando a ele um sentido de pertencer ao mundo onde esse indivíduo vive. O “não-lugar” existe e se torna algo real, 
onde as relações humanas ocorrem, porém de uma forma diferente de um “lugar” propriamente dito. Para Augé (1994,102) 
“Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como 
identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar”. 
 
 
segundo ambiente, dentro de nossa concepção criativa, foi elaborado com a ideia de se fazer 
menção a uma praça ou a um local de respiro dentro das cidade. Outro ponto relevante em nosso 
trabalho, se refere à presença de cores dentro dos ambientes proporcionados aos usuários. Neste 
ponto, destacamos nossas influências provenientes das produções cinematográficas como os filmes 
“Stalker” (1979), do diretor Andrei Tarkovski, e “Direito de amar” (2010), do diretor Tom Ford. Em 
ambas as obras existe uma sutil maneira de apresentação das cenas, que utiliza de composições 
monocromáticas e coloridas como forma de mostrar os sentimentos de prazer ou angústia dos 
respectivos protagonistas. Os ambientes agradáveis que geram excitação aparecem configurados por 
uma variedade de cores, ressaltadas muitas vezes pela luz do sol, diferentemente dos lugares de 
sensações ruins que são mostrados acompanhados por uma penumbra proveniente dos tons de 
cinza ou sépia. 
Passamos então para a descrição do desenvolvimento lógico de nosso trabalho, que aqui 
chamaremos de “cenas”, fazendo alusão às nossas referências do teatro, se tratando de uma 
performance, e do cinema: 
CENA 1: O não-lugar da não-experiência 
O primeiro ambiente, escuro e cinza, é esteticamente insosso e envolto por uma atmosfera 
impessoal. Nele, a nossa intenção é de que as pessoas sejam inundadas por uma sequência de 
imagens, captadas por profissionais críticos dos meios midiáticos sensacionalistas ou não, que levem 
ao pensamento analítico sobre a maneira como estamos passando nossas vidas sem se importar com 
as circunstâncias ao nosso redor, fazendo relação a definição de Augé (1994), com lugares que não 
nos levam a uma reflexão e identificação pessoal. Junto ao conjunto de imagens expostas de forma 
rápida, como flashes fotográficos, um som perturbador e incômodo, pertinente aos nossos densos 
centros urbanos faz a sonoplastia ambiente. Walter Benjamin (1985), fala da ausência da vivência de 
uma experiência autêntica, da pobreza das experimentações na modernidade e da impossibilidade 
de elaboração de uma comunicação que vise a experiência coletiva, visceral, prenhe de um amplo 
ordenamento cognitivo do mundo. Assim, as imagens que mencionamos são acompanhadas de 
perguntas relacionadas ao conhecimento pessoal entre as pessoas que fazem parte da atividadeproposta. Como por exemplo: “Você saberia dizer a data de aniversário da pessoa ao lado?” A 
intenção é mostrar que, assim como no ambiente urbano, muitas vezes não conhecemos ou não 
percebemos as pessoas que atuam diariamente naquele local, chamando a atenção para nossa falta 
de experiência com relação a isso. Os performers permeiam com passos rápidos e desordenados por 
 
entre os integrantes da atividade, ao mesmo tempo que sussurram em seus ouvidos provocações 
sobre a falta de experiência no dia a dia de cada um, distribuindo materiais para que estes escrevam 
no chão seus sentimentos no momento. 
CENA 2: O Lugar que nos toca é o Lugar que nos acontece 
Ao fim da turbulência visual e auditiva causada por tantas informações imagéticas e sonoras, 
os participantes são convidados a se retirarem da sala em direção a um espaço harmonioso, ao ar 
livre,sob a luz do sol, dotado de plantas e elementos que remetem a um jardim. Esse segundo 
recorte, faz referência aos espaços de “respiro” da cidade, que podem desempenhar um papel ímpar 
para a qualidade de vida urbana através da vivência dos sentidos e do estímulo das subjetividades. 
Com a presença humana, o lugar natural e o lugar construído devem possuir uma ligação recíproca, 
pois segundo defende Norberg-Schulz (1980), não podemos habitar verdadeiramente um lugar 
qualquer, isto implica um conjunto de qualidades e relações que o transforma em Lugar, possuidor 
de um caráter comum. Vieira (2004) admite que as áreas verdes assumem diferentes papéis na 
sociedade e suas funções estão diretamente ligadas ao bem estar dos ambientes urbanos. Para o 
autor, os usos dessas áreas estariam relacionados às funções social, ecológica, educativa e 
psicológica. Sem dúvidas, o contato da população com elementos naturais propiciam o alívio das 
tensões e o estresse do cotidiano, além da criação de afetividade e pertencimento com o local, 
tornando-se assim um “lugar” para o indivíduo. 
Assim, nesse segundo ambiente, denominado “lugar”, carregado de ares calmos, coloridos e 
convidativos a contemplação, é servido um chá em peças de cerâmicas, fazendo referência ao 
chanoyu ou cerimônia do chá praticada entre os japoneses, onde a experiência está intimamente 
ligada à prática. É nesse momento, em um ambiente que tem a função de induzir ao relaxamento, 
que as pessoas são convidadas a parar, observar, escutar, sentir, a pensar mais devagar, entregar-se 
aos detalhes, suspender o automatismo de qualquer ação e refugiar-se, a experiência de que fala 
Heidegger e Larossa é sentida. 
CENA 3: o sujeito da experiência 
Após a contemplação do ambiente cheio de plantas, os participantes são convidados a 
compartilhar suas experiências, do primeiro e do segundo espaço, falando sobre todo o acontecido e 
relatando de que forma os estímulos recebidos influenciaram as possíveis sensações em cada um. 
 
 Segundo Larrosa (2002), o ato de se conquistar uma experiência é único, comparado 
a uma paixão. Desta maneira, a intencionalidade por detrás de nosso exercício é sim de incitar os 
participantes ao relato da experimentação sensitiva e sensorial proporcionada por cada ambiente, 
mas além disso, o que se almeja é proporcionar a chance de percepção e descobrimento dos outros 
colegas, através de uma forma inusitada. Para Umberto Eco, “quando não muda o objeto de 
indagação, mudam os métodos para interpretá-lo” (ECO, 1962, p.16). Portanto a reflexão sobre a 
cidade, no contexto da experiência, sugere uma ruptura com os automatismos cotidianos e propõe 
uma visão libertária através de uma ressignificação poética e experimental na busca da reflexão 
sobre esses espaços. Através disso, fazemos um alerta para a maneira como lidamos com as pessoas 
nas cidades através de relações extremamente superficiais, chamando a atenção para as 
oportunidades de experiência que o meio urbano nos propicia. A atividade performática induz a 
compreensão semiótica sobre o pensamento da cidade, como uma experiência, singular e individual 
com um ambiente aparentemente desconhecido, mas comum ao cotidiano de cada um. A 
entendimento da metrópole perante a materialização de sentimentos despertados busca relembrar 
que não somos simplesmente observadores da cidade, fazemos parte dela diretamente e que 
devemos desconstruir essa visão parcial e fragmentada para uma visão mais abrangente e 
participativa do lugar. Ítalo Calvino contribui para esse pensamento quando sugere que a ideia é 
percorrer a cidade com o pensamento, pois a travessia não é física, mas interior. 
4- CONCLUSÃO 
Como conclusão, por meio do exercício desenvolvido para a disciplina Troca de Saberes, foi 
interessante perceber como os usuários de nossas instalações estavam submersos dentro de suas 
atividades diárias a ponto de não experimentar a cidade através de formas simples e diferentes 
daquelas que as suas respectivas rotinas exigiam. E isso se refletia mesmo dentro de sala de aula, 
onde muitas, vezes diante das condutas costumeiras, somos incapazes de compreender o nosso 
espaço, nossos colegas e funcionários de uma maneira diferenciada, mais particular, passível de uma 
verdadeira experiência. Dentre o relatos apontados, foi interessante perceber como muitas vezes em 
nossos caminhos diários cumprimentamos uma determinada pessoa, sem ao menos nos darmos ao 
trabalho de saber o seu nome. Como infalivelmente os barulhos fragorosos, tão pertinentes do 
cenário urbano, se tornam quase imperceptíveis perante à nossa pressa de chegar a um determinado 
lugar. É interessante observarmos como vários elementos do nosso dia a dia se tornam ubíquos nas 
 
paisagens das cidades, que em nosso trabalho procuramos materializar através de um pequeno 
recorte. 
O espaço da cidade contemporânea possui um tempo veloz, a informação corre através de 
cabos, o passo é apertado pelos muitos afazeres e, muitas vezes, a experiência fica em segundo 
plano. A ação performática aqui descrita teve o objetivo de pensarmos em nossas ações no dia a dia, 
intenso e voraz, das cidades e deixando-nos levar por detalhes que estão à nossa volta, fazendo com 
que tenhamos uma percepção de nosso valor, nossa identidade, nossa memória para além da ideia 
de correr contra o tempo. O tempo, por si só é inatingível, portanto a memória da experiência seria o 
ponto de conexão entre o próprio tempo e a vida. É a memória que cria a identidade de um lugar 
com o indivíduo. Assim, cada indivíduo terá suas próprias conclusões sobre as experiências vividas. 
Ainda, por meio de tais pressupostos, uma visão da transdisciplinaridade aplicada à práxis 
 aparece com a oportunidade de uma composição feita sob o olhar de três áreas diferentes ( as artes 
aplicadas, arquitetura e o teatro), buscando a elaboração de um trabalho que almeja a compreensão 
dos espaços das cidades para além do campo da urbanidade, fazendo uma correlação entre lugar, 
tempo e performatividade por meio da experimentação do corpo, que sugere que somos parte 
indissociável dos espaços, nos levando inconscientemente ao mundo da percepção. Enquanto o 
corpo sente, a consciência cria. Assim, o corpo como centro de todas as nossas experiências, na 
relação com os outros e com o mundo, transita junto com a nossa consciência atuando como uma 
máquina de fotografias, registrando nossas experiências. 
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
AUGÉ, Marc. Não-lugares. Papirus Editora, 1994. 
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
 
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista brasileira de educação, n. 
19, 2002. 
CALVINO, Ítalo; INVISÍVEIS, Cidades. Tradução Diogo Mainardi. Um General na Biblioteca. São Paulo, 1990. 
DIREITO de amar. Direção de Tom Ford. Produção de Tom Ford, Chris Weitz, Andrew Miano, Robert Salerno. 
Los Angeles: Artina Films, 2010. (101 min.), son., color. Legendado. 
ECO, Umberto. Obra Aberta. São Paulo:Perspectiva, 2005. 
FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. Sala Preta, Revista do Programa 
de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Eca/USP, São Paulo, n. 08, 2008. p.197-210. Tradução: Lígia Borges 
 
HEIDEGGER, Martin. La esencia del habla. In: De camino al habla Barcelona: Edicionaes del Serbal. 1987 
LEHMANN, H.-T. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007. p. 224 
NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius loci: Towards a phenomenology of architecture. Rizzoli, 1980. 
STALKER. Direção de Andrei Tarkovski. Roteiro: Andrei Tarkovski, Boris Strugatsky, Arkady Strugatsky. Estônia: 
Mosfilm, 1979. (163 min.), son., color. Legendado. 
VIEIRA, P.B.H. Uma Visão Geográfica das Áreas Verdes de Florianópolis-SC: estudo de caso do Parque Ecológico 
do Córrego Grande (PECG). 2004. 109 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia), 
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

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