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Filosofia e Formação Integral U4

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FILOSOFIA E 
FORMAÇÃO INTEGRAL
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FILOSOFIA E 
FORMAÇÃO INTEGRAL
Prof. Dr. Gerson Francisco de Arruda Júnior
Educação a Distância
Universidade Católica de Pernambuco
EaD 
UNICAP
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO - UNICAP
Reitor
Prof. Dr. Pe. Pedro Rubens Ferreira Oliveira, S. J.
Pró-reitor Administrativo
Prof. Msc. Márcio Waked de Moraes Rêgo
Pró-reitor Comunitário
Prof. Dr. Pe. Lúcio Flávio Ribeiro Cirne, S. J.
Pró-reitor de Graduação e Extensão
Prof. Dr. Degislando Nóbrega de Lima
Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação
Profª. Dra. Valdenice José Raimundo
UNICAP DIGITAL
Diretor
Prof. Dr. Pe. Carlos Jahn, S. J.
Assessor de EaD
Prof. Msc. Valter Avellar
Assessora Pedagógica
Profa. Msc. Larissa Petrusk
Designers Instrucionais
Esp. Fernanda Silveira
Msc. Flávio Santos
Analista de Sistemas
Prof. Msc. Flávio Dias
Secretário
Msc. Valmir Rocha
____
Correção Ortográfica
Msc. Fernando Castim
Diagramação
Msc. Flávio Santos
EDIÇÃO 2020
Rua do Príncipe, 526 - Bloco C - Salas 302 a 305
Boa Vista - Recife-PE - Cep: 50050-900
Telefone +55 81 2119.4335
PALAVRA
PROFES
SOR
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Caro estudante, com esta Unidade chegamos ao trajeto final do nosso 
caminhar pelas ruas e avenidas da disciplina Filosofia e Formação 
Integral. E não havia uma melhor maneira de concluirmos esse trajeto, 
senão considerando uma das temáticas importantes para a formação 
humana, a saber, a relação entre a filosofia e os valores humanos. Como 
veremos, trata-se, no fundo, de uma incursão filosófica sobre os principais 
temas da ética e da sua importância para a formação e existência 
humanas.
Na Unidade 3, discutimos sobre algumas abordagens filosóficas da 
cultura e da sociabilidade humana. Nela, vimos aspectos importantes da 
condição e da vivência sociais dos homens. Contudo, a vida em sociedade 
traz consigo uma série de conflitos e de tensões que, não poucas vezes, 
comprometem a boa convivência entre os seres humanos. É, pois, na 
tentativa de melhor compreender esses dilemas humanos que esta 
Unidade 4 tem o seu conteúdo voltado para a apresentação e discussão 
de tópicos relacionados à ética e aos valores humanos.
Esta Unidade está dividida basicamente em 5 tópicos principais. No 
primeiro deles, considera-se a relação entre a ética, a fundamentação moral 
e os valores humanos. Busca-se definir e distinguir ética e moral, e discorre-
se sobre alguns fundamentos da moralidade e como eles incidem na 
elaboração de valores humanos. No segundo tópico, veremos algumas das 
principais teorias filosóficas sobre a ética. Investiga-se conceitualmente a 
ética como um ramo da própria filosofia, considerando seus principais 
desdobramentos teóricos. Logo após, pondera-se sobre a ética e suas 
implicações diante do tema do multiculturalismo e do respeito. Propõe 
analisar pontuar algumas dificuldades de nos relacionarmos com o 
diferente. No quarto tópico, trataremos do tema da liberdade humana, 
associando-a ao tema da responsabilidade e do cuidado. Destaque aqui 
para a reflexão dada ao cuidado com o meio-ambiente. Por fim, no quinto e 
último tópico desta Unidade, consideraremos o tema das chamadas Éticas 
Aplicadas. O objetivo é perceber a importâncias do agir ético em diversas 
áreas da vida humana. 
Sendo assim, desejamos um bom estudo e uma excelente caminhada 
nesse último percurso do nosso trajeto! 
OBJE
TIVOS
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UNIDADE 4 - Filosofia e Valores Humanos
• Apresentar um panorama geral da ética, considerando a sua 
fundamentação, seus aspectos filosóficos e valorativos, e sua aplicação 
no nosso dia a dia.
• Caracterizar algumas das principais teorias filosóficas sobre a ética, 
considerando os principais desdobramentos teóricos de cada uma 
delas. 
• Analisar os aspectos centrais do discurso ético a partir do tema do 
multiculturalismo e do respeito, pontuando sobretudo algumas 
dificuldades teóricas existentes no tratamento desse tema.
• Discutir sobre a temática da liberdade humana, considerando-a sob o 
ponto de vista da responsabilidade e do cuidado conosco, com ou 
outros e com o meio-ambiente. 
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1. Ética, Fundamentação Moral e Valores Humanos
A cada instante, somos confrontados com situações que exigem uma 
decisão moral: devo contar para meu cônjuge um “caso” com alguém no 
trabalho? O atendente de caixa no supermercado deu-me o troco além 
do que devia, por que deveria devolver o excedente se o mercado já é rico 
o bastante? O candidato a vereador do meu bairro ofereceu-me uma vaga 
de trabalho em troca do meu voto. Devo aceitar ou não? Políticos do alto 
escalão recebem “dinheiro não contabilizado”, o famoso Caixa Dois, em 
troca de liberar projetos para grandes empresários. Por que isso é 
considerado corrupção? Aliás, o que é corrupção? Por que ficamos tão 
indignados quando se notícia o desvio do dinheiro dos pagadores de 
impostos que iria para saúde, segurança e educação e vai parar no “bolso” 
do político? Por que ficamos felizes quando alguém que realmente 
cometeu um crime é condenado? Ou por que ficamos com raiva quando 
algum poderoso que, sabidamente, cometeu crimes possui privilégios 
que o impede de ser condenado? E acerca do aborto, eutanásia, guerra, 
tortura, pena de morte, racismo, suicídio etc.? 
Essas perguntas estão relacionadas a três maneiras diferentes de pensar 
sobre moral: (1) indaga-se se uma ação particular ou que tipo de ação é 
certa ou errada; (2) indaga-se como encontrar as respostas para essas e 
outras perguntas desses tipos; (3) indaga-se qual a natureza (metafísica, 
epistemológicas, semânticas) desse tipo de pergunta, ou seja, qual o(s) 
fundamento(s) para essas e outras perguntas desses tipos. 
No primeiro caso, está-se a se interessar por algum tipo de prática ou de 
agir. No segundo caso, busca-se desenvolver teorias gerais e consideram-
se as ações pessoais ou consequências das ações práticas, além de propor o 
tipo de pessoa que alguém deve ser ou se tornar. Já no terceiro, interessa-
se pelo significado da moralidade e qual a natureza de proposições morais 
como “torturar crianças é sempre errado” ou “alimentar o pobre é uma boa 
ação”. Estamos no campo da filosofia moral ou axiologia, disciplina 
interessada nas questões das ações ou moralidade humanas.
A filósofa Marilena Chauí (2001, p. 334), ao tratar sobre esse tema, fala de 
senso moral e consciência moral e nos parece adequado para introduzir-
nos à disciplina da filosofia moral. No tocante ao senso moral, trata-se, 
segundo a autora, de sentimentos que expressamos quando diante de 
situações quem envolvam situações éticas (a fome no mundo; emoções 
como medo ou vergonha, honra ou altruísmo, cólera por aquilo que é 
considerado injustiça etc.), enquanto a consciência moral refere-se à 
manifestação que exige a decisão sobre o que fazer e o que justificaria as 
razões para essa decisão que implica uma responsabilidade pelas 
consequências de tais decisões, sejam pessoais, sejam para os outros. 
Desse modo, tanto o senso moral quanto a consciência moral estariam 
envolvidos em julgamento de valores (justiça, honradez, integridade, 
generosidade etc.) e sentimentos carregados com esses valores (medo, 
vergonha, remorso, cólera, contentamento etc.). 
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Ora, você já deve notar que esses valores e sentimentos parecem ser 
construídos sobre valores mais fundamentais. Esses valores mais 
fundamentais são o bem e o mal (aqui como categorias morais, não 
metafísicas). Dadas situações éticas, o desiderato ético é fazer o bem e evitar 
o mal. Todavia, a realização desse desiderato possui, ao que parece, um fim: o 
de desejar afastar-se da dor e do sofrimento e alcançara felicidade. Isso é 
interessante porque vamos encontrar essa aspiração na história da filosofia, 
em especial na Filosofia Antiga e nas milenares tradições religiosas. 
Bom, você leu até agora uma série de 
termos que, certamente, você já ouviu ou 
leu em outros textos. Além do mais, parece 
que sabemos o que eles significam, e isso 
numa espécie de primeiros princípios 
morais relacionados a virtudes em geral, 
como cogitaram alguns filósofos escoceses 
como Francis Hutcheson (1694 – 1746), 
Adam Smith (1723-1790) e Thomas Reid 
(1710-1796). Por exemplo, Francis 
Hutcheson, que procurou introduzir o 
cálculo matemático em sua filosofia moral, 
tinha como noção central de sua filosofia a 
ideia de que “há no homem um sentido 
interno moral” que, à semelhança dos 
sentidos, é predisposto a “receber as 
impressões de ordem, harmonia e beleza”. Seria, então, algo como uma 
faculdade moral. Diz Hutcheson (apud PIMENTA, 2011, p. 160):
[...] as disposições naturais do gênero humano operam regularmente 
mesmo naqueles que nunca refletiram sobre elas ou que não formaram 
noções justas a seu respeito. Muitos homens que não saberiam dizer o que 
é a virtude são realmente virtuosos; outros, que aprenderam a explicar as 
nossas ações como se elas fossem exclusivamente motivadas por amor-
próprio, atuam em suas vidas do modo mais desinteressado e generoso.
Thomas Reid (2010, p. 270, 271) também afirma 
que há algo como “primeiros princípios da 
moral”, tais como “algumas coisas na conduta 
humana dignas de aprovação e louvor, 
enquanto outras merecem censura e repre-
ensão; e [para] diferentes graus de aprovação ou 
censura são atribuídos a diferentes ações”. Note 
que esses dois autores parecem fundar a ética 
na natureza humana, como algo inato à pessoa. 
Por outro lado, considere como o filósofo 
Immanuel Kant (1724-1804), cuja perspectiva era 
de fundar a moral na razão prática, uma razão 
moral universal que se caracteriza por um 
conjunto de regras (imperativos) que se impõe a 
todos, uma vez que os 
Francis Hutcheson (1694-1746)
Fonte: Domínio Público
Thomas Reid (1710 - 1796)
Fonte: Domínio Público
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conceitos morais têm a sua sede e origem completamente a priori na 
razão [...] que não podem ser abstraídos de nenhum conhecimento 
empírico e por conseguinte puramente contingente [...] porque as leis 
morais devem valer para todo o ser racional em geral, é do conceito 
universal de um ser racional em geral que se devem deduzir (KANT, 
2007, p.46).
Ainda, como um exercício preambular para a nossa disciplina, considera 
como a religião judaico-cristã (ou outras religiões), entende o agir ético. 
Yahweh, o Deus de Abraão, deu os Dez Mandamentos a Moisés. O antigo 
Israel deveria viver pelos Mandamentos de Deus. Os Cristãos, por outro 
lado, têm de Jesus Cristo a “regra de ouro” do amar ao próximo, expressa 
nas palavras “façam aos outros o que vocês querem que eles lhes 
façam” (Evangelho de Mateus 7:12). Poderíamos, ainda, recordar o antigo 
documento legal nomeado de Código de Hamurabi, datado do séc. XVIII 
a.C. na Mesopotâmia e anterior a Moisés. O Código é baseado na famosa 
Lei do Talião – “olho por olho, dente por dente”. Seriam o Código de 
Hamurabi, os Dez Mandamentos ou a máxima da Regra de Ouro 
suficientemente justificáveis para o agir ético ou mesmo a formulação de 
direitos e deveres?
Você vai percebendo que as coisas sobre como, por que e se devemos agir 
ou considerar uma ação como moralmente virtuosa não é tão simples de 
encontrar boas razões ou justificativas. Alguém poderia simplesmente 
agir, mas isso seria um tanto irracional e, sem alguma justificação para tal, 
não se faria diferença entre ajudar uma senhorinha idosa atravessar uma 
rodovia movimentada ou empurrá-la entres os carros. É, portanto, por 
questões assim que a filosofia moral se interessa e busca razões para elas. 
É por questões como essas que, para melhor caminharmos no oceano do 
tema da ética, precisamos definir “ética” e “moral”, apresentar algumas 
teorias para fundamental moral, abordar algumas questões acerca dos 
valores humanos, em especial os direitos humanos e, depois, apresentar 
uma síntese de algumas teorias éticas mais correntes. Passemos ao 
primeiro ponto: definição de ética e moral. 
1.1. Definição de Ética e Moral 
Tantos quantos são os problemas relacionados à ética, tantas são as 
definições. Desde a definição de Êutifron, registrada no diálogo platônico 
com esse mesmo nome, que respondeu que piedade, ou um ato piedoso, 
se distingue da impiedade porque, na primeira, deve-se “perseguir os que 
cometem injustiças”, até as definições relativistas de que as práticas 
éticas são partes do modo de vida de cada cultura e época, o que 
podemos fazer é apresentar o que dizem os estudiosos do assunto.
Por exemplo, o escritor e filósofo espanhol Adolfo Sánchez Vasquez (1990, 
p. 12, 13), em seu manual Ética, começa por colocar a questão afirmando 
que os problemas teóricos morais não se identificam com os problemas 
práticos, mesmo que ambos estejam relacionados. A partir disso, segue-
se que é um erro confundir a ética com a moral. Isso porque a “ética não 
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cria a moral”, mas é a sua ciência. Mesmo assim, o autor está convicto de 
que toda moral pressupõe certos princípios, normas ou regras de conduta. 
Todavia, é a ética que, segundo ele, “os estabelece numa determinada 
comunidade”. Assim, quando certas práticas morais já estão vigorando em 
alguma comunidade, a ética se depara “com uma experiência histórico-
social” procurando determinar a natureza dessas práticas morais, sua 
origem, “as condições objetivas e subjetivas do ato moral”, como justificá-
los, quais as suas funções etc. Assim, nesse sentido, os princípios morais 
precederiam a ética. Com base nisso, Vásquez (1990, p. 12, 13) assim define a 
ética: “a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em 
sociedade [...] é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento 
humano”. A moral é o objeto da ética, portanto. 
Se você notou bem a definição de Vásquez, ele classifica a ética como 
ciência, pois defende-se a ideia de que a investigação acerca dos 
princípios morais deve aspirar à racionalidade e objetividade mais 
completas para, a partir disso oferecer um corpo sistemático e metódico 
para contínua investigação. Porém, será assim? Ainda que os atos morais 
possam ser dados empíricos, a natureza do ato e o seu motivo não o são. 
Pode-se muito bem perguntar como Sócrates: o que é piedade? O que é 
virtude? O que é a coragem? O que é o bem? E, em muitos casos, 
receberíamos como respostas atos ou ações que seriam vistas como 
piedosas, virtuosas, corajosas ou bondosas. Entretanto, a natureza desses 
princípios morais ou virtuosos não se é acessível aos sentidos. Estaríamos, 
então, diante de uma instância a priori (como entendida por Kant) ou 
diante de algum mandamento ordenado pelos deuses? Mesmos esse 
entendimento não escaparia ao problema. Continuemos, então, a 
investigar algumas outras definições. 
Segundo Sandrini (2011, p. 12 – 15), “a ética diz respeito aos grandes 
horizontes, aos grandes princípios, ao projeto de vida das pessoas”, 
enquanto a moral se “preocupa com o que [já] está estabelecido, isto é, as 
leis, as normas, os costumes, os usos, os hábitos”. Perceba que parecer 
haver uma inversão na relação ética-moral em relação à definição acima. 
Aqui parece ser o caso de a ética ser o fundamento da moral.
https://2.bp.blogspot.com/-_2zcafWUEEQ/XJKZk62Pr3I/AAAAAAAANXc/
rH5SC7805i03f44p6tt3wCzrR6BXaUlCgCLcBGAs/s320/Etica__na_moral.jpg
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Também, conforme Severino (2007, p. 191), porque “o que mais angustia 
hoje é saber quais são os critérios de nossa ação, é saber como devemos 
agir, qual a melhor maneira de agir enquanto homens”, a esfera dessa 
angústia é a moral, cujo campo de investigação é a ética.Assim, a ética é 
a “área da filosofia que trata das questões do agir dos homens enquanto 
fundado em valores morais”. Ora, essa definição nos coloca num âmbito 
de onde a ética é pensada como práxis. Considerando o avanço social e a 
complexidade de uma sociedade cada vez mais plural, não seria estranho 
que assuntos relacionados ao convívio social, incluindo política e meio 
ambiente, estivessem no centro de discussões contemporâneas. Sendo 
visto como um ser parcialmente livre, um agente, o ser humano e seus 
atos não estariam mais vinculados à metafísica (Destino, Deus/Deuses, 
Natureza etc.), nem entregue ao Acaso. Suas ações são vistas sob a 
perspectiva de compromissos objetivos e subjetivos de uma consciência 
de um sujeito sócio-histórico. Daí por que Severino (2007, p. 193) afirma 
que “a práxis é sua [do ser humano] prática real enquanto atravessada 
pela intencionalidade subjetiva, ou seja, pela reflexão crítica, quando está 
agindo levando em consideração a totalidade dos esclarecimentos que 
sua subjetividade pode lhe fornecer quando criticamente aplicada”. Em 
outras palavras, assim concebida, a ética adquire uma dimensão política. 
O célebre The Cambridge Dictionary of Philosophy (O dicionário 
Cambridge de filosofia) (1999, p. 284) define ética como “o estudo 
filosófico da moralidade”, mas ressalta que a palavra é geralmente usada 
de forma sinônima com moralidade e, por vezes, de forma mais estrita, 
aplica-se aos princípios morais de uma tradição, grupo ou indivíduo 
particular. Nesse caso, costuma-se acrescentar algum outro termo restrito 
à palavra ética: ética cristã, ética kantiana, ética feminista, e assim por 
diante. Ao que parece, a forma sinonímica apontaria um caminho 
conciliatório, ainda mais se consideramos apenas a questão linguística: 
ética (ethos) é como os gregos chamavam o costume ou hábito de 
caráter ou adquiridos; a esses, os latinos chamavam moral (mores). 
Ainda que consideremos apropriado buscar uma definição ou relacionar 
ética e moral, precisamos avançar para patamares mais amplos e fazer a 
distinção entre alguns tipos de ética: a metaética, a ética descritiva, a 
ética normativa e a ética aplicada. A metaética está interessada na 
natureza dos termos éticos, elaborando teorias e buscando os 
fundamentos, se houver, e natureza dos valores e obrigações morais. O 
que significam “bom” e “dever”? Existem verdades morais? Como as 
crenças sobre certo e errado podem ser justificadas ou racionalmente 
defendidas? Segundo Gensler (1998, p. 3), a metaética é composta de 
duas partes: uma que trata na natureza dos julgamentos morais, e a outra 
que trata de como selecionar os princípios morais. Essa última parte tem 
uma dimensão metodológica. 
Por ética descritiva quer-se dizer apenas a descrição acerca do conjunto 
de ações éticas ou do comportamento de algum grupo ou cultura 
particulares. Nesse caso, não se procura fazer algum tipo de julgamento 
de valor sobre tais conjuntos ou comportamentos. Por outro lado, a ética 
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normativa investiga os princípios sobre como se deve viver. Assim, 
enquanto a ética descritiva trata de descrever que os indígenas 
tupinambás que viviam no Brasil no século XVI praticavam o canibalismo, 
a ética normativa pergunta se essa ação é ainda permitida ou não, se 
merece louvor ou repreensão, se é virtuosa ou não etc. 
Por fim, a ética aplicada, que obviamente se torna um desdobramento 
da ética normativa, aplica as descobertas da ética normativa (as teorias 
éticas normativas) a áreas específicas como negócios, medicina, meio 
ambiente, política etc. Desse ponto de vista, a ética aplicada diz coisas 
como “devemos fazer tal e tal...”. Eis um quadro que resume bem esses 
tipos de ética, destacando e enfatizando o que as caracteriza.
1.2 Fundamentação Moral
Como vimos acima, a metaética é responsável por investigar qual a 
natureza dos valores éticos ou julgamentos morais. Não apenas formula 
teorias, mas procura o fundamento (singular ou plural) que servirá para 
justificar o agir ético. Em outras palavras, qual é a base para os valores 
éticos/morais? As perspectivas são variadas e procuraremos apresentar 
algumas propostas, já que não é o nosso objetivo tratar de todas elas. Há 
visões populares, como aquelas que consideram a fundamentação moral 
ou moralidade como fruto de convenção social ou sentimento pessoal ou 
mesmo a vontade de Deus. Bom, ainda que populares, alguns filósofos 
também defenderam ou defendem essas perspectivas. Por outro lado, há 
versões de que a moralidade é baseada em verdades éticas autoevidentes 
ou imperativos racionais, além de versões filosóficas pragmáticas. Seja 
como for, vamos considerar algumas dessas propostas. Devemos 
começar na antiguidade grega. 
1.2.1 Relativismo
“O homem é a medida de todas as coisas”
(Protágoras)
Como você deve estar lembrado, a filosofia grega teve origem com as 
questões cosmológicas ou naturalistas. Os primeiros filósofos, os pré-
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socráticos, interessaram-se pela busca dos princípios fundamentais do 
cosmos. Com o surgimento do movimento sofista, considerado os 
primeiros educadores, no início do século V a.C., as questões cosmológicas 
deram lugar às questões antropológicas – se o homem pode realmente 
conhecer as coisas e como viver bem na cidade. Contemporâneos de 
Sócrates, sofistas como Protágoras (480 – 410 a.C.) e Górgias (485 – 380 
a.C.), manifestam ambição por questões práticas. Assim como entendia 
não ser possível o conhecimento, atribuindo-o à mera opinião, também as 
questões éticas são entendidas como convenções sociais, não havendo 
qualquer fato objetivo. De Protágoras se tem “o homem é a medida de 
todas as coisas, das que são porque são; das que não são porque não são”. 
Essa máxima é posta na boca de Protágoras por Platão no Teeteto, cuja 
interpretação platônica, na pessoa de Sócrates, diz respeito à percepção: 
um vento parece frio a uma pessoa e quente à outra. A partir dessa 
avaliação epistemológica, dá-se um salto para o ético e, assim, tal como as 
coisas são como aparecem a cada um, seja para o indivíduo, seja para a 
cidade, cada um deve declarar o que é legal (belo e feio, justo e injusto, 
piedoso ou ímpio etc.) e verdadeiro, sendo a opinião aceita por todos (ou 
pela imensa maioria) o validador dessas coisas até o tempo que assim o 
aceitarem. Segundo Vásquez (1990, p. 237), na sofística, “Não existe nem 
verdade nem erro, e as normas – por serem humanas – são transitórias”. 
Assim, pode-se definir essa visão da seguinte forma: o fundamento para a 
ética é a aprovação individual, social ou cultural em determinado tempo e 
lugar – x é bom ou mau porque é aprovado por y em um tempo t e lugar l.
Bom, não queremos emitir algum julgamento sobre isso, mas pense uma 
dificuldade, entre tantas, levantadas por essa concepção. A escravidão no 
Brasil começou no período colonial no século XVI quando chegaram os 
primeiros navios negreiros em nossas terras. Durante quase 350 anos, a 
escravidão foi mantida e defendida em nosso país. Ora, se a tese relativista 
é um bom fundamento para a moralidade, então não se pode afirmar 
que escravidão foi (e é) um mal. Talvez um relativista admitisse que foi 
para os senhores de escravos e mau para os escravizados. Mesmo assim, 
isso é, em si, um julgamento ético. Talvez a solução para o relativismo 
fosse a posição realista de afirmar que as diferenças éticas culturais e 
Fonte: https://minutodeetica.files.wordpress.com/2016/05/1145.jpg
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morais poderiam refletir apenas as condições momentâneas e não 
princípios éticos em si, considerando que, objetivamente, a escravidão é 
moralmente repudiável em qualquer situação. Deve ficar claro que o 
relativismo não trata de etiqueta como o lado para se dirigir um 
automóvel ou a maneira como cumprimentamos uns aos outros. Trata-se 
de valores éticos que são considerados comuns amuitas culturas ou 
épocas: o homicídio, a mentira, o roubo, o altruísmo, a honra aos mais 
velhos e o cuidado com os mais fracos, o cumprimento nas promessas e 
contratos etc. Você experimentou mentir para um relativista?
1.2.2 Mandamento Divino
“Piedade é o que todos os deuses amam, e o contrário – o que todos os 
deuses detestam – é a impiedade” 
(Êutifron) 
Preste atenção no trecho de diálogo abaixo. Trata-se de um diálogo 
platônico, Êutifron, que tem por tema a piedade. Êutifron e Sócrates se 
encontram num tribunal (Pórtico do Rei). Sócrates lá está porque Meleto, 
um jovem da cidade de Pito, o acusou de ser um “fabricante de deuses”. 
Já Êutifron lá está para acusar o próprio pai de homicídio, o que causa 
espanto em Sócrates. Por quê? Porque Êutifron acreditava que seu ato 
era piedoso: “Digo que a piedade é o que eu agora faço: é perseguir os 
que cometem injustiças – por homicídio, roubo de coisas sagradas, ou 
qualquer outra falta dessas”. Todavia, isso impõe uma dificuldade, pois 
não diz o que é piedade, apenas diz que tal e tal atitude é injusta. 
Sócrates – Mas qual é a matéria da acusação e de que espécie de queixa 
se trata?
Êutífron – De homicídio, Sócrates [...] e dizem que é ímpio um filho 
acusar o pai de crime, mal sabendo o que para os deuses vale, 
relativamente ao que é piedoso e o que é ímpio.
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-ZvHoLSpTlIE/TmNhWzQDRZI/
AAAAAAAAAFw/OD08x8O3iM0/s400/3678130007_9615c85d54_o.png
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Sócrates – Por Zeus, Êutífron! Julga se conhecer assim tão exatamente 
as coisas divinas, de qualquer espécie que sejam, relativamente ao que é 
piedoso e ao que é ímpio? Procedendo desta maneira, não temos, ao 
entregar o teu pai à justiça, que, ao contrário, que suceda estares a 
cometer um ato ímpio? [...] E eu, companheiro querido, desejo tornar-me 
pelo discípulo, por saber isso e por ter compreendido que nenhum outro, 
nem esse Meleto, parece conhecer. Pelo contrário, a mim, com tal 
agudeza e facilidade me notaram, que me acusaram de impiedade. Ora, 
por Zeus, visto que a pouco afirmaste sabê-lo com clareza, dize-me o que 
se entende por piedade e pôr impiedade, tanto no que respeita ao 
assassínio quanto as outras coisas? Ou não é o haver em todos os atos 
uma mesma piedade – ela própria, em si e por si, de todo contrária à 
impiedade e igual a si própria e tendo um único aspecto – que fará com 
que uma coisa seja ímpia, pela impiedade [...] fala, pois, e diz-me então 
que espécie de coisa é a piedade e a impiedade. (PLATÃO, 1983, p. 34 – 35).
Porém, de modo mais fundamental, Êutifron acreditava que fazer isso era a 
vontade dos deuses (parte sublinhada). Ou seja, ele conhecia a vontade dos 
deuses sobre o agir em relação ao ato (homicídio) e ao próximo (o pai). O 
personagem que dá título ao diálogo levanta uma questão: qual o 
fundamento para se fazer e distinguir atos piedosos dos impiedosos. Após 
responder à pergunta baseando em “perseguir a injustiça”, Êutifron oferece 
a resposta que ficaria conhecida como teoria do comando (ou ordem) 
divino e que levantaria um o que ficou conhecido como Dilema de 
Êutifron. Estamos perante a tese sobrenaturalista quando Êutifron 
responde que “piedade é o que todos os deuses amam, e o contrário – o 
que todos os deuses detestam – é a impiedade”: x é bom porque os deuses 
(ou Deus) deseja x. Isso fundamenta a ética na religião. Na verdade, em um 
país como o nosso, de grande fervor e expansão religiosa, em especial a 
religião cristã, não é incomum encontrarmos uma ética baseada em 
princípios religiosos. Aprendemos, desde cedo e de várias formas, a vontade 
de Deus nos Dez Mandamentos ou nos princípios cristãos.
Voltemos ao diálogo. A resposta de Êutifron levanta uma questão, na 
verdade um dilema, que se apresenta à tese da teoria do comando divino 
como fundamentação moral. Eis a pergunta de Sócrates a Êutifron: “a 
piedade é amada pelos deuses, porque é piedade, ou é piedade, porque é 
amada pelos deuses?”. Essa pergunta é uma pergunta disjuntiva que se 
divide em duas respostas esperadas – por isso um dilema. Substituiremos 
“piedade” por bem, “deuses” por Deus, considerando mais a realidade em 
nosso país majoritariamente cristão, e “ama” por deseja para dar a forma 
como o dilema chegou até nós. Além do mais, em um contexto politeísta 
como no de Êutifron, o próprio Sócrates entendeu justificadamente que o 
problema é maior, uma vez que essa pluralidade de deuses levaria ao que 
chamarei de relativismo divino. Porém, no contexto de monoteísta, a 
questão fica bem interessante. Eis o dilema: (1) o bem é desejado por 
Deus porque é bem; ou (2) é bem porque é desejado por Deus. A 
qualquer escolha, impõe-se a seguinte dificuldade: se a escolha for pela 
primeira disjunta, então o bem é independente de Deus (como Platão 
acreditava ser: o Bem é uma Forma eterna), sendo Deus mesmo 
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1) A expressão indica que alguém rejeita as duas soluções e admite que existem outras 
opções. “Quebrar o chifre do dilema” é rejeitar as duas disjuntas.
submetido a ele. Se a escolha for pela segunda disjunta, então a 
moralidade é arbitrária, pois Deus poderia ordenar o estupro e, por sua 
ordem (desejo), isso seria um bem.
Entretanto, os que adotam a teoria do comando divino “quebram o chifre 
do dilema1)” por afirmar que sendo Deus onibenevolente e possuindo 
máxima excelência, como diria Anselmo da Cantuária, a sua vontade não 
estaria em conflito com sua natureza. Por exemplo, Deus não poderia 
mentir porque Deus é a própria verdade. “Se Deus é moralmente perfeito 
em essência, então Deus não iria – na verdade, não poderia – ordenar 
qualquer tipo de ato” (DEWEESE. MORELAND, 2011, p. 97).
1.2.3 Emotivismo 
“As exortações à virtude moral não são proposições, mas ejaculações ou 
ordens que são designadas para provocar o leitor a uma ação de um 
certo tipo” 
(Alfred J. Ayer)
Compare essas três frases: (1) a água é H2O; (2) Nenhum solteiro é casado; 
(3) matar é errado. Logo você nota que das três, a (3) não parece ser 
possível verificar sua verdade. A (1) pode-se atestar indo ao laboratório e 
fazendo testes químicos. Ela é empírica. A (2) parece ser uma verdade por 
definição, uma vez que falar que alguém é solteiro implica dizer que não é 
casado. Ela é analítica. Mas, como sabemos se (3) é verdadeira ou falsa? 
Não pode ser empírica e nem é analítica. Mas se (3) não é verdadeira nem 
falsa, o que significa então? Segundo a corrente ética do Emotivismo, (3) e 
todas as afirmações éticas são expressões emocionais positivas ou 
negativas sem valor de verdade, ou seja, nem verdadeira nem falsa. Dizer 
que algo é bom ou mau é o mesmo que dizer “Uau!”, “Viva!”, “Vai, 
Coríntias!” ou “Eca!” ou “Que nojo!”: x é bom ou x é mau significa “viva (ou 
eca!) x!”. Implica, portanto, em dizer que não existem verdades morais 
significativas e as expressões morais não são cognitivas. 
O filósofo britânico Alfred Jules Ayer (1910 – 1989) e o filósofo americano 
Charles L. Stevenson (1908–1979) são os primeiros a elaborarem a 
concepção emotivista da ética. Há de se considerar que o filósofo 
austríaco Wittgenstein já havia dito, no aforismo 6.42 da sua obra 
Tractatus (1921), que “tampouco pode haver proposições na ética” e “é 
claro que a ética não se deixa exprimir. A ética é transcendental”. Se isso 
colocaria Wittgenstein como um emotivista, ainda é discutível. Todavia, 
certamente a concepção pragmática de linguagem é mais propícia às 
avaliações de Ayer e Stevenson acerca das declarações éticas. 
Como visto acima, Ayer e Stevenson, como no positivismo lógico, 
sustentam que somente as declarações (1) e (2) são declarações genuínas 
de afirmações verdadeiras, ou seja, com valor de verdade. Por outro lado, 
as declarações de juízos éticos, são destituídas de valor de verdade, não 
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sendo nem verdades lógicas nem declaraçõesde fatos. Nesse caso, ao 
falarmos de juízos éticos estamos apenas usando a linguagem para 
realizar outra coisa ou para expressar aprovação ou reprovação sobre os 
atos das pessoas. Por exemplo, ao dizer “matar é errado”, segundo os 
emotivistas, isso pode querer dizer apenas “sinto-me triste quando 
alguém morre” ou “sinto-me mal em relação ao homicídio”. Afirmar 
“cumprir promessas é o certo a ser feito” expressaria algo como “parabéns 
por cumprir promessas”. Dizer algo como “aborto é crime” teria algo 
como “não aborte!”. Aliás, é preciso dizer que mesmos essas expressões 
não expressam sentimentos morais, pois diriam alguma declaração de 
fato – como alguém se sente. Mesmo essas expressões, do ponto de vista 
emotivista, querem apenas dizer interjeições de aplausos ou vaias 
(DEWEESE; MORELAND, 2011, p. 82).
No entanto, assim como o positivismo lógico sucumbiu sobre seu próprio 
princípio, o emotivismo ético não resiste ao próprio princípio. Ora, o que os 
emotivistas dizem é que para uma declaração possuir algum valor de 
verdade ela deve ser testada empiricamente (pelos sentidos) ou ser uma 
verdade analítica (verdade por definição). Coloquemos em forma de frase:
1 Uma declaração será verdadeira ou falsa se: (a) for empiricamente 
testável ou (b) uma verdade analítica.
Espero que você esteja vendo o problema bem diante de você. Caso 
contrário, deixaremos a declaração acima para que você possa encontrar 
uma forma empírica de testá-la ou encontrar nela a própria definição 
analítica.
Ainda que existam outras concepções para fundamentação da moral, o 
que aqui foi apresentado servirão de norte para que você possa continuar 
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-clyvq3NZFFE/T1RP08bpptI/AAAAAAAAAUY/jYsP8jrgjXQ/s1600/
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a investigação. No final da unidade você encontra uma boa bibliografia 
para maiores informações.
1.3 Valores Humanos 
É intuitivo que há diferenças entre os seres humanos e animais. Mesmo 
assim, é possível que alguém pegue uma pena judicial mais alta se, por 
exemplo, alguém tirar a vida de alguma animal em risco de extinção. 
Também imagine a decisão a ser tomada quando uma gestante, 
correndo risco de morte, o obstetra fica entre salvar a mãe ou a criança 
em seu ventre. Por que precisamos de amigos? Ao reconhecer um gesto 
de gentileza, agradecemos. Procuramos ser honestos com outras pessoas 
e solidário com os necessitados. Os exemplos poderiam multiplicar-se e, 
seja para o convívio social ou para o próprio indivíduo, essas ações 
indicam que o valor que consideramos a nosso respeito ou aos demais da 
mesma espécie. São valores que dizem respeito à dignidade e moral. 
Parece-nos, então, que os valores humanos são teleológicos, ou seja, 
ações éticas e ideais a serem alcançados para desenvolvimento pessoal e 
coletivo. No entanto, assim como vimos acima, os valores são buscados de 
forma a serem aplicados também ao convívio social. Assim, procuram-se 
por valores objetivos, não sujeitos à cultura ou ideologias. Digamos que o 
direito à vida seja um valor a ser cultivado e aplicado, não estando sujeito 
a fatores temporais ou culturais. Por outro lado, valores com aspectos 
subjetivos são entendidos segundo as atribuições de valor relativo (não 
confunda com relativismo) à cultura, religião, educação etc. Por exemplo, 
a liberdade crença religiosa ou descrença que cada ser humano pode 
expressar. Uma posição mais conciliadora é a tentativa de ver a dinâmica 
objetivo-subjetivo como a relação sujeito – sociedade. 
Percebemos, então, que por valores humanos está-se falando daqueles 
princípios éticos/morais que conjugam os seres humanos para viver em 
harmonia e boa convivência social. Por aspectos de valores subjetivos, 
alguns valores humanos precisam ser validados e reavaliados de tempo em 
tempo levando em consideração especialmente o desenvolvimento do ser 
humano e da própria sociedade. Basta pensar, por exemplo, nas liberdades 
e conquistas das mulheres como o sufrágio político. Por outro lado, alguns 
valores são transcendentais, não estando sujeitos a mudanças ou 
reformulações, como por exemplo, a liberdade humana. Levanta-se, assim, 
uma questão: os valores humanos estão aí na realidade constituída e nós os 
descobrimos ou os valores são construídos? Os realistas morais entendem 
que em alguns valores humanos existem realidade e nós os descobrimos e 
os descrevemos. Ser gentil, ter coragem, evitar os danos, proteger os fracos, 
honrar os mortos, honrar os pais etc. seriam valores intuídos pelos 
humanos antes mesmo de qualquer formulação teórica. Por outro lado, os 
construtivistas pensam que devemos ver os valores humanos como 
resultado de um processo que construímos, tornando os valores humanos 
fruto de deliberação e acordos. Ora, não é necessário argumentar muito 
em favor dessa concepção, uma vez que também temos valores humanos 
construídos. Por exemplo, ainda que a igualdade entre os seres humanos 
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seja um valor pressuposto em sociedade democráticas, a criação de 
“igualdade perante a lei” é uma tentativa de impedir a impunidade dos 
poderosos, ainda que utópico. 
Como esforço da aplicação desses valores, sejam eles reais ou elaborados, 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), promulgada em 10 
de dezembro de 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, em seu 
preâmbulo, reconhece “a dignidade inerente a todos os membros da 
família humana” e “seus direitos iguais e inalienáveis” como “fundamento 
da liberdade, justiça e da paz no mundo”. Assim, em seu Artigo I, 
reconhece que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em 
dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em 
relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Ora, essa afirmação 
carrega em valores objetivos – nascer livre e iguais em dignidades e 
fraternidade. Por outro lado, por ser dotado de razão e consciência, é 
racional que todos ajam segundo esses princípios. 
É um bom exercício ler a DUDH a fim não apenas de conhecer os valores 
humanos que se aplicam universalmente, mas também ver o esforço 
coletivo para convivência entre os povos. 
Eleanor Roosevelt mostra a versão impressa da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Fonte: https://www.conectas.org/wp/wp-content/uploads/2018/12/
Eleanor_Roosevelt_and_United_Nations_Universal_Declaration_of_Human_Rights_in_Spanish
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2. Filosofia e Teorias Éticas
Você se lembra do gráfico acima sobre metaética, ética descritiva etc., não 
lembra? O que tratamos até a seção 1.3 dizia respeito à metaética (você 
sabe explicar o que é?). Agora, nessa seção final, queremos tratar um 
pouco da ética normativa, ou seja, daquela área que nos procura dizer 
como devemos agir. É importante entender que as teorias concebidas na 
ética normativa são de cunho filosófico. Por que é preciso dizer isso se 
você está lendo um texto de filosofia? Porque o agir ético precisa de 
avaliação, princípio e deliberação. Uma coação a agir de certo modo que o 
agente não deseje não é uma ação ética. Assim, é preciso que vejamos a 
ética como um ramo da própria filosofia e, assim, dedicar-se a pensar a 
ética/moral é fazer filosofia. Isso deveria ser trivial e, de fato, parece não 
haver disputa sobre esse fato. Porém, tal como a filosofia é um tipo de 
investigação conceitual que se utiliza do rigor lógico para analisar as 
grandes questões, a ética, ainda que possa ser aplicada a áreas distintas, é 
também uma investigação acerca dos valores e juízos morais. Passemos, 
agora, a discorrer acerca de algumas teorias éticas. 
2.1 Princípio da Maior Felicidade: Consequencialismo e Utilitarismo
A nossa primeira ética normativa é chamada de consequencialismo, que 
tem como seu melhor representante o Utilitarismo. Outros 
representantes seriam o hedonismo, o egoísmo e o pluralismo. O filósofo 
John Stuart Mill, emseu livro Utilitarismo (2005, p. 48), dá a seguinte 
definição para sua filosofia: 
O credo que aceita a utilidade, ou o Princípio da Maior Felicidade, como 
fundamento da moralidade, defende que as ações estão certas na 
medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em 
que tendem a produzir o reverso da felicidade. Por felicidade. Entende-se 
o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a privação de prazer.
Você deve ter notado que o consequencialismo é teleológico, ou seja, o 
alvo da avaliação moral são os resultados que os atos promovem. No caso 
da forma utilitarista de proceder, isso implica que uma escolha ética deve 
Famoso “Dilema do Trem” – para qual lado você puxaria a alavanca?
Fonte: https://verdadenapratica.files.wordpress.com/2015/05/trolley_2.jpg
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ser aquela que promova o maior bem possível para o maior número 
possível de pessoas. Note que nas palavras de Mill, esse seria o princípio 
fundamental da moralidade; as ações certas são aquelas que promovem a 
felicidade; as ações erradas as que promovem a infelicidade. Trata-se, 
portanto, de um cálculo a ser pensado e a decisão deveria ser em favor 
daquilo que tem como consequência a máxima felicidade ou bem.
Ainda que resumido aqui, talvez você possa pensar em dificuldades com 
o consequencialismo mesmo em qualquer versão. Pergunte-se: o que 
seria maior bem para o maior número, dar R$ 100,00 a uma única pessoa 
faminta ou dar R$ 1,00 a cem pessoas famintas sabendo que esse valor 
não é suficiente para saciar a fome? Talvez oferecer R$ 50,00 reais a duas 
pessoas dentre as cem, isso seria um bem, mas não é máximo. Essa ação 
até poderia deixar você feliz, mas sua ação deixaria os outros infelizes? 
Então a sua ação seria boa aos seus olhos, mas injusta aos olhos dos 
demais? E como se calcula o bem ou a felicidade? 
2.2 Ética da Virtude
“Louvamos as pessoas justas e corajosas, e de um modo geral as 
pessoas boas e a própria excelência moral, por causa das ações destas 
pessoas e dos respectivos resultados” 
(Aristóteles)
Os pais da Ética da Virtude são Platão e Aristóteles. Também Tomás de 
Aquino é um expositor dessa teoria. De modo claro, a Ética da Virtude 
enfatiza o agir virtuoso do agente levando em conta seu caráter com o 
fim de alcançar a felicidade. Não confunda com o Utilitarismo. Aqui a 
ênfase do agir não recai nas consequências das ações ou nos deveres ou 
regras a serem obedecidas ou não. Antes, o agente moral procura agir 
com bom senso baseando nas virtudes morais, ou seja, a ação é realizada 
porque agir pelo bem é virtuoso e o seu contrário é um vício. Vê-se que a 
normatividade recai sobre a primazia do caráter do agente e sua 
liberdade. Ora, o que está a se dizer é que o caráter e o ato estão em 
conformidade. Se a bravura é virtuosa, o seu fim também é virtuoso. 
Desse modo, nas palavras de Aristóteles, “o bem do homem nos aparece 
como uma atividade da alma em consonância com a virtude, e, se há 
mais de uma virtude, com a melhor e mais completa”.
Deve-se considerar que em Aristóteles, a virtude é uma disposição de 
escolher o meio termo, isto é, a justa medida entre o excesso e a falta. 
Assim, o meio termo entre o egoísmo e a prodigalidade é a generosidade 
– a virtude está no meio, como se diz. A fim de desenvolver sempre um 
caráter virtuoso, o agente deve criar o hábito. 
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Apenas a título de informação, em anos recentes, começou-se a pensar 
em uma epistemologia da virtude, ou seja, assim como se buscam as 
virtudes éticas para o bem proceder com vistas à felicidade, buscam-se as 
virtudes epistêmicas para o correto pensar com vistas à verdade. 
2.3 Ética Deontológica
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo 
querer que ela se torne lei universal”
(Immanuel Kant) 
De certo modo, as teorias éticas aqui apresentadas não deixam de ter 
algum caráter deontológico, isto é, de normatividade ou obrigação. 
Porém, de modo distinto, a Ética Deontológica é baseada nos deveres. 
Enquanto o Utilitarismo baseia-se nos resultados e a Ética da Virtude 
baseia-se no agente, a Ética Deontológica baseia-se nos deveres. Assim, 
algumas ações são boas ou más em si e não decorrentes do agente ou 
porque provoquem alguma consequência. 
Representante dessa perspectiva, o filósofo alemão Immanuel Kant (1742-
1804) propôs o que chamou de imperativo categórico, expresso na frase 
que abriu o parágrafo acima. Como se nota na citação, trata-se de uma 
fórmula ética que se exprime por verbos como dever, agir, obrigar-se etc. 
O imperativo constitui-se uma obrigação – daí o nome deontológica – 
declarando que certa ação é “objetivamente necessária sem que a sua 
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-3lBqSw3KxAk/TtvFOgkGIWI/AAAAAAAABEE/Id1nJq5YjzE/
s1600/aristoteles.jpg
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realização esteja subordinada a um fim ou a uma condição; por isto, é 
uma norma que vale sem exceção” (VÁSQUEZ, 1990, p. 168). Desse modo, 
normas como “não mentir”, “não quebrar uma promessa”, “não matar” 
etc., são categóricas e devem ser cumpridas. Os filósofos DeWeese e 
Moraland (2011, p. 96) dão como exemplo a seguinte questão para 
compreender o imperativo categórico de Kant: “Suponha que você se 
pergunte se deve colar na prova de anatomia, pensando que, se colar, 
você será aceito na escola de medicina e sabe que poderá ser um médico 
muito compassivo. Mas você poderia universalizar essa regra? Se sim, você 
confiaria em algum médico ou cirurgião, sabendo que é possível que ele 
também tenha colado na prova de anatomia?”. 
Porém, esse princípio de universalização de normas morais com base no 
imperativo categórico não parece promissora. Kant mesmo reconheceu 
que está disposto a aceitar alguma mentira visando a algum bem, mas 
não estaria disposto a aceitar uma lei universal de mentir (KANT, 2007, p. 
34). E o que dizer do “não mentir” como um imperativo categórico? 
Levado ao extremo, alguém não poderia mentir ao ser indagado sobre se 
estava escondendo judeus perseguidos pela Staatspolizei de Hitler. 
Enfim, ainda que o imperativo categórico pareça interessante, assim 
como as demais teorias, também tem seus dilemas, dilemas sobre os 
quais você, a partir de agora, poderá refletir filosoficamente sobre os 
assuntos aqui discutidos.
3. Ética, Multiculturalismo e Respeito
O respeito ao outro sempre configurou o princípio originário da ética. À 
medida que o cânone da filosofia ocidental se complexificava e ganhava 
outros contornos, o lugar, a fala e o papel do outro nas relações éticas 
ganhavam também novas e variadas direções. À medida que o ethos da 
humanidade se mostrava cada vez mais distante e amplo da ideia 
eurocêntrica de cultura e da própria configuração do homem grego, o 
multiculturalismo se afirmava como uma categoria enérgica e 
importante para o debate atual: a compressão dos dilemas humanos nas 
suas especificidades geográfica, histórica e cultural. 
Quando refletimos sobre a real possibilidade de estabelecer um ambiente 
multicultural, cremos que seja necessário abordar algumas questões que 
representam possíveis obstáculos ou questões válidas para a viabilidade 
dessa proposta no campo dos estudos éticos. “O que é o 
multiculturalismo?” é a pergunta que inaugura esta reflexão, haja vista que 
entender o conceito é indispensável para podermos compreender suas 
possibilidades e seus obstáculos. Após definir o termo e suas características, 
é necessário pensar acerca da responsabilidade e das ferramentas de que 
dispomos para aplicação dessa reflexão no nosso cotidiano. Agora, a 
pergunta central é, portanto, saber quais valores afirmaremos no 
pluralismo cultural. Consideremos, assim, cada uma delas separadamente. 
Como, então, podemos definir multiculturalismo? Poderíamos utiliza, 
com uma certa liberdade, a seguinte metáfora: as expressões culturais de 
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um povo são os adornos que compõem a morada do homem (morada 
aqui no sentido grego de ethos, de onde derivamos o termo ética). 
Quando visitamos uma casa, encontramos uma certa disposição e 
configurações para cada cômodo nela existente. Porta-retratos, móveis, 
quadros, decoração, objetos novos, antigos, relíquias, etc. que apontam 
para o modo como os seus residentes expressam suas personalidades, 
humores e gostos. De modo semelhante, e em sentido amplo, o 
multiculturalismo é a compressão do lugar dessa pluralidade de 
elementos culturais diversos e dos modos singulares de expressão dessas 
realidades. Nessa empreitada, o multiculturalismo compreende e sinaliza, 
portanto, um contexto transdisciplinar marcados por modelos (teóricos e 
práticos) diferentes de educação, história, antropologia, sociologia, 
filosofia, economia, política, artes, literatura, comunicação, etc. 
Historicamente, pode-se dizer que a defesa e o reconhecimento desse 
pluralismo de identidades e modos de ser ganharam espaços no debate 
acadêmico com maior pujança no fim da Guerra Fria. Nesse ínterim, o 
mundo se abria a novas formas econômicas e à ideia de uma 
globalização, com progresso para todos: seria uma marca a ser alcançada. 
Contudo, indaga-se se de fato a globalização corroborou para a afirmação 
de outras culturas em um ambiente econômico e cultural universal. Na 
verdade, tende-se a defender a ideia segundo a qual a globalização não 
cumpriu a sua meta, e proporcionou a cristalização de uma cultura de 
consumo e afirmação dos e valores de determinadas culturas. Sobre essa 
perspectiva, Bauman (1999, p. 27) considera a falácia da globalização um 
exemplo de desordem mundial: 
O significado mais profundo transmitido pela ideia da globalização é o 
do caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos 
assuntos mundiais; a ausência de um centro, de um painel de controle, 
de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo. A 
globalização é a “nova desordem mundial” de Jowitt com um outro 
nome. Esse caráter, inseparável da imagem da globalização, coloca-a 
Fonte: http://www.justificando.com/2017/07/27/democracia-radical-multiculturalismo-e-estado-
democratico-de-direito/
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radicalmente à parte de outra ideia que aparentemente substituiu, a da 
“universalização”, outrora constitutiva do discurso moderno sobre as 
questões mundiais mas agora caída em desuso e raramente 
mencionada, talvez mesmo no geral esquecida, exceto pelos filósofos.
Dessa perspectiva, as expressões culturais só ganham o interesse do 
mundo globalizado quando se abrem para o processo de transformação 
em mercadorias comercializáveis, a fim de seguir o trilho da economia de 
mercado, principalmente por influência da industrialização trazida pelas 
multinacionais e a própria indústria cultural. É, pois, contra tal hegemonia 
que as reflexões sobre o multiculturalismo estão tendo lugar e ganhado 
força e espaço nos meios acadêmicos, para colocar em pauta a 
pluralidade humana e o compromisso de defesa dessa expressão plural 
das culturas. Grande parte das discussões giram em torno da questão de 
saber quais como as formas plurais de expressão culturais terão voz e 
protagonismo em nosso cotidiano. 
Nessa nova discussão, o diferente, o outro, que é objeto da ética, reivindica 
novos contornos, que exigem que a equidade e o respeito sejam elementos 
indissociáveis da reflexão ética. Desse modo, o diferente é ressignificado 
para além das clássicas categorias de ameaça, do que é exótico, do que nos 
traz perigo, do desconhecido ou até mesmo do que é marginal. 
Um dos grandes desafios de um 
amplo debate sobre o multicul-
turalismo nasce, em um primeiro 
momento, de uma associação 
equivocada ao debate a uma 
imagem puramente ideológica a ser 
perseguida por grupos que profes-
sam certas práticas fundamenta-
listas. A perseguição é justificada 
como uma defesa de valores 
tradicionais que devem ser preser-
vados a todo custo. Nesse movi-
mento, o fundamentalismo aponta 
suas energias a um inimigo fantas-
magórico que viria de fora para 
destruir sua cultura e seus valores. 
Essas formas de negação, ou agressão, são vistas atualmente nas crises 
migratórias testemunhadas nas últimas décadas, que têm como grande 
potencializado da agressão a xenofobia e a uma gama de preconceitos que 
rompem qualquer possibilidade de dialética entre os diferentes. Como 
acentuou o Papa Francisco, discursando em Marrocos, em março de 2019, a 
responsabilidade pela vida do outro está no núcleo da reflexão ética e dos 
debates multiculturalistas. Do ponto de vista do Sumo Pontífice, 
Este Pacto permite reconhecer e tomar consciência de que «não se trata 
apenas de migrantes» (cf.  Tema do Dia Mundial do Migrante e do 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Papa_Francisco#/media/
Ficheiro:Franciscus_in_2015.jpg
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Refugiado em 2019), como se as suas vidas fossem uma realidade alheia 
ou marginal que nada tivesse a ver com o resto da sociedade; como se o 
seu estatuto de pessoa com direitos ficasse «suspenso» por causa da sua 
situação atual; «efetivamente, um migrante não é mais ou menos 
humano segundo a sua localização dum lado ou do outro da fronteira 
(FRANCISCO, 2019)
Os grupos que têm assumido suas particularidades étnicas e culturais 
como uma bandeira na construção de uma vasta cadeia de reflexão 
defendem o compromisso com a responsabilidade e o protagonismo da 
diversidade em tornar visível outras tantas formas de expressão culturais e 
identitárias na ação e reflexão, que, durante milênios na história ocidental, 
foram renegados à marginalidade ou ao apagamento. À medida que a 
diversidade conduz ao inevitável contato entre cosmovisões diversas e 
divergentes, é necessário esvaziar qualquer medida bélica, ou beligerante 
através da caridade e do respeito. 
Caridade e respeito são valores afirmativos e necessários para se pensar 
uma viabilidade para um ambiente multicultural e uma humanidade 
mais cosmopolita. A dissolução das relações desumanas também são 
compromissos indispensáveis para um pensar e agir em torno do 
respeito. Afinal, não defendendo simplesmente o lugar do outro como 
um objeto passivo de observação, o compromisso é que todos tenham 
voz para juntos edificarmos as “pontes” para uma relação e interação mais 
respeitosa e caridosa entre os povos. Como bem afirma o filósofo 
prussiano Immanuel Kant, em sua obra À Paz Perpétua, 
Uma vez que agora, com o estabelecimento consistente de uma 
comunidade (mais estrita ou mais ampla) entre os povos da terra, 
chegou-se tão longe que a violação do direito em lugar da terra é 
sentida em todos, então a ideia de um direito cosmopolita não é um 
modo fantástico e exagerado de representação do direito, mas um 
complemento necessário do código não escrito, tanto do direito do 
Estado quanto do direito das gentes, para o direito público dos seres 
humanos e assim para a paz perpétua da qual, apenas sob essa 
condição, podemos nos lisonjear de nos encontrarmos em uma 
contínua aproximação (KANT, 2020, p. 50). 
O multiculturalismo se propõe ser uma ação ética que promova a 
convivência pacífica e respeitosa entre os diferentes povos e suas diferentes 
maneiras de viver. Afinal, esse movimento de convivência ultrapassa o 
limite da tolerância, pois implica o respeito como sendo uma afirmativa de 
valor e dignidade do outro. O respeito reserva ao outro as condições política 
e existencial de dignidade. A partir disso, podemos então conceber uma 
relação ética ampla que esteja baseada na garantia da vida do outro, e essa 
garantia de vida é a garantia de todo o conjunto de acepções próprias da 
história, língua, arte e modo de vida particular de cada povo. 
Esse reconhecimento ético da dignidade do outro não é apenas um 
método de conciliação de conflitos e divergências, ou mesmo de 
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estreitamento de laços políticos econômicos. É a ampliação dialética da 
condição da vida que busca, na face do outro, uma condição de igualdade 
e de justiça. Como podemos pensar em uma reflexão ética plural em 
circunstâncias de vidas perturbadas pela desigualdade e pela violência de 
todos os tipos? É, pois, sob essa perspectiva que a reflexão 
multiculturalista da ética deve abraçar sua forma mais prática e ativa nas 
comunidades humanas. 
Para se pensar a real viabilidade de um 
mundo eticamente plural, como vimos 
anteriormente, são necessários um 
desprendimento e uma ação concreta no 
implemento de políticas e práxis 
cotidianas que estejam voltadas para a 
harmonia e respeito das diversas formas 
de expressões culturais locais e distantes. 
Os primeiros passos para isso seriam 
reintegrar compromissos e afirmar a 
dignidade do outro como um ser 
autônomo e livre que coexiste neste 
mundo e é digno de existir por si só. 
Como comenta Kant, na citação acima, 
que o agravo a um ser humano é um 
agravo a toda comunidade humana 
sobre a terra. 
As considerações acerca do multiculturalismo apresentam-se de forma 
ampla e propõem uma ação frutífera de ressignificação da própria 
sociedade em laços e modelos diferentes dos atuais meios de vida. Pensar 
a ética como compromisso plural na construção de uma sociedade ética 
plural é um frutífero exercício de deslocamento dos nossos valores para 
campos mais amplos de reconhecimento e fraternidade. A 
responsabilidade pela garantia da vida do outro acena como um 
compromisso para todos os homens que desejam um mundo mais 
harmônico e menos castigados pelas práticas predatórias de um antigo e 
violento regime de exclusão e cristalização de valores que não 
conseguiram promover a paz e a harmonia entre todos os povos.
4. Liberdade, Responsabilidade e Cuidado
Chegamos, assim, ao tema da liberdade. Para alguns filósofos, a liberdade 
é uma condição necessária da existência humana. Outros, porém, 
compreendem a liberdade como uma categoria que está condicionada a 
uma série de causas e efeitos anteriores à própria ação, ou ainda 
consideram a liberdade como uma deliberação estritamente humana, 
um valor que deve ser atingido de forma coletiva e dialogal. O conceito da 
liberdade se apresenta na tradição filosófica como um grande e basilar 
problema a ser debatido e nunca exaurido. Afinal, quando falamos de 
liberdade tratamos da ação de sujeito em relação aos outros sujeitos. 
Fonte: https://
saladefilosofiaunisal.blogspot.com/
2017/08/o-conceito-de-felicidade-na.html
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Conhecer ou refletir sobre a liberdade é uma ação filosófica de tentar 
responder: até onde pode o homem? 
Do ponto de vista do senso comum, o indivíduo espera ser livre para agir 
sobre o mundo, sobre os outros, ou mesmo pelos outros. Nesse caso, 
pensar a liberdade é pensar as consequências da ação e, refletindo sobre 
a ação, encontrar os contornos do conceito que podem dar a ele uma 
forma e um limite. Sim, para pensar a liberdade humana é necessário 
pensar nos seus limites e desmitificar a ideia de total liberdade. Na ação 
humana, encontramos os limites da responsabilidade e da ética como 
norte para delimitar a ação. Uma vez encontrando o limite da 
responsabilidade, evitamos que ela (liberdade) não se torne barbárie, e os 
sujeitos não venham a confundir abusos e violências com a liberdade. 
Uma liberdade que não está entrelaçada com a responsabilidade não é 
liberdade, mas totalitarismo. 
Antes que possamos adentrar as questões da liberdade e da 
responsabilidade propriamente, é indispensável discorrer ainda sobre 
uma questão que se impõe na tentativa de delimitar a ação humana. Eis a 
questão: a liberdade é fruto autônomo da condição humana ou todas as 
nossas ações são determinadas e nossa liberdade não passa de um apelo 
retórico que mascara os fios de controle? Ou seja: nosso agir é livre ou 
determinado? Essas são questões que também movem o debate ético 
acerca da liberdade. Afinal, se consentimos que não somos autônomos 
em nossa ação, mas sim correspondemos à autoridade determinada, 
como podemos pensar os termos da responsabilidade? Em outros 
termos, se somos livres, onde está respaldada a responsabilidade ética? 
Como foi mencionado anteriormente, a questão da liberdade é, até agora 
pelo menos, um problema ético não resolvido. Filosoficamente, a questão 
se impõe por meio da busca pela compreensão do fundamento último da 
liberdade. Onde está fundamentada a liberdade do homem? Há dois 
recorrentes pontos de partidas entre os polos do debate acerca desse 
tema: um polo que tende responder a essa problemática recorrendo à 
Fonte: https://pantokrator.org.br/po/wp-content/uploads/2013/04/marionetes.jpg
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espiritualidade em suas mais variadas formas de transcendência, e os que 
partem de uma premissa materialista e de negação de qualquer espécie 
de transcendência. Só a título de exemplo e comparação, podemos 
considerar dois grandes expoentes da tradição filosófica que discorreram 
sobre isso, cada um ao seu modo: o filósofo cristão Santo Agostinho e o 
filósofo ateu francês Jean Paul-Sartre. 
Santo Agostinho tratou o problema da liberdade em sua obra O Livre-
arbítrio. Nessa obra, o filósofo-teólogo expõe argumentos que visavam a 
responder à questão do problema do mal, atrelada à liberdade do homem 
(Cf. AGOSTINHO, 2004, p.68-69). Para esse pensador cristão, o homem 
vive sob a condição de pecador, e isso é o que afasta o ser humano das 
coisas eternas e da vontade do Deus, que é o Sumo Bem. Entretanto por 
ser dotado de razão, o ser humano pode deliberar entre o mal e o bem. A 
liberdade se realiza na escolha do homem em se aproximar da divindade. 
Pois, como polos opostos, as coisas eternas e as coisas materiais se 
repelem, indo para caminhos opostos. O mal existe, pois o homem tem 
livre-arbítrio para escolher afastar-se ou aproximar-se de Deus, que é a 
fonte de toda bondade, e em quem o que é bom, justo e belo se mantêm 
e se expressam. Como o ser humano procede de Deus, pois Ele o criou à 
sua imagem e semelhança, assim, o indivíduo pode optar em abraçar a 
providência divina que se manifesta nas boas ações e no que é justo. 
[...] Ag: Por outro lado, se o homem carecesse do livre-arbítrio da vontade, 
como poderia existir esse bem, que consiste em manifestar a justiça, 
condenando os pecados e premiando as boas ações? [...] Ora, era preciso 
que a justiça estivesse presente no castigo e na recompensa, porque aí 
está um dos bens cuja fonte é Deus. Conclusão, era necessário que Deus 
desse ao homem vontade livre [...] (AGOSTINHO, 2004, p.75).
Dito isso, compreendemos a íntima relação entre a liberdade humana e a 
graça de Deus que concede ao homem o livre-arbítrio. Da mesma forma, 
o indivíduo deve buscar utilizar bem sua liberdade para rejeitar o pecado 
e aproximar-se da graça de Deus. Quanto mais próximo de Deus mais 
claro e evidente é o agir. O homem não vive sob a escravidão das paixões 
e pode racionalizar o sumo bem e a justiça, e escapar de eventuais 
punições da justiça divina. 
Esse é um dos aspectos da compreensão espiritual da liberdade e da 
responsabilidade nas ações humanas. Entretanto o problema da 
liberdade também foi encarado por outras linhas de pensamentos 
filosóficos, uma delas é a que nega os fundamentos transcendentes da 
liberdade buscando, dessa forma, outros fundamentos para a 
compreensão da ação e da responsabilidade humanas. É o caso do 
existencialismo sartreano que influenciou, de forma impactante, todo o 
pensamento filosófico do século XX. O existencialismo sartreano negava 
completamente a metafísica cristã e o tipo de espiritualidade por ela 
defendido. Em O ser e o nada, o filósofo francês Jean-Paul Sartre 
fundamenta as bases de sua teoria existencialista, que tem como 
fundamento um universo vazio de transcendências e onde o sujeito é 
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necessariamente livre. Para ele, a própria condição humana é 
necessariamente liberdade. 
Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser 
explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva, ou 
seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade 
(SARTRE, 1987, p. 9).
O humanismo radical do existencialismo de Sartre concentra-se na figura 
do indivíduo, desvinculando a responsabilidade humana de qualquer 
determinismo transcendente. Se a existência antecede a essência, a 
liberdade é o termo primeiro e originário de qualquer ação formadora do 
homem. Essa nova dimensão inaugurada pela obra de Sartre subverte a 
ideia clássica de liberdade que poderia ser resumida em uma ponderação 
entre certo e errado, entre justo e injusto. A liberdade aqui é encarada 
como o fundamento de qualquer possibilidade da ação humana, e está 
entrelaçada diretamente com a responsabilidade do homem de si e dos 
outros que estão ao seu redor. Isso abre uma profunda dimensão do 
engajamento na obra do filosofo francês. 
Sem dúvida, a liberdade enquanto definição do homem, não depende 
de outrem, mas, logo que existe um engajamento, sou forçado a querer, 
simultaneamente, a minha liberdade e a dos outros, não posso ter 
objetivo a minha liberdade a não ser que meu objetivo seja também a 
liberdade dos outros (SARTRE, 1987, p. 199).
A forma como a liberdade é posta no sistema sartreano pressupõe a 
responsabilidade e engajamento do ser humano. O homem é livre, mas sua 
liberdade está diante das outras liberdades e existências. O indivíduo pode 
mentir para si e para os outros para criar, para si, uma realidade diferente da 
sua. Esse ato de mentir, de tentar evadir-se da responsabilidade, será 
chamado de “má-fé”. O homem que se esconde sob mentiras, evasões e 
desculpas está representando um personagem em um palco. Se somos 
humanos, somos livres; se somos livres, somos responsáveis pelas nossas 
ações. O homem é o único legislador de si mesmo. 
O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Afirma que, 
se Deus existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a 
essência, um ser existe antes de poder ser definido por qualquer 
conceito: este ser é o homem (SARTRE, 1987, p. 6).
 
Seja a liberdade encarada sob o prisma espiritual ou ateu, o problema da 
ação sempre será norteado pela compreensão da responsabilidade e do 
cuidado. Seja nossa existência determinada pela vontade superior ou 
mesmo um fruto do acaso de fenômenos, nossa condição ética cobra que 
a reflexão se dedique ao lugar do outro em nossa liberdade. Quando 
pensamos sob esses termos, é necessário que nossa liberdade, ou a 
reflexão da razão sobre a ação, compreenda a dignidade e necessidade da 
preservação e do cuidado do outro. 
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Atualmente, essas reflexões e ponderações sobre a liberdade e 
responsabilidade têm tido incidência direta sobre o tema do cuidado do 
homem com o meio ambiente. Esse olhar de cuidado com a preservação 
da natureza compreende um novo lugar para a ação humana. Por muitos 
séculos, principalmente com o advento da modernidade e das revoluções 
industriais, a relação do homem com o ecossistema foi concebida sob a 
forma de domínio e apropriação. O homem moderno concebia-se como 
um imperador e dominador da natureza, chegando ao ápice do descaso 
com esse grandioso sistema vivo que forma o planeta. À medida que a 
terra é desgastada e as mudança no clima se tornam irreversíveis, a 
reflexão ética visa à necessidade de mudar a forma como a ação humana 
e o meio ambiente se construiu para que as próximas gerações tenham 
um mundo para expressar sua liberdade e seu cuidado pelo outro e pela 
natureza. Como acentua José Ordóñez:
A primeira responsabilidade é para com a vida: o homem é convocado 
não apenas a conservá-la, mas a mantê-la e enriquecê-la, de modo que 
a ação humana se paute pelo compromisso de um uso da natureza 
referenciado à vida humana plena, com o enriquecimento das 
condições de vida sobre a Terra, isto é, que o mundo em que vivemos se 
torne mais habitável (ORDÓÑEZ, 1992, p.48; 51).
Por fim, podemos acentuar a complexidade do problema da liberdade 
humana e o mundo que o cerca. O homem depositando os fundamentos 
da sua liberdade em um fundamento espiritual ou material, estará 
sempre sendo confrontado com a dimensão relacional que se estabelece 
com seus semelhantes e com a natureza que o cerca. Por hora, fica a 
provocação dessa reflexão para um posterior aprofundamento das 
questões que orbitam e interagem nessa dimensão prática da ética. 
5. Éticas Aplicadas
Vejamos, agora, a ética na vida prática ou ética aplicada. Certamente, 
muitas são as áreas em que a ética é aplicada, e essa é um ramo da ética 
que mais tem crescido nos últimos anos. Ainda que se ocupe com 
questões morais, muitas das quais relacionadas à vida e a morte, tais 
como eutanásia ou pena de morte, mas também acerca da guerra, 
engenharia genética, mídias sociais, etc. Exigiria de nós um livro inteiro 
para avançarmos nas mais diversas áreas. Na bibliografia, você encontrará 
uma referência adequada ao tema. Aqui passaremos a apenas algumas 
poucas implicações dos estudos éticos. 
Ética e Economia. Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma que o fim, 
telos, da “economia é a riqueza”. Segundo ele, assim como a medicina e 
engenharia naval, a economia é também uma arte. Como visto em nossa 
abordagem da cultura, a valoração de bens parece ser um aspecto da 
relação homem-mundo e as atividades relacionadas a essa valoração 
constituem-se as modalidades daquele aspecto. No exemplo dado no 
começo da unidade, um bloco de mármore que é transformado em 
escultura pode ter algum valor meramente afetivo ou hedonista. Porém, o 
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seu “trabalho” pode ser reconhecido como valor monetário e, assim, 
cumprir outra função como aquela que Aristóteles implicou. Essa relação 
torna-se política e, a partir daí, deve-se procurar o que fazer entre as 
partes. Ora, nesse caso, dissociar a ética dessa relação é desumanizar a 
própria relação, pois “o vínculo monetário, que jamais constitui um laço 
social robusto, não é forte o suficiente para subjugar as ideologias 
fanáticas, nem para garantir a prosperidade [...] se o desenvolvimento 
material é o principal objetivo de um povo, não resta mais nenhum 
controle moral sobre os meios empregados na aquisição de riqueza: a 
violência e a fraude tornam-se práticas comuns” (KIRK, 2013, p. 197, 199). 
Ética e Vida Profissional. Por "ética e vida profissional" quer-se dizer da 
ética que se ocupa das mais diversas profissões. Poderíamos falar em 
ética médica, ética jornalista, ética jurídica etc., mas, ao usarmos "ética e 
vida profissional", estamos nos referindo ao geral, não ao particular. Nesse 
sentido, deve haver uma zona comum entre os ofícios para além das 
distinções. Tomemos, por exemplo, o caso sobre a mentira. Uma definição 
adequada sobre a mentira é que o conteúdo linguístico difere 
intencionalmente do conteúdo mental. Ou seja, quando alguém mente 
de fato, deve saber que é contrária à verdade e ter a intenção de enganar. 
Seria ético a um advogado mentir sabendo que seu cliente é culpado por 
um crime? Ou seria ético um empregado conseguir atestado médico sem 
estar doente? Seria ético a um empregador mentir aos seus empregados 
sobre seus pagamentos? Em certos aspectos, a teoria casuística da 
aplicação ética parece prevalecer nas relações profissionais, mesmo 
havendo acordos e códigos de ética para aquela profissão. No geral, 
quando não implicado por alguma regra moral estabelecida, os acordos 
morais parecem ser do senso comum: devemos ser honestos, honrar 
compromissos, sermos bondosos com os semelhantes etc. Por "senso 
comum" entenda-se a existência de princípios morais, ou princípio do 
dever, sobre os quais os demais repousariam e adquiridospor hábitos e 
contatos. Por exemplo, parece haver uma aprovação ou elogio para certas 
condutas. Um profissional é elogiado ou reprovado segundo suas ações: 
um médico por salvar uma vida, um professor por ensinar com dedicação, 
um advogado por fazer cumprir a justiça, um vendedor por bom 
Fonte: https://parallaxis.com.br/wp-content/uploads/2014/10/banca-etica1.jpeg
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atendimento e preço justo, um jornalista por relatar as matérias sem 
distorcê-las etc. 
Ética e Ciência. De modo geral, na atualidade, por ciência se pensa a 
distinção, feita por Dilthey, em ciências da natureza (física, química, 
biologia, astronomia, etc.) e ciências do espírito ou humanas (psicologia, 
sociologia, história, linguística, etc.). A ciência, como entendida 
popularmente, é caracterizada pela manipulação do domínio da natureza 
a fim de transformá-la.  O filósofo Ed Miller (1984, p.17) afirma que o 
método por trás das ciências da natureza é mais restrito que o método 
filosófico. A ciência consiste de um “conjunto de proposições ou juízos 
sobre aquilo que as coisas são: enunciam ou indicam aquilo que alguma 
coisa é” (VÁSQUEZ, 1999, p. 87). Isso quer dizer, então, que suas 
formulações indicariam apenas como as coisas são, mas não é possível 
indicar o que fazer, pois esse é campo da ética. As ciências podem dizer a 
composição de uma substância do tabaco e dizer o que ele causa no 
corpo humano, mas não pode dizer se isso é bom ou mau, certo ou 
errado, uma vez que esse juízo deixa o campo natural para o campo ético. 
Devemos lembrar-nos, também, que cientistas possuem crenças 
metafísicas e éticas que podem influenciar seus julgamentos e confundir 
um enunciado científico com um enunciado ético. Tomemos, por 
exemplo, a questão sobre o aborto. A escolha da definição sobre o que é o 
ser humano e quando se inicia a vida são questões metafísicas e 
irredutíveis a um aspecto meramente genético, sem levar em 
consideração aspectos éticos. “A definição científica de vida humana será 
sempre o resultado de uma escolha, de uma decisão epistemológica e 
dificilmente poder-se-ia encontrar aí os fundamentos de uma justificação 
absoluta de qualquer coisa” (FOUREZ, 1995, p. 185).
Ética e Ecologia. Segundo Fourez (1995, p. 30), o termo “ecologia” pode 
gerar certa ambiguidade porque ou indicaria uma “moral relativa ao meio 
ambiente” ou uma disciplina relacionada à Biologia. Observando o 
desenvolvimento tecnológico e crescimento dos grandes centros 
urbanos, é certo que surgem questões relacionadas ao meio ambiente. 
Por mais estranho que pareça, a relação ética e ecologia passa a 
ressignificar a aplicação dos cuidados na menor unidade social, a casa (do 
grego oikos, daí eco, casa) para a unidade social maior: o homem em seu 
ambiente. Certamente que questões ecológicas terminam por impactar 
outras áreas da vida humana, tais com a política ou economia. Isso 
implicaria uma disposição lógica, mas não meramente racionalista dos 
meios de correção e promoção do “bem viver” em sociedade e, em 
especial, da relação homem-natureza. O caráter racionalizante 
desumanizaria a sociedade humana por priorizar a relação inversa 
mundo-homem. Se bem que o mundo aí estivesse antes dos homens, 
não seria significativo por não haver que o significasse – a menos que o 
Criador do mundo seja levado em consideração. Ora, a agir do homem no 
mundo se entrelaçam entre o ser e o agir no homem em sua “casa”. 
Assim, “não existe o problema ecológico, direta ou indiretamente, isolado 
da questão humana, pois todos os problemas ecológicos são 
manifestações de problemas humanos” (SIQUEIRA, 1985, p. 91). O homem, 
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ao mesmo tempo que procura soluções imediatas e urgentes para o 
equacionamento dos problemas ambientais e naturais, preocupa-se 
também com a história futura ou com o futuro ecológico e suas 
consequências para as gerações humanas vindouras.
Essa são, pois, algumas áreas nas quais a aplicação da ética se torna 
necessária. Existem outras áreas, mas essas são suficientes para mostrar 
que a ética é importante para a boa efetivação das relações humanas.
Síntese da Unidade
Esta Unidade teve como temática geral a relação entre a filosofia e os 
valores humanos, ou seja, teve como objeto de análise a ética e os seus 
aspectos mais fundamentais. Ao tratar de uma temática como essa, é 
pertinente fazer uma caracterização geral daquilo que essencialmente 
distingue a ética, a partir das variadas propostas de fundamentação da 
nossa realidade moral e de sua aplicação no nosso dia a dia. Isso fizemos 
sobretudo no primeiro tópico da Unidade.
Na continuação da Unidade, partimos para uma ponderação conceitual a 
algumas das principais teorias filosóficas sobre a ética. Na verdade, 
discorremos sobre algumas das principais correntes éticas, considerando 
os mais significativos desdobramentos teóricos de cada uma delas. 
Depois disso, consideramos o nosso tema do ponto de vista da 
pluralidade de cultura e de costumes. Efetivamente, analisamos os 
aspectos centrais do discurso ético contemporâneo a partir do tema do 
multiculturalismo e do respeito, pontuando sobretudo algumas 
dificuldades teóricas existentes no tratamento desse tema.
Por fim, e tendo como pano de fundo todas as reflexões anteriormente 
estabelecidas, discutimos um dos assuntos mais complexo dos estudos 
filosóficos sobre a ética, que é a questão da liberdade humana. Nessa 
ocasião, pontuamos e analisamos duas correntes filosóficas principais (o 
espiritualismo e o existencialismo/materialista), considerando-as sob o 
ponto de vista da responsabilidade e do cuidado conosco, com ou outros 
e com o meio-ambiente. A Unidade encerrou-se com uma apresentação 
geral da aplicação da ética a várias áreas da realidade e da existência 
humanas.
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