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REOLOGIA Introdução A matéria pode estar em diferentes estados em uma dada temperatura e pressão. De acordo com o estado da matéria, podemos classificá-las em sólidas, líquidas e gasosas. O estado da matéria está diretamente relacionado com as interações entre os átomos e/ou moléculas de uma dada substância ou mistura. As substâncias ou misturas no estado sólido apresentam volume e forma constantes e isso se dá pois as moléculas e/ou átomos estão altamente organizados e agregadas, possuindo um baixo grau de movimento. As substâncias e misturas no estado líquido possuem volume constante e forma variável. Neste estado as moléculas estão menos organizadas e seu estado de agregação é menor, movendo-se mais facilmente que no estado sólido. As substâncias e misturas no estado gasoso possuem volume e forma variáveis. Neste estado as moléculas estão muito pouco organizadas e são completamente livres, movendo-se com muita facilidade. Reologia e definições A palavra Reologia é originada do prefixo Rheo, que se refere a deformação, e o sufixo logia, que significa estudo. Sendo assim, a reologia seria o estudo da deformação dos materiais. Essa deformação pode ocorrer em materiais nos estados líquido, sólido ou gasoso. No estado sólido, a deformação pode ser descrita pelas leis que descrevem a alteração de volume, tamanho ou forma. Já para os fluidos, líquidos e gases, a deformação estará relacionada com seu escoamento e fluxo. Todos os fluidos tendem a deformar quando submetidos a uma força (tensão), então podemos descrever essa deformação de forma contínua em função dessa tensão aplicada. Os fluidos podem ser classificados de acordo com seu comportamento de deformação frente a uma tensão aplicada. Podem ser Reversíveis ou Elásticos, que são sistemas que não escoam, sua deformação é reversível e o sistema obedece às Leis de Hooke, aquela da mola. Além disso, os fluidos podem também ser classificados como Irreversíveis ou Viscosos, pois são sistemas que escoam, ou seja, sua deformação é irreversível e o sistema à Lei de Newton a viscosidade constante. O comportamento de deformação dos fluidos é estudado através da viscosidade, que por sua vez, sua definição foi fundamentada quantitativamente por Newton. Ele foi o primeiro a perceber que a velocidade de fluxo estava diretamente relacionada com a tensão aplicada para alguns tipos de fluidos, por isso, estes passaram a ser chamados de Fluidos Newtonianos. Porém, alguns fluidos não se comportam conforme essa lei e passaram a ser chamados de Fluidos Não-newtonianos. Viscosidade A teoria mais aplicada para explicar o fenômeno da viscosidade é a Teoria das Placas. Nesta teoria considera-se o fluido como um cubo hipotético formado de camadas infinitamente finas (lâminas), capazes de deslizar umas sobre as outras como cartas de baralho. Quando uma força tangencial é aplicada à camada superior, presume-se que cada camada subsequente se mova a uma velocidade progressivamente menor e que a camada inferior será estacionária. Um gradiente de velocidade existirá, portanto, e será igual à velocidade da camada superior em ms−1 dividida pela altura do cubo em metros. O gradiente resultante, que é efetivamente a velocidade de fluxo, mas ao qual nos referimos como velocidade ou taxa de cisalhamento, γ, terá unidade de segundos recíprocos (s−1). A tensão aplicada, conhecida como tensão de cisalhamento, σ, é obtida dividindo-se a força aplicada pela área da camada superior e, portanto, terá a unidade de Nm−2 ou Pa. De acordo com o esquema das lâminas formadas por um fluido, podemos determinar os seguintes parâmetros: Tensão de cisalhamento: 𝜎 = 𝐹 𝐴 Deformação de cisalhamento: �̈� = 𝑋 ℎ Taxa de cisalhamento: 𝛾 = 𝑑�̈� 𝑑𝑡 Viscosidade: 𝑛 = 𝜎 𝛾 Sendo assim, a viscosidade é a razão entre a tensão de cisalhamento pela taxa de cisalhamento e determina a resistência de um fluido ao fluxo quando submetido a uma tensão de cisalhamento. Um dos fatores que mais vai influenciar na viscosidade de um dado fluido é a temperatura. Se o estado da matéria é influenciado pelo comportamento das moléculas que a compõe, o mesmo ocorrerá com a viscosidade. O aumento da temperatura gera um aumento na agitação das moléculas e seu afastamento por conta da ruptura das forças de coesão (interações) provoca a alteração na viscosidade dos fluidos. Quando se trata de líquidos, o aumento da temperatura leva a uma diminuição da viscosidade, enquanto para gases, o inverso acontece, o aumento da temperatura leva a um aumento da viscosidade. Isso se dá porque nos líquidos a viscosidade é devido, principalmente, o atrito entre as moléculas e está, diretamente, relacionado às forças de coesão. Enquanto que nos gases, a distância média das moléculas é elevada e a principal influência sobre a viscosidade passa a ser a diferença de velocidade entre as moléculas e o quanto este contato pode impactar na perda de energia e escoamento do gás. Classificação reológica Os fluidos podem ser classificados em Newtonianos e Não-newtonianos. Os Fluidos Newtonianos apresentam a taxa de cisalhamento proporcional a tensão de cisalhamento aplicada, ou seja, a relação entre a força aplicada e a velocidade de escoamento do fluido é linear. Por isso, a viscosidade é constante em relação a tensão de cisalhamento. Dentre alguns exemplos deste tipo fluido estão a água, o leite, soluções de sacarose e os óleos vegetais. Os Fluidos Não-Newtonianos são aqueles em que a viscosidade varia de acordo com a tensão de cisalhamento aplicada e essa variação pode ser dependente ou independente do tempo. Sendo assim, os Fluidos Não-Newtonianos podem ser classificados em Pseudoplásticos, Dilatantes ou Plásticos (Birgham) quando a variação da viscosidade é independente da quantidade de tempo em que se aplica uma tensão de cisalhamento sobre ele. E podem ser classificados em Tixotrópicos ou Reopéticos quando a variação da viscosidade é dependente do tempo em que a tensão de cisalhamento é aplicada sobre ele. Os fluidos Dilatantes são aqueles em que a viscosidade aumenta com o aumento da tensão de cisalhamento. No caso de suspensões, à medida que se aumenta a tensão de cisalhamento, o líquido intersticial que lubrifica a fricção entre as partículas é incapaz de preencher os espaços devido a um aumento de volume que frequentemente acompanha o fenômeno. Ocorre, então, o contato direto entre as partículas sólidas e, consequentemente, um aumento da viscosidade aparente. São exemplos de fluidos dilatantes os coloides e as suspensões (amido, polímeros, farináceos, açúcares, macromoléculas). Os fluidos Pseudoplásticos são substâncias que, em repouso, apresentam suas moléculas em um estado desordenado, e quando submetidas a uma tensão de cisalhamento, suas moléculas tendem a se orientar na direção da força aplicada. E quanto maior esta força, maior será a ordenação e, consequentemente, menor será a viscosidade aparente. São exemplos de deste tipo de fluido caldos, sopas, melaço, cremes. Porém, o exemplo mais clássico de fluido pseudoplástico é o Ketchup. Você já deve ter visto aquelas garrafas de Ketchup que tínhamos que bater no fundo para ele sair, então precisávamos aplicar uma força (tensão de cisalhamento) para que se tornasse mais fluido e escoasse para fora da garrafa. Os fluidos Plásticos de Bingham são aqueles que só iniciam o escoamento caso se aplique uma tensão de cisalhamento mínima. Após iniciar o escoamento, entretanto, a viscosidade do fluido se torna constante. São exemplos suspensões granulares, pastas e pomadas. Podemos então observar o comportamento de todos os fluidos avaliando os gráficos de tensão de cisalhamento x taxa de cisalhamento e de viscosidade x taxa de cisalhamento. Os fluidos não newtonianos apresentamuma variação da viscosidade com a variação da taxa de cisalhamento e da tensão de cisalhamento, como vimos acima. Porém, essa classificação não leva o tempo em consideração. Sendo assim, foi observado que alguns fluidos apresentam uma redução na viscosidade quando uma dada taxa de cisalhamento é aplicada por um determinado período de tempo e que quando essa taxa de cisalhamento é retirada o fluido não retorna imediatamente a sua condição inicial. Esse fenômeno é chamado de Tixotropia. Na figura acima, podemos ver no primeiro gráfico a curva ascendente (aumento da taxa de cisalhamento) que o material redução a viscosidade com o aumento da taxa de cisalhamento e quando essa velocidade é reduzida, a curva descendente é deslocada para baixo caracterizando um fluido Pseudoplástico Tixotrópico. Já no segundo gráfico, vemos que com o aumento da taxa de cisalhamento há um aumento da viscosidade e na curva descendente vemos um deslocamento para cima caracterizando um fluido Dilatante Tixotrópico. Quando os fluidos apresentam comportamento contrário aos demonstrados acima, eles serão chamados de Reopéticos. Equipamentos Como a viscosidade é um comportamento determinado se o fluido é Newtoniano ou Não-newtoniano existem equipamentos com capacidades diferentes de determinar essa viscosidade dependendo do tipo de fluido a ser estudado. Para estudar Fluidos Newtonianos tem-se: ♥ Viscosímetros capilares; ♥ Viscosímetro de tudo em U de Ostwald; ♥ Viscosímetro de nível suspenso; ♥ Viscosímetro de Stokes; ♥ Copo Ford. E para estudar os Fluidos Não-Newtonianos: ♥ Viscosímetros rotativos; ♥ Reômetros. Viscosímetros capilares Os Viscosímetros Capilares podem ser utilizados para estudar a viscosidade apenas de Fluido Newtonianos e com fluxo laminar. A velocidade do fluxo do fluido pelo capilar é mensurada pela ação da gravidade ou uma pressão aplicada externamente. Os Viscosímetros de tubo em U de Ostwald são instrumentos descritos nas farmacopeias e na International Organization for Standardization (ISO). A viscosidade neste tipo de viscosímetro é medida através de quantificação do tempo necessário para o fluido percorrer um espaço conhecido dentro do capilar. Quanto maior o tempo necessário maior a viscosidade. O líquido é introduzido através do braço V até a marca G utilizando-se uma pipeta longa o suficiente para evitar molhar as laterais do tubo. O viscosímetro, então, é fixado verticalmente em um banho-maria à temperatura constante. Isso possibilita que ele alcance a temperatura necessária. O nível de líquido é ajustado e ele então é soprado ou sugado para dentro do tubo W até que o menisco esteja logo acima da marca E. O tempo para que o menisco caia entre as marcas E e F é então registrado. O Viscosímetro Capilar de Nível Suspenso é uma modificação do viscosímetro de Ostwald que evita encher o instrumento com um volume preciso de fluido. Ele também evita o que acontece no viscosímetro em U, no qual a coluna de pressão está continuamente mudando conforme os dois meniscos se aproximam. Viscosímetro de Stokes Elaborada por George G. Stokes em 1851, a Lei de Stokes relaciona o tamanho de uma esfera e a velocidade de queda dela. Existem três forças que atuam sobre a esfera: uma força gravitacional descendente (Fg), uma força de flutuação ascendente (Fb) e uma força de arraste de sentido para cima (Fd). Se a esfera cair em um fluido viscoso, a força de arraste é chamada de Força de Arraste Viscoso que se opõe a ação da gravidade de acordo com a Lei de Stokes, a seguir. 𝜇 = 2𝑟2 9𝑣𝑒𝑠𝑓 (𝛾𝑒𝑠𝑓 − 𝛾𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜) Onde: ♥ μ = viscosidade dinâmica; ♥ vesf = velocidade da esfera; ♥ γfluido = peso específico ou densidade do fluido; ♥ γesf = peso específico ou densidade da esfera; ♥ r = raio da esfera. A viscosidade será então inversamente proporcional a velocidade de queda da esfera, por isso podemos dizer que quanto mais lenta for a queda maior a viscosidade do fluido. Sendo assim, o Viscosímetro de Stokes se baseia na Lei de mesmo nome e apresenta um cilindro onde se adiciona o fluido com marcação de início e término em uma distância conhecida. Adiciona-se uma esfera a esse fluido e se determina o tempo que ela leva para percorrer o caminho da marcação inicial a final. Assim determina-se a velocidade da esfera e pode-se calcular a viscosidade a partir da equação da Lei de Stokes. Copo Ford O Copo Ford é um equipamento que tem como finalidade a determinação da viscosidade de fluidos Newtonianos e de escoamento entre 20 a 100s. É um viscosímetro de fácil manuseio no qual a viscosidade está relacionada com o tempo necessário para o esvaziamento de um copo com volume conhecido que possui um orifício calibrado em sua base. O Copo Ford possui um conjunto de orifícios padrão (giglê) feitos de bronze polido que dependem da faixa de viscosidade e do tempo de escoamento. A equação a ser utilizada para determinar a viscosidade depende do tempo de escoamento e do tamanho do giglê. A viscosidade do fluido utilizando este viscosímetro deve ser determinada a 25°C. Além disso, par escolher qual o tipo de Copo Ford utilizar deve-se ter uma ideia de faixa de viscosidade e escolher de acordo com o giglê de cada tipo. Vocês podem conferir essa relação na tabela abaixo: Viscosímetros rotativos Os Viscosímetros Rotativos contam com o arraste viscoso exercido sobre um corpo quando ele é girado no fluido para determinar a viscosidade deste. Na realidade, eles deveriam ser chamados de reômetros, já que hoje em dia eles são adequados tanto para o uso com materiais newtonianos quanto para o uso com materiais não-newtonianos. Sua maior vantagem é que podem alcançar intervalos amplos de velocidade de cisalhamento e, se um programa de velocidades de cisalhamento puder ser selecionado automaticamente, então a curva de fluxo ou reograma para um material pode ser obtida diretamente. Muitas vezes, esse tipo de viscosímetro é chamado de Viscosímetro de Brookfield, nome igual ao de uma das empresas mais conceituadas no mercado no desenvolvimento deste tipo de viscosímetro. Os corpos que giram dentro do fluido causando a tensão de cisalhamento pode apresentar diferentes geometrias como Cilindros Concêntricos, Cone-placa e Placas Paralelas. As geometrias de Cilindro Concêntrico, que também podem ser chamados de Spindles no caso dos Viscosímetros de Brookfield, são comuns para testes em líquidos de baixa viscosidade, mas geralmente são adequadas para líquidos viscosos e até viscoelásticos (desde amostras tipo água até semissólidas, como cremes). Esses sistemas são fáceis de encher (marca de nível de enchimento na parte interna do copo). A temperatura da amostra pode ser facilmente controlada da parte externa, devido à grande superfície externa do copo, e os fluidos com baixa tensão de superfície não podem fluir para fora do copo. Com um anteparo especial ou um retentor de solvente, evita-se a evaporação do solvente. As geometrias de cone-placa são adequadas para todos os tipos de fluidos. É necessário apenas um pequeno volume de amostra. No entanto, sua aplicabilidade para dispersões é limitada a um determinado tamanho máximo de partícula (˂10 µm). Esses sistemas geram condições de cisalhamento consistentes e são fáceis de limpar. Eles atingem rapidamente o equilíbrio da temperatura devido ao ajuste rápido de temperatura. Acessórios especiais, como um anteparo especial ou um retentor de solvente, podem ser utilizados para evitar a evaporação do solvente. Os sistemas de placa paralela são recomendados para testar pastas, géis, sólidos macios ou polímeros fundidos altamente viscosos. É necessária uma quantidade relativamente pequena de amostra. Devido à folga ajustável, você podeconfigurar diversas condições de medição. Também é possível testar amostras altamente viscosas (incluindo silicone não reticulado), dispersões com partícula maiores, géis (com superestrutura tridimensional) e sólidos macios (como queijo e elastômeros). Outra vantagem é o processo de limpeza rápido e fácil. Reômetros A viscosidade de um fluido pode ser calculada dividindo-se a tensão de cisalhamento pela taxa de cisalhamento. Entretanto, para fazer isso, é essencial ter um instrumento que seja capaz ou de impor uma taxa de cisalhamento constante e medir a tensão de cisalhamento resultante ou de impor uma tensão de cisalhamento constante quando a medida da velocidade de cisalhamento induzida for necessária. Por isso, Reômetro é um instrumento que mede a história de tensão e deformação de um material. A partir destas medidas pode-se determinar as funções materiais. Existem três tipos principais de reômetros que são os Reômetros Rotacionais (a), os Reômetros Capilares (b) ou Reômetros Extensionais (c). Tanto o Rotacional quanto o Capilar, são reômetros que causam o cisalhamento do material. No caso do Rotacional o cisalhamento se dá pelo arraste do fluido por uma superfície em movimento e, que assim como os viscosímetros rotativos, possuem diversas geometrias. Já os Reômetros Capilares levam ao cisalhamento do fluido através de um gradiente de pressão. A reometria capilar é uma das técnicas reométricas mais utilizadas nas indústrias por empregar taxas de cisalhamento idênticas às utilizadas na transformação de plástico (extrusão e injeção), permitindo avaliar o comportamento reológico do polímero. Essa técnica consiste, resumidamente, na medida da vazão do fluido em um tubo em função da variação de pressão. O Reômetro Extensional mede o escoamento em que o material não tem rotação em direção ao alongamento do mesmo. Ou seja, ele mede a capacidade do material em se alongar quando é submetido a uma força de extensão. Aplicações farmacêuticas da Reologia As características reológicas de cosméticos e farmacêuticos são importantes para produção, embalagem, enchimento e armazenamento. Os consumidores também apreciam a sensação de um creme aplicado na pele; eles querem que a pasta de dentes permaneça na escova depois de apertada para fora do tubo e desejam medicamentos que, em condições ideais, façam efeito conforme o esperado. Uma vez que cosméticos e produtos farmacêuticos são desenvolvidos para aplicação externa, por exemplo, na forma de loções, géis, cremes, ou para aplicação oral, como pílulas e xaropes, eles se apresentam como líquidos, semissólidos e sólidos. Todas essas formas podem ser investigadas usando um reômetro. Além disso, a reologia pode ser utilizada para controlar a qualidade das matérias- primas, produtos finais e processos de fabricação (mistura, bombeamento, embalagem e enchimento) e avaliar o efeito dos diferentes parâmetros como formulação, tempo de armazenamento e temperatura visando a qualidade e a aceitabilidade de um produto final.
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