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Módulo 3 - Moradia - Direito Fundamental

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Promoção dos direitos 
da população em 
situação de rua
Moradia - Direito 
Fundamental3
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2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Enap, 2019
Enap Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente 
Diogo Godinho Ramos Costa
Diretor de Educação Continuada
Paulo Marques
Coordenador-Geral de Educação a Distância 
Carlos Eduardo dos Santos
Conteudista/s 
Gustavo Clayton Alves Santana
Curso produzido em Brasília 2019.
3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1. Justificativa e objetivos ................................................................. 5
2. O déficit habitacional e a ausência de moradias para a população 
em situação de rua. .......................................................................... 5
3. Experiências internacionais de moradia para população em situação 
de rua ............................................................................................... 9
4. O programa moradia primeiro do Ministério da Mulher, da Família e 
dos Direitos Humanos .................................................................... 12
5. Guarde na memória! .................................................................. 14
6. Referências Bibliográficas ........................................................... 15
Sumário
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1. Justificativa e objetivos
Nesse módulo, você compreenderá o que caracteriza o 
déficit habitacional no Brasil e como a moradia, entendida 
como um direito humano presente na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos e na Constituição Federal brasileira, 
permanece sendo negado à população em situação de rua. Ao 
final, você conhecerá as políticas de moradia para população 
em situação de rua existentes em outros países, bem como 
assimilará as discussões em curso no Brasil sobre este tema.
Ao concluir o módulo, você terá aptidão para: 
• Reconhecer o déficit habitacional brasileiro e como 
ele prejudica a população em situação de rua no 
Brasil.
• Listar iniciativas internacionais de moradia para população em situação de rua como, 
por exemplo, a iniciativa Housing First.
• Caracterizar o programa moradia primeiro do Ministério da Mulher, da Familia e dos 
Direitos Humanos, enumerando suas motivações e compreendendo sua divisão por 
eixos.
2. O déficit habitacional e a ausência de moradias para a 
população em situação de rua.
Fonte: http://www.fna.org.br/2018/05/29/4o-congresso-nacional-da-
populacao-de-rua-aborda-importancia-da-assistencia-a-moradia/
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Moradia - Direito Fundamental3
Fonte: https://www.freepik.com/
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O déficit habitacional é uma realidade no Brasil. Em todas as cidades, há um grande número de 
imóveis ociosos aos quais poderiam ser dados uma destinação social. Dados da Pesquisa Nacional 
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (Pnad), do IBGE, identificaram um déficit 
habitacional de 7,757 milhões de moradias no país. Entre os fatores que causam esse déficit, 
estão as dificuldades de as famílias conseguirem arcar com os pagamentos dos aluguéis (cerca 
de 3,27 milhões de famílias, segundo a Pnad 2015), a coabitação – quando mais de uma família 
divide o mesmo teto (3,22 milhões de famílias) – e as habitações precárias, que correspondem 
a cerca de 942,6 mil moradias.
Alega-se que o alto custo dos terrenos e dos imóveis existentes nas áreas centrais das cidades é 
um dos entraves para a execução de uma política habitacional com fins sociais. A consequência 
mais brutal desta argumentação é que a casa, tida na Constituição Federal como “asilo inviolável 
do indivíduo” (Art. 5, XI) e como um direito social (Art. 6), permanece não sendo uma realidade 
para as milhares de pessoas que atualmente estão nas ruas das cidades brasileiras. Mesmo a 
determinação legal expressa na Constituição de que é competência da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios “promover programas de construção de moradias e a melhoria 
das condições habitacionais e de saneamento básico” (Art. 23, IX), não é algo aplicado quando 
se trata do povo da rua.
Dica 
Sobre as causas e consequências do déficit habitacional paro Brasil, assista o 
vídeo, link: https://youtu.be/qziWqEQUQjQ
A quase ausência de ações concretas para prover moradia às pessoas em situação de rua não 
é apenas um desrespeito ao que está disposto na Constituição. Documentos internacionais dos 
quais o Brasil é signatário, como a Declaração Universal do Direitos Humanos (1948), no artigo 
XXV, considera o direito à habitação como um direito fundamental de todas as pessoas. Também 
o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1996) reafirma a Declaração 
Universal e indica o acesso a uma moradia digna para todas as pessoas como um direito humano.
Dizer que morar com dignidade é um direito humano parece ser uma constatação óbvia, mas 
que, em uma sociedade excludente como a brasileira, precisa ser reafirmada a todo momento, 
ainda mais quando se tratam de direitos humanos da população em situação de rua.
Vivendo sem contar com a segurança de um lar, a população em situação de rua é constantemente 
criminalizada e vítima de violações de direitos, preconceitos e agressões físicas. Este cotidiano 
violento, somado à insegurança habitacional, faz com que as pessoas não consigam organizar 
suas vidas pessoal e familiar.
O albergue, muitas das vezes a solução proposta pelos órgãos públicos, está longe de resolver 
o problema da moradia, além de não oferecer condições dignas e, ainda, separar as famílias. O 
pensamento do senso comum insiste em dizer que as pessoas em situação de rua “não vão para 
os albergues porque não querem”, mas quando ouvidas pelos profissionais que atuam na garantia 
de direitos, as pessoas apontam como motivos para não ir para um abrigo a precariedade das 
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estruturas físicas das casas, o despreparo dos 
profissionais, a dificuldade de adaptação às regras 
impostas nestes locais, a grande rotatividade 
de pessoas e, principalmente, quando são 
famílias em situação de rua, a impossibilidade 
de estar junto a seus companheiros e animais 
de estimação.
Como todos os cidadãos brasileiros, as pessoas 
que estão nas ruas têm direito a uma moradia 
digna, com divisão de cômodos que respeite 
sua autonomia e privacidade, com banheiro, 
cozinha, quartos e sala. Localizadas em áreas 
onde haja uma boa estrutura de serviços 
públicos, assistência social e transporte, que lhes permitam serem reinseridos. A segurança 
representada por ter uma moradia fixa pode ser, efetivamente, o primeiro passo para acessar 
demais direitos.
Porém, ainda faltam programas habitacionais que possibilitem uma oportunidade real de 
saída das ruas, mesmo que uma parcela, ainda que pequena, consiga acessar moradia através 
de programas como o aluguel social e o Minha Casa Minha Vida, isto deve ser ampliado para 
solucionar o problema.
O programa Minha Casa Minha Vida tem uma modalidade chamada Entidades que foi criada 
com o objetivo de dar acesso à moradia para as famílias que se organizam em cooperativas 
habitacionais, associações e demais entidades privadas sem fins lucrativos. Estas entidades 
organizam os empreendimentos através de autogestão na construção da habitação.
Algumas experiências pioneiras de acesso à moradia para a população em situação de rua, por 
meio de programas municipais, estaduais ou federais, vem acontecendo nas cidades de São 
Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza.
Na cidade de São Paulo, a prefeitura, por meio de seu do Programa de Locação Social 
para atendimento de famílias de renda familiar de até três salários-mínimos, gerou seis 
empreendimentos com 903 unidades habitacionais. No ano de 2008 a prefeituralocal criou o 
Programa Parceria Social (Resolução nº 33/2008, São Paulo), que oferecia auxílio aluguel para 
acesso à moradia prioritariamente para pessoas em situação de rua, mas este programa possuía 
um prazo determinado, cujo rompimento era determinado pela Prefeitura. Entre os anos de 
2009 e 2013, cerca de 803 pessoas em situação de rua foram atendidas.
Em Belo Horizonte há o Programa Bolsa Moradia (Decreto nº 11.375/03, Belo Horizonte), 
que objetiva assegurar o acesso imediato dos beneficiários a um imóvel em condições de 
habitabilidade, oferecendo um valor de R$ 500,00. Nesse caso, o público prioritário são pessoas 
ocupantes de imóveis situados em áreas de risco sem condições de adquirir ou alugar moradia 
segura, e pessoas com trajetórias de rua, segundo os critérios da Política Municipal de Assistência 
Fonte:https://apublica.org/2017/12/
nao-repara-a-bagunca/ 
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Social. Aproximadamente 296 famílias em situação de rua já receberam este benefício, segundo 
informações da PNPR.
A prefeitura de Fortaleza oferece o Programa de Locação Social (Lei nº 10.328/15, Fortaleza). 
Este programa concede auxílio, prioritariamente às famílias em situação de rua, para pagamento 
de locação de imóveis. Executado de forma integrada entre as áreas da saúde, assistência social, 
proteção e defesa civil e cidadania e direitos humanos, este programa da prefeitura de Fortaleza 
oferece o valor de R$ 420,00 como auxílio aluguel.
Diante da relevância, este tema da moradia para pessoas em situação de rua no Brasil foi abordado 
pelo Relatório Especial de Moradia Adequada apresentado pela consultora da Organização das 
Nações Unidas, Leilani Farha, em 2016.
No relatório, a consultora define que, no momento atual, “a moradia perdeu sua função social e 
passou a ser vista como um veículo para riqueza e lucros. A transformação da moradia em uma 
mercadoria rouba a conexão da casa com a comunidade, a dignidade e a ideia da propriedade 
como um lar”. Consequentemente, para ela, a situação de rua ocorre, entre tantos outros 
fatores, quando a moradia é tratada como mercadoria e não como direito humano, gerando uma 
“violação global de direitos humanos que requer uma resposta global urgente”.
Saiba mais 
Para ler o relatório sobre moradia adequada da ONU, acesse: Relatório 
sobre moradia adequada da ONU, link: https://terradedireitos.org.br/wp-
content/uploads/2016/11/Relat%C3%B3rio_Popula%C3%A7%C3%A3o-em-
situa%C3%A7%C3%A3o-de-rua.pdf
Como parte das discussões sobre moradia, o MNPR, que já vem debatendo o tema há bastante 
tempo, apresentou suas reivindicações e comentou as recomendações do Relatório Especial de 
Moradia Adequada diante do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, 
em Genebra, na Suíça, no ano de 2016.
Em 2018, este tema também foi amplamente debatido durante o 4º Congresso Nacional da 
População em Situação de Rua, que aconteceu na cidade de Porto Alegre. Durante o congresso, 
arquitetos engajados na luta por políticas públicas, apresentaram dados interessantes a 
respeito da questão. Para se ter uma ideia, segundo o presidente do Sindicato dos Arquitetos 
no Estado de São Paulo (Sasp), Maurílio Chiaretti, os valores que hoje são usados para atender 
provisoriamente pessoas em situação de rua são maiores do que o que custaria a construção de 
moradias permanentes.
9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Dica 
O vídeo a seguir trata da importância do acesso à moradia para a 
população em situação de rua: Link: https://www.youtube.com/
watch?v=3OW3JIov1Ec&feature=emb_title
3. Experiências internacionais de moradia para população 
em situação de rua
Pelo mundo afora, inúmeras experiências voltadas para o provimento de moradia para as pessoas 
em situação de rua têm sido postas em prática, a maioria delas inspira-se no programa Housing 
First (moradia primeiro, em livre tradução). Este programa também inspira as discussões mais 
atuais conduzidas pelo Ciamp-Rua, em conjunto com a sociedade civil e com os movimentos 
sociais sobre o direito à moradia. A seguir, serão apresentados esse programa, uma ação inspirada 
nele, desenvolvida na cidade de Lisboa, Portugal, e o que vem sendo construído no Brasil. 
Housing First 
O programa Housing First foi criado e elaborado pelo psicólogo e ativista Sam Tsemberis, junto 
com a organização não-governamental Pathways to Housing First e tornou-se uma política 
pública que foi testada primeiro na cidade de Nova Iorque, no ano de 1992.
Originalmente, o programa foi projetado para ajudar pessoas com problemas de saúde mental 
que viviam nas ruas. Depois, o programa foi expandido, incluindo pessoas desabrigadas ou em 
risco de ficar em situação de rua ao saírem de hospitais psiquiátricos ou da prisão. O programa, 
tal como foi pensado, baseia-se em oito princípios fundamentais:
Fonte: Adaptado de Guía-Housing-First-Europa, pág. 13
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Nesse programa, a moradia é o ponto de partida e não um objetivo final, é a primeira coisa 
fornecida antes de qualquer outro tipo de apoio ou intervenção. A ideia inicial do Housing First 
é a de que ter uma moradia é o caminho principal, a partir do qual os sujeitos podem acessar 
todos os demais direitos e, por isso, se deve oferecer uma moradia individual para as pessoas 
em situação de rua, sem que haja pré-condições ou imposições que estas pessoas não possam 
cumprir.
Após as primeiras experiências em Nova Iorque o modelo foi expandido para o Canadá, para o 
Japão e para 20 países europeus.
O programa é esboçado para aquelas pessoas que necessitam de níveis significativos de ajuda 
para sair da situação de rua. Nas diversas experiências em curso hoje, entre os grupos que têm 
sido auxiliados, estão, além de pessoas em situação de rua, as com doença mental grave ou 
problemas de saúde mental, que tenha uso problemático de drogas e álcool, que possuam saúde 
física delicada, doenças limitantes ou deficiências. Em sua atuação, o programa tem provado ser 
eficaz para os sujeitos que, além de outras necessidades, muitas vezes carecem de apoio social, 
de amigos ou familiares e estão nas ruas há muito tempo ou que vão e voltam a esta situação.
Em relação à autonomia, o programa é constituído para que as pessoas assistidas obtenham alto 
grau de escolha e controle de suas vidas. Para isso, o programa incentiva a redução de danos no 
consumo de drogas e álcool e o tratamento para usuários, sem que sejam forçados a participar.
Saiba mais 
Se quiser conhecer mais sobre como funciona o programa Housing First na 
Europa, leia o “Guía housing first” (em espanhol):
Guía housing first Europa, link: https://housingfirsteurope.eu/assets/
files/2016/11/Gui%CC%81a-Housing-First-Europa.pdf
Estudos realizados mostram que o Housing First já provou sua eficiência no cumprimento do 
seu objetivo principal, que é o acesso e permanência das pessoas na moradia. Sabe-se, pelos 
dados das experiências em curso, que cerca de 80% à 90% das pessoas que ingressaram em 
projetos de Housing First permanecem na mesma moradia após dois anos. O Departamento de 
Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos da América aponta que, a partir da 
implementação do programa chamado Opening Doors, entre os anos de 2010 e 2014, o número 
total de pessoas sem moradia diminuiu em 10%, incluindo uma redução de 25% no número 
de pessoas desacolhidas. Verificou-se que a quantidade de pessoas em situação de rua crônica 
diminuiu 21% e o número de famílias em situação de rua diminuiu em 15%, com uma redução 
de 53% no número de famílias desabrigadas.
Os dados apresentados pela ONG Pathways to Home, que assessora o governo estadunidense 
na implementação do Housing First no país, dão conta de que, na cidade de Nova Iorque, uma 
pessoa em situação de rua sendo atendida pelo Housing First representa um custo de US$76,00/
noite, enquanto que, em uma Casa de Transição (abrigos da assistência social), o custoé de 
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US$92,00/noite, no sistema carcerário, o custo é de US$164,00/noite, na utilização dos serviços 
de emergências, o custo é de US$519,00/noite e, em um hospital psiquiátrico, o custo é de 
US$1.185,00/noite.
Já na cidade de São Francisco, o projeto Housing First, que foi lançado em 2004, demonstrou, 
em 2016, no seu relatório de avaliação de custo-benefício, uma redução dos investimentos em 
serviços de apoio à população em situação de rua entre os anos de 2011 e 2015 à medida que as 
pessoas foram se estabilizando em suas moradias. Esta diminuição dos custos, segundo apurou 
o relatório, deveu-se, principalmente, a uma redução de 58% dos custos para atendimento de 
emergência e cuidados urgentes, especialmente hospitalização.
Em outra experiência, na cidade de Denver, no ano de 2012, havia cerca de 15 mil pessoas sendo 
atendidas pelo Housing First. Após 2 anos de ingresso no Programa, 77% permaneciam na sua 
moradia; 50% apresentaram melhorias no seu estado de saúde; houve uma redução de 72,9% 
dos atendimentos emergenciais em hospitais; os custos de acompanhamento foram reduzidos 
em 34,3% e a permanência nas cadeias caiu 76%.
Casas Primeiro - Portugal 
Inspirado no Housing First o programa Casas Primeiro é desenvolvido na cidade de Lisboa, 
Portugal, por meio da parceria entre uma ONG e a Câmara Municipal de Lisboa. Destinado a 
pessoas em situação de rua na cidade, o programa oferece apoio para a escolha, obtenção e 
manutenção de uma moradia individual, com dignidade, que seja permanente e integrada na 
comunidade local.
O programa português proporciona acesso imediato à habitação e não exige participação prévia 
dos candidatos em programas de tratamento ou reabilitação. 
O programa financia aluguel, os móveis e equipamentos básicos para as moradias, além de 
custear os consumos de água, eletricidade e gás. As pessoas que participam contribuem com 
30% do seu rendimento mensal, quando possuem, para o pagamento do aluguel e dos consumos 
domésticos. 
O programa garante, prioritariamente, aos usuários apoio para:
• O acesso a uma moradia.
 
• O pagamento mensal do aluguel.
 
• Manutenção das moradias.
 
• Serviços de suporte individual e habitacional disponíveis 24 horas por dia.
 
• Acompanhamento no contexto residencial (como no mínimo 6 visitas por mês).
 
• Busca e escolha da moradia. 
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• Negociação e assinatura de contratos com os senhorios.
 
• Gestão e manutenção habitacional (elaboração de refeições, limpeza da casa, roupa, 
compras, etc.).
 
• Obtenção de apoios sociais (identificação e desbloqueio de auxílios tais como: 
rendimento social de inserção, pensão social ou outros).
 
• Acesso aos recursos e serviços da comunidade local (supermercados, transportes, 
serviços de saúde, centros desportivos e de lazer).
 
• Cuidados pessoais e de saúde (identificação de prioridades e acompanhamento aos 
serviços competentes).
 
• Organização dos projetos individuais (definição e concretização de projetos pessoais 
profissional, educacionais, de formação, atividades desportivas ou outras).
Saiba mais 
Para se aprofundar sobre como o programa Casas Primeiro é realizado em 
Lisboa, leia o relato a seguir: Relatos sobre o programa Casas Primeiro, link: 
http://jornelas.aeips.pt/casas-primeiro/
4. O programa moradia primeiro do Ministério da Mulher, 
da Família e dos Direitos Humanos
O Ministério da Mulher, da Familia e dos Direitos Humanos tem discutido essa questão da 
necessidade de prover moradia para as pessoas em situação de rua desde antes da implementação 
da Política Nacional para população em situação de rua, proposta pelo Decreto nº 7.053/2009. 
Após a implementação da Política Nacional, no ano de 2016, em conjunto com a sociedade civil 
e outros órgãos que fazem parte do CIAMP-Rua, o MMFDH propôs uma mudança na concepção 
da política que apontou para a centralidade do oferecimento de acesso imediato à moradia para 
as pessoas em situação de rua, entendendo que este é um direito humano essencial e principal 
mecanismo para construção de autonomia e consolidação de uma saída das ruas.
Essa concepção tem como inspiração algumas experiências exitosas de oferta de habitação para 
a população em situação de rua já realizadas no país, surgidas a partir das reivindicações da 
sociedade civil organizada em diálogo com a gestão pública e, em alguns casos, com a iniciativa 
privada.
Uma das inspirações para a mudança na concepção da política brasileira de atendimento à 
população em situação de rua veio das discussões sobre esta temática nos Diálogos Setoriais: 
13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Brasil-União Europeia e após a visita de troca de experiências entre o Distrito Federal brasileiro e 
as cidades de Paris e Londres, no ano de 2013.
Os diálogos setoriais e a visita temática possibilitaram a realização do “Seminário Internacional 
Brasil-União Europeia: Promoção e Proteção dos Direitos da População em Situação de Rua ”, em 
junho de 2013, e também a publicação do texto “Diálogos Sobre a População em Situação de Rua 
no Brasil: experiências do Distrito Federal, Paris e Londres”, que apresentou o que foi elaborado 
neste diálogo e trouxe sugestões para adoção de novas ações pelos poderes públicos locais.
Outro determinante para a consolidação do entendimento da moradia como primeiro mecanismo 
de inclusão da população em situação de rua foi o texto do relatório (citado acima) da Organização 
das Nações Unidas sobre moradia adequada, apresentado pela consultora Leilane Farha, no ano 
de 2016.
No relatório, a consultora aponta que o Brasil é um exemplo de país que assegura a participação 
da população em situação de rua na construção de estratégias de luta contra a situação de rua, 
por meio de “modelo participativo de política social que se baseia em conselhos paritários de 
políticas públicas”, quando se refere ao trabalho de interlocução realizado pelo CIAMP-Rua, em 
conjunto com o MNPR e demais movimentos sociais envolvidos na promoção de direitos e luta 
por moradia da população em situação de rua.
O modelo de política pública de moradia para pessoas em situação de rua que vem sendo 
proposto pela Coordenação-Geral dos Direitos das Populações em Situação de Risco do MMFDH 
é inspirada no modelo Housing First, (cuja apresentação foi feita no item anterior deste módulo) 
e recebeu o nome de Moradia Primeiro. Essa proposta prioriza o acesso imediato destas pessoas 
a uma unidade habitacional individual, com dignidade, e o acompanhamento por uma equipe 
multidisciplinar.
A proposta do projeto Moradia Primeiro do MMFDH está sendo construída em três grandes 
eixos: habitação como direito e prioridade; trabalho como forma de manutenção do processo 
de inserção social e econômica; e um pacote de outros direitos (saúde, educação, assistência 
social, esporte, laser, etc.), que darão o suporte para a permanência da pessoa em sua habitação 
e consequente saída da situação de rua.
Compreendendo que há poucas experiências desse modelo no Brasil, a Coordenação Geral dos 
Direitos da População em Situação de Rua tem dialogado com gestores públicos e com a sociedade 
civil em vários seminários, simpósios e congressos em todas as regiões do País, momento em que 
apresenta os princípios e colhe reflexões, sugestões e propostas.
14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Dica 
Para finalizar este módulo, assista ao documentário curta-metragem “Não 
repare a bagunça”, realizado pela agência Pública de jornalismo investigativo 
(https://apublica.org/), que trata da situação da falta de moradia na cidade de 
São Paulo, com depoimentos de pessoas em situação de rua e de moradores 
expulsos de ocupações. Link: https://www.youtube.com/watch?time_
continue=4&v=D3Zwjs7WqIQ&feature=emb_title
5. Guarde na memória!
• Neste módulo, você aprendeu sobre a moradia, um dos princípios dos direitoshumanos 
presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
 
• Além disso, você conheceu as políticas de moradia para população em situação de rua 
existentes em outros países.
 
• Por fim, você conheceu também as discussões em curso no Brasil sobre este tema.
15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
6. Referências Bibliográficas
BRASIL. Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua – CENTRO 
POP. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Secretaria Nacional de 
Assistência Social, 2011.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Centro Gráfico do Senado 
Federal, 1988.
BRASIL. Presidência da República. Lei Orgânica da Assistência Social, n. 8.742, de 7 de setembro 
de 1993.
Conselho Nacional do Ministério Público-CNMP. Defesa dos Direitos das Pessoas em Situação de 
Rua - Guia de atuação ministerial. Brasília: CNMP, 2015.
DPE-SP. Escola da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Acesso à justiça da população 
em situação de rua: política institucional, garantia de direitos, práticas, serviços e inclusão. São 
Paulo: EDEPE, 2018.
LAVOR, A. D. População em Situação de Rua: à margem de direitos efetivos. RADIS , Rio de Janeiro, 
n. 165, p. 17-27, jun 2016.
MPRJ. Direitos da População em Situação de Rua. Disponível em: <http://www.mprj.mp.br/
documents/20184/86589/direitos_da_populacao_em_situacao_de_rua.pdf/>. Acesso em: 
2018.
ONU. Conselho de Direitos Humanos, 31º período de sessões. Relatório da Relatora Especial 
sobre moradia adequada como componente do direito a um padrão de vida adequado e sobre o 
direito a não discriminação neste contexto. Dez. 2015.
RIBAS, L. M. Acesso à justiça para a população em situação de rua: um desafio para a defensoria 
pública. 2014. 144 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo, São Paulo, 2014.
ROCHA, V. C. D.; CORONA, J. B. Marcos Normativos e Institucionais de Proteção a População 
em Situação de Rua no Contexto dos Direitos Humanos. Seminário Nacional de Serviço Social, 
Trabalho e Política Social, Florianópolis, Out 2015.

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