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1 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA FISIOPATOLOGIA DA INFLAMAÇÃO A inflamação pode ser definida como sucessão de mudanças que ocorrem num tecido vivo quando este for danificado, desde que a lesão não seja de tal grau, capaz de destruir sua estrutura e vitalidade. Existem os pontos cardinais da inflamação: calor, rumor, tumor e dor. Esses quadros se instalam devido a lesões teciduais por traumas, infecção, excesso de temperatura provados por tumores ou endotoxinas. Uma vez que esses sinais não são resolvidos seja por questões intrínsecas do indivíduo uma alta resolução ou por adição de medicamentos, esse tecido pode perder sua função. Então, um processo inflamatório prolongado, sem resolução, leva uma perda de função dos tecidos. Um dos principais pontos cardinais de inflamação é a dor, pois, tem relação direta com a qualidade de vida com indivíduo. Então se o indivíduo tem dor aguda, a qualidade de vida tende diminuir. Tem um estudo feito em Salvador que demostrou que 41,1% da população soteropolitana apresentavam algum tipo de dor crônica, logo é um dos principais sinais cardinais que é a dor. E a ela é, sabidamente, um dos sintomas que mais leva as pessoas procurarem o serviço de atendimento médico. Outra coisa importante é relembrar que o quadro inflamatório, ele se estabelece, ele se mantém ou se resolve baseado nos balanços dos mediadores inflamatórios. Então, sabe-se que tem mediadores pró inflamatórios e anti inflamatórios, eles sofrem uma self regulation, assim, o próprio tecido (tecido ou células adjacentes migratórias) em quadro inflamatório conseguem produz processo inflamatório para combater e controlar o quadro e consegue também produzir, sintetizar, liberar mediadores e citocinas para resolver o quadro inflamatório e esse balanço é responsável por regular a inflamação em si. Quando esse balanço pró inflamatório é exagerado e a auto resolução não é capaz de agir ou tecido vai ser lesionado e perder sua função a gente precisa atuar para regular a balança e estimular os mecanismos anti- inflamatórios ou inibir os pró inflamatórios. Abaixo tem um esquema de uma inflamação causada por microrganismos e os eventos citológicos que acontecem: 1- Lesão tecidual libera histamina, aumenta fluxo sanguíneo. 2- A histamina provoca extravasamento dos capilares, liberando fagócitos e mediadores inflamatórios no meio; 3- Fagócitos englobam bactérias, células mortas e resíduos celulares; 4- Plaquetas se movem para fora dos capilares a fim de iniciar o processo de controle e reparo da lesão; Molecularmente é importante lembrar substâncias importantes no processo inflamatório. Primeiramente pensem na lesão tecidual e liberação de citocinas inflamatórias. Essa lesão e essas citocinas liberadas típicas da bicamada lipídicas, os fosfolipídios de membrana. Esses fosfolipídios de membrana são substratos da fosfolipase A2. Essa fosfolipase A2, pega esses fosfolipídios e os converte em ácido araquidônico (AA), esse ácido é o substrato da famosa COX (cicloxigenase), a COX converte o AA em: prostaciclina, tromboxano e prostaglandina. As prostaciclinas tem função de vasodilatação e inibição da agregação plaquetária, facilitando a perfusão tecidual e a passagem das células da corrente sanguínea para o tecido inflamado. As prostaglandinas sensibilizam os nociceptores estimulando os processos dolorosos, induz febre ou calor no local, estimula vasodilatação, aumento da produção de muco gástrico e inibição da secreção ácido gástrico. Tromboxanos exerce efeito antagônico à prostaciclina, estimula a agregação plaquetária e a vasoconstrição. Quanto temos um fármaco que inibe a ação da COX, há o bloqueio do da conversão do AA em Prostaciclina, Prostaglandina e Tromboxanos. Dessa forma eu consigo dentre outras coisas diminuir os efeitos cardinais da inflamação como dor, calor e tumor. OBJETIVOS DO TRATAMENTO COM AINES • Aliviar os sintomas e preservar a função • Retardar ou deter a lesão tecidual Os AINES possuem propriedades anti-inflamatórias, antipiréticas e analgésicas combinadas. O diclofenaco é um exemplo que possuem as essas três características. AINES 2 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA O Paracetamol e o Acetaminofeno que possuem atividade antipiréticas, analgésica e uma baixíssima atividade anti-inflamatória. A nimesulida também é um exemplo de AINES. FARMACOCINÉTICA GERAL • Ácidos orgânicos fracos • Biodisponibilidade oral não modificada pela presença de alimento (há exceções) • Metabolismo hepático, principalmente pela CYP3A e CYP2C • Excreção renal, podendo ocorrer alguma secreção biliar e recirculação CICLOXIGENASE 1 E 2 Falando um pouco da COX 1 e 2. Já vimos ali atrás que a COX converte os AA em prostaciclina, prostaglandina e tromboxano. Se eu inibo a ação dessa enzima, eu inibo a produção desses mediadores inflamatórios, ajudando a resolução do quadro. Os AINES são antagonistas da COX. Um fármaco antagonista possui uma ação de inibição, de bloqueio. Ele se liga a enzima e impede que o substrato, no caso descrito, o AA, tenha acesso ao sítio ativo. O AINE vai bloquear o acesso do agonista ao alvo. Forma que o AINE se liga à COX 1 e COX 2: Os inibidores não seletivos, ou seja, os antagonistas da COX que se ligam tanto a COX 1 quanto a COX 2, se ligam de forma reversível, é uma ligação não covalente, uma ligação com Van der Waals, ou iônica. Porém, tem uma exceção que é o ácido acetilsalicílico, que é um AINE não seletivo, que se liga tanto a COX 1 quanto a COX 2, porém de forma irreversível, se ligando covalentemente ao resíduo de serina número 530 da COX. Os fármacos que são seletivos à COX 2, ou seja, se ligam apenas a COX 2 também se ligam de forma irreversível. O fármaco seletivo para a COX 2, os Coxibs, representam um grupamento volumoso adicional. Esse grupamento adicional que permite a seletividade dos Coxibs. A COX 2 possui um canal hidrofóbico mais largo do que a COX 1. Então, grupamentos volumosos conseguem acessar o canal de bloqueio da COX 2, sem acessar o canal de bloqueio da COX 1. Isso faz com que eles sejam seletivos. Descoberta acerca das atividades da COX 1 e da COX 2: Acreditava-se que o estimulo fisiológico era responsável por induzir a COX 1 a produzir prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos. Acreditava- se que a COX 1 era constitutiva, ou seja, as prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos que exerciam suas funções fisiológicas nas plaquetas, endotélio, na mucosa gástrica e no rim, eram substâncias produzidas unicamente pela COX 1 e, que, quando um quadro inflamatório se instaurava, a enzima responsável por produzir essas substâncias era outra enzima, a COX 2, por conta disso também passou a ser chamada de COX induzida. Ou seja, um processo inflamatório induzia a COX 2 a ser expressa, e induzia a produção de prostaglandinas e outros mediadores inflamatórios. Por muito tempo acreditava-se que isso acontecia. CICLOXIGENASE 1 RINS: • PGs são importantes para a manutenção do fluxo sanguíneo dos rins (falência cardíaca congestiva, cirrose hepática ou insuficiência renal) PLAQUETAS: • Nas plaquetas apenas a isoforma COX-1 é detectada. Tratamento de doenças tromboembólicas GESTAÇÃO E PARTO: • Importante para indução das contrações uterinas durante o parto; • Manutenção de uma gravidez saudável; • Importante para implantação do óvulo; Logo, observa-se que a Cicloxigenase exerce funções fisiológicas, funções que vão além do processo inflamatório. CICLOXIGENASE2 Ativação de COX-2: em concentrações cerca de 10 vezes menores de substrato que o necessário para ativar a reação de ciclooxigenação na COX-1. Estudo feito sobre bloquear apenas a cox 2: Se apenas a COX 2 for bloqueada, é bloqueado apenas mediadores inflamatórios no local da inflamação sem bloquear a COX 1, sem atrapalhar os efeitos endógenos da produção de prostaglandinas pela COX 1. Esse foi o pensamento cientifico na época. Outra coisa que se descobriu é que para a COX 2 ser ativada, ou seja, para que ela comece a produzir prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos, é necessário 10x menos substrato do que é necessário para ativar a COX 1. 3 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA INIBIÇÃO DIFERENCIAL DA COX-1 E COX-2 O mesmo trabalho publicou a molécula capaz de inibir apenas a COX 2, que é essa molécula chamada de SC-58125. Na primeira imagem tem-se dois exemplos, dois resultados: o resultado de inibição da COX 1 e o resultado de inibição da COX 2 por duas moléculas: indometacina e SC-58125. A indometacina, representada com a linha com quadradinhos, inibe tanto a COX 1 (conforme aumenta a dose da indometacina, diminui a atividade da cicloxigenase) quanto a COX 2. Com perfis diferentes, já que a indometacina apresenta afinidades diferentes para a COX 1 e para COX 2, mas no final inibe a COX 1 e a COX 2. Já o seletivo para COX 2, SC-58125 representado pela bolinha, por mais que sua dose tenha sido aumentada, a atividade da COX 1 permaneceu máxima. Porém, conforme aumenta a dose da SC diminui-se a atividade da COX 2. Com isso, foi comprovado que a molécula SC-58125 tinha capacidade seletiva para inibir a COX 1 e não inibir a COX 2. O ácido araquidônico continua servindo de substrato para a COX 1 porque essa molécula não foi capaz de bloquear a atividade da mesma. O PORQUE DA SELETIVIDADE DE ALGUNS FARMACOS PARA A COX-2: No primeiro exemplo, exemplo A, tem-se o fármaco não seletivo, que o ácido acetilsalicílico, que é o inibidor de COX não seletivo, então ele bloqueia tanto a COX-1 quanto a COX-2. Ela é uma molécula pequena, consegue ter acesso tanto ao canal do sitio ativo da 1 quanto da 2, interage com os aminoácidos e bloqueia o acesso do ácido araquidônico ao sítio ativo. Quando o ácido araquidônico não tem o acesso ao sítio ativo não se tem a produção de prostaglandina, ciclinas e tromboxanos. Então, o não seletivo bloqueia o espaço do AA tanto do COX-1 quanto do COX-2. O exemplo B, que está abaixo do A, tem-se o inibidor seletivo de COX-2, como já foi dito, o grupamento volumoso é característico. Esse grupamento volumoso impede que o inibidor seletivo de COX-2 tenha acesso aos mesmos sítios que o não seletivo tem na COX-1, porém ele continua permitindo o acesso do AINE a COX-2, além desse acesso permitido, esse grupamento volumoso permite uma interação adicional da COX-2, que não é possível na COX-1. Os aminoácidos das enzimas da região COX-1 são diferentes dos aminoácidos das enzimas COX-2. Então, tanto o volume maior quanto uma interação maior com os aminoácidos da COX-2 fazem com que eles tenham essa característica de seletividade. CICLOXIGENASE 2 Então, até o momento, pode ser que a maioria esteja pensando que o fármaco seletivo para COX-2, o AINE seletivo para COX-2 seria um AINE perfeito porque o que foi mostrado até agora é que a COX-2 é basicamente expressa apenas no tecido inflamatório, ou seja, as funções constitutivas das prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos estariam garantidas pela não inibição da COX-1. Isso foi o que os pesquisadores pensaram com os resultados obtidos até a data anterior às novas descobertas, porém, hoje nós sabemos que a COX-2 também exerce funções fisiológicas, ou seja, inibir a COX-2 também leva a efeitos adversos oriundos da inibição de prostaglandinas em órgãos específicos. RIM: • Expressa constitutivamente na medula densa; • O aumento da renina renal que ocorre depois da restrição de sódio na dieta necessita de indução de COX-2 SISTEMA GASTROINTESTINAL: • O uso de seletivos COX-2 em animais com mucosa colônica inflamada resultou em bloqueio da síntese de PGs e aumento importante na severidade do dano na mucosa; • O tratamento contínuo resultou em perfuração da mucosa e morte de 10% dos animais – papel protetor da COX-2; • Animais KO para COX-2 tem revolução de úlcera gástrica diminuída. ÚTERO E OVÁRIO: 4 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA • Facilita a ovulação importante na ruptura de folículo e implantação do embrião; • Sua inibição previne a ovulação • Animais fêmeas KO não ovulam, múltiplas deficiências no sistema reprodutor; • COX-2 expressa no parto → Tratamento de parto prematuro com inibidores seletivos para COX-2, pois bloqueia prostaglandinas. VASOS SANGUÍNEOS: • A Produção de PGI2 (vasodilatadora e antitrombótica) endotelial em humanos saudáveis parece depender da COX-2. CICLOXIGENASE 3??? COX-3: Provável isoforma da clicloxigenase encontra no sistema nervoso central (devido a ação do paracetamol/acetaminofeno). Modula a dor e febre no SNC. Alguns pesquisadores defendem a ideia que exista uma COX-3, uma outra isoforma de enzima. A COX-3 está majoritariamente distribuída no sistema nervoso central e acredita-se que lá que o paracetamol ou acetaminofeno, que é a mesma coisa, exerça a sua função de analgésico e antipirético. Acredita-se que a dipirona exerça a sua função analgésica e antipirética agindo na COX-3, diretamente do SNC. Tanto o paracetamol quanto a dipirona são 2 fármacos que não tem o seu mecanismo de ação completamente desvendado, existem algumas dúvidas acerca de como eles funcionam. AINES NÃO SELETIVOS CONTRA COX-2 Outros AINES possuem efeitos analgésicos, como o diclofenaco, peroxicam, não por atividade do sistema nervoso central, mas atividade analgésica por diminuir a síntese de prostaglandinas e ciclinas no local da inflamação. Tem as principais classes dos AINES não seletivos: os salicilatos, por exemplo, aspirina; os fármacos da classe do ácido propiônico, principalmente o ibuprofeo, que é o principal representante; dos ácidos acéticos nós temos os fenilacéticos, como é o caso do diclofenaco e temos os indolacéticos, como a indometacina. Temos a classe do aminofenol representando o acetaminofeno, o do fenamato, representada pelo mefenamato; a classe das cetonas, representada por nabumetona e, por último, a classe do oxicam, representado por piroxicam. CLASSIFICAÇÃO DOS AINES SALICINATOS Representando os salicilatos, temos o ácido salicílico, que basicamente não é utilizado mais como AINE, é utilizado bastante como emoliente via tópica. O ácido acetilsalicílico (AAS), aspirina, esse sim ainda é um AINE. Por último o diflunisal, ambos da classe do salicilatos. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E USO TERAPÊUTICO: • Analgesia • Antipirese • Efeito anti-inflamatório • Efeito gastrointestinal: Dispepsia, erosão, anemia - sangramento gastrointestinal, ulceração • Agregação plaquetária - contribui para aumento de tempo de sangramento É um AINE completo. O efeito anti-inflamatório dos salicilatos é menor comparado com outros, mas acontece. Um outro fator importante na classe dos salicilatos é que eles contribuem para o tempo de sangramento e isso em dores menores é utilizado como efeito colateral benéfico, que é o caso do AAS em que 100 mg por dia é capaz de prevenir eventos trombóticos, causando uma cardioproteção a esses eventos em algumas pessoas, lembrando que essa baixa dosagemnão é capaz de provocar efeitos analgésicos, antipiréticos ou anti-inflamatórios e também não provoca efeitos gastrointestinais, por esses motivos é bem seguro utilizar o AAS como antiagregante plaquetário. EFEITO RENAL: • Homeostasia: • Diminui a excreção de sódio • Ganho de peso • Edema periférico • Aumento da pressão sanguínea • Diminui a excreção de potássio – hipercalcemia • Hemodinâmica renal – insuficiência renal aguda FARMACOCINÉTICA E METABOLISMO • Absorção; via oral -pKa x pH→ Ácido acetilsalicílico é rapidamente absorvido por via oral, um pouco no estômago e maior parte nas porções do intestino delgado 5 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA -Solubilidade -Lipossolubilidade • Ligação a proteínas plasmáticas • Biotarsformação hepática • Excreção urunária – dependente e independente do pH POTENCIAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Como interações medicamentosas dos salicilatos podemos citar: • A interação com probenecida reduz a secreção tubular dos salicilatos; • Fármacos com eliminação renal como metrotexato e lítio, diminuem a eliminação dos salicilatos; • Varfarina, fenitoína e outros AINES deslocam a ligação dos salicilatos com as proteínas plasmáticas, ou seja, induzem as proteínas plasmáticas a se “desligarem” dos salicilatos para se ligarem a esses fármacos. É importante lembrar que, quando se desloca a ligação de uma proteína com um fármaco, estimula- se que o direcionamento do fármaco ocorra tanto para os tecidos, para se ligarem ao sítio ativo, quanto para ser metabolizado e eliminado. Quando um fármaco está livre, ou seja, não está ligado às proteínas plasmáticas, tende a ser metabolizado e excretado mais rapidamente, pois há a redução de sua meia- vida. • Os salicilatos competem com a tolbutamida no metabolismo hepático. DERIVADO PARA-AMINOFENÓIS: ACETAMINOFENO EFEITOS TERAPÊUTICOS • Antipirética • Analgesia • Anti-inflamatória (?) O acetaminofeno, também conhecido como paracetamol, possui atividade antipirética, analgésica e baixíssima atividade anti-inflamatória. PROVÁVEIS CARACTERISTICAS PARTICULARES E SEU MECANISMO DE AÇÃO Composto I- Forma ativa essencial, formada na presença de peróxidos ou radicais livres Composto II- Forma inativa, reduzida Fe (IV)tyre- A transferência de e’do Tyr para o Fe(IV) Inicia a atividade da COX. Acetaminofeno- Parece participar na redução do composto I e II, inibindo atividade da COX. Por que o acetaminofeno tem baixa atividade anti- inflamatória? A COX converte ácido araquidônico em prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos, basicamente é assim que ocorre enzimaticamente e molecularmente – transporte de elétrons de uma substância para outra, servindo de substrato para a COX exercer sua função. Acredita-se que o acetaminofeno participa da redução do composto I para o composto II, a correlação encontra-se no fato de que esse mesmo composto I da peroxidase serve de substrato para a atividade da ciclo-oxigenase. Então, se o acetaminofeno reduz o composto I em composto II, quando há acetaminofeno em maior quantidade, há a redução do composto I e conseguinte redução da atividade da ciclo-oxigenase gerando a formação de prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos, teoricamente reduziria a inflamação, mas isso não ocorre. O acetaminofeno tem baixa atividade anti- inflamatória por causa de produtos da inflamação que reduzem sua ação. Em um local inflamado, os produtos da inflamação reduzem a atividade do acetaminofeno. O EC50 é a concentração de uma droga capaz de exercer 50% da capacidade, já o IC50 é a concentração necessária para inibir 50% da atividade da enzima. Então, quanto maior o IC50 menor a potência. Por exemplo, se em um fármaco A há um IC50 de 5mM significa que é necessário 5mM para inibir 50% da atividade dessa enzima, já em um fármaco B com IC50 de 0,5mM é necessário 0,5mM para inibir 50% da atividade dessa enzima, então o fármaco B é mais potente, já que é necessário menos para inibir o mesmo percentual da enzima. A tabela representa o IC50 do acetaminofeno frente a COX-1 e a COX-2 e em diferentes situações. O IC50 frente a COX-1 sem glutationa peroxidase o IC50 é 0,76mM e com a presença da glutationa peroxidase reduz para 0,033mM, isso significa que quando um micro ambiente possui glutationa peroxidase o acetaminofeno tem uma potência maior. A inflamação se correlaciona com essa explicação a 6 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA partir do momento que em um ambiente inflamado há altas concentrações de peróxidos, de radicais livres, então há atividade da glutationa que visa neutralizar esses radicais e não estará disponível para auxiliar na atividade do acetaminofeno, já que o acetaminofeno necessita da peroxidase para sofrer uma reação e assim ter seu metabólito ativo liberado no tecido. Pode-se dizer também, pela tabela, que ele atua mais na COX-1 do que na COX-2, por comparativo aos dados de IC50. Em resumo, o efeito inibitório do acetaminofeno é potencializado em ambientes com reduzida concentração de peróxidos. PROVÁVEIS CARACTERÍSTICAS PARTICULARES DO ACETAMINOFENO EM RELAÇÃO AO MECANISMO DE AÇÃO: Particularmente, e possivelmente, o acetaminofeno possui efeito antipirético e analgésico por conta da ação da COX-3. Nota-se a IC50 do acetaminofeno frente a COX-1, COX-2 e COX-3; o IC50 do acetaminofeno frente a COX- 1 e COX-2 é acima de 1000μM (baixa afinidade). Já quando se trata da COX- 3, esse valor é de 460μM, mostrando uma relativa afinidade com a COX-3. Esses fármacos AINES, apesar de serem não seletivos, possuem afinidades diferentes. Aspirina possui maior afinidade com o COX-1, o diclofenaco quase não tem diferença, o ibuprofeno possui uma afinidade duas vezes maior para a COX-1 em comparação com a COX-2. *Apesar da classe ser chamada “AINES”, alguns representantes dessa classe não possuem capacidade anti-inflamatória tão importante. No caso do acetaminofeno, apesar de ele não ter uma ação de redução do quadro inflamatório, ela auxilia na redução de sinais de sintomas que estão envolvidos na inflamação, como dor e febre. RISCOS: • Glicurinidação e sulfatação • Oxidação por CYP450: N-acetyl-p-benzo- quinone imine (NAPQI) • Hepatoxicidade aguda! • Necrose hepática aguda • CYP2D6 é polimórfica • Interação com etanol, carbamazepina, fenotoína e barbitúricos: aumento da toxicidade • lesão TGI • Broncoconstricção O principal risco do acetaminofeno é uma intoxicação. A principal via de metabolização do paracetamol é por via hepática. Ele pode ser metabolizado por três vias: conjugado com ácido glicurônico ou com sulfato, com a intenção de ser eliminado, porém existe um outro caminho de metabolização das enzimas CYP2E1 e CYP2A6. Quando o paracetamol, ou sua fração, é metabolizado por essas enzimas, um metabólito tóxico é gerado, chamado N-acetyl-p-benzo-quinona imine (NAPQI). Esse metabólito é tão tóxico que faz com que o paracetamol seja o segundo fármaco mais utilizado em tentativa de suicídio nos EUA (o primeiro é a morfina). Felizmente, quando esse metabólito é gerado, o sistema glutationa redutase fica responsável por neutralizar moléculas tóxicas ao organismo humano (existem outros sistemas, porém esse é o principal); entretanto, a glutationa redutase neutraliza diversas moléculas tóxicas e o grande problema é o uso de paracetamol em altas doses (muito metabólito para pouca glutationa) ou a associação do paracetamol com outras moléculas que também competem com pelo efeito neutralizanteda glutationa. Dentre essas moléculas, está o etanol (risco elevado para associação de paracetamol + álcool). A hepatotoxicidade provocada pela NAPQI leva a uma necrose hepática aguda por se ligar a proteínas dos hepatócitos e provocar sua desnaturação; em poucas horas, na ausência de um tratamento correto, o indivíduo vai ao óbito. Na suspeita ou confirmação de hepatotoxicidade por paracetamol, o tratamento acontece por aumento dos estoques de glutationa - administração de N-acetil-cisteína. Esse fármaco fornece o grupamento glutationa ao organismo, aumentando os estoques de glutationa e, consequentemente, aumentando a neutralização do NAPQI. Além do álcool, outras substâncias aumentam a toxicidade do acetaminofeno: carbamazepina, fenitóina e barbitúricos. DICLOFENACO • Analgésico • Antipirético • Anti-inflamatório ✓ A absorção acontece por via oral. Existem comprimidos de diclofenaco que são revestidos por uma camada gastrorresistente com a intenção de proteger o diclofenaco do ácido estomacal e aumentar a sua 7 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA biodisponibilidade pós-passagem pelo estômago. ✓ A administração do diclofenaco após a alimentação retardada a absorção do próprio, porém a concentração final é semelhante, por demorar mais no estômago. ✓ Tem a capacidade elevada de se ligar a proteínas plasmáticas (99,7%) ✓ Biotransformação hepática. ✓ Excreção urinária: cerca de 60% da dose administrada será eliminada como molécula intacta + o ácido glicurônico e metabólitos + o ácido glicurônico. COXIBES Os inibidores seletivos da COX-2, também conhecidos como Coxibes, recebem esse nome porque os nomes dados aos seus representes terminam com “coxib” (Celecoxib, rofecoxib), valdecoxib etc.). O Rofecoxib e o Celecoxib foram os primeiros a serem comercializados como inibidores seletivos da COX-2, isso em 1999. Porém, em 2004 o Rofecoxib (Vioox®) foi retirado do mercado em função de aumentar em duas vezes o risco de problemas cardiovasculares em pacientes com câncer de cólon, como ataques cardíacos e AVC, quando comparados com os pacientes que não tomavam essa medicação. Então, esse estudo estava variando, pacientes com dor, pacientes com câncer de colón que tinham dor crônica e que fizeram uso do Rofecoxib. ❖ CELECOXIBE (representante mais famoso da classe dos coxibes) FARMACOCINÉTICA E METABOLISMO • Absorção: via oral A administração com alimentos (refeição rica em gorduras) retarda a absorção do celecoxibe resultando em um Tmáx (aumentado de 2 para 4h) de cerca de 4 horas e aumenta a biodisponibilidade (aumenta a absorção) em cerca de 20%. • Biotransformação hepática: o metabolismo de celecoxibe é mediado principalmente pela via citocromo P4502C9 • Excreção hepática: O celecoxibe é eliminado predominantemente por metabolismo hepático, com menos de 1% da dose excretada inalterada na urina. (Normalmente a excreção dos AINEs não seletivos é renal) PRINCIPAIS EFEITOS ADVERSOS DOS AINES COX 1 • Ulceras pépticas • Sangramento TGI • Sangramento GI • Problemas renais COX 2 • Hipertensão • Infarto do miocárdio • Problemas renais Os inibidores de ambos podem causar todos os efeitos acima. Sistema cardiovascular normalmente envolvido com a COX2 e os demais (TGI e renais) envolvidos com a COX1. EFEITOS ADVERSOS ASSOCIADOS As células epiteliais da mucosa gástrica são responsáveis por produzir muco, além de produzir e liberar bicarbonato para neutralizar o ácido estomacal. Essa produção é diretamente proporcional a quantidade de prostaglandinas que essas células produzem. Se tem pouca prostaglandina na região vai ter pouca produção de muco e pouca produção de bicarbonato. Com isso, o ácido estomacal terá maior possibilidade de entrar em contato com as células da mucosa gástrica, levando a erosões, gastrites, perfurações gastrointestinais. Além disso, a ausência da prostaglandina diminui a oxigenação na região, porque ela vasodilatadora, se o AINE inibiu a produção da COX, terá menos prostaglandina e terá esses efeitos, levando a lesões gastrointestinais. Outro mecanismo importante de lesão gastrointestinal é a irritação tópica direta do AINE. RECOMENDAÇÃO PARA FÁRMACOS NO GERAL: se for por via oral deve ser administrado com pelo menos 200 mL de água. Porque se o paciente engole o comprimido apenas com a saliva ou com um volume reduzido de água, esse comprimido pode ficar retido no esôfago, por exemplo, causando uma irritação, um dano direto ao epitélio. Explicação da tabela acima: As prostaglandinas são importantes no fluxo renal, uma vez que a prostaglandina foi eliminada do fluxo renal 8 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA ou diminuída por meio do AINE ocorrem esses efeitos adversos. Algumas doenças ou situações levam ao aumento da produção de substâncias vasoconstrictoras até os rins. Como a própria doença renal ou doença cardiovascular que vai reduzir fluxo sanguíneo renal ou ainda cirrose, nefrose, insuficiência cardíaca ou o uso de diuréticos que reduz o volume de sangue. Essas duas situações proporcionam o aumento de vasoconstrictores (angiotensinas, catecolaminas, vasopressinas). Quando o paciente não é tratado por AINE, as prostaglandinas antagonizam os efeitos intrarrenais desses vasoconstrictores, havendo um balanço hemodinâmico que dificulta essas substancias de causarem lesão renal. Quando o paciente está em uso de AINE nos rins há inibição da síntese de prostaglandina, consequentemente a ação vasoconstritora vai afetar o rim. A vasoconstricção proporciona diminuição da taxa de filtração glomerular, isquemia por um tempo prolongado, necrose, nefrite e posteriormente insuficiência renal. ASSOCIAÇÃO DOS EFEITOS CARDIOVASCULARES, TROMBÓTICOS PRINCIPALMENTE, AOS INIBIDORES SELETIVOS DE COX2: Prostaglandinas e tromboxanos exercem papeis antagônicos fisiológicos. Tromboxanos: vasoconstrição e agregação plaquetária. Prostaciclinas (um tipo de prostaglandina): vasodilatação e manutenção normal das plaquetas, sem ativá-las. Quando é utilizado um fármaco inibidor não seletivo, que inibe tanto a COX1 quanto a COX2, esse fármaco inibe tanto a produção de tromboxanos quanto de prostaciclinas. Então, no geral, esse balanço se mantém, reduzindo tanto os pró-trombóticos, quanto os antitrombóticos. Quando um fármaco inibidor seletivo é utilizado, da COX2, é impedido apenas a atividade da COX2 no endotélio, lembrando que não existe COX2 nas plaquetas. Então, a inibição da prostaciclina é a nível endotelial, ou seja, o ácido araquidônico não será convertido em prostaciclinas pelo endotélio, mas continuará a ser convertido em tromboxano pelas plaquetas, resultando no aumento da atividade tromboxanos em relação às prostaciclinas. Se não há prostaciclina no vaso para contrabalancear, haverá maior ativação plaquetária e uma vasoconstrição, que é ideal para formação de trombos. Por isso que indivíduos que fazem uso de inibidor seletivo de COX2 há uma chance maior de apresentar eventos cardiovasculares como infarto agudo e AVC. ESCOLHA DO FARMACO ADEQUADO: • Eficácia • Custo-eficiência • Segurança • Outros fatores: medicamentos associados (efeitos sinérgicos entre medicamentos) e adesão ao tratamento (ex: menor frequência por dia é a preferência de alguns pacientes). O fenoprofeno possui praticamente a mesma afinidade para COX1 e COX2. Do ibuprofeno para cima, os fármacos são mais seletivos para COX1 e do peroxicam para baixo, fármacosmais seletivos para COX2não significa que não há inibição para o outro COX1, a afinidade só é maior para a COX2. • O naxoprofeno é utilizado na pediatria. • A nimesulida é da classe dos ácidos acéticos (indometacina, sulindaco, tolmetina). • O diclofenaco é ácido acético, parente do sulindaco. Quando os nomes no fármaco terminam de forma parecida, pertencem a mesma classe. 9 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA
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