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LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Capítulo VI. A organização dualista · Este termo define um sistema no qual os membros da comunidade - tribo ou aldeia - são distribuídos em duas divisões, que mantêm relações complexas, as quais vão da hostilidade declarada à intimidade mais estreita. · As organizações dualistas apresentam numerosos traços comuns: a descendência na maioria das vezes é matrilinear, dois heróis culturais, ora irmãos mais velho e mais moço, ora gêmeos, desempenham um papel importante na mitologia. · A divisão do grupo social continua frequentemente por uma bipartição dos seres e das coisas do universo, sendo as metades associadas a oposição características, a saber. · Acompanhando estas organizações dualistas, encontra-se às vezes a dicotomia do poder entre um chefe civil e um chefe religioso, ou um chefe civil ou militar. · Finalmente, as duas metades são ligadas uma à outra não somente pelas trocas de mulheres, mas pelo fornecimento de serviço e de retribuição de serviços recíprocos de caráter econômico, social e cerimonial. · O sistema dualista não dá nascimento a reciprocidade mas constitui somente a organização desta. · A organização dualista acarreta com efeito um certo número de consequências em todos os lugares onde se realiza. A mais importante é que os indivíduos se definem, uns com relação aos outros, essencialmente segundo pertençam ou não à mesma metade. · Onde começa e onde acaba a organização dualista? As metades têm de comum com os clãs o fato da filiação nelas ser sempre unilateral. · A principal diferença entre metades e clãs parece portanto ser que estas duas formas de grupamento dependendo de ordens de grandeza diferentes. · Caso dos Bororo; os clãs são desiguais em número e importância, sua distribuição e o mesmo a estrutura interna variam de aldeia para aldeia. Entretanto, os clãs são sempre distribuídos entre duas metades exogâmicas e duas outras metades de caráter cerimonial. · As metades não dependem da série ‘clã’ e sim da série ‘classe’. · O problema tão discutido de saber se a organização clânica resulta da subdivisão das metades ou se, ao contrário, as metades formaram-se por aglomeração de clãs, é portanto desprovido de significação. · A organização dualista pode resultar do estabelecimento de laços orgânicos entre duas aldeias e mesmo entre duas tribos. · Uma localidade onde casamentos no interior da aldeia tinham sido realizados, uma fileira de troncos dividia a aglomeração em duas metades, estas duas metades comportavam-se entre de acordo com as formas prescritas para as relações entre duas aldeias aliadas. Todas as vezes que se tratava de concluir um casamento fora, as duas metades esqueciam sua divisão e colaboravam, cada qual trabalhando para o sucesso dos empreendimentos da outra, colocando em comum todos os seus bens. Em compensação, continuavam a partilhar, para trocar em seguida entre si suas partes respectivas quando o casamento se realizava no interior da aldeia. · O princípio dualista define o par fundamental, princípio este que é apenas uma modalidade do princípio de reciprocidade.