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UNIDADE I Introdução à Ciência Econômica Me. André Teixeira de Carvalho Introdução à Economia e ao Pensamento Econômico Olá, estudante. Bem-vindo à nossa primeira aula. Faremos aqui uma introdução à Economia e às mudanças no modo de pensar econômico ao longo dos tempos. Boa aula! Introdução Caro(a) estudante... Você sabe o que é Economia? Por que, a toda hora e a todo dia, há notícias econômicas na mídia? Qual a importância dessa ciência para nós, cidadãs e cidadãos, e para as organizações onde trabalhamos? Por que é necessário “crescer” economicamente? O “crescimento” econômico traz bem-estar para a sociedade? Tudo isso será discutido neste curso de Princípios de Economia e Mercados. Primeiro, entretanto, vamos entender o que é Economia. Aula 01 1 Segundo o sítio eletrônico da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP): Economia é a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Ela estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação entre as necessidades dos homens e os recursos disponíveis para satisfazê-las. Assim sendo, esta ciência está intimamente ligada à política das nações e à vida das pessoas, sendo que uma das suas principais funções é explicar como funcionam os sistemas econômicos e as relações dos agentes econômicosTodos os indivíduos, instituições ou conjunto de instituições que, através das suas decisões e ações, tomadas racionalmente, intervêm num qualquer circuito econômico., propondo soluções para os problemas existentes. (FEAUSP, 2014) Parece complicado... Mas vocês verão aqui que essa fascinante ciência possui conceitos básicos facilmente entendidos. Esses conceitos, ademais, são fortemente relacionados à nossa vida diária, ajudando-nos a tomar melhores decisões. Mas a Economia é uma ciência moderna? Não, longe disso! Para o professor Nali Souza, O termo Economia origina-se das palavras gregas oikos (casa) e nomos (normas). Na Grécia antiga, economia significava a arte de administrar o lar, levando-se em conta a renda familiar e os gastos efetuados, durante um período de tempo. (SOUZA, 2003) A economia visa, assim, auxiliar a humanidade no atendimento de suas necessidades. É uma ciência social, pois estuda as relações dos agentes econômicos (conceito a ser explicado adiante) no que se chama de mercado. Essas relações, traduzidas em atividades econômicas – sobretudo trocas monetárias – permitem o atendimento das referidas necessidades. 2 Em razão da natureza humana, de querer sempre mais, podemos dizer que as necessidades humanas são ilimitadas, enquanto os recursos para o seu atendimento são escassos. Nesse assunto, estudante, você deve estar atento ao fato de que, em um mundo que comportará 9 bilhões de habitantes em 2050, os recursos serão cada vez mais escassos e, portanto, as pessoas deverão ser cada vez mais cuidadosas em suas escolhas. Vamos agora entender o que é mercado... Pronto! Podemos juntar os dois conceitos – Economia e Mercado – em um conceito só: Esta disciplina estuda as trocas entre agentes econômicos em um mercado para a satisfação de suas respectivas necessidades, em um ambiente de livre concorrência. SAIBA MAIS Para saber mais, Leia o QRCode a seguir e acesse a reportagem da pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a projeção do número de habitantes na Terra para 2050. SAIBA MAIS Mercado é todo lugar, físico ou virtual, onde os agentes econômicos estabelecem livremente trocas – de bens, serviços, trabalho ou recursos monetários – para atender suas respectivas necessidades. 3 http://www.onu.org.br/populacao-mundial-deve-atingir-96-bilhoes-em-2050-diz-novo-relatorio-da-onu/ É claro que nem todo mercado se baseia em trocas puras, conforme descrito anteriormente. Veremos, no decorrer da disciplina, como os recursos monetários auxiliam em muito essa tarefa. NA PRATICA Recentemente, uma criança veio feliz de uma “feira de trocas”. Nessa feira, a criança levou uma boneca antiga e a trocou por um carrinho usado de outra criança. Isso é Economia de Mercado? Vejamos: Houve Trocas? Sim, da boneca pelo carrinho. Havia Agentes? Sim, pelo menos duas crianças. Existia o Mercado livre? Claro! O local de encontro dessas crianças. As necessidades foram atendidas? Foram. Uma criança saiu feliz com a pequena boneca e a outra criança ficou satisfeita com o carrinho usado. 4 Entendemos agora o que é Economia de Mercado. Podemos então descobrir o objeto da ciência econômica, ou seja, seu objetivo. O objeto da ciência econômica é auxiliar os agentes econômicos a decidir quais trocas realizar, em um contexto no qual suas necessidades são ilimitadas e os recursos dos quais eles dispõem são escassos. O Pensamento Econômico ao Longo dos Tempos Nosso objetivo neste tópico é apresentar, de forma cronológica, as principais correntes econômicas e suas influências na condução das sociedades a um maior nível de bem-estar. Podemos, grosso modo, dividir a evolução do pensamento econômico em quatro épocas distintas, que veremos em detalhes nesta aula e na aula seguinte. 5 Na Antiguidade grega, a Economia não passava de ideias fragmentadas e soluções adaptadas a problemas específicos. Essas ideias são encontradas, aqui e acolá, em estudos filosóficos e políticos da época. Durante o Império Romano, houve muitas trocas comerciais, mas não havia um pensamento econômico integrado. Apesar do enorme fluxo de transações comerciais no império, a contribuição romana à Humanidade foi mais política do que econômica. Após a queda do Império Romano no ano 476 da era cristã, inicia-se o período conhecido por Idade Média. Na Alta Idade Média (476 até o ano 1000), observou-se o encolhimento das atividades mercantis no que restou do antigo Império Romano. As atividades econômicas, antes centradas nas cidades, retornam ao setor rural, e os feudos são formados: pequenas regiões dominadas pelo senhor feudal. Nestes, a atividade econômica existia para satisfazer necessidades básicas, ou seja, a economia era de subsistência (produção para o consumo e não para a troca) e baseava-se no trabalho do servo, que não era pago em salários. A essa organização social chamamos de feudalismo (SANDRONI, 1999). Fase | Das Origens até Cerca de 1750: Fase Pré-Científica da Economia 6 Outra característica dessa época é o pouco uso do dinheiro, com predomínio do escambo (troca de bens e serviços sem a intermediação do dinheiro) e reduzido contato entre regiões (SANDRONI, 1999). Na Baixa Idade Média (século XI até o século XV), a atividade econômica entre regiões ressurge nas chamadas feiras. As corporações de ofícios (associações de pessoas do sexo masculino e de fé cristã que trabalhavam em um mesmo setor de atividade e passavam seus conhecimentos de uma geração para a outra) são criadas. 7 O comércio no mar Mediterrâneo é retomado e importantes centros comerciais reaparecem (com destaque para Gênova, Florença e Veneza). Por não praticarem a fé cristã, judeus e outros povos eram impedidos de trabalhar nas corporações e se dedicam ao comércio entre as regiões e à crescente intermediação financeira, origem dos atuais bancos. A Igreja Católica, todavia, influencia as atividades comerciais. Estimula o “justo preço” (“aquele bastante baixo para poder o consumidor comprar, sem extorsão e suficientemente elevado para ter o vendedor interesse em vender e poder viver de maneira decente” (HUGON, 1998, p. 51 apud SOUZA, 2009, p. 28). A igreja pregava a moderação aos agentes econômicos. VÍDEO A Igreja Católica condenava a cobrança de juros nos empréstimos, por contrariar a ideia de justiça nas trocas. Os judeus, por não serem cristãos, receberam permissão para cobrar juros; daí sua predominância no setor financeiro. Conheça mais sobre esse período da história. 8 A partir de 1450, o poder religioso não mais contém o crescente interesse dos europeus por transações econômicas. É a época dos “grandes descobrimentos”. Aliando a redescobertaou criação de tecnologias de navegação em alto-mar ao descobrimento de novos territórios – sobretudo nas Américas – os europeus inauguram uma época de progresso denominada Mercantilismo (1450-1750). Nesse período, o pensamento econômico apoiava os governantes no aumento da riqueza das nações. Ademais, a busca de melhores condições materiais (melhores habitações, alimentos e vestuários, por exemplo) cria vasto mercado para novos bens e serviços. Oriundos das Américas, metais preciosos e recursos naturais permitiram a melhoria do padrão de vida na Europa. Pinho (2004, p. 28) esclarecem que: Durante os três séculos do Mercantilismo, as nações da Europa Ocidental organizaram sua economia interna, baseadas na unidade nacional e na exportação de recursos econômicos, sob o controle e direção do Estado. 2ª fase | De 1750 a 1870: fase científica da Economia – a Fisiocracia, a Escola Clássica e o Marxismo Após 1750, e até 1870, inicia-se o período científico da Economia. Podemos dividi-lo em três subperíodos: Primeiro, a Fisiocracia, do francês François Quesnay. Em segundo, a Escola Clássica, liderada pelo escocês Adam Smith. Por fim, o pensamento do alemão Karl Marx (Marxismo), opositor à Escola Clássica. François Quesnay 9 A Fisiocracia considera o sistema econômico como um organismo, regido por leis próprias, mas derivado da ordem natural das coisas. Para os fisiocratas, “o universo é regido por leis naturais, imutáveis e universais, desejadas pela Providência Divina” (PINHO, 2004, p. 29-30). Consideram essa ordem natural cientificamente relevante e acreditavam que, por meio da razão, poderiam descobri-la. O pensamento fisiocrata influenciará posteriormente as teorias econômicas que veem o sistema econômico como fundamentalmente equilibrado. Uma importante contribuição de Quesnay é observar a interdependência das atividades econômicas de uma nação; seu “tableau économique” (em português, tabela econômica) é demonstrativo dessa interdependência. Adam Smith Adam Smith é mais conhecido pela sua obra prima Inquérito sobre a natureza e as causas da riqueza das Nações. Tem como discípulos brilhantes pensadores: Malthus, Ricardo, Stuart Mill e Say, “que buscam [...] explicar pontos ambíguos da obra de Smith”. (PINHO, 2004, p. 31). Para Adam Smith, todo indivíduo se esforça para melhorar o seu próprio bem-estar. Para isso, cada indivíduo tenta ganhar o maior lucro no mercado, oferecendo bens ou serviços que outros indivíduos necessitam e/ou desejam. Segundo ele, existe, entretanto, uma “mão invisível” que combina os esforços individuais, faz a sociedade avançar economicamente e aumenta o bem- estar de todos. Para Smith: Não devemos esperar que nosso jantar venha da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro, mas, sim, de sua consideração para com seus próprios interesses. Nós não nos dirigimos ao seu humanitarismo, e sim ao seu amor-próprio, e nunca lhe falamos de nossas necessidades, mas de suas vantagens. (SMITH apud HUNT, 1984, p. 81) 10 Dessa maneira, deixados sem interferência do Estado, todos os agentes econômicos, ao buscarem seu próprio bem-estar (seus próprios interesses, nas palavras de Smith), seriam conduzidos pela “mão invisível” em direção a um maior bem-estar de toda a sociedade. Modernamente, a obra de Adam Smith pode ser considerada uma teoria de desenvolvimento econômico. Contrapondo-se aos processos analíticos da Escola Clássica, Karl Marx vê o desenvolvimento econômico como resultante da luta de classes sociais. De um lado, coloca empresários capitalistas (denominados burgueses), que buscam o máximo lucro; do outro, estão trabalhadores, explorados pelos primeiros. O avanço tecnológico (uso intensivo de máquinas e especialização crescente da mão de obra) – típico de sua época e que constituiu o que se tornou mais tarde conhecido como Revolução Industrial – reduzia a importância da mão de obra na formação da riqueza. Segundo Marx, os empresários pagavam aos trabalhadores salários de subsistência (que permitiam apenas a mínima manutenção do bem-estar dos trabalhadores e sua reprodução física). Isso aumentaria o lucro, o qual seria reinvestido em mais máquinas, com o consequente aumento da produção. Essa produção, todavia, não encontraria compradores entre os trabalhadores (que recebiam muito pouco), levando o capitalismo a crises periódicas, cada vez mais profundas. A solução para essas crises seria a Revolução do Proletariado (trabalhadores), que acabaria com a propriedade privada – Karl Marx 11 passando a propriedade de tudo para o Estado – e daria a cada homem e mulher parcela da produção equivalente ao respectivo esforço individual. Podemos dizer que a abordagem feita por Marx de sua época é correta: havia, em meados do século XIX, muita exploração social. Suas conclusões, entretanto, não foram validadas pelos acontecimentos futuros. Seus estudos tiveram mais influência política e social do que efeito prático no desenvolvimento econômico posterior. 12 Continuação: Fases do Pensamento Econômico Caro(a) estudante, continuaremos com o percurso histórico e evolução do pensamento econômico. Nesta aula, veremos a primeira e a segunda fase deste. Continue estudando para desenvolver as competências e habilidades necessárias a essa área de atuação e do conhecimento. Boa aula! 3ª Fase | de 1870 a 1929: a Análise Econômica Moderna Aula 02 13 O ano de 1870 marca o início da análise econômica moderna. Os economistas desenvolvem ideias de como alocar recursos escassos entre usos alternativos, com o objetivo de maximizar a utilidade ou a satisfação dos consumidores. Nasce a economia marginalista: segundo esta, o homem é um ser essencialmente racional, que toma decisões calculadas, aloca os recursos escassos para a otimização de seu bem-estar: ele é o “homem econômico”. Por sua vez, o termo “marginalista” aqui é entendido da seguinte maneira: caso aumentemos o uso de recursos para a produção de determinado bem ou serviço em uma unidade, em quanto aumentaria, na margem, a satisfação do consumidor desse bem ou serviço? Ou seja: “O ‘homem econômico’, racional e calculador, estaria empenhado em equilibrar seus dispêndios marginais (aumento do uso de recursos em uma unidade) com seus ganhos marginais (ganho adicional de bem-estar).” A análise marginalista apoia-se na crescente sofisticação da Matemática que ocorre no final do século XIX e início do século XX. Para seus seguidores (chamados de marginalistas ou neoclássicos) a economia tenderia ao equilíbrio. As intervenções do Estado, ao contrário de ajudar nesse equilíbrio, levariam à redução do bem-estar social. Era a época do “laissez-faire, laissez-passer” (deixar fazer, deixar passar, em francês): os agentes econômicos não deveriam ser importunados em suas atividades econômicas pelo Estado, o qual tinha participação mínima. Dessa maneira, a alocação de recursos seria ótima e a economia tenderia ao crescimento contínuo e equilibrado. 14 4ª Fase | De 1929 em Diante: a Fase Contemporânea Em outubro de 1929, o pensamento neoclássico sofre um rude golpe. O forte desenvolvimento econômico das primeiras décadas do século XX é pulverizado pela queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Durante anos, os países ocidentais acreditavam que, sem a interferência do Estado, a economia cresceria continuamente. Parcelas crescentes da população investiam em ações das empresas: o preço dessas ações subia continuamente, o que estimulava mais pessoas a investir no mercado de ações. De forma simplificada, o preço de uma ação depende de dois fatores: Primeiro, a demanda e oferta pela mesma; e, Segundo, o potencial de lucro da empresa que comercializa suas ações. 15 Apesar de o crescimento da população aumentar a demanda por produtos e serviços nas primeiras décadas do século XX, há um teto para o potencial de lucro de uma empresa. Esse teto foi estabelecido no que foi conhecido como Crash de 1929. Em 15 de outubro daquele ano, o mercado norte-americano de ações começou a cair. Todos os investidores tentaram vendersuas ações ao mesmo tempo. O preço das mesmas desabou e fortunas foram perdidas. As pessoas, agora mais pobres, deixaram de consumir. As empresas, sem o dinheiro que vinha do mercado de ações e observando o consumo por seus bens e serviços se reduzir, sofreram prejuízos e, em consequência, começaram a demitir. Os fazendeiros foram arruinados, pois não havia mais compradores para os produtos agrícolas. Essa conjuntura reduziu ainda mais o consumo de toda a sociedade. Instalou-se o que foi conhecido como a Grande Depressão: a redução contínua da atividade econômica, o fechamento de inúmeras companhias e o aumento do desemprego. Calcula-se que, em 1932, nos Estados Unidos, um em cada quatro trabalhadores estava desempregado! 16 A fase contemporânea do pensamento econômico inicia-se propriamente com a Revolução Keynesiana. Após 1929, não mais se acreditava no equilíbrio econômico automático. A depressão econômica que se inicia em 1929 irá durar quase 13 anos em alguns países, e o papel “imparcial” do Estado na condução da economia é questionado. O economista inglês John Maynard Keynes (daí o termo “keynesianismo”Modalidade de intervenção do Estado na vida econômica, com a qual não se atinge totalmente a autonomia da empresa privada, e que prega a adoção, no todo ou em parte, das políticas sugeridas na principal obra de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936. Tais políticas propunham solucionar o problema do desemprego pela intervenção estatal, desencorajando o entesouramento em proveito das despesas produtivas, por meio da redução da taxa de juros e do incremento dos investimentos públicos.) acredita que o Estado, ao contrário de ficar isento em tempos de crise econômica, deve ter na ação governamental um instrumento que leve ao aumento do uso de recursos produtivos ociosos. John Maynard Keynes SAIBA MAIS Para entender como os EUA enfrentou uma crise econômica mundial, entre os anos de 1929 e 1933, leia o texto disponível ao clicar aqui . 17 http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/crise-de-1929-do-crash-da-bolsa-de-valores-ao-new-deal.htm Em épocas de crise, Keynes sugeria que o Estado deveria promover amplos programas de incentivo econômico que levassem ao pleno emprego dos recursos econômicos ociosos. Como durante uma recessão econômica reduz-se o recebimento de impostos pelo Estado, o financiamento desses programas econômicos deveria ser feito pela impressão de dinheiro. Keynes acreditava que programas econômicos reestimulariam as empresas a produzir e a reempregar as pessoas. A economia sairia da depressão e, com o aumento da produção, haveria o aumento do pagamento de impostos, o que permitiria ao Estado reequilibrar suas finanças e reduzir a impressão de dinheiro para pagar suas contas. A partir de 1932, as ideias keynesianas influenciaram fortemente o presidente norte- americano Franklin Roosevelt em seu programa econômico de reforma da economia norte- americana, conhecido como “New Deal” (Novo Acordo). Simplificadamente, Roosevelt utilizou os seguintes instrumentos para levantar a economia americana: 1. Um vasto programa de obras públicas. 2. A destruição de estoques de produtos agrícolas que estavam sem compradores, de modo a levantar os preços desses produtos. 18 3. O controle de preços e produção para evitar crises de superprodução. 4. A diminuição e regulamentação da jornada de trabalho, para aumentar a oferta de empregos. As ações empreendidas reverteram a deterioração da economia norte-americana. Essas ações, em maior ou menor medida, foram adotadas por outros países atingidos pela Grande Depressão. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as ideias keynesianas dominam o pensamento econômico. Para manter a atividade econômica em alta, o Estado atua cada vez mais intensamente na economia. Surge o Estado intervencionista, ou seja, um Estado que interfere na economia com os seguintes objetivos: 1. Regulação do setor privado, com a fixação de regras do mercado, dos preços de bens e mercadorias e dos salários; 2. Estímulo ao crescimento contínuo da economia; 3. Redução das desigualdades sociais; e 4. Correção das falhas de mercado: “Os mercados ‘falham’ na alocação de recursos e o governo é chamado a corrigir essas falhas” (SOUZA, 2009, p. 43). Apesar da aplicação crescente das ideias de Keynes após 1945, houve críticos que expressaram preocupação com o que eles chamavam de “intervenção excessiva” do Estado na economia. Entre esses críticos, destacam-se os monetaristas (ou neoclássicos conservadores). Para estes, ao contrário do que pensam os keynesianos, a economia tende a trabalhar eficientemente se a participação do Estado for reduzida. Ao reduzir-se a participação estatal na economia, alcança-se o pleno emprego de recursos da economia, inclusive o pleno emprego da mão de obra disponível. Outra crítica dos monetaristas é o fato de que, ao intervir na economia, sobretudo quando há poucos impostos a recolher, o governo tende a gastar mais do que recebe e, para cobrir a diferença, imprime moeda. No entanto, a impressão de moeda pode causar inflação, ou seja, o aumento contínuo e generalizado dos preços de uma economia. 19 Por fim, a partir de 1950, importantes trabalhos sobre desenvolvimento econômico – focados no subdesenvolvimento – foram elaborados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), sediada na capital do Chile, Santiago. Esses estudos observaram os problemas econômicos dos países componentes da Cepal. Surge a tese estruturalista, segundo a qual o quadro de pobreza encontrado na maioria dos países dessas duas regiões se devia a causas estruturais, tais como: Os países da região eram principalmente exportadores de produtos primáriosBens produzidos em atividades agropecuárias ou resultantes de extração mineral e vegetal (SANDRONI, 1999, p. 498). (exemplo: café no Brasil e estanho na Bolívia); haveria pouca oferta de alimentos e outros produtos para as populações locais, o que elevava o preço desses bens e causava pobreza crônica. Além disso, a posse da terra era muito concentrada, dificultando ainda mais a produção de alimentos. Os países das regiões latino-americana e caribenha comprariam produtos importados industrializados, cujos preços se elevavam continuamente. O contrário, entretanto, ocorreria com os preços dos produtos exportados por esses países (sobretudo alimentos e minérios), que apresentavam queda contínua de preços nos mercados mundiais. Dessa maneira, poucos recursos eram obtidos com exportações e muitos recursos eram gastos com importações. Isso causava problemas de balanço de pagamentos. Dessa maneira, para resolver problemas econômicos, haveria a necessidade de mudanças nas estruturas econômicas dos países latino-americanos e caribenhos, mudanças que incluíssem a reforma agrária e a promoção de maior produção para o mercado interno. Ademais, esses países deveriam estimular exportações de produtos mais industrializados, em lugar de se concentrarem na exportação de alimentos e minérios. A tese estruturalista, lançada após os anos 1950, enfrentou forte resistência política por parte de países como os Estados Unidos, que a viam como uma ameaça aos interesses dos países mais desenvolvidos nas regiões latino-americana e caribenha. Ademais, temas como reforma VÍDEO Para entender mais sobre o processo inflacionário pelo qual passou o Brasil há algumas décadas, veja vídeo da TV Folha disponível a seguir. 20 agrária foram sempre complicados na América Latina e no Caribe, regiões onde há forte concentração de terras em mãos de poucos proprietários. A tese estruturalista explica as dificuldades de desenvolvimento que países como o Brasil enfrentaram de 1950 até muito recentemente. Para finalizar, vejamos um quadro-resumo com as principais correntes de pensamento e características das quatro fases abordadas. Fase Principais épocas, pensamentos econômicos e respectivas características. Das origens até cerca de 1750: fase pré- científica da Economia Antiguidade:Soluções adaptadas a princípios específicos. Idade Média: Feudalismo e retorno à atividade rural, economia de subsistência e trabalho servil. Corporações de Ofício. Justo preço. Moderação. Mercantilismo: Grandes Descobrimentos, afluxo de metais e produtos das Américas para a Europa. Riqueza das Nações. De 1750 a 1870: fase científica da Economia – a Fisiocracia, a Escola Clássica e o Marxismo Fisiocracia: sistema econômico é um “organismo” regido por leis próprias, mas derivado da ordem natural das coisas. Tableau économique. Adam Smith e seguidores: nenhuma interferência do Estado, bem-estar “dirigido” pela “mão invisível”, favorece o esforço individual. Karl Marx: desenvolvimento econômico é resultado da luta de classes. Revolução do Proletariado. Análise mais política e social do que econômica. De 1870 a 1929: a análise econômica moderna Teoria Marginalista: economia tende ao equilíbrio automático. “Homem econômico”. Nenhuma intervenção estatal. Laissez-Faire. De 1929 em diante: a fase contemporânea Revolução Keynesiana: Grande Depressão, forte intervenção estatal em tempos de crise. Busca do pleno emprego. “New Deal”. Monetaristas: redução da participação do Estado. Inflação pode ser causada por excesso de gastos governamentais financiados pela impressão de moeda. Tese Estruturalista: o subdesenvolvimento ocorre por causas estruturais. Países pobres exportam alimentos e minérios e importam produtos industrializados. Forte concentração de terras. Reforma Agrária. Grande resistência por parte dos países mais desenvolvidos. 21 Conceitos Básicos e Ideias Principais da Ciência Econômica (parte 1) Esta aula é a primeira parte do conteúdo sobre conceitos básicos e ideias principais da ciência econômica. Fique atento, os conceitos apreendidos aqui têm grande valia para a formação nessa área. Continue estudando! Lei da Escassez Nesta aula, veremos conceitos básicos que serão utilizados para a compreensão de algumas ideias principais da ciência econômica. Comecemos com a chamada lei da escassez. Sandroni (1999, p. 211) esclarece que: A escassez surge do pressuposto de que as necessidades humanas são infinitas, ao passo que os bens ou os meios de satisfazê-las são sempre finitos. [...] O homem pode produzir o suficiente de qualquer bem [...] para satisfazer completamente determinada necessidade, mas jamais poderá produzir o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente a todas as necessidades. De acordo com essa definição, a ciência econômica serviria exatamente para gerir a escassez. (SANDRONI, 1999, p. 211) Aula 03 22 Ou seja, haveria uma lei que apresenta à humanidade alternativas de consumo e a faz escolher qual tipo de bem econômico deseja produzir. Como já explicamos, os desejos da humanidade não têm fim, mas isso não desobriga a humanidade de escolher como alocar seus recursos para atender o máximo possível de suas necessidades. Curva de Possibilidades de Produção (CPP), Pleno Emprego e Fatores de ProduçãoElementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais (SANDRONI, 1999). Uma maneira simplificada de expressar a capacidade máxima de produção de uma economia é apresentado pela Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Segundo Vasconcellos e Garcia (2008, p. 5), Trata-se de conceito teórico com o qual se ilustra como a escassez de recursos impõe um limite à capacidade produtiva de uma sociedade, que terá que fazer escolhas entre diferentes alternativas de produção. (VASCONCELOS; GARCIA, 2008, p. 5) SAIBA MAIS Observe que o sentido de lei econômica aqui não é o mesmo do que lei jurídica. A lei econômica deve ser entendida como um princípio que deriva da observação de uma dada situação econômica. Para saber mais, Leia o QRCode a seguir e leia o conteúdo disponível. 23 http://estudoeconomia.webnode.com.br/news/lei-economica-vs-lei-cientifica-/ Para entender esse conceito, pensemos em uma economia que produza apenas canhões ou manteiga, como a descrita no gráfico abaixo. Caso a defesa do país seja mais importante, canhões terão preferência nas decisões de produção. Caso queira mais alimentos, a sociedade produzirá mais manteiga. Como ilustra a figura, nos pontos A, B, C, D, E, e F, a economia estará em seu limite de pleno emprego, ou seja, utiliza o máximo de suas capacidades produtivas, e escolherá uma das alternativas de produção. No caso do ponto G, a economia está produzindo abaixo do pleno emprego e a sociedade poderá escolher produzir mais canhões e mais manteiga, ao mesmo tempo. Finalmente, a economia não poderá produzir no caso do ponto H, pois este se encontra acima da curva de possibilidades de produção. Para alcançar um ponto como H, a economia deverá se expandir tecnologicamente, ou seja, utilizar melhor seus fatores de produção, de molde a alcançar maior produtividade. Afinal, quais são as questões centrais da Economia? Para decidir entre diversas alternativas de produção, a humanidade deve responder três questões centrais. Rizzieri (2004, p. 11) esclarece que essas questões são as descritas a seguir, resumidas no quadro. Figura 1: Economia que produz canhões ou manteiga 24 Questão Objetivo da questão O que e quando produzir? Significa escolher quais produtos deverão ser produzidos (por exemplo, carros ou ônibus) e em quais quantidades. Como produzir? Implica escolher quais recursos serão utilizados e de que maneira eles serão combinados dentro de um processo técnico determinado. Para quem produzir? Informa a quem se destinará a produção. Esta, talvez, seja a escolha mais difícil e de maior impacto na distribuição de bem-estar de toda a sociedade. Agentes Econômicos Devemos igualmente entender que a economia é praticada por agentes conhecidos como agentes econômicos. A Associação Portuguesa de Bancos, em seu sítio eletrônico, estabelece esse conceito: Os agentes econômicos são todos os indivíduos, instituições ou conjunto de instituições que, através das suas decisões e ações, tomadas racionalmente, intervêm num qualquer circuito econômico. Apesar de terem funções diferenciadas no circuito econômico, de produção, de consumo ou de investimento, estabelecem entre si relações econômicas essenciais: Estado: Que toma decisões de consumo, de investimento e de política econômica; Famílias: Que tomam decisões sobre o consumo de bens e serviços e de poupança, mediante os rendimentos auferidos; VÍDEO Para saber mais sobre a escassez e a Curva de Possibilidades de Produção, veja o vídeo a seguir. 25 Empresas: Que tomam decisões sobre investimento, sobre produção e a oferta de trabalho. Estes três agentes, em conjunto com as instituições financeiras, fazem parte de uma Economia Fechada. Contudo, e cada vez mais, deve considerar-se um quarto agente, o Exterior, com os quais os restantes agentes econômicos nacionais estabelecem, num quadro de Economia Aberta, relações econômicas intensas. (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BANCOS, 2014) As interações entre esses agentes econômicos estabelecem as “respostas” às questões acima mencionadas. 26 Conceitos Básicos e Ideias Principais da Ciência Econômica (parte 2) Esta é a segunda parte do conteúdo sobre conceitos básicos e ideias principais da ciência econômica. Continue estudando para desenvolver as competências e habilidades necessárias a essa área de atuação e do conhecimento. Boa aula! Bem Econômico e Fluxos Fundamentais da Economia Outro tipo de conceito necessário ao bom entendimento da disciplina Economia é o de bens. Primeiro conceituemos bem econômico. Sandroni (1999) informa que “bem é tudo o que tem utilidade, podendo satisfazer uma necessidade ou suprir uma carência”. Esclarece também que “os bens econômicos são aqueles relativamente escassos ou que demandam trabalho humano (e para os quais podemos atribuir um preço). Assim, por exemplo, o ar é um bem livre, mas o minério de ferro é um bem econômico” (SANDRONI, 1999, p. 51). Os bens podem ser classificados em dois tipos básicos: Bens finais: aqueles destinados ao consumofinal pelos agentes econômicos. Por exemplo, o pão, uma residência ou um carro. Aula 04 27 Bens intermediários: aqueles necessários para a produção de bens finais. Por exemplo, a farinha (pão), o cimento e o tijolo (residência); e o aço e a borracha (carro). Esse uso de bens pelos agentes econômicos se faz no que se denomina fluxos fundamentais da economia. Em uma economia de mercado, os bens e serviços que serão vendidos terão suas quantidades e valores decididos pela livre concorrência entre os agentes econômicos. Os bens e recursos circulam entre famílias e empresas e daí o conceito de fluxos. Veja, de forma esquemática, a seguir, como esse fluxo é organizado: SAIBA MAIS Para mais informações sobre os tipos de bens, Leia o QRCode a seguir e leia o texto disponível. Figura 2: Fluxos da Economia Fonte: Disponível em: <http://tinyurl.com/mfhb5lh>. Acesso em: 1º fev. 2014. 28 http://www.brasilescola.com/economia/bens.htm Há dois tipos básicos de fluxos fundamentais: No lado real da economia ocorre o fluxo de bens e serviços. Nesse caso, as famílias fornecem recursos às empresas e as empresas suprem as famílias com unidades de bens e serviços finais. No lado monetário da economia, ocorre o fluxo referente ao pagamento pelos recursos empregados e por bens e serviços adquiridos. Empregando a moeda como meio de pagamento, as empresas remuneram as famílias pelos recursos empregados. Essas, por sua vez, transferem às empresas parte dos ganhos recebidos, ao pagarem pelos bens e serviços adquiridos. Tipos de Organização de Mercado Vejamos quais tipos de economia o mundo atual apresenta: Economia de mercado: este conceito já foi apresentado anteriormente, mas não custa repeti- lo: Economia de mercado é a livre relação entre agentes econômicos em um mercado para a satisfação de suas respectivas necessidades, utilizando um sistema de preços para sinalizar essas trocas. Economia centralmente planificada: para SANDRONI (1999, p. 190), Economia centralmente planificada é a denominação dada às economias socialistas, por oposição à descentralização que caracteriza as economias [...] de mercado. Distingue-se pela propriedade estatal dos meios de produção e pela planificação centralizada da economia nacional. O Estado, por meio de órgãos especializados, administra a produção em geral, determinando seus meios, objetivos e prazos de concretização; organiza os processos e métodos de emprego dos fatores de produção; controla de forma rígida os custos e preços dos produtos; controla ainda os mecanismos da distribuição e dimensiona o consumo. (SANDRONI, 1999, p. 190, grifos nossos) 29 Observa-se que existem atualmente pouquíssimas economias centralmente planificadas. Podemos citar Cuba e Coreia do Norte como economias que efetivamente são centralmente planificadas. Economia mista: Sandroni (1999, p. 191), sobre esse tipo de economia, esclarece que: [...] é um sistema econômico em que uma parte dos meios de produção pertence ao Estado e a outra, a empresários particulares. Existe em muitos países capitalistas [...]. Nessas condições, o Estado, além de orientar a economia, detém a propriedade de empresas em setores considerados estratégicos (bancos, indústrias de base, transporte, saúde e educação). Deixa à iniciativa privada importantes segmentos da economia. (SANDRONI, 1999, p. 191, grifos nossos, com adaptações) Podemos dizer que, por conta da influência keynesiana a partir de 1945, as economias mistas dominam o cenário mundial. VÍDEO Veja a palestra disponível a seguir e saiba mais sobre as teorias econômicas de Keynes. 30 A Função de Produção Veremos, nesta aula, detalhes sobre a função da produção. Os conceitos apreendidos aqui têm grande valia para a formação nessa área. Boa aula! A produção das mercadorias e serviços, por parte das firmas, envolve a transformação dos insumos por meio do uso dos recursos produtivos: matérias-primas, gastos com trabalhadores, uso das máquinas e equipamentos. Por exemplo: os fabricantes de móveis utilizam os serviços do capital por meio das máquinas, equipamentos e instalações, já os serviços do trabalho se utilizam do emprego da mão de obra. A Função de Produção Os recursos produtivos que as empresas usam para produzir bens e serviços são chamados de fatores de produção. De uma forma mais ampla, os fatores de produção englobam os seguintes elementos: capital, trabalho, recursos naturais e tecnologia. Aula 05 31 Capital descreve o estoque de máquinas, equipamentos e infraestrutura que podem ser usados na produção; o trabalho, por sua vez, apresenta o que o ser humano pode produzir; os recursos naturais são os elementos que provêm da natureza; e a tecnologia representa a aplicação do conhecimento acumulado. O resultado do uso dos fatores de produção é denominado de produto ou produção da empresa. Podemos representar matematicamente as várias técnicas que uma empresa pode escolher para realizar suas atividades, por meio de uma função de produção. Para simplificar nossa aula, vamos supor que, nessa função de produção, tenha somente dois fatores: capital e trabalho. Y = f(K(L)) Onde: Y = Produção K = Capital L = Trabalho Essa fórmula mostra a quantidade máxima a ser produzida usando capital e trabalho. Por exemplo, essa equação possibilita descrever a quantidade de máquinas de costuras necessárias para uma confecção em um dado período de tempo, ao mesmo tempo em que ela possui seiscentos metros quadros de área construída e um determinado número de 32 costureiras. A função de produção possibilita que diversas combinações de capital (K) e trabalho (L) sejam empregadas na produção. Eficiência Técnica versus Eficiência Econômica O conceito de eficiênciatécnica é bastante empregado nas empresas. É uma condição na qual as empresas combinam os insumos usados na produção para alcançar determinado nível de produto, utilizando a menor quantidade possível de insumos. Vamos usar o exemplo de dona Iara? Dona Iara é proprietária de uma pequena confecção. Mensalmente, ela produz 5 mil peças de roupas e, devido às favoráveis condições de mercado, ela planeja aumentar sua produção para 10 mil peças mensais. Para tanto, ela deverá contratar mais trabalhadores e encomendar mais máquinas de costura, além de expandir seu pequeno galpão industrial. No seu planejamento, ela vai se deparar com várias tecnologias que usam combinações de capital e trabalho, produzindo a mesma quantidade de peças de roupa, conforme a tabela a seguir. Tecnologia/Insumos K (Capital) L (trabalho) A 20 10 B 25 18 C 15 20 Tabela 1: Combinações de tecnologia, capital e trabalho Qual delas é mais eficiente? Para responder a essa pergunta, vamos empregar o conceito que aprendemos sobre eficiência técnica, que aponta a combinação que utiliza a menor quantidade de capital e trabalho. Porém, um pequeno alerta deve ser feito ao estudante: não se somam coisas diferentes como iguais. 33 Isto é, não podemos somar capital e trabalho da mesma forma que não podemos somar arroz com feijão. Assim, nosso foco da eficiência técnica vai ser em cada fator de produção. Qual a tecnologia que emprega menos capital e qual a tecnologia que emprega menos trabalho. Nesse caso, podemos observar a que a tecnologia “A” apresenta uma eficiência técnica no emprego de trabalho e a tecnologia “C” apresenta uma eficiência técnica no emprego do capital. A partir do conceito de eficiência técnica, vamos apresentar o conceito de eficiência econômica, que descreve a tecnologia que apresenta o menor custo de produção. Para tanto, vamos usar exemplo anterior, supondo que cada unidade de capital (Pk) custe 5 unidades monetárias e que cada trabalhador (PL) custe 20 unidades monetárias. Assim, podemos encontrar o custo do capital (CK) e o custo do trabalho (CL). CK = Pk x K CL = PL x L CT = CK + CL Conforme a tabela a seguir, a tecnologia que apresenta menor custo de produção é a tecnologia “A”. Nesse caso, podemos afirmar que a tecnologia “A” apresenta uma eficiência econômica.Tecnologia K (Capital) L (trabalho) PK Ck PL CL CT A 20 10 5 100 10 100 200 B 25 18 5 125 10 180 305 C 15 20 5 75 10 200 275 Tabela 2: Tecnologias com diferentes custos de produção Nesse exemplo, a escolha de uma tecnologia poupadora de trabalho é importante para balizar as decisões que um administrador de empresas deverá fazer, principalmente se as perceptivas de longo prazo assinalarem uma forte tendência para aumentos reais de salários. Desse modo, as firmas deverão priorizar tecnologias poupadoras de trabalho e mais intensivas em capital. 34 A Função de Produção no Curto Prazo No longo prazo, as firmas podem aumentar sua produção usando livremente qualquer quantidade de capital e de trabalho. Todavia, no curto prazo, isso não é possível. Dona Iara, como todo e qualquer empresário, terá grandes dificuldades em aumentar sua produção comprando mais máquinas e equipamentos e ampliando as suas instalações. Assim, restará somente uma alternativa para aumentar a produção, que passa pelo emprego de mais trabalhadores. Nesse caso, nossa função de produção considera que o estoque de capital permanecerá constante ou inalterado. Em outras palavras, para aumentar a produção, deve-se empregar mais trabalhadores. Y = f(L) Na tabela a seguir, Dona Iara tem a quantidade de produção em função do número de costureiras empregadas na linha de produção. Ela apresenta a quantidade de peças de roupas que uma empresa pode produzir em um dado período de tempo ao empregar várias quantidades de trabalhadores (L) dentro de uma fábrica de certo tamanho com um determinado conjunto de máquinas (estoque de capital constante). Inicialmente, podemos observar que, à medida que ela contrata mais costureiras, sua produção aumenta. Quando não há ninguém na linha de produção, a produção é zero. Porém, ao contratar o primeiro trabalhador, a produção total será de 20 peças; com o segundo trabalhador, a produção total sobe para 38 peças; com o terceiro empregado, 54 peças serão produzidas. A produção alcançará seu ponto máximo quando a firma contratar sete trabalhadores na linha de produção. A partir desse número de trabalhadores, qualquer trabalhador que for contratado provocará uma redução na quantidade a ser produzida. Esse fenômeno obedece ao principio da Lei dos Rendimentos Decrescentes. Segundo essa teoria, à medida que a utilização de um insumo aumenta (nesse caso, a mão de obra) e as quantidades dos demais insumos permanecem constantes, produto marginal daquele insumo diminui. No caso da firma da dona Iara, ela também mostra que sua estratégia de aumentar a produção contratando mais trabalhadores tem um limite: nesse caso, de sete costureiras. Assim, qualquer trabalhador a mais ou a menos contratado implicará em uma produção menor. 35 Y (peças de roupas) L (trabalhadores) PméL PmgL 0 0 20 1 20,00 20 38 2 19,00 18 54 3 18,00 16 68 4 17,00 14 80 5 16,00 12 86 6 14,33 6 90 7 12,86 4 88 8 11,0 -2 Tabela 3: Confecção da dona Iara SAIBA MAIS Em resumo: o Produto Marginal do Trabalho (PMgL) descreve o acréscimo na produção total por cada trabalhador adicional contratado. Em outras palavras, o produto marginal do trabalho sinaliza para o administrador da firma qual seria a contribuição na produção se ele contratasse um trabalhador a mais. 36 Atenção, estudante. Não devemos confundir os rendimentos marginais decrescentes com possíveis alterações na qualidade dos trabalhadores empregados. Os trabalhadores contratados possuem a mesma habilitação que todos os demais. Em sua perspectiva, elas resultam de limitações no emprego dos demais fatores produção que são mantidos inalterados e não do declínio da qualidade dos trabalhadores. Da mesma forma, também não devemos confundir os rendimentos marginais decrescentes com rendimentos negativos, visto que se trata de acréscimos cada vez menores à produção quando são contratados novos trabalhadores, e não necessariamente negativo. Entretanto, a Lei dos Rendimentos Decrescentes funciona quando se emprega uma dada tecnologia nas linhas de produção. Uma nova tecnologia pode aumentar a produção usando as mesmas quantidades de capital e de trabalho empregadas com uma tecnologia defasada. Além do produto marginal do trabalhado, também podemos encontrar outro indicador. O Produto Médio do Trabalho (PméL). O Produto Médio do Trabalho é encontrado se dividirmos a produção da firma pelo número de trabalhadores contratados. Trata-se de um dos principais indicadores da economia. Com ele, é possível identificar a produção média por trabalhador e constitui-se no excelente indicador de produtividade de empresa. Figura 3: Função da Produção da Firma 37 A Função de Produção no Longo Prazo No curto prazo, observamos que, para elevar a produção de uma empresa, aumentamos o uso de um fator de produção, enquanto os outros permanecem constantes. No caso da firma da dona Iara, a sua produção somente poderia crescer se usasse mais trabalhadores. No longo prazo, as firmas podem aumentar a sua produção acrescentando livremente qualquer quantidade adicional de capital e de trabalho. Os rendimentos de escala mostram a propriedade técnica da função de produção para descrever a relação entre a escala e eficiência. Para tanto, todos os fatores de produção devem ser aumentados na mesma proporção. Assim, conforme exemplo anterior, dona Iara gostaria de saber qual o comportamento de sua empresa quando ela decide usar mais quantidade de trabalho e de capital na produção de sua firma. Atualmente, ela produz mensalmente com eficiência econômica 5 mil peças de roupa, empregado 20 unidades de capital e 10 unidades de trabalho. O que poderia acontecer com a produção de sua firma se ela aumentasse, na mesma proporção, as quantidades de capital e de trabalho? Nesse caso, a produção pode aumentar de três formas possíveis: de forma proporcional; de forma mais que proporcional; e de forma menos que proporcional. Na primeira situação, temos um rendimento constante de escala. Por exemplo: dona Iara aumenta em 50% o uso do capital e do trabalho, o que proporciona um aumento de 50% na produção total. Antes: 5.000 peças = f(20 unidade de capital; 10 unidade de trabalho) Depois: 7.500 peças = f(30 unidades de capital; 15 unidade de trabalho) Na segunda situação, temos um rendimento crescente de escala. Por exemplo: dona Iara aumenta em 50% o uso do capital e do trabalho, o que proporciona um aumento de 80% na produção total. 38 Antes: 5.000 peças = f(20 unidades de capital; 10 unidades de trabalho) Depois: 8.000 peças = f(30 unidades de capital; 15 unidades de trabalho) Na terceira e última situação, temos um rendimento decrescente de escala. Por exemplo: dona Iara aumenta em 50% o uso do capital e do trabalho, o que proporciona um aumento de 40% na produção total. Antes: 5.000 peças = f(20 unidades de capital; 10 unidades de trabalho) Depois: 7.000 peças = f(30 unidades de capital; 15 unidades de trabalho) Caro(a) estudante, é importante salientar que os rendimentos decrescentes de escala não têm nenhuma relação com a Lei dos Rendimentos Decrescentes. Os rendimentos decrescentes de escala estão relacionados a uma situação que ocorre quando todos os fatores de produção variam em uma determinada proporção. Já a Lei dos Rendimentos Decrescentes está relacionada a uma situação em que apenas um fator de produção pode variar, enquanto os demais permanecem constantes. SAIBA MAIS Estudantes, no acervo da disciplina, há três interessantes textos sobre o que estudamos nesta aula. O primeiro é mais um trecho do livro Macroeconomia, de Pindyck e Rubinfeld, intitulada “Rendimentos de escala na Indústria de Tapetes” . O segundo trata da “Ineficiência Técnica entre as Indústrias Americanas” . O terceiro, “Economias de Escala no Refino de Alumina” . Acesse e saiba mais! 39 Conceitos Básicos de Receita Total, Custo Total e Lucro Nesta aula, última da unidade, você estudará os conceitos básicos de receita, custo de oportunidade, fronteira de possibilidade de produção, custo de produçãoe lucros. Este estudo objetiva introduzir os conhecimentos necessários para compreender como as empresas se comportam nos diversos tipos de ambientes competitivos. Receita Total e Custo Total Para tomar as decisões em sua firma, o administrador precisa entender a função fundamental da empresa. Algumas pessoas criam suas empresas visando a criação do bem-estar da sociedade e a satisfação pessoal. Contudo, as chances de sobrevivência dessa firma no longo prazo são bem escassas. A maior parte dos empreendedores procura gerar condições para que sua atividade seja bem-sucedida. Desse modo, uma condição fundamental para que isso aconteça está na ocorrência de lucro. A função fundamental das empresas é a geração de lucro para seus proprietários. Em linhas gerais, as firmas produzem bens e serviços que, por sua vez, necessitam comprar insumos para o seu funcionamento. As receitas totais das firmas são provenientes do valor da produção vendida no mercado. Nesse caso, vamos multiplicar a quantidade produzida pelos preços vendidos. Aula 06 40 RT = P x Q Já as despesas efetuadas para a produção de bens e serviços, são chamadas de Custos Totais (CT). CT = ∑ das despesas gastas com insumos. O que representa o lucro para a empresa. Se a diferença entre Receita Total e Custo Total for positiva, a firma estará obtendo lucro. Mas se essa diferença for negativa, a empresa estará apresentando prejuízo. Lucro = RT – CT > 0 Prejuízo = RT – CV < 0 As empresas entram em saem dos mercados em busca de lucros. Se os mercados permitissem que outras empresas entrassem ou saíssem livremente, novas empresas ingressariam nesses mercados pressionados para baixo as taxas de lucros. Custos como Custos de Oportunidade Dona Iara pretende montar uma panificadora em uma cidade-satélite. Para produzir pães, bolos e doces, ela deverá ter um conjunto de despesas com mão de obra, matérias-primas, 41 impostos do governo, etc. Porém, é importante, ao mensurar, os custos ter a consciência o custo de oportunidade. Como exemplo, podemos citar: Deve-se ou não comprar um carro? Deve-se pintar a casa de azul ou amarelo? Deve-se ou não aceitar o pedido de casamento? Dever-se ou não mudar de cidade? Deve-se ou não comprar uma casa? Deve-se ou não fazer um investimento em imóveis? Segundo Stiglitz e Walsh (2003, p. 137), nem sempre é fácil encontrar os custos de oportunidade, pois, às vezes, é muito difícil estimar os usos alternativos dos recursos da firma. O tempo que o administrador gastou para expandir as atividades da sua organização poderia ter sido empregado para melhorar o controle dos custos da firma. O dinheiro empregado na compra de um campo de futebol para os funcionários poderia ter tido outro destino. O que foi gasto com os recursos poderia ter sido poupado, proporcionando valores suficientes para cobrir mais do que o necessário para comprar títulos de sócios aos empregados da empresa em um clube social. Como se pode notar, algumas das variáveis usadas pelas pessoas para tomar decisões são subjetivas. Da mesma forma, isso também se reflete nos custos de produção na visão dos economistas. Quando os economistas trabalham com custos de produção, eles consideram todos os custos de oportunidade da produção de bens e serviços. SAIBA MAIS O custodeoportunidade representa tudo aquilo que a pessoa desiste para obter alguma outra coisa. O custo de oportunidade é um instrumento empregado pelas pessoas em suas tomadas de decisão. 42 Porém, na construção dos custos de oportunidade de uma firma, nem sempre os custos de oportunidade são possíveis de serem quantificados. Nesses casos, eles não são explícitos. Segundo Mankiw (2013, p. 269), os custos explícitos são as despesas com insumos que exigem desembolso por parte da empresa. Já os custos implícitos são aqueles que não exigem gastos monetários por parte da firma. A Curva de Possibilidade de Produção A curva de possibilidade de produção ou fronteira de possibilidade de produção apresenta de forma bem clara o princípio do custo de oportunidade para a economia como um todo. A curva de possibilidade de produção apresenta todas as combinações possíveis de bens e serviços produzidos na economia, partindo-se de uma situação de pleno emprego. No quadro a seguir, vamos apresentar uma pequena economia que esteja produzindo somente dois bens, como as seguintes combinações de arroz e brinquedo. Em qualquer ponto a ser escolhido pelo estudante, podemos observar que, para aumentar a produção de arroz, a economia deve sacrificar a produção de brinquedos. Do mesmo modo, se a economia aumentar a produção de brinquedos, ela deve sacrificar a produção de arroz. Na tabela a seguir, é possível observar que: para cada unidade de arroz a ser produzida, há uma renúncia de 10 unidades de brinquedo. Em sentido inverso: para cada unidade de brinquedo a ser produzida, há uma redução de 0,1 unidades de produção de arroz. Diversas combinações possíveis de produção de dois bens e uma economia em pleno emprego. 43 Arroz Brinquedo 0 80 1 70 2 60 3 50 4 40 5 30 6 20 7 10 8 0 Tabela 4: Combinações possíveis de produção de dois bens e uma economia em pleno emprego Figura 4: Curva de Possibilidade de Produção 44 Nem sempre é possível constatar que a substituição de um produto por outro, conforme exemplo apresentado, exiba valores constantes. É mais provável encontrar o contrário, pois os valores tendem a ser diferentes, em virtude dos trabalhadores empregados não terem as mesmas habilidades na produção em todas as mercadorias. O agricultor que produz arroz não tem as mesmas habilidades de um operário que produz brinquedos e vice-versa. Lucros Contábeis e Lucros Econômicos Suponha que um confeiteiro monte seu negócio em uma loja alugada e pague R$ 10 mil de aluguel. Suponha ainda que ele gaste mensalmente outros R$ 10 mil com matérias-primas e R$ 20 mil com mão de obra. Somando-se tudo, teríamos R$ 40 mil em custos para a operação do açougue. Mas se o confeiteiro comprar a loja, ele deixará de pagar aluguel. Isso, sem dúvida, reduziria os seus custos explícitos em R$ 10 mil. Mas os seus custos econômicos permaneceriam idênticos, pois existe um custo de oportunidade associado ao funcionamento do açougue naquela loja. Ora, se a confeitaria não estivesse funcionando ali, o dono do negócio, no caso, o confeiteiro, poderia alugar a loja por R$ 10 mil. Assim, a compra da loja não diminui os custos sob o ponto de vista econômico, apenas transforma um custo explícito, isto é, um desembolso, em um custo implícito. A consideração ou não dos custos implícitos de oportunidade é o que diferencia a visão de um economista para a visão de um contador. 45 Como exemplo dessas diferentes visões, considere a diferença entre o lucro contábil e o lucro econômico, às vezes, também chamado de lucro econômico puro. Como visto anteriormente, a empresa produz e vende seus produtos e serviços obtendo, então, sua receita total. Se dessa receita você deduzir somente os custos explícitos, isto é, aqueles custos que implicam desembolsos de recursos monetários, você obtém o lucro contábil. Para obter o lucro econômico, devemos ainda deduzir todos aqueles custos implícitos, ou seja, aqueles custos que não implicam em desembolsos, mas que são, todavia, custos de oportunidade. Observe que o lucro econômico será sempre menor que o lucro contábil. Assim, quando você se deparar com o lucro publicado de uma empresa, lembre-se que tal resultado é contábil, e não é o melhor indicador para se avaliar o real desempenho da empresa, pois não leva em conta o custo de oportunidade associado ao emprego do seu próprio capital. Figura 5: Lucro econômico e contábil 46 SAIBA MAIS Ao terminamos esta aula, vale fazer a leitura do texto complementar disponível no acervo da disciplina, intitulado “Os custos de oportunidade do curso superior” . Trata-se de um interessante trecho do livro Introdução à Economia, de Stiglitz e Walsh. 47 https://assets.website-files.com/5d2758a6a29990a0fe2dbbbd/5d276b986b5b902e33c5938f_texto4.pdfcapa_unidade1 Aula 1-1 Aula 1-2 Aula 1-3 Aula 1-4 Aula 1-5 Aula 1-6
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