Buscar

RASF-V01N01

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 136 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 136 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 136 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ASSISTÊNCIA
SOCIAL EM FOCO
ANO 01, VOLUME 01, NÚMERO 01
Revista trimestral sobre a política de assistência
social.
ANDRÉ DÓRIA CONSULTORIA
ORG. ANDRÉ DÓRIA
 
 
 
 
Assistência Social Em Foco: volume 1 
 
 
Organização: André Luiz Novais Dória 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Maurício Amormino Júnior, CRB6/2422) 
 
A848 Assistência social em foco / Organizador André Luiz Novais Dória. Vol. 1, 
n. 1 (nov. 2019). São Cristóvão, SE: André Dória Consultoria, 2019- 
 v. : il. 
 
Trimestral. 
Vol. 1, n. 1 (2019)- 
ISBN 978-65-81370-00-8 
 
1. Assistência social. 2. Direitos fundamentais. I. Dória, André Luiz 
Novais. 
 CDD 300 
 
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422 
 
 
ANDRÉ DÓRIA CONSULTORIA 
 
São Cristóvão/SE 
2019
 
2
 
 
SUMÁRIO 
EDITORIAL ............................................................................................................................... 4 
PROJETO DE ENFRENTAMENTO À POBREZA - TECENDO NOVOS CAMINHOS: 
INCENTIVO ÀS MULHERES ARTESÃS/RENDEIRAS DE BAIXA RENDA E 
USUÁRIAS DOS SERVIÇOS OFERTADOS PELO CRAS ÉRICK DE SOUZA SILVA DO 
MUNICÍPIO DE COQUEIRO SECO/ AL. ............................................................................... 6 
MEU INSS: INCLUSÃO OU EXCLUSÃO? .......................................................................... 14 
O DESMONTE DA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA: UM CONTEXTO DE RETROCESSO 
SOCIO HISTÓRICO ................................................................................................................ 25 
A ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS ENTRAVES ENTRE AS DEMANDAS ESPONTÂNEAS 
E O ACOMPANHAMENTO FAMILIAR NOS CRAS DOS MUNICÍPIOS DE 
PIRACURUCA - PI E PIRIPIRI – PI ...................................................................................... 34 
INTERSETORIALIDADE: ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS 
FAMÍLIAS ACOMPANHADAS PELA ASSISTÊNCIA SOCIAL DE SÃO MIGUEL DOS 
CAMPOS / ALAGOAS ........................................................................................................... 44 
MIGRANTES E ANDARILHOS ENTRE A PROTEÇÃO E DESPROTEÇÃO ................... 54 
O LUGAR DO FEMININO NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A ATUAÇÃO DO CENTRO 
REFERÊNCIA ESPECIALIZADA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (CREAS) NO 
CONTEXTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. ....................................................... 65 
A INGERÊNCIA CONSTITUCIONAL (?) DO ESTADO Ante A AUTONEGLIGÊNCIA 
DOS IDOSOS .......................................................................................................................... 75 
GARANTINDO A PROTEÇÃO INTEGRAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
ACOLHIDOS INSTITUCIONALMENTE, ATRAVÉS DA ARTICULAÇÃO EM REDE. . 84 
PROJETO EXPEDIÇÃO: DESCOBRINDO NOVOS REPERTÓRIOS DE VIDA. ............. 94 
DIREITOS SOCIOASSITENCIAIS É DIREITO HUMANO: PARA OS SUJEITOS DE 
DIREITOS .............................................................................................................................. 102 
 
3
 
REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - 
SUAS ...................................................................................................................................... 112 
O CADASTRO ÚNICO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO E SUA RELAÇÃO COM 
O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DOS 
CAMPOS/AL. ........................................................................................................................ 122 
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ......................................................................................... 133 
 
4
 
EDITORIAL 
 
A Revista Assistência Social em Foco inaugura um novo marco no processo de 
divulgação da produção do conhecimento sobre a Política de Assistência Social e sobre temas 
que nos são importantes ao pensar, elabora e executar as ações previstas nesta política. 
Aqui abrimos espaço para que os mais variados perfis de pesquisadores possam 
divulgar suas produções, sejam a partir de experiências exitosas, seja a partir das pesquisas 
bibliográficas, ou ainda sob a ótica da pesquisa de campo. 
Entendemos que a partilha de conhecimentos é fundamental para a defesa 
intransigente desta política, como campo de intervenção na realidade das famílias brasileiras 
que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco social, tendo assim importância 
ímpar no processo de fortalecimento da autonomia e da garantia de direitos dessas famílias. 
Trimestralmente teremos um encontro marcado com o compartilhamento dos muitos 
sabres, sempre distribuídos de forma gratuita, com intuito de chegar cada vez mais longe, 
formando e fortalecendo trabalhadores/as do Sistema Único de Assistência Social de todo 
Brasil, mas não só eles, pautamos também o debate com os conselheiros da assistência social, 
que tem a nobre tarefa de fiscalizar e auxiliar no processo de construção e fortalecimento 
desta política. 
Sendo assim, convido você que me lê neste momento a compartilhar essa nossa 
revista com todxs que você acredite que precisam acessar este conhecimento, formaremos 
assim uma rede de compartilhamento de informações que irão nos ajudar a consolidar a 
Política de Assistência Social, como Política Pública, com financiamento público e 
participação social. 
Abraços e boa leitura. 
Novembro de 2019 
 
 
André Luiz Novais Dória 
Assistente Social, Professor e Consultor Especializado no SUAS 
 
 
5
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROTEÇÃO 
SOCIAL 
BÁSICA 
 
6
 
Jadna dos Santos Cavalcante1 
Edjane Aragão Dias de Góes2 
Josicleide de Oliveira Freire3 
 
PROJETO DE ENFRENTAMENTO À POBREZA - TECENDO NOVOS 
CAMINHOS: INCENTIVO ÀS MULHERES ARTESÃS/RENDEIRAS DE 
BAIXA RENDA E USUÁRIAS DOS SERVIÇOS OFERTADOS PELO 
CRAS ÉRICK DE SOUZA SILVA DO MUNICÍPIO DE COQUEIRO 
SECO/ AL. 
 
Resumo 
Este artigo tem como objetivo apresentar as boas práticas desenvolvidas pelo Centro de 
Referência da Assistência Social − CRAS − Érick de Souza Silva, equipamento da Proteção 
Social Básica do município de Coqueiro Seco, no tocante ao enfrentamento à pobreza, por 
meio dos projetos desenvolvidos, com vistas à qualificação, geração de renda, agregação de 
valores e incentivo ao comércio, com consequente do desenvolvimento da economia local. 
Entre esses projetos consta o intitulado Tecendo Novos Caminhos, o qual, além de fomentar a 
aptidão das mulheres artesãs e rendeiras do município, haja vista que são mulheres de baixa 
renda, inscritas no Cadastro Único e inseridas num contexto de vulnerabilidade e risco social, 
constitui-se não só como uma fonte de renda, mas como agente que promove a dignidade na 
vida dessas mulheres, bem como seu direito humano enquanto mulheres e sujeitos de direito, 
visto que têm históricos de violência intrafamiliar, marcas de uma cultura patriarcal. 
Palavras-chave: mulher; patriarcalismo; questão social; Tecendo Novos Caminhos. 
 
Abstract 
This article aims to present the good practices developed by the Reference Center for Social 
Assistance − CRAS − Érick de Souza Silva, equipment of the Basic Social Protection of the 
municipality of Coqueiro Seco, regarding the confrontation of poverty, through projects 
aimed at qualification. , income generation, value addition and commercialization for the 
development of the local economy, among them, the project entitled: Tecendo Novos 
Caminhos. This project, in addition to fostering the skills of women artisans and lacemakers 
in the municipality, as they are low-income women, registered in the Single Registry, inserted 
in a vulnerable situation, is not only a source of income, but also promotes them. women the 
condition of dignity, of their human right as a woman and right subject, since there are 
histories of intrafamily violence, marks of a patriarchal culture. 
Keyword: woman; patriarchy; social issues; Tecendo Novos Caminhos. 
 
Introdução 
Sabe-se que o contexto atualmente vivenciado de desmonte dosdireitos sociais tem 
deixado muitos segmentos vulneráveis e sem acesso às políticas sociais legitimadas pela 
 
1 Especialista em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade Tiradentes (UNIT). Assistente Social, 
atualmente na coordenação do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS – Érick de Souza Silva do 
município de Coqueiro Seco/AL. 
2 Assistente Social, atualmente está na assessoria da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social da 
Prefeitura Municipal de Coqueiro Seco/AL. 
3 Mestra em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Assistente Social do Centro de 
Referência Especializado de Assistência Social – CREAS – Quitéria Gomes Luciano no município de Coqueiro 
Seco/AL. 
 
7
 
Constituição Federal de 1988. Essa atual conjuntura, principalmente no âmbito das políticas 
sociais, encontrou restrição ao acesso e dificuldade de ingresso de “usuários”, uma vez que 
algumas políticas sociais têm se tornado mercadoria. 
Com o advento do neoliberalismo no Brasil, na década de 1990, as políticas sociais 
têm sofrido um impacto devido à intervenção mínima do Estado na área social, que por sua 
vez tem realizado algumas intervenções de forma focalizada, seletiva e fragmentada, 
descaracterizando o caráter de direito e transformando os usuários em meros consumidores 
das políticas. 
É dentro desse contexto de precarização das políticas sociais e retomada do Estado 
nas políticas de combate à extrema pobreza, por meio dos programas de transferência de 
renda, que nos despertou o interesse em fortalecer o grupo das artesãs e rendeiras no 
município de Coqueiro Seco. Dessa forma, partiu-se da identificação dos desafios postos à 
realidade vivenciada por elas, tendo em vista as atividades desenvolvidas pelo Centro de 
Referência de Assistência Social – CRAS, dentre elas o desenvolvimento de grupos formados 
pelos usuários assistidos pela política de proteção social básica, com o foco no fortalecimento 
dos vínculos familiares, de modo a prevenir rupturas, conforme disposto no Serviço de 
Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). 
Sendo assim, identificar a realidade vivenciada por essas mulheres no município, bem 
como traçar estratégias para a minimização das refrações da questão social colocaram-se 
como um desafio para a criação e implementação do projeto. É nesse horizonte que se 
desenha o projeto Tecendo Novos Caminhos, que tem como objetivo fomentar as aptidões e 
contribuir para condições dignas de sobrevivência, efetivação do direito humano enquanto 
mulher e conscientização quanto a ser sujeito de direitos, fortalecendo os vínculos familiares. 
 
Perfil socioeconômico das mulheres artesãs/rendeiras do Município de Coqueiro Seco 
Tendo como objetivo apresentar o projeto Tecendo Novo Caminho destinado às 
mulheres artesãs e rendeiras do município de Coqueiro Seco, faz-se necessário expor quem 
são essas mulheres, ou seja, qual o papel que elas ocupam na sua comunidade, bem como as 
relações que se desenvolvem, seja no plano econômico, cultural ou social. Para tanto, faremos 
uma exposição de como se manifestam as relações de gênero, a venda da força de trabalho e 
as expressões da questão social, partindo do todo para explicarmos o particular, isto é, 
entende-se que tais categorias são a chave para evidenciar as condições de vida do trabalhador 
e o papel que a mulher ocupa na sociedade capitalista, no caso em tela, as mulheres rendeiras 
e artesãs do município de Coqueiro Seco/ AL. 
 
8
 
O município de Coqueiro Seco, localizado na região metropolitana de Maceió, com 
uma população atual de um pouco mais de 7 mil habitantes, é reconhecida como uma cidade 
dormitório, visto que a atividade econômica existente na região não é suficiente para 
empregar e fixar a população ativa, tendo que a maioria dos seus moradores deslocar-se 
diariamente para Maceió ou municípios circunvizinhos para exercerem sua profissão, haja 
vista que a atividade comercial é incipiente. Por isso, o setor que mais emprega, no município, 
é a esfera pública. 
No que tange ao modo de vida e trabalho da população coqueirense, a atividade 
predominante se dá às margens da lagoa, com a piscicultura e a extração do sururu, além do 
artesanato, com o trabalho desenvolvido pelas rendeiras e artesãs. Quanto aos aspectos 
socioeconômicos, as condições de vida da população é de baixa renda, sendo este o público 
dos programas de transferência de renda, entre eles o Programa Bolsa Família (PBF), 
destinado a atender as famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, visando a 
garantir a essas famílias o direito à alimentação, o acesso à saúde e à educação, condição para 
continuidade no programa. 
Além dos programas de transferência de renda, temos a oferta dos benefícios 
eventuais da Política de Assistência Social, que são operacionalizados pela Proteção Social 
Básica, nos Centros de Referência de Assistência Social, sendo este benefício de caráter 
suplementar e provisório, prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de nascimento, 
morte, situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública, conforme disposto 
no artigo 22 da Lei 8.742/93 (BRASIL, 1993). 
Assim sendo, as condições de vida da população orbitam em atividades de caráter 
informal, com vínculos precários, e nos programas de transferência de renda, bem como nos 
benefícios eventuais e serviços ofertados pela proteção social básica. Prova disso é que, 
segundo dados do IBGE (2010), os domicílios com rendimento mensal de até meio salário 
mínimo por pessoa representavam 48,3% da população, ou seja, metade dos habitantes, o que 
a colocava na posição 87 dentre as 102 cidades do estado; e em 1682, das 5570 do Brasil. 
 
Em 2015, o salário médio mensal era de 1,5 salários mínimos. A proporção de 
pessoas ocupadas em relação à população total era de 6,3%. Na comparação com os 
outros municípios do estado, ocupava as posições 79 de 102 e 66 de 102, 
respectivamente. Já na comparação com cidades do país todo, ficava na posição 
4821 de 5570 e 4634 de 5570, respectivamente. Considerando domicílios com 
rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 48,3% da 
população nessas condições, o que o colocava na posição 87 de 102, dentre as 
cidades do estado, e na posição 1682 de 5570, dentre as cidades do Brasil (IBGE, 
2010). 
 
 
9
 
Assim, com a crise instalada no país, o cenário social tem se aprofundado e o número 
de famílias sem renda tem aumentado significativamente. Como consequência, as demandas 
aos equipamentos sociais têm crescido de forma considerável nesses últimos anos, o que 
demonstra que o processo de geração de riqueza no modo de produção capitalista é o 
responsável por reproduzir a pobreza e demais expressões da questão social na vida do 
trabalhador, as quais só tendem a se intensificar à medida que o capital se expande e acumula 
riqueza, visto que, à medida que o trabalhador produz a riqueza, em proporção inversa, 
reproduz sua condição objetiva de miséria, haja vista que os bens por ele produzido não lhe 
pertencem. 
Netto e Braz (2012) afirmam que o desenvolvimento se dá por demandas maiores por 
máquinas, instrumentos, instalações, materiais e insumo, configurando-se uma menor procura 
por força de trabalho ou trabalho vivo. Para os autores, ocorre, como consequência para a 
classe trabalhadora, o aparecimento de um exército industrial de reserva, um contingente de 
trabalhadores desempregados que não encontram compradores para a sua força de trabalho, o 
que possibilita ao capitalista pressionar os salários para baixo. 
Esse contingente constitui a superpopulação relativa, representada pelas seguintes 
camadas de trabalhadores: camada flutuante, composta por trabalhadores de grandes centros 
industriais e mineiros, que ora se encontram empregados, ora desempregados; camada latente, 
que corresponde às áreas urbanas e rurais, quando nelas se desenvolvem relaçõescapitalistas 
– sendo que esses trabalhadores, quando expulsos ou quando lhe são tirados os meios de 
produção, passam a migrar para zonas industriais; camada estagnada, composta pelos 
trabalhadores que jamais conseguem emprego fixo, perambulando entre uma ocupação e 
outra; e o lumpem proletariado, parcela degradada do proletariado, composta por vagabundos, 
criminosos, prostitutas, rufiões e os que vegetam na miséria e no pauperismo. 
O surgimento do exército industrial de reserva trouxe, nesse cenário, outras 
implicações para a classe trabalhadora, como o processo de pauperização, manifestando-se de 
forma absoluta e/ou relativa. A pauperização absoluta representa uma degradação nas 
condições de vida e trabalho da classe trabalhadora, em virtude da queda dos salários, 
aviltamento dos padrões de alimentação e moradia, intensificação do ritmo de trabalho e 
aumento do desemprego. Na pauperização relativa, considera-se que, mesmo havendo uma 
melhoria nas condições de vida dos trabalhadores em termos de alimentação e moradia, o 
valor criado pelo trabalhador é reduzido, ao mesmo tempo em que cresce a parte que compete 
ao capitalista. É dessa parcela da sociedade que nos ocupamos no projeto ora referido, tendo 
 
1
0
 
em vista que são trabalhadores que, dadas as condições de desemprego, compõem um 
exército industrial de reserva e têm suas condições de vida aviltadas. 
Destarte, trabalhar as aptidões da população tem sido uma estratégia pensada para 
minimizar as mazelas oriundas desta contradição entre capital e trabalho na vida do 
trabalhador, apresentando-se como um meio de geração de renda a essas famílias. É nesse 
prisma que nasce o projeto de incentivo às mulheres artesãs, beneficiário dos serviços 
ofertados pelo equipamento da Proteção Social Básica – CRAS. Uma vez que a cultura do 
município se destaca pela música, culinária, pesca e, em especial, pelo artesanato, ponto forte 
e significativa fonte de renda da região, e tendo em vista que a atividade na lagoa não tem 
gerado mais a produção de outrora, muitas famílias, ao não conseguirem prover sua própria 
subsistência, passaram a fomentar projetos de incentivo à capitação de renda, meio que tem 
constituído não só uma forma de garantir sua sobrevivência, mas de trabalhar a autoestima, 
autonomia e empoderamento desse segmento. 
Ressalta-se que o cunho desse projeto não é apenas promover um meio de geração de 
renda, mas de trabalhar a autonomia e autoestima dessas mulheres. Desse modo, devemos 
compreender o lugar que elas ocupam em suas casas e a forma como se dão as relações com 
seus pares, muitas vezes marcadas pela violência intrafamiliar, fruto de uma cultura patriarcal, 
em que ainda impera a figura do homem na tomada de decisão em tudo que atinge a família. 
Com isso, muitas mulheres são silenciadas e perdem o direito sobre seu corpo, sua vida e seus 
filhos. É essa mulher silenciada, com sua dignidade humana desrespeitada, que constitui o 
público alvo do projeto Tecendo Novos Caminhos, que a conscientiza de seu papel enquanto 
sujeito de direito, desenvolvendo aptidões e fomentando informação nas mais diversas áreas. 
O projeto Tecendo Novos Caminhos, além de se apresentar como uma forma de 
capacitação, contribui para a aptidão dessas mulheres, constituindo-se como uma fonte de 
renda. Nessa direção, seu papel vai além daquilo que foi posto, visto que dá a essas mulheres 
condições de dignidade e de exercício de seu direito humano enquanto mulher e sujeito de 
direito. É por meio do referido projeto e com uma série de atividades nele incluídas, tais como 
rodas de conversa, palestras e campanhas, articuladas com as mais diversas políticas públicas, 
que conseguimos desenvolver junto a essas mulheres a conscientização de seus direitos e 
deveres, bem como, dos meios legais e protetivos conferidos à mulher. No tópico seguinte 
faremos uma breve exposição sobre o projeto e os principais frutos obtidos com a sua 
execução. 
 
Tecendo Novos Caminhos 
 
1
1
 
O projeto Tecendo Novos Caminhos surgiu da necessidade de organização e 
qualificação da cadeia produtiva composta por mulheres artesãs, que confeccionam redes de 
nó para suprir as necessidades da família, sendo esta a fonte primária para a produção do 
bordado de filé (Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas). 
Devido aos reflexos da crise econômica que assola ao país, o número de usuários que 
procuram atendimento nos equipamentos sociais tem aumentado consideravelmente. Com o 
crescente número de desempregados e as políticas públicas cada vez mais seletivas, 
precarizadas, fragmentadas, algumas estratégias têm sido utilizadas pela equipe técnica do 
CRAS no que se refere à organização de grupos produtivos. 
Por ser um município muito próximo à capital, Coqueiro Seco recebe muitos 
“atravessadores”, os quais, por sua vez, adquirem o produto a baixo preço e o levam para 
Maceió para serem comercializados no valor de mercado. Esses atravessadores também 
existem no grupo de pescadores. 
A partir desta problemática, a equipe técnica do CRAS, em parceria com a Secretaria 
Municipal de Turismo, vem desenvolvendo um trabalho de empoderamento a este grupo de 
artesãs para capacitá-las e para que possam vender seu produto com qualidade, recebendo o 
valor de mercado. 
Como a partir de 2015, a profissão de artesão é regulamentada pela Lei de nº 13.182 
de 22 de outubro, nosso primeiro passo foi realizar uma busca ativa e organizar todos os 
profissionais para que pudéssemos realizar um cadastro e mensurar o quantitativo. Como 
passo seguinte, começamos a realizar encontros com objetivo de fortalecer o grupo, pois 
compreendemos a importância desta atividade econômica para o município e, 
consequentemente, para o estado, já que a rede de nó é considerada fonte primária do bordado 
filé de Alagoas. Conseguimos, posteriormente, uma parceria com a Secretaria de Estado de 
Desenvolvimento Econômico e Turismo (SEDETUR), para que fossem emitidas as carteiras 
das artesãs e, a partir desse momento, teríamos um divisor de águas nas vidas destas usuárias. 
A aquisição da carteira do artesão trouxe uma série de benefícios a todas além da 
garantia de isenção de ICMS na emissão de notas fiscais avulsas na comercialização dos 
produtos, facilidade ao microcrédito, possiblidade de ser contribuinte autônomo para fins 
previdenciários, participação em feiras de artesanato nacionais e internacionais, bem como 
outros. 
Para que os produtos sejam adquiridos pelo consumidor, há uma série de exigências 
impostas pelo mercado, como qualidade, tamanho da malha, metragem. Tais exigências 
permitem ao artesão que faz o bordado de filé elaborar uma peça com qualidade, pois quando 
 
1
2
 
há alguma falha na confecção da linha de nó, esta faz com que o bordado fique comprometido 
com algumas falhas. Neste sentindo, conseguimos uma parceria com o Instituto do Bordado 
de Filé da região das lagoas Mundaú e Manguaba (IBORDAL), considerada a maior 
referência em bordado filé no Estado de Alagoas, para proporcionar melhor qualificação ao 
ponto da linha de nó e estímulo ao aperfeiçoamento dos métodos e processos de produção. 
Com este novo parceiro, novos desafios foram postos, dentre eles a resistência em 
aperfeiçoar o ponto e seguir os parâmetros do instituto para aprender técnica e aprimorar os 
conhecimentos, na verdade sair da zona de conforto. Porém, a intenção foi fazer com que as 
artesãs tivessem uma referência e que pudessem escoar o produto diretamente para o Instituto, 
para que pudéssemos diminuir ou até mesmo acabar com atravessadores. 
A qualificação do grupo valorizou a produção da linha de nó e, consequentemente, 
aumentou as perspectivas das artesãs, que passaram a produzir nos parâmetros exigidos e, 
com isso, puderam agregar valor para comercializar com qualidade. Além de ter uma 
referência no IBORDAL, as artesãs também podem adquirir os novelos de linhas a um custo 
maisacessível. 
A iniciativa deste projeto junto a outros desenvolvidos possibilitou ao município a 
participação no Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor na categoria “Políticas Públicas para o 
desenvolvimento dos Pequenos Negócios”, no qual avaliam-se projetos para aprimoramento 
do ambiente dos pequenos negócios, por meio da implementação de políticas públicas 
baseadas na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, voltadas para a melhoria na legislação 
municipal e no âmbito empresarial e associativo. Esse prêmio foi consequência de um 
trabalho desenvolvido com êxito pela equipe do CRAS, tendo em vista a valorização dos 
pequenos negócios, especificamente das artesãs que confeccionam a rede de nó, pois este 
trabalho manual proporciona a elas parte do sustento das famílias e, consequentemente, é a 
mola propulsora da economia municipal. 
Atualmente, o grupo de mulheres artesãs é um grupo contínuo do CRAS. Os 
encontros acontecem quinzenalmente e já conseguimos expandir para a zona rural. Em meio 
aos desafios diários, aos contratempos, o grupo está sendo fortalecido e é assistido por uma 
assistente social que desenvolve oficinas, tendo em vista o empoderamento feminino e o 
fortalecimento dos vínculos comunitários. 
 
Conclusão 
O fortalecimento dos vínculos comunitários, a organização das artesãs e o 
empoderamento feminino, especificamente das artesãs que fazem parte do Centro de 
 
1
3
 
Referência de Assistência Social do município de Coqueiro Seco, têm constituído os objetivos 
do trabalho desenvolvido desde o ano de 2017. 
Apesar de pertencer à região metropolitana de Maceió/AL, Coqueiro Seco é um 
município pobre, que tem mais da metade da sua população em situação de vulnerabilidade 
social. Os indicadores do município nos motivaram a buscar estratégias para desenvolver e 
incentivar os usuários que frequentam os equipamentos sociais a gerar renda a partir de suas 
aptidões, para que possam contribuir com o sustento da família. 
O trabalho com os grupos tem sido um grande desafio diário, mas com o 
conhecimento das demandas do território e das aptidões das usuárias, novas estratégias são 
traçadas para que as famílias consigam minimamente ter sua autonomia. 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
Brasil. Lei 8.742 de 07 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência 
Social e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742compilado.htm>. Acessado em 12 set. 2019. 
 
IBGE − INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades, 2010. 
Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/coqueiro-seco>. Acessado em 12 set. 
2019. 
NETTO, J. P; BRAZ, M. A acumulação capitalista e o movimento do capital. In Economia 
Política: uma introdução critica. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2012. 
 
1
4
 
Paula Regina Wenceslau Lloyd4 
Jucilaine Neves Sousa Wivaldo5 
 
MEU INSS: INCLUSÃO OU EXCLUSÃO? 
 
Resumo 
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está implantando em todas as suas agências o 
novo modelo de atendimento, também conhecido como INSS Digital com o discurso de 
agilidade dos serviços e melhoria do atendimento aos cidadãos. Tal dado culmina na 
Seguridade Social, aqui com o foco na Previdência Social por meio do INSS, regida pela 
lógica neoliberal na atual conjuntura. Este estudo tem como objetivo central analisar possíveis 
impactos da implantação do INSS digital para os usuários dos serviços. A metodologia 
adotada foi de forma estruturada, sendo feito um questionário que foi respondido por 
profissionais da rede do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) de 12 municípios da 
região do SUL de Minas Gerais onde esses informaram se está ocorrendo impactos com a 
implantação do INSS Digital para a população atendida em seus respectivos municípios. É 
consenso entre os entrevistados o impacto do INSS Digital na vida dos cidadãos sem 
escolaridade e sem acesso a tecnologias. Outro aspecto quanto à informatização dos 
atendimentos via INSS digital é a limitação de informação e orientação quando da habilitação 
virtual, o que poderá trazer um prejuízo enorme ao cidadão que sem informações poderá ter 
seu benefício indeferido por não possuir toda documentação comprobatória, sendo que no 
atendimento presencial, havia orientação e informação prévia ao cidadão. 
Palavras-Chave: seguridade social, neoliberalismo, impactos, INSS Digital, tecnologias. 
 
Abstract 
The National Institute of Social Security (INSS) is implementing in all its agencies the new 
model of care, also known as INSS Digital with the speech of agility of services and 
improved service to citizens. This fact culminates in Social Security, here focusing on Social 
Security through the INSS, governed by neoliberal logic in the current conjuncture. This 
study aims to analyze possible impacts of the implementation of digital INSS for users of 
services. The methodology adopted was structured, and a questionnaire was answered by 
professionals from the Unified Social Assistance System (SUAS) network of 12 
municipalities in the south region of Minas Gerais, where they reported whether impacts were 
occurring with the implementation of the INSS. Digital for the population served in their 
respective municipalities. It is a consensus among respondents the impact of INSS Digital on 
the lives of citizens without education and without access to technologies. It is a consensus 
among respondents the impact of INSS Digital on the lives of citizens without education and 
without access to technologies. Another aspect regarding the computerization of attendances 
via digital INSS is the limitation of information and guidance during virtual habilitation, 
which can cause a huge damage to citizens who without information may have their benefit 
rejected because they do not have all supporting documentation. face-to-face, there was 
guidance and prior information to the citizen. 
Keywords: social security, neoliberalism, impacts INSS Digital, Technologies. 
 
4
 Mestranda em Desenvolvimento Sustentável e Extensão, Universidade Federal de Lavras, Assistente Social no 
Instituto Nacional do Seguro Social. 
5
 Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Extensão, Universidade Federal de Lavras, Assistente Social na 
Secretaria Municipal de Assistência Social de Perdões-MG. 
 
1
5
 
 
 
Introdução 
Com a instituição da Constituição Brasileira em 1988 é implantado o termo 
Seguridade Social que apresenta em seu conceito o tripé constituído pela Saúde, direito 
universal, destinada para todos; Assistência Social, para quem dela necessitar; e Previdência 
Social, com cunho contributivo, com intuito de buscar a ampliação das coberturas 
previdenciárias para todos os cidadãos. Tais direitos surgiram por um processo de lutas de 
classe e da sociedade organizada, onde buscava-se a ampliação e a universalização no acesso 
às políticas públicas. Em contraponto, com o decorrer do tempo as políticas públicas vêm 
sofrendo retrocessos que impactam diretamente na vida de todos os cidadãos e o presente 
trabalho vêm especialmente tratar essa perspectiva na Previdência Social. 
Diante do cenário neoliberal que se instalou no país após os anos 90, o acesso aos 
direitos sociais vai se restringindo se expressando em regressões das políticas sociais, 
mercantilização dos serviços considerados essenciais para a população a exemplo da 
educação, da saúde, dentre outros. Nesta perspectiva, o presente trabalho almeja analisar na 
atualidade o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o seu novo modelo de atendimento 
conhecido como INSS Digital. Desse modo, este estudo tem como objetivo central analisar 
possíveis impactos da implantação do INSS digital. 
Essa nova modalidade de atendimento é uma realidade em território nacional nas 
mais de 1500 unidades espalhadas pelo país, aonde o usuário vai à Agência da Previdência 
Social somente após o agendamento do serviço, ou o seu requerimentoé atendido totalmente 
em ambiente virtual. Com a promessa de agilidade, ocorre a tramitação eletrônica de todo 
processo. Outra possibilidade é a concessão automática de benefícios, sem que o usuário 
tenha que deslocar até a agência, caso já tenha atingido todos os critérios. Entretanto, nesse 
novo sistema é preciso levar em consideração alguns aspectos que não são mencionados com 
a inovação virtual do INSS. Assim, todos os serviços, independente da complexidade e da 
solicitação de benefícios previdenciários, são realizados pelos canais remotos da instituição, 
sendo eles via telefone, pelo número 135 e/ou pela internet. 
Vale ressaltar que o processo do INSS digital é apenas um dos reflexos dos 
desmontes das Políticas Públicas. Como exemplo, temos a PEC 55 aprovada pelo Senado 
Federal em 13/12/16, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que impõe um teto 
aos gastos públicos pelos próximos 20 anos o que reflete em redução de investimentos na 
educação, saúde, assistência social. Apresentam-se também pacotes de contenção de gastos 
por meio de solicitação de várias revisões de benefícios ou chamado “pente fino”. A 
1 
 
1
6
 
paralisação dos concursos públicos é outra ação que impacta a população e sobrecarrega os 
servidores, aumenta a demanda de trabalho, porém com um número reduzido de funcionários. 
O presente trabalho abordará no primeiro momento a evolução das políticas públicas 
com a instituição da Constituição de 88. Em seguida, à regressão dos direitos sociais com o 
avanço das expressões do neoliberalismo em nosso país. Dando prosseguimento é apresentado 
os métodos utilizados na pesquisa e os resultados encontrados e por fim breves considerações 
acerca do estudo. 
 
Referencial Teórico 
No Brasil as primeiras políticas sociais não nasceram para garantir direitos 
fundamentais, dignidade ou a igualdade entre todos. Desde a abolição do trabalho escravo, o 
país tentava organizar-se economicamente segundo os princípios do laissez-faire clássico, a 
doutrina capitalista que antecedeu o liberalismo econômico e preconizava a liberdade absoluta 
de produção e comercialização de mercadorias. Isso acontecia basicamente nas cidades. Na 
área rural, porém, mesmo com a abolição, o que acontecia era uma mudança na forma de 
servidão (SANTOS, 1979). 
Para Santos (1979) a ideia de cidadania no país se iniciou nos tempos do Império, mas 
somente começou a vingar após a Revolução de 1930, na Era Vargas, o primeiro momento 
em que realmente se desenvolveu uma política social. Uma intervenção do Estado no sentido 
de regulamentar as profissões e, a partir delas, oferecer benefícios seria bem aceita, já que o 
laissez-faire não se mostrava eficaz para garantir a “felicidade da maioria”, como queriam os 
utilitaristas clássicos. 
Após o golpe militar de 1964, o país viveu um período que pode ser classificado como 
“cidadania em recesso”. A principal característica desse período foi o não reconhecimento do 
direito dos cidadãos ou da capacidade de a sociedade governar-se. Dessa forma, a sociedade 
brasileira, que já havia acompanhado o nascimento e desenvolvimento de uma cidadania 
baseada mais em pequenos ganhos sociais do que no próprio reconhecimento de seus direitos 
civis, nesse período foi privada de direitos e já não possuía autonomia para exercer a própria 
cidadania (SANTOS, 1979). 
Esse período fez crescer na população uma necessidade de criação e consolidação de 
um Estado de bem-estar no Brasil. Assim, a partir de lutas da classe trabalhadora e de 
diversos movimentos sociais, surge na legislação o conceito de Seguridade Social, instituído 
pela Constituição Brasileira, que traz direitos sociais nas áreas da Saúde, da Assistência 
Social e da Previdência Social. 
 
1
7
 
Na Saúde, os direitos se universalizam e são destinados para todos. Na Assistência 
Social é destinada para aqueles que necessitarem, nas situações de dificuldades e faltas. Já a 
Previdência Social, contributiva, muito embora tenha um cunho de ampliação de coberturas. 
Suas contribuições geram direitos previdenciários, nas situações adversas e cotidianas da 
vida, como na invalidez, morte, na velhice, na incapacidade, dentre outras situações, para si e 
para seus dependentes. 
Entretanto, neste contexto surgem as ofensivas do capital que com o processo de 
globalização da economia em ritmo acelerado provoca mudanças importantes nas relações 
entre Estado, sociedade e nação, que eram o centro da noção e da prática da cidadania 
ocidental. Na linha de fogo dos ataques encontra-se o próprio conceito de Seguridade Social 
nos termos em que está inscrito na Constituição de 1988. Os direitos sociais são afetados 
pelos cortes de benefícios, na descaracterização do estado de bem-estar, no desemprego 
estrutural, fruto de expressões do capitalismo com tais ofensivas neoliberais, como descreve 
(CARVALHO, 2001). 
Não obstante, após os anos 90 surgiram e expressaram as linhas das contrarreformas 
das diversas políticas públicas, mas aqui trataremos da política de previdência social em 
especial, que por muitos governos que passaram em nosso país fizeram diversas mudanças, 
sendo essas foram e são cruciais, pois desencadeiam sempre em recessão de direitos sociais 
para os cidadãos. As conquistas têm sido cotidianamente questionadas e são alvos de 
alterações, nesse atual contexto das reformas neoliberais. 
Nota-se que todas as ofensivas neoliberais levaram a perda de direitos 
previdenciários de categorias específicas sejam na depreciação de aposentadorias, pensões e 
outros benefícios de uma forma geral, seja no aumento do tempo de contribuição, na idade 
para a aposentadoria e outras alterações com intuito único de cercear direitos conquistados 
anteriormente. A Constituição de 1988 foi um marco quanto ao avanço dos direitos sociais. 
Entretanto, após a década de 1990 com a adoção do ideário neoliberal, constata-se um recuo 
nesses direitos. Para Pereira (2011) o capitalismo neoliberal vindo dos países do chamado 
Primeiro Mundo, e os mecanismos de coerção utilizados por organismos internacionais FMI e 
Banco Mundial no final da década de 1970 nos países de capitalismo avançado, provocaram a 
privatização de empresas públicas, algumas delas altamente rentáveis, a reforma dos sistemas 
previdenciários, resultou no retrocesso das políticas sociais. 
Desta forma foram feitas contrarreformas na área da previdência social nos anos de 
1998, 2003 e 2015. Não obstante, o atual governo em exercício de Michel Temer também 
sancionou a Lei publicou a Medida Provisória 739/2016 em 07 de Julho de 2016, que altera a 
 
1
8
 
Lei nº 8.213/91, promovendo alterações nos benefícios de aposentadoria por invalidez, no 
auxílio-doença, nos benefícios de prestação continuada e no tempo de carência quando se 
perde o período de graça que todo segurado da Previdência tem direito. A Medida Provisória 
739/16 previa a convocação do aposentado por invalidez ou do beneficiário do auxílio-doença 
e BPC, a qualquer momento, para que o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) constate 
a permanência da incapacidade laboral, ou impedimento de longo prazo ainda que o benefício 
tenha sido implantado uma decisão judicial, fazendo a revisão de todos os benefícios já 
elencados acima, com exceção daqueles que os beneficiários já esteja idoso (60 anos ou mais) 
que tenham aposentado por invalidez. 
E nesta leva de desmontes, surge o INSS Digital que vem trajada de modernidade, 
promessas de agilidade e de avanços tecnológicos para todos os cidadãos indistintamente. 
Contudo, há de se contestar tal afirmativa, diante de um cenário de desigualdades o que se 
torna contraditório em uma sociedade capitalista. Não há como negar que para uma parte da 
sociedade os avanços digitais e tecnológicos possam sim, facilitar o acesso aos serviços. Mas, 
em uma sociedade capitalista onde essas desigualdades estão presentes, tal inovação rebate 
diretamenteno acesso aos atendimentos, pois focaliza e dificulta o atendimento para 
determinado público. 
Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 
números absolutos, a taxa representa 11,5 milhões de pessoas que ainda não sabem ler e 
escrever. A incidência chega a ser quase três vezes maior na faixa da população de 60 anos ou 
mais de idade, 19,3%, e mais que o dobro entre pretos e pardos (9,3%) em relação aos 
brancos (4,0%).Quatorze das 27 unidades da federação, porém, já conseguiram alcançar a 
meta do PNE, mas o abismo regional ainda é grande, principalmente no Nordeste, que 
registrou a maior taxa entre as regiões, 14,5%. Os menores foram no Sul e Sudeste, que 
registraram 3,5% cada. No Centro-Oeste e Norte, os índices ficaram em 5,2% e 8,0%, 
respectivamente. 
Ressalta-se que nesses dados, não estão os analfabetos funcionais e digitais, o que 
pode se inferir que esse público poderá ter significativa dificuldade em acessar os serviços 
digitais disponibilizados pelo INSS. Sem levar em conta também que nem todos os usuários 
dos serviços terão produtos tecnológicos para se ter a demanda do serviço atendida. 
 
Metodologia 
A pesquisa desenvolveu-se sob o corpus de matérias jornalísticas, reportagens, que 
discorrem sobre o processo de informatização, pois não há estudos empíricos sobre o tema. 
 
1
9
 
Com consultas a sites como: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade 
Social (CNTSSCUT), Sindicato dos Trabalhadores Saúde, Trabalho e Previdência no RS 
(SINDISPREVRS), Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho Previdência 
Social no Estado do Ceará (SINDISPREVCE), OAB. 
Utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário aberto com quatro 
questões: Qual o impacto do INSS digital para os usuários de seu município?; O município 
tem estrutura para atender demandas do INSS digital?; De que forma o município está se 
organizando para atendimento das demandas do INSS digital?; Está tendo treinamento? Ou já 
teve, para atender as demandas do INSS digital?. As questões foram respondidas por 36 
profissionais da rede do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) de 12 municípios da 
região do Sul de Minas Gerais onde esses informaram se houve impacto com a implantação 
do INSS Digital para a população atendida em seus respectivos municípios. A identidade dos 
municípios mantém-se sigilosas para evitar quaisquer tipos de retaliação. Para identificação 
foram utilizados o termo entrevistado (E) e número entrevistado, E 1, E 2, E 3, E 4, E 5 
sucessivamente. 
 
Resultados e Discussões 
Em uma das reportagens descreve que “o modelo digital implementado pelo INSS 
dificulta o acesso da população, abre brecha para que intermediadores cobrem para emissão 
de senhas e para terceirização de serviços que deveriam ser públicos” (SINDISPREVRS, 
2018, online). Sendo essa assertiva confirmada nas falas dos municípios em resposta à 
questão qual o impacto INSS digital para os usuários de seu município: 
 “Trata-se de um município de pequeno porte, e os usuários do serviço 
socioassistencial são pessoas que não tem acesso ao computador nem 
a internet. Sendo assim, muitos ficam sem informação e são privados 
de terem acesso aos direitos previstos em lei” E1. 
“A maioria dos usuários que utilizam os serviços do INSS em meu 
município, são pessoas de baixa escolaridade e entendimento. Sendo 
assim, nem sempre conseguem, inclusive relatar os processos 
utilizados de contribuição” E11. 
“Impacto negativo quanto à linguagem técnica para pessoas 
analfabetas ou com grande dificuldade para ler e escrever. A 
tecnologia não substitui o contato com os profissionais que se 
preparam e qualificam para esse processo, mas que quase sempre 
trabalham de maneira precarizada” E26. 
“Infelizmente nossos usuários não estão preparados para tais 
mudanças, pois para os profissionais está sendo um desafio. Foi uma 
mudança positiva no sentido de que se tornou mais prático a 
solicitação de determinados benefícios do requerente na agência do 
 
2
0
 
INSS. As solicitações podem ser realizadas no ambiente com mais 
facilidade, no entanto, acredito que o usuário tenha muita dificuldade” 
E12. 
 
Um total de oito profissionais confirmou que o analfabetismo como questão central 
sendo um ponto negativo no processo de implantação do INSS digital. Assim como, nove 
profissionais afirmaram que os usuários dos serviços não têm acesso a internet, neste sentido, 
ficarão dependentes de terceiros. Sobre a questão dos intermediários também é confirmada na 
entrevista com os municípios: 
“O INSS digital burocratizou e lentificou o processo, e em função 
disso a demanda aumentou. Aumento das dificuldades de 
entendimento dos cidadãos isso inibe busca por orientações. Aumento 
da procura por advogados para requerer o benefício” E16. 
“Dificuldade de acesso ao portal digital, na escolha dos serviços 
solicitados. Acesso aos produtos tecnológicos (computador, celular 
com internet). Muitos usuários irão depender de terceiros para 
preenchimento dos serviços solicitados” E31. 
“Acredito que nem todos os usuários têm acesso a internet. Já a 
questão dos agendamentos serem realizados pelo 135 dificulta a vida 
do usuário, haja vista que, nem todos tem acesso, a mais, não sabem 
selecionar a opção correta” E27. 
 
Outra característica apontada SINDISPREVRS (2018) é em relação que “não há uma 
discussão transparente sobre a implementação do INSS e nem garantias sobre metas que serão 
definidas para o INSS digital, bem como sobre o modelo de tele trabalho. Nesse sentido 
argumenta, “quem arcará com os custos dos equipamentos para o servidor trabalhar fora de 
sua unidade de atendimento, quais serão os direitos garantidos ao tele trabalhador, o sistema 
de segurança contra invasões de hackers.” (SINDISPREVRS, 2018, online). Em relação a 
transparência não foi divulgado informações na mídia, ou outras formas de comunicação. 
Sendo essa assertiva observada na fala no entrevistado 6 “teve impacto negativo, pois não 
houve esclarecimento sobre o programa para a população e nem para os profissionais da área, 
o programa não é simples, de difícil acesso até para os profissionais”. Nesse contexto, “o 
INSS digital faz parte do processo de reforma da previdência e é por isso que a direção do 
Instituto não discute sua implementação com a categoria” (SINDISPREVRS, 2018, online). 
Sobre os custos recairá na Secretaria de Assistência Social, já que é um órgão de 
maior proximidade dos usuários em especial o Centro de Referência de Assistência Social e 
necessariamente além dos serviços e demandas diários assumirão as questões relacionadas ao 
INSS digital. Sobre este aspecto o entrevistado três discorre que além de dificuldade de 
“entendimento do usuário em acessar”, irá acontecer a “sobrecarga dos profissionais do 
 
2
1
 
SUAS”. Assim como apontado também pelo entrevistado 15“aumento de tarefas para os 
profissionais do SUAS podendo tomar o tempo que seria dedicado ao Serviço de Proteção e 
Atendimento Integral à Família (PAIF)”. 
Além das afirmativas citadas outros profissionais têm opiniões que o INSS digital 
possui dados divergentes, e quando há erro nas perguntas demora 24 horas para realizar nova 
tentativa isso faz com que o usuário tenha que voltar ao serviço novamente e se novamente 
errar ir até uma Agência do INSS. 
“Demora no atendimento dos agendamentos. Dificuldade para entrar 
no INSS. Dados divergentes para cadastrar a senha, dados da carteira 
não bate com as perguntas. Não tem serviço específico suficiente para 
atender a demanda com isso os profissionais ficam sobrecarregados. 
Dados confusos, fazendo assim com que o usuário volte à agência” 
E13. 
“Nesse primeiro momento estou percebendo dificuldades no acesso. 
Não é fácil criar senha e quando não é possível pede para aguardar 24 
horas quando não conseguimos acessar e temos que recorrer ao 
atendimentopelo telefone demora dias o tempo de espera cerca de 10 
e o agendamento para atualizar cadastro, por exemplo, demora dias 
para o atendimento. Enfim, o que era resolvido antes com rapidez, 
hoje está demorando muito mais” E32. 
 
A falta de diálogo e divulgação desse processo do INSS digital repercute diretamente 
nos municípios, pois os mesmos, em muitos casos, não têm estrutura para atender tal demanda 
em decorrência da falta de computadores e recursos humanos. E com o corte de gastos 
propostos pela PEC ficam impedidos de quaisquer melhorias. Para tanto, como irão atender os 
usuários? Além de serviços precarizados, a sobrecarga de trabalho para os funcionários do 
SUAS. 
“O município não está organizado, pois não foi passado um 
treinamento para os profissionais. Sendo assim fazemos o possível 
para atender e não deixar o usuário sair sem o atendimento” E1. 
“No momento ainda não tenho conhecimento de nenhuma 
organização, apenas aumentou muito a demanda no meu setor” E7. 
“Não! O município não tem funcionários suficientes para atender a 
demanda, a infraestrutura também é precária, dificultando ainda mais 
o atendimento” E9. 
 
 
 Há profissionais afirmam que estão buscando capacitações e que elas são dadas 
pela agência que pertencem: 
 
 
2
2
 
“Através das orientações nas acessórias e também tentando nos 
informar na própria internet aos poucos vamos aprendendo e nos 
organizando para atender as demandas do INSS digital” E8. 
“Através dos atendimentos os usuários estão sendo conscientizados e 
orientados sobre as mudanças. Já está sendo analisada a questão sobre 
a importância de comprar computadores de qualidade para atender as 
demandas” E12. 
 
O questionamento sobre se há treinamento ou se já teve, configurou-se como outra 
indagação para compreender o andamento do atendimento das demandas do INSS digital no 
município, desse modo, 
“Diretamente só se sabe o assunto, temos orientação na APS numa 
capacitação que fazemos uma vez por mês, mas gostaríamos que se 
possível o INSS elaborasse um treinamento são do INSS digital” E2. 
“Sim. A agência de referência do município está realizando reuniões 
mensais com os servidores da prefeitura (Secretaria Municipal de 
Assistência Social)” E4. 
“Em nosso município não está tendo treinamento para o INSS digital, 
através das acessórias às técnicas estão aprendendo bastante sobre 
algumas demandas sobre o mesmo. Na medida do possível vamos 
aprendendo sem nenhum treinamento específico” E8. 
 
Em contrapartida há muitos que afirmam que não tiveram treinamento: 
 
“Não teve treinamento. Também são cogita nada a respeito” E10. 
“Não. Há orientações do AS da APS, no entanto, sentar e mexer no 
sistema, não teve nenhum treinamento” E11. 
“Já foi falado, mas não houve um treinamento, pois ainda não existe 
conhecimento dos funcionários do INSS de forma clara para repassar 
para o público” E18. 
“Não, pois é uma nova forma de atendimento dos usuários ainda 
desconhecida por profissionais da rede socioassistencial e até mesmo 
pelo cidadão comum, que vem a agência do INSS deveria ter uma 
ampla divulgação pela televisão dessa nova forma de atendimento 
uma divulgação pela mídia seria boa forma de trazer ao conhecimento 
do usuário” E31. 
 
 
Diante das considerações e apontamentos dos entrevistados ampara-se no 
questionamento de SINDISPREVRS (2018, online) “Com a implementação do INSS digital, 
quais serão as atribuições do servidor público? Se estagiários protocolam e um sistema 
concede os benefícios automaticamente, o que vai restar para o servidor fazer? - questionou 
Vasques)”. E com certeza fica a incerteza de ações que repercutem diretamente nos usuários 
dos serviços. Desse modo, “com esse modelo, o INSS está sendo preparado para ser extinto”. 
E é por isso que precisamos discutir e defender nossa carreira, com organização e resistência. 
8 
 
2
3
 
O INSS digital precisa ser um complemento do serviço oferecido. Não pode significar o 
desmonte do INSS – finalizou o servidor (SINDISPREVRS, 2018, online). 
 
Considerações Finais 
A Seguridade social com seu tripé foi um avanço substancial para ampliação dos 
direitos sociais e consecutivamente na ampliação das políticas públicas nas três áreas: Saúde, 
Assistência Social e Previdência Social. Nesse contexto, as políticas públicas sofrem 
regressões, introduzindo critérios que focalizam, restringem e precarizam os direitos sociais. 
Na previdência social, a realidade aqui já exposta, demonstra qual grande foi o prejuízo com 
as contrarreformas nos anos subsequentes a instituição da seguridade social. 
No atual momento, mais uma tratativa neoliberal desponta, na área da Previdência 
Social, o INSS Digital que como mencionado é ambíguo. Ao mesmo tempo em que é uma 
ferramenta de acesso por meio das tecnologias digitais, que poderão ser usufruídas por um 
público que tenha acesso às tecnologias e à instrução para o acesso, também traz em seu 
arcabouço uma exclusão silenciosa, onde deixam milhares sem acesso aos direitos sociais, por 
não conseguirem terem os serviços e suas demandas atendidas por não compreenderem os 
processos, os fluxos para o atendimento, por falta de escolaridade e instrução suficiente, além 
de não terem acesso aos produtos tecnológicos e tecnologias. 
Diante das considerações em relação ao INSS Digital, o primeiro ponto abordado 
observa-se que há muitos servidores aposentando e os postos de trabalho não são repostos. Os 
servidores que ficam trabalham sobrecarregados, tendo que cumprir uma rotina de trabalho 
árdua, o que pode comprometer sua saúde física e emocional. Outro aspecto quanto à 
informatização dos atendimentos via INSS digital é a limitação de informação e orientação 
quando da habilitação virtual, o que poderá trazer um prejuízo enorme ao cidadão que sem 
informações poderá ter seu benefício indeferido por não possuir toda documentação 
comprobatória, sendo que no atendimento presencial, havia orientação e informação prévia ao 
cidadão. Além do mais, muitos ficarão em uma fila virtual. 
Por fim, o último aspecto, talvez seja o mais prejudicial aos cidadãos, principalmente 
para àqueles que não têm acesso à internet ou os que são analfabetos. Esse público além da 
falta de informação sofrerá ainda com a ausência de estrutura digital para pleitear os 
benefícios previdenciários, por não possuírem condições tecnológicas, sociais e educacionais, 
levando-os a terem que pagar por serviços que antes eram ofertados presencialmente nas 
Agências da Previdência Social. Abrindo aqui, brechas para intermediários realizarem os 
serviços e cobrarem pelos mesmos, muitas vezes esse público não tem recursos disponíveis. O 
9 
 
2
4
 
que era para ser um direito público acaba indo para a esfera privada. Nesse sentido, são 
impactos que podem ser mensurados a longo prazo por meio de mais pesquisas diretamente 
com os usuários desses serviços e também com os servidores do SUAS que diariamente os 
atende. 
 
Referências Bibliográficas 
 
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil o longo caminho. Rio de Janeiro; Editora 
Civilização Brasileira, 2001. 
 
IBGE. Agência IBGE Notícias. Analfabetismo cai em 2017, mas segue acima da meta para 
2015. Disponível em: < https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-
de-noticias/noticias/21255-analfabetismo-cai-em-2017-mas-segue-acima-da-meta-para-2015> 
acesso em: 01 Out. 2018. 
 
INSS. INSS Digital: nova forma de atender aos segurados. Disponível em: < 
https://www.inss.gov.br/inss-digital-nova-forma-de-atender-aos-segurados/>. Acesso em: 13 
Jul.2018. 
 
NÓS DO INSS. INSS Digital. Disponível em: 
<https://nosdoinss.blogspot.com/search?q=inss+digital >. Acesso em: 13 de Jul. 2018. 
 
PEREIRA, Potyara. Cap II: Trajetória da política social: das velhas leis dos pobres ao Welfare 
State. IN: Pereira. P. Política Social: temas e questões. 3 ed. São Paulo :Cortez, 2011. pp.59a 95. 
 
SANTOS, Wanderley Guilherme. Cap 4. Do Laissez-faire repressivo à cidadania em recesso. 
IN: Cidadania e Justiça. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1979. 
 
 
 
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/21255-analfabetismo-cai-em-2017-mas-segue-acima-da-meta-para-2015
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/21255-analfabetismo-cai-em-2017-mas-segue-acima-da-meta-para-2015
 
2
5
 
Adeilza Clímaco Ferreira6 
Layana Silva Lima7 
Vivian Lúcia Rodrigues de Oliveira8 
 
O DESMONTE DA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA: UM CONTEXTO DE 
RETROCESSO SOCIO HISTÓRICO 
 
Resumo: O presente estudo versa sobre o desmonte da proteção social básica, com vistas a 
demonstrar a realidade de retrocesso de suas políticas componentes. Para esse fim, o mesmo 
resgata os fundamentos da questão social enquanto fomento da criação da proteção social; os 
avanços da proteção social e por fim o desmonte da proteção social na contemporaneidade. A 
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica de literaturas que se debruçam de forma 
crítica na historicidade da proteção social. 
Palavras-chave: fundamentos da questão social, proteção social básica, desmonte das 
políticas. 
 
Abstract: The present study deals with the dismantling of basic social protection, with a view 
to demonstrating the backward reality of its component policies. To this end, it rescues the 
foundations of the social question as a fostering of the creation of social protection; the 
advances of social protection and finally the dismantling of social protection in contemporary 
times. The methodology used was the bibliographical research of literatures that critically 
address the historicity of social protection. 
Keywords: foundations of social issue, basic social protection, disassembly of policies. 
 
FUNDAMENTOS DA QUESTÃO SOCIAL E SEU TRATO ATRAVÉS DA 
PROTEÇÃO SOCIAL 
O presente artigo busca traçar uma reflexão acerca dos fundamentos da questão 
social, cujas expressões sofrem intervenção das políticas sociais, as quais revelam um caráter 
contraditório diante do modo de produção capitalista. Em seguida, estabelece relação entre os 
direitos sociais enquanto conquistas históricas e a proteção social básica para, adiante, expor 
os aspectos que têm embasado a conjuntura atual e que têm proporcionado o desmonte das 
políticas sociais e acarretado num retrocesso socio histórico. Desse modo, pauta-se no método 
do materialismo-histórico dialético e na revisão bibliográfica para consolidar as análises 
expostas a seguir. 
 
6 Doutoranda do programa de pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte e bolsista CAPES. E-mail: 
7 Doutoranda do programa de pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. E-mail:layana_limasso@hotmail.com 
8 Doutoranda do programa de pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte e bolsista CAPES. E-mail: vivianoliveirajp@gmail.com 
 
 
2
6
 
Num sistema direcionado pela expansão e movido pela acumulação, a política social 
possui uma função específica na reprodução social. Embora vivencie-se um sistema que não 
se importa com as necessidades humanas, à medida em que se produz riqueza, produz-se 
pobreza e com isso, ocorre a demanda de minimizar os danos provocados pela mesma, seja 
ela absoluta ou relativa. 
Para dar conta das expressões da questão social9, a política social tem um duplo 
caráter: suprir as necessidades da classe trabalhadora e contribuir na manutenção da ordem 
sem onerar os capitalistas. Desse modo, pode-se inferir que ela é contraditória e está em 
constante processo de luta de classe. 
Nesse sentido, entende-se que o fundamento da questão social, a qual requer uma 
ação específica sobre si, é a lei geral da acumulação capitalista. Esta lei expressa o caráter 
antagônico da acumulação capitalista e explica a existência de uma população sobrante, a qual 
é denominada de superpopulação relativa ou exército de reserva. A respeito desta lei, Marx 
(1988) infere que 
 
Quanto maiores a riqueza social, o capital em funcionamento, o volume e a energia 
de seu crescimento, portanto, também a grandeza absoluta do proletariado e a força 
produtiva de seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. [...], mas 
quanto maior esse exército industrial de reserva em relação ao exército ativo de 
trabalhadores, tanto mais maciça a superpopulação consolidada, cuja miséria está em 
razão inversa do suplício de seu trabalho. Quanto maior, finalmente, a camada 
lazarenta da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior o 
pauperismo oficial. Essa é a lei geral da acumulação capitalista. Como todas as 
outras leis, é modificada em sua realização por variadas circunstâncias, cuja análise 
não cabe aqui (MARX, 1988, p. 200). 
 
É justamente esta população sobrante10 que será o público alvo da proteção social 
básica11, pois embora ela seja para todos de que dela necessite, num contexto de restrição e 
ajuste fiscal, a orientação é que contemple aquelas pessoas em maior situação de risco e 
vulnerabilidade social. 
 
9 A “questão social” representa um “[...] conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o 
surgimento da classe operária impôs no curso da construção da sociedade capitalista [...]” (NETTO, 
2006, p. 17). 
 
10 Maranhão (2008, p. 44) considera que a criação dessa superpopulação relativa precisa ser 
analisada como elemento necessário ao desenvolvimento capitalista e resultado dessa relação 
histórica e " [...] não como produto exterior, distúrbio do sistema de produção, ou mera inadequação 
da gestão estatal [...] ". 
11 Cuja finalidade é desenvolver ações de prevenção de risco, buscando fortalecer os vínculos 
familiares e comunitários. 
 
2
7
 
Assim, a questão social possui três dimensões: a base material pautada na lei geral da 
acumulação capitalista, o aspecto político fincado na organização e luta de classe por 
melhores condições de vida e trabalho e a intervenção estatal sobre essas expressões. 
É no período do capitalismo monopolista que as expressões da questão social se 
intensificam e exigem intervenção direta por parte do Estado sobre as mesmas, a qual se dará 
por meio das políticas sociais (BEHRING e BOSCHETTI, 2007). Caracterizada como direito 
social, a política social passa por várias reformas e contra-reformas, sendo a mais significativa 
a que ocorre a partir de 1970, com o avanço do neoliberalismo no contexto brasileiro, 
financeirização e reestruturação produtiva, que acarretou numa contenção de gastos estatais 
no âmbito social. 
Como Behring e Boschetti (2008, p.147) afirmam, o movimento de “[...] 
obstacularização e/ou redirecionamento das conquistas de 1988 do Estado brasileiro era 
fortemente difundido sobre o pretexto de que a crise econômica e social vivida pelo país 
centrava-se na ineficiência orçamentária e administrativa dos setores públicos”. Apesar deste 
processo de contra-reforma, é pertinente ressaltar que o modelo brasileiro de proteção social 
não partiu de uma lógica universalista, pois a seletividade sempre esteve presente na sua 
operacionalização. Segundo Sposati, 
 
A perspectiva de universalidade da proteção social mostra-se como confronto com 
as regras do capital, da acumulação, pois confere significado de igualdade em uma 
sociedade que, pelas regras do mercado, é fundada na desigualdade. Esse confronto 
se manifesta em formas múltiplas e permanece presente em contínua luta. Analisar 
os rumos da proteção social brasileira significa identificar incompletudes cuja 
superação vem sendo contínua luta social e sindical. A lentidão desse processo em 
superar suas incompletudes faz com que ao se chegar a uma medida, como a atual 
inclusão do trabalho doméstico nos direitos trabalhistas, as necessidades e 
características da sociedadejá reclamam por outro modelo protetivo face, por 
exemplo, às alterações demográficas e a amplitude que segue ganhado a terceira 
idade (SPOSATI, 2013, p. 661). 
 
 
Vale salientar que até a Constituição Federal de 1988, a proteção social no Brasil 
esteve pautada na perspectiva de seguro social. Desse modo, foi a partir da CF 88 que houve a 
consolidação de uma percepção de proteção social, incluindo a política de assistência social 
como direito do cidadão e dever do Estado, sendo partícipe do tripé da seguridade social. 
 
PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA E CONQUISTAS HISTÓRICAS 
 
 
2
8
 
É no decurso dos anos de 1980 e 1990 que a assistência social passou a ser 
direcionada como política pública constituindo juntamente com a saúde e a previdência social 
a Seguridade Social brasileira. Todavia, mesmo assumindo um caráter de política pública, o 
direcionamento da assistência social não possui um caráter universal no direcionamento de 
suas ações. 
No ano de 1993 podemos observar os avanços mais significativos no que diz respeito 
a política de assistência social, sobretudo quando consideramos a aprovação da Lei Orgânica 
de Assistência Social – LOAS, por meio da Lei nº 8.742 de 13 de dezembro de 199312, 
afirmando-a como direito do cidadão e dever do Estado. 
De acordo com Yasbeck (2009), enquanto política de Estado, a assistência social se 
constitui-se “como estratégia fundamental no combate à pobreza, à discriminação, às 
vulnerabilidades e à subalternidade econômica, cultural e política em que vive grande parte da 
população brasileira” (YASBEK, 2009, p. 20-21), ampliando seu campo de intervenção. 
No ano de 2004, as novas modificações e alterações culminaram com a aprovação da 
Política Nacional de Assistência Social – PNAS; em 2005 a Norma Operacional Básica do 
SUAS – NOB/SUAS, que foi atualizada em 2012, em 2006 a Norma Operacional de Recursos 
Humanos NOB/RH, bem como a resolução de nº109/2009, na qual dispõe sobre a tipificação 
nacional dos serviços socioassistenciais que devem ser implementados nos municípios 
brasileiros considerando a especificidade de cada região. 
É neste cenário de evolução da presente política que foi implementado no ano de 
2005 o Sistema Único de Assistência Social – SUAS passando a se instituir como um sistema 
público descentralizado, não contributivo, participativo, que direciona a gestão da proteção 
social no país. Deste modo, ao pensarmos a gestão do SUAS, podemos identificar que 
 
[...] está voltado à articulação em todo o território nacional das responsabilidades, 
vínculos e hierarquia, do sistema de serviços, benefícios e ações de assistência 
social, de caráter permanente ou eventual, executados e providos por pessoas 
jurídicas de direito público sob critério de universalidade e de ação em rede 
hierarquizada e em articulação com iniciativas da sociedade civil (COUTO, 
YAZBEK e RAICHELIS, 2010, p. 38). 
 
É com as prerrogativas da PNAS e do SUAS que a proteção social passou a ser 
pensada de forma diferenciada sendo dividida entre proteção social básica e proteção social 
 
12 De acordo com o artigo 01, “a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de 
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto 
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades 
básicas”. 
 
2
9
 
especial (de média e alta complexidade). A proteção social básica, foco analítico da presente 
reflexão, tem como elemento norteador formas de prevenção objetivando desenvolver ações 
que contribuíam para a inclusão social, fortalecimentos dos vínculos familiares e 
comunitários, e acesso aos serviços nos seus territórios. Conforme as prerrogativas da PNAS, 
suas ações são destinadas a, 
 
[...] a população que vive em situação de vulnerabilidade social, decorrentes da: 
pobreza, privação (ausência de renda, precária ou nulo acesso aos serviços públicos), 
fragilização dos vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social 
(discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiência, entre outras) (SILVA, 
2013, p. 05). 
 
Para tanto, seus serviços são executados no Centro de Referência de Assistência 
Social – CRAS, uma vez que, trata-se de 
 
[...] um equipamento público estatal de base territorial que estrutura a Atenção 
Básica, tem como objetivo contribuir para a prevenção e o enfrentamento de 
situações de vulnerabilidade social; a inclusão de grupos e/ou indivíduos em 
situação de risco social nas políticas públicas, no mundo do trabalho e na vida 
comunitária e societária, tem como função prioritária proteger as famílias, seus 
membros e indivíduos, cujos direitos fundamentais já se encontrem violados, mas 
que mantém os vínculos ou laços de pertencimentos familiar. Para atender a estes 
propósitos, o CRAS, segundo a PNAS, deve implementar ações intersetoriais para 
promoção da proteção social destas famílias em situação de vulnerabilidade social 
(SILVA, 2013, p. 06). 
 
Cabe destacar que o CRAS possui duas funções exclusivas, sendo elas: gestão 
territorial da rede socioassistencial local e a execução do Serviço de Proteção e Atendimento 
Integral a Família - PAIF. Este, foi instituído através da portaria nº78 em abril de 2004 pelo 
Ministério do Desenvolvimento Social – MDS e em maio do mesmo ano passou a integrar a 
rede de serviços socioassistenciais de ação continuada e se constituindo como principal 
programa da proteção social básica como atribuições de oferta de serviços e ações básicos 
continuados destinados a famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. 
 Por meio deste serviço são prioritários no atendimento, os beneficiários que atendam 
aos critérios de participação de programas de transferência de renda e benefícios assistenciais, 
além de pessoas com deficiência e pessoas idosas que vivenciam situações de fragilidade. E 
suas atividades contam com a oferta de oficinas de convivência, grupos, acompanhamento 
familiar dentre outras. Essas atividades contribuem para a proteção social de forma integral. 
Diante o exposto, podemos sinalizar que os avanços que instituíram a assistência 
social enquanto política pública são um dos principais desafios a serem enfrentados no país, 
 
3
0
 
sobretudo quando consideramos o contexto social, político e econômico e cultural no qual o 
país tem vivenciado, sobretudo a partir dos anos de 1990. Do mesmo modo, os serviços de 
proteção social básico, no âmbito dos municípios brasileiros encontram dificuldades para a 
realização efetiva no direcionamento dos seus serviços. São eles elementos que buscaremos 
retratar no item a seguir. 
 
CONTEXTO CONTEMPORÂNEO E O DESMONTE DA PROTEÇÃO SOCIAL 
Os avanços trazidos com a Constituição de 1988 no Brasil são imensuráveis, visto 
que o país possui uma dívida histórica com seu povo em relação a implementação dos 
direitos, sejam eles políticos, civis ou sociais. As relações de trabalho instauradas desde a 
formação sócio-histórica foram pautadas em coesão, fato que repelia qualquer forma de 
legitimação com vistas à noção de direitos. 
O advento da proteção social no Brasil estabeleceu pela a primeira vez no país o 
acesso da população aos direitos mais basilares da cidadania. Os brasileiros tiveram 
assegurados via constituição direitos universais, a exemplo da saúde, à previdência social, via 
contribuição e a assistência social, para quem dela necessitar dos mínimos sociais 
operacionalizados pelo Estado13. 
Contudo, a legitimação e implementação da proteção social no país se deu em uma 
conjuntura desfavorável para sua materialização de forma ampla, pautada nos preceitos de 
cidadania. Tratava-se do momento de ingresso de forma intensa das orientações neoliberais, 
que traziam por primazia o desmonte das políticas sociais no sentido amplo, sendo assegurado 
apenas o caráter paliativo e emergencial que as contornamde forma contraditória ao expresso 
na Carta Magna. 
Assim, os Estados Nacionais passam a ser conduzidos por diretrizes que fomentem 
áreas que promovem rentabilidade para o capital, ao passo que se ver impelido a onerar o 
orçamento voltado ao financiamento das políticas públicas, sobretudo as componentes da 
seguridade social (BEHRING, 2008). 
Sob as exigências impostas aos países dividendos da dívida pública, os organismos 
internacionais, a exemplo do Fundo Monetário Internacional – FMI, coloca uma série de 
orientações aos Estados. Tais orientações tendem a desconstruir à lógica das políticas públicas 
 
13 É importante ressaltarmos que a noção de direito firmada na Constituição vai contra a perspectiva 
paternalista ou caritativa que vinham sendo realizadas anteriormente. 
 
3
1
 
em prol do direcionamento de parte do seu orçamento para o pagamento da dívida. Isso 
resulta em políticas inoperantes segundo o promulgado via constituição. 
 O comprometimento do orçamento das políticas de seguridade social faz com que 
ocorra uma intensa fragilidade no processo da materialização dos direitos da população. As 
políticas perdem o caráter de integralidade e se voltam ao atendimento de casos emergenciais 
pautados da seletividade dos pobres entre os mais pobres, sendo os direitos acessados por via 
de judicialização, a exemplo da saúde. 
A população inserida na realidade de desemprego14 e recorrência a informalidade não 
consegue adquirir meios satisfatórios no provimento de suas necessidades sociais, fato que faz 
recorrer cada vez mais a seguridade sociais que encontra-se em processo de desmonte. Assim, 
os usuários ao buscarem os direitos sociais se deparam com uma realidade de seletividade, 
que tende a reportar sob as pessoas que não se enquadra no “perfil de acesso” a 
responsabilidade da superação de sua realidade de vulnerabilidade. Assim, são fomentados 
pelo governo programas pautados no empreendedorismo, porém sem voltar na absorção das 
pessoas no mercado de trabalho15. Desse modo, o não acesso aos direitos via proteção social 
traz o agravamento dos reflexos da questão social na contemporalidade, da qual sua 
reconfiguração sinaliza uma intensificação e complexificação. (IAMAMOTO, 2015). 
No tocante a assistência social, da qual traz o salto histórico de ser negligenciada 
pelos governos, sendo somente vista como direito somente a partir de 1988, a contração 
orçamentária contribui para o ingresso de práticas conservadora, voltadas para a moralização 
da questão social, como se as pessoas que possuem sua existência dependente dos programas 
de transferência de renda tivessem nessa condição por opção. Assim, os beneficiários são 
marginalizados por parte da sociedade ao passo que se submetem ao cotidiano de fiscalização 
empreendido pelo governo. Tal visão não considera o desemprego estrutural, e que por conta 
das oportunidades que os usuários dessa política não possuem, dificilmente irão ingressar no 
mercado formal de trabalho. 
Já a saúde vem sofrendo a perda de sua universalidade, sendo sucateada em 
detrimento do alavancamento do setor privado, a exemplo dos processos de privatizações. Os 
níveis de proteção são comprometidos, sendo ressaltado o caráter básico, que atualmente não 
abrange a perspectiva de proteção e promoção, e a complexidade é direcionada ao setor 
 
14 As metamorfoses no mundo do trabalho tende a repeli cada vez mais a população empobrecida do 
mercado de trabalho, sobretudo os jovens, mulheres e negros. 
15 Partimos do entendimento que o globo vivencia a realidade de desemprego estrutural, ou seja, na 
contração cada vez mais de postos de trabalho. 
 
3
2
 
privado, por ser mais rentável. A previdência social vivencia um contexto de contrarreforma 
que alarga o fosso do cidadão do seu direito de aposentadoria, bem como contribui para 
induzir a população a recorrer as previdências privadas. Assim, os contribuintes não possuem 
a seguridade previdenciária, devem estender seu tempo de contribuição/trabalho sem ter a 
ressalva de garantia na velhice. 
É importante ressaltarmos que as políticas ora elucidadas se complementam entre si, 
que uma vez um ingresso fragilizado em uma determinada política compromete a seguridade 
dos cidadãos, fato que limita a vivencia da cidadania e contribui para a intensificação dos 
reflexos da questão social. Isso posto, podemos entender que a não preocupação em prover 
níveis de seguridade social a população por parte do Estado compromete a qualidade de vida 
da nação, que adentra em relações de vulnerabilidade. 
Assim, é perceptível que os avanços do neoliberalismo incidem no processo de 
erosão da proteção social no Brasil, que ainda que recente na história secular da nação trouxe 
acesso a cidadania para a população que historicamente era repelida dos direitos. Essa 
realidade demonstra a necessidade de resistência da população contra as medidas de 
austeridades implementadas pelo grande capital, que em prol de sua valorização reporta para a 
população o ônus de sua reprodução. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Compreender os fundamentos da questão social torna-se pertinente, pois permite o 
entendimento acerca dos limites e possibilidades das políticas sociais e sua efetividade. Desde 
a sua idealização, a proteção social encara grandes desafios, mas não se deve perder de vista 
as conquistas que a constituição federal brasileira de 1988 trouxe. 
O atual contexto de reformas que coloca em xeque os direitos da classe trabalhadora, 
fazer com que as políticas da seguridade social estejam articuladas torna-se uma necessidade 
urgente e um entrave para a efetivação dos direitos sociais consolidados na CF 88. Os avanços 
neoliberais mostram hostis aos preceitos de cidadania, desconfiguram o caráter de seguridade 
e o volta ao emergencial pautado em ações paliativas e reforçadoras do conservadorismo. 
Assim, a contemporaneidade demonstra a emergência da organização política por 
parte da população no empreendimento de lutas em prol das conquistas históricas expressas 
na seguridade social brasileira. Tal tarefa é vital para o sustentáculo dos princípios de 
cidadania que o capital tende a erodi, repelindo as pessoas a seara de total desproteção frente 
ao processo de desigualdade gestado por sua lógica. 
 
3
3
 
Referências Bibliográficas 
 
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 3. ed. São Paulo: 
Cortez, 2007. 
 
______. Política social no Brasil contemporâneo: entre a inovação e o conservadorismo. In: 
______. (org.). Política Social: fundamentos e história. 5 Ed. São Paulo: Cortez, 2008. 
 
BRASIL. Lei n. 8.742 de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da assistência 
social e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm. Acesso em 03 de set. 2019. 
 
COUTO, B. R. YASBEK, C.; SILVA E SILVA, M. O. da; RAICHELIS, R. O Sistema 
Único de Assistência Social no Brasil: uma realidade em movimento. SãoPaulo: Cortez, 
2010. 301 p. 
 
IAMAMOTO, M. V. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, 
trabalho e questão social. ed.9ª São Paulo: Cortez, 2015, 495p. 
 
MARANHÃO, C. H. Capital e superpopulação relativa: em busca das raízes contemporâneas 
do desemprego e do pauperismo. In: Trabalho e Seguridade Social: percursos e 
dilemas. BEHRING, E. R.; ALMEIDA, M. H. T. de. (orgs.). São Paulo: Cortez; Rio de 
Janeiro: FSS/UERJ, 2008, p. 38-58. 
 
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. L. I. Vol. I. 3º ed. São Paulo: Nova 
Cultural, 1988. 
 
NETTO, J. P. capitalismo monopolista e Serviço Social. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 
 
SPOSATI, A. Proteção social e seguridade social no Brasil: pautas para o trabalho do 
assistente social. IN: Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 116. 2013. 
 
YASBEK, M. C. O significado sócio-histórico da profissão. In: Serviço Social: direitos 
sociais

Continue navegando