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Vantagens da utilização de dois poços profundos no lugar de um INTRODUÇÃO Diversas comunidades do centro-oeste do Estado de São Paulo têm seu sistema público de abastecimento de água baseado, parcial ou exclusivamente, em água subterrânea. Algumas cidades importantes, tais como Ribeirão Preto, Araraquara, São Carlos e Bauru e diversas de menor porte, tais como, Brotas, Itirapina, Boa Esperança do Sul, Dourado e outras estão localizadas em áreas de afloramento das formações Botucatu e Pirambóia (Aqüífero Guarani). Nessa região, a construção de poços para abastecimento público apresentou grande desenvolvimento a partir da década de 1970 e sempre teve como diretriz de caráter “técnico- econômico” a extração da “máxima vazão” possível em cada poço. Esse entendimento de “otimização” da vazão extraída continua presente nas empresas perfuradoras e entre os técnicos do setor de saneamento, mesmo tendo sido responsável por inúmeras situações bastante desfavoráveis para a extração de água subterrânea. Nessa região, foram adotados padrões de produção individual “otimizada” para o Aqüífero Guarani de 100 a 400 m3/h de produção individual por poço, com distâncias ótimas recomendadas entre poços de mais de até 1.000 m, sem base em estudos consistentes para determinar as condições para a explotação sustentável. OBJETIVOS A proposta aqui apresentada para adoção de um novo critério de projeto para poços profundos em sistemas públicos de abastecimento tem como objetivo: 1. Melhorar as condições de sustentabilidade da explotação da água subterrânea; e 2. Otimizar os custos de extração da água subterrânea, mediante a aplicação do conceito de custo da vida útil, no qual são considerados os custos operacionais além do investimento inicial. ANÁLISE CRÍTICA DA SITUAÇÃO ATUAL Algumas conseqüências negativas da adoção do critério da “máxima vazão” podem ser observadas na grande maioria dos poços existentes, projetados para extrair a “vazão máxima”, dentre as quais pode-se destacar: 1. A extração de altas vazões exige que o diâmetro útil dos poços na parte superior (câmara de bombeamento) seja grande, podendo chegar a 16 polegadas (400 mm). Desta forma, o custo da construção desses poços é muito elevado, principalmente quando está presente a cobertura de rocha basáltica; 2. A extração de altas vazões provoca grandes rebaixamentos no nível da água nos poços que exige equipamentos de bombeamento de grande potencia, com altos custos de aquisição e operação; 3. A maioria dos poços de alta vazão foi inicialmente equipada com bombas turbina de eixo prolongado, com custos de aquisição tão elevados que chegavam a superar o do próprio poço e custos operacionais inimagináveis devido ao fator de potência e rendimento eletro- mecânico muito baixos. A montagem e desmontagem desses equipa-mentos é complexa, cara e resulta em elevados custos e paralisações do abaste-cimento por diversos dias ou mesmo semanas; 4. As dificuldades técnicas e os elevados custos, para retirar e reinstalar as bombas de eixo prolongado, impossibilitaram que os operadores do sistema adotassem programas adequados de manutenção preventiva dos poços, os quais permaneceram em operação contínua por mais de 10 anos e na maioria dos casos sem nem mesmo monitorar o nível da água (PERRONI, 2003); 5. Os problemas só foram constatados quando já tinham se tornados irreversíveis em muitos poços, os quais acabaram sendo prematu- ramente abandonados por terem sofrido danos estruturais causados pela tubulação flangeada da bomba turbina de eixo prolongado (PERRONI E RODRIGUES, 2004); 6. Devido à condição de explotação não sustentável, os poços apresentam decréscimo de produção em associação com o continuo rebaixamento do nível da água; e 7. A alteração das condições operacionais (vazão e nível dinâmico) implica no deslocamento do ponto ótimo de trabalho da bomba e, portanto, constituem mais um fator de desperdício de energia elétrica e acréscimo desnecessário do custo operacional (PERRONI, 2005). ESTUDO DE CASO O novo conceito de projeto aqui descrito foi aplicado recentemente na cidade de Araraquara, na porção sudeste do perímetro urbano, onde a cobertura do Aqüífero Guarani por rochas basálticas é pequena ou inexistente. Nos estudos de viabilidade técnica-econômica realizados (GEOWATER, 2004) foram comparadas as duas alternativas a seguir (Figura 1): Alternativa A: Um poço com profundidade de 250m e diâmetro de 14pol. a ser operado com um conjunto motor-bomba submersível com capacidade de bombear 200m3/h a 100 mca; e Alternativa B: Dois poços com profundidade de 200m e diâmetro de 10pol,. a serem operados com dois conjuntos motor-bomba submersível com capacidade de bombear 100m3/h a 76 mca. Figura 1: Comparação entre as características construtivas dos poços nas alternativas A e B Análise econômica Os orçamentos elaborados indicaram que o valor do investimento inicial da alternativa B é cerca de 22% maior que o da alternativa A. No entanto, calculando-se a amortização dos investimentos ao longo de 20 anos e a somatória dos custos operacionais com energia elétrica e manutenção, nesse período, a situação se inverte e o custo unitário da água na alternativa B resulta 54% mais baixo que o da alternativa A. Distância entre poços O efeito da interferência entre poços e o dimensionamento do rebaixamento adicional provocado pela operação simultânea dos dois poços foram determinados de forma analítica, com base na equação aproximada de Jacob (KRUSEMAN E RIDDER, 1994), sem considerar os efeitos de drenagem diferida, da seguinte forma: Sr KDt KD Q s 2 25,2 log183,0 onde: s: rebaixamento do nível da água (m); Q: vazão bombeada (em cada poço e nos dois poços) (m3/dia); K: condutividade hidráulica (m/dia); D: espessura saturada (m) t: tempo de bombeamento (dias); S: porosidade eficaz ou coeficiente de armazena- mento; r: distância entre poços. Para a área em questão foram adotados os seguintes valores dos parâmetros hidrodinâmicos: K = 1,85 m/dia S = 0,05 A Figura 1 apresenta o gráfico da redução do rebaixamento no sistema de dois poços, bombeando simultaneamente 100 m3/h, em função da distância entre eles, comparado ao rebaixamento em um único poço bombeando 200 m3/h. 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 distância entre os dois poços (m) re d u çã o d o r eb ai xa m en to ( m ) Figura 2: Gráfico da redução do rebaixamento no sistema de dois poços, bombeando simultaneamente 100m3/h cada, comparado a um único poço bombeando 200m3/h, em função da distância entre os dois poços. CONCLUSÃO O princípio proposto do “desmembramento” de um poço em dois, com metade da vazão, apresenta as seguintes vantagens operacionais: 1. Ampliação da área de contribuição e do cone de rebaixamento, e, conseqüentemente, menor profundidade do nível dinâmico, resultando em redução da potência, do valor do investimento inicial e do custo operacional do equipamento de bombeamento; 2. Possibilidade de operar apenas um poço, em períodos de menor consumo e os dois, em conjunto, nos períodos de pico de demanda, reduzindo as despesas de energia elétrica e aumentando a vida útil dos equipamentos; 3. Redução do custo do equipamento de bombeamento e possibilidade de padronização com produtos de produção nacional com alto rendimento eletromecânico; 4. Melhoria da confiabilidade do sistema pois uma pane em uma das bombas irá comprometer apenas 50% da produção, sendo possível continuar a operação de um poço durante a manutenção do outro; e 5. Mesmo tendo um custo de implantação ligeiramente mais elevado, o sistema baseado em dois poços é mais vantajoso economicamente pois o custo da água produzida pode ser significativamente inferior. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GEOWATER. (2004). Análise de viabilidade técnico- econômicae projeto de poço tubular para o Bairro do Ouro em Araraquara – SP. KRUSEMAN, G.P. & RIDDER, N.A. (1994). Analisys and evaluation of pumping test data. International Institute for Land Reclamation and Improvement. Wageningen. (377 pg). Netherlands. 1994. PERRONI, J.C.A. (2003). Otimização dos sistemas de bombeamento dos poços tubulares profundos. Geowater. Araraquara. 2003 PERRONI, J.C.A. e RODRIGUES, J.M. (2004) Otimização de custos de bombeamento em poços profundos de Araraquara – SP. In: X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, 2004. ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas. Cuibá – MT. 2004. PERRONI, J.C.A. (2005). Avaliação do consumo de energia elétrica para produção de água – O caso do abastecimento público da cidade de São Carlos – SP. 145p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
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