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A Alterações patológicas do Diabetes Mellitus (DM) → levam a alterações metabólicas, neuropáticas, vasculares e imunológicas em todos os sistemas orgânicos, em especial o cardiovascular, o renal, o sistema nervoso e a pele. A maioria dos diabéticos tem alterações cutâneas. Acantose Nigricante Pode ocorrer em DM associado a obesidade, resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia. Estado de hiperinsulinemia leva a insulina a se ligar, em excesso, a receptores do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) → induz proliferação de queratinóticos e fibroblastos → aparecimento das lesões características da acantose nigricante. Também há correlação entre intensidade das lesões e concentração da insulina de jejum nos obesos. • OBS.: Sua gênese também pode provir de secreção ectópica de fatores de crescimento em casos de neoplasias. Clínica: Caracteriza-se por lesões papilomatosas e queratósicas, hiperpigmentadas, de localização predominante em dobras (sugere sudorese e o atrito como fatores coparticipantes na patogênese). Tratamento: O controle do diabetes e da obesidade (quando associada) leva a redução gradativa das lesões. Síndrome da Redução da Mobilidade Articular e Síndrome Esclerodermia-Símile A ↓ da mobilidade articular atinge 30% dos diabéticos tipo 1 (DM1) nas primeiras 2 décadas da doença. Ambas as síndromes possuem alterações bioquímicas do colágeno e dos mucopolissacarídeos da derme por ↑ do depósito ou lise insuficiente dessas substâncias. Estão envolvidos no processo a glicosilação do colágeno→ ↑ cross-link das moléculas de colágeno alterando suas propriedades; e a isquemia crônica decorrente de doença microvascular → contribui para espessamento do colágeno. A ↓ da mobilidade articular decorre de espessamento e endurecimento da pele e tecido conectivo periarticular → dificuldade não dolorosa da mobilidade articular. Clínica: a ↓ mobilidade inicia na articulação interfalangiana distal do 5º quirodáctilo e progressivamente acomete todos os dedos da mão; as articulações dos pés e grandes articulações podem ser atingidas também. O quadro é caracterizado pela mão do rezador/sinal da prece (aproximação de ambas as palmas das mãos sem plena aproximação das articulações interfalangianas distais e proximais), pela incapacidade da plena extensão dos dedos. Alterações Cutâneas no Diabetes Mellitus Pode estar acompanhado por: • Espessamento céreo da pele, especialmente dorso das mãos, talvez dorso dos pés. • Aspecto micropapuloso do dorso dos dedos na pele justa-articular e na área periungueal, especialmente em diabéticos insulinorresistentes. Pacientes com essa manifestação tem > prevalência de nefropatia e retinopatia diabética. Tratamento consiste no tratamento do diabetes. O controle rigoroso da glicemia retarda o surgimento do processo minimiza a intensidade. Escleredema Também chamado escleredema de Buschke, ocorre em 2 a 14% dos diabéticos, tendo > relação com DM tipo 2 de adultos obesos. Patogenia desconhecida, porém, pela associação com DM, admite-se que o excesso de estimulação pela insulina, alterações microvasculares e hipóxia contribuam na patogênese por meio de estímulo aos fibroblastos e/ou acúmulo do colágeno (por glicosilação ou resistência à degradação pela colagenase). Clínica: induração e eritema do pescoço e dorso, de evolução crônica persistente; pode ter manifestações sistêmicas, incluindo acometimento da língua alterando mastigação e disartria. Melhor observado à palpação do que à inspeção. Sem tratamento efetivo. Eritema erisipela símile Placas eritematosas não dolorosas, bem delimitadas localizadas principalmente nas pernas e pés. Aparentemente é devido a descompensação cardíaca ou tromboses venosas. Gangrena úmida do pé Complicação tardia da micro e macroangiopatia do DM, frequentemente desencadeada por infecção bacteriana. Há necrose com liquefação dos tecidos acompanhada de eritema, edema, calor e odor fétido. Gangrena seca do pé Relacionada a aterosclerose que também pode acompanhar o diabetes, há mumificação dos tecidos por necrose isquêmica. Há ressecamento, endurecimento e resfriamento do local e caso ocorra infecção secundária, o quadro assume aspecto de gangrena úmida. Rubeose diabética Frequente no DM de longa duração, é uma manifestação relacionada a falta de controle glicêmico adequado e provavelmente decorre da microangiopatia. Caracteriza-se por eritema róseo da face; por vezes, das mãos e pés. Úlceras diabéticas Ocorrem em 15% a 20% dos diabéticos dos quais 10 a 20% podem chegar a amputações, devido osteomielite subjacente ser comum. Predominantemente nos membros inferiores. Incluem-se nesse grupo as ulcerações que caracterizam o mal perfurante plantar, que são lesões necróticas rodeadas por bordas hiperqueratósicas (halos de calosidade) que decorrem da neuropatia diabética. Múltiplos fatores provocados pelo DM atuam na gênese: • Espessamentos cutâneos e ↓ da mobilidade articular → distribuição inadequada das pressões sobre a pele; • Neuropatia → altera tônus vascular e inervação sensorial → ↓ sinalizações neuroinflamatórias e anestesia a área → favorece continuidade da ação de fatores traumáticos, pois paciente sem dor; • Vasculopatia → dificulta suprimento sanguíneo → favorece necrose e dificulta cicatrização; • Comprometimento da resposta imunológica à lesão → dificuldade de cicatrização; • > frequência de infecções secundárias no DM→ agravam processo ulceronecrótico estabelecido. Tipicamente, um calo espesso forma-se na área de pressão repetida e se rompe, formando a ulceração. → Importante adoção de cuidados especiais com os pés pelos diabéticos, tais como calçados adequados, não apertados e de material flexível, evitar condições favoráveis ao aparecimento de calosidades e à ocorrência de traumas e instruir ao paciente inspecionar os pés sempre e procurar médico (a) diante de alteração. Xantomas eruptivos Surgem geralmente em diabéticos não tratados ou tratados inadequadamente com hipertrigliceridemia elevada. O diabetes é a causa + comum de hipertrigliceridemia em indivíduos geneticamente predispostos. A atividade da lipase lipoprotéica reduz em proporção direta da deficiência de insulina → há < metabolização e depuração dos quilomícrons (ricos em triglicerídeos) e lipoproteínas de densidade muito baixa → ↑ lipídeos plasmáticos → acumulam-se na derme, são fagocitados por macrófagos e formam- se os xantomas. Clínica: lesões papulosas amareladas, envoltas por halo eritematoso que surgem eruptivamente, em surtos, atingindo de preferência as superfícies de extensão das extremidades, joelhos, cotovelos, nádegas, tronco e abdome. Infecções cutâneas no diabetes Há controvérsias se as infecções são mais frequentes ou apenas mais graves nos diabéticos. Algumas aparentemente relacionam-se ao diabetes descontrolado: estreptococcias; candidoses; fasciíte necrosante; e mucormicose. A possível > suscetibilidade decorreria de alterações imunológicas nos diabéticos, como ↓ quimiotaxia, ↓ fagocitose e ↓ atividade bactericida secundária à hiperosmolaridade do soro hiperglicêmico e ↓ da migração leucocitária através das paredes vasculares espessadas. Das infecções bacterianas, são mais frequentes: • Estafilocócicas • Foliculites • Furunculoses • Estreptococcias • Otite externa produzida por Pseudomonas aeruginosa. Infecção grave; tem potencial de progressão intracraniana; e mortalidade de 20 a 40%. Acomete diabéticos idosos. Caracterizada por secreção purulenta + edema unilateral e perda da audição. • Fasciíte necrosante Das infecções fúngicas, são clássicas: • Balanite por leveduras, no homem • Candidose vulvovaginal, na mulher • Outras formas de candidose,como a paroníquia. → Mucormicose é outra infecção fúngica importante a se considerar. Dermopatia Diabética É a alteração cutânea mais comum nos diabéticos, registrada em 20 a 40% deles. Com patogenia desconhecida, acredita-se que se relacione à microangiopatia diabética e alguns autores atribuem também à neuropatia diabética. Clínica: + comum em homens e em DM de longa duração. Caracteriza-se por áreas de 1 a 2cm, atróficas, irregulares, deprimidas, de coloração acastanhada nos membros inferiores, especialmente regiões pré-tibiais. Novas lesões continuam a surgir em surtos e clareiam em 1 a 2 anos. Sua presença se associa a complicações maiores do diabetes como nefropatia, retinopatia e neuropatia. Não é necessário tratamento, mas presença obriga > controle das complicações renais, oculares e neurológicas do DM. Bullosis Diabeticorum Ou bolhas diabéticas, é caracterizado por bolhas que surgem em diabéticos com a doença de longa duração. Ocorre em 0,5% dos casos de DM, principalmente em homens. Patogenia desconhecida. Aparentemente se deve as alterações nas fibrilas de ancoragem e o limiar de produção de bolhas por sucção ser < nos diabéticos. Em alguns casos, o aparecimento relaciona-se à exposição à radiação UV, especialmente naqueles com nefropatia e neuropatia. Clínica: abruptamente, surgem bolhas não dolorosas, não pruriginosas, nas extremidades, principalmente nos pés e terço inferior das pernas e às vezes nas extremidades superiores. Ocorrem em surtos que se curam em 2 a 5 semanas sem deixar cicatrizes, mas podem se manter por anos. O tratamento é sintomático: drenagem do líquido da bolha por aspiração asséptica, mantendo-se o teto da bolha; e evitar antibióticos tópicos pelo risco de infecção secundária. Dermatose Perfurante Adquirida Compreende dermatoses inflamatórias adquiridas em que há extrusão de material dérmico através da epiderme, inclui doença de Kyrle, colagenose perfurante reativa, foliculite perfurante e elastose perfurante serpiginosa. Ocorre em adultos com DM associado à insuficiência renal crônica com ou sem tratamento hemodialítico. Possivelmente, em consequência da insuficiência renal, há depósito de substâncias – como ácido úrico e hidroxiapatita – na derme → despertam reações do tipo corpo estranho → eliminação transepidérmica de elementos dérmicos. O prurido é comum e contribui na patogênese ao provocar traumas. Também participam da patogenia distúrbios metabólicos das vitaminas A e D e microangiopatia diabética. Clínica: pápulas pruriginosas, hiperqueratósicas com disposição folicular e extrafolicular, encimadas por tampão queratótico, isoladas e confluentes, formando placas verrucosas; distribuem-se predominantemente no tronco e na face. Sem tratamento específico. Por vezes a interrupção da hemodiálise após transplante renal leva a regressão das lesões. Necrobiose Lipoídica Complicação rara do DM, acomete 0,3% deles e é mais frequente no DM1. Em 60% dos casos o diabetes precede o diagnóstico de necrobiose lipoídica e em 25% este diagnóstico coincide com o início do diabetes. Consiste em Áreas de degeneração do colágeno com depósito secundário de lipídeos. De patogenia desconhecida, admite-se ser consequência de alterações vasculares, como há alterações arteriolares (ligadas ao diabetes) nas áreas de degeneração de colágeno. Clínica: + frequente em adultos jovens e de meia- idade, mulheres (3:1), é caracterizada por 1 ou + placas de cor violácea na periferia e amareladas no centro, bem demarcadas → após algum tempo, há ↑ centrífugo lento, com involução central; a superfície é atrófica ou esclerodermiforme, podendo chegar à ulceração, e possui telangiectasias. Localiza-se nas superfícies anteriores e laterais da porção inferior das pernas, uni ou bilateralmente, podendo acometer outras regiões (15%), como antebraços, dorso das mãos e couro cabeludo. Membro inferior com placas com áreas amareladas e centro atrófico: • Pode sofrer ulcerações por trauma, tornando- se dolorosa. • Pode sofrer infecção secundária. →Está presente o fenômeno de Kobner: reprodução das lesões em áreas de trauma, injeção e cicatrizes cirúrgicas. Sua presença em diabéticos indica > risco de nefropatia e retinopatia. O curso é crônico, raramente há regressão espontânea. Não existe tratamento satisfatório. O DM deve ser controlado, embora não altere o quadro de necrobiose lipoídica. Considera-se como tendo > incidência em diabéticos: • Granuloma anular disseminado – sem conclusões definitivas da relação com DM. Aparece com pápulas eritematosas numerosas que sofrem involução central. Curso variável, muitas lesões persistem por anos; • Vitiligo – especialmente no diabetes de longa duração); • Acrocórdon – pápulas pedunculadas, amolecidas e normocrômicas ou hipercrômicas nas dobras da pele; • Prurido – o generalizado acomete 3% dos diabéticos sem sinais cutâneos. O prurido localizado, especialmente nas regiões genital e perianal, é + comum em mulheres diabéticas e geralmente associado a controle inadequado dos níveis glicêmicos. Mecanismo de associação ao DM desconhecido; • Líquen plano – sem conclusões definitivas da relação com DM; • Síndrome do glucagonoma – do ponto de vista cutâneo, pode apresentar erupções eczematosas ou eritematobolhosas localizadas no abdome inferior, nas nádegas, no períneo e nos membros inferiores; • Síndrome dos ovários policísticos (Síndrome de Stein-Leventhal) – 40% das mulheres com a síndrome sem tratamento adequado desenvolverão DM e síndrome metabólica (síndrome X: hipertensão arterial sistêmica, obesidade central, dislipidemia). Consiste em hiperandrogenismo secundário à resistência periférica à insulina. São sinais do hiperandrogenismo periférico a acne da mulher adulta, o hirsutismo, a alopecia de padrão androgenético e a acantose nigricante (síndrome AN-HAIR: Acantose Nigricante, Hirsutismo, Acne e Resistência à Insulina); Consequências da terapêutica: • Erupções alérgicas aos hipoglicemiantes orais (desde urticária a eritema polimorfo) e à insulina (urticária localizada ou generalizada, geralmente devido impurezas dos preparados comerciais, assim → produtos + purificados costumam eliminar manifestações); • Alterações do tecido adiposo induzidas pela insulina; o Lipoatrofia – + comum, há depressão da superfície cutânea no local das injeções que é hiperestésico e sem fenômenos inflamatórios. É causada por substâncias lipolíticas, como impurezas dos preparados comerciais; o Lipo-hipertrofia – + rara, surgem áreas edematosas nos pontos de injeção. Causadas pelo efeito anabolizante da insulina sobre o tecido adiposo local. AZULAY, R. D. 7 ed. Dermatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. CSERMAK, R. Manual para avaliação de lesões cutâneas e mucosas em portadores de diabetes mellitus. Pouso Alegre: UNIVÀS, 2016. HABIF, T. P. Dermatologia Clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. RIVITTI, E. A. Dermatologia de Sampaio e Rivitti. 4 ed. São Paulo: Artes Médicas, 2018. WOLFF, K.; JOHNSON, R. A.; SAAVEDRA, A. P. Dermatologia de Fitzpatrick. 7 ed. Porto Alegre: AMGH Editora LTDA, 2015.
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