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Onchocerca volvulus A oncocercose atinge cerca de 18 milhoes de pessoas no mundo (mais de 99% na Africa), das quais 500 mil apresentam graves problemas visuais e aproximadamente 270 mil sao cegas devido ao parasitismo A oncocercose e tambem conhecida como “cegueira dos rios”, devido a sua mais seria manifestacao clinica e porque, nas areas endemicas, o inseto vetor (borrachudo) e abundante nos leitos dos rios. Biologia Os parasitos possuem sexos distintos e vivem enovelados em oncocercomas ou nodulos fibrosos no tecido subcutaneo humano. Ha, geralmente, um casal de vermes adultos em cada nodulo, cuja localizacao e variavel. No Brasil, a localizacao dos oncocercomas depende da regiao endemica. Nas regioes montanhosas (Roraima), onde o vetor e o Simulium guianense, os nódulos sao mais frequentes da cintura para baixo, local da picada dos insetos; nos vales do rio Toototobi (Amazonas), onde o vetor e o 5. oyapockense que pica no torax, no pescoco e na cabeca, os oncocercomas sao mais frequentes nestas partes do corpo. 4 cm. As microfilarias nao apresentam bainha de revestimento, medem cerca de 300 pm de comprimento e circulam nos linfaticos superficiais e no tecido conjuntivo da pele, mas podem ser encontradas tambem na conjuntiva bulbar do hospedeiro humano. As microfilarias permanecem nesses locais por ate 24 meses, nao apresentam periodicidade e podem, em alguns casos, alcancar o sangue, sendo eventualmente encontradas no baco, nos rins e tambem no sedimento urinario. O ciclo biologico do parasito (heteroxenico) ocorre entre humanos e dipteros do genero Simulium, popularmente conhecidos no Brasil como “borrachudos” ou “piuns”. Sao quatro as especies vetoras na Amazonia brasileira: Simulium guianense (principal responsavel pela transmissao) e S. incrustatum nas regioes de elevadas altitudes; e S. oyapockense nas regioes mais baixas. O S. exiguum, com ampla distribuicao geografica, e considerado vetor da oncocercose nas regioes baixas e localidades hipoendemicas. As femeas destes dipteros realizam suas atividades hematofagicas predominantemente durante o dia; suas picadas sao indolores devido as propriedades anestésicas da saliva, mas em seguida provocam incomodos como: coceira, reacoes alergicas, edema e febre. As femeas dos simulideos, ao realizarem o hematofagismo, tambem sugam o liquido tissular, ingerindo as microfilarias que vao para o intestino e posteriormente para o torax do inseto e transformam- se em larvas de primeiro estadio (Ll). Em tomo de 1 semana a Ll transforma-se em L2 e, depois de alguns dias, em L3 ou larva infectante. O desenvolvimento do parasito no hospedeiro invertebrado ocorre em cerca de 10 a 12 dias em condicoes adequadas de temperatura (25-30°C) e umidade relativa do ar em tomo de 80%. As larvas infectantes alcancam a proboscida do vetor e, por ocasiao de um repasto sanguineo, irao penetrar em um novo hospedeiro, dando origem a vermes adultos no tecido subcutaneo, que iniciam a eliminacao de microfilarias aproximadamente 1 ano após a infeccao (periodo pre-patente longo). As microfilarias possuem grande capacidade de locomocao e espalham-se pela derme, podendo, muitas vezes invadir os tecidos oculares. Um casal de vermes adultos vive aproximadamente 10 a 12 anos e cada femea libera por dia em tomo de 1.000 microfilarias, cuja longevidade e de ate 24 meses. Manifestações clinicas As alterações clínicas provocadas pela oncocercose, causadas principalmente pelas microfilárias, podem variar muito, ocorrendo desde portadores assintomáticos até pacientes com lesões cutâneas e oculares graves. As microfilárias deslocam-se pelo tecido subcutâneo e quando morrem causam manifestações como prurido intenso, irritação, erupção e despigmentação da pele. Uma das mais graves consequências da presença de microfilárias do verme ocorre nos olhos causando a cegueira. O período de incubação é longo, ou seja, as principais manifestações clínicas da oncocercose ocorrem de 1 a 3 anos após a infecção e são: Oncocercomas: Os helmintos são envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, formando os nódulos oncocercóticos subcutâneos (oncocercomas), que medem desde alguns milímetros até 3 cm ou mais de diâmetro. São bem delimitados e geralmente móveis. Nos oncocercomas, em geral, é viste apenas um casal de vermes, mas podem ocorrer vários. Nos tecidos conjuntivo e subcutâneo adjacentes são encontradas também microfilárias. Localizam-se principalmente na região pélvica, no tórax e na cabeça (nuca, couro cabeludo e face). De forma esférica ou ovoide e não aderentes a pele, os nódulos geralmente são indolores. Enquanto os parasitos estão vivos, o maior problema do oncocercoma é estético. Quando os vermes morrem, há intenso processo inflamatório, dor, calcificação e aparecimento de fibrose. O diagnóstico diferencial deve ser feito quando houver nódulos e lesões dermatológicas. Oncocercomas devem ser diferenciados das adenopatias. Oncoclermatite ou Dermatite Oncocercosa: E causada, principalmente, pela migração das microfilárias através do tecido conjuntivo da pele. E uma dermatite eczematoide extremamente pruriginosa seguida, às vezes, de liquenificação, perda de pigmento e atrofia da pele. As alterações cutâneas são características quando a pele perde elasticidade, atrofia-se e pode pender em pregas, com característica de velhice precoce. Segundo Moraes e cols. (1974), existe relação entre o número de microfilárias e o grau da reação cutânea, ou seja: as zonas de pele aparentemente normais contêm poucas ou nenhuma microfilária; as pápulas e zonas liquenificadas, um número maior, proporcional à intensidade das manifestações; e as lesões antigas, representadas por fibrose e despigmentação cutânea, um número novamente muito baixo. Essas manifestações cutâneas só ocorrem após a morte das microfilárias, pois enquanto estão vivas não há lesão de derme evidente. Lesões Oculares São lesões irreversíveis dos segmentos anterior e posterior do olho, resultando em sério comprometimento da visão e podendo levar à cegueira completa. Antes da cegueira total, podem aparecer outros distúrbios como cegueira noturna, redução do campo visual periférico e diminuição da acuidade visual., os tecidos do olho podem ser invadidos pelas microfilinas (Com exceção do cristalino),que são encontradas também na câmara anterior. As microfilárias, ao morrer, determinam na cómea a alteração ocularr mais comum e precoce na oncocercose, conhecida como ceratite punctata (caracterizada por diminutos pontos de espacificação), que se agrava, levando à ceratite esclerosante com a opacificação total da cómea e perda da visão. A principio, apenas pontos esparsos, esbranquiçados, indicam o acometimento do órgão pelas microfilárias. Com o passar dos anos e a invasão de novas microfilárias, as lesões se. As lesões oculares só aparecem em regiões de endemicas alta e em pacientes com parasitismo intenso. Lesões Linfáticas Pode ocorrer infartamento dos linfonodos próximos das alterações cutâneas ricas em microfilárias, com adenopatias. se a obstrução linfática for muito intensa e demorada, pode correr edema linfático e fibröse nas áreas atingidas. Disseminação As microfilárias podem cair na corrente sanguínea via sistema linfático e disseminar-se para várias partes do corpo, sendo encontradas nos glomérulos renais (podendo ser eliminadas pela urina), líquido cerebroespinhal, atingindo a glândula pituitária, o nervo óptico e cerebelo. As consequências da disseminação das microfilárias pelos diversos órgãos ainda não estão bem esclarecidas, mas poderiam estar relacionadas com as reações inesperadas após a terapêutica, como vertigens, desmaios, tosse com muco e urticária. Diagnostico Clínico É importante o diagnóstico diferencial dos nódulos oncocercóticos com as adenopatias, principalmente quando localizados nas regiõescervical, axilar e inguinal. A definição do diagnóstico é por meio do exame histopatológico. O diagnóstico laboratorial confirma a parasitose. Laboratorial O diagnóstico laboratorial parasitológico baseia-se na identificação das microfilárias ou do verme adulto. A identificação das microfilárias é feita utilizando fragmentos de pele obtidos por biópsia. O melhor método é a retirada de um fragmento superficial da pele, com cerca de 2 mm de diâmetro (“retalho cutâneo”) da região escapular e/ou quadril ou da região do corpo mais afetada. Esse fragmento, retirado com um esclerótomo, é incubado por 15 a 30 minutos com gotas de solução fisiológica sobre uma lâmina de vidro e coberto com lamínula. Em alguns minutos, as microfilárias abandonam o fragmento de pele, sendo vistas ao microscópio movimentando-se ativamente. Em caso de dúvida, deve-se corar as microfilárias pelo Giemsa e examinar as diferenças morfológicas de outras espécies de filaridios. Exames oftalmológicos: são utilizados para verificar a presença de lesões e microfilárias. Com auxílio de uma lâmpada de fenda pode-se identificar microfilárias no humor aquoso e na câmara anterior do olho. Teste de Mazzotti: quando não se consegue demonstrar o parasito por métodos convencionais, pode-se utilizar o teste de Mazzotti (diagnóstico de infecções inaparentes ou assintomáticas). Este teste consiste em administrar, por via oral, 50 mg de dietilcarbamazina ao paciente e verificar após algumas horas, o aparecimento de prurido, edema e dermatite, que indicam parasitismo por Onchocerca, pois estas reações alérgicas do hospedeiro são causadas pela morte de microfilárias na pele. Estas reações podem permanecer por até 24 horas. O teste de Mazzotti está praticamente abandonado pela possibilidade de graves reações adversas na pele e nos olhos do paciente. Profilaxia A profilaxia da oncocercose consiste principalmente no tratamento dos parasitados com terapêutica adequada e combate aoinseto vetor “borrachudo” com o uso de larvicidas e inseticidas biodegradáveis, cuja aplicação é complicada devido aos tipos de criadouros, situados em áreas de difícil acesso representadas pelos rios com cachoeiras e corredeiras. Deve-se fazer a proteção dos humanos sadios com uso de repelentes e roupas adequadas, o que não é fácil devido às condições sociais e climáticas das regiões endêmicas. O controle baseia-se principalmente na redução da carga parasitária da população, sendo recomendado o tratamento em massa com ivermectina em dose única semestral ou anual. Tratamento A ivermectina estimula a liberação do ácido gama aminobutírico (GABA) nas terminações nervosas dos parasitos, inibindo a transmissão de impulsos nervosos, provocando em consequência sua paralisia e morte. O tratamento recomendado pela OMS é dose única de 150 a 200 pg/kg de peso (via oral) administrada semestralmente ou anualmente para ser efetiva. Esta dose destrói as microfilárias, impedindo a ampliação das lesões cutâneas e também atenuando ou impedindo o acometimento do globo ocular. Quando há morte de microfilárias na pele, o paciente pode apresentar reações gerais (edemas, pruridos, febre, mialgia, cefaleia, vômito, dispneia), porém menos pronunciadas que as provocadas por outros medicamentos. Embora a ivermectina seja eficaz contra microfilárias, não tem efeito sobre os vermes adultos. O tratamento recomendado com dose única semestral de 150 a 200 pg/kg de peso é suficiente para prevenir o desenvolvimento de lesões oculares.
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