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REVISÃO DE PROPEDÊUTICA PARA DERMATOLOGIA O órgão tratado pela dermatologia é a pele, cujo peso chega a 15% do peso corporal. Ela reflete, basicamente, o estado de saúde do paciente e é variável durante toda a vida, pois sofre mutações, ao longo do tempo, que a modificam. A pele, como sabemos, possui várias funções. Entre elas, podemos destacar a: Função Protetora: basicamente contra agentes nocivos, podendo estes serem físicos, químicos ou biológicos. O pH da pele é ácido, permanecendo entre 3,5 e 4,5, o que desfavorece o alojamento de muitos patógenos; Função Imunológica: Na pele se localizam as células de Langerhans, que são macrófagos apresentadores de antígenos, auxiliadores na defesa imunológica do corpo; Função Termorreguladora: O manto lipídico faz com que não percamos água trans epidérmica. Além disso, há na pele glândulas sudoríparas, responsáveis pela perda de calor; Função Perceptiva: Há na pele terminações nervosas de dor, pressão e temperatura; Função Secretória: As glândulas sebáceas secretam o sebo, responsável por manter a hidratação da pele. •Exame da pele O ideal é examinar toda a pele do paciente, não só a parte da qual ele nos relata um problema e é o motivo da consulta. Muitas vezes podemos achar algo evidente que passou batido pela própria pessoa. Um desnudamento completo das partes a serem avaliadas é o recomendado. A melhor iluminação a ser usada, assim, é a natural. Os itens a serem avaliados no exame são, basicamente: coloração, continuidade, umidade, textura, espessura, temperatura, mobilidade, elasticidade, turgor, sensibilidade e lesões elementares. Algumas características genéticas, sobretudo a cor da pele, influenciam na epidemiologia de algumas doenças. O clássico exemplo é o câncer de pele, que ocorre muito mais facilmente em peles brancas do que em negras. •Lesões Elementares São divididas em primitivas, que não são precedidas por outras lesões; e secundárias, que decorrem da evolução de alguma lesão primitiva. É importante destacar que uma mesma lesão pode, na verdade, ter várias etiologias. O nome dado à lesão na pele, de forma geral, é dermatose. Dermatite, por sua vez, é quando há, na pele, alguma inflamação. -A sensibilidade é um fator muito importante na hanseníase, por exemplo! -Turgor é a elasticidade da pele, característica reveladora do nível de hidratação! Classificação pela alteração da cor Tipo Principal Subtipo Descrição Foto Vasculares Eritema É uma vasodilatação que desaparece à digitopressão. Pode estar associada à inflamação. Cianose Eritema azulado, ocasionado por vasocongestão. Geralmente associado a temperaturas baixas. Enantema É um eritema localizado nas mucosas. Exantema/rash Trata-se de um eritema generalizado e agudo, cuja duração é curta. Tem dois subtipos: Morbiliforme ou rubeoliforme (mesclados com áreas normais de pele) e escarlatiforme (difuso e uniforme) Rubeoliforme Escarlatiforme Vasculares Lividez Mancha de cor lívida (branca), de temperatura fria, por isquemia. Vai do chumbo ao azulado Mancha vascular/ Mancha angiomatosa Mancha de cor vermelha, que desaparece por vitropressão forte. É causada pela má- formação de vasos dérmicos. São tratadas com laser Telangectasia Lesão filamentar, sinuosa. Causada por capilares dilatados na derme. Púrpura É uma mancha vermelha que se diferencia das demais por não desaparecer à vitropressão. Ocorre pelo derramamento de hemácias na derme. Com o tempo, se torna roxa e depois verde-amarelada. Até 1cm se chama petéquia; maior que 1cm se chama equimose. Se estiver distribuída linearmente, chama-se víbice. Pigmentares Mancha acrômica Ausência total de melanina. O vitiligo é uma doença que causa a despigmentação da pele Pigmentares Mancha hipocrômica Há diminuição de melanina. Um exemplo é a esclerose tuberosa. Outro é o nevo hipocrômico (possui bordas geográficas) Mancha hipercrômica Cor variável. Causada pelo aumento de melanina ou deposição de outro pigmento. Classificação das Lesões Elementares Sólidas Lesão Descrição Foto Pápula Sólida, elevada, circunscrita, menor de 1cm e superficial. Pode acontecer na epiderme e/ou derme. Não acontecendo na hipoderme Placa Lesão elevada em platô, com menos de 1cm de altura e vários de extensão. Pode ser única ou constituir um aglomerado de pápulas -As manchas resultantes do depósito de hemossiderina ou do ácido homogentísico resultam em coloração escura. Carotenemia e icterícia são cores mais amareladas! -Sempre que há púrpura devemos pensar em vasculite! -A hanseníase causa manchas hipocrômicas! Nódulo Lesão circunscrita. Pode ser elevada ou não. Tem de 1 a 3cm. São melhores palpáveis do que visíveis, e envolvem epiderme, derme e/ou hipoderme. Nodosidade/tumor Características do nódulo, porém maior que 3cm Tubérculo Cicatriz gerada por pápula ou nódulo Goma Nódulo que se liquefaz na porção central, podendo ulcerar. Deve ser acompanhado para poder ser diagnosticado Urtica Elevação, com forma irregular, de duração efêmera. Exsudação aguda da derme. Também é chamada de pápula urticada (maior: placa urticada) Vegetação Crescimento exofítico secundário à papilomatose. Pode ser verrucosa (aumento da camada córnea – lesão seca) e Condilomatosa (aspecto de couve-flor avermelhada – lesão úmida) Classificação pela alteração de espessura Nome Descrição Foto Ceratose Espessamento duro, inelástico, amarelado e áspero. Aumento da camada córnea Atrofia Pele delgada, fina, translúcida. Pode ser fisiológica na velhice, ou mecânica nas estrias. “Placa Atrófica” •A psoríase, doença de pele crônica, causa pápulas e placas. Trata-se de uma inflamação. •Placa Infiltrada → aumento da espessura da pele sem aumentar os sulcos •Placa Liquenificada → espessamento da pele com acentuação dos sulcos •Placa Esclerótica → Aumento da consistência da pele e diminuição dos pelos (esclerose dérmica). Na esclerodermia ocorre alteração de colágeno •Nos casos de tubérculo e goma, as lesões são dinâmicas. Assim, para definir diagnóstico é necessário ver o paciente em série. Placa esclerótica Classificação das Lesões elementares com conteúdo líquido (serosidade, sangue ou pus) Lesão Descrição Foto Vesícula Elevação de líquido claro com até 1cm.O conteúdo modifica-se com o tempo Bolha Elevação, contendo líquido claro, mas maior que 1 cm Pústula Elevação, de até 1cm, contendo pus. Pode ter várias etiologias associadas. Abcesso Forma circunscrito de pus na pele ou subcutâneo, proeminente ou não, com tamanho variável. Pode haver rubor e calor Cicatriz É uma lesão lisa e plana. Pode ser saliente ou deprimida. Não tem sulcos, poros ou pelos. É a reposição de tecido fibroso. Queloide é um tipo de cicatriz que supera os limites da mesma. Hematoma Reunião de sangue na pele ou subcutâneo, de tamanho variável. Geralmente causado por trauma Classificação pelas soluções de continuidadeLesão Descrição Foto Erosão/exulceração Atinge a epiderme e não deixa cicatriz Ulceração Atinge a derme e deixa cicatriz Fissuras/rágades Perda de substâncias lineares, dobras de pele ou pele ao redor de orifícios. Pode ser superficial ou profunda Fístula Trajeto linear/sinuoso, que liga a profundidade ao exterior. Ocorre drenagem do conteúdo O impetigo, infecção cutânea, causa erosões na região oral! Classificação pelas Perdas teciduais Lesão Descrição Imagem Escamas Lâminas epidérmicas secas que se desprendem (dependendo do tamanho podem ser: furfurácea, micácea, foliácea ou laminada) Crosta Ressecamento de serosidade, pus ou sangue. São facilmente destacáveis Escaras Parte do tecido atingido por necrose •Termos designativos Além de todas essas lesões supracitadas, temos algumas particularidades que devem ser destacadas. As erupções cutâneas, por exemplo, são manchas escamosas, e podem ser divididas em Monomórficas (formadas por um único elemento eruptivo) e Polimorfas. A herpes simples é um exemplo de monomórfica, sendo uma erupção monomórfica vesicular; já a varicela se apresenta como erupção polimórfica, e é constituída por vesícula, erosão e crostas. As lesões, além disso, podem ser classificadas quanto à sua forma. Os nomes são intuitivos: anular, arcada, circinada (círculo), corimbiforme (lesão principal e outras satélites), discoide, figurada (bordas nítidas), geográfica, girata (espiral), gutata, irisada (círculos concêntricos), lenticular, linear, miliar (grânulos), numular (moeda), pontuada, serpiginosa e zosteriforme (trajeto de nervo). As lesões descritas nem sempre são fáceis de serem identificadas. Exigem muita prática e estudo por parte do profissional. Ainda dentro da ótima semiológica, alguns dados em relação às lesões são muito importantes pra o diagnóstico, como: por quanto tempo a dermatose se instaurou; se já ocorreu em outro lugar e como se comporta; o que a agrava ou a acompanha; se há outras doenças na história médica ou até na família e etc. •Unhas As unhas do paciente também devem ser analisadas, e algumas patologias têm poder de deformação dessa estrutura. As características das unhas que devem ser avaliadas circundam a forma, espessura, superfície, forma de implantação, consistência, brilho e coloração. Abaixo estão listadas apenas algumas alterações. Nome Descrição Foto Onicomadese A porção proximal da unha vai se destacando, de forma indolor Hipocratismo Digital Hipertrofia das falanges distais. Está associada a muitas doenças Linhas de beau Crescimento das unhas desacelera temporariamente. Está associada a infecção, trauma, doenças sistêmicas ou quimioterapia Onicólise Descolamento da unha a partir da parte distal Traquioníquia Rugosidade da unha causada por finas estrias •Cabelos É importante, por fim, a análise dos cabelos, a fim de identificar alguma característica anormal que possa contribuir no diagnóstico do caso. Deve ser observado: tipo de implantação, distribuição (alopecia ou calvície), quantidade, coloração, brilho, consistência e espessura. Os fâneros estão contidos nos folículos polissebáceos e são finos e mais claros até a puberdade. Alopecia é a ausência de cabelo em determinada área; poliose seria mancha de cabelo branco; já na canície ocorre um branqueamento de todos os pelos, proporcionado pela perda de atividade dos melanócitos. Em suma: •Vitiligo → doença caracterizada pela perda de coloração da pele. É mais perceptível em pacientes de pele escura, e não tem tratamento. •Impetigo → Infecção bacteriana comum, altamente contagiosa. Afeta principalmente bebês e crianças, e causa feridas vermelhas no rosto. As erosões causam exsudação, e em seguida geram uma crosta. Antibióticos devem ser empregados. Resolve-se em dias ou semanas. HANSENÍASE OU MAL DE HANSEN É uma doença infecciosa crônica causada pelo mycobacterium leprae. Tem baixa virulência, porém alta infectividade. Também é chamada de Mal de Hansen ou Lepra. A prevalência é a mesma nos dois sexos, mas a forma Virchoviana (será descrita depois) predomina em homens. A doença causa deformidades e incapacidades por acometer principalmente os nervos. A forma de contágio principal é o contato de secreções (bacilos) da via aérea superior, mas também, em alguns casos, a doença pode ser transmitida pelas lesões da pele. Seu período de incubação é de mais de 5 anos. •História: doença muito antiga, com descrições desde 1500 a.C. Foi trazida às Américas pelos colonizadores. Os pacientes, durante algum tempo da história brasileira (e também mundial), eram submetidos a isolamento compulsório. Em 1975 surge a cura da doença PQT-OMS (rifampicina, clofazimina e dapsona). Em 1995 o termo “lepra” é proibido e adota-se, então, a palavra hanseníase. •Epidemiologia: a prevalência mundial da doença é bem baixa: 10 casos a cada 100 mil habitantes. O Brasil, entretanto, tem a segunda maior prevalência do mundo, perdendo apenas para a Índia! (no país o aglomerado de casos acontece na região Norte e Nordeste). Curiosamente, 86% dos doentes no mundo todo concentram-se em apenas 6 países. A prevalência e incidência, contudo, vêm caindo. •Características: segundo a OMS, para ser considerado hanseníase, o paciente precisa apresentar pelo menos um dos critérios abaixo: a) Lesões de pele com alteração de sensibilidade b) Espessamento de nervo periférico, acompanhado de alteração de sensibilidade c) Baciloscopia positiva Quanto à identificação do bacilo, é dada por baciloscopia com identificação no tecido. Métodos complementares como anticorpos específicos e PCR podem auxiliar. A classificação da doença é um pouco complexa, mas pode ser elucidada pelo desenho abaixo. A forma paucibacilar congrega apenas a tuberculoide e a indeterminada; o resto é considerado multibacilar. As formas paucibacilares apresentam baciloscopia negativa; já as formas multibacilares têm baciloscopia positiva. Para fins terapêutico, as multibacilares possuem mais de 5 lesões na pele, diferente das formas paucibacilares (menos que 5). •Hanseníase Indeterminada: é a fase inicial. Aparecem manchas hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas. Essas manchas têm alteração de sensibilidade: são anestésicas, alopecias e anidróticas (3A’s). •Hanseníase lepromatosa polar ou virchowiana: é a forma sistêmica e anérgica. Considera-se a forma contagiante, pois aqui há um número muito alto de bacilos. Quanto às dermatoses envolvidas, há nódulos nas orelhas, lábios sombrancelhas e extremidades. Placas e nódulos no tronco, além de madarose, também são comuns. A grossura da pele do rosto se altera (facies leonina). Ademais, ocorre polineurite simétrica com alteração de sensibilidade. Além disso, outros sintomas também podem estar presentes: rinite, perfuração do septo nasal, ceratite, esplenomegalia, linfonodomegalias, anemia, reabsorção óssea e amiotrofias. Na histologia, é possível notar acúmulo de macrófagos na derme, células de Virchow e banda de Unna. Os nervos também contêm grande quantidade de bacilos. •Hanseníase tuberculoide polar: tem baixa carga de bacilos, e acomete pele e nervos. Gera até 5 placas anulares, com limites precisos e bordos infiltrados (também possuem os 3A’a). Na histologia das lesões, são achados granulomas de células epitelioides rodeadas por linfócitos e células de Langerhans. A doença age destruindo as fibras nervosas e causando anestesia e paralisia. Os nervos mais afetados são o ulnar, tibial posterior e fibular. O comprometimento nervoso é observado quando há espessamento, dor espontânea ou à palpação e alteração da função sensitivo-motora.•Diagnóstico: -Baciloscopia: nos esfregaços, as colorações utilizadas são de Ziehl-Neelson e Oramina-rodamina; já nos tecidos, usa-se Fite-faraco e Ziehl-Neelson. -Clínica: a identificação de alterações de sensibilidade nas lesões é essencial. Além disso, prova de histamina, prova de pilocarpina e teste de Mitsuda podem auxiliar. -Imunologia: na MHC predomina resposta humoral do tipo Th2; já na MHT, o predomínio é de Th1. •Tratamento: se dá por poliquimioterápicos, como já citado acima. Na imagem ao lado temos os fármacos designados. PB são as formas pauci, e envolve 6 cartelas durante 6 meses. Quanto ao MB – multi – o tratamento se dá com 12 cartelas durante 12 meses. Os tratamentos podem ser feitos normalmente durante gestação e lactação. Se houver tuberculose concomitante, o tratamento deve utilizar as doses recomendadas de rifancina para tuberculose. Menos de 5% dos casos que fazem o tratamento correto sofrem recidiva. Fácies leonina •Estados reacionais: Em 50% dos casos, ocorre uma reação hansênica, na qual há uma exacerbação das lesões clínicas pré-existentes. É o sistema imunológico que reage frente ao M. leprae. Acontece nas duas formas de hanseníase e causa reações inflamatórias agudas ou subagudas. Não contraindica, entretanto, o tratamento específico. -Reação tipo 1 (reversa): nos dimorfos e tuberculoides limítrofes (imunidade celular). Surgem novas lesões, infiltrações e edema nas lesões antigas, e neurite. Corticoides são usados até a regressão. -Reação tipo 2: nas formas dimorfas e vichorwianas (imunidade humoral). Ocorre nódulos eritematosos dolorosos, febre, dores articulares, linfonodomegalias, mal estar geral, artrites e uma série de outros sintomas. O tratamento consiste em talidomida e corticoides sistêmicos. DOENÇAS ECZEMATOSAS Eczema é sinônimo de dermatite. São grupos de doenças que se caracterizam por prurido, pápulo-vesículas e exsudação. A espongiose é uma característica histológica comum, que inclusive diferencia eczema de doenças pápulo-escamosas. Elas não são graves e possuem etiologias variadas. Quanto à epidemiologia, são as doenças dermatológicas mais comuns. As manifestações clínicas incluem eritema, edema, infiltração, vesículas, secreção, crostas e escamas. A doença pode ser classificada em 3 níveis, conforme o quadro ao lado. Os tipos de eczema, então, são: de contato, atópico, seborreico, de estase, numular e disidrótico. Explicaremos abaixo os mais importantes. •Dermatite atópica (eczema atópico): é uma dermatose crônica e com recidivas na infância. Acomete de 10 a 20% das crianças (90% delas até 5 anos). Tem prevalência significativa e a incidência vem aumentando em adultos. Alguns fatores que propiciam a instalação da doença são: suscetibilidade genética, defeitos na barreira cutânea, alterações imunológicas, hiper-reatividade a alérgenos e influência psicológica. Não há nenhum tipo de exame que diagnostique a doença, apenas a clínica. O diagnóstico é feito por prurido + pelo menos 3 características listadas na tabela. A dermatite atópica pode ser divida em 3 fases: 1) Fase infantil → ocorre até os 24 meses, e gera lesões nas zonas elevadas da face. Lesões em cotovelos também são recorrentes e geralmente poupa a região das fraudas. 10% dos pacientes se curam aqui. 2) Fase escolar → a partir dos 2 anos de vida até a puberdade. Começam a aparecer lesões nas dobras dos joelhos, cotovelos, região cervical lateral, pulsos e tornozelos. Pode ocorrer liquenificação (engrossamento da pele pelo ato de coçar). 3) Fase adulta → as locais ocorrem nos mesmos lugares, mas a probabilidade de liquenificação é maior. Os pacientes, ainda, geralmente se apresentam instáveis emocionalmente. As lesões avermelhadas acometem mais facilmente rosto e pescoço. O tratamento é sintomático, e a cura total não é possível. Esses pacientes devem cuidar das suas lesões com mais atenção, principalmente no banho (precisa ser rápido e não tão quente) e vestuário (tecidos mais sintéticos causam mais coceira). Ficar alerta a infecções (Staphylococcus aureus) também é de suma importância – se houver essa infecção secundária, tratar com antibioticoterapia sistêmica (banho diário é fator de proteção). Além disso, o uso de hidratantes é fundamental, devendo o paciente passar no mínimo 4 vezes ao dia. É importante, ademais, substituir sabonetes por cremes de limpeza, e uso de óleos durante o banho. O uso de corticoides tópicos para o tratamento leva em consideração a fase do eczema, a idade do paciente, a extensão do quadro e a potência do medicamento. Para o prurido, anti-histamínicos são indicados. •Eczema de estase: acomete os membros inferiores de forma crônica, por estase venosa. Ocorre recorrentemente em mulheres adultas, obesos e em pessoas com fraturas de membros inferiores. Inicia nos tornozelos e acomete essencialmente o terço inferior das pernas. O quadro começa com edema, que evolui para dermatite ocre e então eczema. Nas fases crônicas, geralmente há liquenificação das lesões. Contaminações bacterianas também são frequentes. Nas fases finais, úlceras podem ser formadas. Aguda Eritema, edema, vesículas e secreção Subaguda Secreção e crostas Crônica Liquenificação O tratamento da doença consiste na recuperação da insuficiência vascular. Corticoterapia pode ser aplicada nas fases crônicas. •Eczema disidrótico: é uma dermatose crônica e recorrente, com etiologia não definida, e que acomete mãos e pés. Se caracteriza por vesículas que rompem com facilidade, devido às áreas muito queratinizadas. O prurido é constante e ocorre antes do rompimento das vesículas. Adultos jovens com pele clara são os mais acometidos. A doença consiste em uma resposta inflamatória a alguns fatores, como infecções fúngicas ou bacterianas, medicamentos, contactantes, diátese atópica, hiperhidrose ou traços emocionais. É comum o aparecimento de vesículas hialinas profundas de forma súbita (aspecto em sagu). As lesões são simétricas e bilaterais e não possuem base eritematosa. A formação de bolhas é possível, assim como o surgimento de descamação e liquenificação nas fases finais. Além disso, pústulas podem ocorrer, desde que decorrentes de infecção secundária ao eczema disidrótico. O diagnóstico é fundamentalmente clínico e os diagnósticos diferenciais incluem: psoríase palmo plantar, psoríase pustulosa, farmacodermias e eczemas de contato. O tratamento se dá por corticoterapia tópica ou sistêmica (depende da fase), imunomoduladores típicos e eliminação das causas. •Eczemas de contato: trata-se de uma reação inflamatória a substância exógena. Caracteriza-se por pápulas eritematosas, vesículas e lesões crostosas. Na fase crônica, liquenificação, fissuras, descamação e ressecamento da pele estão presentes. O prurido é o principal sintoma. As alterações histológicas são comuns a todos os eczemas: acantose, vesículas, espongiose e exsudato (nessa ordem). Tatuagens de henna podem disparar os sintomas Aspecto em sagu Eritema, edema, infiltração e vesículas Secreções, crostas e escamas (fase crônica) LESÕES MELANOCÍTICAS (EPIDÉRMICAS, DÉRMICAS E NEVOS) BENIGNAS Podem acontecer tanto na epiderme como na derme, e o início das lesões se dá de forma congênita ou adquirida. As lesões pigmentares, decorrentes de melanócitos epidérmicos, incluem: efélides, mácula melanocítica de lábio, lentigo simples, síndromes lentiginosas e melanosa solar. Estas serão descritas a seguir. •Melanócitos epidérmicos -Efélides: são conhecidas popularmente como sardas e surgem dos 6 aos 18 anos. Estão relacionadas à exposição solar (fotodano). São máculas acastanhadas ou escuras, de 2 a 4 mm, que possuem caráter hereditário, frequentemente em fototipos I e II (cabelo ruivo e loiro). A distribuição é simétrica. Podem levar ao xeroderma pigmentoso, que se manifesta muitocedo na criança, levando as efélides a tumores. Não se faz biópsia, mas o resultado seria o aumento de pigmento melânico. -Mácula melanocítica de lábio: frequente em mulheres jovens, é uma mancha/mácula nos lábios. A histologia é similar às efélides. -Lentigo Simples: máculas puntiformes acastanhadas ou pretas. Surgem no nascimento ou na infância, em praticamente qualquer área do corpo. Quanto à histologia, significa um aumento de melanócitos (hiperplasia melanocítica) e alongamento das cristas epiteliais, aumentando a produção de melanina. Elas raramente sofrem transformação maligna. -Síndromes Lentiginosas: são lentigos disseminados. Ocorre nas síndromes de LEOPARD, Peutz-Jeghers e Carney. A primeira tem várias comorbidades associadas. -Melanose solar: também conhecida por melanose actínica ou lentigo solar. Ela difere da etiopatogenia do lentigo simples. É muito prevalente depois da quarta década de vida. A etiologia consiste no acúmulo de raios solares durante toda a vida. Em casos raros pode evoluir para degeneração maligna. Quando isso acontece, a lesão torna-se extensa e de cor castanha-preta (lentigo maligno). Fototipos •Melanócitos Dérmicos: -Mancha mongólica: mais frequente na região sacra. Coloração azulada. -Nevos de Ota: região do nervo trigêmeo e esclerótica – de forma unilateral -Nevos de Ito: áreas correspondentes aos nervos laterobraquial e supraclavicular posterior. É uma mancha unilateral na região do deltoide, escápula e clavícula. •Nevos Os nevos são ninhos de células névicas (chamados de pinta ou sinal) que são formados a partir de melanócitos, mas que se tornam células com características específicas. Surgem até os 25 anos de idade, com ênfase no início da vida adulta. Se houver muitos nevos, o risco de melanoma é maior. -Nevo azul comum (chama-se nevo, mas não é composto por célula névica, e sim por melanócito!): tem coloração azulada. Se apresenta como lesão pequena (mácula ou pápula), localizada na cabeça, pescoço, dorso de mãos e pés. O pigmento melânico é abundante. Quanto à histologia, há um acúmulo de melanócitos dérmicos, assim como fibroblastos e melanófagos. -Nevo azul celular: trata-se de uma placa ou nódulo azul sem pelos. É frequentemente adquirido, e localiza-se nos glúteos e região sacra. Em 17% dos casos está no couro cabeludo. Pode evoluir (raramente) para nevo maligno e melanoma. -Desenvolvimento dos nevos: a célula névica migra da epideme para a derme. Quando se situa na epiderme, tem aspecto epitelioide; na derme média, aspecto linfóide; já na derme profunda, tem aspecto neuroide e diminui a produção de melanina. A imagem abaixo exemplifica os processos de migração. Os nevos nas regiões acrais (mãos e pés) em geral são juncionais ou compostos, e estão relacionados a um risco maior de melanoma acral lentiginoso. -Nevo melanocítico congênito: em 1% das pessoas nascidas. São maiores que os adquiridos. São considerados pequenos quando têm menos de 1,5 cm; e gigantes quando maiores que 40 cm. Esses gigantes agregam maior risco de complicações. Elas ocupam praticamente um membro inteiro e possuem superfície rugosa, pilosa e cor de café claro ao preto. Podem estar acompanhados, ainda, de lesões satélite. É importante o uso do critério ABCDE para diferenciar lesões normais de melanomas. A imagem abaixo traça essas diferenças e exibe o método. Nevo composto Nevo juncional Nevo intradérmico -Nevo displásico: seria a lesão intermediária entre nevo melanocítico e melanoma. O risco de melanoma aumenta se houver membros da família com nevos displásicos. Podem ser múltiplos (mais de 100 lesões). Importante a avaliação por Fotofinder e ressecamento das lesões. Geralmente aparecem na adolescência, mas podem surgir até os 40 anos. Têm de 6 a 15 mm e são ausentes no nascimento. A morfologia em “ovo frito” é comum. -Nevo Spitz: era chamado de melanoma benigno juvenil. Pode ser juncional, composto ou intradérmico. Geralmente é solitário, pequeno, indolor e localizado na face. Pode ser confundido com melanoma maligno. A apresentação clínica é muito variável (várias cores e formatos). Na histopatologia, ocorre vasodilatação de capilares linfáticos e epiderme hiperplásica. O tratamento consiste na exérese cirúrgica. -Nevo Spilus (nevus sobre nevus): mancha acastanhada e irregular, na qual surgem numerosas pápulas lenticulares mais escuras (nevos melanocíticos). É frequentemente única e localizada em tronco. As lesões são de alguns centímetros. Na histopatologia há hiperpigmentação basal. Deve ser acompanhado com dermatoscopia. -Nevo halo: surge na adolescência e pode estar associado ao vitiligo. Comumente é múltiplo e se apresenta em vários estágios distintos: nevo melanocítico com halo hipocrômico/acrômico; nos estágios finais o nevo desaparece. CÂNCER DE PELE – MEDICINA UFCSPA É o tumor mais frequente entre todos, representando 60% de todas neoplasias. No Brasil, mesmo com as estimativas subestimadas, o câncer de pele não melanoma corresponde a 30% dos tumores relatados. Esses tumores são mais frequentes em pacientes acima de 40 anos, principalmente naqueles de pele clara. O principal fator de risco envolvido é o fotodano, gerado por anos de exposição ao sol. Em relação ao protetor solar, muitas vezes ele atrapalha mais que ajuda, pois as pessoas ficam com a impressão de que estão completamente protegidas, o que não é verdade. O protetor protege muito mais contra radiação UVB – é a que queima e descama a pele – mas o fotodano, fator de risco para neoplasia, é causado pelos raios UVA. Além disso, a quantidade de protetor que deveria ser passado é infinitamente maior do que as empresas preconizam e do que a população geralmente usa. São 3 as neoplasias que surgem na pele: melanoma (atinge os melanócitos), carcinoma basocelular (atinge células basais da pele) e carcinoma espinocelular ou epidermoide (atinge as células do estrato granuloso). Abaixo detalharemos cada um deles. •Carcinoma Basocelular (CBC): é o tumor de pele mais comum e tem baixa letalidade. Dificilmente gera metástase e se apresenta clinicamente com lesão nodular, telangiectasias e aspecto basaloide. Pode acontecer em localizações especiais, como na pálpebra inferior do olho. Além disso, há alguns tipos diferentes de apresentação, que podem ser mistos, infiltrativos e mal limitados. CBC com halo brilhoso CBC esclerodermiforme •Carcinoma epidermoide ou espinocelular (CEC): é o segundo tumor de pele mais frequente, e tem mais chance de ser metastático. Ocorre frequentemente em transplantados. São originados pelas queratoses actínicas: 5 a 8% delas podem virar câncer. A apresentação clássica do CEC é um ferida que o paciente refere que não cicatriza. CEC Pode surgir em várias localidades, com aspectos morfológicos distintos. A abordagem tanto para CBC quanto para CEC é biópsia incisional em toda lesão suspeita; se der positivo, exérese sempre! •Melanoma: é o menos frequente, mas o de mais alta letalidade. 30% dos melanomas se originam de nevos pré-existentes. Os principais fatores de risco incluem queimadura solar, mais de 100 nevos, história familiar Queratose actínica → lesão eritematosa com superfície áspera e escamas secas de cores mais claras. Aparece em áreas fotoexpostas e fotodano ao longo da vida. Há vários tipos desse câncer: extensivo superficial (70%), nodular (10 a 15%), lentigo maligno (5%), ancral (5%) e outros. O ancral acomete a planta do pé, e é mais comum em indivíduos negros. A cor do melanoma indica sua profundidade. Quanto mais azulado ele for, mais profundo. E, consequentemente, pior o prognóstico. Nas lesões suspeitas, faz-se biópsia excisional sempre que possível- geralmente o é quando a margem é pequena, de 1 a 3 mm. Depois, avalia-se a profundidade e ampliação das margens. Em relação ao prognóstico, depende muito do tamanho do tumor. Se for lesão com mais de 4mm, a probabilidade de sobrevivência em 5 anos é de 50%; se o câncer tiver menos que 1mm, as chances sobem para quase 100%. O melanoma pode dar metástase para SNC, osso e fígado. Como fica a recomendação de exposição ao sol? Depende de cada paciente. Em negros, é fundamental pegar solo para sintetizar vitamina D. Em peles claras demais e o paciente já tiver fotodano e muitos nevos, a recomendação é não pegar sol (nem com protetor) e suplementar a vitamina D. Melanoma ancral DST’S COM MANIFESTAÇÕES DERMATOLÓGICAS De acordo com a OMS, a incidência de DST’s curáveis no Brasil é de 12 milhões. As DST de notificação compulsória, no país, são: AIDS, HIV em gestante, sífilis na gestação e sífilis congênita. •Cancro mole: é causado pelo agente Haemophilus ducreyi e tem tempo de incubação de 2 a 4 dias (isso é importante, pois, quando a pessoa aparece no consultório com essa doença, provavelmente teve relação desprotegida nos últimos dias. É essencial perguntar na anamnese). A apresentação clínica envolve múltiplas ulcerações dolorosas, com fundo purulento e base mole, principalmente localizadas na genitália ou ao redor do ânus. As bordas da lesão são solapadas e pode gerar gânglios dolorosos e fistulizações. O diagnóstico se dá com bacterioscopia (bacilo gram-negativo). Para o tratamento, a primeira opção é Azitromicina 1 grama dose única. Caso não funcione, pode-se optar por ceftriaxone 250mg IM dose única OU Ciprofloxacina 500 mg 12/12 por 3 dias. •Linfogranuloma venéreo: tem como agente causador o Chlamidia trachomatis, e o período de incubação é de 2 a 4 semanas. Na apresentação clínica, geralmente há sintomas constitucionais e, num primeiro momento, a lesão inicial não é observada. Se a doença não for identificada, pode levar a linfoestase crônica nos geniais externos e retite estenosante. No homem, ao contrário da mulher, ocorre adenopatia com vários linfonodos acometidos e fistulização. O diagnóstico envolve bacterioscopia com esfregaço da lesão, seguido de imunofluorescência, retirado com punção. O tratamento consiste de Doxiciclina 100mg 12/12hr por 21 dias. •Donovanose: o agente envolvido é o Calymatobacterium granulomatis. A apresentação clínica se inicia por lesão nodular que ulcera com crescimento centrífugo, e sangra facilmente. Além disso, as lesões podem ser vegetantes. Estão localizadas principalmente na genitália e ao redor do ânus. O tratamento consiste em Azitromicina 1g/semana, durante 3 semanas, ou até cicatrizarem as lesões. Como segunda opção, pode-se usar Doxiciclina 100mg de 12/12h por 21 dias, ou até cicatrizarem as lesões. Ainda há a terceira opção, que seria Sulfametazol + Trimetropim 800 + 80, um comprimido de 12/12h por 21 dias, ou até cicatrizarem. •Sífilis: infecção causada pelo Treponema pallidum, que, se não tratada, pode cronificar. Ocorre predominantemente por via sexual ou vertical. Na evolução da doença, ocorre fases de latência, nas quais a doença não é sintomática. Durante os períodos de atividade, características clínicas, imunológicas e histopatológicas distintas são observadas. A sífilis possui alguns estágios, como está ilustrado na imagem ao lado. Ainda, podemos classificar a doença entre recente e tardia, essa última quando há mais de um ano de evolução. Considerando os não tratados, 35% se curam; 35% irão para forma latente; o restante passa para a fase terciária. -Sífilis Primária → a principal característica é o cancro duro: lesão única ulcerativa, com bordas rasas e base de úlcera dura. A úlcera não dói, e pode envolver gânglios duros e poucos dolorosos (inguinais). O diagnóstico pode ser feito por pesquisa direta em campo escuro ou imunofluorescência direta. Os anticorpos costumam surgir na corrente sanguínea entre o sétimo e décimo dia. -Sífilis Secundária → disseminação hematogênica e linfática do treponema. Os sintomas frequentes são: perda de peso, cefaleia, febre baixa, prostração, dor de garganta, artralgia, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia generalizada e alopecia. Já podem começar a surgir problemas maiores de ordem neurológica. -Sífilis Terciária → gera neurosífilis em 6,5% dos casos e acometimento cardiovascular em 10,5%. Pode acontecer demência e dificuldade de marcha, devido aos problemas neuronais. Quanto aos testes imunológicos, há os treponêmicos (FTA-Abs, ELISA/EQL/CMIA, TPHA/TPPA/HMA- TP, teste rápido), que são os primeiros a se tornarem reagentes, e assim ficam a vida toda. São importantes para diagnóstico, mas não para acompanhamento de evolução. Além desses, existe os testes não treponêmicos (VDLR, RPR, USR, TRUST), que são os quantificáveis, por isso servem para acompanhamento do caso. Estes testes decaem em relação à sua eficácia à medida que o tempo passa. O tratamento da sífilis está sinteticamente colocado na imagem abaixo. •Gonorreia: agente causal é a Neisseria gonorrhoeae, com tempo de incubação de 2 a 3 dias. A apresentação clínica inclui ardência e prurido na uretra, seguido de edema no meato uretral e secreção purulenta pelas manhãs. Nas mulheres, a infecção geralmente é assintomática. As complicações da doença são múltiplas, e incluem orquite, epididimite, oftalmia gonocócica (pode levar à cegueira) e infecção gonocócica disseminada. O diagnóstico da doença envolve bacterioscopia do esfregaço da secreção purulenta ou cultura em meio de Thayer-Martin. O tratamento consiste, basicamente, em Ceftriaxone 500mg IM dose única + Azitromicina 1g dose única. -Gonococcemia disseminada → pápulas eritemato-purpúricas e necróticas. Pode levar a artrite séptica, e tem alta mortalidade. É a principal complicação da gonorreia. •Uretrite não gonocócica: o agente causador mais frequente é a Chlamydia trachomatis, mas ainda pode ser causada por Mycoplasma, Trochomonas e Corynebacterium. O tempo de incubação é de 7 a 15 dias, e a Gonococcemia disseminada apresentação clínica inclui secreção uretral escassa, clara e mucoide, geralmente pelas manhãs. Nas mulheres normalmente é assintomática. O diagnóstico se dá por bacterioscopia do esfregaço da secreção. Deve mostrar células inflamatórias e ausência de gonococo. A cultura pode ser realizada, mas é raro acontecer. O tratamento envolve Azitromicina 1g, dose única. Como segunda opção, há Doxiciclina 100mg de 12/12hr por 7 dias. •Mulheres que contraem gonorreia e clamídia e não tratam, têm alta chance de ficarem estéreis. •Doentes de DST’s curáveis transmitem mais facilmente o HIV, caso haja carga viral. •Se houver lesões palmoplantares, desconfiar de sífilis e eritema multiforme. FARMACODERMIAS – MEDICINA UFCSPA Trata-se de respostas nocivas a drogas usadas em profilaxia, tratamento ou diagnóstico. Os principais motivos acabam sendo overdose, efeitos colaterais previsíveis, manifestações adversas inesperadas, inefetividade, erro na prescrição, uso ou manipulação do medicamento. As farmacodermias refletem o preço pago pela quantidade exorbitante de medicamentos que vêm sendo usado na farmacologia moderna. Uma mesma droga pode causas várias reações, assim como várias drogas podem convergir para uma resposta em comum. Respostas sistêmicas contemplam anafilaxia, vasculite, doença do soro e doença autoimune; já reações hematológicas podem incluir eosinofilia, anemia, neutropenia e trombocitopenia. Ademais, reações pulmonares como pneumonite alveolar ou intersticial e edema pulmonar podem ocorrer. Quanto às reações renais, são notáveis os casos de nefrite intersticial, glomerulonefrite e síndrome nefrótica. Por fim, há as reações cutâneas, que serão descritas abaixo, enquanto foco desse resumo. •Erupções: são relatadas desde1866 e acometem quase 30% da população em geral. Causam 2% das internações em adultos, 6% das internações pediátricas e, de pacientes hospitalizados, quase 20% chegam a apresentar erupção. Como fatores de risco, temos: sexo feminino (auto anticorpos), neonatos, idosos, metabolizadores lentos (G6PD – dapsona), doença renal, insuficiência hepática, infecções em geral, hipotireoidismo, hipóxia, e associação de várias drogas (em idosos e pacientes hospitalizados). •Erupções exantemáticas: são as mais frequentes, e ocorrem de 7 a 14 dias do início do uso da droga. São dadas pela hipersensibilidade tardia do tipo IV, que envolve células T e citocinas. O quadro clínico é variável, mas pode ser morbiliforme, urticariano e papuloso sem exantema. Geralmente são simétricos, e pode apresentar eosinofilia. As mucosas também podem ser acometidas. As erupções exantemáticas acontecem comumente no uso de penicilinas (geralmente até 3 semanas após a exposição ou com 2 semanas após a interrupção), que podem desaparecer, inclusive, durante o uso da droga. Se a reação à penicilina ocorrer tardiamente, pode gerar casos mais graves. Outras drogas que causam essa erupção são: sulfas, ampicilina, diuréticos, tioureias, analgésicos, AINE’s, captopril, fenitoína, carbamazepina, glibenclamida, glimepirida, carbamazepina, clorpromazina e hidantoínas. •Erupção psoríaseforme: a suspensão de corticoterapia sistêmica nos pacientes com psoríase pode levar à psoríase pustulosa generalizada. Outras drogas que a causam incluem: lítio, betabloqueadores, antimaláricos, AINE’s, ampicilina, morfina, codeína, inibidores de ECA, terbinafina, ciclosporina e interleucinas. •Erupções pustulosas: há 3 manifestações: 1) erupções acneiformes → áreas atípicas com início abrupto. Há um monomorfismo nas lesões, com ausência de comedos (cravos); 2) agravamento da rosácea → causado por sais de iodo e bromo, propranolol, hormônio adrenocorticotrópico, corticosteroides, isoniazida, andrógenos, lítio, actinomicina D, ACO, cianocobalamina, sirolimos e hidantoinatos; e 3): AGEP (acute generalized exanthematous pustulosis) → eritema difuso com pústulas estéreis não foliculares. Tem evolução rápida e pode gerar sintomas sistêmicos. Causa pústulas, que desaparecem em 5 ou 10 dias, com descamação superficial sem sequelas. Embora não cause lesões viscerais, pode gerar leucocitose e eosinofilia. É o principal diagnóstico diferencial de psoríase pustulosa. Os principais medicamentos envolvidos são: antibióticos com anel betalactâmico, macrolídeos, cefalosporina, fluoroquinolona, isoniazida, vancomicina, minociclina, doxiciclina, hidroxicloroquina, terbinafina, itraconazol, inibidores de protease, paracetamol, carbamazepina e corticoides. •Eritema Pigmentado Fixo: são lesões arredondadas bem delimitadas, eritematosas e geralmente únicas. Surgem horas após a exposição da droga. São hipercrômicas residuais e reaparecem sempre no mesmo lugar. Podem ser bolhosas, e aparecem em genitália, membros superiores (mãos) e membros inferiores (pés). Os medicamentos que disparam essa reação são: sulfas, tetraciclinas, penicilinas, griseofulvina, nistatina, metronidazol, barbitúricos, benzodiazepínicos, dipirona, aspirina, ibuprofeno e fenolftaleína. •Erupções Urticarianas: urticas de tamanho variados que duram menos de 24 horas e são bastante pruriginosas. Podem causar angiodema unilateral e não pruriginoso, com duração de 1h a poucos dias (reação por hipersensibilidade a IgE – liberação de histamina). Drogas causadoras: inibidores de ECA, sulfas, dipirona, AAS, penicilinas, cedeína e morfina. •Eritema nodoso: surge por várias etiologias, drogas é uma delas. São lesões nodulares, dolorosas, persistentes que ocorrem mais frequentemente na perna, região da tíbia (canela). Hanseníase é um importante diagnóstico diferencial. As drogas que causam esse eritema são AAS, barbitúricos, sulfas, brometos e anticoncepcionais. •DRESS (drug rash with eosinophilia and systemic symptoms): é uma reação grave, que pode ter relação com doença viral. O início é tardio, iniciando-se de 2 a 8 semanas após a exposição à droga. Causa exantema, linfadenopatia, febre (>38º), faringite e adinamia. Além disso, outros órgãos podem estar comprometidos, como fígado, rim, baço, SNC, sangue, tireoide e miocárdio. A clínica dermatológica dessa reação é múltipla: exantema (infiltrado e endurado, com acentuação folicular e tendência à eritrodermia), edema na face com acentuação periorbitária, púrpura nos membros inferiores, vesículas e bolas. As drogas que causam o DRESS são anticonvulsivantes (carbamazepina, fenobarbital, fenitoína, primidona, lamotrigina) e sulfonamidas (dapsopna, sulfasalazina, alopurinol, terbinafina, minociclina, teicoplamida, espironolactona, talidomida, bloqueadores de canais de Ca2+, zalcitabina, ranitidina, sorbinil, zidovudina, nevirapina e sais de ouro). As alterações hematológicas nessa doença podem incluir anemia, leucocitose, linfocitose e atipia linfocitária, e eosinofilia (>25%). As transaminases, em 51% dos casos, também estão aumentadas. Outros achados da doença, um pouco mais raros, envolvem infiltrado pulmonar, aumento de bilirrubina, alterações na tireoide e alterações da função renal. Os critérios para diagnóstico são 3: erupção Rosácea pelo uso de corticoides. AGEP cutânea, alterações hematológicas (eosinofilia > 1500 / mm³ ou linfócitos atípicos – 10%) e envolvimento sistêmico (adenopatia com 2 cm ou mais, hepatite e aumento de transaminases, nefrite, pneumonia intersticial ou cardite). Infelizmente, por questões de demora do reconhecimento da síndrome ou necrose hepática maciça, 10% dos pacientes com DRESS acabam falecendo. Manifestações do DRESS •Eritema multiforme: descrito ainda em 1860. É uma reação aguda, autolimitada, com distribuição simétrica. São pápulas avermelhadas que evoluem para lesão. Há o eritema multiforme major e o eritema multiforme minor, que se diferenciam pelas lesões mucosas e apresentação de sintomas sistêmicos. A morfologia das lesões, além disso, permite a diferenciação dessa reação com SSJ e NET (descritas abaixo). O eritema multiforme predomina em adultos jovens, sendo raro na infância. Incide mais em homens, porém igualmente entre as raças. Pode ocorrer pela reação imunológica a infecções (HSV 1 e 2, Mycoplasma pneumoniae, Histoplasma capsulatum, Paparox vírus, EBV e doenças sistêmicas) e, em 10% dos casos, resposta a drogas. Parece, realmente, ter uma forte conexão com o HSV, referido por 50% dos pacientes e com seu DNA viral identificado em 80% dos casos. O início do quadro é abrupto (prurido e queimação de 24h a 72h). As lesões, então, permanecem no mesmo local por até 7 dias. Em duas semanas, geralmente, o quadro total desaparece sem sequelas (em casos raros pode ocorrer sequela ocular). Para diagnosticar o eritema multiforme, algumas características são consideradas, como: tipo de lesão elementar, topografia das lesões (distribuição influenciada por fatores mecânicos e actínicos), lesão mucosa e sintomas sistêmicos. -Tipo de lesão elementar → 1) lesão em alvo típica (pode ser na íris); 2) lesão arredondada de até 3cm, com bordas regulares e até 3 zonas distintas (anel eritematoso periférico e anel eritematoso edematoso intermediário e centro púrpuro-violáceo/vesico-bolhoso); 3) lesão em alvo atípica elevada; e 4) lesão arredondada, edematosa, mal delimitada e palpável, com 2 zonas distintas. -Topografia das lesões → geralmente são numerosas, na face e em membros superiores. Dorso das mãos, região plantar, região cervical e tronco também são sítios comuns de lesão. Nos membros inferiores é menos frequente, assim como o fenômeno de Koebner. -Sintomas sistêmicos → estão presentes principalmente no EM major. Febre, astenia e artralgia acompanham o quadro. Pode ocorrer pneumonia atípica, assimcomo alterações renais, hepáticas e hematológicas, embora essas últimas três sejam raras. O tratamento consiste em medidas tópicas (antissépticos nas lesões erosadas, anestésicos locais e colírio nas lesões oculares), medidas sistêmicas (tratamento do agente desencadeante, anti-histamínicos e corticoterapia), além de medidas preventivas ao HSV. •Síndrome de Stevens-Johnson e NET: é muito raro, são 3 casos pra cada 1 milhão de habitantes. Ocorre uma erupção máculo-papular coalescente, com formação bolhosa e destacamento de epiderme. Dois ou mais sítios mucosos geralmente estão envolvidos. Se ocorrer em menos de 10% do corpo, chamamos de SSJ; caso acometa de 10 a 30%, seria o SSJ-NET (meio termo); a partir de 30%, então, estaria caracterizada a NET. SSJ é uma síndrome que dispara sintomas sistêmicos, e a mortalidade pode chegar a 40%. Os medicamentos que a causam incluem: sulfas, hidantoínas, carbamazepina, oxicans, alopurinol, Cotrimoxazol, aminopenicilina, cefalosporinas, quinolonas, vancomicina, rifampicina, etambutol e AINES. Sinais de gravidade da síndrome envolvem: febre alta (>40ºC), hipotermia, adenomegalia, artralgias, taquipneia/sibilos, hipotensão, eosinofilia, linfocitose com atipia, alterações de PFH, eritema confluente (>60%), dor/ardência, edema facial/língua/úvula, necrose, púrpura palpável, bolhas e destacamento da epiderme, sinal de Nikolsky positivo e erosões nas mucosas. -NET (necrose epidérmica tóxica) → ocorre um extenso destacamento da epiderme. É menos frequente na infância, mas pode ocorrer em qualquer fase da vida. Suas complicações são semelhantes aos graves queimados. Geralmente é idiossincrática a drogas como vacinas (sarampo, rubéola, caxumba) e químicos industriais. Além disso, o Mycoplasma pneumoniae pode gerar essa situação. As principais drogas que causam NET são carbamazepina, fenotoína, fenobarbital e lamotrigina, mas diversos outros medicamentos podem criar essa condição. Na anamnese, é importante investigar todas as drogas e as datas de administração do paciente. Indagar, ainda, se houveram exposições prévias a esses medicamentos. Se preocupar, além disso, com a possibilidade de passagem pela placenta e leite materno. Não há constrangimento em buscar na literatura dados mais consistentes sobre os fármacos caso seja necessário. Como tratamento, se realizará a suspensão dos fármacos em uso e tratar prontamente as reações graves. Em caso de necessidade inquestionável do uso da droga, deve-se fazer uma profunda análise sobre benefícios e riscos, e possivelmente administrar a droga causadora em baixas doses. DERMATOFITOSES A identificação de fungos na pele depende exclusivamente de dois fatores: suspeita clínica e coleta de material. Dentro das análises do material, o exame micológico direto surge como uma das melhores opções, pela praticidade e rapidez. Um raspado da lesão suspeita é coletado do paciente, e a partir desse material é feita uma observação microscópica. É o suficiente para sabermos grande parte das condutas, pois permite diferenciar entre grupos diferentes de fungos. Um exame mais preciso, que identificaria, então, a espécie envolvida em determinada lesão seria o exame micológico cultura, o qual consiste em manipular os fungos para crescerem em meio de cultura e só depois analisa-los. Provas biológicas, dentro de análises moleculares, também podem ser feitas, mas não têm grande utilidade na prática dermatológica. O anatomopatológico, por fim, pode ser útil em caso de espécies mais raras. •Candidíase: ocorre em casos de queda de imunidade e má higiene. Causado pelo fungo cândida, causa algumas manifestações na pele: em regiões de dobras (axila, virilha) ocorre lesões, geralmente com a características de haver lesões menores de forma satélite. Já na região oral, pode causar lesões pseudomembranosas, erosivas, atróficas, hipertróficas e queilite angular. Na região genital, dessa forma, pode causar vaginite nas mulheres e balanopostite em homens (mais frequente). A vaginite por cândida pode ser desencadeada por gestação, contraceptivos, menstruação, antibióticos, corticoides e diabetes. Em geral, a genital fica edemaciada, eritematosa, com pseudomembranas, ardência e dor. Já a balanopostite causa muito prurido e pseudomembranas. Em circuncidados geralmente cura espontaneamente. Por fim, na região ungueal podem aparecer paroníquias (inflamação da pele ao redor da unha) e onicomicose. As paroníquias causadas por cândida podem surgir depois de lesões na manicure ou por exposição cotidiana da pele a detergentes (lavar a louça). A candidíase oral e esofagiana demanda preocupações maiores, pois normalmente acontece em casos de imunossuprimidos (pensar em HIV). Tratando-se dos diagnósticos diferenciais de candidíase, nas lesões cutâneas podemos pensar em dermatofitoses, psoríase invertida e dermatite seborreica; nas orais a alternativa seria liquen plano, basicamente; por fim, nas genitais, é interessante sempre pensar em liquen plano e balanite plasmocitária. O tratamento da candidíase cutânea é basicamente tópico (isoconazol, cetoconazol, miconazol, ciclopirox); já a candidíase oral deve ser tratada de forma sistêmica (itraconazol 100mg/dia, ou fluconazol 150mg/semana, ou cetoconazol 200mg/dia). •Pitiríase Versicolor: também chamada de tinea versicolor, é uma micose que causa manchas hipocrômicas e acastanhadas. O quadro pode ser extenso, mas geralmente é assintomático. Um apelido que a doença Queilite angular Paroníquia Balanopostite Candidíase esofagiana recebe é “micose de praia”, não porque tenha relação com alguma instância da praia em si, mas porque as pessoas só a percebem quando andam sem camiseta e se bronzeiam. A cura é um pouco longa, e a lesão, mesmo sem fungo, pode levar anos para desaparecer, especialmente se a mancha foi muito clara. Vitiligo acaba sendo um dos diagnósticos diferenciais. O tratamento consiste, de forma tópica, em isoconazol, cetoconazol, miconazol ou ciclopirox; já na forma sistêmica, trata-se com itraconazol, cetoconazol ou fluconazol. •Dermatofitoses: dermatófitos são fungos que causam micoses em humanos e que podem se originar em diversos meios. Os geofílicos se originam no solo; os zoofílicos em animais; e os antropofílicos são transmitidos entre as pessoas. Eles causam vários tipos de tineas: T. capitis, T. manum, T. pedis, T. corporis, T. interdigitalis, T. ungueum,T. microspórica, T. fascie e T. cruris. Se na tinea pedis houver exsudação, pode ser, na verdade, uma infecção bacteriana! As placas da psoríase podem confundir o caso, servindo como diagnóstico diferencial. Tratamento: para as dermatofitoses, usa-se Itraconazol 100 a 200mg/dL por 14 dias; ou Terbinafina 250mg/dL por 14 dias; ou, ainda, Fluconazol 150mg/semana. -Onicomicoses: 90% delas são causadas por dermatófitos, os outros 10% podem ser vários outros fungos, como fusarium, aspergilus, penicilium, etc. Os calçados fechados geralmente favorecem esse tipo de manifestação. O tratamento das onicomicoses dermatofíticas envolve: Terbinafina 250mg/dia, durante 12 semanas; ou Itraconazol 200 mg 2x ao dia, durante 7 dias. Depois fica em off por 21 dias e retoma mais um ciclo de 2x ao dia durante 7 dias. Tinea cruris → a diferença da cândida é que lá as lesões têm borda satélite com outras lesões menores Tinea pedis→ geralmente causa bolhas nas plantas dos pés. Tinea microspórica → lesões bem arredondadas. É transmitida por pets.
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