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Políticas educacionais e contribuições para o serviço social pág 56 pra frente

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Prévia do material em texto

1CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
EDIÇÃO ESPECIAL COM 
MUITO MAIS CONTEÚDO
2 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
GESTÃO SEGUINDO NA LUTA - PELO FORTALECIMENTO DA CATEGORIA EM DEFESA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO (2014-2017)
Sede (BH)
Presidente: Leonardo David Rosa Reis
Vice-presidente: Jefferson Pinto Batista
1ª Secretária: Viviane Arcanjo de Oliveira 
2º Secretário: Douglas Alves 
1º Tesoureiro: Maykel Marinho Calais de Araújo 
2ª Tesoureira: Marisaura dos Santos Cardoso
 
Conselho Fiscal
Débora Calais Oliveira Correa
Thiago Prisco Silva 
Ana Maria Arreguy Mourão
 
Suplentes
Daniela Patrícia Miranda Rezende 
Gustavo Henrique Teixeira
Simone Gomes da Silva 
Janaína Andrade dos Santos 
Sandra Mara Teixeira de Castro 
Ana Maria Gomes de Souza Bertelli 
Danielle Vassalo Cruz
Marília Soares Nascimento
Ricardo Silvestre da Silva
Seccional Juiz de Fora
Coordenadora: Raquel Mota Dias Gaio
Secretária: Vanêssa Sales Alves 
Tesoureiro: Geovane Martins Gonçalves
Suplentes
Jhony Oliveira Zigato 
Susana Maria Maia 
Ana Luíza Avelar de Oliveira
Seccional Montes Claros
Coordenadora: Rosilene Aparecida Tavares 
Secretária: Viviane de Castro Afonso
Tesoureira: Mariana Abiachell Medeiros 
Suplentes
Denise Veloso Pinto 
Grace Aparecida Sarmento Rodrigues
Seccional Uberlândia
Coordenadora: Ana Lúcia Martins Kamimura
Secretária: Valdirene Beatriz Cardoso
Tesoureira: Luana Braga
Suplentes
Ana Carolina Pontes Ros
Gláucia de Almeida Ramos
Cleidislene Conceição Silva
O CRESS-MG, consciente das questões sociais e ambientais, 
utiliza na impressão deste material papéis certificados pela FSC 
(Forest Stewardship Council). A certificação FSC é uma garantia 
de que a matéria-prima advém de uma floresta manejada de forma 
ecologicamente correta, socialmente adequada e economicamente viável. 
Ficha técnica
Comissão de Comunicação (2014-2017) 
Ana Carolina Ros, Douglas Alves, Geovane Gonçalves, 
Leonardo David Rosa Reis, Marcela Viana, Marisaura dos 
Santos Cardoso, Rosilene Tavares e Thiago Alcântara
Comissão de Comunicação (2011-2014)
Carla Alexandra Pereira, Cristiano Costa de Carvalho, 
Janaína Andrade dos Santos, Leonardo David Rosa Reis, 
Marcela Viana, Marisaura dos Santos Cardoso, Raquel Mota 
Dias Gaio, Renato Mateus de Santana e Thiago Alcântara
REVISTA CONEXÃO GERAES
Tiragem: 17.000 exemplares
Coordenação: Comissão de Comunicação
Projeto gráfico e diagramação: Thiago Alcântara
Ilustração de capa e verso: Rafael de Castro
Jornalista responsável: Marcela Viana (17.386 MG)
Assessor de Comunicação: Thiago Alcântara 
Assessora Adjunta de Comunicação: Marcela Viana 
comunicacao@cress-mg.org.br
CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO 
SOCIAL DE MINAS GERAIS
(CRESS-MG)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
R454
CDD 362.1
CDU 36
Revista Conexões Geraes/ Conselho Regional de Serviço Social de Minas 
Gerais. v. 3, n.5 (2014). – Belo Horizonte: CRESS 6° Região, 2014. -
 Semestral
 ISSN: 2358-839X 
1. Serviço Social 2. Politicas sociais. 3. Cidades. I. Conselho Regional de 
Serviço Social de Minas Gerais. II Titulo
3CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
Cara/o assistente social,
O III Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais reuniu 
mais de mil profissionais e estudantes, nos dias 7, 8 e 
9 de junho de 2013, em BH, marcando a história do 
Serviço Social de Minas Gerais.
Os debates realizados instigaram e ao mesmo tempo 
alentaram a todos que participaram do evento. As 
palestras proferidas por estudiosos da área contribuíram 
para solidificar e dar consistência teórica às discussões 
que o Serviço Social realiza na atualidade. 
Esta publicação traz algumas das reflexões realizadas 
pelos palestrantes convidados. A nossa intenção é, mais 
uma vez, registrar este momento apresentando alguns 
dos principais artigos que sintetizaram os debates 
realizados. Tais discussões deixaram ricas e valorosas 
reflexões sobre alguns dos temas que compõem o 
arcabouço teórico desta profissão.
Sabemos que existem muitas descobertas que precisam 
ser realizadas, muitos desafios a serem superados, como 
as mudanças socioculturais e econômicas que tanto 
desafiam nossa profissão em seu cotidiano de trabalho, 
impelindo-a na busca pela formação continuada e pelo 
adensamento do seu arcabouço teórico-político e do 
seu projeto profissional.
Por isso, esperamos que estas reflexões continuem a 
nos instigar cada dia mais, tornando fecundas as nossas 
ações, tendo em vista que o ponto de partida é a defesa 
pela afirmação e materialização dos direitos sociais, a 
luta contra todas as formas de exploração e opressão 
e a concretização de um desenvolvimento social que 
possa contemplar a emancipação dos indivíduos e o 
princípio da liberdade com equidade e justiça social. 
Desejamos que você tenha uma excelente leitura e 
que continuemos com os ânimos revigorados, na 
certeza que estamos trilhando caminhos desafiadores 
e profícuos no que se refere ao acúmulo e solidez 
do nosso patrimônio intelectual, do nosso projeto 
profissional e das nossas bandeiras de luta. 
Boas reflexões a todas/os.
GESTÃO SEGUINDO NA LUTA: 
PELO FORTALECIMENTO DA CATEGORIA 
EM DEFESA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO 
(2014-2017)
Índice
 
Configurações da crise capitalista e incidências no 
mundo do trabalho – página 6
Carlos Montaño
 
A ideologia neodesenvolvimentista e as Políticas Sociais 
no Brasil: apontamentos sobre crise e hegemonia na 
periferia do capitalismo – página 15
Cézar Henrique Maranhão
Política social no Brasil: notas e críticas a partir da 
teoria marxista da dependência – página 25
Rodrigo de Souza Filho
Em defesa da qualidade da formação e do trabalho 
profissional: materialização do projeto ético-político 
profissional em tempos de barbárie – página 34
Yolanda Aparecida Demetrio Guerra
Serviço Social no campo sociojurídico: possibilidades 
e desafios na consolidação do projeto ético-político 
profissional – página 41
Eunice Teresinha Fávero e Valéria Forti
Serviço Social, Projeto Profissional e Prática na Saúde 
– página 49
Fátima de Maria Masson
Políticas educacionais e contribuições do Serviço 
Social – página 56
Eliana Bolorino Canteiro Martins
Questão urbana e direito à cidade: reflexões sobre o 
trabalho social na política urbana – página 63
Tânia Maria Ramos de Godoi Diniz
Questão urbana e Serviço Social – página 70
Teresa Hilda Costa
Controle social e planejamento urbano participativo: 
contribuições do Serviço Social – página 74 
Mônica Abranches
Apresentação
4 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
Esta publicação refere-se às valiosas 
reflexões dos assistentes sociais suscitadas 
por ocasião do III Simpósio Mineiro 
de Assistentes Sociais organizado pelo 
CRESS-MG, realizado em BH, em junho de 2013. 
Este encontro teve como eixo central o debate 
sobre as "expressões socioculturais da crise do 
capital e suas implicações para a garantia dos 
direitos sociais".
O III Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais 
reuniu mais de mil profissionais e estudantes 
com a finalidade de adensar o debate e as análises 
sobre a sociedade imersa na égide capitalista, 
suas crises, os impactos para o mundo do 
trabalho e, estrategicamente, os desafios para o 
exercício profissional desta categoria profissional. 
Uma categoria que se distingue e é reconhecida 
por suas mentes inquietas, corações apaixonados 
e espírito lutador.
Oportunamente, registram-se as contribuições de 
todos os profissionais que se dedicaram à produção 
de trabalhos e dos conferencistas que, de forma 
extremamente elucidativa e crítica, trouxeram 
os fundamentos para um debate profícuo sobre o 
mote em questão, reafirmando a direção teórica, 
metodológica, ética e política da profissão. 
O objetivo aqui é instigar a leitura das ricas 
análises estruturadas pelos autores nos artigos, que 
se dedicaram à arte de interpretar a dinâmica do 
cotidiano societário, marcada pela contradição de 
classes. Assim, foram elencados eixos temáticos, 
no esforço deabarcar os conteúdos elaborados 
pelo conjunto da categoria, que contribui de 
forma relevante para adensar o conhecimento nas 
diversas áreas de intervenção profissional.
É importante destacar o alinhamento dos diversos 
autores e conferencistas com a perspectiva teórica 
e metodológica orientada pela tradição marxista. 
Destacam-se as palavras de Carlos Montaño nesta 
ocasião: “O marxismo entende que somente as 
lutas de classe e as mudanças na correlação de 
forças, orientadas pela emancipação política 
e humana, podem enfrentar as sequelas 
do desenvolvimento capitalista e suas 
particularidades no momento de crise”1. 
Partindo deste entendimento, o leitor encontrará 
no material aqui disponível, elaborações com 
aprofundamentos sobre as questões estruturais 
do modo de produção capitalista e a centralidade 
do trabalho enquanto categoria fundamental de 
análise da realidade social, sempre acompanhada 
de forte componente ideológico que perpassa a 
compreensão e a explicação das crises cíclicas 
do capital. O modo de produção capitalista 
apresenta uma contradição central entre a 
socialização da produção e a apropriação privada 
do seu produto, o que conduz a concentração 
do capital, expulsão constante e paulatina da 
força de trabalho substituída por maquinaria e 
tecnologia, e pauperização da classe trabalhadora. 
Sem dúvida, a crise do capital faz parte da 
dinâmica do desenvolvimento capitalista e não é 
antagônica a ele. 
No cenário de crise contemporânea, o capital 
busca reestruturar-se orientado pela estratégia da 
lógica neoliberal e da programática hegemonia 
financeira. Observe que a base mais profunda 
do que chamamos de QUESTÃO SOCIAL 
é resultado do desenvolvimento do modo de 
produção capitalista. A economia capitalista cresce 
e ao mesmo tempo persistem as contradições dos 
polos de acumulação versus pobreza, exploração, 
privações, desemprego, flexibilização do trabalho 
etc, e nestes campos pulsa a atuação profissional 
dos assistentes sociais.
Enquanto arena de mediação entre o capital 
e o trabalho, as políticas sociais, em suas 
diversas áreas, se reafirmam como necessidade 
à reprodução do capital. Com esta clareza e de 
forma crítica, os autores buscaram desenvolver, 
a partir da dimensão investigativa da profissão, 
análises aprofundadas e complexas sobre a 
Prefácio
5CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
realidade social e o papel do Estado na efetivação 
dos direitos sociais. São diversas as produções 
no campo das proteções e políticas sociais, com 
destaque para as reflexões estruturadas em relação 
à assistência social, saúde, educação, previdência 
social, habitação, socioambiental, sistema prisional, 
cultura, planejamento urbano, direitos humanos, 
financiamento. Ocupam-se também das reflexões 
que perpassam o judiciário e suas especificidades.
Fruto do amadurecimento intelectual da profissão, 
são expressivas as elaborações que tratam da 
formação e do exercício profissional dos assistentes 
sociais, com ênfase nas incursões sobre a 
materialização do projeto ético-político profissional 
em tempos de barbárie. As contribuições dos 
conteúdos sobre o método, a teoria social crítica 
(materialismo histórico-dialético), as tecnologias 
do trabalho e a imagem social da profissão, nos 
chamam ao desafio constante de aprimoramento 
da práxis profissional, orientada pelos alicerces de 
base crítica.
Destacam-se também as produções referentes às 
temáticas intrínsecas ao exercício profissional em 
seus diversos espaços sociocupacionais, como a 
gestão, intersetorialidade, pobreza, desigualdade, 
participação e controle social, famílias e os ciclos 
de vida, adoção, gênero, propriedade privada da 
terra, racismo, violência e violações de direitos, 
sindicalismo e cidadania. 
Estes trabalhos delineados sobre as diversas 
áreas e temáticas demonstram a riqueza de 
escopo e amplitude dos campos de atuação e 
reflexão dos profissionais do Serviço Social. 
Justifica-se deste modo, a importância da 
direção teórico-metodológica, o significado 
da expressão ético-política hegemônica da 
categoria e o compromisso destes trabalhadores 
na materialização técnico-operativa frente às 
multifacetadas manifestações da questão social.
Como poderá observar o leitor, os textos aqui 
apresentados representam a maturidade, a solidez 
e a sobriedade da profissão que se vincula de 
forma explícita a um projeto societário que propõe 
a ruptura com a lógica da sociedade capitalista e 
que evoca novas bases societárias alicerçadas em 
parâmetros de uma emancipação humana e política 
conforme argumentos gramiscianos. 
Arrisca-se, diante do exposto, atribuir a esta 
categoria qualidades e adjetivos que condensam 
seus compromissos humanos e profissionais. 
Suas mentes inquietas por serem desafiadas a 
todo momento pelas determinações históricas 
que configuram as expressões da questão social, 
tendo como perspectiva a dimensão da totalidade. 
De corações apaixonados que impulsionam 
a intervenção profissional compreendendo as 
subjetividades coletivas e buscando alternativas 
para o fortalecimento da classe trabalhadora. 
E espírito lutador por considerar as correlações 
de forças e as contradições sociais e se apropriar 
de suas multifacetadas dimensões para contribuir 
com as transformações societárias.
Por fim, reafirmo a gratidão por fazer parte desta 
história e poder colaborar com a categoria através 
desta breve elucidação elaborada para ensejar os 
conteúdos desta publicação. À gestão 2011-2014 
do CRESS-MG e a cada um dos trabalhadores 
desta entidade, expresso minha admiração e 
respeito pelo esforço permanente e vigoroso em 
defesa da hegemonia do projeto ético-político 
desta categoria que nos orgulha e engrandece.
Desejo a todas/os as/os companheiras/os uma 
ótima leitura!
No suave inverno de Belo Horizonte, 2014.
Fabrícia Cristina de Castro Maciel
Coordenadora da Escola de Serviço Social do Centro 
Universitário UNA. Conselheira do CRESS-MG na Gestão 
“Compromisso e Luta: Em Defesa da Categoria e do Nosso 
Projeto Ético-Político” (2011-2014)
NOTAS
1 - Conferência de abertura realizada no primeiro dia do 
III Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais, em 07/06/2013, 
com o tema “Configurações da crise capitalista e incidências 
no mundo do trabalho”.
6 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
1 - INTRODUÇÃO
Vivemos em tempos onde as afirmações sobre o 
“fim da centralidade do trabalho”, e a “diversidade 
das crises” tornaram-se lugares comuns.
Assim:
- o trabalho já não forma identidades nem congrega 
adesões;
- o trabalho assalariado deve ser substituído pelo 
empreendedorismo;
- a crise atual é uma crise do emprego, uma crise do 
Estado bem-feitor (fiscal e de governança), uma crise 
da produção fordista e uma crise de ideologias (todas 
desvinculadas umas das outras e da estrutura social). 
Trataremos aqui o trabalho em contexto de crise, 
seus fundamentos e rebatimentos e impacto no 
próprio processo e condição de trabalho e nas lutas 
de classes.
A análise do processo de transformação nas relações 
e nas condições de trabalho, na relação capital-
trabalho, tanto no processo de produção, como no 
desenvolvimento das lutas de classes, pressupões 
a clara compreensão dos fundamentos do Modo de 
Produção Capitalista, na caracterização da sua fase 
monopolista, e do atual contexto de crise1. 
Assim, tendo a crise atual do capital causas 
fundamentalmente endêmicas, e sendo uma crise 
eminentemente estrutural, geral e cumulativa, 
o projeto construído hegemonicamente nos anos 
pós-45, que conformou o que Harvey (1993) 
denominou por “regime de acumulação fordista/
keynesiano”, onde os interesses do capital são 
“permeados” por demandas trabalhistas, no que 
alguns autores chamaram de “compromisso” ou 
“pacto keynesiano”, parece agora inteiramente 
desnecessário, ineficiente e até negativo para o 
capital (e crise e sob o comando financeiro).
Aquele regime (“fordista/keynesiano”) deve ser 
substituído poruma nova estratégia hegemônica. 
Uma estratégia que anule as conquistas trabalhistas 
e que permita a super-exploração do trabalho como 
um todo; uma estratégia que altera as condições 
do contexto anterior criando, no pós-70, um novo 
“regime de acumulação” que Harvey denomina de 
“flexível”: a ofensiva neoliberal.
Essa nova estratégia sustenta-se em três pilares 
fundamentais necessariamente articulados, no atual 
contexto de crise e mundialização do capital:
a) a ofensiva contra o trabalho e suas formas de 
organização e lutas, 
b) a reestruturação produtiva e 
c) a (contra-)reforma do Estado.
Doutor em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Rio de Janeiro, 2001). 
Professor associado e pesquisador da mesma Universidade. Graduado em Serviço Social pela Universidad de la 
República (UdelaR, Montevidéu-Uruguai, 1989). Realizou estudos de pós-doutorado no Instituto Superior Miguel Torga 
(ISMT, Coimbra-Portugal, entre 2009 e 2010). Autor dos livros, Microempresa na era da globalização (Cortez, 1997); 
A natureza do Serviço Social (Cortez, 1998 e 2007); Terceiro Setor e Questão Social (Cortez, 2002 e 2005) e Estado, 
Classe e Movimento Social (Cortez, 2010). Coordenador da Biblioteca latinoamericana de Servicio Social (Cortez). 
Professor visitante e conferencista em diversos países da América Latina. Foi membro da Direção Executiva de ALAEITS 
(2006-2008) e coordenador nacional de relações internacionais da ABEPSS (Brasil, 2008-2010 e 2011-2012). Coordena 
o Núcleo de Estudos Marxistas sobre Política, Estado, Trabalho e Serviço Social (PETSS/ESS-UFRJ)
Carlos Montaño
Configurações da crise capitalista 
e incidências no mundo do trabalho
7CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
Desta forma, o “projeto/processo neoliberal” constitui 
a atual estratégia hegemônica de reestruturação geral 
do capital – face à crise, ao avanço tecno-científico 
e às lutas de classes que se desenvolvem no pós-
70, e que se desdobra basicamente em três frentes: 
a ofensiva contra o trabalho (atingindo as leis 
e direitos trabalhistas e as lutas sindicais e da 
esquerda), e as chamadas “reestruturação produtiva” 
e “(contra-)reforma do Estado”.
2 - OS IMPACTOS NA CONDIÇÃO DO 
TRABALHO E NAS LUTAS DE CLASSES
2 - 1 - Os impactos na condição do trabalhador
1. Direitos trabalhistas/salário (no Brasil de 
hoje) e “Custo Brasil” (valor da F.T.)
Costuma-se justificar a redução/precarização dos 
“direitos trabalhistas” e do salário na necessidade de 
diminuição do “Custo Brasil” (redução do valor da 
força de trabalho), o que permitiria aumentar o nível 
de emprego no país. No entanto, não há relação direta 
(nem teórica, nem histórica) entre valor da força de 
trabalho (salários e direitos trabalhistas) e nível de 
desemprego: a redução/precarização dos direitos 
trabalhistas não traz diminuição do desemprego, 
pois este não depende do custo de produção, mas da 
relação produção/comercialização, oferta/demanda. 
Muito pelo contrário, quanto mais precário for o 
salário dos trabalhadores, menos poder aquisitivo 
terá a população, tendendo a cair o consumo interno, 
o que tende a levar à diminuição do investimento 
produtivo - derivando em menor produção e maior 
desemprego.
2. Direitos trabalhistas/salário (no Brasil de 
hoje) e relação oferta/demanda de trabalho 
(fatores econômicos e políticos dessa relação)
Observa-se sim, uma relação entre “oferta de força 
de trabalho” e “oferta de emprego”, ou entre oferta 
e demanda de trabalho. É a alteração desta relação 
a que pode incidir na diminuição do desemprego. 
Tal relação pode ser alterada conforme os seguintes 
fatores:
a) por fatores econômicos - por exemplo:
- aumento do consumo, que tende a derivar em 
aumento da produção, e com ela a maior contratação 
de força de trabalho,
- investimento produtivo/comercial e investimento 
financeiro,
- emprego do trabalho gratuito, voluntário, auto-
emprego;
b) por fatores políticos – a través da pressão política 
das classes para:
- aprovação/eliminação de Leis Trabalhistas, 
Políticas e Sociais,
- ampliação/redução do Tempo de Serviço (idade de 
aposentadoria),
- ampliação/redução da Jornada de Trabalho (a 35 
horas/semanais),
- sistema tributário (sobre o patrimônio/riqueza, 
sobre o trabalho ou sobre o consumo).
Todos estes fatores, no Brasil atual, tem sido 
negativos aos interesses do trabalhador. Vejamos 
isso:
1) o consumo vem caindo desde 1973 (e com a crise 
tende a continuar);
2) há fuga de investimento da atividade produtivo/
comercial para a especulação financeira; com isso 
vem o menor crescimento produtivo e aumento 
ainda maior do desemprego (o Brasil tem mais de 12 
milhões de desempregados);
3) promoção (por motivos econômicos: estratégia 
contra o desemprego ou para complemento salarial; 
e ideológicos: “ócio criativo”, “emprendedorismo”, 
“economia solidária”, “solidariedade social”, 
“terceiro setor”) do chamado “trabalho voluntário”; 
na verdade, de trabalho gratuito para o capital, que 
substitui o trabalho remunerado;
4) as políticas e serviços sociais vêm sofrendo redução 
do seu financiamento e precarização (acompanhada 
da focalização);
5) as leis trabalhistas e salários vem sendo precarizadas 
no mundo inteiro (países centrais e periféricos), até 
como parte das exigências do FMI para empréstimos e 
renegociação da dívida externa (ver Gonçalves, 1994, 
1999 e Gonçalves e Pomar, 2000). Na década de 90, 
a renda média real do trabalhador caiu 8%, segundo 
o IBGE. Segundo relatórios da OIT, nos governos 
FHC, os três pilares da regulação trabalhistas foram 
corroídos: contrato (antes por tempo indeterminado, 
agora com contratos precários), jornada (antes fixa, 
8 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
agora flexibilizada pelo banco de horas) e salário 
(antes amparado por políticas salariais, agora depende 
da negociação no mercado, cujo resultado tem sido a 
redução sistemática do salário base, e a participação 
no lucro e sistemas de premiação à produtividade). 
Porém, para a continuidade da sua “flexibilização” se 
prevê a “reforma sindical” como forma de enfraquecer 
a resistência dos trabalhadores; sendo assim, a 
“reforma sindical” é a ante-sala da “trabalhista”;
6) o peso da ação sindical tem perdido força, seja 
pelo seu enfraquecimento interno, seja pela redução 
de impacto social, seja pela ameaça de desemprego, 
ou até pelo elevado nível de desemprego;
7) paralelamente a isto, a chamada “Reforma 
Sindical” (elaborada no atual governo, em 
concordância com os governos FHC, através do 
Fórum Nacional do Trabalho - FNT, criado em 
2003), ameaça a possibilidade do instrumento de 
greve perder efetividade (o projeto prevê: o “aviso 
prévio” - por escrito ao patrão com 72 horas antes da 
paralisação - ; a manutenção de “serviços essenciais”; 
a determinação de que a greve não pode causar 
“prejuízo irreparável ao patrimônio do empregador 
ou de terceiros”; a permissão de contratação de 
substitutos para os grevistas etc.). Também o projeto 
do FNT prevê a exclusão do “princípio do uso da 
norma mais benéfica aos trabalhadores” (em caso 
de conflito entre duas leis, prevalece a que mais 
beneficia o trabalhador), estabelecendo a prevalência 
do negociado sobre o legislado (num contexto de 
correlação de forças desfavorável para o trabalhador, 
principalmente quando a negociação for por empresas 
ou até individualmente);
8) em contraste com as possibilidades que abre o 
desenvolvimento tecnológico (automação etc.), que 
libera tempo de trabalho aumentando a produtividade, 
nos governos FHC e Lula, temos assistido ao aumento 
da idade de aposentadoria, aumentando o tempo de 
serviço, e a idade de aposentadoria. Paralelamente 
á extensão formal/legal desta idade, os aposentados 
tendem a ampliar seu tempo de trabalho para garantir 
uma renda maior que sua aposentadoria;
9) com a única exceção da França, que nos anos 90 
reduziu a jornada de trabalho de 40 para 35h/semanais, 
observamos a tendência mundial (maisexpressiva 
nos países periféricos) da flexibilização e ampliação 
da jornada de trabalho - seja pela terceirização e 
subcontratação, pelo “trabalho informal”, seja pelo 
novo “trabalho de escravidão por dívida”, ou pela 
necessidade e complacência do trabalhador para 
completar seu baixo salário nominal com horas 
extras, e até, pelo sistema de “banco de horas” (que 
de fato elimina a lei de 8 horas);
10) O sistema tributário, que não tributa a especulação 
financeira, a grande riqueza e o patrimônio, que pesa 
na atividade produtiva, tende cada vez mais a ser 
direcionado ao consumo.
11) Estímulo ao “primeiro emprego”, como parte das 
políticas de “geração de emprego e renda”, claramente 
orientadas como política compensatória ao setor 
mais empobrecido, não como, a exemplo da política 
keynesiana, incentivo à produção e ao consumo, 
impactando ainda na precarização do emprego - o 
incentivo às cooperativas, às microempresas, ao 
aprendiz etc., são formas de fornecer ao capital mão 
de obra barata, mesmo que possam significar uma 
renda para a população empobrecida.
Todos estes aspectos mostram uma realidade muito 
desfavorável para o trabalhador, na correlação 
de forças com o capital, em relação aos direitos 
trabalhistas, salário e condições de contrato e de 
trabalho. A mudança no direcionamento hegemônico 
atual, nas dimensões econômica, política, ideológica, 
são as variáveis para pensar qualquer alteração 
no rumo atual dos direitos trabalhistas e sociais. 
Vejamos, sinteticamente, algumas das mudanças 
(regressivas) nos direitos trabalhistas que foram 
realizadas no contexto de hegemonia neoliberal no 
Brasil:
a) a Lei n.º 9.601 (de 1998), onde foram ampliadas 
as possibilidades de contratação temporária e 
instituído o banco de horas, o que permitiu o tempo 
de compensação do excesso de jornada para até um 
ano, sem que haja pagamento de horas extras;
b) a desregulação das relações de trabalho 
no Brasil pós-90 também permitiu ampliar a 
jornada de trabalho - seja pela terceirização e 
subcontratação, pelo “trabalho informal”, seja 
pelo novo “trabalho de escravidão por dívida”, ou 
pela necessidade e complacência do trabalhador 
para completar seu baixo salário nominal; 
9CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
c) o decreto 2100 (de 1996), em que o Brasil renunciou 
a Convenção n.º 158 da OIT (que dava garantias 
ao trabalhador contra a dispensa arbitrária ou sem 
justa causa, prevendo, naqueles casos, indenização 
compensatória);
d) a Medida Provisória n.º 1709 (de 1998), que criou 
o regime de trabalho com jornada de tempo parcial, 
definindo remuneração proporcional à duração 
semanal da jornada;
e) a Emenda Constitucional n.º 20 (de 1998), que 
limitou o benefício do salário família aos trabalhadores 
considerados de baixa renda;
f) o Projeto de Lei nº 5.483/01, agora PLC 134/01, 
(apresentado em outubro de 2001), que altera o artigo 
618 da CLT, parte do suposto de que “os instrumentos 
de negociação coletiva entre sindicato e empresa 
prevaleçam sobre a lei, salvo em se tratando de 
preceito constitucional”, eliminando o “princípio do 
uso da norma mais benéfica aos trabalhadores” (para 
a qual, em caso de conflito entre duas leis, prevalece 
a que mais beneficia o trabalhador), estabelecendo 
a prevalência do negociado sobre o legislado (num 
contexto de correlação de forças desfavorável para o 
trabalhador, principalmente quando a negociação for 
por empresas ou até individualmente);
g) em contraste com as possibilidades que abre o 
desenvolvimento tecnológico (que libera tempo de 
trabalho aumentando a produtividade), nos governos 
FHC e Lula temos assistido ao aumento da idade de 
aposentadoria, e aumentando o tempo de serviço;
h) finalmente, o sistema tributário, que não tributa 
a especulação financeira, a grande riqueza e o 
patrimônio, que pesa na atividade produtiva, tende 
cada vez mais a ser direcionado ao consumo, pesando 
no trabalhador cujo consumo representa o total da sua 
renda.
2 - 2 - A ofensiva neoliberal contra o trabalho
Diversas são as modalidades de combate do capital e 
do neoliberalismo contra o trabalho, como forma de 
diminuir e até eliminar qualquer tipo de resistência ao 
processo de (contra-)reformas neoliberais:
a) O primeiro tipo de medidas adotadas pelo 
capital, na ofensiva neoliberal contra o trabalho, 
que caracteriza o claro rompimento com o chamado 
“pacto keynesiano” (ou “pacto populista”, como no 
Brasil) remete ao enfraquecimento das organizações 
sindicais e trabalhistas. O capital, e o Estado 
comandado por governos neoliberais, investem nisto 
de diversas formas: negando-se à negociação com os 
trabalhadores em greve; reprimindo qualquer medida 
de luta dos trabalhadores (seja uma manifestação, seja 
uma paralisação ou uma greve); dilatando as greves 
dos trabalhadores, ao não responder nem atender 
qualquer de suas reivindicações, como forma de 
quebrar financeiramente o movimento e incluso sua 
organização sindical. Harvey lembra, como resultado 
do governo da primeira ministra inglesa, Margaret 
Tatcher (entre 1979 e 1990), que a atividade de greve 
caiu para 1/10 do seu nível anterior (2008: 69).
b) Um segundo tipo de medidas direciona-se 
ao desprestígio das lutas e das organizações do 
trabalhadores perante a opinião pública. Como afirma 
Mota, “a trajetória política do grande capital no 
Brasil dos anos 80 e 90, aponta para uma tentativa 
de construção da sua hegemonia, tendo como 
instrumento básico a formação de uma cultura 
marcada pela necessidade de desqualificação das 
demandas dos trabalhadores, enquanto exigências de 
classe”, fundamentalmente passando a “idéia de que 
a crise econômica afeta a sociedade e que, por isso, 
necessita da colaboração de todos” (1995: 163).
Maciçamente o neoliberalismo investe, com a 
colaboração das empresas de jornalismo (meios 
de comunicação de massa), na desinformação 
e na descaracterização das lutas e resistências 
dos trabalhadores, apresentando-os ora como 
“baderneiros”, ora como “preguiçosos”, ora 
como “marajás” ou “privilegiados”, tratando 
as lutas trabalhistas, que legitimamente 
opõem-se aos desmontes neoliberais de seus direitos, 
às privatizações, às precarizações de serviços e 
políticas públicas, como negativas para a população 
(ex.: greves dos transportistas, dos trabalhadores 
da saúde, da educação etc.). Neste processo, 
inteiramente ideológico, o linguajar ocupa um espaço 
fundamental: ocupações de terra improdutivas são 
tratadas como “invasões”; manifestações populares 
são informadas como “baderna”, como “caos” nas 
vias publicas; greves nos serviços públicos como 
“falta de atendimento à população pobre”.
c) Finalmente, e facilitado pelos mecanismos 
anteriores, a ofensiva neoliberal contra o trabalho 
completa-se com a desregulamentação do mercado 
10 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
de trabalho e precarização do emprego. Por um lado, 
com a enorme expulsão de força de trabalho do 
mercado de formal trabalho (produto da automação e 
das crises) amplia-se significativamente o excedente 
de força de trabalho, ou seja, muitos trabalhadores 
desempregados para poucos empregos; os efeitos disto 
são: tendência à queda salarial, perda de poder político 
dos trabalhadores (ver Marx, 1980: 730-743), atitude 
individualista e defensiva do trabalhador (ver Mota, 
1995). Por outro lado, com a crescente subcontratação 
ou terceirização, o trabalhador se submete à 
precarização e esvaziamento dos direitos trabalhistas 
(desenvolvidos para o trabalhador contratado). 
Finalmente, com o pretexto de “flexibilizar” as 
relações de trabalho, mediante (contra-)reformas 
na legislação trabalhista, o neoliberalismo acomete 
contra os direitos do trabalhador.
Pois bem, se num contexto de expansão capitalista, 
porém tenso, conflitivo e ameaçador, o capital vê-se 
obrigado, justamente pelas pressões trabalhistas e lutas 
de classes, a incorporar demandas dos trabalhadores 
no interior do seu projeto hegemônico, o queocorre 
então num contexto de crise e num clima de inibição 
dessas lutas, de perda de poder sindical, de falta de 
apoio popular às lutas de sindicatos, de descrença nos 
instrumentos de lutas por conta de derrotas sucessivas, 
de pulverização dos trabalhadores, de extinção dos 
regimes não-capitalistas (do chamado “socialismo 
real”), onde a alternativa a curto prazo parece ser, 
não o aumento salarial ou as melhores condições de 
trabalho, mas o desemprego ou a perda de direitos e a 
baixa salarial? A mesma crise que obriga o capital a se 
reestruturar e a diminuir custos de produção, coloca 
o trabalho numa atitude defensiva. Essa crise se põe 
como o campo mais fértil para o capital processar a 
desconstrução e reversão dos ganhos e conquistas 
trabalhistas e sociais desenvolvidas ao longo da 
história.
Assim, o combate ao trabalho é pressuposto para 
operar os demais “ajustes” com a menor resistência 
daqueles que poderiam enfrentar tal processo: os 
trabalhadores.
2 - 3 - A situação atual das lutas de classes2
Se o capital está em crise; seria isso bom para as lutas 
dos trabalhadores? Se o capital ingressou numa fase 
de crise, poderia se concluir que este encontrar-se-ia 
fragilizado, e que a classe trabalhadora então teria 
melhores condições de desenvolver sua luta na defesa 
dos seus interesses? ... À crise capitalista impactaria 
na correlação de forças entre capital e trabalho, 
favorecendo esta última?
Uma análise superficial poderia nos levar a festejar a 
crise capitalista, como fundamento de fragilização do 
capital, e “empoderamento” da classe trabalhadora.
Uma análise superficial... e equivocada. Se a crise 
golpeia o capital, ela impacta profundamente o 
trabalhador. O efeito da crise se reverte trágica e 
imediatamente em aumento do desemprego e da 
pauperização e miserabilidade a ele associadas, em 
acirramento da exploração capitalista - que visará 
retomar e/ou ampliar as formas de extração de mais-
valia absoluta, como aumento da jornada de trabalho, 
da idade de aposentadoria, do trabalho escravo-
por-dívida etc. - , na perda de direitos trabalhistas 
conquistados, na precarização de políticas e serviços 
sociais estatais, e até na perda ou esvaziamento de 
direitos políticos e civis. Paralelamente a classe 
trabalhadora, com os efeitos do aumento do 
desemprego (e do Exército Industrial de Reserva) 
passa a desenvolver uma atitude mais individualista 
e defensiva, até aceitando muitas perdas para 
garantir seu emprego, o que impacta nas lutas dos 
trabalhadores e nos seus efeitos sociais.
A crise capitalista, portanto, longe de beneficiar à 
sua classe antagônica, precariza, inibe e submete 
ainda mais o trabalhador e suas lutas, contribuindo 
até a criar as melhores condições para os ajustes e 
as (contra-)reformas estruturais necessários para os 
interesses do capital: o projeto neoliberal.
Vejamos alguns desses efeitos reconfigurando as 
lutas sociais.
1 - A reestruturação produtiva golpeia o trabalhador: 
os impactos nas condições de trabalho, direitos e 
salários
A reestruturação produtiva (a automação e a 
consequente substituição da força de trabalho, a 
subcontratação e a precarização do contrato de 
trabalho), as privatizações, as reformas da seguridade 
social, a redução de políticas sociais, todos esses 
processos derivados do novo projeto hegemônico 
do capital não ocorreram com ausência de conflitos, 
de oposição, com aceitação passiva das classes 
trabalhadoras.
11CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
A questão não é a “ausência” de lutas de classes, 
derivada de uma suposta superação dos conflitos ou 
antagonismos entre capital e trabalho; o ponto a analisar 
é a diminuição do peso político dos trabalhadores no 
atual contexto e suas possibilidades de defender seus 
interesses e de enfrentar o novo projeto hegemônico 
do capital. Como aponta Cueva: “... na realidade esta 
aparência de passividade [dos trabalhadores] expressa 
o predomínio interno das forças mais reacionárias” e 
não a ausência de lutas de classes (1983: 167).
Com a crescente complexificação da produção, 
ocorre uma também maior complexificação das 
relações sociais, o que paralelamente leva a uma 
heterogeneização dos setores trabalhadores (ver 
Harvey, 1993: 143 e ss.; Antunes, 1995: 41 e ss. 
e 1999: 101 e ss.): operários industriais estáveis, 
servidores públicos, trabalhadores informais e por 
conta própria, trabalhadores subcontratados, de micro 
e pequenas empresas, profissionais liberais, diaristas, 
trabalhadores imigrantes, camelôs (ver Mattoso, 1995: 
110; Morice in Malaguti et alii, 1998: 112 e ss.), numa 
diversidade cada vez maior.
Processo que emoldura a reestruturação produtiva, 
com impactos nefastos para o trabalhador, é a 
expulsão da força de trabalho promovida pela 
automação da produção, substituindo como nunca 
antes, trabalhadores por maquinaria (apropriada pelo 
capital). Paralelamente, opera-se a externalização 
do trabalhador, por via da terceirização, promovido 
fundamentalmente mediante Programas de Demissão 
Voluntárias (PDV). O resultado: tendência à queda 
salarial, à perda de direitos trabalhistas e piores 
condições de trabalho.
2 - A busca do grande capital por ampliar os lucros 
em contexto de crise, acirrando a exploração do 
trabalhador: a tendência à atitude “individual e 
defensiva” do trabalhador
Em função do anterior, e na tentativa de reestruturar 
as bases da hegemonia burguesa em contexto de crise 
econômico-política, o capital hegemônico tende a 
acirrar sua ofensiva contra os capitais mais fracos e 
contra o trabalho, o que termina por afetar as lutas de 
classes e seus impactos sociais. Cueva sustenta a tese 
de que “as crises do capitalismo, por si sós, não fazem 
mais do que produzir efeitos negativos nos pontos 
débeis do sistema” (1983: 167); para Mattoso, é o 
enfraquecimento (financeiro, político e institucional) 
do Estado que favorece “a aventura neoliberal de 
desestruturação selvagem do início dos anos 90” 
(1995: 135); Mota afirma que, “em períodos de crise, 
há um acirramento da ação ofensiva do capital”, 
e, “o movimento dos trabalhadores tende a assumir 
posições defensivas em função da agressão que sofre 
com a ameaça do desemprego, das perdas salariais” 
(1995: 180).
Mota (1995) caracteriza isso como desenvolvimento 
de uma cultura da crise. É que, em contextos de 
crises - de superprodução e superacumulação, para 
o capital, e de desemprego e subconsumo, para o 
trabalho - , tanto a tendência à queda da taxa de lucro 
leva o capitalista a acirrar sua sede de exploração 
de mais-valia (donde objetiva a redução dos direitos 
trabalhistas e dos empecilhos à acumulação), quanto a 
ameaça que pesa sobre o trabalhador, de desemprego, 
de queda do seu padrão de vida (ver Mattoso, 1995: 77 
e ss.), é de tal ordem que ele, individualmente, tende 
a se preocupar mais por manter, em algum nível, os 
direitos adquiridos (conquistados historicamente) do 
que por lutar por um projeto alternativo ou trabalhista, 
o que o fragiliza na luta/negociação com o capital.
Conforme Mota, “os trabalhadores que permanecem 
no mercado de trabalho tendem a defender, 
corporativamente, as conquistas obtidas” (1995: 136); 
assim, Brunhoff entende que os corporativismos, 
hoje, são, antes de tudo, uma das formas assumidas 
pela concorrência da crise entre operários, quando 
falta uma saída coletiva” (in Mota, ibidem). 
Assim, continua, “a partir de 1989 [no Brasil], 
há paulatinamente um deslocamento de natureza 
ideológica na ofensiva do capital e na posição dos 
trabalhadores que passam a privilegiar a conjuntura 
de crise econômica, em detrimento do embate em 
torno de projetos societais. Aí reside, objetivamente, 
o campo da formação da cultura da crise que, sob a 
direção da burguesia, pode desqualificar as demandas 
dos trabalhadores ...” (1995: 191). Para a autora, 
“esse deslocamento (...) redireciona o conteúdo das 
suas reivindicações para o campo das ideologias 
práticas, marcadas pelas suas necessidadesimediatas. 
Nesse sentido, os trabalhadores terminam por reduzir 
as suas propostas ao campo da preservação das 
conquistas ou, tão somente, das possibilidades postas 
pela conjuntura da crise” (ibidem).
Verifica-se uma acentuada diminuição do número de 
greves. Como explicita Matos (2009: 28) tomando as 
greves como mobilizações da classe trabalhadora, os 
dados revelam significativo recuo: “das quase 4.000 
12 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
greves de 1989 (...) passamos a patamares médios 
de cerca de 700 greves anuais nos anos 1990”. 
Em 2004, o Dieese “encontrou perto de 300 greves 
em média nos anos seguintes (até 2007)”.
É de destacar que, “ao exercer os direitos sociais 
e políticos conquistados ao longo deste século, o 
proletariado submeteu-se às normas e procedimentos 
do Welfare State liberal-democrático, perdendo 
gradualmente a sua identidade socialista e/ou 
revolucionária dominante ao longo do século XIX” 
(Abreu, 1997: 66). Para o autor, “é no vazio deixado 
por esta crise de identidade que os interesses e 
valores identificados com a desregulação política 
das relações sociais vêm progredindo. É razoável 
supor que dificilmente haveria espaço para os valores 
neoliberais diante de uma identidade coletiva com 
força e legitimidade para forçar e implementar novos 
pactos sociais e políticos” (idem: 68).
3 - A crise na consciência de classe do trabalhador: a 
substituição pós-moderna da classe pela “identidade” 
e da exploração pela “exclusão”
Para os trabalhadores, além dos impactos objetivos 
da crise (desemprego, precarização do trabalho, dos 
salários e dos sistemas de proteção social), ocorreu 
uma outra também no plano ideológico: o “culto de 
um subjetivismo e de um ideário fragmentador que 
faz apologia ao individualismo exacerbado contra 
as formas de solidariedade e de atuação coletiva e 
social” (Antunes, 1999: 48).
Essa fragmentação opera refrações na prática 
organizativa das classes trabalhadoras e pode criar, 
especialmente em conjunturas de crise, as bases 
para a institucionalização de formas corporativas 
de organização e a exclusão de um grande número 
de trabalhadores da representação sindical. Por 
outro lado, a descrença nos macro-projetos (típico 
do pensamento pós-moderno, e da resignada 
descrença em mudanças estruturais, também produto 
da crise do “bloco soviético”) provoca expansão 
dos movimentos “culturalistas” e “poli-classistas” 
(ecológicos, gays, juvenis, comunitários etc.) que 
se organizam em torno de demandas e respostas, 
legítimas e necessárias, porém geralmente pontuais 
e imediatas, o que desperta maior adesão, aceitação 
e visibilidade num contexto de descredibilidade 
dos macro-projetos e que, por isso, não conseguem 
articular e co-organizar suas ações. Isso levou muitos 
autores (de Jürgen Habermas a Boaventura de Souza 
Santos) a acreditarem mais nas mudanças localizadas 
e do “mundo da vida”, no “terceiro setor”, do que nas 
grandes transformações pela via das lutas de classes, 
tendo como referência as relações econômicas. 
Sem desconhecer a importância desses movimentos, 
o fato de retirar a sua dimensão econômica e de 
luta de classes leva a uma convivência tensa, mas 
compatível, entre eles e o sistema capitalista.
4 - Pulverização e heterogeneização do trabalho: 
a substituição das lutas de classes pelas “ações 
sociais” e “parceria” e a perda do poder de barganha 
do trabalhador
As formas diferenciadas do uso da força de trabalho, 
para além da dificuldade de desenvolver laços 
e consciência de classe, vêm se expressando na 
expulsão de milhares de trabalhadores das formas de 
representação de seus interesses, ou seja, estão fora das 
organizações sindicais. Com isto, há um decréscimo 
efetivo nas taxas de sindicalização produzido pelo 
desemprego e pela informalização, causando o 
processo conhecido por dessindicalização.
Nesta verdadeira dessindicalização e 
heterogeneização das classes trabalhadoras, os 
interesses dos trabalhadores aparecem cada vez mais 
diferenciados, por vezes até opostos, rompendo com 
a tendência à bipolarização das classes fundamentais 
que se podia vislumbrar no século XIX. O que ocorre 
é uma verdadeira “pulverização” e um ocultamento 
da maioria trabalhadora (ver Montaño, 1999: 44 e 
ss.).
Com tal (de)composição segmentada e pulverizada 
das classes trabalhadoras, o poder político das suas 
organizações cai significativamente:
 
a) primeiramente, temos uma diminuição do espaço 
fabril que leva à redução do número de membros de 
cada sindicato; 
b) em segundo lugar, a subcontratação, 
informalização do trabalho3 e a heterogeneização 
dos setores trabalhadores exclui amplos segmentos 
destes da organização sindical, fundamentalmente 
composta por trabalhadores assalariados4; 
c) por outro lado, uma onda ideológica de ocultamento 
das lutas de classes e desprestígio do movimento 
operário tem, no contexto da empobrecida 
racionalidade pós-moderna, um campo fértil de 
13CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
expansão social; procura inculcar a ideia, sobre as 
lutas dos trabalhadores, de antiquada e antipopular 
(substituindo as “lutas de classes” e a “exploração”, 
por vagas noções de “ação social” e “exclusão social”); 
 
d) um quarto aspecto a considerar é a tendência à 
transformação no nível da organização sindical: com 
a inexistência de uma forte organização internacional, 
tal como no final do século XIX e inícios do século XX, 
propõe-se a passagem de sindicatos nacionais, para 
sindicatos por indústria (ou ramo industrial) procurando 
atingir (como ocorre no Japão) a organização sindical 
por empresa; o que ratifica e enfatiza a perda do poder 
de luta dos trabalhadores. Ocorre uma “ramificação” 
e setorialização das medidas de lutas; cada vez mais 
se pensa em greves (e, até, em negociação) por 
ramo e categoria, e até o acordo direto entre patrão 
e empregado, do que em greves gerais, diminuindo o 
impacto social da medida de luta.
Podemos identificar pelo menos três vertentes que 
tratam das lutas ou ações sociais para enfrentar o 
contexto de crise:
1 - primeiramente uma vertente de cunho neoliberal, 
caracterizada pela “terceira via”, que, a exemplo de 
Bresser Pereira (1998), promove a desestatização 
(ou desresponsabilização do Estado) da ação social, 
passando a ser desenvolvida pelas organizações do 
setor público-não-estatal, ou “terceiro setor” (o que é 
tratado como “publicização”);
2 - em segundo lugar, a vertente pós-moderna, que, 
tendo Boaventura de Souza Santos (1997) como 
destacado expoente, defende as ações locais, o 
empoderamento, a Economia Solidária, as ações 
focalizadas em pequenos grupos, também inseridos 
no chamado “terceiro setor”;
3 - finalmente, a vertente representada 
fundamentalmente pelo marxismo, que se orienta 
nas lutas anti-capitalistas, que a exemplo de Petras, 
Boron, Chomsky, dentre outros (ver, por ex. Boron, 
org., 2004; Amin e Houtart, orgs., 2003), entende 
que só a luta de classes, orientada à emancipação 
humana, pode enfrentar as seqüelas desta crise e 
resolver a desigualdade social. Isso significa tanto (no 
curto prazo) a garantia das conquistas já realizadas, 
nos direitos trabalhistas, políticos, sociais, e, para 
tanto, o papel do Estado nas suas responsabilidades 
constitucionais, como (a longo prazo) as mudanças na 
correlação de forças para a superação da exploração 
e a sociedade dividida em classes.
5 - Com a diminuição do poder do trabalhador, o 
aumento do poder do grande capital
Como corolário, e reforçando a diminuição do 
poder dos trabalhadores, ocorre, com a centralização 
de capital, um processo paralelo de centralização 
de poder político, concentrado na fração de 
classe hegemônica, a burguesia monopolista, 
hoje particularmente ligada ao capital financeiro. 
Em outros termos, clara reversão dos avanços da 
cidadania e da democracia, que derivaram do “pacto 
keynesiano” (ou “populista”).
Com isto, o aumento do poder monopolista 
vai acompanhado de umaredução do poder do 
trabalhador: desorganização, desmobilização, 
segmentação, descrédito. Sendo falsa a afirmação 
da extinção das lutas de classes, não é errada a 
constatação de que elas têm-se redimensionado a 
partir de uma significativa retração dos seus impactos 
sociais e políticos.
Num exercício analítico, Trotsky afirma que:
Para Trotsky, isto é excessivamente abstrato e 
unilateral, na medida em que é impossível especular 
com a ausência das lutas de classes. Porém, não 
ignorando a real presença destas lutas, mesmo 
num contexto de tensão social interclasses, o fato é 
que no período pós-70 o poder político, o nível de 
organização e adesão das classes trabalhadoras tem 
diminuído significativamente; nestas condições, a 
afirmação de Trotsky resulta profética.
Nesse contexto das lutas de classes observa-se, desde 
o término dos acontecimentos de 1968, um refluxo 
dos trabalhadores, acumulando derrotas frente ao 
capital monopolista e aos governos nacionais que 
“se admitirmos - e vamos fazê-lo por um momento - 
que a classe operária deixe de se levantar numa luta 
revolucionária, e permita que a burguesia dirija os 
destinos do mundo durante numerosos anos, (...) então 
certamente alguma espécie de novo equilíbrio será 
estabelecida. A Europa será violentamente lançada 
num retrocesso. Milhões de operários morrerão de 
desemprego e desnutrição. Os Estado Unidos serão 
compelidos a se reorientar no mercado mundial, a 
reconverter sua indústria e a sofrer restrições durante 
considerável período” (in Mandel, 1982: 153-4).
14 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
começam a desonrar o “pacto keynesiano” e que 
vão perdendo autonomia relativa frente ao capital 
transnacional, levando a uma significativa retração do 
movimento trabalhista; alcançando até retrocessos de 
conquistas históricas, como direitos civis, políticos 
e sociais, legislação trabalhista, contratos coletivos, 
protecionismo estatal, negociação tripartite. 
Przeworski entende que esta é “a crise do capitalismo 
democrático” (in Netto, 1993: 70), caracterizando o 
neoliberalismo como “um projeto histórico próprio” 
da direita que procura “libertar a acumulação de 
todas as cadeias impostas pela democracia” (idem: 
80). Assim, Netto aponta que “é precisamente o 
conteúdo político desta despolitização [das relações 
sociais no mercado] que permitiu ao neoliberalismo 
converter-se em concepção ideal do pensamento 
antidemocrático contemporâneo” (ibidem).
Como afirma Petras, “o declínio ou avanço dos 
direitos sociais variam com o nível e intensidade 
da luta de classe, as mudanças no poder político e o 
compromisso dos líderes em tomar ações decisivas. 
O retrocesso dos direitos trabalhistas e sociais não 
é o resultado de processos globais abstratos, mas o 
resultado de políticas de Estado, relações de classes 
e liderança política e social” (1999: 66). Para o autor, 
“onde o poder de classe do trabalhador permanece 
coeso, a retirada [dos direitos conquistados] é menos 
evidente” (idem: 54).
Assim, se na fase inicial do monopolismo, sob 
o regime de acumulação fordista/keynesiano, a 
racionalidade hegemônica do capital induziu os 
indivíduos a pensar que o capitalismo não precisava 
ser alterado/superado (pois ele tinha se “civilizado”, 
incorporando as demandas e interesses de todos os 
setores sociais, a partir de um “pacto social”), no atual 
contexto de crise e hegemonia neoliberal, induz-se 
o trabalhador a pensar que o capitalismo não pode 
ser alterado/superado (pois ele seria a única e última 
forma possível de desenvolvimento social, moderno 
e “globalizado”). Na primeira fase do monopolismo 
(no Regime de Acumulação Fordista-Keynesiano) a 
estratégia hegemônica do capital aponta à diminuição 
das resistências operárias mediante a incorporação 
sistemática de demandas trabalhistas, mostrando 
um sistema (e um Estado) supostamente capaz de 
gerar “bem-estar social” para todos. Na segunda 
(e atual) fase, de crise e financeirização do capital, 
a estratégia hegemônica aposta na desmobilização 
mediante a resignação frente a fenômenos 
supostamente naturais, irreversíveis, inalteráveis. 
Aqui, só o “possível” parece ser o horizonte 
“razoável”.
Isto emoldura a situação das lutas de classes que 
permitem ao capital, não sem resistências, avançar 
mais facilmente no seu processo de ofensiva contra 
o trabalho, de reestruturação produtiva e (contra-)
reforma do Estado, no interior do novo projeto 
hegemônico do capital (financeiro).
NOTAS
1 - Sobre isto ver: Netto e Braz. Economia Política (São 
Paulo, Cortez, 2006) e Montaño e Duriguetto (São Paulo, 
Cortez, 2010).
2 - Baseado em Montaño e Duriguetto. Estado, classe e 
Movimento Social. São Paulo, Cortez, 2010.
3 - Segundo pesquisa do IBGE, nas seis principais regiões 
metropolitanas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto 
Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife), o trabalho 
informal (sem carteira assinada) cresceu 62% na década de 
90 (em São Paulo este crescimento foi de 81%), atingindo 
4,4 milhões de pessoas trabalhando sem carteira; a eles 
somam-se os 3,8 milhões que trabalham por conta própria 
(ver Soares, 2000: 67).
4 - Segundo registra Soares, na América Latina o percentual 
de trabalhadores sindicalizados está caindo em relação à 
população ocupada: na Argentina é de 42%, no Peru 7,8% e 
na Guatemala 2,9% (Soares, 2000: 57).
15CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
No Brasil dos últimos tempos assistimos a taxas de 
crescimento da economia que giraram em torno de 
1,0% a 7,5%, atingindo uma média de 4,06% no 
período de 2003 a 2010. Se levarmos em consideração 
a média histórica brasileira desde 1890 que é de 
4,5% os números estão longe de figurarem como 
extraordinários. (Gonçalves, 2010). No entanto, para 
uma economia que amargou nas últimas décadas um 
insólito revesamento entre a inflação e a estagnação 
econômica, as atuais taxas de crescimento trouxeram 
consigo eufóricos discursos políticos e análises 
acadêmicas de grupos intelectuais otimistas sobre a 
retomada do crescimento econômico, a diminuição 
da pobreza, a geração de novos postos de trabalho, o 
surgimento de uma nova classe média consumidora e 
outros elementos que indicariam uma nova etapa de 
desenvolvimento econômico e social no Brasil. 
Nessa conjuntura, vem obtendo sucesso entre diversos 
setores da sociedade um ideário que defende o 
surgimento de um suposto novo-desenvolvimentismo 
brasileiro que traria consigo uma nova etapa de 
crescimento e avanço para o país. Embora não 
componha um bloco intelectual coeso e seja integrado 
por uma inegável heterogeneidade de argumentos, 
os chamados “novos desenvolvimentistas” possuem 
uma questão em comum: sugerem que vivemos uma 
nova fase no modelo de desenvolvimento capitalista 
no Brasil. Para esse conjunto de ideólogos, superada 
a fase neoliberal, agora vivemos uma espécie de 
déjà vu dos esperançosos e conturbados anos da 
industrialização brasileira, na qual reatualiza-se o 
antigo mito desenvolvimentista segundo o qual os 
ganhos civilizatórios da modernização capitalista nos 
países centrais podem ser finalmente universalizados 
para os países periféricos. Dito de outra forma, o novo 
ideário desenvolvimentista pretende recuperar as 
promessas civilizatórias não alcançadas pelo processo 
histórico de modernização capitalista no Brasil e que 
atualmente, segundo seus defensores, voltam a figurar 
como horizonte histórico nacional. 
1 - O DESENVOLVIMENTISMO COMO 
EXPRESSÃO IDEOLÓGICA DO PROCESSO 
DE MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
Em uma publicação de 1974, um dos mais 
proeminentes teóricos do subdesenvolvimento, 
o economista brasileiro Celso Furtado reconhece a 
construção e a importância histórica do que chama 
de “mito do desenvolvimento econômico” como 
ideologia “diretora” do processo de modernização 
brasileira. De acordo com o economista cepalino, 
o mito de que os países periféricos pudessem superar 
o subdesenvolvimento e atingir as mesmas condições 
de vida dospaíses desenvolvidos exerceu uma forte e 
inegável influência sobre a mente dos homens que se 
empenharam em pensar os rumos da economia e da 
política no Brasil. Para o autor a renovação contínua 
desse mito ao longo da história operou como um 
verdadeiro farol que iluminou o campo de percepção 
dos pesquisadores, planejadores, burocratas e 
governantes indicando o caminho que toda a sociedade 
brasileira deveria seguir para atingir seu objetivo final: 
estar entre o rol dos países plenamente desenvolvidos. 
Como indica Furtado (1974), levando em consideração 
o ambiente de país periférico, com altos índices de 
desigualdade social, o mito do desenvolvimento 
tornou-se, ao longo da história, uma construção 
ideológica fundamental para que a classe dominante 
brasileira elaborasse sua ideologia específica e ao 
mesmo tempo socializasse com as demais classes 
e frações de classe as promessas de um futuro de 
crescimento econômico e de melhoria das condições 
sociais. Através da elaboração e socialização desse 
conjunto ideológico, foi possível à burguesia brasileira 
apresentar seu projeto particular de industrialização 
Professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ e pesquisador do Núcleo de Pesquisas sobre Política, Estado, 
Trabalho e Serviço Social - PETSS
Cézar Henrique Maranhão
A ideologia neodesenvolvimentista e as Políticas Sociais 
no Brasil: apontamentos sobre crise e hegemonia na 
periferia do capitalismo
16 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
como um projeto de toda a sociedade brasileira, 
mobilizando amplos esforços e legitimando as ações 
e estratégias necessárias à condução do processo de 
industrialização. 
Em diferentes fases do processo histórico de 
industrialização brasileira, a ideologia de superação 
do subdesenvolvimento, através das políticas 
desenvolvimentistas, cumpriu o papel de oferecer o 
horizonte ideológico que possibilitou à burguesia 
mobilizar as forças políticas necessárias para 
impulsionar a industrialização brasileira. É assim, que 
sob o amplo ideário desenvolvimentista, surgem uma 
heterogeneidade de grupos políticos, representados 
pelos mais diversos interesses, mas que de uma forma 
ou de outra adotavam os discursos e as promessas 
desenvolvimentistas de planejamento econômico, 
crescimento industrial, defesa da intervenção 
estatal, universalização do trabalho assalariado, 
como portadores inerentes da ultrapassagem do 
subdesenvolvimento e da melhoria nas condições de 
vida de toda a população brasileira. 
Dessa forma, o conjunto heterogêneo de propostas 
desenvolvimentistas adquiriram força material na 
condução do processo de industrialização brasileira 
através de 3 características principais:
1) Em primeiro lugar, possibilitou a burguesia 
brasileira construir o cimento ideológico necessário 
para unir as mais diferentes frações da classe 
dominante nacional numa arena heterogênea de 
alternativas políticas que permitiu a construção de 
debates e concertações no interior da classe dominante 
sobre as alternativas possíveis para os caminhos da 
modernização brasileira.
2) Por outro lado, a ideologia desenvolvimentista e 
suas heterogêneas propostas (que aglutinavam nos 
quadros desenvolvimentistas sujeitos tão diversos 
como Celso Furtado e Roberto Campos) permitiu à 
classe dominante brasileira vislumbrar a possibilidade 
de construir um projeto hegemônico de direção 
política, que através de um “pacto social” (sob a 
direção político e ideológica das classes dominantes), 
conduziria a “modernização conservadora” e o 
processo de inserção brasileira no capitalismo 
monopolista avançado. 
3) E uma terceira e não menos importante 
característica, a ideologia desenvolvimentista ao 
se colocar como único caminho para o processo de 
modernização nacional tinha como objetivo principal 
escurecer, enevoar, colocar nas sombras a construção 
de uma alternativa socialista para o Brasil. O objetivo 
oculto era banir do cenário nacional os grupos 
políticos que reivindicavam uma saída socialista para 
a modernização brasileira. 
De certa forma, nessa época de incertezas e intensas 
disputas, central para a definição dos rumos políticos 
do Brasil, o bloco político que compunha a classe 
dominante brasileira logrou alguns êxitos através da 
ideologia desenvolvimentista. O maior deles com 
certeza foi fazer com que parte da esquerda brasileira 
assumisse como sua uma tese que está no interior do 
discurso desenvolvimentista: a tese da incompletude 
do capitalismo brasileiro. Mas naquele período, em 
seu eixo fundamental, o bloco histórico formado pelas 
classes dominantes brasileiras não obteve êxito na 
construção de um consenso amplo e ativo em torno 
do projeto de modernização conservadora no Brasil. A 
heterogeneidade da ideologia desenvolvimentista apesar 
de ter possibilitado a mobilização das mais diferentes 
forças políticas em torno do esforço de modernização 
não conseguiu construir um consenso social duradouro 
em torno dos interesses particulares da burguesia. 
Em meados da década de 1960, as contradições do 
processo de modernização capitalista periférico, 
somadas a correlação de forças entre as classes sociais, 
acabaram possibilitando o surgimento de fissuras 
no consenso burguês. Aos poucos ganharam espaço 
forças políticas contestatórias que advindas dos setores 
populares, progressistas e da classe trabalhadora 
propunham políticas que ultrapassavam os estreitos 
limites da aliança conservadora burguesa ameaçando 
o controle ideopolítico das classes dominantes sobre 
o processo de modernização capitalista. Foi assim 
que em 1964, a burguesia brasileira, sentindo que a 
sua direção política do processo de modernização 
estava ameaçada pela possibilidade de surgimento 
de um projeto popular-socialista no Brasil, rompeu 
com o estatuto democrático abrindo mão da tentativa 
de construção de uma consolidação consensual do 
capitalismo monopolista no Brasil e desfraldando 
um golpe de Estado que desnudou toda a sua 
cultura política contra-revolucionária. Em nome 
da continuidade do processo de “modernização 
conservadora”, a burguesia brasileira abandonava 
qualquer possibilidade de construção ideológica 
de um consenso em torno de sua hegemonia para 
novamente adotar uma transição política baseada em 
soluções predominantemente coercitivas.
17CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
2 - DESTRUTIVIDADE DO CAPITAL, 
CRISE ESTRUTURAL E RENOVAÇÃO DA 
IDEOLOGIA BURGUESA
Em 1972, Francisco de Oliveira ao escrever A crítica 
a razão dualista, um clássico da crítica ao binômio 
desenvolvimento/subdesenvolvimento, conclui que 
a ideologia desenvolvimentista a partir da teoria do 
subdesenvolvimento, elaborada pela CEPAL, analisou 
toda a questão do desenvolvimento capitalista periférico 
sob o ângulo dualista contrapondo o Brasil “arcaico” 
(da desigualdade, da miséria e do subemprego) ao 
Brasil Moderno (do crescimento econômico, do 
consumo de luxo e da modernização do mercado). 
Com seus estereótipos de “desenvolvimento auto-
sustentado”, “internalização do centro de decisões”, 
“integração nacional”, “planejamento”, etc, a teoria 
do subdesenvolvimento sentou as bases da ideologia 
desenvolvimentista que, no período de transformação 
da economia de base agrária para a industrial-urbana, 
desviou a atenção teórica e a ação política do problema 
da luta de classes. Ao final da sua conclusão o autor 
arremata:
A entrada do Brasil no cenário da “redemocratização”, 
o acirramento das contradições econômicas próprias 
da fase de crise estrutural do capital e a nova correlação 
de forças entre as classes e frações de classes nas 
décadas de 1980 e 1990, reservavam um novo lugar 
para a ideologia desenvolvimentista na condução 
ideológica do capitalismo periférico brasileiro.
 
Num primeiro momento, nas décadas de 1980 e 1990, 
período em que o potencial expansivo de acumulação 
já oferecia sérios sinais de desgaste e a crise estrutural 
do capital (Mészaros, 2002) já ameaçava as economiascapitalistas, as transformações que se processaram 
no sistema capitalista mundial e o surgimento do 
neoliberalismo como direção ideopolitica do processo 
de restauração do capital em crise fizeram com 
que as promessas da ideologia desenvolvimentista 
gradativamente passassem a entrar em contradição 
com os interesses do projeto burguês. Nesse momento 
histórico de intensificação da mundialização 
capitalista, o objetivo da política neoliberal era se 
apresentar como uma alternativa ideológica viável 
ao esgotamento do antigo modelo de substituição 
de importações e da ideologia desenvolvimentista. 
O grande compromisso dos neoliberais era 
restituir um novo cenário de crescimento no 
continente latino-americano, prometendo acabar com 
a crise da dívida externa e a alta inflação, através da 
liberalização econômica e política de privatizações. 
Foi assim que as promessas desenvolvimentistas 
de superação do subdesenvolvimento passaram 
a ser continuamente negadas e substituídas pelo novo 
consenso político neoliberal, liderado pela oligarquia 
financeira internacional e organizados em torno do 
Consenso de Washington.
A essência econômica do processo político 
denominado de neoliberalismo, que nas últimas 
décadas intensificou o poder expropriador do 
capital, está relacionada ao complexo processo de 
mundialização capitalista que possibilitou a gradativa 
retomada, sob novas bases, do domínio econômico 
e político da fração mais reificada do metabolismo 
capitalista. Tal fração do capital, nomeada por 
Hilferding (1985) e Lênin (1982) de capital financeiro, 
com o atual acirramento da crise estrutural do capital 
e o processo de mundialização capitalista, adquire 
novas determinações e complexidades oferecendo 
um patamar ainda mais intenso à lógica destrutiva do 
capital.
Com a crise e as quedas acentuadas nas taxas de 
lucro, o capital foi obrigado a desenvolver grandes 
transformações na sua dinâmica de reprodução 
ampliada. Diante do futuro crítico, gradualmente 
emergem soluções que pretendem desregulamentar 
a economia de mercado, visando impulsionar a 
liberdade dos investimentos financeiros capitalistas. 
Ao longo dos anos 1980, a antiga política estatal 
keynesiana de “eutanásia do rentista”, cede lugar a 
um conjunto de políticas do Estado que têm como 
finalidade a reanimação dos investimentos capitalistas 
e um agressivo pacote de incentivos para a expansão 
do mercado privado. 
Podemos destacar três principais processos históricos 
que se desenvolveram de forma concomitante 
e complementar ao longo dos mecanismos que 
possibilitaram a mundialização do capital: 
a) a internacionalização do capital financeiro; 
b) a nova gestão da produção capitalista e a 
intensificação da extração de mais-valia; 
A teoria do subdesenvolvimento foi, assim, 
a ideologia própria do chamado período 
populista; se ela hoje não cumpre esse papel 
é porque a hegemonia de uma classe se 
afirmou de tal modo que a face já não precisa 
de máscaras. (Oliveira, 1975, pg. 13) 
18 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
c) o avanço de novas formas de expropriação 
capitalista. 
O primeiro desses processos históricos se dá a partir 
dos anos 1980, quando as diversas frações da burguesia 
internacional promovem uma grande conciliação 
em torno do projeto de expansão da acumulação 
financeira, que estabelece a internacionalização 
e a desregulamentação dos mercados. A partir da 
hegemonia política neoliberal, a força restauradora 
do capital para liberalizar e mundializar os mercados 
capitalistas no mundo se espraia com grande ímpeto 
e velocidade. Talvez a grande conquista neoliberal 
tenha sido fazer com que as políticas liberalizantes 
fossem desenvolvidas não só pela vitória eleitoral 
dos partidos conservadores, mas também através 
de governos de esquerda que, ao tentarem manter a 
política de reformas social-democratas, acabaram 
cedendo ao poder corrosivo e incontrolável do capital 
internacional1.
A fase capitalista decorrente da liberalização financeira 
e da internacionalização dos mercados é uma etapa 
que cada vez mais produz de forma ágil e rápida, de 
um lado, mundializando e externalizando as etapas 
do processo produtivo e, de outro, intensificando 
os métodos de extração da mais-valia. Como já 
apontavam Marx (1985-86), Hilferding (1985) e 
Lenin (1982), o sistema capitalista funciona como 
“uma economia monetária de produção”, e é sobre 
essas condições que a produção capitalista passará a 
exigir uma reorganização da produção capitalista em 
nível mundial. 
Os processos de fusão e incorporação de empresas, 
desenvolvidos desde a fase monopolista do 
capitalismo, apesar de tentarem realizar uma unidade 
entre as diversas formas de capital2, sempre foram 
acompanhados por uma inconveniente porosidade 
entre os processos de criação do valor 
(capital produtivo) e as formas lucrativas de apropriação 
desse valor já criado (capital-dinheiro). Os diversos 
momentos do circuito de valorização do capital são 
quase autonomizados como ramos particulares de 
produção de mercadorias: o comércio, a indústria, 
os serviços e os bancos. Com o atual movimento 
de mundialização dos mercados e reestruturação 
dos capitais, assistimos a uma busca incessante por 
um maior controle do processo de valorização e 
pelo aumento da taxa de lucros dos grandes grupos 
oligopolistas, através de estratégias renovadas de 
monopolização dos mercados e reestruturação de 
ramos inteiros do ciclo de valorização capitalista. 
A fusão de vários grupos financeiros e o investimento 
massivo em ciência e pesquisa possibilitaram a 
incorporação de maquinários ultramodernos e de 
tecnologias informacionais no interior dos processos 
manufatureiros que resultaram num controle e 
monitoramento ainda maior do processo de trabalho 
e de todo circuito reprodutivo do capital. Para 
continuamente deslocar a tendência decrescente dos 
lucros intensificada pela crise estrutural e, assim, 
manter os altos níveis de lucratividade, o capitalismo 
atual deve intensificar constantemente suas formas 
de produção de mercadorias. Na fase atual do 
capitalismo o contínuo revolucionamento da produção 
não se faz acompanhar por uma expansão horizontal 
dos mercados. Isso não poderia ser diferente num 
capitalismo que já se transformou em uma grande 
comunidade internacional produtora de mercadorias. 
O que tem ocorrido nos últimos tempos é que o 
complexo sistema de reprodução ampliada do 
capital assimilou uma estratégia renovada de 
expropriações, desenvolvendo-a em escala mundial, 
não só apropriando-se das áreas geográficas 
inexploradas, como também expropriando esferas 
que antes escapavam à dinâmica de acumulação 
capitalista. O poder expropriador do capital, 
impulsionado pela avidez de superlucros do capital, 
manifesta-se atualmente por meio de algumas 
características facilmente identificadas: 
i) uma nova partilha das áreas geograficamente 
estratégicas e das terras coletivas e públicas no mundo, 
ii) a intensificação da extração de mais-valia no 
mundo, 
iii) a mudança nos regimes de manufatura e 
organização do trabalho, 
iv) a criação de uma superoferta de força de trabalho, 
garantida por uma multidão de trabalhadores que 
compõe um exército industrial de reserva mundial; e, 
por fim, 
v) a forma de expropriação que é a captura do fundo 
público dos diversos Estados nacionais e de suas 
instâncias “democráticas” de controle social.
Nessas condições, entramos numa quadra histórica em 
que o capital se vê enredado pela sua própria dinâmica 
contraditória: para impulsionar o crescimento 
econômico e o avanço civilizatório as soluções e 
19CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
ajustes econômicos capitalistas devem paralelamente 
intensificar seus métodos bárbaros de intensificação 
da exploração e expansão das expropriações. Segundo 
Meszaros (2002), a diferença é que no passado tais 
contradições críticas puderam ser exportadas para 
setores periféricos da economia e atémesmo para 
outros países e continentes, mas, atualmente, ela 
atinge todas as esferas de produção e reprodução do 
sistema capitalista. Com a crise estrutural, os ajustes 
anteriormente mobilizados pelos Estados nacionais 
para os deslocamentos dos efeitos das crises já não 
apresentam a mesma eficiência. As antigas técnicas 
keynesianas ou desenvolvimentistas realizadas no 
passado para retomar o impulso do crescimento e 
ampliar os ganhos econômicos, em grande parte 
perderam seu potencial civilizatório. A estrutura e 
a dinâmica do capitalismo contemporâneo pôs por 
terra as esperanças de equalização entre crescimento 
capitalista e ampliação de ganhos civilizatórios 
significativos.
Tal impulso destruidor do capital que intensifica o 
antagonismo entre desenvolvimento da acumulação 
e avanço civilizatório gerou também nefastas 
consequências cotidianas para a condição de vida e 
trabalho da população. Em várias partes do planeta, 
podemos visualizar o saldo da política de liberalização 
dos mercados que intensificou as contradições típicas 
da sociedade capitalista3. 
Todas as políticas sugeridas pelo Consenso de 
Washington e executadas pelos governos dos diversos 
países, principalmente na periferia do sistema, 
longe de cumprirem suas promessas de expansão 
dos mercados livres e de desenvolvimento com 
estabilidade resultaram no aumento das desigualdades 
em todos os níveis: econômico, político, social 
e cultural. Não é a toa que as consequências das 
políticas neoliberais somadas às crises econômicas, 
cada vez mais frequentes e turbulentas, passam a abrir 
espaço para o surgimento de lutas de resistência ao 
neoliberalismo na América Latina. 
Os países latino-americanos, nos primeiros anos do 
século XXI, testemunharam um aprofundamento 
da luta de classes, das crises políticas de fundo e 
uma intensa contraposição à intervenção política 
imperialista nos rumos do continente. Todas as 
mobilizações e crises políticas latino-americanas 
formavam um novo quadro político radicalizado. 
Agora a onda de mobilizações populares não 
enfrentava ditaduras militares como no passado, mas 
os regimes neoliberais “democráticos” desenhados 
pelos EUA e as burguesias locais. 
Logo depois, através de situações diversas, uma 
parte da esquerda latino-americana chegou ao 
governo de seus países, diretamente ou em coalizões, 
impulsionada pela crise política e a bancarrota 
econômica no continente. As burguesias locais e o 
capital internacional tiveram que aceitar a virada 
política que se processava na América Latina, uma 
verdadeira “virada à esquerda” que remodelou a 
conjuntura política do continente. (Coggiolla, 2008). 
Na presença deste quadro de avanço da barbárie 
social e de resistências políticas aos investimentos 
das megacorporações, inicia-se um lento processo 
em que organizações multilaterais como o FMI e o 
Banco Mundial começam a admitir que a ortodoxia 
do Consenso de Washington, baseada no louvor aos 
mercados livres, não vinha oferecendo respostas 
políticas adequadas para garantir a administração dos 
conflitos e a boa governança dos mercados emergentes. 
Até mesmo ideólogos do grande capital, como o 
ex-presidente do Banco Mundial Joseph Stiglitz 
(2002), passam a discordar sobre a forma como vinha 
sendo conduzido o consenso político em torno das 
propostas capitalistas de globalização econômica. 
Na verdade, podemos afirmar que alguns ideólogos 
capitalistas passaram a perceber que a ortodoxia 
neoliberal, ao defender tão arraigadamente os valores 
do livre mercado e da governança coorporativa, 
subestimou os elementos de consenso político e 
ideológico que devem acompanhar todo processo de 
mudanças sociais. Como afirma Mota (1995, p. 84): 
“Esse fracasso, contraditoriamente, incide sobre a 
ortodoxia liberal e aponta para a impossibilidade 
de tratar a economia longe da política, isto é, de 
implementar as reformas econômicas sem a obtenção 
de consensos de classe.” (MOTA, 1995, p. 84). 
Nessas condições, a crise do capital se transforma 
em uma crise de dominação e as classes dominantes 
precisam encontrar maneiras de restabelecerem sua 
direção política e dominação ideológica sobre o 
conjunto da sociedade4. 
Hoje, diante do quadro crítico de deslegitimação do 
projeto neoliberal, o capital necessita, cada vez mais, 
de respostas que não só garantam o crescimento 
exponencial das taxas de lucro (como pregava o 
receituário neoliberal), mas também amenizem a 
condição dos derrotados e estabeleçam um consenso 
mínimo em torno das transformações capitalistas. 
20 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2014
3 - A IDEOLOGIA DO NOVO 
DESENVOLVIMENTISMO: EXPRESSÃO 
IDEOLÓGICA DA CRISE NO BRASIL 
CONTEMPORÂNEO
É de posse dessas contradições sociais intensificadas 
pela dinâmica de acumulação capitalista atual que 
a intelectualidade da classe dominante enfrentará 
uma quadra histórica de deslegitimação do discurso 
neoliberal e se empenhará na reconstrução política e 
ideológica de sua dominação de classe. No Brasil, esse 
processo começa com os dois mandatos de Fernando 
Henrique Cardoso (FHC), mas se desenvolve 
plenamente com a eleição de Luís Inácio da Silva 
para a presidência da república. Nessa conjuntura se 
abrirá uma oportunidade histórica para a ampliação 
do leque de alianças políticas em torno do projeto 
burguês. As novas diretrizes de “desenvolvimento 
social e humano”, já defendidas pelos organismos 
internacionais e agências multilaterais encontrarão 
sob a gestão presidencial do antigo líder sindical 
o ambiente econômico e os elementos políticos e 
ideológicos necessários para continuidade da sua 
agenda política5. 
Em 2002, Luís Inácio Lula da Silva é eleito através 
de uma heterogênea aliança política que aglutinou 
importantes setores do sindicalismo nacional, 
intelectuais, funcionários públicos, movimentos 
populares, frações da classe média e também setores 
da burguesia brasileira. O governo Lula sustentava 
grandes expectativas em parte da esquerda e dos 
setores progressistas brasileiros. Porém, ainda na ante-
sala do poder, com o documento conhecido pelo nome 
de “carta aos brasileiros”, o governo petista já acenava 
com a continuidade da política econômica de FHC e 
depois da posse presidencial ratificou a conciliação 
com o projeto hegemônico da grande burguesia local 
e internacional. Aos olhos das megacorporações, 
optou em desempenhar o papel da esquerda “sensata”, 
“moderna e aberta” - seguindo a recomendação do 
mexicano Jorge Castañeda6 - pronta a manter e ampliar 
os velhos compromissos econômicos de subordinação 
ao grande capital.
Através dessa conformação de interesses, ao assumir 
o poder o governo Lula manteve a mesma política 
econômica do segundo governo FHC: metas de 
inflação, ajuste fiscal permanente, câmbio flutuante, 
etc. Assim, o governo Lula reafirmou a política 
econômica e apoiado no melhor desempenho 
conjuntural do setor externo e no apoio político de 
uma ampla base sindical e popular deu novo fôlego 
ao “modelo liberal periférico” (ancorado no estímulo 
à economia exportadora de commodities e atrelada 
aos desígnios do capital financeiro internacional) 
legitimando-o politicamente e amalgamando com 
maior intensidade os interesses do bloco de poder 
dominante. (Filgueiras; Gonçalves, 2003)
Foram tais determinações econômicas e políticas 
que possibilitaram ao governo Lula transformar 
ideologicamente a recuperação da economia em um 
”espetáculo do crescimento”, reposicionando o Brasil 
na vitrine do mercado internacional das chamadas 
“nações emergentes”. Claro que o crescimento 
econômico e a melhoria na condição de vida e trabalho 
dos brasileiros ficou longe de sustentar um momento 
espetacular, mas deu provas de que seria possível 
conjugar a continuidade do modelo capitalista 
periférico com um renovado conjunto de promessas 
que supostamente trariam um futuro de crescimento 
econômico e desenvolvimento social para o Brasil. 
É a partir desse momento histórico que começa a 
emergir no

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