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Resolução de Exerćıcios do Livro Geometria Riemanniana Manfredo Perdigão do Carmo M.L.Amaral, C.T.Cristino, P.Rabelo, F.Santos Departamento de Matemática Universidade Federal de Pernambuco 50670-901 Recife, Pernambuco, Brasil Prof. Responsável: César Castilho 2o Semestre 2004 Sumário Apresentação 1 1 Métricas Riemanianas 3 2 Conexões Afins e Riemanniana 9 3 Geodésicas; Vizinhanças Convexas 17 4 Curvaturas 37 5 Campos de Jacobi 47 6 Imersões Isométricas 55 7 Os Teoremas de Hopf e Rinow e de Hadamard 67 9 Variações de Energia 75 10 Teorema de Comparação de Rauch 79 11 Índice de Morse 85 Bibliografia 89 Apresentação O que segue, corresponde à resolução dos exerćıcios do livro do professor Manfredo do Carmo [Carmo1], que foram feitos com listas da disciplina Geometria Riemanniana do curso de doutorado em Matemática do DMAT da Universidade Federal de Pernambuco. Várias soluções seguem como a própria sugestão do livro, que aparecem para alguns exerćıcios. 1 Caṕıtulo 1 Métricas Riemanianas p.45 ex.1 Prove que a aplicação ant́ıpoda A : Sn → Sn dada por A(p) = −p é uma isometria de Sn. Use este fato para introduzir uma métrica Riemanniana no espaço projetivo real Pn(R) tal que a projeção natural π : Sn → Pn(R) seja uma isometria local. Solução: Note que A2 = Id e que, portanto, A−1 = A, isto é, A é uma bijeção. Note, também que A é diferenciável, pois cada função coordenada é diferenciável e que ∂Ai∂xj = −δij , ou seja, dA(p) = −1 0 · · · 0 0 −1 · · · 0 ... . . . 0 · · · −1 (n+1)×(n+1) Assim, dAp(v) = −v, v ∈ TpSn. Sejam p ∈ Sn e u, v ∈ TpSn, então: 〈dAp(v), dAp(u)〉A(p) = 〈−u,−v〉A(p) = 〈u, v〉A(p) = 〈u, v〉p A última passagem é justificada considerando a métrica induzida de Rn+1 em ambos pontos. Logo, A é uma isometria. 2 p.46 ex.2 Introduza uma métrica Riemanniana no toro T n exigindo que a projeção natural π : Rn −→ T n dada por π(x1, . . . , xn) = (e 2πix1 , . . . , e2πixn), seja uma isometria local. Mostre que com esta métrica T n é isométrico ao toro plano. Solução: Dados p ∈ T n e u, v ∈ TpT n, defina 〈u, v〉π = 〈dπ−1(u), dπ−1(v)〉Rn . Como π é um difeomorfismo local (fácil verificação), temos que 〈 , 〉π define um produto interno em TpT n para todo p ∈ T n. 3 4 CAPÍTULO 1. MÉTRICAS RIEMANIANAS Denote por 〈〈 , 〉〉 a métrica produto em T n = S1 × S1 × · · · × S1. O toro T n com esta métrica é denominado toro plano. Vamos mostrar que o toro munido da métrica 〈, 〉π é isométrico ao toro plano. Inicialmente seja {f1, . . . , fn} base ortonormal de TpT n. É suficiente mostrar que existe um difeomorfismo F : T n → T n tal que 〈〈fi, fj〉〉 = 〈dF (fi), dF (fj)〉π = 〈dπ−1 ◦ dF (fi), dπ−1 ◦ dF (fj)〉Rn . (1.1) Vamos calcular 〈〈fi, fj〉〉. Sejam πj : S1 × · · · × S1 −→ S1 projeções naturais para j = 1, . . . , n. Usando a definição, 〈〈fi, fj〉〉 = n∑ k=1 〈dπk(fi), dπk(fj)〉R2 = δij . (1.2) Seja F um difeomorfismo de T n em T n tal que dπ−1 ◦ dF (fi) = ei, para i = 1, . . . , n, onde {e1, . . . , en} é a base canônica do Rn. De (1.1) e (1.2) temos que F é a isometria procurada. 2 p.46 ex.3 Obtenha uma imersão isométrica do toro plano T n em R2n. Solução: Seja ϕ : U → T n uma parametrização local em p ∈ T n, onde U ⊂ Rn é um subconjunto aberto, dada por: ϕ(x1, ..., xn) = ((cosx1, senx1), ..., (cos xn, senxn)). Seja ψ : V ⊂ T n → R2n uma parametrização local, onde V ⊂ T n é aberto, tal que ϕ(U) ⊂ V , dada por: ψ((cos x1, senx1), ..., (cosxn, senxn)) = (cos x1, senx1, ..., cosxn, senxn). Considere a composição ψ ◦ ϕ : U ⊂ Rn → R2n, onde U é um subconjunto aberto. Então: ψ ◦ ϕ(x1, ..., xn) = (cosx1, senx1, ..., cosxn, senxn), cuja matriz jacobiana de ordem 2n× n é dada por: J(ψ ◦ ϕ) = − senx1 0 · · · 0 cosx1 0 · · · 0 0 − senx2 · · · 0 0 cosx2 · · · 0 ... ... . . . ... 0 0 · · · senxn 0 0 · · · cosxn É fácil ver que a matriz acima possui posto máximo (todas as colunas são l.i.). Logo, d(ψ ◦ ϕ)p : TpRn → T(ψ◦ϕ)(p)R2n, onde p = (x1, ..., xn), é injetiva. Portanto ψ ◦ ϕ é uma imersão e, portanto, ψ é uma imersão de T n em R2n. 5 Considere, agora, u, v ∈ TpRn, com u = (u1, ..., un) e v = (v1, ..., vn). Então, 〈d(ψ ◦ ϕ)pu, d(ψ ◦ ϕ)pv〉 = n∑ i=1 (sen2 xi + cos 2 xi)uivi = n∑ i=1 uivi = 〈u, v〉. Desde modo, temos que ψ : V ⊂ T n → R2n é uma imersão isométrica. 2 p.46 ex.4 Uma função g : R→ R dada por g(t) = yt+ x, com t, x, y ∈ R e y > 0 é chamada função afim própria. O conjunto de todas tais funções com a lei usual de composição é um grupo de Lie G. Como variedade diferenciável, G é simplesmente o semi-plano superior, isto é, {(x, y) ∈ R2 : y > 0} com a estrutura diferenciável usual. Prove que: (a) A métrica Riemanniana de G invariante à esquerda, que no elemento neutro e = (0, 1) coincide com a métrica Euclidiana (g11 = g22 = 1 e g21 = 0) é dada por g11 = g22 = 1 y2 e g12 = 0. (Esta é a métrica da geometria não-euclidiana de Lobatchevski). Solução: Considerando o plano R2 com a seguinte métrica: dado p = (u, v) ∈ R2, faça 〈∂/∂u, ∂/∂u〉p = 1, 〈∂/∂u, ∂/∂v〉p = 0 e 〈∂/∂v, ∂/∂v〉p = e2u. Ou seja, g((x1, x2), (y1, y2))p=(u,v) = [x1 x2] [ 1 0 0 e2u ] [ y1 y2 ] = x1y1 + x2ye 2u. O plano R2 com esta métrica é uma superf́ıcie H chamada plano hiperbólico. Defina agora uma aplicação ϕ : R2+ = {(x, y) ∈ R2 : y > 0} → H , por ϕ(x, y) = (− ln y, x). Não é dif́ıcil verificar que ϕ é um difeomorfismo com inversa ϕ−1(u, v) = (v, e−u). Assim, podemos introduzir uma métrica h em R2+, fazendo 〈w, z〉m = 〈 (ϕ∗)m(w), (ϕ∗)m(z) 〉 ϕ(m) , onde z, w ∈ TmR2+. Observe que se tivermos um difeomorfismo F : (M,h)→ (N, g), então F preserva a métrica riemanni- ana h se, para quaisquer v, w ∈ TpM , tivermos 〈v, w〉p = 〈dFp(v), dFp(w)〉F (p). No caso em que M é um espaço euclidiano, isso nos diz que 〈∂/∂xi|p, ∂/∂xj|p〉p = 〈dFp(∂/∂xi|p), dFp(∂/∂xj |p)〉F (p), ou na forma matricial, ( ∂/∂xi|p )t Ai,j(p) ( ∂/∂xj |p ) = ( ∂/∂xi|p )t (JFp) tAi,j(F (p))(JFp) ( ∂/∂xj|p ) , onde a matriz A representa a métrica h. Assim, o difeomorfismo F preserva métrica se, e somente se, Ap = (JFp) tAF (p)(JFp), com JFp a matriz jacobiana de F no ponto p. 6 CAPÍTULO 1. MÉTRICAS RIEMANIANAS Usando este fato, conclúımos que 〈∂/∂x, ∂/∂x〉m = 〈 (ϕ∗)m(∂/∂x), (ϕ∗)m(∂/∂x) 〉 ϕ(m) = [1 0] [ 0 1 − 1y 0 ] [ 1 0 0 1y2 ] [ 0 − 1y 1 0 ] [ 1 0 ] = 1 y2 , e da mesma forma, obtemos que 〈∂/∂x, ∂/∂y〉m = 0 e 〈∂/∂y, ∂/∂y〉m = 1y2 . Logo a matriz h = 1 y2 0 0 1 y2 representa uma métrica riemanniana em R2+ tal que no elemento neutro e = (0, 1), satisfaz h(0,1) =[ 1 0 0 1 ] . Ou seja, h coincide com a métrica euclidiana em e = (0, 1). Além disso, se fixarmos um elemento f = (a, b) ∈ G, temos que para todo r = (c, d) ∈ G, Lf(r) = f ◦ r = (bc+ a, bd). Logo, (dLf )r = [ b 0 0 b ] e, conseqüentemente, para u = (u1, u2), v = (v1, v2) ∈ TrG obtemos 〈(dLf )ru, (dLf)rv〉Lf (r) = [u1 u2] [ b 0 0 b ] [ 1 (bd)2 0 0 1(bd)2 ] [ b 0 0 b ] [ v1 v2 ] = u1v1 d2 + u2v2 d2 = [u1 u2] [ 1 d2 0 0 1d2 ] [ v1 v2 ] = 〈u, v〉r Portanto, h é invariante à esquerda. 2 (b) Pondo z = (x, y) = x+ iy, i2 = −1, a transformação z → z′ = az+bcz+d , a, b, c, d ∈ R, ad− bc = 1 é uma isometria de G. Solução: Podemos reescrever a transformação z f7→ az+bcz+d da seguinte forma: az + b cz + d = a c ( 1− ad− bc a(cz + d) ) = a c − 1 c2z + cd . Assim, f é uma composição de difeomorfismos z f17→ αz + β f27→ − 1z f37→ z + γ, e preservará a métrica se f1, f2, f3 também a preservarem. É imediato que f1 e f3 possuem esta propriedade. Resta verificar que f2 também preserva a métrica. Desde que f2(z) = − 1 z = − z|z|2 = −x+ iy x2 + y2 , 7 temos que (Jf2)z = 1 (x2 + y2)2 [ x2 − y2 2xy −2xy x2 − y2 ] , e dáı, (Jf2) t zAf2(z)(Jf2)z = 1 (x2 + y2)4 [ x2 − y2 −2xy 2xy x2 − y2 ] (x2+y2)2 y2 0 0 (x 2+y2)2 y2 [ x2 − y2 2xy −2xy x2 − y2 ] =[ 1 y2 0 0 1y2 ] = Az Logo, f2 preserva a métrica h em G e f é então uma composição de isometrias. Portanto, uma isometria de G. 2 p.46 ex.5 Prove que as isometrias de Sn ⊂ Rn com a métrica induzida são as restrições a Sn das transformações lineares ortogonais de Rn+1. Solução: Observe, primeiramente, que como estamos considerando a métrica induzida de Rn+1, 〈., .〉p ≡ 〈., .〉q, para todos p, q ∈ Sn. Por isso, não apresentaremos o sub-́ındice do produto interno. (⇐) Seja R ∈ SO(n+ 1) e u, v ∈ TpSn. Então 〈dpRu, dpRv〉 = 〈Ru,Rv〉, pois R é uma transformação linear = 〈u,R∗Rv〉 = 〈u, v〉. Logo, se R ∈ SO(n+ 1), R é isometria sobre Sn. (⇒) Seja ϕ : Sn → Sn uma isometria e defina T : Rn+1 → Rn+1, por T (v, t) = dϕp(v) + tϕ(p), para p = (v, t) ∈ Rn × R. Aqui usaremos o isomorfismo natural Rn ≃ TpSn. Vamos mostrar que T é linear e ortogonal. T (v1 + αv2, t1 + αt2) = dϕp(v1 + αv2) + (t1 + αt2)ϕ(p) = dϕp(v1) + αϕp(v2) + t1ϕ(p) + αt2ϕ(p) = T (v1, t1) + αT (v2, t2), assim T é linear. Seja (v, t) ∈ Rn+1, tal que ‖(v, t)‖ = 1. Por um lado, temos: 〈T (v, t), T (v, t)〉 = 〈dϕp(v) + tϕ(p), dϕp(v) + tϕ(p)〉 = 〈dϕp(v), dϕp(v)〉 + t〈dϕp(v), ϕ(p)〉 + t〈ϕ(p), dϕp(v)〉+ t2〈ϕ(p), ϕ(p)〉 = 〈dϕp(v), dϕp(v)〉 + t2 = 〈v, v〉+ t2 = 〈(v, t), (v, t)〉 Note que 〈dϕp(v), ϕ(p)〉 = 〈ϕ(p), dϕp(v)〉 = 0, pois estando sobre Sn, o vetor posição ϕ(p) é ortogonal 8 CAPÍTULO 1. MÉTRICAS RIEMANIANAS ao vetor velocidade dϕp(v). Por outro lado, 〈T (v, t), T (v, t)〉 = 〈(v, t), T ∗T (v, t)〉, que como acima = 〈(v, t), (v, t)〉, ∀(v, t) ∈ Rn × R Logo T ∗T = Id (também TT ∗ = Id), e T é uma transformação ortogonal. Seja R = T |Sn e p̃ = (0, 1). Então R(p) = T (0, 1) = dϕp(0) + ϕ(0) = ϕ(p) e dRp = dϕp. Logo R ≡ ϕ, ou seja, ϕ é a restrição de uma transformação linear ortogonal de Rn+1. 2 p.46 ex.6 Mostre que a relação “M é localmente isométrica a N” não é simétrica. Solução: Quaisquer duas variedades diferenciáveis unidimensionais são localmente isométricas. Logo, para variedades unidimensional a relação M é localmente isométrica a N é simétrica. Sejam M e M variedades diferenciáveis de dimensão n > 1 tais que N = M ∪M é também uma variedade diferenciável (de dimensão n, é claro). Sejam KM (p) a curvatura gaussiana de M em p ∈ M e KN(q) de N em q ∈ N . Assuma que KM (p) 6= KN(q) para todo (p, q) ∈ M × N . Nestas condições, M é localmente isométrica a N (a inclusão i : M −→ N é uma isometria local), mas N não é localmente isométrica a M pois, em caso contrário, o Teorema Egrégio de Gauss seria violado. 2 p.46 ex.7† Seja G um grupo de Lie compacto e conexo (dim G = n). O objetivo do exerćıcio é provar que G possui uma métrica bi-invariante. Para isto, prove as seguintes etapas: (a) Seja ω uma n-forma diferencial em G invariante à esquerda, isto é, L∗xω = ω, para todo x ∈ G. Prove que ω é invariante à direita. Sugestão: Para cada a ∈ G, R∗aω é invariante à esquerda. Decorre dáı que R∗aω = f(a)ω. Verifique que f(ab) = f(a)f(b), isto é, f : G → R − {0} é um homeomorfismo (cont́ınuo) de G no grupo multiplicativo dos números reais. Como f(G) é um subgrupo compacto e conexo, conclui-se que f(G) = 1. Logo R∗aω = f(a)ω. (b) Mostre que existe uma n-forma diferencial invariante à esquerda ω em G. (c) Seja 〈 , 〉 uma métrica invariante à esquerda em G. Seja ω uma n-forma diferencial positiva invariante à esquerda em G. e defina uma nova métrica riemanniana 〈〈 , 〉〉 em G por 〈〈u, v〉〉y = ∫ G 〈(dRx)yu, (dRx)yv〉yxω, x, y ∈ G, u, v ∈ Ty(G). Prove que 〈〈 , 〉〉 é bi-invariante. Caṕıtulo 2 Conexões Afins e Riemanniana p.56 ex.1 Seja M uma variedade riemanniana. Considere a aplicação P = Pc,t0,t : Tc(t0)M → Tc(t)M definida por: Pc,t0,t(v), v ∈ Tc(t0)M , é o transporte paralelo do vetor v ao longo da curva c. Mostre que P é uma isometria e que, se M é orientada, P preserva a orientação. Solução: Sabemos pela proposição 2.6 (p.52. [Carmo1]), que dado v ∈ Tc(t0)M , existe único campo de vetores paralelo V ∈ X(M) ao longo de c tal que V (to) = v. Assim, por definição, P (v) = V (t). Para mostrar que P é linear, consideremos vetores v, w ∈ Tc(t0)M e λ ∈ R. Desde que D dt (V +W ) = DV dt + DW dt = 0 e D dt (λV ) = ∇c′(t)(λV ) = λ∇c′(t)V = λ DV dt = 0, conforme a proposição 2.2 [Carmo1], segue que V +W e λV são campos vetoriais paralelos ao longo de c, e assim, P (λv + w) = (λV +W )(t) = λV (t0) +W (t0) = λP (v) + P (w), mostrando que P é uma aplicação linear. Agora, como ddt 〈P (v), P (v)〉 = 2〈 ddtP (v), P (v)〉 = 0, segue que ‖P (v)‖Tc(t)M = ‖v‖Tc(t0)M nos diz que P preserva norma. Logo, P é injetiva. Desde que Tc(t)M e Tc(t0)M têm a mesma dimensão, conclúımos que P é uma isometria linear. Observemos que se {u1, ..., un} é uma base ortonormal de Tc(t0)M , então pelo que foi visto acima, 〈P (ui), P (uj)〉 = 〈ui, uj〉 = δij e isso nos diz que {P (u1), ..., P (un)} é uma base ortonormal de Tc(t)M . Suponha que M seja orientável e (Uα,xα) uma estrutura diferenciável em M compat́ıvel com essa orientação. Desde que c(I) é compacto em M , existe um coleção finita {(Uα1 ,xα1), ..., (Uαm ,xαm)} 9 10 CAPÍTULO 2. CONEXÕES AFINS E RIEMANNIANA de vizinhanças coordenadas cobrindo a curva c(t). Em correspondência, há uma partição do intervalo I = [a, b], a = t0, t1, ..., tm = b, tal que c(t) ∈ xαi(Uαi), t ∈ [ti−1, ti], para i = 1, ...,m. Seja {u1, ..., un} base ortonormal positiva em Tc(t0)M e seja β(t) = {P (u1), ..., P (un)} a base ortonormal em Tc(t)M transportada, com t ∈ [t0, t1]. Vamos mostrar que a matriz mudança de base entre a base β(t) e a base {( ∂ ∂x1 ) c(t) , ... , ( ∂ ∂xn ) c(t) } , devido à estrutura diferenciável, tem determinante positivo. Podemos escrever P (ui) = n∑ j=1 aij ( ∂ ∂xj ) c(t) , para i = 1, ..., n, ondeA(t) = (aij(t)) é a matriz de mudança de base. Definamos a função fα1 : [t0, t1]→ R por fα1(t) = detA(t). Então (i) fα1(t) 6= 0 para todo t ∈ [t0, t1], pois A é matriz de mudança de base; (ii) fα1 é cont́ınua, porque sendo os P (ui) campos vetoriais paralelos, os aij , para cada i = 1, ..., n satisfazem as equações diferenciais dvk dt + ∑ ij Γkijv j dxi dt = 0, com vk(t0) = v 0 k, k = 1, ..., n, de onde os aij são diferenciáveis e, em conseqüência, A(t) é difer- enciável e detA(t) é cont́ınuo; (iii) fα1(t0) > 0, pois a base {ui}ni=1 foi tomada positiva. É claro que fα1(t) > 0, para todo t ∈ [t0, t1], pois do contrário, se existisse s ∈ [t0, t1] tal que fα1(s) < 0, pelo Teorema do Valor Intermediário, existiria um t ∗ ∈ (t0, t1) com fα1(t∗) = 0, contradizendo o fato de que fα1(t) 6= 0, para todo t ∈ [t0g, t1]. Logo, {P (ui)}ni=1 é base positiva de Tc(t)M . Finalmente, na vizinhança (Uα2 ,xα2), tomamos β(t1) base positiva em Tc(t1)M e a transportamos paralelamente sobre c[t1, t2]. Usando a mesma argumentação anterior, concluiremos que P preserva a orientação no intervalo [t0, t2]. Recursivamente, P preserva orientação de M . 2 p.57 ex.2 Sejam X e Y campos vetoriais sobre uma variedade riemannianaM . Sejam p ∈M e c : I →M uma curva integral de X por p, ou seja c(t0) = p e dc dt = X(c(t)). Prove que a conexão riemanniana de M é: (∇XY )(p) = d dt [ P−1c,t0,t(Y (c(t))) ] t=t0 , onde Pc,t0,t : Tc(t0)M → Tc(t)M é o transporte paralelo ao longo de c, de t0 a t (isto mostra que a conexão pode ser re-obtida do conceito de paralelismo). Solução: Pelo exerćıcio (1) deste caṕıtulo, temos que Pc,t0,t := P é uma isometria linear. Logo P−1 = P−1c,t,t0 : Tc(t)M → Tc(t0)M está bem definida. Assim dada uma base de Tc(t0)M{ ω1(t0) = ∂ ∂x1 (c(t0)), ..., ωn(t0) = ∂ ∂xn (c(t0)) } , 11 corresponde uma base {ω1(t), ..., ωn(t)} em Tc(t)M , onde ωi(t) = P ( ∂ ∂xi (c(t0)) ) , i = 1, ..., n. Portanto, se Y ∈ X, podemos escrever Y (c(t)) = ∑ni=1 ai(t)ωi(t), e d dt [ P−1c,t0,t(Y (c(t))) ] t=t0 = lim t→t0 P−1(Y (c(t))) − P−1(Y (c(t0))) t− t0 = lim t→t0 P−1(Y (c(t))) − Y (c(t0)) t− t0 = lim t→t0P−1 ( ∑n i=1 ai(t)ωi(t))− ∑n i=1 ai(t0)ωi(t0) t− t0 = lim t→t0 ∑n i=1 ai(t)P −1(ωi(t))− ∑n i=1 ai(t0)ωi(t0) t− t0 = lim t→t0 ∑n i=1 ai(t)ωi(t0)− ∑n i=1 ai(t0)ωi(t0) t− t0 = n∑ i=1 lim t→t0 ai(t)− ai(t0) t− t0 ωi(t0) = n∑ i=1 d dt ai(t) ∂ ∂xi (c(t0)) Como ∇XY = ∇ dc dt Y = D dt Y (c(t)) = n∑ i=1 d dt ai(t)ωi(t) + n∑ i=1 ai(t) Dωi dt , onde ωi são campos paralelos ao longo de c(t), assim Dωi dt = 0, i = 1, 2, ..., n. Assim: (∇XY ) (p) = d dt ai(t0)ωi(t0) = d dt [ P−1c,t0,t(Y (c(t))) ] t=t0 . p.57 ex.3 Seja f : Mn −→ Mn+k uma imersão de uma variedade diferenciável M em uma variedade RiemannianaM . Suponha que M tem a métrica induzida por f . Seja p ∈M e U ⊂M uma vizinhança de P tal que f(U) ⊂M seja uma subvariedade de M . Sejam X,Y campos de vetores em f(U) e estenda-os a campos de vetores X,Y em um aberto de M . Defina (∇XY )(p) = componente tangencial de ∇XY (p), onde ∇ é a conexão Riemanniana de M . Prove que ∇ é a conexão Riemanniana de M . Solução: Pela unicidade da conexão Riemanniana de M (Teorema de Levi-Civita), devemos mostrar que: (a) ∇ é uma conexão afim; (b) ∇ simétrica e; (c) ∇ é compat́ıvel com a métrica induzida por f . De fato, denotando por (∇XY )T a componentes tangencial de ∇XY , temos: (a) Valem as igualdades ∇gX+hY Z = (∇gX+hY Z)T = (g∇XZ + h∇Y Z)T = g(∇XZ)T + h(∇Y Z)T = g∇XZ + h∇Y Z, 12 CAPÍTULO 2. CONEXÕES AFINS E RIEMANNIANA ∇X(Y + Z) = ∇X(Y + Z)T = (∇XY )T + (∇XZ)T = ∇XY +∇XZ, e ∇X ( gY ) = ( ∇X(gY ) +X(g)Y )T = g∇X(Y )T + ( X(g)Y )T = g∇XY +X(g)Y, donde segue que ∇ define uma conexão afim. 2 (b) Segue de ∇XY −∇YX = (∇XY )T − (∇YX)T = (∇XY −∇YX)T = [X,Y ]T = [X,Y ], onde a última igualdade vem do fato de [X,Y ] ser um campo de vetores tangente. 2 (c) Decorre da seguinte seqüência de igualdades 〈∇XY, Z〉+ 〈Y,∇XZ〉 = 〈(∇XY )T , Z〉+ 〈Y , (∇XZ)T 〉 = 〈∇XY , Z〉+ 〈Y ,∇XZ〉 = X〈Y , Z〉 = X〈Y, Z〉. 2 p.57 ex.4 Seja M2 ∈ R3 uma superf́ıcie em R3 com a métrica Riemanniana induzida. Seja c : I → M uma curva diferenciável em M e V um campo de vetores tangentes a M ao longo de c; V pode ser pensado como uma função diferenciável V : I → R3, com V (t) ∈ Tc(t)M . a) Mostre que V é paralelo se, e somente se, dVdt é perpendicular a Tc(t)M ∈ R3, onde dVdt é a derivada usual de V : I → R3. Solução: Seja c(t) = (c1(t), c2(t), c3(t)) uma parametrização local para a curva diferenciável c : I −→ M e seja V : I −→ R3 um campo de vetores tangentes a M ao longo de c, com V (t) ∈ Tc(t)(M). Podemos escrever V (t) da seguinte maneira: V (t) = 3∑ j=1 vjXj com vj = vj(t) e Xj = Xj(c(t)) ( = ∂∂xj (c(t)) ) 13 Como, DV dt = 3∑ j=1 dvj dt Xj + 3∑ j=1 vj DXj dt Mas, DXj dt = 0 , pois Xj = Xj(c(t)). Assim, DV dt = 3∑ j=1 dvj dt Xj . Portanto V é paralelo se, e somente se dVdt é perpendicular a Tc(t)(M) ⊂ R3. 2 b) Se S2 ∈ R3 é a esfera unitária de R3, mostre que o campo velocidade ao longo de ćırculos máximos parametrizados pelo comprimento de arco é campo paralelo. O mesmo argumento se aplica para Sn ∈ Rn+1. Solução: Seja α : I −→ S2 com α(t) = (α1(t), α2(t), α3(t)) um grande ćırculo parametrizado pelo comprimento de arco, isto é |α′(t)| = 1. Assim, (α′1(t)) 2 + (α′2(t)) 2 + (α′3(t)) 2 = 1 Derivando a equação acima, temos que: 2α′′1(t)α ′ 1(t) + 2α ′′ 2(t)α ′ 2(t) + 2α ′′ 3 (t)α ′ 3(t) = 0. Portanto a derivada usual de tal campo tangente é normal a S2. Assim, a derivada covariante é zero. Logo, o campo de vetores tangentes ao grandes ćırculos da esfera parametrizados pelo comprimento de arco são campos paralelos. Com mesmo argumento aplicamos para Sn ⊂ Rn+1. 2 p.57 ex.5 No espaço euclidiano, o transporte paralelo de um vetor entre dois pontos não depende da curva que liga estes dois pontos. Mostre, por um exemplo, que isto não é verdade numa variedade riemanniana qualquer. Solução: p.57 ex.6 Seja M uma variedade riemanniana e p um ponto de M . Considere a curva constante f : I →M dada por f(t) = p, para todo t ∈ I. Seja V um campo vetorial ao longo de f (isto é, V é uma aplicação diferenciável de I em TpM). Mostre que DV dt = dV dt , isto é, a derivada covariante coincide com a derivada usual de V : I → TpM . Solução: Seja f : I → M , I ⊆ Rn uma curva constante em M , tal que f(t) = p = (x1, ..., xn) (para algum sistema de coordenas xα : Uα ⊂M → Rn. Seja V : I → Tf(t)M = TpM , um campo de vetores ao longo de f em M . Suponha que V = (v1, ..., vn) em (Uα,xα). Assim podemos escrever: DV dt = ∑ k dvk dt + ∑ i,j Γkijv j dxi dt ∂ ∂xk . 14 CAPÍTULO 2. CONEXÕES AFINS E RIEMANNIANA Como f é constante, dxi dt = 0, i = 1, ..., n. Segue que DVdt coincide com dV dt , a derivada usual de V . 2 p.57 ex.7 Seja S2 ⊂ R3 a esfera unitária, C um paralelo qualquer de S2 e V0 um vetor tangente a S2 em um ponto p de C. Descreva geometricamente o transporte paralelo de V0 ao longo de C. Solução: Seja φ a colatitude de C e α : I −→ S2 uma parametrização de C pelo comprimento de arco tal que α(0) = p. Considere o cone K que é tangente a esfera ao longo de C. O ângulo ψ do vértice de K é dado por ψ = π2 − φ. O transporte paralelo V (s) de V0 ao longo de C relativo a S 2 coincide com transporte paralelo W (t) de V0 ao longo de C relativo a K. Com efeito, como Tα(s)K = Tα(s)S 2 para todo s ∈ I, temos que DV dt = ∆W dt , onde D dt e ∆ dt são, respectivamente, as derivadas covariantes de S 2 e K. O cone menos uma geratriz é isométrico a um subconjunto aberto U do plano, dado em coordenadas polares por U = {(r, θ) ∈ R2/0 < r < +∞, 0 < θ < 2π sen(ψ)}, De fato, basta definir F : U −→ R3 por F (r, θ) = ( r senψ cos ( θ senψ ) , r senψ sen ( θ senψ ) , r cosψ ) e notar que F é uma isometria sobre sua imagem, que é K menos uma geratriz. Como o transporte paralelo ao longo da pré-imagem de C em U é apenas uma translação ao longo desta curva, temos que V (s) = W (s) é o vetor de R3 que forma uma ângulo de 2π − θ com o vetor tangente T (s) a C em α(s). 2 p.58 ex.8 Considere o semi-plano superior R2+ = {(x, y) ∈ R2 : y > 0} com a métrica dada por g11 = g22 = 1 y2 , g12 = 0 (métrica da geometria não-euclidiana de Lobatchevski). (a) Mostre que os śımbolos de Christoffel da conexão Riemanniana são: Γ111 = Γ 2 12 = Γ 1 22 = 0, Γ 2 11 = 1 y , Γ112 = Γ 2 22 = − 1y . Solução: Temos que (gij)2×2 = [ g11 g12 g21 g22 ] Como g11 = 1 y2 , g21 = 0 , g12 = 0 e g22 = 1 y2 , então: (gij)2×2 = [ 1 y2 0 0 1y2 ] Assim, (gij)2×2 = [ y2 0 0 y2 ] 15 Mas, Γmij = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂xi gjk + ∂ ∂xj gki − ∂ ∂xk gij } gkm Um cálculo direto, mostra que : Γ111 = Γ 2 12 = Γ 1 22 = 0; Γ211 = 1 y ; Γ112 = Γ 2 22 = −1 y . 2 (b) Seja v0 = (0, 1) um vetor tangente no ponto (0, 1) de R 2 + (v0 é o vetor unitário do eixo 0y com origem em (0, 1)). Seja v(t)o transporte paralelo de v0 ao longo da curva x = t, y = 1. Mostre que v(t) faz um ângulo t com a direção de 0y no sentido horário. Solução: Seja v(t) = (a(t), b(t)) um campo de vetores tangentes a R2+. Este campo satisfaz ao sistema dado por: dvk dt + ∑ i,j Γkijv j dxi dt = 0, para k = 1, 2, que define um campo paralelo e que, neste caso, se simplifica em: da dt + Γ112b = 0 db dt + Γ211a = 0 (2.1) Tomando a = cos θ(t) e b = sen θ(t), temos que da dt = − sen θ(t).dθ dt e db dt = cos θ(t). dθ dt , Substituindo as últimas equações no sistema 2.1, temos que: − sen θ(t).dθ dt + Γ112 sen θ(t) = 0 cos θ(t). dθ dt + Γ211 cos θ(t) = 0 Multiplicando a primeira equação por − cos θ(t) e a segunda equação por sen θ(t) e somando ambas, obtemos 2 sen θ(t) cos θ(t) dθ(t) dt = cos θ(t) sen θ(t)[Γ112 − Γ211]. Supondo no ponto t em questão o 2 sen θ(t) cos θ(t) 6= 0, segue que: dθ(t) dt = Γ112 − Γ211 2 = −1 y . Portanto, ao longo da curva y = 1, temos a seguinte equação diferencial: dθ dt = −1⇒ θ(t) = θ0 − t. onde θ0 é o ângulo que v0 faz com o eixo Ox. 16 CAPÍTULO2. CONEXÕES AFINS E RIEMANNIANA Como v(0) = v0, temos que a(0) = cos θ(0) = 0, b(0) = sen θ(0) = 1, portanto θ0 = π 2 . Assim, θ(t) = π 2 − t. 2 p.58 ex.9 (Métricas Pseudo-Riemannianas). Uma métrica pseudo-riemanniana em uma variedade difer- enciável M é a escolha, para cada ponto p ∈ M , de uma forma bilinear simétrica não-degenerada 〈 , 〉 (porém não necessariamente positiva definida) em TpM e que varia diferenciavelmente com p. Exceto pelo fato de não ser 〈 , 〉 definida positiva, todas as definições até agora apresentadas fazem sentido em uma métrica pseudo-riemanniana. Por exemplo, uma conexão afim em M é compat́ıvel com uma métrica pseudo-riemanniana de M se (4) é satisfeita (ou seja, X〈Y, Z〉 = 〈∇XY, Z〉 + 〈Y,∇XZ〉, para X,Y, Z ∈ X(M)); se além disso, (5) se verifica (∇XY −∇YX = [X,Y ]), a conexão afim é dita simétrica. a) Mostre que o Teorema de Levi-Civita se estende a métricas pseudo-riemannianas. A conexão assim obtida é chamada pseudo-riemanniana. b) Introduza uma métrica pseudo-riemanniana em Rn+1 pela forma quadrática: Q(x0, x1, ..., xn) = −(x0)2 + (x1)2 + · · ·+ (xn)2, (x0, x1, ..., xn) ∈ Rn+1. Mostre que o transporte paralelo da conexão de Levi-Civita desta métrica coincide com o transporte paralelo usual do Rn+1 (esta métrica pseudo-riemanniana é chamada métrica de Lorentz; para n = 3, ela aparece naturalmente em Relatividade). Caṕıtulo 3 Geodésicas; Vizinhanças Convexas p.78 ex.1 (Geodésicas de superf́ıcies de revolução). Indique por (u, v) as coordenadas cartesianas de R2. Mostre que a função ϕ : U ⊂ R2 → R3 dada por ϕ(u, v) = (f(v) cosu, f(v) senu, g(v)) e U = {(u, v) ∈ R2 : u0 < u < u1; v0 < v < v1}, onde f e g são funções diferenciáveis, com f ′(x)2 + g′(x)2 6= 0 e f(v) 6= 0, é uma imersão. Solução: Devemos mostrar que a diferencial de ϕ é injetiva, ou seja, que a matriz abaixo tem posto cheio: dϕ = ϕ1u ϕ 1 v ϕ2u ϕ 2 v ϕ3u ϕ 3 v = −f(v) senu f ′(v) cos u f(v) cosu f ′(v) senu 0 g′(v) Supondo que todos menores da matriz acima de ordem 2 sejam nulos, temos o sistema: −f · f ′ = 0 ⇒ f ′ = 0 pois f 6= 0 f · g′ cosu = 0 ⇒ g′ cosu = 0 idem, −f · g′ senu = 0 ⇒ g′ senu = 0 idem. Mas se f ′ = 0, então g′ 6= 0, pois, por hipótese, (f ′)2 + (g′)2 6= 0. Logo a segunda e terceira equações implicariam que senu = cosu = 0, para todo u, o que é um absurdo! Logo o sistema não tem solução e existe pelo menos um menor de ordem 2 diferente de zero e o posto da matriz é 2. Portanto dϕ é uma transformação injetiva e ϕ é imersão. 2 Observação 1 A imagem ϕ(U) é a superf́ıcie gerada p ela rotação em torno do eixo Oz da curva (f(v), g(v)) e é chamada uma superf́ıcie de revolução S. As imagens por ϕ das curvas u = constante e v = constante são chamadas meridianos e paralelos, respectivamente. 17 18 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS a) Mostre que a métrica induzida nas coordenadas (u, v) é dada por g11 = f 2, g12 = 0, g22 = (f ′)2 + (g′)2. Solução: g11 = 〈ϕu, ϕu〉 = f2 sen2 u+ f2 cos2 u = f2(v). g12 = 〈ϕu, ϕv〉 = −f · f ′ senu cosu+ f · f ′ senu cosu = 0. g21 = 〈ϕv, ϕu〉 = −f · f ′ senu cosu+ f · f ′ senu cosu = 0. g22 = 〈ϕv, ϕv〉 = (f ′)2 cos2 u+ (f ′)2 sen2 u+ (g′)2 = (f ′)2 + (g′)2. b) Mostre que as equações locais de uma geodésica γ são d2u dt2 + 2ff ′ f2 du dt dv dt = 0, d2v dt2 − ff ′ (f ′)2 + (g′)2 ( du dt )2 + f ′f ′′ + g′g′′ (f ′)2 + (g′)2 ( dv dt )2 = 0. Solução: Seja γ : I ⊆ R→ ϕ(U) uma geodésica. Escrevemos γ(t) = ϕ(u(t), v(t)). Sabemos que γ é geodésica se Ddt ( dγ dt ) = 0, se, e somente se, 2∑ k=1 d 2xk dt2 + 2∑ i,j=1 Γkij dxi dt dxj dt ∂ ∂xk é campo nulo, se, e somente se, d2xk dt2 + 2∑ i,j=1 Γkij dxi dt dxj dt = 0 para k = 1, 2. (3.1) Os śımbolos de Christoffel são dados por: Γmij = 1 2 2∑ k=1 ( ∂ ∂xi gjk + ∂ ∂xj gki + ∂ ∂xk gij ) gkm. Então, Γ111 = Γ 2 12 = Γ 2 21 = Γ 1 22 = 0, Γ 2 11 = − f · f ′ (f ′)2 + (g′)2 , Γ112 = Γ 1 21 = f · f ′ f2 , e Γ222 = f ′ · f ′′ + g′ · g′′ (f ′)2 + (g′)2 . Assim, substituindo em (3.1), temos d2u dt2 + 2ff ′ f2 du dt dv dt = 0, (3.2) d2v dt2 − ff ′ (f ′)2 + (g′)2 ( du dt )2 + f ′f ′′ + g′g′′ (f ′)2 + (g′)2 ( dv dt )2 = 0 (3.3) c) Obtenha o seguinte significado geométrico das equações acima: a segunda equação é, exceto para meridianos e paralelos, equivalente ao fato de que a “energia” |γ′(t)|2 de uma geodésica é constante ao logo de γ; a primeira equação significa que se β(t) é o ângulo orientado, β(t) < π, de γ com um paralelo P interceptando γ em γ(t), então r cosβ = const., onde r é o raio do paralelo P (a equação acima é chamada relação de Clairaut). 19 Solução: Note que podemos escrever a equação (3.2) como f2u′′+2ff ′ u′ v′ = 0, ou (f2 ·u′)′ = 0. Assim f2 · u′ = constante. O ângulo β de uma geodésica γ(t) = (u(t), v(t)) como um paralelo P (t) = (u(t), k) é dado por: cosβ = 〈ϕu, ϕu · u′ + ϕv · v′〉 |ϕu| · |ϕu · u′ + ϕv · v′| . Sem perda de generalidade, podemos supor γ parametrizada pelo comprimento de arco, ou seja, |ϕu · u′ + ϕv · v′| = 1. Assim, cosβ = u′〈ϕu, ϕu〉 |ϕu| + v′〈ϕu, ϕv〉 |ϕu| = u′|ϕu|2 |ϕu| + 0 = u′|ϕu| = u′ [ (−f senu)2 + (f cosu)2 + 0 ]1/2 = u′ · f. Note que f = r é o raio do paralelo no ponto de intersecção com a geodésica. Assim, r cosβ = f cosβ = f · (f · u′) = f2 · u′ = constante. Da mesma forma que antes, podemos escrever a equação (3.3) como: v′′[(f ′)2 + (g′)2] + (v′)2(f ′f ′′ + g′g′′)− ff ′(u′)2 = 0. (3.4) Da equação (3.2), temos que f2 · u′ = c e como u′ 6= 0, pois γ não é meridiano, temos que c 6= 0. Também v′ 6= 0, pois γ não é um paralelo. Assim multiplicando (3.4) Por 2v′, 2v′v′′[(f ′)2 + (g′)2] + 2(v′)3(f ′f ′′ + g′g′′)− 2v′ff ′(u′)2 = 0, 2v′v′′[(f ′)2 + (g′)2] + 2(v′)3(f ′f ′′ + g′g′′)− 2ff ′ c 2 f4 v′ = 0, A primeira parcela da última igualdade pode ser escrito como ddt ( (v′)2[(f ′)2 + (g′)2] ) , e a segunda parcela é ddt ( c2 f2 ) = ddt ( f2 · (u′)2 ) . Assim, d dt ( (v′)2[(f ′)2 + (g′)2] ) + d dt ( f2 · (u′)2 ) = 0 d dt ( (v′)2[(f ′)2 + (g′)2] + f2 · (u′)2 ) = 0 (v′)2[(f ′)2 + (g′)2] + f2 · (u′)2 = constante |γ′(t)|2 = constante. 20 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS Figura 3.1: Geodésicas de um parabolóide. d) Use a relação de Clairaut para mostrar que uma geodésica de um parabolóide (f(v) = v, g(v) = v2, 0 < v <∞,−ε < u < 2π + ε), que não é um meridiano, se auto-intercepta um número infinito de vezes (figura 3.1). Solução: O que se segue é uma solução apresentada em [Carmo2]: Seja p0 um ponto do parabolóide e seja P0 o paralelo de raio r0, passando por p0. Seja γ a geodésica parametrizada passando por p0 e fazendo um ângulo θ0 com P0. Como, pelas relações de Clairaut, r cos θ = const. = |c|, 0 ≤ θ ≤ π 2 , conclúımos que θ cresce com r. Portanto, se seguirmos a direção de crescimento dos paralelos, θ cresce. Pode acontecer que em alguma superf́ıcie de revolução, γ se aproxime assintoticamente de um meridiano. Não é o caso do parabolóide, isto é, a geodésica γ intercepta todos os meridianos, e, portanto, ela faz um número infinito de voltas em torno do parabolóide. Por outro lado, se seguirmos a direção de decrescimento dos paralelos, o ângulo θ decresce e aproxima-se de 0, que corresponde ao paralelo de raio |c| (observe que se θ0 6= 0, |c| < r). Nenhum paralelo (v = v0, u = u(t)) é geodésica do parabolóide. De fato, temos que se γ(t) = ϕ(u(t), v(t)) = (v0 cosu(t), v0 senu(t), v 2 0) é geodésica se, e somente se, γ′(t) = 0, mas γ′(v) = v e, logo γ′(v0) = v0. Assim a geodésica γ é, na verdade, tangente ao paralelo de raio |c| no ponto p1. Como o máximo do cosseno é 1, o valor de r crescerá a partir de p1. Temos portanto, a mesma situação que antes. A geodésica dá um número infinito de voltas em torno do parabolóide na direção de crescimento dos raios e, claramente, interceptaa outra parte infinitas vezes. Observe que se θ0 = 0 a situação inicial é aquela do ponto p1. Resta mostrar que quando r decresce, a geodésica γ encontra todos os meridianos do parabolóide. Observe, inicialmente, que a geodésica não pode ser tangente a um meridiano. Por outro lado, ela coincidirá com o meridiano pela unicidade da geodésica. Como o ângulo θ cresce em r, se γ não corta todos os meridianos, ela se aproximará assintoticamente de um meridiano, digamos M . 21 Assuma que este é o caso e escolha um sistema de coordenadas locais do parabolóide z = x2 + y2 dado por: x = v cosu, y = v senu, z = v2 0 < v < +∞, 0 < u < 2π. Escolha uma vizinhança coordenada correspondente que contenha M e u = u0. Por hipótese, u → u0, quando v → ∞. Por outro lado, a equação da geodésica γ no sistema de coordenadas é dada por (usando os ı́tens anteriores e escolhendo uma orientação para γ tal que c > 0): u = c ∫ 1 f √ (f ′)2 + (g′)2 f2 − c2 dv + const. > c ∫ dv v + const., pois 1 + 4v2 v2 − c2 > 1. Segue da desigualdade acima que v → ∞, u cresce a partir de qualquer valor, o que contradiz o fato que γ aproxima de M assintoticamente. Portanto, γ intercepta todos os meridianos, e isto completa a prova. 2 p.79 ex.2 É posśıvel introduzir uma métrica Riemanniana no fibrado tangente TM de uma variedade Riemanniana M da seguinte maneira. Sejam (p, v) ∈ TM e V,W vetores tangentes de TM em (p, v). Escolha curvas em TM α : t 7−→ (p(t), v(t)), β : s 7−→ (q(s), w(s)) com α(0) = (p, v) = β(0), α′(0) = V e β′(0) = W . Defina um produto interno em TM por 〈V,W 〉(p,v) = 〈dπ(V ), dπ(W )〉p + 〈 Dv dt (0), Dw dt (0) 〉 p , (3.5) onde dπ é a diferencial de π : TM −→M . (a) Prove que este produto interno está bem definido e introduz uma métrica Riemanniana em TM . Solução: Inicialmente, mostraremos que 〈 , 〉(p,v) não depende da escolha das curvas α e β. De fato, se α1 : t 7−→ (p1(t), v1(t)), β1 : s 7−→ (q1(s), w1(s)) são outras duas curvas em TM tais que α1(0) = (p, v) = β1(0), α ′ 1(0) = V e β ′ 1(0) = W . Então p′1(0) = d dt p1(t)|t=0 = d dt π(α1(t)) = dπ(V ) = d dt π(α(t)) = d dt p(t)|t=0 = p′(0), q′1(0) = d dt q1(t)|t=0 = d dt π(β1(t)) = dπ(W ) = d dt π(β(t)) = d dt q(t)|t=0 = q′(0). Como v1(t) e w1(s) são campos de vetores tangentes sobre M ao longo de p1(t) e q1(t), respectiva- mente, temos que D dt v1(0) = v ′ 1(0) e D dt w1(0) = w ′ 1(0), e do mesmo modo D dt v(0) = v′(0) e D dt w(0) = w′(0). Usando o fato de α′(0) = V = α′(0) e β′(0) = W = β′1(0), temos que v ′(0) = v′1(0) e w ′(0) = w′1(0). Portanto, 〈V,W 〉(p,v) = 〈p′(0), q′(0)〉p + 〈v′(0), w′(0)〉p = 〈p′1(0), q′1(0)〉p + 〈v′1(0), w′1(0)〉p, 22 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS mostrando que 〈V,W 〉(p,v) não depende da escolha das curvas α e β. Logo, o produto interno 〈 , 〉(p,v) está bem definido. A aplicação 〈 , 〉(p,v) definido acima define um produto interno sobre T(p,v)TM para cada (p, v) ∈ TM , pois: • 〈V, V 〉(p,v) = 〈dπ(V ), dπ(V )〉p + 〈 D dtv(0), D dtv(0) 〉 p ≥ 0 e 〈V, V 〉(p,v) = 0⇐⇒ V = 0, pois 〈 , 〉p define um produto interno sobre TpM ; • 〈 , 〉(p,v) é simétrica pois assim é 〈 , 〉p; • A bilinearidade de 〈 , 〉(p,v) também é uma conseqüência da bilinearidade de 〈 , 〉p. O produto interno acima introduz uma métrica em TM . Com efeito, seja (U, x) um sistema de coordenadas em M na vizinhança do ponto p ∈ M . Então, todo vetor v ∈ TpM se escreve de forma única como v = ∑ j yj ∂ ∂xj . Sabemos que a aplicação φ : U × Rn −→ TM dada por φ(x1, . . . , xn, y1, . . . , yn) = (x, v) define uma parametrização de TM na vizinhança de (p, v). Os vetores ( ∂ ∂x1 , 0 ) , . . . , ( ∂ ∂xn , 0 ) , ( 0, ∂ ∂x1 ) , . . . ( 0, ∂ ∂xn ) formam uma base de T(p,v)TM e como as funções 〈( 0, ∂ ∂xi ) , ( 0, ∂ ∂xj )〉 (p,v) = gij 〈( ∂ ∂xi , 0 ) , ( 0, ∂ ∂xj )〉 (p,v) = gij 〈( 0, ∂ ∂xi ) , ( ∂ ∂xj , 0 )〉 (p,v) = 0 〈( ∂ ∂xi , 0 ) , ( 0, ∂ ∂xj )〉 (p,v) = 0, onde gij = 〈 ∂∂xi , ∂ ∂xj 〉p, são diferenciáveis (de classe C∞ se gij são). Segue o resultado. 2 (b) Um vetor em (p, v) ∈ TM que é ortogonal (na métrica acima) à fibra π−1(p) ≃ TpM é chamado um vetor horizontal. Uma curva t 7−→ (p(t), v(t)) em TM é horizontal se seu vetor tangente é horizontal para todo t. Prove que a curva t 7−→ (p(t), v(t)) é horizontal se, e somente se o campo de vetores v(t) é paralelo ao longo de p(t) em M . Solução: Com efeito, se α(t) = (p(t), v(t)) então α é horizontal ⇐⇒ α′(t) é horizontal ∀t ⇐⇒ α′(t) ⊥ {0} × Tp(t)M, ∀t ⇐⇒ 〈(p′(t), Ddtv(t)), (0, ω)〉(p(t),v(t)) = 0, ∀ω ∈ Tp(t)M, ∀t ⇐⇒ 〈Ddtv(t), ω〉p(t) = 0, ∀t ⇐⇒ Ddtv(t) = 0, ∀ω ∈ Tp(t)M, ∀t ⇐⇒ v(t) é paralelo ao longo de da curva p(t), 2 23 (c) Prove que o campo geodésico é um campo de vetores horizontal. Solução: Se p(t) uma geodésica de M , o fluxo geodésico em TM é dado localmente por φ(t) = (p(t), p′(t)). Mas, pelo fato de p(t) ser geodésica de M temos Ddtp ′(t) = 0 para todo t e, portanto, p′(t) é uma campo de vetores paralelo ao longo de p(t). Pelo ı́tem anterior segue que a curva φ(t) é horizontal. 2 (d) Prove que as trajetórias do campo geodésico são geodésicas de TM na métrica acima. Solução: Seja α(t) = (α(t), α′(t)), t ∈ [a, b] uma curva em TM . Então l(α) = ∫ b a 〈α′(t), α′(t)〉1/2dt = ∫ b a √ 〈α′(t), α′(t)〉+ 〈 D dtv(t), D dtv(t) 〉 dt ≥ ∫ b a 〈α′(t), α′(t)〉1/2dt = l(α). Note que l(α) = l(α) se, e somente se Ddtv(t) = 0 para todo t ∈ [a, b], ou seja, se v(t) é paralelo ao longo de α. A trajetória do fluxo geodésico passando por (p, v) é localmente da forma γ(t) = (γ(t), γ′(t)), onde γ(t) é uma geodésica de M . Sejam Ω ⊂ TM e U ⊂ M vizinhanças convexas de (p, v) e p, respectivamente, tais que π(Ω) = U . Sejam Q1 = (q1, v1) e Q2 = (q2, v2) pontos de γ ∩Ω. Suponha por contradição que γ não é geodésica de TM . Então, existe uma curva δ em Ω passando por Q1 e Q2 tal que l(δ) < l(γ) = l(γ), onde a última igualdade vem do ı́tem (c) junto com a observação no ińıcio desta questão. Se δ = π ◦ δ, como l(δ) ≤ l(δ), temos que l(δ) ≤ l(γ). Contradição, pois γ é geodésica de M . Isto conclui a demonstração. 2 (e) Um vetor em (p, v) ∈ TM é chamado vertical se ele é tangente à fibra π−1(p) ≃ TpM . Mostre que: 〈W,W 〉(p,v) = 〈dπ(W ), dπ(W )〉p, se W é horizontal, 〈W,W 〉(p,v) = 〈W,W 〉p, se W é vertical, onde estamos identificando o espaço tangente à fibra com TpM . Solução: Por um lado W é horizontal ⇐⇒W ⊥ {0} × TpM, ⇐⇒ 〈 (p′(0), Ddtv(0)), (0, ω) 〉 (p,v) = 0, ∀ω ∈ TpM, ⇐⇒ 〈 D dtv(0), ω 〉 p = 0, ∀ω ∈ TpM ⇐⇒ Ddtv(0) = 0, ⇐⇒ 〈W,W 〉(p,v) = 〈dπ(W ), dπ(W )〉p. 24 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS Por outro lado W é vertical ⇐⇒W é tangente a π−1(p) ≃ {0} × TpM , ⇐⇒ dπ(W ) = p′(0) = 0, ⇐⇒ 〈W,W 〉(p,v) = 〈 D dtw(0), D dtw(0) 〉 p , concluindo a demonstração. 2 p.80 ex.3 Sejam G um grupo de Lie, g sua álgebra de Lie e X ∈ G. As trajetórias de X determinam uma aplicação ϕ : (−ǫ, ǫ) −→ G com as condições ϕ(0) = e e ϕ′(t) = X(ϕ(t)). a) Prove que ϕ(t) está bem definida para todo t ∈ R e que ϕ(t+ s) = ϕ(t).ϕ(s). (ϕ : R −→ G é então chamado um subgrupo a 1-parâmetro de G). Solução: Seja t0 ∈ (−ǫ, ǫ) e seja y = ϕ(t0) ∈ G. Definimos a seguinte aplicação: ϕ : (−ǫ, ǫ) −→ G t 7−→ ϕ(t) = Ly−1(ϕ(t)) = y−1ϕ(t) Para t0 ∈ (−ǫ, ǫ), temos que: ϕ(t0) = Ly−1(ϕ(t0)) = y −1ϕ(t0) = y −1y = e. Como X é invariante a esquerda, temos : d(ϕ(t)) dt = d dt ( Ly−1(ϕ(t)) ) = dLy−1 ( dϕ(t) dt ) = dLy−1X(ϕ(t)) = X(y −1ϕ(t)) = X(ϕ(t)) Logo, ϕ(t) é solução da equação diferencial dada por: dx dt = X(x) X(t0) = e (3.6) Suponha, por exemplo, que t0 > 0 e seja a aplicação dada por: ψ : (t0 − ǫ, t0 + ǫ) −→ G t 7−→ ψ(t) = ϕ(t− t0) Afirmação: ψ(t) = ϕ(t − t0) é solução da equação diferencial (3.6) no intervalo (t0 − ǫ, t0 + ǫ). De fato, dψ(t) dt = dϕ(t− t0) dt = X(ϕ(t− t0)) = X(ψ(t)). e ψ(t0) = ϕ(t0 − t0) = ϕ(0) = e. 25 Por unicidadeϕ(t) = ϕ(t−t0) pode ser estendida a (−ǫ, t0+ǫ). Conseqüentemente, temos y−1ϕ(t) = ϕ(t− t0). Logo, ϕ(t) = ϕ(t0)ϕ(t− t0), pode ser estendida a (−ǫ, t0 + ǫ). Portanto a toda reta real. Além disso, para todo t e todo t0 fixo, temos que ϕ(t) = ϕ(t0) −1ϕ(t) = ϕ(t − t0), tomando t = 0, obtemos ϕ(t0) −1ϕ(0) = ϕ(−t0). Assim ϕ(t0)−1 = ϕ(−t0) para t0 arbitrário. Logo ϕ(t + s) = ϕ(t− (−s)) = ϕ(t)ϕ(−s)−1 = ϕ(t).ϕ(s). b) Prove que se G tem uma métrica bi-invariante 〈 , 〉 então as geodésicas de G que partem de e são subgrupos a um-parâmetro de G. Solução: Afirmação: Para quaisquer X,Y ∈ X(G), temos que 〈X,Y 〉 = constante. De fato, para todo g ∈ G os seguintes diagramas são comutativos: G X−→ TG Lg ↓ ↓ dLg G X−→ TG G Y−→ TG Lg ↓ ↓ dLg G Y−→ TG Logo, 〈X(g), Y (g)〉 = 〈X(Lg(e)), Y (Lg(e))〉 = 〈dLgX(e), dLgY (e)〉 = 〈X(e), Y (e)〉, pois 〈X,Y 〉 é invariante a esquerda. Usando a equação que define a conexão de Levi-Civita, temos que: 2〈∇XY, Z〉 = 〈[X,Y ], Z〉 − 〈[Y, Z], X〉+ 〈[Z,X ], Y ]〉 pois Y 〈X,Z〉, X〈Z, Y 〉 e Z〈Y,X〉 são iguais a zero, pois são derivadas de uma constante. Logo, 2〈∇yY, x〉 = 〈[Y, Y ], X〉 − 〈[Y,X ], Y 〉+ 〈[X,Y ], Y ]〉 Assim, 〈∇Y Y,X〉 = 〈[X,Y ], Y 〉. Como a métrica é bi-invariante, temos que : 〈[U,X ], V 〉 = −〈U, [V,X ]〉 ∀X,U, V ∈ X(G). Assim, 〈∇Y Y,X〉 = 〈[X,Y ], Y 〉 = −〈X, [Y, Y ]〉 = 0. Logo, ∇Y Y = 0 Y ∈ X(G) Assim os subgrupos a um-parâmetro são geodésicas. Por unicidade, geodésicas são subgrupos a 1-parâmetro. 2 p.81 ex.4 Um subconjunto A de uma variedade diferenciável M é contrátil a um ponto a ∈ A quando as aplicações idA (identidade em A) e ka : x ∈ A → a ∈ A forem homotópicas (com ponto base a). A é contrátil se o for a um de seus pontos. 26 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS a) Mostre que as vizinhanças convexas em uma variedade riemanniana M são subconjuntos contráteis (a qualquer de seus pontos). b) Seja M uma variedade diferenciável. Mostre que existe uma cobertura {Uα} de M com as seguintes propriedades: i) Uα é um aberto contrátil, para cada α. ii) Se Uα1 , ..., Uαr são elementos da cobertura, então ⋂r 1 Uαi é contrátil p.81 ex.5 Sejam M uma variedade riemanniana e X ∈ X(M). Seja p ∈ M e sejam U ⊂ M uma vizinhança de p, e ϕ : (−ε, ε) × U → M , uma aplicação diferenciável, tais que para todo q ∈ U a curva t→ ϕ(t, q) é a trajetória de X passando por q em t = 0 (U e ϕ são dados pelo teorema fundamental das equações diferenciais ordinárias). X é chamado um campo de Killing (ou uma isometria infinitesimal) se, para todo t0 ∈ (−ε, ε), a aplicação ϕ(t0) : U ⊂M →M é uma isometria. Prove que: a) Um campo linear em Rn, definido por uma matriz A, é uma campo de Killing se, e somente se, A é anti-simétrica. Solução: Seja ϕ : (−ε, ε) × Rn → Rn, tal que ϕ(t, p) = eAtp. Assim devemos provar que eAt é ortogonal se, e somente se, A é anti-simétrica. Suponha que eAt seja ortogonal. Então eAt. ( eAt )T = I eAt. ( eA T t ) = I e(A+A T )t = I, para todo t, Logo d dt (et(A+A T ))|t=0 = 0, assim (A + AT )et(A+A T )|t=0 = 0 e A + AT = 0. Portanto A é anti- simétrica. Por outro lado, se A é anti-simétrica, A+AT = 0 e t(A+AT ) = 0, para todo t. Logo, et(A+A T ) = I, para todo t. Mas et(A+A T ) = etA(etA)T = I. Logo, etA é ortogonal. 2 b) Seja X um campo de Killing em M , p ∈ M e U uma vizinhança normal de p em M . Admita que p é o único ponto de U que satisfaz X(p) = 0. Então, em U , X é tangente às esferas geodésicas centradas em p. Solução: Seja γ uma geodésica radial, tomada a partir de p. Devemos mostrar que 〈γ̇, X〉 = 0. Veja que γ̇〈γ̇, X〉 = 〈∇γ̇ γ̇, X〉+ 〈γ̇,∇γ̇X〉 = 〈γ̇,∇γ̇X〉. Pela equação de Killing (item (d)) tem-se que 〈∇YX,Z〉+〈∇ZX,Y 〉 = 0 e, portanto, 〈∇YX,Y 〉 = 0 para todo Y . Assim, γ̇〈γ̇, X〉 = 0, o que nos diz que 〈γ̇, X〉 é constante ao longo de γ. Como X(p) = 0, temos que 〈γ̇, X〉(p) = 0 e, assim, 〈γ̇, X〉 ≡ 0. 2 27 c) Sejam X um campo diferenciável de vetores em M e f : M → N uma isometria. Seja Y o campo de vetores em N definido por Y (f(p)) = dfp(X(p)), p ∈ M . Então Y é um campo de Killing se, e somente se, X também o for. Solução: Sejam W e Z campos vetoriais C∞ definidos de M . Denote por F = f∗W e G = f∗Z. Tem-se as seguintes implicações: X de Killing item (d)⇐⇒ 〈∇WX,Z〉+ 〈∇ZX,W 〉 = 0 f é isometria⇐⇒ 〈f∗∇WX, f∗Z〉+ 〈f∗∇ZX, f∗W 〉 = 0 ⇐⇒ 〈∇f∗W f∗X, f∗Z〉+ 〈∇f∗Zf∗X, f∗W 〉 = 0 ⇐⇒ 〈∇FY,G〉+ 〈∇GY, F 〉 = 0⇔ Y é de Killing. d) X é de Killing se, e somente se, 〈∇YX,Z〉+ 〈∇ZX,Y 〉 = 0 para todo Y, Z ∈ X(M) (a equação acima é chamada equação de Killing) Solução: (⇒) Suponha que X é campo de Killing. Então ϕ−t é uma isometria. Logo, 〈Y, Z〉p =〈( ϕ−t ) ∗Y, ( ϕ−t ) ∗Z 〉 ϕ−t(p) , assim, Xp〈Y, Z〉p = ddt ∣∣∣ t=0 〈( ϕ−t ) ∗Y, ( ϕ−t ) ∗Z 〉 ϕ−t(p) = 〈 d dt ∣∣∣ t=0 ( ϕ−t ) ∗Y, ( ϕ−t ) ∗Z 〉 p + 〈( ϕ−t ) ∗Y, d dt ∣∣∣ t=0 ( ϕ−t ) ∗Z 〉 p = 〈[X,Y ], Z〉p + 〈Y, [X,Z]〉p onde foi usada a igualdade, [Y,X ](p) = lim t→0 1 t [ (ϕ−t)∗Y ( ϕt(p) ) − Y (p) ] = d dt ∣∣∣ t=0 dϕ−t ( Y ϕt(p) ) , e também foi usado o fato que (ϕ0)∗ = Id. Portanto X〈Y, Z〉 = 〈[X,Y ], Z〉+ 〈[X,Z], Y 〉. (3.7) Mas X〈Y, Z〉 = 〈∇XY, Z〉+ 〈∇XZ, Y 〉 = 〈[X,Y ], Z〉+ 〈∇YX,Z〉+ 〈[X,Z], Y 〉+ 〈∇ZX,Y 〉, de onde segue que 〈∇YX,Z〉+ 〈∇ZX,Y 〉 = X〈Y, Z〉 − 〈[X,Y ], Z〉 − 〈[X,Z], Y 〉 = 0. A última igualdade se deu por (3.7). (⇐) Seja X um campo satisfazendo 〈∇YX,Z〉+ 〈∇ZX,Y 〉 = 0, Y, Z ∈ X(M), 28 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS então pela simetria da conexão −〈[X,Y ], Z〉+ 〈∇XY, Z〉 − 〈[X,Z], Y 〉+ 〈∇XZ, Y 〉 = 0, o que implica que X〈Y, Z〉 = 〈[X,Y ], Z〉+ 〈Y, [X,Z]〉, ou seja, X〈Y, Z〉 = 〈LXY, Z〉+ 〈Y, LXZ〉, onde LX é a derivada de Lie relativa a X . Usando a regra do produto e a última equação, temos que LX〈Y, Z〉 = 0, para todo Y, Z ∈ X(M), ou seja, LXg = 0, onde g é a métrica em M . Seja {ϕt} um fluxo (local) de X . Se v é um vetor tangente em um ponto no domı́nio do fluxo (−ε, ε), então também o será w = dϕs(v), para s suficientemente pequeno. Assim lim t→0 1 t ( 〈dϕtv, dϕtv〉 − 〈v, v〉 ) = 0. Como ϕsϕt = ϕs+t, temos, lim t→0 1 t ( 〈dϕs+tv, dϕs+tv〉 − 〈dϕsv, dϕsv〉 ) = 0. Isto nos diz que a função real s 7→ 〈dϕsv, dϕsv〉 tem derivada nula. Logo, ela é constante e 〈dϕsv, dϕsv〉 = 〈v, v〉 ∀ v e s. 2 e) SejaX uma campo de Killing emM comX(q) 6= 0, q ∈M . Então, existe um sistema de coordenadas (x1, ..., xn) em uma vizinhança de q, de modo que os coeficientes gij da métrica neste sistema de coordenadas não dependem de xn. Solução: Como X(q) 6= 0, podemos tomar uma vizinhança V de q onde X não se anule. Usando o teorema da caixa de fluxo, podemos tomar um sistema de coordenadas (x1, ..., xn) em V tal que ∂ ∂xn = X . Usando o fato que X é um campo de Killing, temos gij = X 〈 ∂ ∂xi , ∂ ∂xj 〉 = 〈[ X, ∂ ∂xi ] , ∂ ∂xj 〉 + 〈 ∂ ∂xi , [ X, ∂ ∂xj ]〉 = 0 Logo, gij não depende de xn. 2 p.82 ex.6 Seja X um campo de Killing em uma variedade riemanniana M conexa. Admita que existe um ponto q ∈M tal que X(q) = 0 e ∇YX(q) = 0, para todo Y (q) ∈ TqM . Prove que X ≡ 0. Solução: Considere o conjunto A = {p ∈M : X(p) = 0 e ∇YX(p) = 0, para todo Y (p) ∈ TqM}. Temos que: 29 (i) Como q ∈ A, temos que A é um subconjunto não vazio de M ; (ii) Seja {pn}n∈N uma seqüência de pontos de A convergindo para p. Como X e ∇YX são campos de vetores C∞, temos que X(p) = lim n−→∞ X(pn) = 0 e ∇YX(p) = lim n−→∞ ∇YX(pn) = 0. Logo p ∈ A e, portanto, A é fechado; (iii) Sejam p ∈ A e ϕt(p) = ϕ(t, p) o fluxo de X passando por p quando t = 0. Como X é Killing, para cada t existe uma vizinhança Ut de p em M e uma isometria ϕt : Ut −→ ϕt(U) ⊂M . Como p ∈ A temos que X(p) = 0, donde segue que ϕt(p) = p para todo t. Note que dϕt é um operador linear sobre TpM para cada t. Além disso, [Y,X ](p) = (∇xY −∇YX)(p), por hipótese. Assim, 0 = [Y,X ](p) = lim t−→0 1 t [dϕt − Id](Y ) = d dt (dϕt)|t=0 e como dϕs+t = dϕs ◦ dϕt segue que dϕt é constante e igual a identidade de TpM em TpM para todo t. Seja α(s)= expp(sv) uma geodésica de M partindo de p na direção de v. Se β(s) = ϕt(α(s)), como ϕt é isometria local, β é uma geodésica de M partindo de p na direção de β ′(0) = dϕ0.α′(0) = v. Pelo teorema de existência e unicidade, temos que α(s) = β(s) e, portanto, ϕt(α(s)) = α(s), isto é, ϕt é constante ao longo de cada geodésica partindo de p. Isso mostra que ϕt é a identidade de uma vizinhança aberta U de p em M e, portanto, X(x) = 0 para todo x ∈ U . Mas, do fato de X(x) = 0 para todo x ∈ U segue que ∇YX(x) = 0 para todo x ∈ U e Y (x) ∈ TxM . Assim U ⊂M e, portanto, A é um subconjunto aberto de M . De (i), (ii) e (iii) temos que A é um subconjunto não vazio de M , fechado e aberto e, sendo M conexa, segue que A = M . 2 p.83 ex.7 (Referencial Geodésico) Seja M uma variedade riemanniana de dimensão n e p ∈ M . Mostre que existe uma vizinhança U ⊂ M de p e n campos de vetores E1, E2, ..., En ∈ X (U), ortonormais em cada ponto de U , tais que, em p, ∇EiEj(p) = 0.. Uma tal famı́lia Ei, i = 1, ..., n de campos de vetores é chamada um referencial (local) geodésico em p. Solução: Seja U = Bǫ(p) uma bola normal em p e seja {e1, e2, ..., en} ⊂ TpM uma base ortonormal. Para todo q ∈ U , existe v ∈ TpM tal que exppv0 = q. Seja f(t) = expp tv, com ‖v‖ = 1, t ∈ [0, ‖v0‖] e v = v0‖v0‖ . Temos que f é uma geodésica normalizada e que f(‖v0‖) = q. De fato, f(||v0||) = expp ||v0||v = expp ‖v0‖ v0 ‖v0‖ = q. Defina Ej = P (ej), j = 1, 2, ..., n, onde P é o transporte paralelo ao longo de f de p até q. Temos que os campos Ej são ortonormais, pois P é uma isometria. Além disso, se fj(t) = expp t(ej), para 30 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS t ∈ (−ǫ, ǫ), j = 1, 2, ..., n então Ej(fj(t)) = f ′j(t)(por construção) e se : Pi,t : TpM −→ Tfj(t)M é transporte paralelo ao longo de fj de 0 até t, então, pela construção, teremos P−1fj,t(Ek(fj(t))) = ek para todo k e todo j. Segue que: ∇EiEj(p) = dP−1fi,t(Ej(f(t))) dt |t=0 = dej dt |t=0 = 0. 2 p.83 ex.8 Seja M uma variedade riemanniana. Sejam X ∈ X e f ∈ D(M). Defina divergência de X com a função divX : M → R dada por divX(p) = traço da aplicação linear Y (p)→ ∇YX(p), p ∈M , e gradiente de f como o campo vetorial grad f em M definido por 〈grad f(p), v〉 = dfp(v), p ∈M, v ∈ TpM. a) Seja Ei, i = 1, ..., n = dimM , um referencial geodésico em p ∈M . Mostre que: grad f(p) = n∑ i=1 (Ei(f))Ei, e que divX(p) = n∑ i=1 Ei(fi)(p), onde X = ∑ i fiEi. Solução: Desde que E1(p), ..., En(p) é uma base ortonormal de TpM , segue que, se grad f(p) =∑n i=1 ai(p)Ei(p), então ai(p) = 〈grad f(p), Ei(p)〉. Mas, por definição, 〈grad f(p), Ei(p)〉 = dfp(Ei(p)) = Ei(p)(f). Logo, grad f(p) = ∑n i=1(Ei(p)(f))Ei(p). Agora, se TX : TpM :→ TpM é dado por TX(Y (p)) = ∇YX(p), então TX(Ei(p)) = ∇Ei n∑ j=1 fjEj (p) = Ei(p)(fj)Ej + fi =0︷ ︸︸ ︷ ∇EiEj(p)= Ei(p)(fj)Ej . Assim, divX(p) = traço(T ) = ∑n i=1Ei(p)(fi) = ∑n i=1Ei(fi)(p). 2 b) Suponha que M = Rn, com coordenadas (x1, ..., xn) e ∂ ∂xi = (0, ..., 1, ..., 0) = ei. Mostre que gradf(p) = n∑ i=1 ∂f ∂xi ei, e que divX = n∑ i=1 ∂f ∂xi , onde X = ∑ i fiei. Solução: Como caso particular do item anterior, basta tomar que Ei = ∂ ∂xi = ei. 2 31 p.84 ex.9 Seja M uma variedade riemanniana. Defina um operador △ : D(M) → D(M) (o Laplaciano de M) por △f = div(grad f), f ∈ D(M). a) Seja Ei um referencial geodésico em p ∈M , i = 1, ..., n = dim(M). Mostre que △f(p) = ∑ i Ei(Ei(f))(p). Conclua dáı que se M = Rn, △ coincide com o Laplaciano usual, a saber, △f = ∑ i ∂2f ∂x2i . Solução: Usando as definições do exerćıcio 8, △ f = div grad f = div ( ∑ iEi(f)Ei) = ∑ j 〈 ∇Ej ( ∑ i Ei(f)Ei) , Ej 〉 = ∑ i,j 〈 ∇EjEi(f)Ei, Ej 〉 = ∑ i,j 〈 Ej(Ei(f))Ei + Ei(f)∇EjEi, Ej 〉 Em p, usando o fato que {Ei} é referencial geodésico e, portanto, ∇EjEi = 0 e 〈Ei, Ej〉 = δij , △ f(p) = ∑i,j 〈Ej(Ei(f))Ei, Ej〉 (p) = ∑ iEi(Ei(f))(p) Se M = Rn, então Ei = ∂ ∂xi , e △ f(p) = ∑ i ∂ ∂xi ∂f ∂xi (p) = ∑ i ∂2f ∂x2i (p). 2 b) Mostre que △(f · g) = f△f + g△f + 2〈grad f, gradg〉. Solução: Pelo item anterior, △(f · g)(p) = ∑iEi(Ei(f · g)(p) = ∑ iEi(Ei(f) · g + f ·Ei(g))(p) = ∑ iEi(g ·Ei(f))(p) + ∑ iEi(f ·Ei(g))(p) = ∑ iEi(g)(p) · Ei(f)(p) + ∑ i g ·Ei(Ei(f))(p)+ + ∑ i Ei(f) · Ei(g))(p) + ∑ i f · Ei(Ei(f))(p) = g△f(p) + f△g(p) + 2∑iEi(g)(p) · Ei(f)(p) 32 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS Por outro lado, 〈grad f, grad g〉 = 〈∑ i Ei(f)Ei, ∑ j Ej(f)Ej 〉 = ∑ i,j Ei(f)Ej(g)δij = ∑ iEi(f)Ei(g) Portanto, △(f · g)(p) = f△g(p) + g△f(p) + 2〈grad f, gradg〉, como queŕıamos demonstrar. 2 p.86 ex.10 Seja f : [0, 1] × [0, a] −→ M uma superf́ıcie parametrizada tal que para todo t0 ∈ [0, a], a curva s 7−→ f(s, t0), s ∈ [0, 1], é uma geodésica parametrizada pelo comprimento de arco, ortogonal à curva t 7−→ f(0, t), t ∈ [0, a], no ponto f(0, t0). Mostre que, para todo (s0, t0) ∈ [0, 1]× [0, a], as curvas s 7−→ f(s, t0), t 7−→ f(s0, t) são ortogonais. Solução: Fixe t0 ∈ [0, a] e considere a função real g(s) = 〈 ∂f ∂s (s, t0), ∂f ∂t (s, t0) 〉 , s ∈ [0, 1]. Devemos mostrar que g(s) = 0 para todo s ∈ [0, 1]. Como, por hipótese, g(0) = 0, é suficiente demonstrar que g′(s) = 0, para todo s ∈ [0, 1]. Com efeito, usando a simetria da conexão, temos g′(s) = 〈 D ds ∂f ∂s (s, t0), ∂f ∂t (s, t0)) 〉 + 〈 ∂f ∂s (s, t0), D ds ∂f ∂t (s, t0) 〉 mas, como por hipótese f(s, t0) é uma geodésica para todo t0 ∈ [0, a], segue que D ds ∂f ∂s (s, t0) = 0, para todo s ∈ [0, 1]. Assim g′(s) = 〈 ∂f ∂s (s, t0), D ds ∂f ∂t (s, t0) 〉 = 1 2 d dt 〈 ∂f ∂s (s, t0), ∂f ∂s (s, t0) 〉 = 0, onde usamos a simetria D dt ∂f ∂s (s, t0) = D ds ∂f ∂t (s, t0). 2 p.84 ex.11 Seja M uma variedade riemanniana e ν-forma diferencial de grau n = dim(M), ν(v1, v2, ..., vn)(p) = √ det(〈vi, vj〉) = volume orientado{v1, ...vn}, p ∈M, onde v1, ..., vn ∈ TpM são linearmente independentes e o volume orientado é afetado do sinal + ou −, conforme a base {v1, ..., vn} pertença a orientação de M ou não; ν é chamado o elemento de volume de M . Para todo campo X ∈ X(M) defina a produto interior i(X) ∋ de X por ν como a (n− 1)-forma: i(X)ν(Y2, ..., Yn) = ν(X,Y2, ..., Yn), com Y2, ..., Yn ∈ X(M). Prove que d(i(X)ν) = divXν. 33 Solução: Consideramos a base {v1, ..., vn} com orientação positiva. Seja p ∈M e {Ei}i um referencial geodésico em p. Seja X = ∑ fiEi. Seja ωi, i = 1, ..., n, formas diferenciais de grau 1, definidas em uma vizinhança de p por ωi(Ej) = δij . Temos que ω1 ∧ ... ∧ ωn é a forma volume ν de M . Seja Θi = ω1 ∧ ... ∧ ω̂i ∧ ... ∧ ωn. Vamos mostrar que i(X)ν = ∑ i(−1)i+1fiΘi. De fato, i(X)ν(Y2, ..., Yn) = ν(X,Y2, ..., Yn) = ν ( ∑ i fiEi, Y2, ..., Yn) = ∑ i fiν(Ei, Y2, ..., Yn) = ∑ i fiω1 ∧ ... ∧ ωn(Ei, Y2, ..., Yn) = ∑ i fi det(A) = ∑ i fi(−1)i+1 detk 6=i(ωk(Yj)) j=2,...,n k=1,...,n = ∑ i fi(−1)i+1ω1 ∧ ... ∧ ω̂i ∧ ... ∧ ωn(Y2, ..., Yn) = ∑ i(−1)i+1fiΘi onde A = 0 ... 1 [ωk(Yj)] ... 0 ← i+ 1 Assim, d(i(X)ν) = d (∑ i(−1)i+1fiΘi ) = ∑ i(−1)i+1d(fiΘi) = ∑ i(−1)i+1dfi ∧Θi + ∑ i(−1)i+1fi ∧ dΘi Mas dΘi = 0 em p, pois dωk(EiEj) =)Eiωk(Ei)− ωk([Ei, Ej ]) = ωk(∇EiEj −∇EjEi). Como {Ei} é um referencial geodésico em p, temos que ∇EiEj = 0 em p. Portanto, dΘi = 0. Logo, d(i(X)ν) = ∑ i (−1)i+1dfi ∧Θi. Agora, d(i(X)ν) = d (∑ i(−1)i+1 (∑ j Ej(fj)ωj ) ∧Θi ) = ∑ i,j(−1)i+1Ej(fj)ωj ∧Θi, mas ωj ∧Θi = 0, i 6= j, = ∑ i(−1)i+1Ei(fi)ωi ∧Θi = ∑ i(−1)i+1Ei(fi)ω1 ∧ ... ∧ ωn = ∑ i(−1)i+1Ei(fi)ν = div(X)ν. 34 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS Como queŕıamos demonstrar. 2 p.86 ex.†12 (Teorema de E. Hopf). Seja M uma variedade riemanniana orientável compacta e conexa. Seja f uma função diferenciável em M com △f ≥ 0. Então f = constante. Em particular, as funções harmônicas em M , isto é, aquelas para as quais △f = 0, são constantes. Solução: (Sugestão) Fazendo X = gradf , usando o Teorema de Stokese o exerćıcio 11, temos que ∫ M △Fν = ∫ M divXν = ∫ M d ( i(X)ν ) = ∫ ∂M i(X)ν = 0. Como △f ≥ 0, temos que △f = 0. Usando novamente o Teorema de Stokes para f22 e a equação △(f.g) = f△g + g△f + 2〈gradf, gradg〉 veja exerćıcio 9(b), temos 0 = ∫ M △ ( f2 2 ) ν = ∫ M f△fν + ∫ M | gradf |2ν = ∫ M | grad f |2ν, o que, junto com a conexidade de M , implica que f é constante. 2 p.86 ex.13 Seja M uma variedade riemanniana e X ∈ X(M). Seja p ∈ M tal que X(p) 6= 0. Escolha um sistema de coordenadas (t, x2, ..., xn) em uma vizinhança U de p tal que ∂ ∂t = X . Mostre que se ν = g dt ∧ dx2 ∧ ... ∧ dxn é o elemento de volume de M , então i(X)ν = g dx2 ∧ ... ∧ dxn. Conclua dáı, usando o exerćıcio 11, que divX = 1 g ∂g ∂t . Isto mostra que divX mede intuitivamente o grau de variação do elemento de volume de M ao longo das trajetórias de X . Solução: Sejam Y2, ..., Yn campos de vetores C ∞ definidos sobre M . Diretamente, pela definição, i(X)ν(Y2, ..., Yn) = ν(X,Y2, ..., Yn) = g dt ∧ dx2 ∧ ... ∧ dxn(X,Y2, ..., Yn) = g det dt(X) dt(Y2) · · · dt(Yn) dx2(X) dx2(Y2) · · · dx2(Yn) ... . . . ... dxn(X) dxn(Y2) · · · dxn(Yn) = g det dx2(Y2) · · · dx2(Yn) ... . . . ... dxn(Y2) · · · dxn(Yn) = g dx2 ∧ ... ∧ dxn(Y2, ..., Yn). 35 Pelo exerćıcio 11, temos que divX · ν = d(i(X)ν) = d(g dx2 ∧ ... ∧ dxn) = d(g) ∧ dx2 ∧ ... ∧ dxn = ( ∂g ∂t dt+ n∑ i=2 ∂g ∂xi dxi ) ∧ dx2 ∧ ... ∧ dxn = ∂g ∂t dt ∧ dx2 ∧ ... ∧ dxn E, como ν = g dt ∧ dx2 ∧ ... ∧ dxn, segue que divX · ν = 1g ∂g ∂t ν. 2 p.86 ex.14 (Teorema de Lioville) Prove que se G é um campo geodésico de TM então divG = 0. Conclua dáı que o fluxo geodésico preserva o volume de TM . Solução: Seja p ∈ M e considere um sistema (u1, . . . , un) de coordenadas normais em p. Tais co- ordenadas são definidas em uma vizinhança normal U de p considerando uma base ortonormal {ei} de TpM e tomando como (u1, . . . , un) as coordenadas de q = expp( ∑n i=1 uiei), i = 1, . . . , n. Neste sistema de coordenadas Γkij(p) = 0, para todo i, j, k. De fato, se v = ∑ aiei, ai ∈ R então γ(t) é uma geodésica saindo de p cuja expressão local no sistema de coordenadas acima é γ(t) = (a1t, . . . , ant). Assim, de d2uk dt2 + ∑ i,j Γki,j(p) dui dt duj dt = 0 segue que ∑ i,j Γki,j(p)aiaj = 0 e, como (a1, . . . , an) ∈ Rn pode ser escolhido arbitrariamente, temos que Γkij(p) = 0, para todo i, j, k. Portanto, se X = ∑ i xi ∂ ∂ui então divX(p) = ∑ i ∂xi ∂ui (p). Sejam agora (ui) coordenadas normais em uma vizinhança U ⊂ M em torno de p ∈ M e (ui, vj), v = ∑ vj ∂ ∂uj , coordenadas em TM . O elemento de volume na métrica natural de TM em (q, v), q ∈ U e v ∈ TqM é o elemento de volume da métrica produto em U × U no ponto (q, q). Com efeito, escolha curvas em TM α : t 7−→ (p(t), v(t)), β : s 7−→ (q(s), w(s)) com α(0) = (p, v) = β(0), então 〈α′(0), β′(0)〉(p,v) = 〈q′(0), p′(0)〉+ 〈v′(0), w′(0)〉 = 〈(q′(0), v′(0)), (p′(0), w′(0))〉TqM×TqM . 36 CAPÍTULO 3. GEODÉSICAS; VIZINHANÇAS CONVEXAS Como divG só dependo do elemento de volume (ver exerćıcio 11) e G é horizontal (ver exerćıcio 2), então, podemos calcular divG na métrica produto. Dáı, divG = ∑ i ∂ ∂uj G(ui) + ∑ ∂ ∂vi G(vi), mas G(ui) = vi e G(vi) = − ∑ Γijkvjvk e, portanto divG = ∑ i ∂vi ∂uj − ∑ i ∑ j,k Γijk(p)vj(p)vk(p) = 0. como queŕıamos. 2 Caṕıtulo 4 Curvaturas p.103 ex.1 Seja G um grupo de Lie com a métrica 〈 , 〉 bi-invariante. Sejam X,Y e Z ∈ X(G) campos unitários a esquerda em G. a) Mostre que ∇XY = 12 [X,Y ] Solução: Vimos no exerćıcio 3, do caṕıtulo 3, que se X é campo invariante a esquerda de um grupo de Lie G, então ∇XX = 0. Como X e Y são campos invariantes a esquerda em G, temos que X + Y é um campo invariante a esquerda em G. De fato, dLg(X + Y ) = dLg(X) + dLg(Y ) = X + Y. Mas ∇X+Y (X + Y ) = ∇XX +∇Y Y +∇XY +∇YX. Como X , Y e X + Y são campos invariantes a esquerda em G, temos que: ∇XX = ∇Y Y = ∇X+Y (X + Y ) = 0. Logo, ∇XY +∇YX = 0. Pela simetria da conexão ∇, temos que: [X,Y ] = ∇XY −∇YX. Assim, temos o seguinte sistema: { ∇XY +∇YX = 0 [X,Y ] = ∇XY −∇YX Portanto, com o sistema acima obtemos: ∇XY = 12 [X,Y ] 2 37 38 CAPÍTULO 4. CURVATURAS b) Conclua de (a) que R(X,Y )Z = 14 [[X,Y ], Z] Solução: Sabemos que R(X,Y )Z = ∇Y∇XZ −∇X∇Y Z +∇[X,Y ]Z. Usando o item (a) temos que: R(X,Y )Z = 1 4 [Y, [X,Z]]− 1 4 [X, [Y, Z]] + 1 2 [[X,Y ], Z]. Como [[Y, Z], X ] = −[X, [Y, Z]], e [[Z,X ], Y ] = −[Y, [Z,X ]] = −[Y,−[X,Z]] = [Y, [X,Z]], Substituindo os colchetes [[Z,X ], Y ] = [Y, [X,Z]] e [[Y, Z], X ] = −[X, [Y, Z]] na identidade de Jacobi que é dada por: [[X,Y ], Z] + [[Y, Z], X ] + [[Z,X ], Y ] = 0, obtemos [[X,Y ], Z]− [X, [Y, Z]] + [Y, [X,Z]] = 0. Assim, [Y, [X,Z]]− [X, [Y, Z]] = −[[X,Y ], Z]. Substituindo, [Y, [X,Z]] − [X, [Y, Z]] = −[[X,Y ], Z] em R(X,Y )Z = 14 [Y, [X,Z]] − 14 [X, [Y, Z]] + 1 2 [[X,Y ], Z], obtemos que: R(X,Y )Z = 14 [[X,Y ], Z]. 2 c) Prove que, se X e Y são campos ortonormais, a curvatura seccional k(σ) de G segundo o plano σ gerado por X e Y é dada por: K(σ) = 1 4 ∥∥∥ [X,Y ] ∥∥∥ 2 . Solução: Como os campos X e Y são ortonormais temos que: K(σ) = (X,Y,X, Y ), onde σ é o plano gerado por X e Y . K(σ) = (X,Y,X, Y ) = 〈R(X,Y )X,Y 〉 = 〈 1 4 [[X,Y ], X ], Y 〉 = −1 4 〈[X,Y ], [Y,X ]〉 = 1 4 〈[X,Y ], [X,Y ]〉 = 1 4 ∥∥∥ [X,Y ] ∥∥∥ 2 . 2 39 p.104 ex.2 Seja X uma campo de Killing em uma variedade riemanniana M . Defina uma aplicação AX : X(M) → X(M) por AX(Z) = ∇ZX , Z ∈ X(M). Considere a função f : M → R dada por f(q) = 〈X,X〉q, q ∈ M . Seja p ∈ M um ponto cŕıtico de f (isto é, dfp = 0). Prove que para todo Z ∈ X(M), em p, a) 〈AX(Z), X〉(p) = 0. b) 〈AX(Z), AX(Z)〉(p) = 12Zp ( Z〈X,X〉 ) + 〈R(X,Z)X,Z〉. Solução: (Sugestão) Fazendo S = 1 2 Zp ( Z〈X,X〉 ) + 〈R(X,Z)X,Z〉, e usando a equação de Killing 〈∇ZX,X〉+ 〈∇XX,Z〉 = 0, obtemos S = 〈∇[X,Z]X,Z〉 − 〈∇XX,∇ZZ〉 − 〈∇X∇ZX,Z〉. Usando, novamente, as equações de Killing, obteremo S = 〈∇ZX,∇ZX〉+ 〈∇ZX,∇ZX〉+ 〈∇ZX,∇XZ〉 − 〈∇XX,∇ZZ〉 = 〈∇ZX,∇ZX〉 − 〈∇XX,∇ZZ〉. Como, pela equação de Killing em p, ∇XX(p) = 0, conclúımos a afimação. 2 p.104 ex.3 Seja M uma variedade riemanniana compacta de dimensão par e com curvatura seccional positiva. Prove que todo campo de Killing X em M possui uma singularidade, isto é, existe p ∈ M tal que X(p) = 0. Solução: Vamos supor que X ∈ X(M) seja um campo de Killing que nunca se anule em M . Defina f : M → R q 7→ f(q) = 〈X,X〉(q) e seja p ∈ M um ponto de mı́nimo de f , que existe pois o domı́nio é compacto. Podemos supor que p é ponto cŕıtico de f , pois supomos que ∂M = ∅. Pelo exerćıcio 2(a), 〈∇ZX,X〉(p) = 0 para todo campo Z ∈ X(M) e sendo X campo de Killing, 〈∇YX,Z〉 = −〈∇ZX,Y 〉, logo ∇X induz uma transformação linear anti-simétrica: ∇X : {X(p)}⊥ ⊂ TpM → {X(p)}⊥, onde {X(p)}⊥ é o complemento ortogonal do espaço gerado pelo vetor X(p) em TpM . Pela parte (b) do mesmo exerćıcio, temos 〈∇ZX,∇ZX〉(p) = 1 2 Z(p)Z〈X,X〉+ 〈R(X,Z)X,Z〉(p), 40 CAPÍTULO 4. CURVATURAS e, como Z(p)Z(f) ≥ 0, pois p é mı́nimo de f e 〈R(X(p), Z(p))X(p), Z(p)〉 > 0, pois Z(p) ∈ {X(p)}⊥\{0}, temos que 〈∇ZX,∇ZX〉(p) > 0 para todo Z não nulo. Ou seja, ∇ZX(p) 6= 0 para todo Z 6= 0. Dáı, ∇X é uma transformação injetiva e, por dimensionalidade, um isomorfismo. Mas isto é um absurdo, pois dim({X(p)}⊥) = dim(M)− 1 é ı́mpar e toda transformação linear anti- simétrica num espaço de dimensão ı́mpar tem núcleo não trivial. De fato, seja A a matriz que representa a transformação. Então A é matriz anti-simétrica digamos (2n− 1)× (2n− 1), (2n = dim(M)) e det(A) = det(−AT ) ∴ det(A) = (−1)2n−1 det(AT ) ∴ det(A) = 0. 2 p.105 ex.4 Seja M uma variedade riemanniana com a seguinte propriedade: dados dois pontos quaisquer p, q ∈ M , o transporte paralelo de p a q não depende da curva que liga p a q. Prove que a curvatura de M é identicamente nula, isto é, para todo X,Y, Z ∈∈ X(M), R(X,Y )Z= 0. Solução: Seja U = {(s, t) ∈ R2; s, t ∈ (−ε, 1 + ε), ε > 0} e f : U ⊂ R2 → M uma superf́ıcie parametrizada arbitrária de M tal que f(s, 0) = f(0, 0) para todo s. Seja V0 ∈ Tf(0,0)M e defina um campo de vetores V ao longo de f por: V (f(s, 0)) = V0 e V (f(s, t)) é o transporte paralelo de V0 ao longo da curva t 7→ f(s, t), se t 6= 0. Sabemos que D dt D ds V − D ds D dt V = R ( ∂f ∂s , ∂f ∂t ) V. Mas, da definição de V segue que Dds D dtV = 0, assim, D dt D ds V +R ( ∂f ∂t , ∂f ∂s ) V = 0. Como, por hipótese, o transporte paralelo de V (0, 1) não depende da curva escolhida, V (s, 1) é o trans- porte paralelo de V (f(0, 1)) ao longo da curva s 7→ f(s, 1), donde DdsV (f(s, 1)) = 0. Logo, R ( ∂f ∂t (0, 1), ∂f ∂s (0, 1) ) V (f(0, 1)) = 0. Com isso, se X,Y, Z ∈∈ X(M), para cada p ∈ M dado, escolha uma função f e um vetor V0 como acima tais que ∂f ∂t (0, 1) = X(p), ∂f ∂s (0, 1) = Y (p) e V (f(0, 1)) = Z(p), e temos que R(X,Y )Z = 0, com queŕıamos demonstrar. 2 p.105 ex.5 Seja γ : [0, l]→M uma geodésica e X ∈ X(M) tal que X(γ(0)) = 0. Mostre que ∇γ′(R(γ′, X)γ′)(0) = (R(γ′, X ′)γ′)(0), onde X ′ = DXdt . Solução: Considere o seguinte tensor R : X(M)× X(M)× X(M)× X(M) → D(M) (X,Y, Z,W ) 7−→ R(X,Y, Z,W ) = 〈R(X,Y )Z,W 〉 41 Então para os campos γ′, X, Z ∈ X(M) temos que: R(γ′, X, γ′, Z) = 〈R(γ′, X)γ′, Z〉. (4.1) Calculando a derivada covariante do tensor (4.1), temos que: (∇γ′R)(γ′, X, γ′, Z) = ∇(γ′, X, γ′, Z, γ′) = γ′(R(γ′, X, γ′, Z))−R(∇γ′γ′, X, γ′, Z)−R(γ′,∇γ′X, γ′, Z)− −R(γ′, X,∇γ′γ′, Z)− R(γ′, X, γ′,∇γ′Z) Como ∇γ′γ′ = 0, teremos (∇γ′R)(γ′, X, γ′, Z) = γ′(R(γ′, X, γ′, Z))−R(γ′,∇γ′X, γ′, Z)−R(γ′, X, γ′,∇γ′Z) = 〈DR(γ ′,X)γ′ dt , Z〉+ 〈R(γ′, X)γ′, Z ′〉 − 〈R(γ′, X ′)γ′, Z〉 − 〈R(γ′, X)γ′, Z ′〉 = 〈DR(γ ′,X)γ′ dt , Z〉 − 〈R(γ′, X ′)γ′, Z〉 Logo, (∇γ′R)(γ′, X, γ′, Z) = 〈∇γ′R(γ′, X)γ′, Z〉 − 〈R(γ′, X ′)γ′, Z〉. Como,(∇γ′R)(γ′, X, γ′, Z)(0) = 0, temos que, (∇γ′R(γ′, X)γ′)(0) = (R(γ′, X ′)γ′)(0). 2 p.105 ex.6 (Espaços localmente simétricos) Seja M uma variedade riemanniana. M é um espaço local- mente simétrico se ∇R = 0, onde R é o tensor curvatura de M . a) Seja M um espaço localmente simétrico e seja γ : [0, l)→ M uma geodésica de M . Sejam X ,Y , e Z campos de vetores paralelos ao longo de γ. Prove que R(X,Y )Z é um campo paralelo ao longo de γ. Solução: Por hipótese, ∇R = 0, onde R(X,Y, Z,W )−〈R(X,Y )Z,W 〉, com X,Y, Z,W ∈ X(M). Assim 0 = ∇γ′(t)R = γ′(t)R(X,Y, Z,W )−R(∇γ′(t)X,Y, Z,W )−R(X,∇γ′(t)Y, Z,W )− −R(X,Y,∇γ′(t)Z,W )−R(X,Y, Z,∇γ′(t)W ) e como X , Y e Z são campos paralelos ao longo de γ, segue que γ′(t)R(X,Y, Z,W )−R(X,Y, Z,∇γ′(t)W ) = 0, para todo W ∈ X(M). Usando a compatibilidade da métrica, obtemos: 0 = 〈γ′(t)R(X,Y )Z,W 〉+ 〈R(X,Y )Z,∇γ′(t)W 〉 −R(X,Y )Z,∇γ′(t)W ) 42 CAPÍTULO 4. CURVATURAS para todo W ∈ X(M). Logo, D dt (R(X,Y ), Z) = ∇γ′(t)R(X,Y )Z = 0 e, portanto, R(X,Y )Z é paralelo ao longo de γ. 2 b) Prove que se M é localmente simétrico, conexo, e tem dimensão dois, então M tem curvatura seccional constante. Solução: Basta mostrar que a curvatura seccional K de M é localmente constante, pois sendo M conexa (e, portanto, conexa por caminhos) podemos transportar paralelamente X e Y (e, assim, R(X,Y )Z conforme o item (a)), de forma que K será constante. Seja p ∈ M e U uma vizinhança normal de p, isto é, U = expp V , onde V é uma vizinhança de p ∈ TpM , tal que expp restrita a V é um difeomorfismo. Vamos mostrar que a curvatura seccional em U é constante e igual a K(p) = 〈R(X,Y )X,Y 〉, onde X(p) e Y (p) são vetores ortogonais em TpM . Com efeito, se q ∈ U , então existe geodésica γ(t) unindo p a q, e tomando X̃ e Ỹ campos paralelos ao longo de γ obtidos a partir dos vetores X e Y , respectivamente, seque pelo item (a) que R(X̃, Ỹ )X̃ também é paralelo ao longo de γ. Assim, 〈R(X̃, Ỹ )X̃, Ỹ 〉 é constante ao longo de γ, pois γ′(t)〈R(X̃, Ỹ )X̃, Ỹ 〉 = 〈∇γ′(t)R(X̃, Ỹ )X̃, Ỹ 〉+ 〈R(X̃, Ỹ )X̃,∇γ′(t)Ỹ 〉 = 0. Logo, K(p) = K(q), para todo q ∈ U . 2 c) Prove que se M tem curvatura (seccional) constante, então M é um espaço localmente simétrico. Solução: Se M tem curvatura seccional constante igual a K0, então pelo Lema 3.4 [Carmo1], R(X,Y, Z,W ) = 〈R(X,Y )Z,W 〉 = K0(〈X,Z〉〈Y,W 〉 − 〈Y, Z〉〈X,W 〉) = K0R′(X,Y, Z,W ), (4.2) onde X,Y, Z,W ∈ X(M). Seja T ∈ X(M) qualquer. Então, usando a expressão (4.2), obtemos ∇TR(X,Y, Z,W ) = T (R(X,Y, Z,W ))−R(∇TX,Y, Z,W )− −R(X,∇TY, Z,W )− (R(X,Y,∇TZ,W ))− (R(X,Y, Z,∇TW )) = T (R(X,Y, Z,W ))−K0(〈∇TX,Z〉〈Y,W 〉 − 〈Y, Z〉〈∇TX,W 〉)− −K0(〈X,Z〉〈∇TY,W 〉 − 〈∇TY, Z〉〈X,W 〉)− −K0(〈X,∇TZ〉〈Y,W 〉 − 〈Y,∇TZ〉〈X,W 〉)− −K0(〈X,Z〉〈Y,∇TW 〉 − 〈Y, Z〉〈X,∇TW 〉). Usando a compatibilidade da métrica, podemos reescrever a equação acima na forma: ∇TR(X,Y, Z,W ) = T (R(X,Y, Z,W ))− −K0[〈Y, Z〉T 〈X,W 〉 − 〈X,W 〉T 〈Y, Z〉+ 〈Y,W 〉T 〈X,Z〉+ 〈X,Z〉T 〈Y,W 〉] = T (R(X,Y, Z,W ))−K0[T (〈X,Z〉〈Y,W 〉 − 〈X,W 〉〈Y, Z〉)] = T (R(X,Y, Z,W ))− T [K0R′(X,Y,W,Z)] = 0, Logo, ∇R = 0 e M é localmente simétrico. 2 43 p.106 ex.7 Prove a 2a identidade de Bianchi Para todo X,Y, Z,W, T ∈ X(M): ∇R(X,Y, Z,W, T ) +∇R(X,Y,W, T, Z) +∇R(X,Y, T, Z,W ) = 0. Solução: Basta demonstrar a igualdade em um ponto p ∈M . Seja {Ei}i=1...n um referencial geodésico em p ∈M . Logo os campos Ei, ..., En ∈ X(M)(U), onde U é uma vizinhança de p em M , são ortogonais e em p, ∇EjEi(p) = 0. Desta forma, ∇R(Ei, Ej , Ek, El, Et) = ∇R(Ek, El, Ei, Ej , Et) = Et〈R(Ek, El)Ei, Ej〉 = 〈∇EtR(Ek, El)Ei, Ej〉+ 〈R(Ek, El)Ei,∇EtEj〉 = 〈∇EtR(Ek, El)Ei, Ej〉+ 0 Assim, ∇R(Ei, Ej , Ek, El, Et) +∇R(Ei, Ej , El, Et, Ek) +∇R(Ei, Ej , Et, Ek, El) = = 〈∇EtR(Ek, El)Ei, Ej〉+ 〈∇EkR(El, Et)Ei, Ej〉+ 〈∇ElR(Et, Ek)Ei, Ej〉 Observe que, ∇EtR(Ek, El)Ei = ∇Et∇El∇EkEi −∇Et∇Ek∇ElEi +∇Et∇[Ek,El]Ei, (4.3) ∇EkR(El, Et)Ei = ∇Ek∇Et∇ElEi −∇Ek∇El∇EtEi +∇Ek∇[El,Et]Ei, (4.4) ∇ElR(Et, Ek)Ei = ∇El∇Ek∇EtEi −∇El∇Et∇EkEi +∇Et∇[Et,Ek]Ei. (4.5) Como [Ei, Ej ](p) = ( ∇EiEj −∇EjEi ) (p) = 0, temos, 0 = R([Ek, El], Et)Ei = ∇Et∇[Ek,El]Ei −∇[Ek,El]∇EtEi +∇[[Ek,El],Et]Ei De onde tiramos, ∇Et∇[Ek,El]Ei = ∇[Ek,El]∇EtEi −∇[[Ek,El],Et]Ei. Assim fazendo (4.3) + (4.4) + (4.5), segue que, ∇Et∇El∇EkEi −∇Et∇Ek∇ElEi +∇[Ek,El]∇EtEi −∇[[Ek,El],Et]Ei+ +∇Ek∇Et∇ElEi −∇Ek∇El∇EtEi +∇[El,Et]∇EkEi −∇[[El,Et],Ek]Ei + +∇El∇Ek∇EtEi −∇El∇Et∇EkEi +∇[Et,Ek]∇ElEi −∇[[Et,Ek],El]Ei = = R(El, Et)∇EkEi︸ ︷︷ ︸ =0 +R(Et, Ek)∇ElEi︸ ︷︷ ︸ =0 +R(Ek, El)∇EtEi︸ ︷︷ ︸ =0 + −∇[[Ek, El], Et] + [[El, Et], Ek] + [[Et, Ek], El]︸ ︷︷ ︸ = 0, identidade de Jacobi Ei = 0 Como queŕıamos demonstrar. 2 44 CAPÍTULO 4. CURVATURAS p.106 ex.8 (Teorema de Schur) Seja Mn uma variedade riemanniana conexa com n ≥ 3. Suponha que M é isotrópica, isto é, para cada p ∈M , a curvatura seccional K(p, σ) não depende de σ ⊂ TpM . Prove que M tem curvatura seccional constante, isto é, K(p, σ) também não depende de p. Solução: Defina o tensor de quarta ordem R′ por R′(W,Z,X, Y ) = 〈W,X〉〈Z, Y 〉 − 〈Z,X〉〈W,Y 〉. Como K(p, σ) = K não depende de σ, pelo lema 3.4 [Carmo1], R = KR′. Assim, para todo U ∈∈ X(M), ∇UR(W,Z,X, Y ) = U.R(W,Z,X, Y )−R(∇UW,Z,X, Y )−R(W,∇UZ,X, Y ) −R(W,X,∇UX,Y )−R(W,Z,X,∇UY ) = U.R(W,Z,X, Y )−K[R′(∇UW,Z,X, Y ) +R′(W,∇UZ,X, Y ) +R′(W,X,∇UX,Y ) +R′(W,Z,X,∇UY )] = U.R(W,Z,X, Y )−K(U.R′(W,Z,X, Y )) = U.(KR′(W,Z,X, Y ))−K(U.R′(W,Z,X, Y )) = (UK).R′(W,Z,X, Y ). Utilizando a segunda identidade de Bianchi ∇R(W,Z,X, Y, U) +∇R(W,Z, Y, U,X) +∇R(W,Z,U,X, Y ) = 0, obtemos (UK)R′(W,Z,X, Y ) + (XK)R′(W,Z, Y, U) + (Y K)R′(W,Z,U,X) = 0 e, portanto, para todo X,Y, Z,W,U ∈∈ X(M) (UK)[〈W,X〉〈Z, Y 〉 − 〈Z,X〉〈W,Y 〉]+ +(XK)[〈W,Y 〉〈Z,U〉 − 〈Z, Y 〉〈W,U〉]+ +(Y K)[〈W,U〉〈Z,X〉 − 〈Z,U〉〈W,X〉] = 0. Fixemos p ∈ M . Como n ≥ 3, fixado X(p), é posśıvel escolher Y (p) e Z(p) tais que 〈X,Y 〉p = 〈Y, Z〉p = 〈Z,X〉p = 0 e 〈Z,Z〉p = 1. Faça U(p) = Z(p). A relação acima fornece, para todo W ∈ TpM , 〈(XK)Y − (Y K)X,W 〉p = 0, assim, (XK)Y − (Y K)X = 0 e, como X e Y são linearmente independentes, temos que XK = 0 para todo X ∈ TpM e, portanto, K é constante. 2 p.107 ex.9 Prove que a curvaturaescalar K(p) em p ∈M é dada por: K(p) = 1 ωn−1 ∫ Sn−1 Ricp(x)dS n−1 onde ωn−1 é a área da esfera unitária Sn−1 de Tp(M). Solução: Suponhamos que dim(M) = n. Seja β = {e1, e2, ..., en} uma base ortonormal de Tp(M). Seja x ∈ Tp(M), então x = ∑n i=1 xiei. Seja p ∈ M , como Ricp(x) = 1n−1Q(x, x), onde Q(x, x) é uma 45 forma bilinear simétrica, assim Q é diagonalizável. Portanto, Ricp(x) = 1 n−1Q(x, x), pode ser escrito da seguinte maneira: Ricp(x) = n∑ i=1 λix 2 i , λi ∈ R. Como |x| = 1, assim temos que o vetor ν = (x1, ..., xn) é um vetor normal unitário em Sn−1. Seja V = (λ1x1, ..., λnxn) e usando o Teorema de Stokes, temos que: 1 ωn−1 ∫ Sn−1 Ricp(x)dS n−1 = 1ωn−1 ∫ Sn−1 ( n∑ i=1 λix 2 i ) dSn−1 = 1ωn−1 ∫ Sn−1 〈V, ν〉dSn−1 = 1ωn−1 ∫ Bn div(V )dBn onde Bn é a bola unitária limitada por ∂Bn = Sn−1. Mas VolB n ωn = 1 n logo, 1 ωn−1 ∫ Sn−1 Ricp(x)dS n−1 = 1ωn−1 ∫ Bn div(V )dBn = 1n div(V ) = 1 n n∑ i=1 λi = 1 n n∑ i=1 Ricp(ei) = K(p) 2 p.108 ex.10 (Variedades de Einstein) Uma variedade riemanniana Mn é chamada variedade de Einstein se para todo X,Y ∈ X(M), Ric(X,Y ) = λ〈X,Y 〉, onde λ : M → R é uma função real. Prove que: a) Se Mn é conexa e de Einstein, com n ≥ 3, então λ é constante em M . Solução: (Sugestão) Seja {ei}, i = 1, ..., n ≥ 3, um referencial ortonormal e geodésico em um ponto p ∈ M (ou seja, numa vizinhança U ⊂ M de p, os ei’s são ortonormais para todo q ∈ U e, em p, ∇eiej = 0.) A 2a identidade de Bianchi (exerćıcio 7) em p se escreve es(Rhijk) + ej(Rhiks) + ek(Rhisj) = 0, (4.6) onde Rhijk são as componentes do tensor curvatura neste referencial e levando-se em conta que ∇eiej(p) = 0. Observe que 〈ei, ek〉 = gik = δik = δik. Multiplicando (4.6) por δikδhj e somando em i, j, h e k, obteremos: para a primeira parcela. ∑ i,k,j,h δhjδikes ( Rhijk ) = es ( ∑ i,k,j,h δhjδikRhijk ) = es (∑ h,j Rhj ) = es (∑ h,j δhj ( λδik )) = nes(λ); 46 CAPÍTULO 4. CURVATURAS para a segunda parcela, ∑ i,k,j,h δhjδikej ( Rhiks ) = − ∑ j,h δhjej (∑ i,k δikRhisk ) = ∑ j,h δhjej ( λδhs ) = −es(λ); e para a terceira parcela, ∑ i,k,j,h δhjδikek ( Rhisj ) = −es(λ). Portanto, (4.6) implica que, para todo s, (n− 2)es(λ) = 0. Pela arbitrariedade de p, λ é constante em M . 2 b) Se M3 é uma variedade de Einstein conexa, então M3 tem curvatura seccional constante. Solução: Seja e1, e2, e3 ∈ TpM um base ortonormal, e seja K(ei, ej) = K(ej, ei) a curvatura seccional do espaço 2-dimensional de TpM gerado por ei e ej. Então: −Ric(e1, e1) = K(e1, e2) +K(e1, e3) −Ric(e2, e2) = K(e2, e1) +K(e2, e3) −Ric(ei, ej) = K(e3, e1) +K(e3, e2) Portanto, −Ric(e1, e1)− Ric(e2, e2) + Ric(e3, e3) = 2K(e1, e2). Como para i = 1, 2, 3, Ric(ei, ei) = −λ, temos K(e1, e2) = λ 2 . 2 Caṕıtulo 5 Campos de Jacobi p.119 ex.1 Seja M uma variedade riemanniana com curvatura seccional identicamente nula. Mostre que, para cada p ∈M , a aplicação: expp : Bε(0) ⊂ TpM → Bε(p) é uma isometria, onde Bε(p) é uma bola normal em p. Solução: Como visto neste caṕıtulo (cap.5 - Campos de Jacobi, [Carmo1]) d(expp)0 ≡ Id. Assim expp : Bε(0)→ Bε(p) é um difeomorfismo. Para qualquer v ∈ TpM , devemos mostrar que 〈d(expp)vw, d(expp)vw〉 = 〈w,w〉, para todo w ∈ Tv(TpM)) ≃ TpM . Vamos considerar, sem perda de generalidade, ‖w‖ = 1 e, assim, pelo Lema de Gauss, basta mostrar a igualdade para w ⊥ v. Seja γ(t) := expp tv, t ∈ [0, 1], a geodésica que sai de p com velocidade v, em t = 0. Então v(t) = d(expp)tγ′(0)tv ′(0) = d(expp)tvtw é um campo de Jacobi ao longo de γ, pelo corolário 2.5 (cap.5). Este campo é tal que J(0) = 0 e J ′(0) = w. Seja w(t) o campo paralelo ao longo de γ, tal que w(0) = w, sendo assim definido, 〈w(t), γ′(t)〉 = 0. então J(t) = tw(t) é um campo de Jacobi ao longo de γ, pois como visto no exemplo 2.3, para K ≡ 0, J é definido desta forma. Além disso, J(0) = 0 e J ′ (0) = w(0) = w. Pelo teorema de Picard, J(t) = J(t), t ∈ (−ε, ε), isto é, J(t) := d(expp)tvtw = tw. Logo, 〈d(expp)vw, d(expp)vw〉 = 〈J(1), J(1)〉 = 〈w(1), w(1)〉 = 〈w(0), w(0)〉 = 〈w,w〉, como queŕıamos demonstrar. 2 47 48 CAPÍTULO 5. CAMPOS DE JACOBI p.119 ex.2 Seja M uma variedade Riemanniana, γ : [0, 1] −→ M uma geodésica, e J um campo de Jacobi ao longo de γ. Prove que existe uma superf́ıcie parametrizada f(t, s), onde f(t, 0) = γ(t) e as curvas t 7−→ f(t, s) são geodésicas, tal que J(t) = ∂f∂s (t, 0). Solução: Seja λ(s), s ∈ (−ǫ, ǫ) uma curva em M tal que λ(0) = γ(0) e λ′(0) = J(0) e considere o campo de vetores W (s) ao longo de λ satisfazendo W (0) = γ′(0) e DWds (0) = DJ dt (0). Defina a função f(t, s) = expλ(s)tW (s), (t, s) ∈ [0, 1]× (−ǫ, ǫ). Temos que f é uma superf́ıcie parametrizada satisfazendo: • f(t, 0) = expλ(0) tW (0) = expλ(0) tγ′(0) = γ(t); • Pela definição da aplicação exponencial segue que as curva t 7−→ f(t, s) são geodésicas; • ∂f∂s (t, 0) é uma campo de Jacobi ao longo de γ; • ∂f∂s (0, 0) = dds expλ(0)(0) = λ′(0); • Ddt ∂f ∂s (0, 0) = D ds ∂f ∂t (0, 0) = D ds ∂ ∂t (expλ(s) tW (s))|(0,0) = W ′(0) = J ′(0); • Segue dos dois ı́tens anteriores que ∂f∂s (t, 0) = J(t). 2 p.119 ex.3 Seja M uma variedade riemanniana com curvatura seccional não positiva. Prove que, para todo p, o lugar dos pontos conjugados C(p) é vazio. Solução: Admitamos a existência de um campo de Jacobi J , não trivial, ao longo de uma geodésica γ : [0, a]→M , com γ(0) = p e J(0) = J(a) = 0. Como d dt 〈 DJ dt (t), J(t) 〉 = 〈 D2J dt2 (t), J(t) 〉 + 〈 DJ dt (t), DJ dt (t) 〉 . Por hipótese, temos que a curvatura seccional é não positiva, portanto 〈R(γ′(t), J(t))γ′(t), J(t)〉 ≤ 0. Mas J é um campo de Jacobi, assim J satisfaz a seguinte equação: D2J dt2 (t) + R(γ′(t), J(t))γ′(t) = 0. Assim, d dt 〈 DJ dt (t), J(t) 〉 = 〈−R(γ′(t), J(t))γ′(t), J(t)〉 + 〈 DJ dt (t), DJ dt (t) 〉 . Portanto, d dt 〈 DJ dt (t), J(t) 〉 ≥ 0. Definamos a seguinte função, f(t) = 〈DJdt (t), J(t)〉, como f ′(t) ≥ 0 temos que f(t) é uma função não-decrescente, com f(0) = f(a) = 〈DJdt (0), J(0)〉 = 〈DJdt (a), J(a)〉 = 0, assim f(t) ≡ 0. Logo, d dt 〈J(t), J(t)〉 = 2 〈 DJ dt (t), J(t) 〉 = 0 ⇒ ‖J(t)‖2 = constante. 49 Mas J(0) = 0, logo ‖J(t)‖2 = 0, Portanto J(t) = 0, absurdo. 2 p.120 ex.4 Seja b < 0 e seja M uma variedade riemanniana de curvatura negativa constante igual a b. Seja γ : [0, l]→M uma geodésica normalizada e seja v ∈ Tγ(l)M tal que 〈v, γ′(l)〉 = 0 e ‖v‖ = 1. Como M tem curvatura negativa, γ(l) não é conjugado a γ(0). Mostre que o campo de Jacobi ao longo de γ determinado por J(0) = 0, J(l) = v é dado por J(t) = senh t √ −b senh l √ −b w(t), onde w(t) é o transporte paralelo ao longo de γ do vetor w(0) = u0‖u0‖ , u0 = (d expp) −1 lγ′(0)v e onde u0 é considerado como um vetor de Tγ(0)M pela identificação Tγ(0)M ≃ Tlγ′(0)(Tγ(0)M). Solução: Aplicando o Lema de Gauss, temos que 〈u0, lγ′(0)〉 = 〈(d expp)lγ′(0)lγ′(0), (d expp)lγ′(0)u0〉, e como v = (d expp)lγ′(0)u0 (por hipótese) e expp(tγ ′(0)) = γ(t, γ(0), γ′(0)), segue que d(expp)lγ′(0)γ ′(0) = γ′(l) e 〈u0, lγ′(0)〉 = 〈lγ′(l), v〉 = 0, para todo t ∈ [0, l]. Assim pelo exerćıcio 3, do caṕıtulo 2 [Carmo1], o campo de Jacobi, Jq(t) ao longo de γ tal que J1(0) = 0, J ′ 1(0) = w(0) é dado por: J1(t) = senh t √ −b√ −b w(t). Mas o corolário 2.5 (pag.114, [Carmo1]) nos diz que J1(t) também pode ser expresso por J1(t) = (d expp)tγ′(0)tJ ′ 1(0) = (d expp)tγ′(0)tw(0). Decorres dáı que J1(l) = (d expp)lγ′(0)lw(0) = l ‖u0‖ (d expp)lγ′(0)u0 = l ‖u0‖ v = l ‖u0‖ J(l). Definamos, então, J2(t) = ‖u0‖ l J1(t). Assim, J2(t) é o campo de Jacobi ao longo de γ tal que J2(0) = ‖u0‖ l J1(0) = 0 e J2(l) = ‖u0‖ l J1(l) = J(l), e por unicidade, J2(t) = J(t) para todo t ∈ [0, l] (proposição 3.9, pag.118 [Carmo1]). Logo, J(t) = ‖u0‖ l J1(t) = ‖u0‖ l √ −b senh t √ −bw(t), e usando o fato de que ‖J(l)‖ = ‖v‖ = 1, obtemos ‖u0‖ l √ −b senh(l √ −b)‖w(l)‖ = 1 ⇒ ‖u0‖ l √ −b = 1 senh(l √ −b) . Portanto, J(t) =
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