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AVICULTURA E SUINOCULTURA ORGÂNICAS ALEXANDRE PORTO DE ARAUJO AVICULTURA E SUINOCULTURA ORGÂNICAS 1ª Edição 2017 Copyright©2017. Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof. Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto (interino) Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. Mario Celso Peloggia (interino) Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof. Dr. Mario Celso Peloggia Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lucia Perondi Fortes Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma. Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação de Tecnologias de Informação e Comunicação Wagner Barboza Bertini Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Amaral Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Dra. Suzana Lopes Salgado Ribeiro Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico Diagramação Autor Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Amaral Me. Benedito Fulvio Manfredini Bruna Paula de Oliveira Silva Alexandre Porto de Araujo Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Polo São Bento do Sapucaí Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12) 3622-6050 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h EMEF Cel. Ribeiro da Luz. Av. Dr. Rubião Júnior, 416 – São Bento do Sapucaí – CEP: 12490-000 Tel.:(12) 3971-1230 e-mail: polosaobento@ead.unitau.com.br Horário de atendimento: das 18h às 21h (de segunda a sexta-feira) / das 8h às 12h (aos sábados). Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU A663a Araújo, Alexandre Porto de Avicultura e suinocultura orgânicas. / Alexandre Porto de Araújo. Taubaté: UNITAU, 2017.153f. : il. ISBN 978-85-9561-063-7 Bibliografia 1. Agricultura. 2. Produção orgânica. 3. Criação. I. Universidade de Taubaté. II. Título mailto:polosaobento@ead.unitau.com.br 1 PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor 2 3 Prefácio Prezados(as) alunos(as), Por meio deste livro-texto, apresentaremos o tema Avicultura e Suinocultura orgânicas, assunto de grande importância para os criadores de suínos e aves que buscam uma produção mais natural e saudável. Abordaremos alguns dos métodos que os produtores rurais podem utilizar para garantir o cumprimento dos requisitos necessários para receber a classificação de produto orgânico. Neste livro-texto, serão apresentadas as técnicas de criação orgânicas para produção orgânica de frango de corte e postura, codornas, patos, marrecos e perus, além de suínos. Serão estudados os seguintes temas, tanto para aves como para suínos: classificação e origem; sistemas de criação; alimentação; instalações; raças para produção orgânica e doenças; e, em relação aos suínos, também será abordado o tópico reprodução. Se você ficou curioso por que o tema reprodução não foi incluso no estudo da avicultura, seja mais paciente, pois, no capítulo sobre avicultura, isso será explicado. Que você mergulhe nos assuntos que discutiremos aqui, para aprender a como criar e produzir aves e suínos de matéria orgânica, e para participar de um mercado que, cada vez mais, tem ganhado adeptos no Brasil e no mundo em razão da busca por melhores condições de alimentação e de qualidade de vida. Bons estudos! 4 5 Sobre o autor ALEXANDRE PORTO DE ARAUJO: Zootecnista pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo no ano de 1982, com Mestrado pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, em 2001, na área de Qualidade e Produtividade. MBA em Gestão Estratégica de Negócios pelo Instituto Nacional de Pós-graduação, em 2005. Professor da Faculdade do Instituto Nacional de Pós-graduação desde 2005, lecionando as matérias de Técnicas de Negociação, Planejamento Estratégico, Microeconomia, Macroeconomia, Gestão de Projetos, Gestão da Inovação, dentre outras. Docente de Apoio na EAD da Unitau desde 2013, lecionando entre outras, as matérias Planejamento Estratégico, Economia Política, Empreendedorismo, Administração de Sistemas de Informação. Autor de seis livros na área de Zootecnia e de Gestão. Sócio-diretor da Focus Soluções Corporativas, que atua nas áreas ambiental, estratégica, econômico-financeira, qualidade, inovação e custos, além de ministrar cursos e treinamentos. E-mail: alexandre.porto@focussc.com.br. 6 7 Caros(as) alunos(as), Caros(as) alunos(as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-textoe Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das Unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU 8 9 Sumário Palavra do Reitor .............................................................................................................. 1 Prefácio ............................................................................................................................. 3 Sobre o autor ..................................................................................................................... 5 Caros(as) alunos(as) ......................................................................................................... 7 Ementa ............................................................................................................................ 11 Unidade 1 Certificações............................................................................................... 19 1.1 Apresentação ............................................................................................................ 20 1.2 Evolução da agricultura no mundo ........................................................................... 21 1.3 Criação de produtos orgânicos no mundo ................................................................ 26 1.4 Criação de produtos orgânicos no Brasil .................................................................. 29 1.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 43 1.6 Para saber mais ......................................................................................................... 44 1.7 Atividades ................................................................................................................. 45 Unidade 2 Produção Orgânica de Frango de Corte e Postura ................................ 47 2.1 Classificação e origem das aves ............................................................................... 47 2.2 Exigências de procedimentos para avicultura orgânica ............................................ 50 2.3 Frangos para corte .................................................................................................... 59 2.4 Linhages de frango para postura ............................................................................... 72 2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 81 2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 82 2.7 Atividades ................................................................................................................. 82 10 Unidade 3 Criação de Codornas, Marrecos, Patos e Perus ..................................... 84 3.1 Produção de codornas ............................................................................................... 85 3.2 Produção de marrecos ............................................................................................... 91 3.3 Produção de patos ..................................................................................................... 99 3.4 Produção de perus ................................................................................................... 102 3.5 Síntese da Unidade ................................................................................................. 108 3.6 Para saber mais ....................................................................................................... 108 3.6 Atividades ............................................................................................................... 110 Unidade 4 Criação de Suínos .................................................................................... 112 4.1 Classificação e origem dos suínos .......................................................................... 112 4.2 Legislação sobre criação orgânica .......................................................................... 122 4.3 Sistemas de criação ................................................................................................. 125 4.4 Fases da criação de suínos ...................................................................................... 134 4.5 Profilaxia e tratamento dos suínos .......................................................................... 145 4.6 Síntese da Unidade ................................................................................................. 149 4.7 Para saber mais ....................................................................................................... 149 4.8 Atividades ............................................................................................................... 150 Referências ................................................................................................................... 149 11 ORGANIZE-SE!!! Você deverá dispor de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. AVICULTURA E SUINOCULTURA ORGÂNICAS Ementa EMENTA Produção orgânica de frango de corte e postura, codornas, patos, marrecos e perus. Classificação e origem; sistemas de criação; alimentação; instalações; raças para produção orgânica; doenças. Produção orgânica de suínos. Classificação e origem; sistemas de criação; alimentação; instalações; raças para produção orgânica; reprodução. 12 13 Objetivo Geral Apresentar a ampla cadeia produtiva das pequenas criações, as noções gerais de manejo, tornando-as aptas à aplicação prática de corte e/ou postura, e esclarecer as etapas dos processos envolvidos. Objetivos Objetivos Específicos Introdução ao estudo da avicultura e suinocultura. Espécies comerciais, instalação de unidade produtiva, tratos e cuidados com a criação. 14 15 Introdução Para que uma criação seja considerada orgânica, é essencial, além do cumprimento de todos os requisitos legais constantes em legislação específica, existir o contato direto dos animais com a natureza; eles não podem e nem devem ficar totalmente presos ou confinados em galpões, como acontece nas criações modernas, realizadas de maneira intensiva. A Figura 1.1 mostra representativamente aves e suínos sendo criados em contato com a natureza. O entendimento sobre como criar aves e suínos de maneira orgânica se torna importante como fonte alternativa de alimentação humanade produtos de origem animal, por ser considerada mais natural e saudável. A criação orgânica de animais está longe de significar a criação dos animais de maneira desleixada, sem cuidados básicos e sem pensar em produtividade, muito pelo contrário, emprega técnicas zootécnicas que visam elevar satisfatoriamente a produção animal e que proporcionem lucro ao produtor rural. Figura 1: Aves e suínos criados em contato com a natureza. Fonte: <https://pixabay.com/pt/a-galinha-frango-vila-p%C3%A1ssaro-2277755/>; <https://pixabay.com/pt/su%C3%ADnos-lama-semear-sujeira-2083564/>. Acesso em: 13 jul. 2017. 16 Pretendemos, no decorrer deste livro-texto, apresentar a você, aluno(a), como as aves e os suínos são criados para obter a certificação de produtos orgânicos, o que é uma grande diferenciação desses produtos em relação àqueles que normalmente se vendem em açougues, supermercados e outros estabelecimentos. Com esse diferencial, pode-se ganhar mais dinheiro com essa atividade profissional, mostrando aos clientes a superioridade dos produtos orgânicos em relação aos de criações intensivas, tais como sabor da carne e/ou ovos, a cor da gema do ovo, entre outras vantagens. Os produtos orgânicos têm no mercado um valor superior aos dos produtos oriundos de criações intensivas, em razão do maior tempo para se obter o produto, como também devido aos maiores cuidados com alimentação e manejo. Não se esqueça de que é importante o cálculo correto e acompanhamento adequado dos custos de aves e suínos criados de maneira orgânica, para que a precificação dos produtos permita ao produtor a continuidade da atividade. Esse lembrete sempre é importante, mesmo que não seja o objetivo específico deste livro-texto. Sugiro que você aproveite cada linha, cada palavra contida neste livro-texto, para que amplie seu conhecimento sobre a criação de suínos e aves como produtos orgânicos, e, caso seja essa a sua área de atuação, melhore sua produção e tenha mais rentabilidade. As aves abordadas neste livro-texto serão: frango de corte e postura, codornas, patos, marrecos e perus. Na primeira Unidade, trabalharemos a conceituação de produtos orgânicos: o que são, algumas das certificações, suas exigências e vantagens, e sua importância como criação alternativa para a produção animal. Na segunda Unidade, estudaremos a criação de frangos de corte e de postura, algumas das raças utilizadas e como produzir de maneira orgânica, sendo explorados os seguintes tópicos: classificação e origem, sistemas de criação, alimentação, instalações, raças para produção orgânica, doenças. Na terceira Unidade, exploraremos a criação orgânica de codornas, patos, marrecos e perus, e discutiremos também os seguintes temas relativos a esses animais: classificação e 17 origem, sistemas de criação, alimentação, instalações, raças para produção orgânica, doenças. Finalmente, na quarta Unidade, como fechamento deste livro-texto, trataremos dos seguintes temas relativamente à criação de suínos: classificação e origem, sistemas de criação, alimentação, instalações, raças para produção orgânica, reprodução. Você que está estudando o tema produção orgânica de animais, especificamente a produção de aves e suínos, é meu convidado para aprender mais e se envolver na leitura deste livro. Espero que aproveite essa oportunidade para ampliar seus conhecimentos. 18 19 Unidade 1 Unidade 1. Certificações Nesta primeira Unidade, apresentaremos a conceituação de produtos orgânicos, o que são, algumas das certificações, suas exigências e vantagens, mostrando sua importância como alternativa para a produção animal. Esses conceitos são importantes para o entendimento do que será apresentado no decorrer desse livro-texto, isto é, quais as especificações para que uma produção de aves ou de suínos possa ser considerada orgânica. É importante que você estude atentamente esses procedimentos e se lembre deles quando estiver analisando as outras Unidades, apresentadas posteriormente. Figura 1.1: Certificação Orgânica. Fonte:<http://www.organicsnet.com.br/certificacao/manua l-certificacao/>. Acesso em: 21 jul. 2017. 20 1.1 Apresentação Antes do empresário produzir e vender algum produto certificado como orgânico, é necessário, entre outras exigências, que conheça o máximo possível dos requisitos relativos à certificação de “produto orgânico”, ou então que saiba dos procedimentos para realizar a venda direta dos seus produtos sem certificação. Não é suficiente que o produtor crie os seus animais da maneira o mais “natural possível”, não basta que os animais vivam soltos na natureza. É essencial a observância dos requisitos legais e normativos para a obtenção do certificado que atesta que o produto é orgânico. Mas, professor, você poderá perguntar, se os animais são criados soltos em minha propriedade, com alimentos que eu mesmo produzo, ou que compro do meu vizinho, não posso dizer que meu produto é orgânico? Eu não uso venenos, nem hormônio na criação. Sinto muito, mas esses procedimentos, apesar de serem importante, não permitem dizer que o seu produto é orgânico. Para que um produto seja autenticado como orgânico, é necessário que a propriedade obtenha uma certificação por meio de um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica, denominado OAC, que, por sua vez, tem que ser credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ou então o produtor pode se organizar em um grupo e cadastrar-se junto ao MAPA para realizar a venda direta ao consumidor sem a certificação. Essa exigência é do próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A certificação faz a diferença porque permite que um produto seja vendido a supermercados, lojas, feiras, hotéis, restaurantes, indústrias, atacadistas, pela internet, etc.; mas se não há certificação, a comercialização fica, segundo as regras do MAPA, restrita a feiras, ao consumidor final ou ao governo, no caso de alimentos empregados 21 na merenda escolar ou fornecidos à CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento). Importante salientar que, mesmo que o produtor não tenha certificação, ele deve se cadastrar junto ao MAPA e fazer parte de um grupo que se responsabilize por ele. Além disso, os seus produtos só poderão ser comercializados por alguém de sua família ou do próprio grupo do qual faz parte. Ele poderá ter autorização para vender diretamente ao consumidor por meio de uma Organização de Controle Social (OCS), mas seus produtos não serão certificados e, caso tenham rótulo, deverão apresentar a seguinte expressão: PRODUTO ORGÂNICO PARA VENDA DIRETA POR AGRICULTORES FAMILIARES ORGANIZADOS, NÃO SUJEITO À CERTIFICAÇÃO, DE ACORDO COM A LEI N. 10.831, DE 23 DE SETEMBRO DE 2003 (BRASIL, 2008). Puxa, professor, não é muita burocracia? Muita exigência para o pequeno produtor? Não é não, prezado aluno, e lhe direi o porquê. Esses requisitos são essenciais para que se possa manter a confiabilidade do sistema relativo aos produtos orgânicos; caso contrário, o produtor pode ganhar o descrédito da população e dos consumidores. A seguir, mostrarei a você algumas das empresas credenciadas junto ao MAPA para fornecerem ao produtor rural a certificação de produtos orgânicos. Antes, porém, apresentarei um pequeno histórico da evolução da agricultura no mundo e o que levou ao crescimento, por parte da população, da busca de alimentos mais saudáveis e naturais, com menos agrotóxicos, fertilizantes sintéticos e isentos de transgênicos. 1.2 Evolução da Agricultura no mundo No início da vida humana, praticamente todo homem produzia o que precisava para seu consumo, trocando com seus vizinhos o excedente quando queria algo que não tinha ou não produzia, realizando a denominada economiade escambo. Nessa época, segundo o 22 Portal Economia, o homem vivia em sua maioria no campo, constituindo uma população rural, enquanto a população urbana (a que morava nas cidades) era bem menor. Durante o século XVIII, ocorreu na Europa o que se chama Primeira Revolução Agrícola dos tempos modernos, que foi uma resposta aos anos de monocultura, ao desgaste excessivo do solo e à consequente queda na produtividade e escassez de alimentos. Somado a isso, houve também um aumento da população, que passou a demandar maior quantidade de alimentos, e a necessidade de elevação dos ganhos e lucros dos produtores e comerciantes agrícolas. Essa Revolução Agrícola incentivou a melhora dos sistemas de cultivo até então existentes para elevar a produção. Como decorrência disso, houve a integração da pecuária com a lavoura e teve início a realização da rotação de gramíneas com leguminosas, além de outras práticas agrícolas. Começaram a surgir novos equipamentos de tração animal para utilização em todo o ciclo produtivo, acarretando a elevação da produtividade e a diminuição do pisoteio antes existente nos campos agrícolas. Essa Revolução Agrícola ocorreu em paralelo, ou mesmo como resposta, à Revolução Industrial iniciada na Inglaterra. A Revolução Industrial acarretou uma modificação no cenário mundial, quando a grande maioria da população mundial vivia no campo e sobrevivia principalmente da cultura de subsistência. A partir da Revolução Industrial, muito da população que morava no campo começou a migrar para as cidades em busca de melhores oportunidades de trabalho e emprego, condições de vida e de serviços de saúde. Isso provocou o aumento da demanda de alimentos na cidade. Monocultura: forma de exploração do solo para cultivo, em que uma única espécie é plantada em uma grande área. A monocultura causa grande problema para a terra, pois provoca desgaste e empobrecimento do solo. 23 A produção agrícola, naquela época, conseguiu atender à população, embora houvesse autores dizendo que a exigência de alimentos em alguns anos superaria a produção agrícola, causando caos, muita fome e miséria à população mundial. Entre tais autores, destaca-se Thomas Robert Malthus (1766-1834), economista britânico que dizia que as populações humanas cresciam em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética (BRUE & GRANT, 2016). Esse fato, explicado por ele em seus trabalhos, gerava uma conta que não fechava. A ideia central de Malthus é decorrente de um raciocínio lógico, pois ele percebia que a população aumentava de maneira superior à produção de alimentos, tanto na Inglaterra como no restante do mundo. Figura 1.2: Thomas Robert Malthus. Fonte: //rusplt.ru/world/po-sledam- maltusa-12540.html. Acesso em: 15 julho 2017. 24 Mas calma, caro(a) aluno(a), felizmente, essa teoria não se mostrou verdadeira, pois a produção de alimentos teve um grande salto no total produzido no transcorrer do tempo, devido a um fator não considerado por Malthus, em sua célebre obra An essay on the principle of population. Esse fator determinante para a elevação da produção de alimentos é a tecnologia, que passou a ter grande papel na agricultura principalmente após a II Guerra Mundial, em meados da década de 1940. No entanto resultados mais significativos do emprego da tecnologia na área agrícola só apareceram entre os anos de anos de 1960 e 1970, quando houve elevação na produtividade em razão destes aspectos: utilização mais intensiva de agrotóxicos, tais como herbicidas, inseticidas, fungicidas; desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas mais eficientes; uso intensivo de fertilizantes sintéticos; pesquisas para desenvolvimento de sementes mais adaptadas às condições de solo e clima pouco propícios; desenvolvimento de pesquisas para o emprego da biotecnologia na produção vegetal. Tudo isso deu origem ao que se denominou Revolução Verde. A Revolução Verde, segundo o Portal da Educação do Universo On-Line (UOL), foi uma resposta natural do setor produtivo da época, em contrapartida às mudanças das condições sociais originadas pela Revolução Industrial. Um dos ideais por trás da Revolução Verde era o incremento da produção, pela busca de uma solução baseada em técnicas de resultados mais imediatos, sem pensar muito em possíveis danos ao meio ambiente ou ao ser humano. A ideia da Revolução Verde era justamente realizar o combate à fome e à miséria que persistiam nos países Progressão aritmética: é quando ocorre uma sequência numérica em que cada termo, a partir do segundo, é igual à soma do termo anterior com uma constante “r” chamada razão ou diferença comum da progressão aritmética. É simbolizada por P.A. Progressão geométrica: quando ocorre uma sequência numérica em que cada termo, a partir do segundo, é igual ao produto do termo anterior por uma constante chamada razão da progressão geométrica. É simbolizada por P.G. 25 mais pobres, o que seria feito pela introdução de técnicas mais modernas de cultivo, em oposição às técnicas tradicionais existentes. Grandes empresas, tais como o grupo Rockfeller e a Ford, ambas norte-americanas, começaram a investir em pesquisas buscando o melhoramento genético de sementes, principalmente de trigo, milho e arroz, consideradas Variedades de Alta Produtividade, ou VAP, em pesquisas realizadas no México e nas Filipinas. A ideia era investir em pesquisas de sementes essenciais para a alimentação da população humana na maior parte do mundo, como citado por Serra et al. (2016). Obviamente também era uma forma das grandes corporações americanas expandirem seu mercado consumidor, segundo Serra et al. (2016), para grandes países em desenvolvimento como Índia, Brasil e México, que precisavam aumentar sua produção de alimentos. A elevação da produção de alimentos oriundos dessas melhorias tecnológicas veio dos seguintes motivos: as sementes melhoradas traziam maior capacidade genética para resistir a secas, ou ao excesso de água, e floresciam em solos menos ricos em nutrientes; havia menos competição entre as raízes das plantas da cultura semeada e as raízes das ervas daninhas pelos nutrientes do solo devido ao uso de agrotóxicos; adubos químicos usados em concentrações diferentes dos minerais conforme o solo, a semente e a idade da planta; pragas que poderiam atacar as culturas eram mortas ou tinham seus efeitos minimizados pelos agrotóxicos lançados durante a fase de crescimento da planta. Uma importante observação, caro(a) aluno(a): nossa intenção é falar sobre a criação de animais pelo sistema orgânico, por isso, não vamos entrar em nenhum mérito ideológico ou político. Nosso objetivo até aqui foi mostrar de que maneira ocorreu a expansão do mercado de agrotóxicos, fertilizantes sintéticos e sementes preparadas como alternativas para a expansão da produção de alimentos no mundo, principalmente por meio da Revolução Verde no século XX. Em contrapartida à produção de alimentos com agrotóxicos, começaram a surgir pesquisas mostrando a contaminação provocada por eles nos alimentos e o quão prejudicial isso é à saúde. Também apareceram pesquisas, embora conflitantes, 26 mostrando que o material geneticamente modificado pode causar problemas à saúde dos consumidores. Isso tudo fortaleceu os movimentos contrários à infestação de produtos químicos e/ou sintéticos nas lavouras, levando a uma busca por alimentos mais saudáveis, obtidos de maneira mais natural ou de forma orgânica pelos produtores. 1.3 Criação de produtos orgânicos no mundo O desejo de produzir de maneira mais saudável carnes e outros alimentos de origem animal teve início no começo do século XX, em um movimento denominado Agricultura Biodinâmica.Conforme indica o Portal da Agricultura Biodinâmica, tal movimento, criado por Rudolf Steiner (1861-1925) na década de 1920, e lançado oficialmente em 1924, na Polônia, estabelecia uma proposta fundamentada na sustentabilidade segundo uma perspectiva espiritual, mística e inter-relacionada tanto com a fertilidade do solo quanto com o crescimento das plantas e os cuidados da pecuária. Outros movimentos preocupados com a sustentabilidade surgiram em vários lugares do mundo a partir do movimento biodinâmico, como, por exemplo, segundo citação de Fonseca (2002), a Soil Association na Grã-Bretanha, em 1946; a Nature et Progrès na França, em 1972; a Bioland na Alemanha, em 1978. Com a propagação desses movimentos, percebeu-se a importância de haver uma certificação da origem natural ou orgânica dos produtos, para que o consumidor pudesse ter certeza da origem daquilo que estava consumindo. Carne orgânica: a carne orgânica certificada é a produzida a partir de um sistema ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. Esse sistema passa por auditoria e certificação, garantindo que a carne seja produzida da maneira mais natural possível, isenta de resíduos químicos e com cuidado socioambiental (WWF). 27 Os países começaram, então, a se organizar para criar um processo de certificação que atestasse a origem orgânica dos produtos. O primeiro país europeu a instituir um rótulo oficial (AB) foi a França, com Lei 80-502 de junho de 1980, aplicada em frutas, vegetais e cereais orgânicos. Após a França; a Grã-Bretanha, em 1987. Já, nos EUA, os movimentos em prol da agricultura orgânica tiveram início no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, sendo que a primeira certificação, segundo Fonseca (2002), iniciou em 1988 e foi finalizada para ser posta em prática em 1990, por meio do Organic Foods Productiona Act – OFPA. Para a produção orgânica de itens de origem animal, o grande impulso ocorreu na década de 1990, quando a União Europeia (EU) fez sua primeira regulamentação para produtos orgânicos. 28 A seguir, na Figura 1.3, apresentamos um breve histórico das normas para a produção orgânica de produtos de origem animal no mundo até o ano 2000. Pode-se notar a grande evolução que o conceito de bem-estar teve no decorrer dos anos. Tal evolução originou o conceito de produção orgânica, que hoje abrange tanto os produtos vegetais como os de origem animal. Figura 1.3: Análise histórica do desenvolvimento de normas para a produção orgânica de origem animal. Fonte: Fonseca (2002) apud Schmid, 2000. 29 1.4 Criação de produtos orgânicos no Brasil Caro(a) aluno(a), creio que esse breve histórico foi suficiente para você entender o que acontecia com a agricultura e pecuária no mundo antes de ter início o movimento pela produção de alimentos orgânicos. Agora falarei de alguns fatos da origem desse movimento no Brasil. Segundo Fonseca (2002), no Brasil eram seguidas, até meados da década de 1990, as normas estabelecidas por algumas das organizações internacionais, tais como as da International Forum of the Organic Agriculture Movements (Ifoam), promovidas por associações de agricultores, técnicos atuantes na área agrícola, ongs, cooperativas e outros. Mas, entre 1988 e 1989, as exportações de cacau e açúcar para a Alemanha começaram a ter problemas devido à falta de uma certificadora brasileira que atestasse que o produto era orgânico, o que era exigido pelas certificadoras europeias. Essa pressão aumentou em 1992 devido à promulgação da UE2092/91 pela União Europeia a respeito da comercialização, nos países membros da UE, dos alimentos orgânicos. Como resposta à pressão internacional e pensando em atender às demandas interna e externa, o Brasil começou a se preocupar com a falta de certificação para orgânicos e passou a construir uma legislação própria que atendesse à necessidade do mercado consumidor, por meio da proposta de normas e certificações de produtos orgânicos. O primeiro movimento oficial no Brasil se deu, segundo Fonseca (2012), com a Portaria MA n. Permacultura: sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza. Surgiu da expressão em inglês “Permanent Agriculture”, criada por Bill Mollison e David Holmgren, na década de 1970. Hoje propõe uma “cultura permanente”, ou seja, uma cultura que visa à nossa permanência no planeta em harmonia com a natureza. (http://permacultura.ufsc.br/o- que-e-permacultura/). Acesso em: 15 jul. 2017. http://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/ http://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/ 30 178 de agosto de 1994, estabelecida por uma Comissão Especial incumbida de propor normas e certificação de produtos orgânicos, que ocorreu pela primeira vez com a Instrução Normativa MA n. 007 de maio de 1999, que “trata da produção, processamento, acondicionamento e transporte de produtos orgânicos. Abrange os produtos orgânicos, ecológicos, biodinâmicos, naturais, sustentáveis, regenerativos, biológicos, agroecológicos e da permacultura”. Desde então, várias outras legislações vieram para dar mais clareza e definição ao tema “orgânico” no Brasil. Segundo o Portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as principais leis e instruções normativas a serem consultadas a esse respeito são as seguintes: Lei N. 10.831/03: que dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências; Decreto N. 6.323/07: que regulamenta a Lei n. 10.831, de 23 de dezembro de 2003, dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras providências. Instruções Normativas (MAPA): o N. 64/08 (produção vegetal e animal orgânica); o N. 17/09 (extrativismo sustentável orgânico); o N. 18/09, alterada pela IN 24/11 (processamento); o N. 19/09 (mecanismos de controle e formas de organização); o N. 50/09 (selo federal do SisOrg); o N. 46/11 (produção vegetal e animal); o N. 37/11 (cogumelos comestíveis); o N. 38/11 (sementes e mudas orgânicas); o N. 28/11 (produção de organismos aquáticos); 31 o N. 17/14 (alterou redação de alguns artigos da IN. 45/2011). Neste livro-texto, não vamos detalhar essas normas, pois nossa intenção é apresentar a você, caro(a) aluno(a), somente uma introdução, para que possa entender um pouco o arcabouço histórico e legal desse tema. Atualmente no Brasil existem oito certificadoras credenciadas que fiscalizam as propriedades produtoras de orgânicos, e assumem total responsabilidade pelo uso do selo brasileiro. O Ministério da Agricultura fiscaliza o trabalho e a atuação dessas certificadoras. Para a certificação de produtos de origem animal, segundo o MAPA, são credenciadas as seguintes certificadoras: Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), IBD Certificações, Ecocert Brasil Certificadora, Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Instituto Chão Vivo de Avaliação da Conformidade, Agricontrol (OIA) e IMO Control do Brasil. Nesse ponto, você deve estar pensando: como um produtor inicia a produção de produtos orgânicos? Para a certificação, ele precisa ter uma produção sempre orgânica? Se ele adquirir uma propriedade que utilizava técnicas tradicionais de produção, nunca será orgânico? Essas são questões muito boas! Vamos discuti-las a seguir. Segundo o que estabelece a Legislação Brasileira, para que uma criação seja considerada orgânica é necessário que haja inicialmente um período de conversão da pastagem, que deve ter manejo orgânico, de pelo menos 12 a 18 meses, conforme a situação e a designação da Lei n. 10.831 de 2003. Esse prazo pode variar de país para país, pois algumas organizações internacionais exigem o período mínimo de 24 a 36 meses para conversão de pastejo tradicionalem orgânico. Após esse período, os animais criados e alimentados na pastagem, seus produtos e Período de conversão: tempo decorrido entre o início do manejo orgânico, de extrativismo, culturas vegetais ou criações animais, e seu reconhecimento como sistema de produção orgânica (Lei n. 10.831 de 2003, no seu parágrafo 2º, artigo IX). 32 subprodutos são considerados orgânicos, desde que eles mesmos também obedeçam ao período de conversão que, para os animais considerados neste livro-texto (aves e suínos) são os seguintes, segundo a IN n. 46 de 2011, alterada posteriormente em algumas de suas redações pela IN n. 17 de 2014: I - para aves de corte: pelo menos 3/4 (três quartos) do período de vida em sistema de manejo orgânico; II - para aves de postura: no mínimo 75 (setenta e cinco) dias em sistema de manejo orgânico, com exceção de codornas que será de 45 (quarenta e cinco) dias; V - para ovinos, caprinos e suínos para corte: pelo menos 3/4 (três quartos) do período de vida do animal em sistema de manejo orgânico, sendo esse período de no mínimo 6 (seis) meses. Antes de entrarmos propriamente no assunto raças e manejo de criação, é importante enumerar algumas das exigências legais para a criação de frango caipira. Tais exigências se referem ao período de vida sob manejo orgânico e, se for o caso, às punições legais cabíveis pelo não cumprimento da legislação existente. Assim, para que uma criação animal seja considerada orgânica, é necessário inicialmente que a propriedade cumpra todas as exigências referentes aos períodos de conversão, anteriormente citados. O cumprimento de prazos deve fazer parte de um plano de manejo, anualmente atualizado e apresentado à denominada “Verificação da Conformidade Orgânica”, que é parte do processo de certificação de uma unidade produtiva. Nesse plano, deve haver um Plano de Manejo Orgânico conforme a Instrução Normativa n. 64/2008 elaborada pelo MAPA. Esse plano é muito abrangente, e é exigido para todas as propriedades orgânicas. Zibetti & Feiden (2011) citam, em seu trabalho, alguns dos tópicos que ele deve apresentar: Como ocorre o manejo dos resíduos produzidos na propriedade e qual a destinação para eles; 33 Quais as técnicas empregadas para a conservação do solo e da água da propriedade, e quais são as práticas conservacionistas e de proteção ambiental; Quais são as práticas do manejo vegetal e animal ocorridas na propriedade, incluindo as instalações, a nutrição, a reprodução e o material de multiplicação e bem- estar animal; Quais são os procedimentos de pós- colheita, processamento, comercialização e as relações trabalhistas existentes na propriedade. Zibetti & Feiden (2011) também explicam que não é suficiente apenas iniciar o período de conversão para se adequar às exigências de uma produção orgânica, não basta a substituição dos insumos químicos sintéticos por insumos considerados adequados; faz- se necessária também a implantação de um enfoque sistêmico, uma total reformulação na maneira de pensar e agir, fechando ciclo de nutrientes, otimizando o fluxo energético na propriedade e promovendo um equilíbrio ambiental que abranja todas as espécies existentes no ambiente. Deverão inclusive, segundo a IN n. 46/2011, alterada em algumas redações pela IN n. 17/2014, no Art. 8o parágrafo 2 e no Art. 9o, especificamente sobre a produção animal: OAC: Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC): instituição que avalia, verifica e atesta que produtos ou estabelecimentos produtores ou comerciais atendem ao disposto no regulamento da produção orgânica, podendo ser uma certificadora ou Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica - OPAC. Deve ser devidamente cadastrado no MAPA. OPAC: Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica: organização que assume a responsabilidade formal pelo conjunto de atividades desenvolvidas num Sistema Participativo de Garantia - SPG, constituindo, na sua estrutura organizacional, uma Comissão de Avaliação e um Conselho de Recursos, ambos compostos por representantes dos membros de cada SPG. Deve também ser devidamente cadastrado no MAPA. 34 Elaborar procedimentos para pós- produção, envase, armazenamento, processamento, transporte e comercialização; Tomar medidas para prevenção e mitigação de riscos de contaminação externa, inclusive OGM e derivados; Elaborar procedimentos que contemplem a aplicação das boas práticas de produção; Cuidar das inter-relações ambientais, econômicas e sociais; Realizar croqui e descrição da ocupação, da localização e do acesso da unidade de produção, considerando os aspectos produtivos e ambientais; Tomar ações periódicas de controle da qualidade da água, para uso na unidade de produção, por meio de: a) medidas de proteção em relação às fontes de contaminantes para áreas limítrofes com unidades de produção não orgânicas; e b) controle da qualidade da água, dentro da unidade de produção, por meio de análises para verificação da contaminação química e microbiológica, que deverá ocorrer a critério do Organismo de Avaliação da Conformidade (OAC) ou da Organização de Controle Social (OCS) em que se insere o agricultor familiar em venda direta. Art. 8º O produtor deverá comunicar ao OAC ou a OCS, no caso de potencial contaminação ambiental não prevista no plano de manejo para definição das medidas mitigadoras. O Capítulo IV da IN n. 46/2011, alterada em algumas redações pela IN n. OCS: Organização de Controle social: grupo, associação, cooperativa, consórcio com ou sem personalidade jurídica, previamente cadastrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, a que está vinculado o agricultor familiar em venda direta, com processo organizado de geração de credibilidade a partir da interação de pessoas ou organizações, sustentado na participação, comprometimento, transparência e confiança, reconhecido pela sociedade. 35 17/2014, em seus capítulos 10º e 11º explica claramente os objetivos do período de conversão: Art. 10. O período de conversão para que as unidades de produção possam ser consideradas orgânicas tem por objetivo: I - assegurar que as unidades de produção estejam aptas a produzir em conformidade com os regulamentos técnicos da produção orgânica, incluindo a capacitação dos produtores e trabalhadores; II - garantir a implantação de um sistema de manejo orgânico por meio: a) da manutenção ou construção ecológica da vida e da fertilidade do solo; b) do estabelecimento do equilíbrio do agroecossistema; c) da preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e modificados. Art. 11. Para que um produto receba a denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um sistema de produção onde tenham sido aplicados os princípios e normas estabelecidos na regulamentação da produção orgânica, por um período variável de acordo com: I - a espécie cultivada ou manejada; II - a utilização anterior da unidade de produção; III - a situação ecológica atual; IV - a capacitação em produção orgânica dos agentes envolvidos no processo produtivo; V - as análises e as avaliações das unidades de produção pelos respectivos OACs ou OCSs. Para início do período de conversão, a legislação possibilita a escolha de alguns elementos comprobatórios que devem coincidir com as informações levantadas nas inspeções ou visitas de controle interno. 36 A IN n. 46/2011, alterada em algumas redações pela IN n. 17/2014 exige, como duração mínima do Período de Conversão, as seguintes possibilidades, no seu Art. 12, parágrafo 1: I - 12 (doze) meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas anuais, para que a produção do ciclosubsequente seja considerada orgânica; II - 18 (dezoito) meses de manejo orgânico na produção vegetal de culturas perenes, para que a colheita subsequente seja considerada orgânica; III - 12 (doze) meses de manejo orgânico ou pousio na produção vegetal de pastagens perenes. Existe também a possibilidade da conversão parcial da propriedade e da produção paralela de produtos orgânicos com produtos convencionais. Mas, para não alongar muito esse trabalho, sugiro que você tenha sempre em mãos a IN para consulta, que é muito extensa e abrangente. Neste livro-texto, o foco são os aspectos de importância geral, por isso não falaremos de particularidades e exceções. Como requisitos gerais para a produção de animais sob o sistema orgânico, outros critérios são: Art. 20. Os sistemas orgânicos de produção animal devem: I - promover prioritariamente a saúde e o bem-estar animal em todas as fases do processo produtivo; II - adotar técnicas sanitárias e práticas de manejo preventivas; III - manter a higiene em todo o processo criatório, compatível com a legislação sanitária vigente e com o emprego de produtos permitidos para uso na produção orgânica; IV - oferecer alimentação nutritiva, saudável, de qualidade e em quantidade adequada de acordo com as exigências nutricionais de cada espécie; 37 V - ofertar água de qualidade e em quantidade adequada, isenta de produtos químicos e agentes biológicos que possam comprometer a saúde e vigor dos animais, a qualidade dos produtos e dos recursos naturais, de acordo com os parâmetros especificados pela legislação vigente; VI - utilizar instalações higiênicas, funcionais e adequadas a cada espécie animal e local de criação; VII - destinar os resíduos da produção respeitando a legislação ambiental aplicável; VIII - utilizar apenas animais não geneticamente modificados. Quando for necessária a aquisição de animais de terceiros, deve-se obedecer também às exigências a esse respeito, conforme citado a seguir: Da aquisição de animais: Art. 22. Deverá ser comunicada ao OAC ou a OCS a aquisição de animais para início, reposição ou ampliação da produção animal. Art. 23. Quando for necessário introduzir animais no sistema de produção, estes deverão ser provenientes de sistemas orgânicos. Parágrafo único. Na indisponibilidade de animais de sistemas orgânicos, poderão ser adquiridos animais de unidades de produção não orgânicas, preferencialmente em conversão para o sistema orgânico, desde que previamente aprovado pelo OAC ou pela OCS, e respeitado o período de conversão previsto neste Regulamento Técnico. Art. 24. Todos os animais introduzidos na unidade de produção orgânica devem ter idade mínima em que possam ser recriados sem a presença materna, observando-se que a idade máxima para ingresso de frangos de corte é de dois dias de vida, e para outras aves é de até duas semanas. 38 Outros itens considerados de maior importância são os Art. de 25 a 28 IN, que tratam “Do bem-estar animal”, relativamente, mas não de modo específico, às aves e aos suínos. Art. 25. Os sistemas orgânicos de produção animal devem ser planejados de forma que sejam produtivos e respeitem as necessidades e o bem-estar dos animais. Art. 26. Deve-se dar preferência aos animais de raças adaptadas às condições climáticas e ao tipo do manejo empregado. Art. 27. Devem ser respeitadas: I - a liberdade nutricional: os animais devem estar livres de sede, fome e desnutrição; II - a liberdade sanitária: os animais devem estar livres de feridas e enfermidades; III - a liberdade de comportamento: os animais devem ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie; IV - a liberdade psicológica: os animais devem estar livres de sensação de medo e de ansiedade; V - a liberdade ambiental: os animais devem ter liberdade de movimentos em instalações que sejam adequadas a sua espécie. Art. 28. As instalações devem ser projetadas e todo manejo deve ser realizado de forma a não gerar estresse aos animais, sendo que qualquer desvio de comportamento detectado deverá ser objeto de avaliação e possível redefinição pelo OAC e OCS de procedimentos de manejo e densidades animais utilizadas. 39 Outros artigos de grande importância a você que está ingressando ou aprofundando seu conhecimento a respeito da criação de animais orgânicos estão citados a seguir: Art. 47. Será permitido o uso de inseminação artificial, cujo sêmen preferencialmente advenha de animais de sistemas orgânicos de produção. Art. 48. Serão proibidas as técnicas de transferência de embrião, fertilização in vitro, sincronização de cio e outras técnicas que utilizem indução hormonal artificial. Art. 49. O corte de ponta de chifres, a castração, o mochamento e as marcações, quando realmente necessários, deverão ser efetuados na idade apropriada, visando reduzir processos dolorosos e acelerar o tempo de recuperação. § 1º As práticas citadas no caput deste artigo, bem como o uso de anestésicos nos casos em que sejam necessários para executá-las, deverá ser aprovado previamente pelo OAC ou OCS, da forma por eles estabelecida e de acordo com legislação vigente sobre o tema. § 2º Não será permitido o corte de dentes dos leitões, a debicagem das aves, o corte da cauda de suínos, assim como a inserção de "anel" no focinho, a descorna de animais e outras mutilações não mencionadas no caput deste artigo. § 3º Não serão permitidos sistemas de marcação que impliquem mutilações nos animais. Art. 50. Não será permitida a prática da muda forçada em aves de postura. Art. 51. A iluminação artificial será permitida desde que se garanta um período mínimo de 8 (oito) horas por dia no escuro. 40 Parágrafo único. O período mínimo no escuro, previsto no caput deste artigo, não se aplica na fase inicial de criação de pintos, quando a iluminação artificial for a melhor opção como fonte de calor. Art. 52. Não será permitido o uso de estímulos elétricos ou tranquilizantes quimiossintéticos no manejo de animais. Art. 25. Não será permitido o sistema intensivo e a retenção permanente em gaiolas, correntes, cordas ou qualquer outro método restritivo aos animais. Parágrafo único. O sistema semi-intensivo será permitido desde que respeitados os princípios de bem-estar animal e em acordo com o estabelecido pelo OAC ou pela OCS. Art. 55. O transporte, o pré-abate e o abate dos animais, inclusive animais doentes ou descartados, deverão atender ao seguinte: I - princípios de respeito ao bem-estar animal; II - redução de processos dolorosos; III - procedimentos de abate humanitário; IV - a legislação específica. § 1º No caso de animais que necessitem ser sacrificados, o uso de anestésico poderá ser utilizado. § 2º Não será permitido manter ou conduzir animais, por qualquer meio de locomoção, de cabeça para baixo, de membros atados ou de qualquer outro modo que lhes produza sofrimento. § 3º Não será permitido manter animais embarcados sem água e alimento por um período superior a 12 (doze) horas. 41 Art. 56. Nas exposições e aglomerações, nos mercados e outros locais de venda deverão ser atendidos os princípios de bem-estar e necessidades fisiológicas de cada espécie animal, atendendo legislação específica. Art. 57. Para obtenção e manutenção da saúde dos animais, deve-se utilizar o princípio da prevenção: alimentação adequada, exercícios regulares e acesso à pastagem, os quais têm o efeito de promover as defesas imunológicas dos animais. Parágrafo único. O sistema de pastejo deve ser preferencialmente rotativo para controle de parasitoses. Art. 58. O plano para promoção da saúde animal, a que se refere o inciso VI do § 2º do art. 8º, deverá identificar os riscos e asestratégias para promoção e manutenção da saúde animal. Parágrafo único. O plano para promoção da saúde animal deve prever o registro e a prospecção de indicadores de morbidade, mortalidade e incidências das principais afecções na criação, bem como conter as medidas preventivas adotadas para o controle das enfermidades regionais e comuns a espécie, assim como medidas de biossegurança para a propriedade. Os produtos permitidos para sanitização das instalações e equipamentos utilizados na produção animal orgânica são Tabela 1.1: Substâncias utilizadas para sanitização das instalações e equipamentos utilizados na produção animal orgânica. Substâncias Hipoclorito de Sódio Peróxido de Hidrogênio Cal e cal virgem Ácido Fosfórico Ácido Nítrico Álcool Etílico Ácido Peracético Soda Cáustica Extratos Vegetais Microrganismos (Biorremediadores) Sabões e Detergentes Neutros e Biodegradáveis Sais Minerais Solúveis Oxidantes Minerais Iodo Fonte: Brasil, 2014. 42 os contidos na Tabela 1.1, ao lado. Para tratamento e prevenção das enfermidades dos animais orgânicos, as seguintes substâncias constantes na Tabela 1.2 podem ser utilizadas: Tabela 1.2: Substâncias permitidas para tratamento e prevenção das enfermidades dos animais orgânicos. Substâncias Enzimas Vitaminas Aminoácidos Própolis Microrganismos Preparados homeopáticos e biodinâmicos Fitoterápicos Florais Minerais Veículos inertes Sabões e detergentes neutros e biodegradáveis Peróxido de hidrogênio Tintura de iodo Permanganato de potássio Fonte: Brasil, 2014. 43 Quando o produtor utilizar o controle biológico para o combate de pragas e doenças nas propriedades de produção orgânica, a legislação faz a seguinte exigência: O uso de preparados viróticos, fúngicos ou bacteriológicos deverá ser autorizado pelo OAC ou pela OCS; é proibida a utilização de organismos geneticamente modificados. 1.5 Síntese da Unidade Nessa Unidade, foi apresentado um pequeno histórico sobre a agricultura no mundo e o início do movimento em prol de alimentos mais naturais e orgânicos, em contrapartida aos alimentos produzidos à base de agrotóxicos, fertilizantes sintéticos e sementes melhoradas geneticamente. Foi também apresentado o início da certificação de produtos 44 orgânicos no Brasil e quais as certificadoras credenciadas para certificação desses produtos. 1.6 Para saber mais Livros STRINGHETA, P. C., MUNIZ, J. N. Alimentos Orgânicos – Produção, Tecnologia e Certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003. PENTEADO, S. R. Certificação Agrícola. Campinas, SP: Via Orgânica, 2010. Sites www.agricultura.gov.br http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/o_que_e_carne _organica/ http://www.tecparcert.com.br/organicos/ http://ibd.com.br/pt/Default.aspx http://brazil.ecocert.com/regulamentos-organicos http://www.int.gov.br/certificacao http://www.ima.mg.gov.br/produtos-de-origem-animal2/registro-de- estabelecimentos-link http://www.institutochaovivo.com.br/icv/Home.asp http://www.oiabrasil.com.br/?s=convers%C3%A3o&submit=Search 45 http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agropecuario/produto_organico/selo_de_ certificacao_de_produtos_organicos.html http://planetaorganico.com.br/site/index.php/certificadora?id_certificadora=14 http://www.organicsnet.com.br/certificacao/manual-certificacao/ http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/organicos/perguntas-e- respostas http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.831.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Decreto/D6323.htm http://www.viaorganica.com.br/normascriacao.htm http://portaleconomia.com.br/moedas/dinheironomundo.shtml https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/agricultura-revolucoes- agricola-e-verde-e-transgenicos.htm http://www.sab.org.br/portal/agricultura-biodinamica/45-o-que-e-a-agricultura- biodinamica http://www.suapesquisa.com/historia/revolucao_agricola.htm 1.7 Atividades 1. (IBGE – 2013) A debicagem é um processo cirúrgico que consiste no corte e cauterização do bico de galinhas poedeiras comerciais. Um dos objetivos da debicagem é: A) aumentar a taxa de produção de ovos. 46 B) aumentar o consumo de água no verão. C) reduzir o tempo de abate das aves. D) reduzir o desperdício de ração. E) reduzir o risco de lesões durante o acasalamento. 47 Unidade 2 Produção Orgânica de Frango de Corte e Postura Nesta segunda Unidade, abordaremos a criação de frangos de corte e de postura, as raças empregadas e como produzir de maneira orgânica, por isso exploraremos os seguintes temas: classificação e origem; sistemas de criação; alimentação; instalações; raças para produção orgânica; doenças. 2.1 Classificação e origem das aves Caro(a) aluno(a), antes de começar o estudo desse tema, é importante explicar que não será aqui que a reposta à pergunta: “quem veio antes, o ovo ou a galinha?”, será encontrada. Você ainda continuará sem essa resposta! Figura 2.1: Frango de corte e postura. Fonte:pixabay.com/pt/photos/?q=galinha&image_type=&cat=&min_height=&min_wi dth=&pagi=1>. Acesso em: 01 jul. 2017. 48 Brincadeiras à parte, como introdução ao assunto, faremos uma explicação sobre a classificação e a origem das aves. Murad & Silva (2014), na Figura 2.2.; apresentam uma classificação zoológica da galinha doméstica. O nome científico da galinha é Gallus domesticus. A avicultura no Brasil teve um maior desenvolvimento principalmente após o início do século XX. Murad & Silva (2014) classificam esses períodos como: Período romântico: entre 1900 e 1930: Nesse período, a atividade era mais um passatempo que uma atividade para gerar lucro; as instalações eram simples; faltavam conhecimentos técnicos na área de produção; muitos produtores realizavam cruzamentos, buscando descobrir diferentes espécies de lindas plumagens; ocorreu a importação da raça Minora, a primeira raça pura importada pelo Brasil. Figura 2.2: Classificação zoológica da galinha doméstica. Fonte: Murad & Silva, 2014. 49 Período comercial: entre 1930 e 1960: Houve o abandono do romantismo e o início de criações avícolas com cunho comercial; criação do Instituto Biológico, que desenvolveu vacinas contra a bouba aviária e a cólera; abertura, em 1941, da primeira fábrica de rações balanceadas no Brasil; liberação pelo governo da importação de equipamentos avícolas; abertura das primeiras associações avícola e cooperativas. Período industrial: entre 1960 e nossos dias: Importação de avós de várias linhagens com alta qualidade genética; proibição da importação de matrizes e pintos comerciais; visitas internacionais para conhecimento técnico de manejo e nutrição pelos técnicos brasileiros; implantação de grandes complexos avícolas; profissionalização do setor como entendimento de atividade econômica pelos avicultores; desenvolvimento da tecnologia avícola nacional; início dos sistemas de integração; forte elevação da exportação de frangos de corte, inteiro ou em partes; consolidação da avicultura como atividade econômica industrial. A avicultura orgânica é uma atividade muito recente no Brasil, principalmente em comparação com os Estados Unidos ou com os países da Europa. Em relação à sua trajetória, há duas datas que se destacam: Década de 1970: início da agricultura orgânica no Brasil; pecuária orgânica ainda incipiente; Década de 1980: crescimento no país de maior conscientização da preservação ecológica. 50 2.2 Exigências de procedimentos para avicultura orgânicaAntes de iniciar o tema propriamente dito, é importante esclarecer que frango orgânico não é a mesma coisa que frango caipira. Cada um deles tem as suas exigências e especificações. As diferenças existentes entre a criação de frango caipira e a criação de frango orgânico se originam principalmente do manejo diferente entre eles. Enquanto a criação de frango caipira é basicamente de animais criados soltos, sem limitação de área, de alimentos e sem o emprego de medicamentos, a criação de frangos orgânicos tem que obedecer a uma legislação muito mais rigorosa e definida. No decorrer deste livro-texto, você conhecerá essas exigências de manejo. Portanto um frango ou galinha de postura, se forem criados conforme legislação orgânica, serão transformados em frango ou galinha orgânica. Relembro aqui, que as especificações da agricultura orgânica foram estabelecidas pelo Ministério da Agricultura em 2003, por meio da Lei n. 10.831. Na mesma lei, foram estabelecidos os sinônimos que podem ser usados no lugar da palavra orgânico: ecológico, biológico, biodinâmico, natural, sustentável, regenerativo e agroecológico. A Instrução Normativa n. 46 de 2011, com as alterações posteriores ocorridas pela Instrução Normativa n. 17 de 2014, então, respeitando o que diz a Lei n. 10.831 de 2003, determina as condições para que uma avicultura de corte e/ou de postura possa ser considerada orgânica. A avicultura orgânica de corte busca oferecer aos consumidores uma alimentação mais saudável, isenta de resíduos de antibióticos, de produtos sintéticos e de outros que sejam Frango caipira: os frangos caipiras são também denominados “frango caipira ou colonial”, “frango tipo ou estilo caipira”, ou “tipo ou estilo colonial”. As aves utilizadas para a criação caipira devem ser exclusivamente de raças próprias para esse fim; são, portanto, vetadas linhagens comerciais específicas para frango de corte (MAPA, 1999). 51 prejudiciais à saúde, sem contaminantes, respeitando a biodiversidade e o meio ambiente. Ela também se preocupa com o bem-estar dos animais e das pessoas envolvidas em sua criação e manejo. Importante entender que a criação de frangos de corte orgânico demanda mais tempo para abate que a de frango convencional, pois os animais não são selecionados para precocidade. Também ocorre maior desgaste de energia, causando uma diminuição na eficiência energética dos alimentos, pois eles são criados soltos, pelo menos parte, em piquetes, onde se exercitam e andam muito. A criação deve ser ao ar livre, e o confinamento total não é aceitável para esse tipo de criação. As aves ficam presas nas primeiras semanas, para que se mantenham aquecidas e para evitar predadores, conforme Azevedo et al. (2016). À medida que vão crescendo, passam a viver de maneira livre durante o dia, em piquetes, e, à noite, são presas em galpões amplos, com acesso a poleiros, para proteção contra predadores. Piquetes com acesso a capim são essenciais para os animais explorarem o meio ambiente, repousarem e terem o estresse minimizados Para a alimentação dos frangos orgânicos, é necessário obediência a alguns requisitos na elaboração de rações balanceadas, tais como: Ingredientes de origem orgânica; Ração balanceada para atender à necessidade nutricional dos animais em suas diferentes fases da vida; No caso da não disponibilidade total de ingredientes orgânicos, utilizar não orgânicos até o limite máximo de 20% da matéria seca (MS); Os aditivos e os auxiliares tecnológicos utilizados devem ser provenientes de fontes naturais e não poderão apresentar moléculas de ADN/ARN recombinante ou proteína resultante de modificação genética em seu produto final; 52 O fornecimento de alimentos de origem animal deverá estar em conformidade com a legislação sanitária vigente; Não poderão ser utilizados compostos nitrogenados não proteicos e nitrogênio sintético na alimentação de animais em sistemas orgânicos de produção; É permitido o uso de suplementos minerais e vitamínicos, desde que os seus componentes não contenham resíduos contaminantes acima dos limites permitidos e que atendam à legislação específica; A água deve ser de qualidade e em quantidade adequada, isenta de produtos químicos e agentes biológicos que possam comprometer a saúde e o vigor dos animais, a qualidade dos produtos e dos recursos naturais, conforme os parâmetros especificados pela legislação vigente. Concernente aos procedimentos de combate e prevenção de doenças que atingem as aves, os seguintes procedimentos são necessários: Sempre que houver a retirada de um lote, o galpão ou as gaiolas, como tudo que estiver dentro, deve ser devidamente lavado e desinfetado, com produtos autorizados para utilização em animais criados no sistema orgânico, evitando assim problemas posteriores; Os produtos permitidos para sanitização das instalações e dos equipamentos utilizados na produção animal orgânica são os contidos na Tabela 2.1 a seguir: 53 Todas as vacinas e os exames determinados pela legislação de sanidade animal serão obrigatórios. A respeito da aquisição de animais e do ingresso destes na propriedade produtiva, os Art. de 22 a 24, pertencentes à IN 46/11, com alterações na redação pela IN17/14, dizem o seguinte: Seção II Da Aquisição de Animais Art. 22. Deverá ser comunicada ao OAC ou a OCS a aquisição de animais para início, reposição ou ampliação da produção animal. Tabela 2.1: Substâncias utilizadas para sanitização das instalações e equipamentos utilizados na produção animal orgânica. Substâncias Hipoclorito de Sódio Peróxido de Hidrogênio Cal e cal virgem Ácido Fosfórico Ácido Nítrico Álcool Etílico Ácido Peracético Soda Cáustica Extratos Vegetais Microrganismos (Biorremediadores) Sabões e Detergentes Neutros e Biodegradáveis Sais Minerais Solúveis Oxidantes Minerais Iodo Fonte: Brasil, 2014. 54 Art. 23. Quando for necessário introduzir animais no sistema de produção, estes deverão ser provenientes de sistemas orgânicos. Parágrafo único. Na indisponibilidade de animais de sistemas orgânicos, poderão ser adquiridos animais de unidades de produção não orgânicas, preferencialmente em conversão para o sistema orgânico, desde que previamente aprovado pelo OAC ou pela OCS, e respeitado o período de conversão previsto neste. Regulamento Técnico. Art. 24. Todos os animais introduzidos na unidade de produção orgânica devem ter idade mínima em que possam ser recriados sem a presença materna, observando-se que a idade máxima para ingresso de frangos de corte é de dois dias de vida, e para outras aves de até duas semanas. Quanto à densidade dos animais, a IN n. 46/11, com alterações na redação pela IN 17/14, no seu Art. 38 traz as seguintes condições: Art. 38. As densidades máximas dos animais em área externa deverão obedecer ao disposto abaixo: I - para aves de postura: 3 m² por galinha em sistema extensivo ou 1 m² disponível por ave, no piquete, em sistema rotacionado; 0,5 m² por codorna, em sistema extensivo, ou 0,2 m² por codorna poedeira, no piquete, em sistema rotacionado. II - para aves de corte: 2,5 m² por frango em sistema extensivo ou 0,5 m² disponível por ave, no piquete, em sistema rotacionado; 55 0,3 m² por codorna, em sistema extensivo, ou 0,1 m² por codorna de corte, no piquete, em sistema rotacionado. Art. 39. Quando necessárias, as instalações para os animais deverão dispor de condições de temperatura, umidade, iluminação e ventilação que garantam o bem-estar animal, respeitando-se as densidades máximas abaixo: I - para aves poedeiras: 6 galinhas por m²; 18 codornas por m²; II - para aves de corte: 10 frangos por m²; 18 codornas porm²; Antes de iniciar a criação, é importante saber que, para a produção de qualquer animal no sistema orgânico, não é permitida a alimentação com rações comerciais, portanto todo alimento necessita ter origem orgânica. O melhor é que ele seja preparado na própria propriedade, pois assim o produtor terá certeza da origem dos alimentos, poderá produzi-los a um custo mais baixo e atender às exigências quanto à procedência orgânica de seus alimentos. Além do mais, o produtor pode utilizar frutas, vegetais, verduras e raízes, como bem assinala Azevedo et al. (2016). Não se esquecer de que, se o produtor resolver preparar a ração em sua propriedade, todos os componentes, tanto os produzidos por ele como os adquiridos de terceiros, necessitam, obrigatoriamente, ter acreditação de sejam orgânicos. A água utilizada na propriedade, principalmente para os animais beberem, deve ser de boa qualidade, sem contaminação na fonte e fornecida de maneira abundante e de livre acesso aos animais. 56 A seguir, algumas das linhagens direcionadas à criação de frango de corte orgânico. Importante salientar que não é adequado pegar qualquer pintinho e criar de maneira orgânica, pois o resultado será decepcionante ao produtor. Normalmente as linhagens de animais são direcionadas a um propósito mais específico, embora algumas tenham mais de uma aptidão; mesmo assim, apesar de terem mais de uma possiblidade produtiva, produzem menos que uma linhagem direcionada a uma produção só. Se um pintinho de um dia, de uma linhagem direcionada à produção em sistema confinado, precoce, for criado em condições de frango orgânico, não terá como aproveitar todo seu potencial genético, pois o fenótipo não corresponde ao potencial genético do animal, portanto, é necessário que os pintinhos de um dia adquiridos sejam direcionados ao sistema de produção denominado por Azevedo et al. (2106) de “produção colonial/orgânica/agroecológica de aves para corte e postura”. No auxílio ao combate de diversas doenças ou outros problemas sanitários que possam atingir as aves, visto que muitos produtos à disposição no comércio são proibidos para administração em aves criadas no sistema orgânico, Vieira (2012) dá a seguinte sugestão, conforme Tabela 2.2 a seguir: 57 Tabela 2.2: Exigências nutricionais sugeridas para frangos coloniais Embrapa 041, por fase de criação. Planta Indicações Partes utilizadas Formas de preparo Alho Allium sativum Verminose, antibiótico, expectorante, controle e repelência de carrapatos e piolhos Bulbilhos Inteiros, maceração na água, extrato alcoólico, em pó associado ao enxofre, no sal ou na ração. Babosa Cicatrização, inflamações Folhas Suco fresco puro ou na forma de unguentos, pomadas, gel, associada com mel. Bananeira Verminoses e diarreias Folhas e troncos In natura Citronela Repelente Folhas Cama, ninho, pasto, ao redor das instalações. Erva-de-santa- maria Verminoses e diarreias Folhas e sementes Maceração, pó das folhas secas na ração ou misturadas a outros verdes, espalhada na cama. Eucalipto Infecções respiratórias, desinfetante, verminoses Folhas Pó Goiabeira Diarreias, adstringente Brotos, caule e casca Decocção dos brotos, pó das folhas secas na ração, associados com pó de carvão e soro caseiro. Hortelã miúda Antiparasitária, sedativa, digestiva, analgésica tônica, anestésica Folhas Infusão, extrato misturado ao verde. Hortelã pimenta Expectorante, infecção inflamatória Folhas Xarope, decocção, associadas com saião. Limão Infecção respiratória, resfriados, “gogo” das galinhas Fruto Suco obtido da trituração do fruto no liquidificador com água e alho. Melão-de-são- caetano Febres, diarreias, “gogo” das galinhas, verminoses Planta inteira, sementes Maceração ou decocção associada com erva macaé. Mentrasto Ageratum conyisoides Verminoses, digestivo Folhas e flores, parte aérea Decocção, infusão. Nim Verminoses, infecção por piolhos Folhas, sementes Maceração, infusão, pó, óleo. 58 Tansagem Infecções respiratórias Folhas Infusão, tintura. Pimenta Anti-inflamatório, verminoses Folhas, frutos No piquete para pastejo. Pitangueira Febres Folhas Decocção. Poejo Bronco dilatador, digestivo Folhas Infusão. Fonte: Modificado de Vieira (2012). A respeito das principais doenças que podem atingir as aves, Vieira (2012) mostra na Tabela 2.3 a seguir: Tabela 2.3: Principais doenças que atingem as aves, seus sinais clínicos, prevenção e tratamento. Doenças Sinais clínicos Prevenção Tratamento Doença de Marek Asas caídas, torcicolo, diarreia e dificuldade de locomoção. Vacinação logo após o nascimento. Não existe. Doença de New Castle Tosse, espirros, respiração com o bico aberto, torcicolo, cambalhotas para trás, caminhamento em círculo, diarreia de cor esverdeada. Higiene e vacinação. Não existe. Pode-se fornecer vitamina A para ajudar na recuperação. Doença de Gumboro Diarreia branca. Vacinação Não existe. Bronquite infecciosa Tosse, roncado, corrimento nasal, cara inchada, olhos lacrimejando, respiração difícil. Higiene e vacinação. Fornecer antibiótico e vitamina A para ajudar na recuperação. Bouba aviária Nódulos na crista, cabeça, barbela, pernas e pés e/ ou lesões de cor amarelada na boca, secreção nasal e ocular. Vacinação Não existe. Pode-se fornecer vitamina A para ajudar na recuperação. Coriza Espirros, corrimento nasal e ocular, cabeça inchada, etc. Vacinação. Antibióticos. Fonte: Modificado de Vieira (2012). Vieira (2012) também propõe um calendário de vacinação a ser seguido tanto para as galinhas de postura como para os frangos de corte. Esse calendário de vacinação é mostrado na Tabela 2.4 a seguir: 59 Tabela 2.4: Principais doenças que atingem as aves, seus sinais clínicos, prevenção e tratamento. Idade (dias) Vacina Forma de aplicação 1 Marek e Bouba Suave Uma gota no olho. 7-10 New Castle B1 Gumboro e Bronquite H120 Uma gota no olho. 20 Bouba Forte Mergulhar o estilete na vacina e perfurar a membrana da asa. 35 z (Lasota) Gumboro e Bronquite H120 Uma gota no olho ou na água de beber. 45-60 Bouba Forte* Mergulhar o estilete na vacina e perfurar a membrana da asa. 45-60 Coriza* Aplicar 0,5 ml no músculo do peito. * Só para as aves de postura. Fonte: Modificado de Vieira (2012). 2.3 Frangos para corte Os pintinhos de um dia devem ficar protegidos em campânulas ligadas pelo menos três horas antes de receber os pintinhos para aquecer o local. A Figura 2.3 é uma representação de como devem ficar espalhados os comedouros e bebedouros ao redor do círculo de proteção, com a campânula ligada. Quando receber os pintinhos, o ideal é que sejam entregues logo cedo, antes das 8 h da manhã, dando a eles condições de descanso, alimentação, hidratação a fim de que estejam prontos para a primeira noite de suas vidas. A distribuição dos pintinhos dentro dos círculos de proteção deve ser de 60 a 80 por metro quadrado de área do círculo. O ideal é que fiquem alojados no máximo 1000 aves dentro de cada círculo. Caro(a) aluno(a), não fique preocupado se não se lembrar da fórmula matemática para cálculo da área (A). A fórmula é A = π x R2; sendo π (pi), uma constante que pode ser representada por 3,1416 e R = ao raio do círculo. Como exemplo, podemos citar um círculo de proteção de 1,5 m. 60 A = π x R2; ⸫ A = π x 1,52 A = 3,1416 x 2,25 = 7,07 Como a capacidade ideal é entre 60 a 80 pintos por m2, faremos agora o cálculo da densidade populacional do círulo (Dc), isto é, quantos caberão dentro do círculo: Dc = 7,07 x 80 = 565 pintos A distribuição dos pintinhos dentro do círculo de proteção deve ser uniforme,
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