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Denise Ramos Pacheco Síndrome Vestibular Em cães e gatos Alterações em sistema vestibular são comuns em pequenos animais e ocasionam, entre outros sinais clínicos, alterações na postura (inclinação da cabeça ou “head tilt”, e na movimentação e posicionamento dos olhos (nistagmo e estrabismo). O sistema vestibular é dividido em componentes periféricos e centrais: PERIFÉRICO: localizado no ouvido interno e composto da divisão vestibular do nervo vestibulococlear (VIII) e de seus receptores. CENTRAL: composto por núcleos vestibulares na medula oblonga e projeções vestibulares no cerebelo, medula espinhal e tronco encefálico. Ao atender um animal com vestibulopatia, deve-se identificar se é de origem central ou periférica. Fonte: Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 69 - agosto de 2013. / Material apresentado na aula. → Alteração dos nervos cranianos: na síndrome vestibular periférica, pode atingir nervo facial do mesmo lado; se tem otite em orelha direita por exemplo pode ter alteração de nervo facial do lado direito e de vestibulococlear do lado direito. SINAIS CLÍNICOS CLÁSSICOS: → Cabeça inclinada (Head tilt): inclinação do plano mediano da cabeça (o desvio pode chegar a 45 graus e geralmente é ipsilateral à lesão, exceto em vestibulopatias paradoxais, nas quais a inclinação da cabeça é contralateral à lesão). → Nistagmo: movimentos involuntários e rítmicos dos olhos, que podem ser fisiológicos ou patológicos e, geralmente, possuem uma fase rápida e outra lenta. Podem ocorrer nas Denise Ramos Pacheco direções vertical, horizontal ou rotatória. No nistagmo patológico ocorre uma movimentação involuntária dos olhos com a cabeça em posição neutra, enquanto no nistagmo posicional ocorre essa movimentação em posições de flexão e extensão da cabeça. Resulta de lesão unilateral do sistema vestibular, que influencia os núcleos motores dos pares de nervos cranianos III, IV e VI. Nas vestibulopatias periféricas, a fase rápida do nistagmo horizontal ou rotatório está direcionada na direção oposta à inclinação da cabeça e não altera de direção, nos movimentos de extensão e flexão do pescoço. → Estrabismo posicional: desvio ventral ou ventrolateral do globo ocular, após extensão ou flexão do pescoço e, geralmente, ipsilateral à inclinação da cabeça. → Ataxia vestibular: os animais tendem a cair, rolar e andar em círculos para o local da lesão. Podem também manter ampla base de sustentação para tentar manter o equilíbrio. Ocorrem tanto nas vestibulopatias centrais como periféricas. → Em gatos, principalmente, pode ser observado lesões periféricas bilaterais, em que não se observam nistagmo patológico e inclinação da cabeça, e normalmente resulta em movimentação pendular típico de cabeça. EXAMES COMPLEMENTARES: → Além do exame clínico e neurológico completo. → Hemograma, perfil bioquímico e hormonal, LCE (líquido cérebro-espinhal), RX da bula timpânica, otoscopia, meringotomia, citologia aspirativa, biopsia, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Principais afecções vestibulares periféricas: CONGÊNITAS → ocorrência mais rara, os sinais aparecem ao nascimento ou em poucas semanas de vida, geralmente não tem causa conhecida e nem tratamento (pode haver remissão espontânea em alguns casos). Pode-se também tentar o tratamento sintomático de acordo com: → Cinetose/perda de equilíbrio → Meclizina ou Diazepam. → Medicações para aumento da circulação do ouvido interno. → Raças mais predispostas: Pastor Alemão, Doberman, Beagle, Akita, Cocker e gatos Siamês, Birmania e Tonkanese. OTITE MÉDIA/INTERNA → associada à paralisia facial(?) ipsilateral e Síndrome de Horner pós-ganglionar. Pode ser acompanhada de dor auricular e temporomandibular, balançar de cabeça, descarga auricular e sensibilidade na bula timpânica. Normalmente é uma complicação das otites externas. → Diagnóstico: otoscopia e meringotomia para coleta de material (cultura); RX, TC e RM (para avaliar integridade da bula timpânica). → 70% dos animais com otite interna possuem a membrana timpânica íntegra. → Tratamento: limpeza e lavagem do ouvido com salina estéril, para eliminar secreção; antibiótico sistêmico por quadro a oito semanas (de acordo com cultura e antibiograma); medicações tópicas que podem ser ototóxicas são contraindicados; pode desenvolver meningoencefalomielite, caso a infecção se estenda para o encéfalo. → Antibioticoterapia sistêmica: cultura e antibiograma otológico → Cefalexina, Sulfa-Trimetoprim, Enrofloxacina. → Aumento da circulação do ouvido interno: Betaistina (ainda não há muitos trabalhos comprovando sua eficácia). → Anti-inflamatórios: Meloxicam, Carprofeno. Denise Ramos Pacheco → Vestibulossedativos: Meclizina (Dramin) → anti-histamínico que age como vestibulossedativo. → Terapia otológica: devido ao maior risco de meningite bacteriana (limpeza de cerúmen e utilização de antifúngicos ou antibióticos). → Tratamento cirúrgico: Aeração (para aumentar o canal auditivo, permitindo melhor tratamento, em caso de estenose) ou Ablação (retirada completa do conduto auditivo). IDIOPÁTICAS → segunda causa mais comum de vestibulopatia periférica unilateral aguda. → Chamadas de: Doença Vestibular Idiopática Canina e Doença Vestibular Idiopática Felina. → Acomete geralmente cães mais velhos; incomum em animais com menos de 5 anos (exceto em felinos, que podem ser acometidos desde jovens a idosos). → Ocorre melhora inicial com 3-5 dias, com recuperação completa até 2-3 semanas após o episódio. → Head tilt pode permanecer para o resto da vida. → O diagnóstico é feito por exclusão de outras causas de vestibulopatias periféricas. → Tratamento: sintomático (Diazepam devido aos efeitos ansiolíticos; Antieméticos em caso de êmese). Não é indicado administrar corticosteroides. HIPOTIREOIDISMO → os animais podem apresentar polineuropatia periférica e fraqueza generalizada de membros, além de vestibulopatia periférica + facial. A suplementação com hormônios tireoidianos promove a remissão dos sinais clínicos em poucos meses. NEOPLASIAS DO SISTEMA AUDITIVO → podem acometer a pina, canal auditivo, ouvido médio e interno, causando sinais clínicos devido à compressão de componentes neurais do sistema vestibular periférico pela massa tumoral ou pela resposta inflamatória secundária. Podem ser adenomas/adenocarcinoma ceruminoso, adenoma ou adenocarcinoma sebáceo, carcinomas, carcinoma de células escamosas, linfoma felino, etc. Diagnóstico: otoscopia, RX, RM e histopatologia. PÓLIPOS NASAIS E OTOFARÍNGEOS → Pólipos inflamatórios que surgem da região timpânica, tubo auditivo ou faringe são mais comuns em gatos jovens e, geralmente, unilaterais. O tratamento indicado é a remoção cirúrgica. OTOTOXICIDADE → aminoglicosídeos (amicacina, gentamicina), furosemida (diuréticos de alça, em doses altas), salicilatos, agentes antineoplásicos que contêm platina, soluções detergentes (clorexidina) e alcoólicas usadas em tímpano rompido, propilenoglicol. Além dos sinais clínicos de vestibulopatias, os animais podem ficar surdos devido ao acometimento da cóclea. Principais afecções vestibulares centrais: TRAUMA CRÂNIOENCEFÁLICO (TCE). HIPOTIREOIDISMO → pode ser por várias causas, mas normalmente associadas à hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia, que leva a quadros de infarto isquêmico aterosclerótico e desmielinização do SNC. NEOPLASIAS INTRACRANIANAS → geralmente menigiomas (neoplasia primária), além de neoplasia do plexo coroide e gliomas. O diagnóstico depende de RM, TC, biópsia e em alguns casos exame do LCE. O tratamento paliativo com prednisona apresenta resultados satisfatórios. MENINGOENCEFALOMIELITE/MENINGOENCEFALITES INFLAMATÓRIAS → pode ser de origem infecciosa ou inflamatória (meningoencefalite granulomatosa, encefalite necrotizante, leucoencefalite necrotizante). As causas infecciosas incluem: cinomose,PIF em felinos, erliquiose, criptococose, Denise Ramos Pacheco Histoplasmose, coccidiomicose. Além dos quadros vestibulares, os animais podem apresentar alteração do estado mental, crises epilépticas, déficit de nervos cranianos e dor cervical. INTOXICAÇÃO POR METRONIDAZOL → é um antibiótico normalmente usado em cães e gatos no tratamento de infecções protozoárias e bacterianas, doenças inflamatórias intestinais e encefalopatia hepática. É metabolizado pelo fígado e excretado na urina. Ocasiona vestibulopatia central em doses acima de 30 mg/kg/dia (3-14 dias), porém em animais mais sensíveis podem aparecer sinais clínicos mesmo com doses menores. Nos felinos pode ocorrer crises epilépticas, cegueira e alterações de consciência. Tratamento: suspender a mediação e tratamento de suporte (Diazepam, para acelerar a recuperação, e antieméticos); a recuperação ocorre normalmente em 1 a 2 semanas. DEFICIÊNCIA DE TIAMINA → felinos que ingerem muito peixe cru e/ou ração de baixa qualidade, ou cães que ingerem restos de comida ou alimentação desbalanceada. A deficiência de tiamina (B1), quando prolongada, gera degeneração do SNC. → Diagnóstico: terapêutico, animal melhora após aplicação da tiamina. → Tratamento: administração (reposição) de tiamina → Vitamina B1 (1-2 mg, IM, BID). Normalmente, a administração durante 3 dias de tiamina já promove a melhora do quadro. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) → acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos podem ocasionar sinais clínicos agudos e, normalmente, não progressivos. Animais hipertensos com hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo, doenças renais e cardíacas têm predisposição a esses acidentes. SÍNDROME DE HORNER: → Ocorre PTOSE PALPEBRAL, MIOSE, ENOFTALMIA, PROTUSÃO DE 3ª PÁLPEBRA. → Quando ocorre lesão da inervação simpática do olho. → No olho contralateral: normal, não apresenta midríase. → Pode acometer os dois olhos, dependendo de onde for a lesão, mas é muito raro. Qualquer alteração que interrompa a inervação simpática em alguma dessas regiões, até chegar ao olho, pode causar a Síndrome de Horner. Exemplos: neoplasia pulmonar pressionando inervação, doença de disco em T1, T2 e T3, doença ou lesão em cervical (pode gerar), otite média/interna, mordida em região de T1, cervical, tórax, neoplasia entre a orelha e o olho, etc. → descobrir a causa, localização da lesão. A síndrome de Horner pode estar presente na síndrome vestibular periférica também, sendo geralmente ausente em casos de síndrome vestibular central.
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