Buscar

Filosofia_da_Linguagem_20183_FIL_SEC

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILOSOFIA
FILOSOFIA DA LINGUAGEM
Antonio Francisco Bezerra Filho
Apresentação 
Prezado(a) aluno(a), 
A Filosofia da Linguagem é um convite à compreensão do ser cognoscente, 
isto é, aquele ser que se manifesta com vontade própria na existência. A 
linguagem como língua pode ser clara e distinta quando se trata do ser humano 
que tem o domínio da fala, e, agora, quando se inclui outros seres não humanos 
estamos na manifestação de alguma forma de linguagem. Como área estudada 
da Filosofia, a Linguagem é o ramo que estuda a essência e natureza dos 
fenômenos linguísticos. Vem elencar a natureza do significado linguístico, o seu 
modo de ser expressada, entendida, aprendida, interpretada, bem como pela 
forma em que pode ser geradora de criatividades dos seres de fala e os pontos 
fundamentais linguísticos do pensamento e da experiência. Por outro lado a 
Filosofia da Linguagem nos aponta a sintaxe, a semântica, a pragmática e a 
referência. E, por fim, as questões investigadas pela Filosofia da Linguagem nos 
situam tanto no foco de como as frases compõem um todo entendido, como 
também do entendimento das "partes" (palavras) das frases ou seu significado. O 
querer saber o significado torna-se fundamental uma vez que nos faz 
compreender como fazemos e como usamos a linguagem socialmente. 
 O conteúdo da disciplina é dividido em 14 capítulos: sendo a UNIDADE 01 - 
A ESTRUTURA DA LINGUAGEM uma forma de sistema de signos, sendo o signo 
uma coisa que está no lugar de outra sob algum aspecto; na UNIDADE 02- A 
ESTRUTURA DA LINGUAGEM (PARTE II), entre tantos tipos de linguagem, surge 
uma pergunta fundamental: para que servem as linguagens? e suas funções 
comunicativas da língua verbal, bastante ampla que também pode ser usada para 
as demais linguagens; Na UNIDADE 03 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-
ANALÍTICA: O CONVENCIONALISMO DE PLATÃO, onde há grande preocupação, 
tornando-se um assunto especializado, onde o filósofo trata de questões relativas 
à relação entre os nomes e as coisas que os mesmos designam; Na UNIDADE 04 - 
ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O NATURALISMO PLATÔNICO, traz 
um nome que é uma representação, entendida como uma exibição da coisa 
nomeada, onde o nome que é a sua imitação; os nomes manifestam, representam 
as coisas, por meio da semelhança com elas, e não por uma convenção casual; Na 
UNIDADE 05 - A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES, é visto como as palavras são 
símbolos de carismas da nossa alma. A relação de símbolos se refere à relação 
entre os sons da voz e as modificações da alma; assim como relação entre os 
caracteres da escritura e as expressões vocais, os sons incluem nomes, verbos, o 
discurso e suas formas; Na UNIDADE 06 - A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS nos 
aponta que no período escolástico (IX ao XVI d.C.), a busca de harmonização 
entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação 
filosófica. Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, 
que é a referência às questões teológicas, bem como da escolástica que avança 
no estudo da lógica e na compreensão do conceito de universal; Na UNIDADE 07 
- A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD, vem eliminar os paradoxos 
metafísicos da “existência” e os paradoxos dos não existentes, bem como da 
teoria das descrições de Russell afirma essencialmente que as expressões 
denotativas; Na UNIDADE 08 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E 
WHITEHEAD (PARTE II), traz à visão a construção da metafísica ou visão de mundo 
em que se baseia, num entrelaçasse, em mútua relação com as generalizações 
mais avançadas das ciências; Na UNIDADE 09 - WITTGENSTEIN E O AUGE DA 
FILOSOFIA ANALÍTICA, traz o que o pensamento representa ou espelha da 
realidade, sendo que a cada elemento constitutivo do real corresponde outro 
elemento no pensamento; Na UNIDADE 10 - O WITTGENSTEIN DAS 
INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS nos diz que compreender se reduz a dar 
explicações que se resumem em definições ostensivas, que postulam toda aquela 
série de atos e processos mentais que deveriam explicar a passagem da 
linguagem à realidade; na UNIDADE 11 - O ESTUDO DA LINGUAGEM EM 
FERDINAND DE SAUSSUR, afirma que a gramática serve apenas para prescrever o 
que é a norma culta e a filologia investiga a origem das palavras no 
desenvolvimento histórico das línguas e as pessoas acabam se comunicando sem 
prestar atenção em tais conhecimentos; Na UNIDADE 12 - O QUE É SEMIÓTICA?, 
vem abordar que estudos da linguagem se concentra mais nos símbolos e signos 
existentes na fala e na escrita, sendo o nome Semiótica a ciência dos signos; Na 
UNIDADE 13 - A SEMIÓTICA EM PEIRCE, traz um novo horizonte das chamadas 
ciências humanas, onde o seu desenvolvimento histórico da semiótica não é 
considerada um ramo do conhecimento aplicado, mas sim um saber abstrato e 
formal, generalizado, onde as pessoas exprimem o contexto à sua volta através de 
uma tríade como alicerce de sua teoria; Na UNIDADE 14 - A SEMIÓTICA EM 
PEIRCE (PARTE II); percebemos que um signo intenta representar, em parte pelo 
menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante 
do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente. 
Bons estudos! 
 
Antonio Francisco Bezerra Filho 
Bacharel em Filosofia e Teologia 
Licenciado em Filosofia e Sociologia. 
Especialista em Educação e Filosofia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 01 - A ESTRUTURA DA LINGUAGEM 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Analisar os estudos estruturais da linguagem e sua utilidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A linguagem é formada por um sistema de signos, sendo o signo uma 
coisa que está no lugar de outra sob algum aspecto. Por exemplo, a lágrima no 
rosto de uma pessoa que pode indicar um estado de dor física ou de tristeza, mas 
também pode indicar um estado de felicidade ou de realização. A lágrima pode 
ser signo de todas essas coisas e, para decifrá-lo adequadamente, precisamos 
saber o contexto em que ele ocorre e ter familiaridade com a situação em que se 
expressa. 
Os números e palavras também são signos, isto é, estão no lugar das 
quantidades reais de objetos ou do próprio objeto. Se o signo está no lugar do 
objeto, ele passa a representar o objeto, sendo um objeto pode ser representado 
de várias maneiras, dependendo da relação que existe entre ele e o signo. 
Quando a relação é de semelhança, temos um signo de ícone, o desenho de um 
cachorro é um ícone quando apresenta semelhança com ele. 
Se a relação é de causa e efeito, uma relação que afeta a existência do 
objeto ou é por ela afetada, temos um signo do tipo índice. Por exemplo, a 
fumaça indica o quê? A resposta certa seria o fogo, pois aqui nós estabelecemos 
uma relação causal entre a o fogo (que é a causa) e a fumaça (que é o efeito do 
fogo), outros exemplos podem ser usados para exemplificar essa ideia, como o 
chão molhado que indica que choveu, estabelecendo uma relação causal de 
efeito (chão molhado) e causa (chuva) mostrando que a relação entre a coisa e a 
linguagem não precisa ser de semelhança para que ocorra uma mensagem. 
E, por último, se a relação é arbitrária, regida simplesmente por convenção, 
temos o símbolo. As palavras são o melhor exemplo de símbolo, mas há muitos 
outros: nas culturas ocidentais, o preto é símbolo de luto: o uso da aliança no 
dedo anelar da mão esquerda simboliza a condição de casado: o desenho de um 
coração simboliza amor, amizade. Esses signos são aceitos pela sociedade como 
representação dos objetos de luto, casamento e sentimento de amor e mantêm-
se por convenção hábito ou tradição. 
O ser humano cria símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto 
que representam e que são convencionais: para serem usados, precisam ser 
aceitos por todos os membros da sociedade. Como não há relação alguma entre 
o signo e o objeto por ele representado, necessitando de uma convenção, aceita 
pela sociedade,de que aquele signo representa aquele objeto. Só a partir dessa 
aceitação podemos comunicar, sabendo que, ao usar o signo-símbolo, o nosso 
interlocutor entenderá o que estamos querendo dizer. A linguagem, portanto, é 
um sistema de representações aceito por um grupo social que possibilita a 
comunicação entre os integrantes do grupo. 
O laço entre representação e objeto representado é arbitrário, podendo 
dizer que ele é necessariamente uma construção da razão, isto é, uma invenção 
do sujeito para poder se aproximar da realidade. A linguagem, deste modo, é 
produto da razão e só pode existir onde há racionalidade. A linguagem é um dos 
principais instrumentos na formação do mundo cultural, porque nos permite 
transcender nossa experiência. No momento em que damos nome a qualquer 
objeto da natureza, nós o individualizamos, diferenciando-o do resto que o cerca: 
ele passa a existir para a nossa consciência. 
O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia daquilo 
que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do 
jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do 
pai. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à 
nossa consciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência 
física das coisas: criamos, por meio da linguagem, um mundo estável de ideias 
que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Através da linguagem, 
o ser humano deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder 
pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida. 
Só o ser humano é capaz de criar signos arbitrários, pois os animais são 
apenas capazes de entender ícones e índices. Os cachorros, por exemplo, utilizam 
o signo inicial do cheiro, sendo capazes de reconhecer o cheio do dono em uma 
roupa, em um lugar. O cheiro indica a presença do objeto (dono) que ele procura, 
ele reconhece, ainda, o tom de voz, as ações que indicam passeio, castigo ou a 
hora de comer. A aprendizagem dos signos se dá por meio de outros signos, 
inclusive misturando linguagens. 
Por exemplo, para explicar o signo-palavra “casa” para uma criança, 
podemos fazer um signo- desenho de uma casa. O desenho, nesse caso, é um 
segundo signo que interpreta, dá sentido ao primeiro, pela semelhança com o 
objeto representado. Um sinônimo explica igualmente um signo: “casa” pode 
também ser interpretada por meio da palavra “lar”. O segundo signo (lar) 
interpreta o primeiro em sentido bastante específico de “minha casa” ou “lugar 
onde moro e considero meu refúgio”. 
Existem também, outros elementos essenciais na linguagem, como a ideia 
de repertório, pois estamos interagindo com um sistema de signos, sendo 
necessária uma memorização de signos que a compõem. O repertório das 
linguagens verbais (ou línguas, como são chamadas) é bastante amplo e costuma 
ser relacionado em dicionários. Além do repertório, também é preciso que se 
estabeleçam as regras de combinação dos signos, pois não podemos combinar 
signos que tenham sentidos opostos: subir/descer, nascer/morrer, entre outros. 
Devemos estabelecer as regras de uso dos signos na linguagem, só quando 
conhecemos o repertório de signos, as regras de combinação e as regras de uso 
desses signos é que podemos dizer que dominamos uma linguagem. 
Todo signo tem um significado próprio, estabelecido por convenção social. 
Esses são os significados que constam do dicionário, porém o signo tem mais de 
um significado, uma vez que seu uso foi sendo modificado ou ampliado em 
tempos e lugares diferentes. Logo, só podemos saber com qual significado o 
signo está sendo usado a partir da frase, que oferece o primeiro contexto da 
comunicação. A situação social na qual a frase é dita é o segundo contexto que 
nos auxiliará na decodificação do signo e da mensagem. Não basta, portanto, ter 
domínio do código para interpretar corretamente os signos e as mensagens, é 
preciso ter conhecimento das situações sociais, isto é, da cultura na qual a 
linguagem é utilizada e a comunicação ocorre. 
Com a contínua criação de vários tipos de linguagem que permite os seres 
humanos pensar as diversas formas da realidade e, também, de se expressar e de 
se comunicar com seus semelhantes. Os avanços tecnológicos nos obrigam a 
adaptar as linguagens já existentes e a criar outras, mais adequadas às 
necessidades da contemporaneidade. A questão em jogo está em, se essas novas 
linguagens se estruturam da mesma forma? O repertório de signos e as regras de 
combinação e de uso desses signos são similares? 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Podemos afirmar que algumas linguagens têm estrutura mais flexível do 
que outras, como, por exemplo, a moda e sua linguagem flexível, onde 
percebemos que o repertório de signos é alterado com muito mais rapidez do 
que os sons e as palavras que compõem uma língua. Quanto às regras de 
combinação, elas também são variáveis, pois ainda se baseando no exemplo da 
moda, podemos hoje usar botas e outros calçados pesados com roupas de 
tecidos leves, criando, assim, um grande contraste. 
A flexibilidade característica da linguagem da moda decorre do fato de que 
ela não se estabelece, como as línguas faladas, por meio de um processo de 
cristalização social. Ao contrário, ela é ditada por um pequeno grupo de 
costureiros, desenhistas e editores de moda que, em uma sociedade capitalista, 
incentivam mudanças que estimulem o consumo. Outro exemplo que podemos 
utilizar são as linguagens de computador, que são fortemente estruturadas e 
bastante inflexíveis. Essas linguagens têm um número limitado de signos e de 
regras de combinação, e o computador só responderá dentro desses limites. 
As linguagens artísticas constituem um meio-termo. Por um lado, 
respeitam a especificidade de cada campo artístico; por outro, tendem a explorar 
esse campo e as possibilidades de cada linguagem até seu limite máximo. E é 
exatamente a essas explorações que devemos o desenvolvimento e a criação de 
novos estilos e técnicas; neste ponto, as linguagens só se desenvolvem em função 
de projetos. As linguagens artísticas, por serem mais flexíveis, podem se estruturar 
e reestruturar com base em projetos específicos. 
 
 
UNIDADE 02- A ESTRUTURA DA LINGUAGEM (PARTE II). 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Analisar os estudos estruturais da linguagem e sua utilidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Entre tantos tipos de linguagem, surge uma pergunta fundamental: para 
que servem as linguagens? Na tentativa de responder a essa pergunta, o linguista 
contemporâneo Roman Jakobson propôs uma abordagem das funções 
comunicativas da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para 
as demais linguagens. Após estudar a semiótica clássica, Jakobson percebeu a 
necessidade de firmar a linguagem como elemento de comunicação humana por 
excelência. O linguista, então, distingue seis fatores fundamentais na comunicação 
verbal que dão origem a seis funções linguísticas diferentes. Esses fatores são: 
contexto, emissor, mensagem, destinatário, contato e código. Gerando seis 
funções diferentes. 
 
Jakobson foi um dos grandes linguistas do 
século XX, estudando a estrutura e a utilidade da 
linguagem do ser humano. 
 
 
 Essas funções são: a função referencial, que é orientada para o contexto da 
comunicação, isto é, refere-se ao que está ao nosso redor, como a afirmação: 
“hoje faz frio.”. A função expressiva ou emotiva: está centrada no emissor, que 
declara a sua atitude afetiva sobre o assunto do qual está tratando, por exemplo, 
a poesia lírica ou os xingamentos. A função conativa: é orientada para o 
destinatário, invocando-o ou dando-lhe uma ordem. A função fática: tem por 
objetivo estabelecer, manter ou interromper a comunicação. Na função 
metalinguística: a mensagem discute o uso do próprio código, esclarecendo-o,como quando perguntamos o significado de uma palavra; também pode ser o 
caso de uma linguagem comentar outra linguagem, como a leitura de uma obra 
de arte. E, por fim, a função poética, que é aquela que visa à mensagem em si, 
colocando em evidência a sua própria forma. A mensagem poética ou estética é 
sempre estruturada de maneira ambígua em relação ao código, não se 
manifestando claramente. 
Essas funções não se apresentam separadamente em cada mensagem, mas 
combinam-se entre si. A diversidade das mensagens depende da hierarquização 
das várias funções, com predominância de uma sobre as demais. Considerando a 
linguagem do ponto de vista funcional, Jakobson dá conta não só dos aspectos 
cognitivos da língua, mas também de aspectos afetivos que fazem parte de quase 
toda situação comunicacional. 
Ampliando essas funções para outras linguagens, podemos dizer que tanto 
a linguagem da moda quanto as obras de arte expressionistas fazem uso da 
função expressiva. Já os manuais técnicos e todas as obras realistas apresentam 
uma preponderância da função referencial. A propaganda, as preces e a arte 
romântica estão centradas sobre o destinatário, tendo função conativa. A 
introdução de qualquer peça musical ou o apagar das luzes numa encenação 
teatral tem o objetivo de testar ou estabelecer o contato com o destinatário, 
realizando, portanto, a função fática. Quando fazemos uma paródia, estamos 
usando a função metalinguística; o mesmo acontece quando adaptamos um texto 
para o teatro ou cinema. Já a função poética necessariamente está presente em 
todas as obras de arte. 
Com isso, podemos responder à pergunta sobre a utilidade da linguagem: 
para nos comunicarmos com os outros seres humanos de hoje, passado e futuro; 
para expressar nossos afetos positivos ou negativos; para falar da realidade que 
nos circunda; para despertar uma reação no destinatário; para discutir o código 
que estamos usando ou outro qualquer; para reafirmar o contato com o outro, 
sem o que não haverá comunicação; e para fazer arte. 
Assim, como existem diversos tipos de linguagem, existem também 
diversos tipos de pensamento. Há o pensamento concreto, que se forma a partir 
da percepção sensível, ou seja, da representação de objetos reais, e é imediato, 
sensível e intuitivo; e o pensamento abstrato, que estabelece relações (não 
perceptíveis), que cria os conceitos e as noções gerais e abstratas, é imediato 
(precisa da mediação da linguagem) e racional. Quando somamos 4+4, estamos 
lidando com uma noção geral de quantidade, pois não encontramos o número 4 
na natureza, encontramos certa quantidade de laranjas, abacates, etc., 
representados abstratamente pelos números que são construção da nossa razão. 
Cada tipo de pensamento tem uma linguagem específica para representá-lo, 
como: o pensamento abstrato e conceitual, que se afasta do sensível, do 
individual, a língua se apresenta como condição necessária, por ser um sistema de 
signos simbólicos que, como já dissemos, nos permite ir além do dado vivido e 
construir um mundo de ideias. 
Se cada linguagem possui uma estruturação própria quanto ao repertório e 
às regras de combinação e de uso, isso resulta na afirmação de que cada 
linguagem organiza a realidade de modo diferente de outra, pois estabelece 
repertório e regras diferentes. O fato importante de ser ressaltado, entretanto, é 
que, se uma língua tem um maior número de palavras para recortar a realidade, a 
existência dessas palavras leva a uma percepção diferente da realidade. A língua 
influencia a percepção da realidade e os níveis de abstração e generalização do 
pensamento, outros tipos de linguagem, entretanto, em especial as linguagens 
artísticas, são mais adequados ao pensamento concreto, como, por exemplo, o 
pintor está mais ligado ao mundo visual das cores e formas do que ao mundo dos 
conceitos. 
Além de estruturar o pensamento, a linguagem mantém estreita relação 
com a cultura. Se, por um lado, as várias linguagens fixam e passam adiante os 
produtos do pensamento sob forma de ciência, técnica e artes, elas também 
sofrem a influência das modificações culturais. A reestruturação da linguagem 
responde a mudanças de valores, de anseios e de buscas no seio da cultura de 
cada sociedade. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
A linguagem é um produto bastante sofisticado que só a razão humana 
pode criar, sendo a linguagem simbólica a linguagem específica do ser humano. A 
estrutura dessa linguagem, adequando-se à cultura dentro da qual se desenvolve 
apropriadamente ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela 
permite que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo 
das ideias, da reflexão; permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no 
mundo das possibilidades. 
Nesta unidade, estudamos a estrutura que compõe a linguagem, como os 
diversos signos que constituem a base inicial para a formação simbólica que 
caracteriza a nossa linguagem verbal. Vimos, também, a importância do repertório 
linguístico e das regras de combinação, sendo que só podemos combinar a nossa 
linguagem literalmente se possuímos o domínio desses dois elementos. A 
linguagem aparece, aqui, ligada ao pensamento, gerando uma relação intrínseca 
entre os mais diferentes tipos de linguagem, com as diversas formas de 
pensamento, dando, por fim, a resposta da utilidade linguística para as nossas 
vidas, que é a comunicação com os humanos de hoje, do passado e do futuro, 
expressando as nossas diversas emoções e conhecimentos. 
 
 
UNIDADE 03 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O 
CONVENCIONALISMO DE PLATÃO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender as análises da linguagem antes do período analítico. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A linguagem sempre foi uma preocupação da maioria dos filósofos, pois é 
somente através dela que os filósofos podem passar os seus conhecimentos para 
as gerações futuras. Desde Platão, a linguagem assume uma grande 
preocupação, tornando-se um assunto especializado em seu livro Crátilo, onde o 
filósofo trata de questões relativas à relação entre os nomes e as coisas que os 
mesmos designam. 
Para o filósofo, os nomes na verdade correspondem às coisas, pois é uma 
espécie de imitação dos seres, porém a linguagem não é uma cópia perfeita, 
tendo como dever basear-se nos caracteres ou qualidades essenciais a serem 
imitadas, sem as quais os nomes seriam impossíveis. O modo natural de fazer os 
nomes, portanto, deve levar em conta o conhecimento do modelo, isto é, do ser, 
para se fazer a imitação. 
Com Aristóteles, o estudo da linguagem seguiu um caminho diferente dos 
estudos realizados por Platão; as palavras, para Aristóteles, representam alguma 
coisa que tem lugar no interior do homem. A linguagem simbolizaria aquilo que 
vai ao espírito, resultado do impacto do mundo sobre o homem, o modo como 
aquilo o afeta. Sendo assim, é necessário o desenvolvimento de uma ferramenta 
para que exista uma harmonia entre o pensamento e o mundo, a qual o filósofo 
nomeia de lógica e possui uma articulação racional do pensamento. 
Outro significativo discurso sobre a linguagem ocorreu na idade média 
com a questão dos universais. De um lado, os pensadores realistas que 
postulavam a existência de coisas exteriores a nós e independentes do que 
pensamos sobre elas. E, do outro lado, os pensadores nominalistas que afirmavam 
que nenhuma substância metafísica se esconde por trás das palavras: as pretensas 
essências não existem além de palavras ou signos que representam coisas sempre 
singulares. 
Platão (427 – 347 a.C.) nasceu em Atenas, pertencendo a uma das mais 
nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido à sua 
constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de 
ombros largos”. Platão foi discípulo de Sócrates, sendo que, depois da morte do 
mestre, o filósofoempreendeu inúmeras viagens num período em que ampliou 
seus horizontes culturais. Por volta de 387 a.C., retornou a Atenas, onde fundou 
sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo 
Academus. A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por 
intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, 
Platão. 
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é a sua teoria das 
ideias, com o qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. 
Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem 
progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e 
essências. Em Crátilo, o filósofo desenvolve seu conceito de linguagem e mostra 
os problemas existentes entre a linguagem e o mundo, questionando se essa 
relação entre a linguagem e o mundo se dá por meio de uma convenção ou de 
uma relação natural, que consiste na própria essência da palavra. 
Em sua análise, Platão divide a teoria da linguagem em dois lados: os 
convencionalistas e os naturalistas. Para o convencionalismo, a relação entre as 
palavras e o que os nomeiam (o objeto) se dá por meio de convenção: se alguém 
atribui um nome a alguma coisa, esse é considerado o seu nome correto; as 
palavras são como adesivos verbais que aplicamos aos objetos. Já no naturalismo, 
ao contrário, as palavras exprimem a essência dos objetos que nomeiam, ou seja: 
ao usarmos as palavras para nos referimos a algo, já estamos dizendo a própria 
coisa. 
Um dos maiores defensores da teoria convencionalista foi o filósofo 
Hermógenes (século V a VI a.C.) que sustentava que a relação entre as palavras e 
o objeto que elas nomeiam é estabelecida por uma convenção ou acordo, sendo 
que a origem do significado das palavras se deve ao hábito, pois alguém 
provavelmente no passado nomeou um objeto com determinada palavra. Essa 
prática foi sendo imitada por outras pessoas e, com o tempo, tornou-se hábito, 
vindo a fixar-se, por fim, em costume ou lei. Os nomes e as palavras adquirem 
seus significados, através de um acordo social, o qual é produto unicamente do 
hábito, por parte dos usuários de linguagem, de se referir a determinadas coisas 
com as mesmas palavras de forma constante. 
Segundo Platão, o convencionalismo defendido por Hermógenes seria uma 
generalização da concepção de batismo (colocar nomes nas coisas) para todas as 
outras espécies de palavras. O uso da palavra, segundo Hermógenes, se dá por 
meio de regras que são definidas pela convenção, sendo que não existe nada que 
vincule de forma necessária e não ambígua um nome a determinado objeto. Toda 
denominação é arbitrária, não segue nenhuma regra ou critério, a não ser o 
capricho de quem dá um nome a alguma coisa. Para Hermógenes, poderíamos 
até mesmo substituir, a qualquer momento, os nomes dos objetos por outros 
nomes, como, por exemplo, chamar de “caneta” aquilo que hoje nós chamamos 
de “cachorro”, pois as palavras são meros acidentes que possuem o significado 
que têm no momento. 
A crítica de Platão ao convencionalismo de Hermógenes consiste no 
pressuposto de que todo e qualquer nome é verdadeiro. Sócrates (personagem 
que Platão usa para expressar seus conceitos em seus livros) imediatamente 
associa essa tese com a afirmação dos sofistas de que o homem é a medida de 
todas as coisas. Para os sofistas, as coisas são para as pessoas tais como elas as 
percebem: toda sensação é verdadeira, como as nossas opiniões, que se baseiam 
nas sensações, única fonte de conhecimento; sendo assim, impossível falar de 
falso e contradizer. 
Se todas as opiniões são verdadeiras, então todos os homens seriam 
sábios, bons, virtuosos e não seria mais necessária a educação, pois todos teriam 
as suas opiniões tidas como verdade, já que as coisas são tais como cada um 
percebe particularmente. Para Platão, as coisas têm uma essência fixa, sendo 
possível dizer-se a verdade ou mentir, existindo discursos falsos e verdadeiros; o 
discurso verdadeiro só o é, se for verdadeiro nas partes; a menor parte do 
discurso é o nome e, como os nomes são partes do discurso, eles também podem 
ser verdadeiros ou falsos. 
Platão observa que nomear é um ato, e em todo ato realizamos algo, a 
função da linguagem divide-se em duas: de ensinar, isto é, comunicar algo sobre 
o mundo a outras pessoas, e de distinguir os seres, existindo critérios objetivos 
para o uso dos nomes. A função da linguagem é comunicar a verdade, os nomes 
devem referir-se às coisas que realmente existem e a características, nessas coisas, 
que realmente sejam tais como descritas. Nomear não é atribuir uma palavra, 
concebida como uma mera sequência de sons, a um objeto, mas descrever a 
essência de uma coisa. Aqui percebemos que, o nome não é apenas um rótulo 
arbitrário aplicado no objeto, mas tem uma função de descrever corretamente a 
essência, distinguindo-o das outras coisas. 
 
 
 
UNIDADE 04 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O 
NATURALISMO PLATÔNICO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender as análises da linguagem antes do período analítico. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Na teoria naturalista, o nome é uma representação, entendida mesmo 
como uma exibição da coisa nomeada. Dizer um nome de uma pessoa seria, 
então, como que apresentar à pessoa em questão o nome que é a sua imitação; 
os nomes manifestam, representam as coisas, por meio da semelhança com elas, 
e não por uma convenção casual, como acredita Hermógenes. No diálogo em 
Crátilo, Sócrates discute sobre a visão naturalista de Crátilo mostrando que, para 
ele, não há nomes mal aplicados, nem nomes melhores e piores do que outros: 
todos os nomes são corretos, bem atribuídos, ou não são nomes. Não podemos 
nem dizer que o nome seja mal aplicado ou errado, pois é impossível falar falso, 
assim, apesar de a posição de Crátilo ser diametralmente aposta à de 
Hermógenes, ele leva às mesmas conclusões do convencionalismo. 
Para escapar dessas contradições, Platão claramente separa nome e objeto: 
uma coisa é nome, outra coisa é o objeto que é nomeado pelo nome. 
Comparando com uma pintura, o filósofo diz que o nome seria como que uma 
imitação (mímesis) da coisa, como, por exemplo, um retrato de um homem, em 
relação a um homem que seria uma atribuição correta, ao contrário da relação 
entre o quadro do homem e uma mulher. Para que ocorra uma atribuição correta 
dos nomes, é necessário distribuir os elementos da mesma forma como os 
elementos correspondentes ao objeto se organizam, isto é, não se deve deixar 
nada faltar, nem acrescentar nada mais do que o contido no objeto. 
Todavia, um nome que deixe de fora aspectos relevantes do objeto, ou que 
acrescente coisas que não lhe pertencem, seria um nome mal produzido e mal 
atribuído, mas não deixaria, por isso, de ser um nome, uma imagem, uma 
imitação, embora precária, do objeto. O nome, para se referir a algo, não precisa 
ser uma duplicação exata do objeto: não é preciso representar todas as 
características do objeto, mas apenas as que são essenciais para a sua 
identificação. 
Se o nome contém todos os elementos essenciais, é bem-aplicado, e é um 
nome verdadeiro; se não, sendo mal estabelecido, é um nome falso. Assim, uma 
imagem não deixa de ser imagem de determinado objeto, se algo lhe é 
acrescentado ou diminuído (desde que não for algo essencial da representação 
do objeto); analogicamente, um nome não deixa de ser nome de algo, se 
acrescentamos ou retiramos letras que o compõem. Um nome que não seja 
adequadamente atribuído terá algumas letras que não apresentam a coisa, mas, 
ainda terá as necessárias para representar a coisa, e será o nome dessa coisa. 
 
 
Platão foi um dos primeiros filósofos a refletir 
sobre a função da linguagem. 
 
(Fonte: http://filosofiaocupada.com.br/2014/06/14/download-e-
book-platao-filebo-gorgias-teeteto-os-pensadores-midias/)A conclusão de Platão em Crátilo, é que não é possível determinar o 
significado das palavras por meio das outras palavras, pois, neste caso, qualquer 
palavra pode, mediante alterações adequadas em suas letras componentes, 
significar qualquer coisa. E também não é possível explicar o sentido das palavras 
derivando-as de outras palavras, pois adicionando, suprimindo ou transpondo 
letras, pode-se transformar qualquer palavra em qualquer outra e, desta forma, 
atribuí-la a qualquer coisa; isso significa que a linguagem também não tem fixidez. 
O ponto de Platão contra as duas teorias é que elas não explicam o fato de que 
nós podemos compreender o significado das palavras, independentemente da 
forma na qual elas são grafadas. 
O filósofo defende uma teoria proposicional da linguagem, na qual as 
ideias fazem papel do que metafísicos contemporâneos chamam de proposição. 
O conteúdo cognitivo que elas transmitem, isto é, seu significado, permanece 
constante, de certa forma, apesar de quaisquer alterações que os nomes sofram, 
resultando na afirmação de que as palavras não são, em si, portadoras de 
significado, mas transmissoras dele. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Para refletir sobre o assunto, apresento um excerto do artigo do 
pesquisador Rogério Santos dos Prazeres sobre o naturalismo platônico.1 
O Crátilo de Platão é a referência fundamental para encetar reflexões sobre 
a linguagem, e em mais específico, sobre a semântica. Nele está o embasamento 
do raciocínio moderno, em que se possibilitou aperfeiçoar abordagens da 
linguística contemporânea, de Saussure a Chomsky, e contributos 
interdisciplinares relevantes ao estudo da linguagem ou, contemporaneamente, a 
crítica da linguagem. Isso porque o logos, conforme Auroux, em Heráclito, 
“designa tanto a expressão do pensamento humano quanto o princípio que 
determina o devenir cósmico”, a tese da instabilidade de todas as coisas. 
O modo dialético em que Platão expõe o debate acerca da realidade e a 
correspondência entre os enunciados no Crátilo inquieta pela busca da verdade. 
Por isso, ao se considerar a relação pensamento e linguagem, pode-se concluir 
uma epistemologia vinculada a esta relação, cujo intuito primário é trazer à tona a 
verdade. Trata-se de uma elucidação da análise do que é percebido e o seu 
significado, “o exprimido, cujo sentido só é acessível por um contato direto e que 
                                                            
1 Disponível: <http://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/view/15692/11759>, acesso em: 22/10/2014. 
irradia a sua significação sem abandonar o temporal e o espacial”, 
contextualizados na conexão existente entre linguagem e conhecimento. Com isso 
“não há então nada de espantoso que em Platão, por várias vezes, no Théétète 
(189e), no Sofiste (263e) e no Philèbe (38c) identifique-se o logos e a dianoia, isto 
é, o pensamento” propriamente dito. 
É justamente a linguagem que nos arremete a uma teoria do conhecimento 
platônica no Crátilo, ao se tratar da verdade nos enunciados. A esse respeito, há 
no Crátilo um dispositivo dialético que alterna perguntas e respostas entre os 
interlocutores Crátilo, Hermógenes e Sócrates, embora as argumentações estejam 
estabelecidas a cargo, principalmente, de Sócrates. 
Distinguem-se no texto de Platão duas partes. Isto é, um colóquio entre Sócrates 
e Hermógenes; e outro, entre Sócrates e Crátilo. “Na primeira parte, combate-se a 
tese de Hermógenes a partir de uma análise minuciosa dos elementos da 
linguagem; mas na segunda parte, o diálogo se detém mais na tese de Crátilo”. 
Em ambos os casos, “em termos saussurianos, a questão é saber se o signo 
linguístico é arbitrário”. Então se submete à apreciação duas proposições que 
desencadeiam investigações sobre a reprodução da essência do objeto no nome, 
primadas em duas vertentes: a convencionalista (387 d); e a naturalista (390 e). 
 
 
UNIDADE 05 - A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender a análise linguística realizada por Aristóteles. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Aristóteles 
Aristóteles (384 – 322 a.C.) nasceu em Estagira, na Macedônia, foi um dos 
mais importantes filósofos gregos da Antiguidade. Filho de Nicômaco, médico do 
rei da Macedônia, aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de 
Platão, onde permaneceu por cerca de vinte anos, tendo uma atuação 
crescentemente expressiva. Com a morte de Platão e a colocação de outro 
filósofo para dirigir a Academia, Aristóteles, decepcionado com o episódio, deixou 
a Academia e partiu para Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345 
a.C. Pouco tempo depois foi convidado pelo rei Felipe II, rei da Macedônia, para 
ser professor de seu filho Alexandre, o que se estendeu até 340 a.C., quando 
Alexandre assume a direção do império Macedônico. 
Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundando sua 
própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu. Em 323 a.C., 
após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande 
intensidade em Atenas. Devido à sua notória ligação com a corte macedônica, 
Aristóteles passou a ser perseguido, refugiando-se em Cálcis, na Eubeia, até a sua 
morte, em 322 a.C. Apaixonado por biologia, dedicou inúmeros estudos à 
observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a 
elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir 
de ferramenta do raciocínio. 
Ao analisar a linguagem, Aristóteles diz que as palavras são símbolos de 
carismas da nossa alma. A relação de símbolos se refere à relação entre os sons 
da voz e as modificações da alma; assim como relação entre os caracteres da 
escritura e as expressões vocais, os sons incluem nomes, verbos, o discurso e suas 
formas. No pensamento de Aristóteles, a linguagem não é mais vista como o 
princípio da união total que liga a palavra ao ser, mas sim como símbolo de um 
estado psíquico, o que equivale a dizer que a relação da linguagem com o ser não 
é imediata. 
Estando ciente da diversidade da língua, Aristóteles reconhece que as 
palavras não são significantes por elas mesmas, pois, se fossem, não haveria mais 
que uma única língua para todos os homens. Como a palavra é símbolo de um 
estado psíquico e como este último é uma imagem das coisas reais, a linguagem 
não tem qualquer relação de semelhança com as coisas. Ao fazer uma 
contraposição à teoria da linguagem dos sofistas, afirmando a impossibilidade 
factual de uma ligação natural e imediata entre as palavras e as coisas, tem-se 
que, para os sofistas, existia uma relação, ainda mediata, da linguagem com a 
realidade. 
 
 
Aristóteles organizou um estudou sistemático sobre a linguagem 
e sua função. 
 
 
 
 
 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles) 
 
A linguagem para Aristóteles representa símbolos de carismas da nossa 
alma, e não tem qualquer relação de semelhança com as coisas. 
As coisas relativas às vozes não se restringem apenas à convenção, que 
podemos chamar também de vozes significativas ou símbolos. Podemos 
reconhecer em Aristóteles algo que chamaremos de vozes significativas não 
convencionais, que são sons inarticulados, como aqueles dos animais brutos; eles 
exprimem alguma coisa, sendo que nenhum deles é um nome. Temos, assim, por 
um lado, o som natural e não articulado e, por outro, o som convencional e 
articulado. As palavras, ou vozes significativas convencionais são compostas, e 
suas partes não são por si só significativas, são também sons vocais desprovidos 
de sentido que poderíamos chamar de vozes não significativas. 
A significação das palavras se deve ao fato de serem constituídas por 
certa estrutura articulada, absolutamente convencional. Embora Aristóteles afirme 
que a linguagem é um conjunto de símbolos ou vozes significativas 
convencionais, reserva um espaço para asvozes não convencionais. O caráter 
simbólico da linguagem se apresenta nos discursos, que reenvia os carismas da 
alma, relacionando-se mediatamente com os símbolos. Aristóteles também define 
a linguagem como signo, pois manifesta ou evidencia alguma coisa que não é ele 
próprio, como, por exemplo, a fumaça é signo de fogo, porém, a linguagem, 
enquanto simbólica e convencional, não pode ser identificada com a totalidade 
dos signos, pois muitos destes se relacionam real e naturalmente com aquilo que 
são signos. Se a linguagem enquanto símbolo é signo, é porque, constituindo-se 
como uma voz significativa convencional, evidencia ou manifesta estados 
psíquicos. Assim, a linguagem não manifesta as coisas, mas as significa. O símbolo 
é, portanto, um signo convencional; todavia, a significação dos nomes não 
prejulga a existência ou a inexistência das coisas; não é juízo, pois faz a abstração 
da existência ou inexistência da coisa significada. A verdade passa a adquirir uma 
conotação de similitude, pois os discursos verdadeiros são semelhantes às 
próprias coisas, sendo verdadeiro quando revelarem conexões que existem 
realmente nas coisas e falsos no caso contrário. 
O discurso se assemelha às coisas não na medida em que é discurso, mas 
na medida em que reflete conexões reais, isto é, na medida em que é verdadeiro. 
O ato de estabelecer ligações entre os termos não pertence propriamente à 
linguagem: as conexões possuem um estatuto psíquico; revelam-se nas afecções 
psíquicas, sendo que o intelecto é capaz de receber as formas inteligíveis e 
estabelecer as relações entre os universais. É verdadeiro não tanto enquanto 
símbolo convencional, mas na medida em que é signo imediato de um carisma 
semelhante a algo real, manifestando imediatamente esta similitude (carisma) e 
mediatamente a coisa existente. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Para um melhor aprofundamento, apresento um excerto retirado do site 
Filosofando, sobre a linguagem em Aristóteles.2 
Na Filosofia Antiga, Pitágoras, Demócrito e Empédocles trataram da 
origem da linguagem entendendo que a mesma é o espelho imediato das coisas 
– natureza ou divindade -. As mesmas (natureza ou divindade) expressam, 
mostram, a linguagem. Demócrito, cf. Cassirer (1977: 183), (...) foi o primeiro a 
propor a tese de que a linguagem humana se origina de certos sons, de caráter 
puramente emocional. Cassirer (op. cit., p. 178) reporta-se ao princípio 
cosmológico do ser de Heráclito quando diz: O logos transforma-se no princípio 
do universo e no primeiro princípio do conhecimento humano. Ou seja, a palavra 
é o princípio da existência do ser, porque sustenta o ser, continua Cassirer (op. cit., 
p. 179): Mesmo no pensamento de Heráclito, a palavra, o Logos, não é 
simplesmente um fenômeno antropológico. Não está confinado nos estreitos 
limites do mundo humano, pois possui verdade cósmica universal. 
                                                            
2 Disponível: < http://filosofando.no.comunidades.net/index.php?pagina=1351052977_04> , acesso em: 
20/12/2014. 
[...] Na vida ateniense do século V, a linguagem se tornara instrumento 
para propósitos práticos definidos e concretos, sendo a mais poderosa das armas 
nas grandes lutas políticas. Sem ela ninguém poderia esperar desempenhar um 
papel importante. [...] 
Para Aristóteles, a linguagem é instrumento do pensamento e tem como 
função representar as coisas. As coisas passam a existir, diz Aristóteles, à medida 
que a nomeamos. De acordo com Aristóteles, a linguagem é natural na sua 
função e convencional na sua origem. Ou melhor, a linguagem está presente na 
natureza humana no seu aspecto funcional de representar as coisas para 
intrumentalizar o pensamento; e no aspecto de sua origem, ela é convencional. A 
partir da necessidade intrínseca funcional da linguagem é que o homem inventa a 
mesma num contexto sócio-cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 06 - A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Analisar como a linguagem foi estudada no período medieval. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A questão dos Universais. 
No período escolástico (IX ao XVI d.C.), a busca de harmonização entre a fé 
cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. 
Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a 
referência às questões teológicas, a escolástica trouxe significativos avanços no 
estudo da lógica. E ocorreu por meio de Boécio que aperfeiçoou o quadrado 
lógico, sistema de relações entre afirmativas, que fornece a base lógica para 
garantir a validade de certas formas elementares de raciocínio. Também foi o 
primeiro a introduzir a questão dos universais, problema filosófico longamente 
discutido por todo período da escolástica. 
O método escolástico de investigação privilegiava o estudo da linguagem (o 
trivium), para depois passar para o exame das coisas (o quadrivium). Desse 
método surgiu a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas? 
Por exemplo: rosa é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa 
continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma 
ideia geral. Mas como isso acontece? 
O grande inspirador da questão foi o filósofo neoplatônico Porfírio (234 – 
305), em sua obra Isagoge. Era grande discussão sobre a existência ou não das 
ideias gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles. A relação entre as 
coisas e seus conceitos envolvia não apenas problemas linguísticos e 
gnosiológicos, mas também teológicos, surgindo duas posições antagônicas: o 
realismo e o nominalismo. O realismo sustentava a tese de que os universais 
existiam de fato, ou seja, as ideias universais existiram por si mesmas. Assim, por 
exemplo, a bondade e a virtude seriam modelos ou moldes a partir dos quais se 
criariam as coisas boas. Os termos universais seriam entidades metafísicas, 
essências separadas das coisas individuais. 
O abade Beneditino e o arcebispo de Cantuária (cidade inglesa) Santo 
Anselmo (1035 – 1109) são exemplos de filósofos que defendiam o realismo, eles 
acreditavam que as ideias universais existiriam na mente divina. O filósofo e bispo 
francês Guilherme de Champeaux (1070 – 1121) também era realista e acreditava 
que entre o universo das coisas e o universo dos nomes havia uma analogia tal 
que quanto mais “universal” fosse o termo gramatical, maior seria o seu grau de 
participação na perfeição original da ideia. Desse modo, por exemplo, o 
substantivo brancura teria uma perfeição maior do que o adjetivo branco, que se 
refere a um ente singular. Na mesma linha de raciocínio de Platão, o conceito 
brancura seria mais perfeito do que qualquer coisa branca existente. 
O nominalismo sustentava a tese de que os termos universais, tais como 
bondade e virtude, não existiam em si mesmo, pois seriam apenas palavras sem 
uma existência real. Para os nominalistas, o que existe são apenas os seres 
singulares e o universal não passa, portanto, de um nome, de uma convenção. O 
filósofo francês Roscelin de Compiègne (1050 – 1120) foi um dos principais 
pensadores nominalistas: ele fala que só existiria a individualidade, logo se anulam 
os termos universais. Roscelin também negava que Deus pudesse ser uno e trino 
ao mesmo tempo, porque, para ele, cada pessoa da trindade seria uma 
individualidade separada. 
Entre essas duas posições contrárias, surgiu uma terceira, o realismo 
moderado, sustentado por Pedro Abelardo (1079 – 1142): segundo o filósofo, só 
existem as realidades singulares. No entanto, é possível que se busquem 
semelhanças entre os seres individuais, através de abstração, de tal maneira a 
gerar os conceitos universais. Tais conceitos não seriam, de acordo com Abelardo, 
nem entidades metafísicas (posição do realismo), nem palavras vazias (posição do 
nominalismo), e sim discursosmentais, categorias lógico-linguísticas que fazem a 
mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser. 
A importância da questão dos universais está não só no avanço que essa 
discussão possibilitou em relação à busca do conhecimento da realidade, mas 
também porque, através dela, se alcançou um alto nível de desenvolvimento 
lógico-linguístico, que propiciou o surgimento de uma razão autônoma em 
relação à teologia, por volta do século XII. 
 
 
Pedro Abelardo fez uma síntese das duas correntes da 
disputa dos universais da sua época, criando, assim, o 
realismo moderado, em que mostra a possibilidade de 
encontrar nos seres individuais os conceitos universais. 
 
 
 
 
(http://dosefilosofia.blogspot.com.br/2011/11/abelardopedro.html) 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Para uma melhor compreensão, apresento um texto que fala sobre a obra 
do filósofo medieval Pedro Abelardo.3 
Pedro Abelardo (1079 - 1142) 
A frase "a dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a 
verdade" é um dos princípios de Abelardo que direciona tanto seus pensamentos 
filosóficos como teológicos. O filósofo parte dessa idéia inicial para formar e 
                                                            
3 Disponível: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/41/artigo158680‐1.asp>, acesso em: 
20/12/2014.  
fundamentar o seu raciocínio crítico. A dúvida é onde começa o caminho para a 
pesquisa, é uma frequente interrogação que nos leva a um exame mais 
aprofundado das questões que nos interessam. Através da dúvida o filósofo 
Abelardo emprega um caráter científico às suas investigações. 
A dialética é para Abelardo muito mais do que um discurso feito de forma 
habilidosa, ela é o instrumento que ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro do 
falso. Seguindo regras lógicas ela vai conseguir determinar se o discurso científico 
é verdadeiro ou é falso. Abelardo pretende utilizar o vigor da dialética nos 
estudos e nas argumentações teológicas para descobrir quais são os argumentos 
legítimos e quais são os argumentos não autênticos e através dela fazer 
prevalecer as verdadeiras doutrinas cristãs. Não é a razão que vai assimilar a fé, 
mas a fé que vai apropriar-se da razão, pois o discurso filosófico não vai tornar 
sem efeito o conjunto de sentenças da teologia, mas vai auxiliar no seu 
entendimento e torná-lo mais fácil de compreender. A filosofia vai ser a 
mediadora entre as verdades reveladas e o pensamento humano. Segundo a 
filosofia de Abelardo, não é possível crer nas coisas que não se compreende. 
O método lógico de análise utilizado por Abelardo consistia em estudar a 
questão filosófica fazendo um exame das partes que a constituem, percebendo 
assim os diversos pontos de vista incoerentes e contrários. É necessário a 
realização de uma investigação completa que vai determinar as diferenças entre 
as argumentações de um tema. A razão vai prevalecer sobre a opinião de quem 
tem grande entendimento sobre determinado assunto. Abelardo não vai contra a 
utilidade do pensamento de uma autoridade enquanto não houver meios ou 
conhecimentos suficientes para se colocar em prática a razão. A partir do 
momento que a razão encontrar condições de por si mesmo encontrar a verdade, 
a autoridade passa a ser inútil. 
 Abelardo busca fazer uma conciliação, um entendimento, um acordo ou 
ao menos um diálogo ente os primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias 
teológicas do cristianismo. Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos, 
mesmo estando fora do cristianismo, buscavam também a verdade através da 
investigação lógica. Os primeiros filósofos e os filósofos cristãos estão unidos pela 
razão. 
A essência de Deus é impossível de ser definida, pois ela não pode ser 
expressa. E não pode ser expressa porque para isso Deus teria que ser uma 
substância, e Deus está fora de todas as coisas que conhecemos e que possamos 
vir a conhecer. Para tentar explicar a trindade da pessoa divina Abelardo usa 
como metáfora a gramática que diferencia quem fala, para quem se fala e o que 
se fala. Na unidade divina as três pessoas podem ser uma só, pois é possível falar 
de si a si mesmo. A primeira pessoa é também o fundamento das outras duas, 
pois se não existir quem fala não existirá também o que se fala e a quem se fala. 
Sobre as questões éticas Abelardo afirma que o pecado não é em si a 
ação física, mas o elemento psicológico dessa ação, ou seja, o pecado é a 
intenção de pecar e não a ação. 
 
 
 
UNIDADE 07 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender as análises da linguagem realizada pelo filósofo Bertrand 
Russell. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Bertrand Arthur William Russell nasceu em 18 de maio de 1872, em 
Ravenscroft, nas proximidades de Tintern, em Monmouthshire. Depois da morte 
precoce dos seus pais, foi acolhido na casa de sua avó, recebendo uma educação 
inicial de preceptores particulares agnósticos; aprendeu perfeitamente o francês e 
o alemão e, na biblioteca de seu avô, adquiriu gosto pela história e descobriu a 
geometria de Euclides, encantando-se pelo rigor e clareza da matemática. 
Boa parte de sua vida foi influenciada pelo pensamento idealista dos 
alemães Kant e Hegel, somente com as discussões com o seu amigo e 
companheiro acadêmico Moore, aconteceu a transformação, libertando-se das 
cadeias do idealismo e voltando-se à trilha tradicional do empirismo da filosofia 
inglesa. Entre 1899 – 1900, o filósofo desenvolve uma filosofia do atomismo lógico 
e a técnica de Peano na lógica matemática; o atomismo lógico pretendia ser uma 
filosofia que unia o empirismo radical a uma lógica astuta, sendo que a lógica 
oferecia as formas-padrão do raciocínio correto e o empirismo oferecia as 
premissas, que são proposições atômicas ou proposições complexas, construídas 
a partir das primeiras. 
A proposição atômica descreve um fato, afirmando que uma coisa tem 
qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações. Um fato atômico é o 
que torna verdadeira ou falsa uma proposição atômica, por exemplo: “Sócrates é 
ateniense.” - é uma proposição atômica, que expressa o fato de Sócrates ser 
ateniense. Em outro exemplo, “Sócrates é ateniense e marido de Xantipa.” - é uma 
proposição complexa ou molecular, pois une uma ou duas proposições atômicas. 
Com o seu livro Princípios da Matemática (1903), a preocupação do 
filósofo é mostrar, em primeiro lugar, que toda a matemática procede da lógica 
simbólica, depois de descobrir, tanto quanto possível, quais são os princípios da 
lógica simbólica. Para desenvolver as suas concepções filosóficas, Russell estuda o 
pensamento do filósofo e lógico alemão Gottlob Frege, de que ele tira 
importantes reflexões para dar continuidade à sua obra. Analisaremos, agora, os 
principais conceitos desse filósofo, para dar um maior entendimento ao 
pensamento de Russell. 
Antes de Frege, a lógica se estabelecida baseava-se basicamente no 
sistema aristotélico, que permaneceu inalterado até o século XIX. Porém, os 
estudos realizados por Gottlob Frege (1848 – 1925) resultaram em consequências 
que derrubariam a concepção aristotélica de lógica e provocariam um 
desenvolvimento revolucionário nessa disciplina. Segundo o filósofo, a lógica não 
são as “leis do pensamento”, aliás, nada têm a ver com pensamento, as relações 
lógicas são independentes do pensamento humano. O ser humano pode 
conhecer a lógica, aprendê-las, desconsiderá-las, entendê-las erradamente, mas 
podemos fazer tudo isso com muitas outras coisas que existem 
independentemente de nós. O principal na filosofia de Frege é saber se as 
proposições lógicas são verdades objetivas ou não. 
Podemos aprendê-las, ou deixar de aprendê-las, mas sua existência nada 
tem a ver com qualquer aspecto do pensamento humano. Desde Descartes, a 
filosofia ocidental fora dominada pela pergunta:“O que posso saber?” A teoria do 
conhecimento estivera no centro; e isso passou a significar que o que acontecia 
nas mentes das pessoas era o principal tema de investigação. Mas a ideia de 
Frege teve a consequência de despsicologizar a filosofia. Se o que vem ao caso e 
o que decorre disso é independente da mente humana, então nossas tentativas 
de entender o mundo não podem legitimamente centrar-se na teoria do 
conhecimento. 
A filosofia, para Frege, deve se basear na lógica e não na teoria do 
conhecimento; e o trabalho do filósofo acelerou mudanças nessa direção que 
seguiram incontroláveis em várias das principais áreas da filosofia ao longo do 
século XX. Com isso, Frege inicia um estudo minucioso a respeito do nosso 
entendimento da matemática, os argumentos e demonstrações matemáticos, 
como todos os outros argumentos e demonstrações, têm, a partir de algum lugar, 
de contar com algumas premissas; e também têm de ter, pelo menos, uma regra 
de procedimento se quiserem ir além de suas premissas. Como não é possível 
para uma demonstração provar a validade de suas próprias premissas, ou de suas 
próprias regras de procedimento, pois resultaria em um circulo vicioso, isso 
significa que toda demonstração matemática parte de premissas não provadas e 
usa regras de procedimento cuja validade ela não estabelece. 
O que uma “prova” matemática válida realmente prova é que, dadas tais 
regras de procedimento, tais conclusões decorrem de tais premissas. Ela não 
prova que as conclusões sejam verdadeiras, porque não pode provar que as 
premissas são verdadeiras; isso se aplica em todos os argumentos e 
demonstrações matemáticos sem exceção. Toda a matemática tem ser vista como 
flutuando livre no ar, sem nenhuma base de apoio visível. Estudando aritmética, 
Frege visava mostrar que todas as suposições e regras não poderiam ser 
derivadas dos mais elementares princípios da lógica. Isso tem como consequência 
a validação da matemática como um corpo de verdades necessárias derivadas de 
premissas puramente lógicas. 
A meta para Frege era estabelecer a matemática em funções sólidas; mas 
esse programa teria dois conjuntos de efeitos secundários que foram, ambos, de 
importância histórica. Continham toda a matemática dentro de si, como uma 
consequência necessária: seria tão verdadeiro dizer que a lógica era parte da 
matemática quanto dizer que a matemática era parte da lógica, transformando o 
estudo da lógica em um campo vasto e altamente técnico que se sobrepõe ao da 
matemática. Outro efeito secundário foi que, se a matemática era paralela à 
lógica, então a despsicologização da lógica automaticamente implicava a 
despsicologização da matemática. 
A matemática teve, ao longo da sua história, uma disputa entre os que 
viam ela como um produto puramente mental, como a linguagem, e os que a 
viam como tendo uma existência própria independente. Na visão de Frege, essa 
disputa se concluiria em favor da segunda opinião. Com Frege, Russell considera a 
matemática como a redução da lógica, que não existem conceitos típicos da 
matemática que não possam ser reduzidos a conceitos lógicos e, que, com maior 
razão, não existem procedimentos de cálculo e de derivação dentro da 
matemática que não possam ser resumidos em derivações de caráter puramente 
formal. 
Russell sustenta também o modelo realista da matemática proposto por 
Frege, existindo independente do sujeito que a pensa: existe e é sempre 
verdadeira. Porém, Russell se distancia de Frege ao propor a teoria das descrições 
(1905), dizendo que, embora algumas expressões indiquem a mesma coisa, dizem 
coisas diferentes. O filósofo distingue o sentido e o significado ou, em outros 
termos, a conotação e a denotação. As duas expressões têm o mesmo significado 
ou a mesma denotação, ou seja, indicam o mesmo objeto, ao passo que o seu 
sentido ou conotação, isto é, o que dizem desse objeto, é diferente. 
Para evitar os becos sem saída e os enigmas a que expressões 
denotativas levam, o filósofo propôs uma análise que visava a fazer desaparecer 
tais expressões, eliminando também qualquer razão de crer que o objeto por ela 
indicado tenha algum tipo de existência. Nas reconstruções realizadas por Russell, 
desaparecem as expressões denotativas e desaparecem as formas o verbo “existir” 
e do verbo “ser” em função de não ligação. Russell pensava em eliminar os 
paradoxos metafísicos da “existência” e os paradoxos dos não existentes. Em 
suma, a teoria das descrições de Russell afirma essencialmente que as expressões 
denotativas são incompletas, ou seja, são incapazes de ter significado por si sós e 
se distinguem claramente dos nomes próprios. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Sendo um grande analista da linguagem, Russell submeteu ao 
“microscópio da lógica” toda a série de questões filosoficamente relevantes e 
frequentemente difíceis e complicadas. Sempre se preocupando com a relação 
que a linguagem deve ter com os fatos, analisando o conhecimento válido, tendo 
sempre em mente os limites do empirismo, Russell critica o pragmatismo e 
também a corrente neopositivista por terem esquecido que o objetivo das 
palavras é o de se ocupar de coisas diferentes das palavras. Todavia, o seu maior 
ataque foi o seu próprio discípulo que, com o tempo, mudou radicalmente de 
visão a respeito da linguagem, condenando severamente o “segundo” 
Wittgenstein e a filosofia da linguagem desenvolvida por ele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 08 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD 
(PARTE II) 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender as análises da linguagem realizada pelo filósofo Alfred 
North Whitehead. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Alfred North Whitehead. 
Alfred North Whitehead nasceu em Ramsgate, no Kent, em 1861. Sem 
deixar de lado as línguas clássicas e a história, dedicou-se ao estudo da 
matemática. Junto com Russell, escreveu Princípios da matemática (1910 – 1913), 
ensinou matemática em Cambridge e depois em Londres até 1924. Nesse ano, 
aposentou-se como professor de matemática, mas, ao mesmo tempo, foi 
chamado para ensinar filosofia na Universidade de Harvard. Deu aula até 1937, 
morrendo em 1947. 
O projeto filosófico de Whitehead era construir uma metafísica ou visão de 
mundo que se baseasse, se entrelaçasse e estivesse em mútua relação com as 
generalizações mais avançadas das ciências. A relação existente entre filosofia e 
ciência é uma relação mútua em que uma ajuda a outra; a filosofia trabalha pela 
concordância das ideias que aparecem ilustradas pelos fatos concretos do mundo 
real. O sistema filosófico deve esclarecer os fatos concretos que a ciência 
contempla, e as ciências devem encontrar seus princípios nos fatos concretos que 
o sistema filosófico apresenta. 
A ciência pode apresentar fatos invencíveis e obstinados que por muitas 
vezes contrariam e se chocam com as generalizações filosóficas, ao passo que, 
por outro lado, vemos que as instituições filosóficas se transformam em métodos 
científicos, e que o ofício próprio da filosofia é o de desafiar as meias verdades 
que constituem os princípios da primeira ciência. A visão “orgânica” é a finalidade 
a que essa relação recíproca tende a chegar. O universo e a vida são, segundo o 
filósofo, um processo no espaço e tempo, sendo que nós não experimentamos 
substâncias e qualidades, mas muito mais um processo constituído pela 
incessante verificação de eventos uns em relação com os outros. 
A ideia de substância, de matéria inerte e de tempo e espaço absoluto 
eram conceitos da física newtoniana, mas é a física contemporânea que nos força 
a abandonar tais categorias e a falar de acontecimentos em um constante 
processo. Assim, o universo inteiro não é mais uma coisa estática, mas um 
processo. Ele não é uma máquina, mas um organismo, onde o sujeito não é como 
pretendem os idealistas, o ponto de partida do processo, e sim umponto de 
chegada, no sentido de que a autoconsciência é aquele acontecimento bastante 
raro que se realiza a partir de outro conjunto de acontecimentos que é o corpo 
humano. 
O universo é um organismo que não se esquece do passado; pelo 
contrário, condiciona a criação de sínteses sempre novas, que são potencialidades 
e possibilidades que o processo da realidade seleciona e realiza. Desse modo, o 
processo é permanência e emergência, que Whitehead chama a totalidade dos 
objetos eternos de Deus. Deus é o princípio da realidade concreta, vive no 
processo, cresce em conjunto com o universo; como natureza originária, Deus é a 
harmonia de todos os valores; como natureza consequente, é a realização do 
valor no processo. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
Depois de um bom tempo no idealismo alemão, o filósofo Russell se liberta 
desse tipo de pensamento, voltando-se para os estudos empíricos da tradição 
inglesa. Com o seu conceito de atomismo lógico, em que ele funde o empirismo 
radical com uma lógica astuta, o filósofo pretende descrever os fatos, afirmando 
que uma coisa tem qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações. 
Com o seu livro Princípios da Matemática (1903), Russell mostra que toda lógica 
matemática pode se reduzir a formas lógicas da linguagem; com isso, a 
objetividade tão procurada pelos seres humanos se torna algo possível, pois a 
lógica matemática é capaz de captar essa objetividade. 
Esse estudo só foi possível, graças às pesquisas do filósofo alemão Gottlob 
Frege, que propõe uma revolução no campo lógico, campo que permaneceu 
quase inalterado desde a lógica aristotélica. Para o filósofo, a filosofia deve se 
basear na lógica e não nas teorias do conhecimento, pois ela não é totalmente 
objetiva. Desde Descartes, o sujeito é a base para o conhecimento. Só a 
matemática pode fornecer a prova válida para as ciências e para as funções mais 
sólidas do ser humano. 
Russell sustenta esse modelo de Frege da lógica matemática, mas se 
distancia dele, ao propor a teoria das descrições, onde separa o sentido do 
significado, afirmando que o mesmo objeto pode ter várias expressões, porém o 
sentido de cada significado é diferente. Russell se tornou um grande analista da 
linguagem, atuando como um selecionador de questões filosoficamente 
relevantes e frequentemente difíceis e complicadas. Critica as correntes 
pragmatistas e a filosofia da linguagem desenvolvida pelo seu próprio discípulo 
em sua segunda fase, que propõem um estudo da linguagem da vida cotidiana, 
ignorando os princípios lógicos e matemáticos. 
 
Bertrand Russell. 
(http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/jan/06/bertrand-russell-everyday-value-of-philosophy) 
 
 
 Alfred North Whitehead 
(http://www.iep.utm.edu/whitehed/) 
 
E, por último, vimos o pensamento de Alfred N. Whitehead, grande 
colaborador de Russell: em sua obra central, Whitehead se preocupa com a 
questão da reciprocidade da ciência e da filosofia, construindo, assim, uma 
metafísica na qual as duas se cooperam mutuamente para a construção de um 
conhecimento forte e seguro. Para o filósofo, a visão do mundo mudou, passando 
de uma visão "mecânica" para uma visão "orgânica", onde o universo seria um 
organismo que está em um constante processo, sendo Deus o princípio da 
realidade concreta, a natureza originária. 
 
 
UNIDADE 09 - WITTGENSTEIN E O AUGE DA FILOSOFIA ANALÍTICA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender o estudo da linguagem realizado pelo filósofo Ludwig 
Wittgenstein. 
Discípulo de Russell em Cambridge, mestre de escola elementar, de 1920 a 
1926, a partir de 1930, tornou-se docente de filosofia em Cambridge, Ludwig 
Wittgenstein (1889 – 1951), descendente de uma das mais importantes famílias 
vienenses, influenciará fortemente os neopositivistas do Círculo de Viena, com o 
seu grande livro: Tractatus logico-philosophicus (1921). 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Ludwig Wittgenstein nasceu em Viena, em 1889. Encaminhado pelo pai 
(dono da indústria de aço no império dos Hasburgos) para estudar engenharia, 
inscreveu-se na Tchnische Hochschule de Berlim-Charlottenburg (1906 – 1907), 
transferindo-se posteriormente para a faculdade de Engenharia de Manchester, 
onde conheceu G. Frege, que o aconselhou ir para Cambridge estudar 
fundamentos da matemática, sob a guia de Russell. Em 1914, com o início da 
Primeira Guerra Mundial, alistou-se como voluntário no exército austríaco. Preso 
em 1918, passou quase um ano no campo de prisioneiros de Cassino e, em 1919, 
foi libertado, encontrando-se na Holanda com Russell para discutir o trabalho que 
seria publicado em 1921, com o título proposto por Moore, de Tractatus logico-
philosophicus. 
Em Tractatus, a teoria da realidade corresponde à teoria da linguagem, ela 
é uma representação projetiva dos fatos. O pensamento representa ou espelha a 
realidade, sendo que a cada elemento constitutivo do real corresponde outro 
elemento no pensamento; a realidade consta de fatos que se resumem em fatos 
atômicos, compostos por seu turno de objetos simples. A linguagem é formada 
de proposições complexas (moleculares), que podem ser divididas em 
proposições simples ou atômicas (elementares), não ulteriormente divisíveis em 
outras proposições. A proposição atômica é a menor entidade linguística da qual 
se pode proclamar o verdadeiro ou o falso. O fato atômico é o que torna 
verdadeira ou falsa a proposição atômica. O fato molecular é uma combinação de 
fatos atômicos que torna verdadeira ou falsa uma proposição molecular. 
Desse modo, a teoria do Tractatus define-se como uma forma de 
representação daquilo que existe de comum entre a figuração e o afigurado e a 
possibilidade de que as coisas no mundo estejam relacionadas, como o estão os 
elementos da figuração. Embora uma sentença possa afigurar a realidade, ela não 
é capaz, no entanto, de fazê-lo no que respeita à sua própria forma de 
representação, essa forma lógica existente em todas as figurações não podem ser 
afigurada por nenhuma figuração. Pois se isso acontecer, irá cair em uma 
regressão ao infinito, ou seja, seria necessário supor uma segunda linguagem que 
representaria a primeira, e assim sucessivamente. 
Em Tractatus, Wittgenstein acreditava que as palavras e a realidade 
compartilham a mesma lógica, sendo possível uma representação da realidade 
por meio da linguagem. 
As proposições e a linguagem em geral repousam na noção de “nome”, 
que é o signo simples empregado nas sentenças. Além de o nome ser um signo 
simples, deve satisfazer a outra exigência, que é a de representar uma coisa 
simples, o nome, que o filósofo chama de “objeto”. Os objetos, no Tractacus, são 
concebidos como absolutamente simples, e não simples apenas em relação com 
algum sistema de notação; os objetos formam a substância do mundo, e por isso 
mesmo não podem ser compostos; a substância é o que subsiste 
independentemente do que ocorrer; o fixo, o subsistente e o objeto são um só, 
enquanto que a configuração constitui o mutável, o instável. 
O nome não é uma figuração do objeto e, portanto, sozinho nada diz. 
Somente através da combinação de nomes é possível figurar a realidade; em 
outros termos, isso significa que o centro da teoria da linguagem como figuração 
encontra-se nas sentenças. Como resultado dessa análise surgem as proposições 
elementares que se definem como proposições que consistem de nomes em 
vinculação imediata. Somente as proposições elementares representam uma 
configuração de objetos simples; por outro lado, comenta Wittgenstein, mesmo 
que cada fato consista em muitos estados de coisas, e que cada estado de coisas 
seja constituído por muitos objetos simples, uma proposição admite uma, e 
somente uma análise em proposições elementares. Uma vez analisada 
completamente, a proposição será composta por nomes simples, cujo significado 
será um objeto simples. 
As proposiçõeselementares não são arbitrárias, decorrem diretamente de 
suas preocupações acerca da relação entre o pensamento e a linguagem, de um 
lado, e a realidade, de outro. Sua teoria baseia-se na ideia de que a realidade é 
afigurada pela linguagem e, nesse caso, seria necessário admitir-se a existência de 
proposições. Todavia, não se deve inferir daí que tais proposições apresentem 
uma verdade autoevidente. Assim, das proposições elementares dependeriam 
todas as outras proposições, em outras palavras, as proposições não elementares 
seriam funções de verdade de proposições elementares; não fosse assim, 
nenhuma sentença poderia dizer alguma coisa ou ser entendida. 
Para tornar manifestas as condições de verdade de uma proposição, 
Wittgenstein empregou o método das tábuas da verdade. Uma vez que a 
proposição em questão é função de verdade de outras proposições, o objetivo 
seria mostrar a relação entre a verdade das últimas e a verdade da primeira. Dois 
são os casos limites entre os possíveis grupos de condições de verdade das 
proposições. Um deles ocorreria quando uma proposição fosse verdadeira para 
todas as possibilidades de verdade das proposições elementares: tal proposição é 
chamada tautologia. O outro caso diz respeito à proposição que seja falsa para 
todas as possibilidades de verdade; essa proposição é denominada contradição. 
Conquanto seja conveniente referir-se tanto às contradições, como às tautologias, 
como “proposições”, ambas não são, a rigor, proposições, pois, além de não 
determinarem condições de verdade, já que uma é incondicionalmente verdadeira 
(tautologia), e outra é incondicionalmente falsa (contradição). Assim, a tautologia 
e a contradição não são figurações da realidade, não representam nenhuma 
situação possível, pois a primeira permite todas as situações possíveis, enquanto a 
segunda, nenhuma. 
Assim, os chamados princípios de lógica ou verdades lógicas são simples 
tautologias, não expressam pensamentos, nada dizem. Não se pode afirmar, 
contudo, que não possuam qualquer sentido: o simples fato de uma dada 
combinação de proposições exibir uma tautologia revela algo acerca das 
estruturas das proposições constituintes, mostrando as propriedades formais da 
linguagem, do mundo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A teoria da figuração mostra que as proposições genuínas dizem apenas 
como as coisas são e não como elas devem ser. A única necessidade que pode 
existir é a necessidade lógica expressa pelas tautologias ou por equações 
matemáticas. No entanto, nem as tautologias, nem as equações matemáticas 
dizem coisa alguma sobre o mundo. Por conseguinte, no mundo, não existe 
necessidade. Tudo no mundo, segundo Wittgenstein, é acidental, mesmo que 
uma proposição possa ser inferida de outra, tal conexão não ocorre entre o 
estado de coisas, cuja existência não pode ser inferida a partir de outro estado de 
coisas, completamente diferente. A partir dessas concepções, o ato de vontade e 
a realização daquilo que é desejado passam a ser consideradas duas ocorrências 
inteiramente diferentes, a relação entre a vontade e aquilo que acontece no 
mundo só pode ser acidental. O homem não pode fazer nada acontecer, nem 
mesmo um movimento de seu corpo. 
A partir disso, Wittgenstein retira a conclusão de que não pode haver 
proposições em ética. Com isso, ele queria dizer que se alguma coisa possui valor, 
tal fato não pode ser acidental: a coisa tem de possuir aquele valor. No mundo, 
entretanto, tudo é acidental; consequentemente, não existe valor no mundo, se 
houvesse um valor, ele deveria permanecer fora de todos os acontecimentos, pois 
todos os acontecimentos são acidentais. Em outros termos, o sentido do mundo 
deve estar fora dele; o que faz não acidental não pode estar no mundo, pois, no 
caso contrário, isso seria de novo acidental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 10 - O WITTGENSTEIN DAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Continuar a explicação iniciada na unidade anterior sobre a filosofia 
analítica de Wittgenstein. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O Wittgenstein das Investigações filosóficas. 
A segunda fase do Wittgenstein se inicia com as publicações do livro azul 
e marrom (1933 – 1935), e principalmente com a publicação de Investigações 
filosóficas (1945 – 1949). As investigações filosóficas se iniciam com uma crítica ao 
esquema tradicional de interpretação que vê a linguagem como um conjunto de 
nomes que denominam ou designam os objetos, nomes de coisas e de pessoas, 
unidos pela aparelhagem lógico-sintática. 
O compreender se reduz a dar explicações que se resumem em 
definições ostensivas, que postulam toda aquela série de atos e processos mentais 
que deveriam explicar a passagem da linguagem à realidade. Como se vê, a teoria 
da representação, o atomismo lógico e o mentalismo estão estreitamente 
conjugados. Na realidade, porém, o jogo linguístico não é nenhum primário. Com 
efeito, se eu digo, indicando uma pessoa ou um objeto, haverá sempre para quem 
me escuta certa ambiguidade, já que não sabe a que propriedade da pessoa ou 
objeto me referi. A teoria da representação sustenta que, com a nossa linguagem, 
nós fazemos apenas uma coisa: denominamos. Mas Wittgenstein está convencido 
de que, ao contrário, com nossas proposições, fazemos coisas mais diversas. 
Com a linguagem, fazemos as coisas mais variadas. Os “jogos linguísticos” 
são inumeráveis: existem diferentes tipos de emprego de tudo que chamamos de 
“sinais”, “palavras” e “proposições”. Essa multiplicidade não é algo fixo ou algo 
dado de uma vez por todas, mas novo tipo de linguagem, novos jogos 
linguísticos, como poderia dizer, surgem continuamente, enquanto outros 
envelhecem e são esquecidos. A linguagem é um conjunto de jogos de 
linguagem, sendo o significado de uma palavra é seu uso e todo uso tem regras. 
A regra é equivalente a obedecer a uma ordem: somos adestrados para 
obedecer à ordem. Seguir uma regra, fazer uma comunicação, dar uma ordem ou 
jogar uma partida de xadrez são hábitos, sendo essas regras que aprendemos, 
constituindo exemplos de adestramento público. No entano, o mundo de nossa 
mente se enche de problemas filosóficos, que não são de origem empírica, mas 
sim problemas que se resolvem penetrando na operação de nossa linguagem de 
forma a reconhecê-la, contra uma forte tendência a subentendê-la. A filosofia se 
torna um campo de batalha contra o encantamento de nosso intelecto, por meio 
da nossa linguagem. 
 
 
Wittgenstein foi um dos maiores 
expoentes da filosofia da linguagem, e até 
hoje, esse pensamento serve de fundamento 
para os novos estudos da linguagem. 
 
(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein) 
 
A origem dos problemas filosóficos aparece quando falta linguagem. 
Quando os filósofos usam uma palavra – “saber”, “ser”, “objeto”, “eu”, 
“proposição”, “nome” – e tentam captar a essência da coisa, devemos sempre 
perguntar: essa palavra é efetivamente usada assim na linguagem, na qual tem 
sua pátria? A linguagem opera sobre o fundo de necessidades humanas, na 
determinação de um ambiente humano. E como o significado de uma palavra é o 
seu uso na linguagem, a função da filosofia é puramente descritiva. Portanto, não 
devemos buscar o seu significado, mas o seu uso. 
Em filosofia, as pessoas sentem-se forçadas a ver um conceito de 
determinado modo. O que Wittgenstein propõe é inventar outros modos de 
considerá-lo, outras possibilidades nas quais jamais ninguém teria pensado. A 
maioria das pessoas, diz o filósofo, consegue ver uma possibilidade ou, no 
máximo, duas; além disso, Wittgenstein mostra que era absurdo esperar que o 
conceito se adequasse a possibilidades tão restritas assim, libertando dessa prisão 
em que vivia a filosofia, que agora pode olhar em volta, no campo da expressão, e 
descrever seus diversos tipos de uso. Em suma, a filosofia é a terapia

Outros materiais