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FILOSOFIA FILOSOFIA DA LINGUAGEM Antonio Francisco Bezerra Filho Apresentação Prezado(a) aluno(a), A Filosofia da Linguagem é um convite à compreensão do ser cognoscente, isto é, aquele ser que se manifesta com vontade própria na existência. A linguagem como língua pode ser clara e distinta quando se trata do ser humano que tem o domínio da fala, e, agora, quando se inclui outros seres não humanos estamos na manifestação de alguma forma de linguagem. Como área estudada da Filosofia, a Linguagem é o ramo que estuda a essência e natureza dos fenômenos linguísticos. Vem elencar a natureza do significado linguístico, o seu modo de ser expressada, entendida, aprendida, interpretada, bem como pela forma em que pode ser geradora de criatividades dos seres de fala e os pontos fundamentais linguísticos do pensamento e da experiência. Por outro lado a Filosofia da Linguagem nos aponta a sintaxe, a semântica, a pragmática e a referência. E, por fim, as questões investigadas pela Filosofia da Linguagem nos situam tanto no foco de como as frases compõem um todo entendido, como também do entendimento das "partes" (palavras) das frases ou seu significado. O querer saber o significado torna-se fundamental uma vez que nos faz compreender como fazemos e como usamos a linguagem socialmente. O conteúdo da disciplina é dividido em 14 capítulos: sendo a UNIDADE 01 - A ESTRUTURA DA LINGUAGEM uma forma de sistema de signos, sendo o signo uma coisa que está no lugar de outra sob algum aspecto; na UNIDADE 02- A ESTRUTURA DA LINGUAGEM (PARTE II), entre tantos tipos de linguagem, surge uma pergunta fundamental: para que servem as linguagens? e suas funções comunicativas da língua verbal, bastante ampla que também pode ser usada para as demais linguagens; Na UNIDADE 03 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ- ANALÍTICA: O CONVENCIONALISMO DE PLATÃO, onde há grande preocupação, tornando-se um assunto especializado, onde o filósofo trata de questões relativas à relação entre os nomes e as coisas que os mesmos designam; Na UNIDADE 04 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O NATURALISMO PLATÔNICO, traz um nome que é uma representação, entendida como uma exibição da coisa nomeada, onde o nome que é a sua imitação; os nomes manifestam, representam as coisas, por meio da semelhança com elas, e não por uma convenção casual; Na UNIDADE 05 - A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES, é visto como as palavras são símbolos de carismas da nossa alma. A relação de símbolos se refere à relação entre os sons da voz e as modificações da alma; assim como relação entre os caracteres da escritura e as expressões vocais, os sons incluem nomes, verbos, o discurso e suas formas; Na UNIDADE 06 - A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS nos aponta que no período escolástico (IX ao XVI d.C.), a busca de harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a referência às questões teológicas, bem como da escolástica que avança no estudo da lógica e na compreensão do conceito de universal; Na UNIDADE 07 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD, vem eliminar os paradoxos metafísicos da “existência” e os paradoxos dos não existentes, bem como da teoria das descrições de Russell afirma essencialmente que as expressões denotativas; Na UNIDADE 08 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD (PARTE II), traz à visão a construção da metafísica ou visão de mundo em que se baseia, num entrelaçasse, em mútua relação com as generalizações mais avançadas das ciências; Na UNIDADE 09 - WITTGENSTEIN E O AUGE DA FILOSOFIA ANALÍTICA, traz o que o pensamento representa ou espelha da realidade, sendo que a cada elemento constitutivo do real corresponde outro elemento no pensamento; Na UNIDADE 10 - O WITTGENSTEIN DAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS nos diz que compreender se reduz a dar explicações que se resumem em definições ostensivas, que postulam toda aquela série de atos e processos mentais que deveriam explicar a passagem da linguagem à realidade; na UNIDADE 11 - O ESTUDO DA LINGUAGEM EM FERDINAND DE SAUSSUR, afirma que a gramática serve apenas para prescrever o que é a norma culta e a filologia investiga a origem das palavras no desenvolvimento histórico das línguas e as pessoas acabam se comunicando sem prestar atenção em tais conhecimentos; Na UNIDADE 12 - O QUE É SEMIÓTICA?, vem abordar que estudos da linguagem se concentra mais nos símbolos e signos existentes na fala e na escrita, sendo o nome Semiótica a ciência dos signos; Na UNIDADE 13 - A SEMIÓTICA EM PEIRCE, traz um novo horizonte das chamadas ciências humanas, onde o seu desenvolvimento histórico da semiótica não é considerada um ramo do conhecimento aplicado, mas sim um saber abstrato e formal, generalizado, onde as pessoas exprimem o contexto à sua volta através de uma tríade como alicerce de sua teoria; Na UNIDADE 14 - A SEMIÓTICA EM PEIRCE (PARTE II); percebemos que um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente. Bons estudos! Antonio Francisco Bezerra Filho Bacharel em Filosofia e Teologia Licenciado em Filosofia e Sociologia. Especialista em Educação e Filosofia. UNIDADE 01 - A ESTRUTURA DA LINGUAGEM CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Analisar os estudos estruturais da linguagem e sua utilidade. ESTUDANDO E REFLETINDO A linguagem é formada por um sistema de signos, sendo o signo uma coisa que está no lugar de outra sob algum aspecto. Por exemplo, a lágrima no rosto de uma pessoa que pode indicar um estado de dor física ou de tristeza, mas também pode indicar um estado de felicidade ou de realização. A lágrima pode ser signo de todas essas coisas e, para decifrá-lo adequadamente, precisamos saber o contexto em que ele ocorre e ter familiaridade com a situação em que se expressa. Os números e palavras também são signos, isto é, estão no lugar das quantidades reais de objetos ou do próprio objeto. Se o signo está no lugar do objeto, ele passa a representar o objeto, sendo um objeto pode ser representado de várias maneiras, dependendo da relação que existe entre ele e o signo. Quando a relação é de semelhança, temos um signo de ícone, o desenho de um cachorro é um ícone quando apresenta semelhança com ele. Se a relação é de causa e efeito, uma relação que afeta a existência do objeto ou é por ela afetada, temos um signo do tipo índice. Por exemplo, a fumaça indica o quê? A resposta certa seria o fogo, pois aqui nós estabelecemos uma relação causal entre a o fogo (que é a causa) e a fumaça (que é o efeito do fogo), outros exemplos podem ser usados para exemplificar essa ideia, como o chão molhado que indica que choveu, estabelecendo uma relação causal de efeito (chão molhado) e causa (chuva) mostrando que a relação entre a coisa e a linguagem não precisa ser de semelhança para que ocorra uma mensagem. E, por último, se a relação é arbitrária, regida simplesmente por convenção, temos o símbolo. As palavras são o melhor exemplo de símbolo, mas há muitos outros: nas culturas ocidentais, o preto é símbolo de luto: o uso da aliança no dedo anelar da mão esquerda simboliza a condição de casado: o desenho de um coração simboliza amor, amizade. Esses signos são aceitos pela sociedade como representação dos objetos de luto, casamento e sentimento de amor e mantêm- se por convenção hábito ou tradição. O ser humano cria símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto que representam e que são convencionais: para serem usados, precisam ser aceitos por todos os membros da sociedade. Como não há relação alguma entre o signo e o objeto por ele representado, necessitando de uma convenção, aceita pela sociedade,de que aquele signo representa aquele objeto. Só a partir dessa aceitação podemos comunicar, sabendo que, ao usar o signo-símbolo, o nosso interlocutor entenderá o que estamos querendo dizer. A linguagem, portanto, é um sistema de representações aceito por um grupo social que possibilita a comunicação entre os integrantes do grupo. O laço entre representação e objeto representado é arbitrário, podendo dizer que ele é necessariamente uma construção da razão, isto é, uma invenção do sujeito para poder se aproximar da realidade. A linguagem, deste modo, é produto da razão e só pode existir onde há racionalidade. A linguagem é um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural, porque nos permite transcender nossa experiência. No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individualizamos, diferenciando-o do resto que o cerca: ele passa a existir para a nossa consciência. O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia daquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do pai. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa consciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas: criamos, por meio da linguagem, um mundo estável de ideias que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Através da linguagem, o ser humano deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida. Só o ser humano é capaz de criar signos arbitrários, pois os animais são apenas capazes de entender ícones e índices. Os cachorros, por exemplo, utilizam o signo inicial do cheiro, sendo capazes de reconhecer o cheio do dono em uma roupa, em um lugar. O cheiro indica a presença do objeto (dono) que ele procura, ele reconhece, ainda, o tom de voz, as ações que indicam passeio, castigo ou a hora de comer. A aprendizagem dos signos se dá por meio de outros signos, inclusive misturando linguagens. Por exemplo, para explicar o signo-palavra “casa” para uma criança, podemos fazer um signo- desenho de uma casa. O desenho, nesse caso, é um segundo signo que interpreta, dá sentido ao primeiro, pela semelhança com o objeto representado. Um sinônimo explica igualmente um signo: “casa” pode também ser interpretada por meio da palavra “lar”. O segundo signo (lar) interpreta o primeiro em sentido bastante específico de “minha casa” ou “lugar onde moro e considero meu refúgio”. Existem também, outros elementos essenciais na linguagem, como a ideia de repertório, pois estamos interagindo com um sistema de signos, sendo necessária uma memorização de signos que a compõem. O repertório das linguagens verbais (ou línguas, como são chamadas) é bastante amplo e costuma ser relacionado em dicionários. Além do repertório, também é preciso que se estabeleçam as regras de combinação dos signos, pois não podemos combinar signos que tenham sentidos opostos: subir/descer, nascer/morrer, entre outros. Devemos estabelecer as regras de uso dos signos na linguagem, só quando conhecemos o repertório de signos, as regras de combinação e as regras de uso desses signos é que podemos dizer que dominamos uma linguagem. Todo signo tem um significado próprio, estabelecido por convenção social. Esses são os significados que constam do dicionário, porém o signo tem mais de um significado, uma vez que seu uso foi sendo modificado ou ampliado em tempos e lugares diferentes. Logo, só podemos saber com qual significado o signo está sendo usado a partir da frase, que oferece o primeiro contexto da comunicação. A situação social na qual a frase é dita é o segundo contexto que nos auxiliará na decodificação do signo e da mensagem. Não basta, portanto, ter domínio do código para interpretar corretamente os signos e as mensagens, é preciso ter conhecimento das situações sociais, isto é, da cultura na qual a linguagem é utilizada e a comunicação ocorre. Com a contínua criação de vários tipos de linguagem que permite os seres humanos pensar as diversas formas da realidade e, também, de se expressar e de se comunicar com seus semelhantes. Os avanços tecnológicos nos obrigam a adaptar as linguagens já existentes e a criar outras, mais adequadas às necessidades da contemporaneidade. A questão em jogo está em, se essas novas linguagens se estruturam da mesma forma? O repertório de signos e as regras de combinação e de uso desses signos são similares? BUSCANDO CONHECIMENTO Podemos afirmar que algumas linguagens têm estrutura mais flexível do que outras, como, por exemplo, a moda e sua linguagem flexível, onde percebemos que o repertório de signos é alterado com muito mais rapidez do que os sons e as palavras que compõem uma língua. Quanto às regras de combinação, elas também são variáveis, pois ainda se baseando no exemplo da moda, podemos hoje usar botas e outros calçados pesados com roupas de tecidos leves, criando, assim, um grande contraste. A flexibilidade característica da linguagem da moda decorre do fato de que ela não se estabelece, como as línguas faladas, por meio de um processo de cristalização social. Ao contrário, ela é ditada por um pequeno grupo de costureiros, desenhistas e editores de moda que, em uma sociedade capitalista, incentivam mudanças que estimulem o consumo. Outro exemplo que podemos utilizar são as linguagens de computador, que são fortemente estruturadas e bastante inflexíveis. Essas linguagens têm um número limitado de signos e de regras de combinação, e o computador só responderá dentro desses limites. As linguagens artísticas constituem um meio-termo. Por um lado, respeitam a especificidade de cada campo artístico; por outro, tendem a explorar esse campo e as possibilidades de cada linguagem até seu limite máximo. E é exatamente a essas explorações que devemos o desenvolvimento e a criação de novos estilos e técnicas; neste ponto, as linguagens só se desenvolvem em função de projetos. As linguagens artísticas, por serem mais flexíveis, podem se estruturar e reestruturar com base em projetos específicos. UNIDADE 02- A ESTRUTURA DA LINGUAGEM (PARTE II). CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Analisar os estudos estruturais da linguagem e sua utilidade. ESTUDANDO E REFLETINDO Entre tantos tipos de linguagem, surge uma pergunta fundamental: para que servem as linguagens? Na tentativa de responder a essa pergunta, o linguista contemporâneo Roman Jakobson propôs uma abordagem das funções comunicativas da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para as demais linguagens. Após estudar a semiótica clássica, Jakobson percebeu a necessidade de firmar a linguagem como elemento de comunicação humana por excelência. O linguista, então, distingue seis fatores fundamentais na comunicação verbal que dão origem a seis funções linguísticas diferentes. Esses fatores são: contexto, emissor, mensagem, destinatário, contato e código. Gerando seis funções diferentes. Jakobson foi um dos grandes linguistas do século XX, estudando a estrutura e a utilidade da linguagem do ser humano. Essas funções são: a função referencial, que é orientada para o contexto da comunicação, isto é, refere-se ao que está ao nosso redor, como a afirmação: “hoje faz frio.”. A função expressiva ou emotiva: está centrada no emissor, que declara a sua atitude afetiva sobre o assunto do qual está tratando, por exemplo, a poesia lírica ou os xingamentos. A função conativa: é orientada para o destinatário, invocando-o ou dando-lhe uma ordem. A função fática: tem por objetivo estabelecer, manter ou interromper a comunicação. Na função metalinguística: a mensagem discute o uso do próprio código, esclarecendo-o,como quando perguntamos o significado de uma palavra; também pode ser o caso de uma linguagem comentar outra linguagem, como a leitura de uma obra de arte. E, por fim, a função poética, que é aquela que visa à mensagem em si, colocando em evidência a sua própria forma. A mensagem poética ou estética é sempre estruturada de maneira ambígua em relação ao código, não se manifestando claramente. Essas funções não se apresentam separadamente em cada mensagem, mas combinam-se entre si. A diversidade das mensagens depende da hierarquização das várias funções, com predominância de uma sobre as demais. Considerando a linguagem do ponto de vista funcional, Jakobson dá conta não só dos aspectos cognitivos da língua, mas também de aspectos afetivos que fazem parte de quase toda situação comunicacional. Ampliando essas funções para outras linguagens, podemos dizer que tanto a linguagem da moda quanto as obras de arte expressionistas fazem uso da função expressiva. Já os manuais técnicos e todas as obras realistas apresentam uma preponderância da função referencial. A propaganda, as preces e a arte romântica estão centradas sobre o destinatário, tendo função conativa. A introdução de qualquer peça musical ou o apagar das luzes numa encenação teatral tem o objetivo de testar ou estabelecer o contato com o destinatário, realizando, portanto, a função fática. Quando fazemos uma paródia, estamos usando a função metalinguística; o mesmo acontece quando adaptamos um texto para o teatro ou cinema. Já a função poética necessariamente está presente em todas as obras de arte. Com isso, podemos responder à pergunta sobre a utilidade da linguagem: para nos comunicarmos com os outros seres humanos de hoje, passado e futuro; para expressar nossos afetos positivos ou negativos; para falar da realidade que nos circunda; para despertar uma reação no destinatário; para discutir o código que estamos usando ou outro qualquer; para reafirmar o contato com o outro, sem o que não haverá comunicação; e para fazer arte. Assim, como existem diversos tipos de linguagem, existem também diversos tipos de pensamento. Há o pensamento concreto, que se forma a partir da percepção sensível, ou seja, da representação de objetos reais, e é imediato, sensível e intuitivo; e o pensamento abstrato, que estabelece relações (não perceptíveis), que cria os conceitos e as noções gerais e abstratas, é imediato (precisa da mediação da linguagem) e racional. Quando somamos 4+4, estamos lidando com uma noção geral de quantidade, pois não encontramos o número 4 na natureza, encontramos certa quantidade de laranjas, abacates, etc., representados abstratamente pelos números que são construção da nossa razão. Cada tipo de pensamento tem uma linguagem específica para representá-lo, como: o pensamento abstrato e conceitual, que se afasta do sensível, do individual, a língua se apresenta como condição necessária, por ser um sistema de signos simbólicos que, como já dissemos, nos permite ir além do dado vivido e construir um mundo de ideias. Se cada linguagem possui uma estruturação própria quanto ao repertório e às regras de combinação e de uso, isso resulta na afirmação de que cada linguagem organiza a realidade de modo diferente de outra, pois estabelece repertório e regras diferentes. O fato importante de ser ressaltado, entretanto, é que, se uma língua tem um maior número de palavras para recortar a realidade, a existência dessas palavras leva a uma percepção diferente da realidade. A língua influencia a percepção da realidade e os níveis de abstração e generalização do pensamento, outros tipos de linguagem, entretanto, em especial as linguagens artísticas, são mais adequados ao pensamento concreto, como, por exemplo, o pintor está mais ligado ao mundo visual das cores e formas do que ao mundo dos conceitos. Além de estruturar o pensamento, a linguagem mantém estreita relação com a cultura. Se, por um lado, as várias linguagens fixam e passam adiante os produtos do pensamento sob forma de ciência, técnica e artes, elas também sofrem a influência das modificações culturais. A reestruturação da linguagem responde a mudanças de valores, de anseios e de buscas no seio da cultura de cada sociedade. BUSCANDO O CONHECIMENTO A linguagem é um produto bastante sofisticado que só a razão humana pode criar, sendo a linguagem simbólica a linguagem específica do ser humano. A estrutura dessa linguagem, adequando-se à cultura dentro da qual se desenvolve apropriadamente ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela permite que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo das ideias, da reflexão; permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no mundo das possibilidades. Nesta unidade, estudamos a estrutura que compõe a linguagem, como os diversos signos que constituem a base inicial para a formação simbólica que caracteriza a nossa linguagem verbal. Vimos, também, a importância do repertório linguístico e das regras de combinação, sendo que só podemos combinar a nossa linguagem literalmente se possuímos o domínio desses dois elementos. A linguagem aparece, aqui, ligada ao pensamento, gerando uma relação intrínseca entre os mais diferentes tipos de linguagem, com as diversas formas de pensamento, dando, por fim, a resposta da utilidade linguística para as nossas vidas, que é a comunicação com os humanos de hoje, do passado e do futuro, expressando as nossas diversas emoções e conhecimentos. UNIDADE 03 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O CONVENCIONALISMO DE PLATÃO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender as análises da linguagem antes do período analítico. ESTUDANDO E REFLETINDO A linguagem sempre foi uma preocupação da maioria dos filósofos, pois é somente através dela que os filósofos podem passar os seus conhecimentos para as gerações futuras. Desde Platão, a linguagem assume uma grande preocupação, tornando-se um assunto especializado em seu livro Crátilo, onde o filósofo trata de questões relativas à relação entre os nomes e as coisas que os mesmos designam. Para o filósofo, os nomes na verdade correspondem às coisas, pois é uma espécie de imitação dos seres, porém a linguagem não é uma cópia perfeita, tendo como dever basear-se nos caracteres ou qualidades essenciais a serem imitadas, sem as quais os nomes seriam impossíveis. O modo natural de fazer os nomes, portanto, deve levar em conta o conhecimento do modelo, isto é, do ser, para se fazer a imitação. Com Aristóteles, o estudo da linguagem seguiu um caminho diferente dos estudos realizados por Platão; as palavras, para Aristóteles, representam alguma coisa que tem lugar no interior do homem. A linguagem simbolizaria aquilo que vai ao espírito, resultado do impacto do mundo sobre o homem, o modo como aquilo o afeta. Sendo assim, é necessário o desenvolvimento de uma ferramenta para que exista uma harmonia entre o pensamento e o mundo, a qual o filósofo nomeia de lógica e possui uma articulação racional do pensamento. Outro significativo discurso sobre a linguagem ocorreu na idade média com a questão dos universais. De um lado, os pensadores realistas que postulavam a existência de coisas exteriores a nós e independentes do que pensamos sobre elas. E, do outro lado, os pensadores nominalistas que afirmavam que nenhuma substância metafísica se esconde por trás das palavras: as pretensas essências não existem além de palavras ou signos que representam coisas sempre singulares. Platão (427 – 347 a.C.) nasceu em Atenas, pertencendo a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido à sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de ombros largos”. Platão foi discípulo de Sócrates, sendo que, depois da morte do mestre, o filósofoempreendeu inúmeras viagens num período em que ampliou seus horizontes culturais. Por volta de 387 a.C., retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus. A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, Platão. Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é a sua teoria das ideias, com o qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e essências. Em Crátilo, o filósofo desenvolve seu conceito de linguagem e mostra os problemas existentes entre a linguagem e o mundo, questionando se essa relação entre a linguagem e o mundo se dá por meio de uma convenção ou de uma relação natural, que consiste na própria essência da palavra. Em sua análise, Platão divide a teoria da linguagem em dois lados: os convencionalistas e os naturalistas. Para o convencionalismo, a relação entre as palavras e o que os nomeiam (o objeto) se dá por meio de convenção: se alguém atribui um nome a alguma coisa, esse é considerado o seu nome correto; as palavras são como adesivos verbais que aplicamos aos objetos. Já no naturalismo, ao contrário, as palavras exprimem a essência dos objetos que nomeiam, ou seja: ao usarmos as palavras para nos referimos a algo, já estamos dizendo a própria coisa. Um dos maiores defensores da teoria convencionalista foi o filósofo Hermógenes (século V a VI a.C.) que sustentava que a relação entre as palavras e o objeto que elas nomeiam é estabelecida por uma convenção ou acordo, sendo que a origem do significado das palavras se deve ao hábito, pois alguém provavelmente no passado nomeou um objeto com determinada palavra. Essa prática foi sendo imitada por outras pessoas e, com o tempo, tornou-se hábito, vindo a fixar-se, por fim, em costume ou lei. Os nomes e as palavras adquirem seus significados, através de um acordo social, o qual é produto unicamente do hábito, por parte dos usuários de linguagem, de se referir a determinadas coisas com as mesmas palavras de forma constante. Segundo Platão, o convencionalismo defendido por Hermógenes seria uma generalização da concepção de batismo (colocar nomes nas coisas) para todas as outras espécies de palavras. O uso da palavra, segundo Hermógenes, se dá por meio de regras que são definidas pela convenção, sendo que não existe nada que vincule de forma necessária e não ambígua um nome a determinado objeto. Toda denominação é arbitrária, não segue nenhuma regra ou critério, a não ser o capricho de quem dá um nome a alguma coisa. Para Hermógenes, poderíamos até mesmo substituir, a qualquer momento, os nomes dos objetos por outros nomes, como, por exemplo, chamar de “caneta” aquilo que hoje nós chamamos de “cachorro”, pois as palavras são meros acidentes que possuem o significado que têm no momento. A crítica de Platão ao convencionalismo de Hermógenes consiste no pressuposto de que todo e qualquer nome é verdadeiro. Sócrates (personagem que Platão usa para expressar seus conceitos em seus livros) imediatamente associa essa tese com a afirmação dos sofistas de que o homem é a medida de todas as coisas. Para os sofistas, as coisas são para as pessoas tais como elas as percebem: toda sensação é verdadeira, como as nossas opiniões, que se baseiam nas sensações, única fonte de conhecimento; sendo assim, impossível falar de falso e contradizer. Se todas as opiniões são verdadeiras, então todos os homens seriam sábios, bons, virtuosos e não seria mais necessária a educação, pois todos teriam as suas opiniões tidas como verdade, já que as coisas são tais como cada um percebe particularmente. Para Platão, as coisas têm uma essência fixa, sendo possível dizer-se a verdade ou mentir, existindo discursos falsos e verdadeiros; o discurso verdadeiro só o é, se for verdadeiro nas partes; a menor parte do discurso é o nome e, como os nomes são partes do discurso, eles também podem ser verdadeiros ou falsos. Platão observa que nomear é um ato, e em todo ato realizamos algo, a função da linguagem divide-se em duas: de ensinar, isto é, comunicar algo sobre o mundo a outras pessoas, e de distinguir os seres, existindo critérios objetivos para o uso dos nomes. A função da linguagem é comunicar a verdade, os nomes devem referir-se às coisas que realmente existem e a características, nessas coisas, que realmente sejam tais como descritas. Nomear não é atribuir uma palavra, concebida como uma mera sequência de sons, a um objeto, mas descrever a essência de uma coisa. Aqui percebemos que, o nome não é apenas um rótulo arbitrário aplicado no objeto, mas tem uma função de descrever corretamente a essência, distinguindo-o das outras coisas. UNIDADE 04 - ESTUDOS DA LINGUAGEM PRÉ-ANALÍTICA: O NATURALISMO PLATÔNICO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender as análises da linguagem antes do período analítico. ESTUDANDO E REFLETINDO Na teoria naturalista, o nome é uma representação, entendida mesmo como uma exibição da coisa nomeada. Dizer um nome de uma pessoa seria, então, como que apresentar à pessoa em questão o nome que é a sua imitação; os nomes manifestam, representam as coisas, por meio da semelhança com elas, e não por uma convenção casual, como acredita Hermógenes. No diálogo em Crátilo, Sócrates discute sobre a visão naturalista de Crátilo mostrando que, para ele, não há nomes mal aplicados, nem nomes melhores e piores do que outros: todos os nomes são corretos, bem atribuídos, ou não são nomes. Não podemos nem dizer que o nome seja mal aplicado ou errado, pois é impossível falar falso, assim, apesar de a posição de Crátilo ser diametralmente aposta à de Hermógenes, ele leva às mesmas conclusões do convencionalismo. Para escapar dessas contradições, Platão claramente separa nome e objeto: uma coisa é nome, outra coisa é o objeto que é nomeado pelo nome. Comparando com uma pintura, o filósofo diz que o nome seria como que uma imitação (mímesis) da coisa, como, por exemplo, um retrato de um homem, em relação a um homem que seria uma atribuição correta, ao contrário da relação entre o quadro do homem e uma mulher. Para que ocorra uma atribuição correta dos nomes, é necessário distribuir os elementos da mesma forma como os elementos correspondentes ao objeto se organizam, isto é, não se deve deixar nada faltar, nem acrescentar nada mais do que o contido no objeto. Todavia, um nome que deixe de fora aspectos relevantes do objeto, ou que acrescente coisas que não lhe pertencem, seria um nome mal produzido e mal atribuído, mas não deixaria, por isso, de ser um nome, uma imagem, uma imitação, embora precária, do objeto. O nome, para se referir a algo, não precisa ser uma duplicação exata do objeto: não é preciso representar todas as características do objeto, mas apenas as que são essenciais para a sua identificação. Se o nome contém todos os elementos essenciais, é bem-aplicado, e é um nome verdadeiro; se não, sendo mal estabelecido, é um nome falso. Assim, uma imagem não deixa de ser imagem de determinado objeto, se algo lhe é acrescentado ou diminuído (desde que não for algo essencial da representação do objeto); analogicamente, um nome não deixa de ser nome de algo, se acrescentamos ou retiramos letras que o compõem. Um nome que não seja adequadamente atribuído terá algumas letras que não apresentam a coisa, mas, ainda terá as necessárias para representar a coisa, e será o nome dessa coisa. Platão foi um dos primeiros filósofos a refletir sobre a função da linguagem. (Fonte: http://filosofiaocupada.com.br/2014/06/14/download-e- book-platao-filebo-gorgias-teeteto-os-pensadores-midias/)A conclusão de Platão em Crátilo, é que não é possível determinar o significado das palavras por meio das outras palavras, pois, neste caso, qualquer palavra pode, mediante alterações adequadas em suas letras componentes, significar qualquer coisa. E também não é possível explicar o sentido das palavras derivando-as de outras palavras, pois adicionando, suprimindo ou transpondo letras, pode-se transformar qualquer palavra em qualquer outra e, desta forma, atribuí-la a qualquer coisa; isso significa que a linguagem também não tem fixidez. O ponto de Platão contra as duas teorias é que elas não explicam o fato de que nós podemos compreender o significado das palavras, independentemente da forma na qual elas são grafadas. O filósofo defende uma teoria proposicional da linguagem, na qual as ideias fazem papel do que metafísicos contemporâneos chamam de proposição. O conteúdo cognitivo que elas transmitem, isto é, seu significado, permanece constante, de certa forma, apesar de quaisquer alterações que os nomes sofram, resultando na afirmação de que as palavras não são, em si, portadoras de significado, mas transmissoras dele. BUSCANDO CONHECIMENTO Para refletir sobre o assunto, apresento um excerto do artigo do pesquisador Rogério Santos dos Prazeres sobre o naturalismo platônico.1 O Crátilo de Platão é a referência fundamental para encetar reflexões sobre a linguagem, e em mais específico, sobre a semântica. Nele está o embasamento do raciocínio moderno, em que se possibilitou aperfeiçoar abordagens da linguística contemporânea, de Saussure a Chomsky, e contributos interdisciplinares relevantes ao estudo da linguagem ou, contemporaneamente, a crítica da linguagem. Isso porque o logos, conforme Auroux, em Heráclito, “designa tanto a expressão do pensamento humano quanto o princípio que determina o devenir cósmico”, a tese da instabilidade de todas as coisas. O modo dialético em que Platão expõe o debate acerca da realidade e a correspondência entre os enunciados no Crátilo inquieta pela busca da verdade. Por isso, ao se considerar a relação pensamento e linguagem, pode-se concluir uma epistemologia vinculada a esta relação, cujo intuito primário é trazer à tona a verdade. Trata-se de uma elucidação da análise do que é percebido e o seu significado, “o exprimido, cujo sentido só é acessível por um contato direto e que 1 Disponível: <http://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/view/15692/11759>, acesso em: 22/10/2014. irradia a sua significação sem abandonar o temporal e o espacial”, contextualizados na conexão existente entre linguagem e conhecimento. Com isso “não há então nada de espantoso que em Platão, por várias vezes, no Théétète (189e), no Sofiste (263e) e no Philèbe (38c) identifique-se o logos e a dianoia, isto é, o pensamento” propriamente dito. É justamente a linguagem que nos arremete a uma teoria do conhecimento platônica no Crátilo, ao se tratar da verdade nos enunciados. A esse respeito, há no Crátilo um dispositivo dialético que alterna perguntas e respostas entre os interlocutores Crátilo, Hermógenes e Sócrates, embora as argumentações estejam estabelecidas a cargo, principalmente, de Sócrates. Distinguem-se no texto de Platão duas partes. Isto é, um colóquio entre Sócrates e Hermógenes; e outro, entre Sócrates e Crátilo. “Na primeira parte, combate-se a tese de Hermógenes a partir de uma análise minuciosa dos elementos da linguagem; mas na segunda parte, o diálogo se detém mais na tese de Crátilo”. Em ambos os casos, “em termos saussurianos, a questão é saber se o signo linguístico é arbitrário”. Então se submete à apreciação duas proposições que desencadeiam investigações sobre a reprodução da essência do objeto no nome, primadas em duas vertentes: a convencionalista (387 d); e a naturalista (390 e). UNIDADE 05 - A LINGUAGEM EM ARISTÓTELES CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a análise linguística realizada por Aristóteles. ESTUDANDO E REFLETINDO Aristóteles Aristóteles (384 – 322 a.C.) nasceu em Estagira, na Macedônia, foi um dos mais importantes filósofos gregos da Antiguidade. Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu por cerca de vinte anos, tendo uma atuação crescentemente expressiva. Com a morte de Platão e a colocação de outro filósofo para dirigir a Academia, Aristóteles, decepcionado com o episódio, deixou a Academia e partiu para Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345 a.C. Pouco tempo depois foi convidado pelo rei Felipe II, rei da Macedônia, para ser professor de seu filho Alexandre, o que se estendeu até 340 a.C., quando Alexandre assume a direção do império Macedônico. Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundando sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu. Em 323 a.C., após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido à sua notória ligação com a corte macedônica, Aristóteles passou a ser perseguido, refugiando-se em Cálcis, na Eubeia, até a sua morte, em 322 a.C. Apaixonado por biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio. Ao analisar a linguagem, Aristóteles diz que as palavras são símbolos de carismas da nossa alma. A relação de símbolos se refere à relação entre os sons da voz e as modificações da alma; assim como relação entre os caracteres da escritura e as expressões vocais, os sons incluem nomes, verbos, o discurso e suas formas. No pensamento de Aristóteles, a linguagem não é mais vista como o princípio da união total que liga a palavra ao ser, mas sim como símbolo de um estado psíquico, o que equivale a dizer que a relação da linguagem com o ser não é imediata. Estando ciente da diversidade da língua, Aristóteles reconhece que as palavras não são significantes por elas mesmas, pois, se fossem, não haveria mais que uma única língua para todos os homens. Como a palavra é símbolo de um estado psíquico e como este último é uma imagem das coisas reais, a linguagem não tem qualquer relação de semelhança com as coisas. Ao fazer uma contraposição à teoria da linguagem dos sofistas, afirmando a impossibilidade factual de uma ligação natural e imediata entre as palavras e as coisas, tem-se que, para os sofistas, existia uma relação, ainda mediata, da linguagem com a realidade. Aristóteles organizou um estudou sistemático sobre a linguagem e sua função. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles) A linguagem para Aristóteles representa símbolos de carismas da nossa alma, e não tem qualquer relação de semelhança com as coisas. As coisas relativas às vozes não se restringem apenas à convenção, que podemos chamar também de vozes significativas ou símbolos. Podemos reconhecer em Aristóteles algo que chamaremos de vozes significativas não convencionais, que são sons inarticulados, como aqueles dos animais brutos; eles exprimem alguma coisa, sendo que nenhum deles é um nome. Temos, assim, por um lado, o som natural e não articulado e, por outro, o som convencional e articulado. As palavras, ou vozes significativas convencionais são compostas, e suas partes não são por si só significativas, são também sons vocais desprovidos de sentido que poderíamos chamar de vozes não significativas. A significação das palavras se deve ao fato de serem constituídas por certa estrutura articulada, absolutamente convencional. Embora Aristóteles afirme que a linguagem é um conjunto de símbolos ou vozes significativas convencionais, reserva um espaço para asvozes não convencionais. O caráter simbólico da linguagem se apresenta nos discursos, que reenvia os carismas da alma, relacionando-se mediatamente com os símbolos. Aristóteles também define a linguagem como signo, pois manifesta ou evidencia alguma coisa que não é ele próprio, como, por exemplo, a fumaça é signo de fogo, porém, a linguagem, enquanto simbólica e convencional, não pode ser identificada com a totalidade dos signos, pois muitos destes se relacionam real e naturalmente com aquilo que são signos. Se a linguagem enquanto símbolo é signo, é porque, constituindo-se como uma voz significativa convencional, evidencia ou manifesta estados psíquicos. Assim, a linguagem não manifesta as coisas, mas as significa. O símbolo é, portanto, um signo convencional; todavia, a significação dos nomes não prejulga a existência ou a inexistência das coisas; não é juízo, pois faz a abstração da existência ou inexistência da coisa significada. A verdade passa a adquirir uma conotação de similitude, pois os discursos verdadeiros são semelhantes às próprias coisas, sendo verdadeiro quando revelarem conexões que existem realmente nas coisas e falsos no caso contrário. O discurso se assemelha às coisas não na medida em que é discurso, mas na medida em que reflete conexões reais, isto é, na medida em que é verdadeiro. O ato de estabelecer ligações entre os termos não pertence propriamente à linguagem: as conexões possuem um estatuto psíquico; revelam-se nas afecções psíquicas, sendo que o intelecto é capaz de receber as formas inteligíveis e estabelecer as relações entre os universais. É verdadeiro não tanto enquanto símbolo convencional, mas na medida em que é signo imediato de um carisma semelhante a algo real, manifestando imediatamente esta similitude (carisma) e mediatamente a coisa existente. BUSCANDO CONHECIMENTO Para um melhor aprofundamento, apresento um excerto retirado do site Filosofando, sobre a linguagem em Aristóteles.2 Na Filosofia Antiga, Pitágoras, Demócrito e Empédocles trataram da origem da linguagem entendendo que a mesma é o espelho imediato das coisas – natureza ou divindade -. As mesmas (natureza ou divindade) expressam, mostram, a linguagem. Demócrito, cf. Cassirer (1977: 183), (...) foi o primeiro a propor a tese de que a linguagem humana se origina de certos sons, de caráter puramente emocional. Cassirer (op. cit., p. 178) reporta-se ao princípio cosmológico do ser de Heráclito quando diz: O logos transforma-se no princípio do universo e no primeiro princípio do conhecimento humano. Ou seja, a palavra é o princípio da existência do ser, porque sustenta o ser, continua Cassirer (op. cit., p. 179): Mesmo no pensamento de Heráclito, a palavra, o Logos, não é simplesmente um fenômeno antropológico. Não está confinado nos estreitos limites do mundo humano, pois possui verdade cósmica universal. 2 Disponível: < http://filosofando.no.comunidades.net/index.php?pagina=1351052977_04> , acesso em: 20/12/2014. [...] Na vida ateniense do século V, a linguagem se tornara instrumento para propósitos práticos definidos e concretos, sendo a mais poderosa das armas nas grandes lutas políticas. Sem ela ninguém poderia esperar desempenhar um papel importante. [...] Para Aristóteles, a linguagem é instrumento do pensamento e tem como função representar as coisas. As coisas passam a existir, diz Aristóteles, à medida que a nomeamos. De acordo com Aristóteles, a linguagem é natural na sua função e convencional na sua origem. Ou melhor, a linguagem está presente na natureza humana no seu aspecto funcional de representar as coisas para intrumentalizar o pensamento; e no aspecto de sua origem, ela é convencional. A partir da necessidade intrínseca funcional da linguagem é que o homem inventa a mesma num contexto sócio-cultural. UNIDADE 06 - A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Analisar como a linguagem foi estudada no período medieval. ESTUDANDO E REFLETINDO A questão dos Universais. No período escolástico (IX ao XVI d.C.), a busca de harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a referência às questões teológicas, a escolástica trouxe significativos avanços no estudo da lógica. E ocorreu por meio de Boécio que aperfeiçoou o quadrado lógico, sistema de relações entre afirmativas, que fornece a base lógica para garantir a validade de certas formas elementares de raciocínio. Também foi o primeiro a introduzir a questão dos universais, problema filosófico longamente discutido por todo período da escolástica. O método escolástico de investigação privilegiava o estudo da linguagem (o trivium), para depois passar para o exame das coisas (o quadrivium). Desse método surgiu a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas? Por exemplo: rosa é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma ideia geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da questão foi o filósofo neoplatônico Porfírio (234 – 305), em sua obra Isagoge. Era grande discussão sobre a existência ou não das ideias gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles. A relação entre as coisas e seus conceitos envolvia não apenas problemas linguísticos e gnosiológicos, mas também teológicos, surgindo duas posições antagônicas: o realismo e o nominalismo. O realismo sustentava a tese de que os universais existiam de fato, ou seja, as ideias universais existiram por si mesmas. Assim, por exemplo, a bondade e a virtude seriam modelos ou moldes a partir dos quais se criariam as coisas boas. Os termos universais seriam entidades metafísicas, essências separadas das coisas individuais. O abade Beneditino e o arcebispo de Cantuária (cidade inglesa) Santo Anselmo (1035 – 1109) são exemplos de filósofos que defendiam o realismo, eles acreditavam que as ideias universais existiriam na mente divina. O filósofo e bispo francês Guilherme de Champeaux (1070 – 1121) também era realista e acreditava que entre o universo das coisas e o universo dos nomes havia uma analogia tal que quanto mais “universal” fosse o termo gramatical, maior seria o seu grau de participação na perfeição original da ideia. Desse modo, por exemplo, o substantivo brancura teria uma perfeição maior do que o adjetivo branco, que se refere a um ente singular. Na mesma linha de raciocínio de Platão, o conceito brancura seria mais perfeito do que qualquer coisa branca existente. O nominalismo sustentava a tese de que os termos universais, tais como bondade e virtude, não existiam em si mesmo, pois seriam apenas palavras sem uma existência real. Para os nominalistas, o que existe são apenas os seres singulares e o universal não passa, portanto, de um nome, de uma convenção. O filósofo francês Roscelin de Compiègne (1050 – 1120) foi um dos principais pensadores nominalistas: ele fala que só existiria a individualidade, logo se anulam os termos universais. Roscelin também negava que Deus pudesse ser uno e trino ao mesmo tempo, porque, para ele, cada pessoa da trindade seria uma individualidade separada. Entre essas duas posições contrárias, surgiu uma terceira, o realismo moderado, sustentado por Pedro Abelardo (1079 – 1142): segundo o filósofo, só existem as realidades singulares. No entanto, é possível que se busquem semelhanças entre os seres individuais, através de abstração, de tal maneira a gerar os conceitos universais. Tais conceitos não seriam, de acordo com Abelardo, nem entidades metafísicas (posição do realismo), nem palavras vazias (posição do nominalismo), e sim discursosmentais, categorias lógico-linguísticas que fazem a mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser. A importância da questão dos universais está não só no avanço que essa discussão possibilitou em relação à busca do conhecimento da realidade, mas também porque, através dela, se alcançou um alto nível de desenvolvimento lógico-linguístico, que propiciou o surgimento de uma razão autônoma em relação à teologia, por volta do século XII. Pedro Abelardo fez uma síntese das duas correntes da disputa dos universais da sua época, criando, assim, o realismo moderado, em que mostra a possibilidade de encontrar nos seres individuais os conceitos universais. (http://dosefilosofia.blogspot.com.br/2011/11/abelardopedro.html) BUSCANDO CONHECIMENTO Para uma melhor compreensão, apresento um texto que fala sobre a obra do filósofo medieval Pedro Abelardo.3 Pedro Abelardo (1079 - 1142) A frase "a dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a verdade" é um dos princípios de Abelardo que direciona tanto seus pensamentos filosóficos como teológicos. O filósofo parte dessa idéia inicial para formar e 3 Disponível: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/41/artigo158680‐1.asp>, acesso em: 20/12/2014. fundamentar o seu raciocínio crítico. A dúvida é onde começa o caminho para a pesquisa, é uma frequente interrogação que nos leva a um exame mais aprofundado das questões que nos interessam. Através da dúvida o filósofo Abelardo emprega um caráter científico às suas investigações. A dialética é para Abelardo muito mais do que um discurso feito de forma habilidosa, ela é o instrumento que ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro do falso. Seguindo regras lógicas ela vai conseguir determinar se o discurso científico é verdadeiro ou é falso. Abelardo pretende utilizar o vigor da dialética nos estudos e nas argumentações teológicas para descobrir quais são os argumentos legítimos e quais são os argumentos não autênticos e através dela fazer prevalecer as verdadeiras doutrinas cristãs. Não é a razão que vai assimilar a fé, mas a fé que vai apropriar-se da razão, pois o discurso filosófico não vai tornar sem efeito o conjunto de sentenças da teologia, mas vai auxiliar no seu entendimento e torná-lo mais fácil de compreender. A filosofia vai ser a mediadora entre as verdades reveladas e o pensamento humano. Segundo a filosofia de Abelardo, não é possível crer nas coisas que não se compreende. O método lógico de análise utilizado por Abelardo consistia em estudar a questão filosófica fazendo um exame das partes que a constituem, percebendo assim os diversos pontos de vista incoerentes e contrários. É necessário a realização de uma investigação completa que vai determinar as diferenças entre as argumentações de um tema. A razão vai prevalecer sobre a opinião de quem tem grande entendimento sobre determinado assunto. Abelardo não vai contra a utilidade do pensamento de uma autoridade enquanto não houver meios ou conhecimentos suficientes para se colocar em prática a razão. A partir do momento que a razão encontrar condições de por si mesmo encontrar a verdade, a autoridade passa a ser inútil. Abelardo busca fazer uma conciliação, um entendimento, um acordo ou ao menos um diálogo ente os primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias teológicas do cristianismo. Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos, mesmo estando fora do cristianismo, buscavam também a verdade através da investigação lógica. Os primeiros filósofos e os filósofos cristãos estão unidos pela razão. A essência de Deus é impossível de ser definida, pois ela não pode ser expressa. E não pode ser expressa porque para isso Deus teria que ser uma substância, e Deus está fora de todas as coisas que conhecemos e que possamos vir a conhecer. Para tentar explicar a trindade da pessoa divina Abelardo usa como metáfora a gramática que diferencia quem fala, para quem se fala e o que se fala. Na unidade divina as três pessoas podem ser uma só, pois é possível falar de si a si mesmo. A primeira pessoa é também o fundamento das outras duas, pois se não existir quem fala não existirá também o que se fala e a quem se fala. Sobre as questões éticas Abelardo afirma que o pecado não é em si a ação física, mas o elemento psicológico dessa ação, ou seja, o pecado é a intenção de pecar e não a ação. UNIDADE 07 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender as análises da linguagem realizada pelo filósofo Bertrand Russell. ESTUDANDO E REFLETINDO Bertrand Arthur William Russell nasceu em 18 de maio de 1872, em Ravenscroft, nas proximidades de Tintern, em Monmouthshire. Depois da morte precoce dos seus pais, foi acolhido na casa de sua avó, recebendo uma educação inicial de preceptores particulares agnósticos; aprendeu perfeitamente o francês e o alemão e, na biblioteca de seu avô, adquiriu gosto pela história e descobriu a geometria de Euclides, encantando-se pelo rigor e clareza da matemática. Boa parte de sua vida foi influenciada pelo pensamento idealista dos alemães Kant e Hegel, somente com as discussões com o seu amigo e companheiro acadêmico Moore, aconteceu a transformação, libertando-se das cadeias do idealismo e voltando-se à trilha tradicional do empirismo da filosofia inglesa. Entre 1899 – 1900, o filósofo desenvolve uma filosofia do atomismo lógico e a técnica de Peano na lógica matemática; o atomismo lógico pretendia ser uma filosofia que unia o empirismo radical a uma lógica astuta, sendo que a lógica oferecia as formas-padrão do raciocínio correto e o empirismo oferecia as premissas, que são proposições atômicas ou proposições complexas, construídas a partir das primeiras. A proposição atômica descreve um fato, afirmando que uma coisa tem qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações. Um fato atômico é o que torna verdadeira ou falsa uma proposição atômica, por exemplo: “Sócrates é ateniense.” - é uma proposição atômica, que expressa o fato de Sócrates ser ateniense. Em outro exemplo, “Sócrates é ateniense e marido de Xantipa.” - é uma proposição complexa ou molecular, pois une uma ou duas proposições atômicas. Com o seu livro Princípios da Matemática (1903), a preocupação do filósofo é mostrar, em primeiro lugar, que toda a matemática procede da lógica simbólica, depois de descobrir, tanto quanto possível, quais são os princípios da lógica simbólica. Para desenvolver as suas concepções filosóficas, Russell estuda o pensamento do filósofo e lógico alemão Gottlob Frege, de que ele tira importantes reflexões para dar continuidade à sua obra. Analisaremos, agora, os principais conceitos desse filósofo, para dar um maior entendimento ao pensamento de Russell. Antes de Frege, a lógica se estabelecida baseava-se basicamente no sistema aristotélico, que permaneceu inalterado até o século XIX. Porém, os estudos realizados por Gottlob Frege (1848 – 1925) resultaram em consequências que derrubariam a concepção aristotélica de lógica e provocariam um desenvolvimento revolucionário nessa disciplina. Segundo o filósofo, a lógica não são as “leis do pensamento”, aliás, nada têm a ver com pensamento, as relações lógicas são independentes do pensamento humano. O ser humano pode conhecer a lógica, aprendê-las, desconsiderá-las, entendê-las erradamente, mas podemos fazer tudo isso com muitas outras coisas que existem independentemente de nós. O principal na filosofia de Frege é saber se as proposições lógicas são verdades objetivas ou não. Podemos aprendê-las, ou deixar de aprendê-las, mas sua existência nada tem a ver com qualquer aspecto do pensamento humano. Desde Descartes, a filosofia ocidental fora dominada pela pergunta:“O que posso saber?” A teoria do conhecimento estivera no centro; e isso passou a significar que o que acontecia nas mentes das pessoas era o principal tema de investigação. Mas a ideia de Frege teve a consequência de despsicologizar a filosofia. Se o que vem ao caso e o que decorre disso é independente da mente humana, então nossas tentativas de entender o mundo não podem legitimamente centrar-se na teoria do conhecimento. A filosofia, para Frege, deve se basear na lógica e não na teoria do conhecimento; e o trabalho do filósofo acelerou mudanças nessa direção que seguiram incontroláveis em várias das principais áreas da filosofia ao longo do século XX. Com isso, Frege inicia um estudo minucioso a respeito do nosso entendimento da matemática, os argumentos e demonstrações matemáticos, como todos os outros argumentos e demonstrações, têm, a partir de algum lugar, de contar com algumas premissas; e também têm de ter, pelo menos, uma regra de procedimento se quiserem ir além de suas premissas. Como não é possível para uma demonstração provar a validade de suas próprias premissas, ou de suas próprias regras de procedimento, pois resultaria em um circulo vicioso, isso significa que toda demonstração matemática parte de premissas não provadas e usa regras de procedimento cuja validade ela não estabelece. O que uma “prova” matemática válida realmente prova é que, dadas tais regras de procedimento, tais conclusões decorrem de tais premissas. Ela não prova que as conclusões sejam verdadeiras, porque não pode provar que as premissas são verdadeiras; isso se aplica em todos os argumentos e demonstrações matemáticos sem exceção. Toda a matemática tem ser vista como flutuando livre no ar, sem nenhuma base de apoio visível. Estudando aritmética, Frege visava mostrar que todas as suposições e regras não poderiam ser derivadas dos mais elementares princípios da lógica. Isso tem como consequência a validação da matemática como um corpo de verdades necessárias derivadas de premissas puramente lógicas. A meta para Frege era estabelecer a matemática em funções sólidas; mas esse programa teria dois conjuntos de efeitos secundários que foram, ambos, de importância histórica. Continham toda a matemática dentro de si, como uma consequência necessária: seria tão verdadeiro dizer que a lógica era parte da matemática quanto dizer que a matemática era parte da lógica, transformando o estudo da lógica em um campo vasto e altamente técnico que se sobrepõe ao da matemática. Outro efeito secundário foi que, se a matemática era paralela à lógica, então a despsicologização da lógica automaticamente implicava a despsicologização da matemática. A matemática teve, ao longo da sua história, uma disputa entre os que viam ela como um produto puramente mental, como a linguagem, e os que a viam como tendo uma existência própria independente. Na visão de Frege, essa disputa se concluiria em favor da segunda opinião. Com Frege, Russell considera a matemática como a redução da lógica, que não existem conceitos típicos da matemática que não possam ser reduzidos a conceitos lógicos e, que, com maior razão, não existem procedimentos de cálculo e de derivação dentro da matemática que não possam ser resumidos em derivações de caráter puramente formal. Russell sustenta também o modelo realista da matemática proposto por Frege, existindo independente do sujeito que a pensa: existe e é sempre verdadeira. Porém, Russell se distancia de Frege ao propor a teoria das descrições (1905), dizendo que, embora algumas expressões indiquem a mesma coisa, dizem coisas diferentes. O filósofo distingue o sentido e o significado ou, em outros termos, a conotação e a denotação. As duas expressões têm o mesmo significado ou a mesma denotação, ou seja, indicam o mesmo objeto, ao passo que o seu sentido ou conotação, isto é, o que dizem desse objeto, é diferente. Para evitar os becos sem saída e os enigmas a que expressões denotativas levam, o filósofo propôs uma análise que visava a fazer desaparecer tais expressões, eliminando também qualquer razão de crer que o objeto por ela indicado tenha algum tipo de existência. Nas reconstruções realizadas por Russell, desaparecem as expressões denotativas e desaparecem as formas o verbo “existir” e do verbo “ser” em função de não ligação. Russell pensava em eliminar os paradoxos metafísicos da “existência” e os paradoxos dos não existentes. Em suma, a teoria das descrições de Russell afirma essencialmente que as expressões denotativas são incompletas, ou seja, são incapazes de ter significado por si sós e se distinguem claramente dos nomes próprios. BUSCANDO CONHECIMENTO Sendo um grande analista da linguagem, Russell submeteu ao “microscópio da lógica” toda a série de questões filosoficamente relevantes e frequentemente difíceis e complicadas. Sempre se preocupando com a relação que a linguagem deve ter com os fatos, analisando o conhecimento válido, tendo sempre em mente os limites do empirismo, Russell critica o pragmatismo e também a corrente neopositivista por terem esquecido que o objetivo das palavras é o de se ocupar de coisas diferentes das palavras. Todavia, o seu maior ataque foi o seu próprio discípulo que, com o tempo, mudou radicalmente de visão a respeito da linguagem, condenando severamente o “segundo” Wittgenstein e a filosofia da linguagem desenvolvida por ele. UNIDADE 08 - A FILOSOFIA ANALÍTICA DE RUSSELL E WHITEHEAD (PARTE II) CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender as análises da linguagem realizada pelo filósofo Alfred North Whitehead. ESTUDANDO E REFLETINDO Alfred North Whitehead. Alfred North Whitehead nasceu em Ramsgate, no Kent, em 1861. Sem deixar de lado as línguas clássicas e a história, dedicou-se ao estudo da matemática. Junto com Russell, escreveu Princípios da matemática (1910 – 1913), ensinou matemática em Cambridge e depois em Londres até 1924. Nesse ano, aposentou-se como professor de matemática, mas, ao mesmo tempo, foi chamado para ensinar filosofia na Universidade de Harvard. Deu aula até 1937, morrendo em 1947. O projeto filosófico de Whitehead era construir uma metafísica ou visão de mundo que se baseasse, se entrelaçasse e estivesse em mútua relação com as generalizações mais avançadas das ciências. A relação existente entre filosofia e ciência é uma relação mútua em que uma ajuda a outra; a filosofia trabalha pela concordância das ideias que aparecem ilustradas pelos fatos concretos do mundo real. O sistema filosófico deve esclarecer os fatos concretos que a ciência contempla, e as ciências devem encontrar seus princípios nos fatos concretos que o sistema filosófico apresenta. A ciência pode apresentar fatos invencíveis e obstinados que por muitas vezes contrariam e se chocam com as generalizações filosóficas, ao passo que, por outro lado, vemos que as instituições filosóficas se transformam em métodos científicos, e que o ofício próprio da filosofia é o de desafiar as meias verdades que constituem os princípios da primeira ciência. A visão “orgânica” é a finalidade a que essa relação recíproca tende a chegar. O universo e a vida são, segundo o filósofo, um processo no espaço e tempo, sendo que nós não experimentamos substâncias e qualidades, mas muito mais um processo constituído pela incessante verificação de eventos uns em relação com os outros. A ideia de substância, de matéria inerte e de tempo e espaço absoluto eram conceitos da física newtoniana, mas é a física contemporânea que nos força a abandonar tais categorias e a falar de acontecimentos em um constante processo. Assim, o universo inteiro não é mais uma coisa estática, mas um processo. Ele não é uma máquina, mas um organismo, onde o sujeito não é como pretendem os idealistas, o ponto de partida do processo, e sim umponto de chegada, no sentido de que a autoconsciência é aquele acontecimento bastante raro que se realiza a partir de outro conjunto de acontecimentos que é o corpo humano. O universo é um organismo que não se esquece do passado; pelo contrário, condiciona a criação de sínteses sempre novas, que são potencialidades e possibilidades que o processo da realidade seleciona e realiza. Desse modo, o processo é permanência e emergência, que Whitehead chama a totalidade dos objetos eternos de Deus. Deus é o princípio da realidade concreta, vive no processo, cresce em conjunto com o universo; como natureza originária, Deus é a harmonia de todos os valores; como natureza consequente, é a realização do valor no processo. BUSCANDO O CONHECIMENTO Depois de um bom tempo no idealismo alemão, o filósofo Russell se liberta desse tipo de pensamento, voltando-se para os estudos empíricos da tradição inglesa. Com o seu conceito de atomismo lógico, em que ele funde o empirismo radical com uma lógica astuta, o filósofo pretende descrever os fatos, afirmando que uma coisa tem qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações. Com o seu livro Princípios da Matemática (1903), Russell mostra que toda lógica matemática pode se reduzir a formas lógicas da linguagem; com isso, a objetividade tão procurada pelos seres humanos se torna algo possível, pois a lógica matemática é capaz de captar essa objetividade. Esse estudo só foi possível, graças às pesquisas do filósofo alemão Gottlob Frege, que propõe uma revolução no campo lógico, campo que permaneceu quase inalterado desde a lógica aristotélica. Para o filósofo, a filosofia deve se basear na lógica e não nas teorias do conhecimento, pois ela não é totalmente objetiva. Desde Descartes, o sujeito é a base para o conhecimento. Só a matemática pode fornecer a prova válida para as ciências e para as funções mais sólidas do ser humano. Russell sustenta esse modelo de Frege da lógica matemática, mas se distancia dele, ao propor a teoria das descrições, onde separa o sentido do significado, afirmando que o mesmo objeto pode ter várias expressões, porém o sentido de cada significado é diferente. Russell se tornou um grande analista da linguagem, atuando como um selecionador de questões filosoficamente relevantes e frequentemente difíceis e complicadas. Critica as correntes pragmatistas e a filosofia da linguagem desenvolvida pelo seu próprio discípulo em sua segunda fase, que propõem um estudo da linguagem da vida cotidiana, ignorando os princípios lógicos e matemáticos. Bertrand Russell. (http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/jan/06/bertrand-russell-everyday-value-of-philosophy) Alfred North Whitehead (http://www.iep.utm.edu/whitehed/) E, por último, vimos o pensamento de Alfred N. Whitehead, grande colaborador de Russell: em sua obra central, Whitehead se preocupa com a questão da reciprocidade da ciência e da filosofia, construindo, assim, uma metafísica na qual as duas se cooperam mutuamente para a construção de um conhecimento forte e seguro. Para o filósofo, a visão do mundo mudou, passando de uma visão "mecânica" para uma visão "orgânica", onde o universo seria um organismo que está em um constante processo, sendo Deus o princípio da realidade concreta, a natureza originária. UNIDADE 09 - WITTGENSTEIN E O AUGE DA FILOSOFIA ANALÍTICA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o estudo da linguagem realizado pelo filósofo Ludwig Wittgenstein. Discípulo de Russell em Cambridge, mestre de escola elementar, de 1920 a 1926, a partir de 1930, tornou-se docente de filosofia em Cambridge, Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951), descendente de uma das mais importantes famílias vienenses, influenciará fortemente os neopositivistas do Círculo de Viena, com o seu grande livro: Tractatus logico-philosophicus (1921). ESTUDANDO E REFLETINDO Ludwig Wittgenstein nasceu em Viena, em 1889. Encaminhado pelo pai (dono da indústria de aço no império dos Hasburgos) para estudar engenharia, inscreveu-se na Tchnische Hochschule de Berlim-Charlottenburg (1906 – 1907), transferindo-se posteriormente para a faculdade de Engenharia de Manchester, onde conheceu G. Frege, que o aconselhou ir para Cambridge estudar fundamentos da matemática, sob a guia de Russell. Em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, alistou-se como voluntário no exército austríaco. Preso em 1918, passou quase um ano no campo de prisioneiros de Cassino e, em 1919, foi libertado, encontrando-se na Holanda com Russell para discutir o trabalho que seria publicado em 1921, com o título proposto por Moore, de Tractatus logico- philosophicus. Em Tractatus, a teoria da realidade corresponde à teoria da linguagem, ela é uma representação projetiva dos fatos. O pensamento representa ou espelha a realidade, sendo que a cada elemento constitutivo do real corresponde outro elemento no pensamento; a realidade consta de fatos que se resumem em fatos atômicos, compostos por seu turno de objetos simples. A linguagem é formada de proposições complexas (moleculares), que podem ser divididas em proposições simples ou atômicas (elementares), não ulteriormente divisíveis em outras proposições. A proposição atômica é a menor entidade linguística da qual se pode proclamar o verdadeiro ou o falso. O fato atômico é o que torna verdadeira ou falsa a proposição atômica. O fato molecular é uma combinação de fatos atômicos que torna verdadeira ou falsa uma proposição molecular. Desse modo, a teoria do Tractatus define-se como uma forma de representação daquilo que existe de comum entre a figuração e o afigurado e a possibilidade de que as coisas no mundo estejam relacionadas, como o estão os elementos da figuração. Embora uma sentença possa afigurar a realidade, ela não é capaz, no entanto, de fazê-lo no que respeita à sua própria forma de representação, essa forma lógica existente em todas as figurações não podem ser afigurada por nenhuma figuração. Pois se isso acontecer, irá cair em uma regressão ao infinito, ou seja, seria necessário supor uma segunda linguagem que representaria a primeira, e assim sucessivamente. Em Tractatus, Wittgenstein acreditava que as palavras e a realidade compartilham a mesma lógica, sendo possível uma representação da realidade por meio da linguagem. As proposições e a linguagem em geral repousam na noção de “nome”, que é o signo simples empregado nas sentenças. Além de o nome ser um signo simples, deve satisfazer a outra exigência, que é a de representar uma coisa simples, o nome, que o filósofo chama de “objeto”. Os objetos, no Tractacus, são concebidos como absolutamente simples, e não simples apenas em relação com algum sistema de notação; os objetos formam a substância do mundo, e por isso mesmo não podem ser compostos; a substância é o que subsiste independentemente do que ocorrer; o fixo, o subsistente e o objeto são um só, enquanto que a configuração constitui o mutável, o instável. O nome não é uma figuração do objeto e, portanto, sozinho nada diz. Somente através da combinação de nomes é possível figurar a realidade; em outros termos, isso significa que o centro da teoria da linguagem como figuração encontra-se nas sentenças. Como resultado dessa análise surgem as proposições elementares que se definem como proposições que consistem de nomes em vinculação imediata. Somente as proposições elementares representam uma configuração de objetos simples; por outro lado, comenta Wittgenstein, mesmo que cada fato consista em muitos estados de coisas, e que cada estado de coisas seja constituído por muitos objetos simples, uma proposição admite uma, e somente uma análise em proposições elementares. Uma vez analisada completamente, a proposição será composta por nomes simples, cujo significado será um objeto simples. As proposiçõeselementares não são arbitrárias, decorrem diretamente de suas preocupações acerca da relação entre o pensamento e a linguagem, de um lado, e a realidade, de outro. Sua teoria baseia-se na ideia de que a realidade é afigurada pela linguagem e, nesse caso, seria necessário admitir-se a existência de proposições. Todavia, não se deve inferir daí que tais proposições apresentem uma verdade autoevidente. Assim, das proposições elementares dependeriam todas as outras proposições, em outras palavras, as proposições não elementares seriam funções de verdade de proposições elementares; não fosse assim, nenhuma sentença poderia dizer alguma coisa ou ser entendida. Para tornar manifestas as condições de verdade de uma proposição, Wittgenstein empregou o método das tábuas da verdade. Uma vez que a proposição em questão é função de verdade de outras proposições, o objetivo seria mostrar a relação entre a verdade das últimas e a verdade da primeira. Dois são os casos limites entre os possíveis grupos de condições de verdade das proposições. Um deles ocorreria quando uma proposição fosse verdadeira para todas as possibilidades de verdade das proposições elementares: tal proposição é chamada tautologia. O outro caso diz respeito à proposição que seja falsa para todas as possibilidades de verdade; essa proposição é denominada contradição. Conquanto seja conveniente referir-se tanto às contradições, como às tautologias, como “proposições”, ambas não são, a rigor, proposições, pois, além de não determinarem condições de verdade, já que uma é incondicionalmente verdadeira (tautologia), e outra é incondicionalmente falsa (contradição). Assim, a tautologia e a contradição não são figurações da realidade, não representam nenhuma situação possível, pois a primeira permite todas as situações possíveis, enquanto a segunda, nenhuma. Assim, os chamados princípios de lógica ou verdades lógicas são simples tautologias, não expressam pensamentos, nada dizem. Não se pode afirmar, contudo, que não possuam qualquer sentido: o simples fato de uma dada combinação de proposições exibir uma tautologia revela algo acerca das estruturas das proposições constituintes, mostrando as propriedades formais da linguagem, do mundo. BUSCANDO CONHECIMENTO A teoria da figuração mostra que as proposições genuínas dizem apenas como as coisas são e não como elas devem ser. A única necessidade que pode existir é a necessidade lógica expressa pelas tautologias ou por equações matemáticas. No entanto, nem as tautologias, nem as equações matemáticas dizem coisa alguma sobre o mundo. Por conseguinte, no mundo, não existe necessidade. Tudo no mundo, segundo Wittgenstein, é acidental, mesmo que uma proposição possa ser inferida de outra, tal conexão não ocorre entre o estado de coisas, cuja existência não pode ser inferida a partir de outro estado de coisas, completamente diferente. A partir dessas concepções, o ato de vontade e a realização daquilo que é desejado passam a ser consideradas duas ocorrências inteiramente diferentes, a relação entre a vontade e aquilo que acontece no mundo só pode ser acidental. O homem não pode fazer nada acontecer, nem mesmo um movimento de seu corpo. A partir disso, Wittgenstein retira a conclusão de que não pode haver proposições em ética. Com isso, ele queria dizer que se alguma coisa possui valor, tal fato não pode ser acidental: a coisa tem de possuir aquele valor. No mundo, entretanto, tudo é acidental; consequentemente, não existe valor no mundo, se houvesse um valor, ele deveria permanecer fora de todos os acontecimentos, pois todos os acontecimentos são acidentais. Em outros termos, o sentido do mundo deve estar fora dele; o que faz não acidental não pode estar no mundo, pois, no caso contrário, isso seria de novo acidental. UNIDADE 10 - O WITTGENSTEIN DAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Continuar a explicação iniciada na unidade anterior sobre a filosofia analítica de Wittgenstein. ESTUDANDO E REFLETINDO O Wittgenstein das Investigações filosóficas. A segunda fase do Wittgenstein se inicia com as publicações do livro azul e marrom (1933 – 1935), e principalmente com a publicação de Investigações filosóficas (1945 – 1949). As investigações filosóficas se iniciam com uma crítica ao esquema tradicional de interpretação que vê a linguagem como um conjunto de nomes que denominam ou designam os objetos, nomes de coisas e de pessoas, unidos pela aparelhagem lógico-sintática. O compreender se reduz a dar explicações que se resumem em definições ostensivas, que postulam toda aquela série de atos e processos mentais que deveriam explicar a passagem da linguagem à realidade. Como se vê, a teoria da representação, o atomismo lógico e o mentalismo estão estreitamente conjugados. Na realidade, porém, o jogo linguístico não é nenhum primário. Com efeito, se eu digo, indicando uma pessoa ou um objeto, haverá sempre para quem me escuta certa ambiguidade, já que não sabe a que propriedade da pessoa ou objeto me referi. A teoria da representação sustenta que, com a nossa linguagem, nós fazemos apenas uma coisa: denominamos. Mas Wittgenstein está convencido de que, ao contrário, com nossas proposições, fazemos coisas mais diversas. Com a linguagem, fazemos as coisas mais variadas. Os “jogos linguísticos” são inumeráveis: existem diferentes tipos de emprego de tudo que chamamos de “sinais”, “palavras” e “proposições”. Essa multiplicidade não é algo fixo ou algo dado de uma vez por todas, mas novo tipo de linguagem, novos jogos linguísticos, como poderia dizer, surgem continuamente, enquanto outros envelhecem e são esquecidos. A linguagem é um conjunto de jogos de linguagem, sendo o significado de uma palavra é seu uso e todo uso tem regras. A regra é equivalente a obedecer a uma ordem: somos adestrados para obedecer à ordem. Seguir uma regra, fazer uma comunicação, dar uma ordem ou jogar uma partida de xadrez são hábitos, sendo essas regras que aprendemos, constituindo exemplos de adestramento público. No entano, o mundo de nossa mente se enche de problemas filosóficos, que não são de origem empírica, mas sim problemas que se resolvem penetrando na operação de nossa linguagem de forma a reconhecê-la, contra uma forte tendência a subentendê-la. A filosofia se torna um campo de batalha contra o encantamento de nosso intelecto, por meio da nossa linguagem. Wittgenstein foi um dos maiores expoentes da filosofia da linguagem, e até hoje, esse pensamento serve de fundamento para os novos estudos da linguagem. (Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein) A origem dos problemas filosóficos aparece quando falta linguagem. Quando os filósofos usam uma palavra – “saber”, “ser”, “objeto”, “eu”, “proposição”, “nome” – e tentam captar a essência da coisa, devemos sempre perguntar: essa palavra é efetivamente usada assim na linguagem, na qual tem sua pátria? A linguagem opera sobre o fundo de necessidades humanas, na determinação de um ambiente humano. E como o significado de uma palavra é o seu uso na linguagem, a função da filosofia é puramente descritiva. Portanto, não devemos buscar o seu significado, mas o seu uso. Em filosofia, as pessoas sentem-se forçadas a ver um conceito de determinado modo. O que Wittgenstein propõe é inventar outros modos de considerá-lo, outras possibilidades nas quais jamais ninguém teria pensado. A maioria das pessoas, diz o filósofo, consegue ver uma possibilidade ou, no máximo, duas; além disso, Wittgenstein mostra que era absurdo esperar que o conceito se adequasse a possibilidades tão restritas assim, libertando dessa prisão em que vivia a filosofia, que agora pode olhar em volta, no campo da expressão, e descrever seus diversos tipos de uso. Em suma, a filosofia é a terapia
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