Buscar

Saltando Muralhas Salmos - Livro II

Prévia do material em texto

Saltando Muralhas 
 
 
 
Salmos 
 
Livro II 
 
 
 
 
 
Silvio Dutra 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOV/2015 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
Salmo 36 4 
Salmo 37 7 
Salmo 38 18 
Salmo 39 21 
Salmo 40 24 
Salmo 41 28 
Salmo 42 31 
Salmo 43 34 
Salmo 44 35 
Salmo 45 38 
Salmo 46 41 
Salmo 47 43 
Salmo 48 44 
Salmo 49 44 
Salmo 50 50 
Salmo 51 53 
Salmo 52 60 
Salmo 53 63 
Salmo 54 65 
Salmo 55 74 
Salmo 56 78 
Salmo 57 81 
Salmo 58 84 
Salmo 59 87 
3 
 
 
Salmo 60 90 
Salmo 61 93 
Salmo 62 95 
Salmo 63 98 
Salmo 64 101 
Salmo 65 104 
Salmo 66 106 
Salmo 67 109 
 Salmo 68 111 
Salmo 69 115 
Salmo 70 120 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
Salmo 36 
 
Salmo de Davi 
 
 A transgressão fala ao ímpio no íntimo do seu 
coração; não há temor de Deus perante os seus olhos. 
2 Porque em seus próprios olhos se lisonjeia, cuidando 
que a sua iniquidade não será descoberta e detestada. 
3 As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou 
de ser prudente e de fazer o bem. 
4 Maquina o mal na sua cama; põe-se em caminho que 
não é bom; não odeia o mal. 
5 A tua benignidade, Senhor, chega até os céus, e a tua 
fidelidade até as nuvens. 
6 A tua justiça é como os montes de Deus, os teus 
juízos são como o abismo profundo. Tu, Senhor, 
preservas os homens e os animais. 
7 Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade! Os filhos 
dos homens se refugiam à sombra das tuas asas. 
8 Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás 
beber da corrente das tuas delícias; 
9 pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos 
a luz. 
10 Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e 
a tua justiça aos retos de coração. 
11 Não venha sobre mim o pé da soberba, e não me 
mova a mão dos ímpios. 
12 Ali caídos estão os que praticavam a iniquidade; 
estão derrubados, e não se podem levantar. 
 
5 
 
A inclinação para o mal, ainda que dissimulada, pode dar 
aos que são dominados por ela, a falsa sensação de que 
jamais serão descobertos, nem odiados, porque o seu 
orgulho lhes engana, e não permite enxergarem como 
perversidade abominável a Deus, as obras que eles 
praticam, as quais preferem chamar de estratagemas 
políticos, lampejos de grande inteligência, de argúcia, e 
outros adjetivos pomposos com o fim de se auto 
justificarem, só que Deus sempre as chamará de 
falsidade e obra de iniquidade. 
É somente na luz do conhecimento do caráter de Deus e 
da Sua santa vontade, que se pode discernir a corrupção 
do coração, e além da luz da graça pô-la a descoberto, 
também tem o poder de extirpá-la e fazer com que em 
vez de trevas, tenhamos luz em nosso espírito e alma, 
que nos habilita a fazer o que é bom. 
Mas ao que foge da luz de Jesus, e ama as trevas da 
iniquidade, até mesmo quando se deita em sua cama, 
não concilia o sono porque fica maquinando a 
perversidade, e ao levantar não poderá andar por 
caminhos retos, e nem ter neles prazer, porque está 
apegado ao mal. 
Todavia, o Senhor permanece imutável em Seu caminho 
de fidelidade, benignidade e justiça, pelas quais a terra 
e o que ela contém são preservados. 
O salmista cita o cuidado do Senhor até mesmo pelos 
animais; e isto é um fato notório, que todo aquele que é 
sensível para o bem, tem um sentimento terno para com 
toda a criação e procura preservá-la e amá-la. 
Somente o Senhor é o manancial de toda a vida, e só é 
possível ver a luz das coisas espirituais andando na luz 
do Senhor, que é Ele próprio. 
6 
 
Lembremos que Jesus disse de Si mesmo, ser a luz do 
mundo. 
Por isso a benignidade e a justiça do Senhor só podem 
ser conhecidas pelos que são retos de coração, e que O 
conhecem por uma experiência pessoal e íntima com 
Ele. 
Todavia, os obreiros da iniquidade serão derrubados e 
destruídos, pelos juízos de Deus, e não lhes será dado 
poderem se levantar, porque isto não lhes será 
permitido pelo Senhor, que os sujeitará a uma 
condenação eterna, como retribuição a todo o mal que 
praticaram contra o próximo e contra a preservação das 
obras das Suas mãos, das quais o homem é apenas 
mordomo em sua breve passagem neste mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Salmo 37 
 
Salmo de Davi 
 
 Não te enfades por causa dos malfeitores, nem 
tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. 
2 Pois em breve murcharão como a relva, e secarão 
como a erva verde. 
3 Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na 
terra, e te alimentarás em segurança. 
4 Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o 
que deseja o teu coração. 
5 Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele 
tudo fará. 
6 E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu 
direito como o meio-dia. 
7 Descansa no Senhor, e espera nele; não te enfades 
por causa daquele que prospera em seu caminho, por 
causa do homem que executa maus desígnios. 
8 Deixa a ira, e abandona o furor; não te enfades, pois 
isso só leva à prática do mal. 
9 Porque os malfeitores serão exterminados, mas 
aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra. 
10 Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; 
atentarás para o seu lugar, e ele ali não estará. 
11 Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na 
abundância de paz. 
12 O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range 
os dentes, 
13 mas o Senhor se ri do ímpio, pois vê que vem 
chegando o seu dia. 
8 
 
14 Os ímpios têm puxado da espada e têm entesado o 
arco, para derrubarem o poder e necessitado, e para 
matarem os que são retos no seu caminho. 
15 Mas a sua espada lhes entrará no coração, e os seus 
arcos quebrados. 
16 Mais vale o pouco que o justo tem, do que as 
riquezas de muitos ímpios. 
17 Pois os braços dos ímpios serão quebrados, mas o 
Senhor sustém os justos. 
18 O Senhor conhece os dias dos íntegros, e a herança 
deles permanecerá para sempre. 
19 Não serão envergonhados no dia do mal, e nos dias 
da fome se fartarão. 
20 Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor 
serão como a beleza das pastagens; desaparecerão, em 
fumaça se desfarão. 
21 O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo 
se compadece e dá. 
22 Pois aqueles que são abençoados pelo Senhor 
herdarão a terra, mas aqueles que são por ele 
amaldiçoados serão exterminados. 
23 Confirmados pelo Senhor são os passos do homem 
em cujo caminho ele se deleita; 
24 ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor 
lhe segura a mão. 
25 Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi 
desamparado o justo, nem a sua descendência a 
mendigar o pão. 
26 Ele é sempre generoso, e empresta, e a sua 
descendência é abençoada. 
27 Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada 
permanente. 
9 
 
28 Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os 
seus santos. Eles serão preservados para sempre, mas a 
descendência dos ímpios será exterminada. 
29 Os justos herdarão a terra e nela habitarão para 
sempre. 
30 A boca do justo profere sabedoria; a sua língua fala 
o que é reto. 
31 A lei do seu Deus está em seu coração; não 
resvalarão os seus passos. 
32 O ímpio espreita o justo, e procura matá-lo. 
33 O Senhor não o deixará nas mãos dele, nem o 
condenará quando for julgado. 
34 Espera no Senhor, e segue o seu caminho, e ele te 
exaltará para herdares a terra; tu o verás quando os 
ímpios forem exterminados. 
35 Vi um ímpio cheio de prepotência, e a espalhar-se 
como a árvore verde na terra natal. 
36 Mas eu passei, e ele já não era; procurei-o, mas não 
pôde ser encontrado. 
37 Nota o homem íntegro, e considera o reto, porque 
há para o homem de paz um porvir feliz. 
38 Quanto aostransgressores, serão à uma destruídos, 
e a posteridade dos ímpios será exterminada. 
39 Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a 
sua fortaleza no tempo da angústia. 
40 E o Senhor os ajuda e os livra; ele os livra dos ímpios 
e os salva, porquanto nele se refugiam. 
 
Davi era de fato um homem sábio e um grande santo, 
conforme podemos ver das palavras proferidas por ele 
neste salmo. 
Ele não era meramente sábio segundo a letra das 
Escrituras, mas segundo tudo o que pôde aprender da 
10 
 
experiência prática da vida, em sua intima comunhão 
com o Senhor. 
Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em 
muitos cristãos de nossos dias, porque ele se dispôs a 
viver inteiramente para o agrado de Deus, buscando 
viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus 
fez com que ele encontrasse a ambos, e que os 
percorresse de modo que se tornava cada vez mais sábio 
e mais santo. 
Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro 
sucesso não consiste na realização de nossos próprios 
projetos, e de se acumular muitos bens, fama e poder 
neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque, 
por fim tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível 
juízo aguardando por aqueles que fizeram de tais coisas 
o deus deles, e que não colocaram, por conseguinte, a 
sua confiança inteiramente no Senhor. 
Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama, 
riquezas e poder, e, no entanto, não permitiu que seu 
coração e desígnios fossem dirigidos pelo que possuía, 
ou mesmo pelo desejo que é muito comum de aumentá-
los, quando se anda segundo a carne e não segundo o 
espírito. 
Davi diz aos homens que façam o bem, e que se 
alimentem da verdade, agradando-se do Senhor, 
porque somente assim fazendo, o coração poderá achar 
a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os 
desejos que serão achados no coração serão somente os 
desejos que são aprovados por Ele, e ali colocados por 
Ele próprio. 
Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a 
Ele e temos uma fé verdadeira que conduzirá tudo a 
bom termo no que se refere à nossa caminhada. 
11 
 
Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos 
ímpios, mas que fazem do próprio Senhor o grande 
objetivo de suas vidas, verão por fim que é esta a 
condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa 
justiça como a luz, e o nosso direito como o sol do meio-
dia. 
Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as 
nossas causas, de modo que podemos achar nEle 
descanso e paz para as nossas almas, sem que tenhamos 
que nos irritar com aqueles que prosperam em seus 
caminhos à custa de levarem a cabo os seus maus 
intentos. 
O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja 
feita pelo diabo, quer diretamente, quer indiretamente 
por meio dos seus instrumentos, e deve manter a paz de 
mente e de espírito em toda e qualquer circunstância. 
Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver 
impacientemente por coisa alguma, porque no fim o 
resultado nunca será bom. 
O cristão deve ter o temor do Senhor 
permanentemente, e não imitar as obras das trevas, 
porque Ele tem um juízo determinado contra todos os 
que praticam o mal, mas os que esperam no Senhor 
herdarão a terra, conforme a Sua promessa. 
Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do 
Monte aos mansos? 
Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto, 
pensando que o ímpio há de prevalecer, porque o 
Senhor é longânimo e paciente, e tem determinado um 
dia em que julgará toda a carne. 
Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os 
justos a receberão por herança, e viverão numa perfeita 
paz juntamente com o Senhor e uns com os outros. 
12 
 
Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais 
que este lhe persiga, porque este se encontra debaixo 
de uma terrível condenação da qual poderá ser livrado 
somente caso se converta ao Senhor. 
Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do 
que a abundância de muitos ímpios, porque esta de 
nada lhes valerá no dia do Juízo. 
Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante 
a fé, nos torna herdeiros de uma herança eterna. 
Deus havia feito promessas específicas em tal sentido 
para os fiéis da sua casa, de que usaria de bondade 
eterna para com eles, conforme podemos ver em outras 
passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles 
a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o 
Senhor firma os passos do homem bom de tal modo que 
se cair não ficará prostrado, porque o segura pela sua 
mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo. 
Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha 
a ter fome, não mendigará o pão jamais, porque o 
Senhor o sustentará. 
Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o 
bem, que a morada deles será perpétua, isto é, eterna. 
Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e 
os preservará para sempre, conforme tem prometido de 
não lançar fora a nenhum que venha a Ele. 
Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra, mas 
que habitarão nela para sempre; porque o Senhor não 
os deixará nas mãos do perverso, e nem os condenará 
no juízo. 
Davi estava falando de coisas escatológicas pelo 
Espírito, porque disse que o Senhor exaltaria o justo 
para possuir a terra, e que ele presenciaria isto quando 
os ímpios fossem exterminados, e que eles serão 
13 
 
exterminados a um só tempo juntamente com a 
descendência deles, ou seja, os que são tão ímpios 
quanto eles. 
Vale a pena inserir no comentário deste salmo a 
promessa que Deus fez a Davi quanto à segurança 
eterna da salvação, conforme palavras de II Samuel 
23.1-7: 
“1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho 
de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do 
Deus de Jacó, o suave salmista de Israel. 
2 O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está 
na minha língua. 
3 Falou o Deus de Israel, a Rocha de Israel me disse: 
Quando um justo governa sobre os homens, quando 
governa no temor de Deus, 
4 será como a luz da manhã ao sair do sol, da manhã sem 
nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor do 
sol, a erva brota da terra. 
5 Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque 
estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem 
ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a 
minha salvação e todo o meu desejo? 
6 Porém os ímpios todos serão como os espinhos, que se 
lançam fora, porque não se pode tocar neles; 
7 mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da 
haste de uma lança; e a fogo serão totalmente 
queimados no mesmo lugar.” 
As últimas palavras proferidas por Davi são 
extraordinárias e comprovam que ele havia sido 
realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado 
pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel, 
sendo conhecido em todas as partes do mundo em 
14 
 
todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo 
desta inspiração (v. 1). 
Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração, 
guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele 
usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através 
da Sua boca (v. 2). 
Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu 
governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o 
fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois 
dele (Ne 5.15). 
Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel 
(v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste 
modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como 
uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da 
chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4). 
Assim, é descrito o caráter de todos os justos que 
reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda 
pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, 
dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus? 
Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo 
bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar 
toda a minha salvação e todo o meu desejo?”. 
Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão 
na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que 
pertence a esta casa, e é Senhorsobre ela, pois não foi 
estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é 
devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca 
de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”. 
Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma 
aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o 
desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a 
Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi 
prometida a Davi. 
15 
 
Na verdade, não há outra esperança de salvação senão 
por meio das condições da aliança prometida a Davi. 
Tanto que aqueles que permanecerem na condição de 
filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com 
Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como 
espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, 
isto é, não se permitem serem transformados e 
educados na justiça por Deus. 
Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de 
uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu 
lugar (v. 6,7). 
As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da 
justiça dos magistrados terrenos, como também serão 
sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que 
os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará. 
Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e 
devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o 
próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço 
para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e 
Absalão, que eram ímpios. 
Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que 
corre no sangue. 
Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é 
a casa dEle (Hb 3.3). 
Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um 
servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como 
Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa 
terrena. 
O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o 
próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o 
seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas 
Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a 
16 
 
Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados 
pelo Pai, em todas as nações. 
Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de 
Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual 
as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca 
poderão predominar sobre a Sua casa. 
E esta segurança é garantida por Deus e realizada na 
Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador 
da nossa fé e salvação. 
Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas 
da aliança da graça feita com Davi. 
A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava 
para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo, 
no céu, com Aquele que reinará para sempre. 
Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas 
de fiéis misericórdias prometidas a Davi: 
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a 
vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança 
perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a 
Davi.” (Is 55.3). 
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi 
falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura 
e eterna. 
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós 
aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é 
uma aliança perpétua. 
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, 
manutenção, continuação e confirmação. 
Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada 
e segura (v. 5). Esta aliança está bem ordenada por Deus 
em todas as coisas que dizem respeito a ela. Esta 
ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições 
dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a 
17 
 
glória de Deus, de modo que se a obra não for 
completada na terra, ela o será no céu. 
E para isso a aliança possui um Mediador e um 
Consolador para promover a santidade e o conforto dos 
cristãos. Está ordenado também QUE TODA 
TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A 
QUALQUER DOS ALIANÇADOS. Por isso Jesus afirma que 
não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier 
a Ele. Assim, a segurança da salvação não é colocada nas 
mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador. E se diz 
que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada 
por Deus. Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir 
pecadores ao céu. Ela está tão bem estruturada, que 
qualquer um deles pode ter a certeza de que estará 
sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de 
aperfeiçoamento será concluída no céu. 
Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja 
concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é 
de fato para pecadores, e não para quem se considera 
perfeitamente justo. Ainda que todos os aliançados 
sejam chamados agora a se empenharem na prática da 
justiça. As misericórdias prometidas aos aliançados são 
seguras, e operarão de acordo com as condições 
estabelecidas em relação à necessidade de 
arrependimento e fé. A aplicação particular destas 
misericórdias para santificar os cristãos é segura. É 
segura porque é suficiente. Nada mais do que isto nos 
salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade 
de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de 
Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa 
da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. 
É somente disto que a nossa salvação depende. 
 
18 
 
Salmo 38 
 
Salmo de Davi 
 
 Ó Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me 
castigues no teu furor. 
2 Porque as tuas flechas se cravaram em mim, e sobre 
mim a tua mão pesou. 
3 Não há coisa sã na minha carne, por causa da tua 
cólera; nem há saúde nos meus ossos, por causa do 
meu pecado. 
4 Pois já as minhas iniquidades submergem a minha 
cabeça; como carga pesada excedem as minhas forças. 
5 As minhas chagas se tornam fétidas e purulentas, por 
causa da minha loucura. 
6 Estou encurvado, estou muito abatido, ando 
lamentando o dia todo. 
7 Pois os meus lombos estão cheios de ardor, e não há 
coisa sã na minha carne. 
8 Estou gasto e muito esmagado; dou rugidos por causa 
do desassossego do meu coração. 
9 Senhor, diante de ti está todo o meu desejo, e o meu 
suspirar não te é oculto. 
10 O meu coração está agitado; a minha força me falta; 
quanto à luz dos meus olhos, até essa me deixou. 
11 Os meus amigos e os meus companheiros 
afastaram-se da minha chaga; e os meus parentes se 
põem à distância. 
12 Também os que buscam a minha vida me armam 
laços, e os que procuram o meu mal dizem coisas 
perniciosas, 
19 
 
13 Mas eu, como um surdo, não ouço; e sou qual um 
mudo que não abre a boca. 
14 Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja 
boca há com que replicar. 
15 Mas por ti, Senhor, espero; tu, Senhor meu Deus, 
responderás. 
16 Rogo, pois: Ouve-me, para que eles não se regozijem 
sobre mim e não se engrandeçam contra mim quando 
resvala o meu pé. 
17 Pois estou prestes a tropeçar; a minha dor está 
sempre comigo. 
18 Confesso a minha iniquidade; entristeço-me por 
causa do meu pecado. 
19 Mas os meus inimigos são cheios de vida e são 
fortes, e muitos são os que sem causa me odeiam. 
20 Os que tornam o mal pelo bem são meus 
adversários, porque eu sigo o que é bom. 
21 Não me desampares, ó Senhor; Deus meu, não te 
alongues de mim. 
22 Apressa-te em meu auxílio, Senhor, minha salvação. 
 
Este salmo revela o modo muito sério que Davi 
considerava o pecado. 
Não o reputava como coisa pequena, sem importância, 
como os que se desculpam por causa da fraqueza da 
natureza terrena. 
Ele não fazia isto porque bem conhecia qual é o poder 
muito superior da graça de Deus, ao poder do pecado, 
de forma que nunca se permitiria ficar vencido pelo 
pecado, sabendo que seria uma grande afronta para o 
Senhor rejeitar a concessão de tão grande graça que Ele 
mantém a disposição de todos os Seus filhos. 
20 
 
Isto era também grande em Davi, porque se podemos 
dizer dele que teve uma vida cheia de percalços, 
podemos também dizer que foi grande em se 
arrepender diante do Senhor. 
Com isto, ele achava até mesmo em suas fraquezas, 
oportunidade de exaltar e engrandecer o Senhor, por se 
diminuir a seus próprios olhos, e reconhecera sua total 
pobreza de espírito, ao mesmo tempo que recorria à 
graça do Senhor para ser perdoado. 
É preciso aprendermos com ele nesta parte, porque 
muitos se deixam atormentar por seus pecados, não por 
causa de terem entristecido ao Senhor, mas porque se 
sentem desonrados por si mesmos, e se entregam a 
autocomiserações que são na verdade altas expressões 
de justiça própria e de incredulidade na bondade, 
misericórdia, amor e poder de Deus, em nos perdoar e 
aceitar. 
Davi, ao contrário disto, reconhecia a sua culpa, e tinha 
o Senhor sempre por justo em tudo o que lhe sucedia, 
no entanto, se entregava inteiramente ao Seu cuidado, 
sabendo que é muito bondoso e misericordioso, e isto é 
fé na prática, é honra na prática, e disto o Senhor se 
agrada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Salmo 39 
 
Salmo de Davi 
 
 Disse eu: Guardarei os meus caminhos para não 
pecar com a minha língua; guardarei a minha boca com 
uma mordaça, enquanto o ímpio estiver diante de 
mim. 
2 Com silêncio fiquei qual um mundo; calava-me 
mesmo acerca do bem; mas a minha dor se agravou. 
3 Abraseou-se-me dentro de mim o meu coração; 
enquanto eu meditava acendeu-se o fogo; então com a 
minha língua, dizendo; 
4 Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a 
medida dos meus dias, para que eu saiba quão frágil 
sou. 
5 Eis que mediste os meus dias a palmos; o tempo da 
minha vida é como que nada diante de ti. Na verdade, 
todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente 
vaidade. 
6 Na verdade, todo homem anda qual uma sombra; na 
verdade, em vão se inquieta, amontoa riquezas, e não 
sabe quem as levará. 
7 Agora, pois, Senhor, que espero eu? a minha 
esperança está em ti. 
8 Livra-me de todas as minhas transgressões; não me 
faças o opróbrio do insensato. 
9 Emudecido estou, não abro a minha boca; pois tu és 
que agiste, 
10 Tira de sobre mim o teu flagelo; estou desfalecido 
pelo golpe da tua mão. 
22 
 
11 Quando com repreensões castigas o homem por 
causa da iniquidade, destróis, como traça, o que ele 
tem de precioso; na verdade todo homem é vaidade. 
12 Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus 
ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas 
lágrimas, porque sou para contigo como um estranho, 
um peregrino como todos os meus pais. 
13 Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome alento, 
antes que me vá e não exista mais. 
 
Davi era um grande rei. Fez proezas com o Senhor e 
estendeu as fronteiras de Israel para além das nações 
pagãs ímpias. 
Todavia, sua alma era como a de uma criança na 
presença do Senhor, não no que tange a fazer criancices, 
mas como quem se colocava debaixo do cuidado de 
Deus inteiramente, tal como um bebê no colo de sua 
mãe. 
Chega a comover o nosso coração tão grande 
humildade, e ainda por cima na pessoa de um rei. 
Seu coração era muito diferente do de muitos 
governantes, que cegados pelo poder, esquecem até 
mesmo que morrerão um dia, e por isso vivem na 
prepotência e arrogância como se fossem viver para 
sempre neste mundo, e que não terão que prestar 
contas a ninguém de seus atos, mesmo ao Criador. 
Contudo, como Davi era um rei segundo o coração de 
Deus, recebeu dEle sabedoria para que seu coração não 
se exaltasse, e sabia que a sua vida, apesar de ser rei, 
seria breve neste mundo como a de qualquer outro 
mortal, pois é tal como nuvem que passa. 
Não era a velhice e nem o ter que partir deste mundo 
que o amedrontava, mas o fato de não viver com isto em 
23 
 
perspectiva, de modo que viesse a perder o temor 
devido ao Senhor. 
Ele sabia que depois desta vida a sua única herança seria 
a mesma que ele havia tido enquanto em vida, a saber, 
o próprio Senhor. 
Deus era a sua herança neste mundo e era a única 
herança que ele desejava ter consigo quando daqui 
partisse. 
Então ele pediu ao Senhor que lhe desse reconhecer 
sempre qual era a sua fragilidade. 
Como era o próprio Senhor a sua única esperança, então 
lhe pediu também que o livrasse de todas as suas 
iniquidades, para que não se tornasse o opróbrio do 
insensato. 
Como agradava a Davi se rebaixar diante do Senhor, por 
isso Ele o exaltou sobremaneira, porque a quem se 
humilha, Ele dá mais graça. 
Ele não queria viver pecando, nem naquelas coisas que 
muitos consideram mínimas. 
Ele não queria pecar por falta de prudência quando 
estivesse na presença do ímpio, quando instigados por 
eles podemos falar coisas que não convêm a santos, e o 
dito da nossa boca passa a ser precipitado. 
Por isso Davi decidiu colocar uma mordaça em sua boca 
quando estivesse na presença do ímpio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
Salmo 40 
 
Salmo de Davi 
 
 Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou 
para mim e ouviu o meu clamor. 
2 Também me tirou duma cova de destruição, dum 
charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, 
firmou os meus passos. 
3 Pôs na minha boca um cântico novo, um hino ao 
nosso Deus; muitos verão isso e temerão, e confiarão 
no Senhor. 
4 Bem-aventurado o homem que faz do Senhor a sua 
confiança, e que não atenta para os soberbos nem para 
os apóstatas mentirosos. 
5 Muitas são, Senhor, Deus meu, as maravilhas que 
tens operado e os teus pensamentos para conosco; 
ninguém há que se possa comparar a ti; eu quisera 
anunciá-los, e manifestá-los, mas são mais do que se 
podem contar. 
6 Sacrifício e oferta não desejas; abriste-me os ouvidos; 
holocausto e oferta de expiação pelo pecado não 
reclamaste. 
7 Então disse eu: Eis aqui venho; no rolo do livro está 
escrito a meu respeito: 
8 Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, 
a tua lei está dentro do meu coração. 
9 Tenho proclamado boas-novas de justiça na grande 
congregação; eis que não retive os meus lábios; 
10 Não ocultei dentro do meu coração a tua justiça; 
apregoei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi 
25 
 
da grande congregação a tua benignidade e a tua 
verdade. 
11 Não detenhas para comigo, Senhor a tua 
compaixão; a tua benignidade e a tua fidelidade 
sempre me guardem. 
12 Pois males sem número me têm rodeado; as minhas 
iniquidades me têm alcançado, de modo que não posso 
ver; são mais numerosas do que os cabelos da minha 
cabeça, pelo que desfalece o meu coração. 
13 Digna-te, Senhor, livra-me; Senhor, apressa-te em 
meu auxílio. 
14 Sejam à uma envergonhados e confundidos os que 
buscam a minha vida para destruí-la; tornem atrás e 
confundam-se os que me desejam o mal. 
15 Desolados sejam em razão da sua afronta os que me 
dizem: Ah! Ah! 
16 Regozijem-se e alegrem-se em ti todos os que te 
buscam. Digam continuamente os que amam a tua 
salvação: Engrandecido seja o Senhor. 
17 Eu, na verdade, sou pobre e necessitado, mas o 
Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu 
libertador; não te detenhas, ó Deus meu. 
 
Davi era tipo de Jesus não somente quanto ao Seu 
governo justo, como também por ser um rei justo que se 
desviava do mal. Guardadas as devidas proporções, o 
reino de Davi era um tipo do reino de Cristo, que não é 
deste mundo. 
Como o reino do Senhor não vem com aparência visível, 
porque é eminentemente espiritual em nossos 
corações, então, aqueles que andam por vista e não por 
fé, jamais verão tal reino, e não poderão compreender 
as realidades e virtudes espirituais que o compõem, que 
26 
 
são, no entanto, a coisa mais real e imutável para 
aqueles que são participantes do reino, porque sabem 
que tudo o mais passará, mas as realidades para as quais 
as palavras de Cristo apontam, jamais passarão. 
Por isso Davi podia ter tal convicção em relação às coisas 
futuras, pertencentes ao reino do Senhor, porque estas 
lhes eram reveladas por Deus ao seu espírito. 
Por isso dispunha seu coração a se inclinar sempre para 
as coisas de Deus, para a justiça, para a pureza, para a 
bondade, para a santidade, porque bem sabia que não é 
para o Senhor que pende a confiança dos arrogantes e 
afeiçoados à mentira. 
E ao se referir a estas coisas estava pensando na 
maldade extrema que está apegada ao coração dos 
perversos, e que por fimserá a própria espada que os 
destruirá no dia do grande Juízo de Deus. 
Tão identificado estava em figura o reinado de Davi com 
o de Cristo, pelo desígnio de Deus, que lhe foi dado ter 
uma revelação específica neste salmo, como em outros, 
acerca da total devoção de Jesus ao Pai, para fazer a Sua 
vontade, quanto a reinar sobre o Seu povo, tal como 
Davi fizera em seus dias: 
Isto demonstra então claramente que esta questão de 
ser um rei segundo o coração de Deus, tal como Davi e 
Jesus, não é devida a meras atitudes externas que 
expressem decisões justas, mas ter a lei de Deus escrita 
no próprio coração, e se agradar em fazer a Sua vontade, 
para proclamar as boas novas da salvação, que é 
mediante a justificação pela graça, mediante a fé, à 
grande congregação dos justos, ou seja, daqueles que 
crerão na pregação destas boas novas para que sejam 
salvos. 
27 
 
Jesus não tinha pecado, mas Davi estava sujeito ao 
pecado e não escondeu este fato em seus salmos, mas 
ele tinha por alvo o mesmo alvo de Cristo, que era o de 
glorificar o nome de Deus, pelo seu testemunho de boas 
obras de justiça diante dos homens, e por isso levava tão 
a sério os seus pecados, porque não deixava que 
criassem raízes e se alastrassem, antes mortificava a 
todos eles, orando insistentemente ao Senhor que 
fizesse nele tal trabalho de purificação, para que o Seu 
nome fosse magnificado, pelo testemunho de sua 
própria vida santificada por Deus, diante de todos os 
homens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
Salmo 41 
 
 Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o 
Senhor o livrará no dia do mal. 
2 O Senhor o guardará, e o conservará em vida; será 
abençoado na terra; tu, Senhor não o entregarás à 
vontade dos seus inimigos. 
3 O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe 
amaciarás a cama na sua doença. 
4 Disse eu da minha parte: Senhor, compadece-te de 
mim, sara a minha alma, pois pequei contra ti. 
5 Os meus inimigos falam mal de mim, dizendo: 
Quando morrerá ele, e perecerá o seu nome? 
6 E, se algum deles vem ver-me, diz falsidades; no seu 
coração amontoa a maldade; e quando ele sai, é disso 
que fala. 
7 Todos os que me odeiam cochicham entre si contra 
mim; contra mim maquinam o mal, dizendo: 
8 Alguma coisa ruim se lhe apega; e agora que está 
deitado, não se levantará mais. 
9 Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto 
confiava, e que comia do meu pão, levantou contra 
mim o seu calcanhar. 
10 Mas tu, Senhor, compadece-te de mim e levanta-
me, para que eu lhes retribua. 
11 Por isso conheço eu que te deleitas em mim, por 
não triunfar de mim o meu inimigo 
12 Quanto a mim, tu me sustentas na minha 
integridade, e me colocas diante da tua face para 
sempre. 
29 
 
13 Bendito seja o Senhor Deus de Israel de eternidade a 
eternidade. Amém e amém. 
 
Neste Salmo, Davi se encontrava enfermo, e mesmo na 
fraqueza que é produzida pela doença, não se deixou 
agradar pelas palavras vãs dos falsos consoladores, 
porque mesmo em fraqueza a sua alma justa abominava 
o pecado. 
Agradava-lhe a companhia dos santos e dos justos. 
Ele conhecia o que era a maldade no coração do homem, 
porque mesmo aqueles que lhe visitavam, por motivo 
de cumprimento de uma mera norma social, mas não 
por um sincero desejo do coração, falavam mal dele 
pelas costas, logo que saíam da sua presença, e se 
regozijavam pelo fato de estar muito enfermo. 
Possivelmente deveriam diagnosticar a causa da 
enfermidade como sendo falta de fé, ou algum pecado 
cometido por Davi, com o intuito de lhe infamar o nome. 
Contudo, o Senhor assistia a Davi no seu leito de 
enfermidade e lhe afofava a cama. 
Mais do que ser sarado do corpo Davi aspirava ser 
sarado em sua alma, sendo perdoado dos seus pecados, 
para que os seus inimigos não tivessem motivo para 
falar mal dele. 
Mas quando foi que ele havia deixado de acudir ao 
necessitado? 
Então, necessitado que ele estava naquela hora, tinha a 
certeza, de que o Senhor, cuja bondade era maior do 
que a dele, lhe acudiria também, tal como ele havia 
acudido a outros. E portanto, lhe protegeria e 
preservaria a vida, contrariando as expectativas de seus 
inimigos em relação a ele. 
30 
 
Eles o odiavam a ponto de rosnarem como cães, e 
apostavam na sua morte. 
Mesmo o seu amigo íntimo, em quem havia depositado 
a sua confiança, e que comia à sua mesa, havia 
levantado contra ele o seu calcanhar, tal como Judas 
havia feito com nosso Senhor. 
Homens cobiçosos passam por amigos até o dia em que 
veem surgir alguma oportunidade para assumirem a 
posição de honra daqueles que se fizeram “amigos” por 
conveniência interesseira. 
Davi estava bem instruído acerca disto e pôde se 
acautelar deles nas orações que dirigia ao Senhor para 
livrá-lo de tais homens; mas aqueles que são ingênuos, 
crédulos, e que não podem discernir nem as próprias 
faltas, bem como as más intenções de outros, 
certamente haverão de cair nos laços que lhes forem 
armados por tais ímpios, tal logo observem o menor 
sinal de fraqueza neles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
Salmo 42 
 
Salmo dos filhos de Coré 
 
 Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim 
a minha alma anseia por ti, ó Deus! 
2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; 
quando entrarei e verei a face de Deus? 
3 As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e 
de noite, porquanto se me diz constantemente: Onde 
está o teu Deus? 
4 Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me 
de como eu ia com a multidão, guiando-a em procissão 
à casa de Deus, com brados de júbilo e louvor, uma 
multidão que festejava. 
5 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te 
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda 
o louvarei pela salvação que há na sua presença. 
6 Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma está 
abatida; porquanto me lembrarei de ti desde a terra do 
Jordão, e desde o Hermom, desde o monte Mizar. 
7 Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas 
catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado 
sobre mim. 
8 Contudo, de dia o Senhor ordena a sua bondade, e de 
noite a sua canção está comigo, uma oração ao Deus da 
minha vida. 
9 A Deus, a minha rocha, digo: Por que te esqueceste 
de mim? por que ando em pranto por causa da 
opressão do inimigo? 
32 
 
10 Como com ferida mortal nos meus ossos me 
afrontam os meus adversários, dizendo-me 
continuamente: Onde está o teu Deus? 
11 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te 
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda 
o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. 
 
Este salmo mistura as alegrias das visitações da presença 
de Deus com as tristezas produzidas pelas perseguições 
e injúrias que sofremos neste mundo, por causa do 
nosso amor a Ele. 
Esta, é na verdade, a experiência de todos os que andam 
de fato na presença de Deus. 
Somente andando com Deus se pode entender porque o 
salmista declara ao mesmo tempo que “todas as tuas 
ondas e vagas passaram sobre mim” referindo-se às 
provações e tribulações, e logo após diz: “contudo, o 
SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, 
e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus 
da minha vida”; e ainda, imediatamente depois: “Digo a 
Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por 
que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos 
meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os 
meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu 
Deus, onde está? Por que estás abatida, ó minha alma? 
Por que te perturbas dentro de mim?”, e finalmente, 
logo depois disto, numa forte e firme expressão de fé: 
“Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu 
auxílio e Deus meu.” 
Sem comunhão com Deus não se pode entender isto, 
porque sua bênção não significa ausência de tribulações. 
Ao contrário, importa que todo aquele que crê em Cristo 
e que anda em Sua pegadas, entre no reino de Deus por 
33 
 
meio de muitas tribulações, conforme afirma o apóstolo 
Paulo, porque é com elas quea alma é quebrantada, o 
ego é crucificado, a vida transformada à semelhança à 
de Cristo, para que se possa experimentar as doces 
consolações da presença do Senhor, que são tão 
vividamente expressadas neste salmo, e quão preciosas 
são estas visitações de Deus, que não as trocaríamos por 
nenhuma riqueza deste mundo, nem mesmo por todas 
elas. 
Por isso o salmista declara no início deste salmo que 
havia em sua alma um suspiro para encontrar ao Senhor, 
da mesma forma que a corça sedenta procura pelas 
correntes das águas. 
Porque a sua sede é do Deus vivo, e não propriamente 
das bênçãos que Ele possa lhe dar, porque nem mesmo 
estas podem saciar a sede da alma, senão somente a Sua 
própria presença. 
A alma não acha descanso ou sossego quando o Senhor 
não manifesta a Sua presença nela. 
Deste modo, o salmista sente saudades dos momentos 
de alegria espiritual na comunhão dos santos, quando se 
dirigiam para louvar ao Senhor na Sua casa. 
Contudo, ele repreendia as tristezas da sua alma pela 
ausência do Senhor, porque tinha a convicção de que 
haveria de estar de novo na Sua presença, porque Ele 
não tem prazer em se manter ausente daqueles que O 
buscam e O amam com um coração sincero, com fome e 
sede de justiça, porque tem prazer em saciar aos tais, 
conforme tem prometido fazer. 
 
 
 
 
34 
 
 
Salmo 43 
 
 Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa 
contra uma nação ímpia; livra-me do homem 
fraudulento e iníquo. 
2 Pois tu és o Deus da minha fortaleza; por que me 
rejeitaste? por que ando em pranto por causa da 
opressão do inimigo? 
3 Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem; 
levem-me elas ao teu santo monte, e à tua habitação. 
4 Então irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha 
grande alegria; e ao som da harpa te louvarei, ó Deus, 
Deus meu. 
5 Por que estás abatida, ó minha alma? e por que te 
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda 
o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. 
 
A alma justa e santa não pode achar conforto longe dos 
louvores de Deus. Afinal, não foi criada para estar 
debaixo de desassossegos, temores e inseguranças, mas 
para estar quieta, tranquila e sossegada na fortaleza que 
é o nosso Deus. Então o salmista expressa os 
sentimentos de sua alma abatida pela ausência 
temporária que estava sentindo da presença de Deus, 
enquanto debaixo das opressões produzidas por seus 
inimigos. Contudo, o salmista repreendeu as tristezas da 
sua alma, porque tinha a convicção de que haveria de 
estar de novo diante dEle, porque não tem prazer em se 
manter ausente daqueles que O buscam com um 
coração sincero. 
35 
 
 
Salmo 44 
 
Salmo dos filhos de Coré 
 
 Ó Deus, nós ouvimos com os nossos ouvidos, nossos 
pais nos têm contado os feitos que realizaste em seus 
dias, nos tempos da antiguidade. 
2 Tu expeliste as nações com a tua mão, mas a eles 
plantaste; afligiste os povos, mas a eles estendes-te 
largamente. 
3 Pois não foi pela sua espada que conquistaram a 
terra, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua 
destra e o teu braço, e a luz do teu rosto, porquanto te 
agradaste deles. 
4 Tu és o meu Rei, ó Deus; ordena livramento para 
Jacó. 
5 Por ti derrubamos os nossos adversários; pelo teu 
nome pisamos os que se levantam contra nós. 
6 Pois não confio no meu arco, nem a minha espada me 
pode salvar. 
7 Mas tu nos salvaste dos nossos adversários, e 
confundiste os que nos odeiam. 
8 Em Deus é que nos temos gloriado o dia todo, e 
sempre louvaremos o teu nome. 
9 Mas agora nos rejeitaste e nos humilhaste, e não sais 
com os nossos exércitos. 
10 Fizeste-nos voltar as costas ao inimigo e aqueles que 
nos odeiam nos despojam à vontade. 
11 Entregaste-nos como ovelhas para alimento, e nos 
espalhaste entre as nações. 
36 
 
12 Vendeste por nada o teu povo, e não lucraste com o 
seu preço. 
13 Puseste-nos por opróbrio aos nossos vizinhos, por 
escárnio e zombaria àqueles que estão à roda de nós. 
14 Puseste-nos por provérbio entre as nações, por 
ludíbrio entre os povos. 
15 A minha ignomínia está sempre diante de mim, e a 
vergonha do meu rosto me cobre, 
16 à voz daquele que afronta e blasfema, à vista do 
inimigo e do vingador. 
17 Tudo isto nos sobreveio; todavia não nos 
esquecemos de ti, nem nos houvemos falsamente 
contra o teu pacto. 
18 O nosso coração não voltou atrás, nem os nossos 
passos se desviaram das tuas veredas, 
19 para nos teres esmagado onde habitam os chacais, e 
nos teres coberto de trevas profundas. 
20 Se nos tivéssemos esquecido do nome do nosso 
Deus, e estendido as nossas mãos para um deus 
estranho, 
21 porventura Deus não haveria de esquadrinhar isso? 
pois ele conhece os segredos do coração. 
22 Mas por amor de ti somos entregues à morte o dia 
todo; somos considerados como ovelhas para o 
matadouro. 
23 Desperta! por que dormes, Senhor? Acorda! não nos 
rejeites para sempre. 
24 Por que escondes o teu rosto, e te esqueces da 
nossa tribulação e da nossa angústia? 
25 Pois a nossa alma está abatida até o pó; o nosso 
corpo pegado ao chão. 
26 Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por tua 
benignidade. 
37 
 
 
O salmista trouxe à memória os grandes feitos de Deus 
para o livramento do Seu povo, e para lhe dar vitória 
sobre as nações inimigas, porque ele queria se fortalecer 
para pedir auxílio ao Senhor para que livrasse os 
israelitas das presentes condições de opressão que eles 
estavam sofrendo por parte do inimigo. Isto serve de 
exemplo para a Igreja que enquanto debaixo de suas 
angústias presentes, deve trazer em recordação os 
grandes feitos de Deus do passado, para que possa ter 
esperança de que os terá também no presente. 
O jugo pesado da opressão não pode pesar por muito 
tempo naqueles que temem verdadeiramente ao 
Senhor, e Ele mesmo os livrará a Seu tempo de todas as 
suas angústias. Ele o fará conforme as orações que Lhe 
forem dirigidas por Seu povo, pedindo-Lhe livramento, 
para que reconheçam que é pela força do Seu próprio 
braço que eles são livrados e amparados, de modo que 
o Seu grande nome seja glorificado por eles. 
Assim, este salmo nos ensina, que não devemos ocupar 
nossa mente e coração somente com os grandes feitos 
que o Senhor tem operado nos nossos próprios dias, 
mas também com aqueles que Ele operou no passado, 
porque os fizera para o nosso conhecimento, de modo 
que não apenas o glorifiquemos, como também a nossa 
fé nEle possa ser aumentada. 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Salmo 45 
 
Salmo dos filhos de Coré 
 
 O meu coração trasborda de boas palavras; dirijo os 
meus versos ao rei; a minha língua é qual pena de um 
hábil escriba. 
2 Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; a graça 
se derramou nos teus lábios; por isso Deus te abençoou 
para sempre. 
3 Cinge a tua espada à coxa, ó valente, na tua glória e 
majestade. 
4 E em tua majestade cavalga vitoriosamente pela 
causa da verdade, da mansidão e da justiça, e a tua 
destra te ensina coisas terríveis. 
5 As tuas flechas são agudas no coração dos inimigos 
do rei; os povos caem debaixo de ti. 
6 O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos 
séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. 
7 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso 
Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do 
que a teus companheiros. 
8 Todas as tuas vestes cheiram a mirra a aloés e a 
cássia; dos palácios de marfim os instrumentos de 
cordas e te alegram. 
9 Filhas de reis estão entre as tuas ilustres donzelas; à 
tua mão direita está a rainha, ornada de ouro de Ofir. 
10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-
te do teu povo e da casa de teu pai. 
11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu 
senhor, presta-lhe, pois, homenagem. 
39 
 
12 A filha de Tiro estará ali com presentes; os ricos do 
povo suplicarão o teu favor. 
13 A filha do rei está esplendente lá dentro do palácio; 
as suas vestes são entretecidas de ouro. 
14 Em vestidos de cores brilhantes será conduzida ao 
rei; as virgens, suas companheirasque a seguem, serão 
trazidas à tua presença. 
15 Com alegria e regozijo serão trazidas; elas entrarão 
no palácio do rei. 
16 Em lugar de teus pais estarão teus filhos; tu os farás 
príncipes sobre toda a terra. 
17 Farei lembrado o teu nome de geração em geração; 
pelo que os povos te louvarão eternamente. 
 
O autor de Hebreus (1.9) aplica este Salmo a nosso 
Senhor Jesus Cristo, sendo entronizado pelo Pai com 
uma unção que a nenhum outro foi concedida, e revela 
que a majestade de Jesus Cristo exige que para se estar 
debaixo do Seu governo, é necessário deixar a 
dependência de pais e mães, tal qual os nubentes que 
deixam o lar paterno, para se unirem em casamento. 
Aqui está declarado de modo evidente o mesmo que 
Jesus ensinou quanto a que o nosso amor por Ele deve 
ser maior do que o amor que temos por pai, mãe ou 
qualquer outro familiar, e até mesmo pela nossa própria 
vida, para que sejamos achados dignos de sermos Seus 
discípulos. 
Ninguém e nada deve ser, portanto, colocado pelos seus 
servos, em maior estima do que a que é devida a Ele. 
Na verdade, não se trata de uma comparação de pessoas 
ou coisas, mas de se ter um grande amor ao Senhor, à 
sua majestade e formosura real. 
40 
 
Então o salmista declara que é ao Rei Jesus que está 
dedicando esta composição que ele fizera em Sua honra. 
O motivo deste grande Rei ser exaltado é declarado: por 
Ele cavalgar prosperamente pela causa da verdade e da 
justiça, e não para pilhar reinos para aumentar suas 
riquezas terrenas, como costumam fazer os reis 
terrenos; suas flechas não são disparadas para produzir 
mortes, mas para submeter o coração dos Seus inimigos 
em todos os povos, a Ele, porque o Seu trono é para todo 
o sempre, porque Ele é Deus, e o cetro com que rege as 
nações é de equidade, porque não faz acepção de 
pessoas, porque ama a justiça e odeia a iniquidade. 
É citada no salmo as bodas do Cordeiro, que é Rei, com 
a Sua igreja, e estas serão um ato solene e de grande 
honra ao qual estarão presentes as virgens vigilantes 
que tinham óleo em suas lâmpadas para aguardarem o 
Noivo. 
As nações o servirão quando estabelecer o Seu trono de 
justiça na terra, e lhe trarão riquezas e presentes, e 
aqueles que estiverem a Seu lado reinarão juntamente 
com Ele para sempre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
Salmo 46 
 
Salmo dos filhos de Coré 
 
 Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem 
presente na angústia. 
2 Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, 
e ainda que os montes se projetem para o meio dos 
mares; 
3 ainda que as águas rujam e espumem, ainda que os 
montes se abalem pela sua braveza. 
4 Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, 
o lugar santo das moradas do Altíssimo. 
5 Deus está no meio dela; não será abalada; Deus a 
ajudará desde o raiar da alva. 
6 Bramam nações, reinos se abalam; ele levanta a sua 
voz, e a terra se derrete. 
7 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó 
é o nosso refúgio. 
8 Vinde contemplai as obras do Senhor, as desolações 
que tem feito na terra. 
9 Ele faz cessar as guerras até os confins da terra; 
quebra o arco e corta a lança; queima os carros no 
fogo. 
10 Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado 
entre as nações, sou exaltado na terra. 
11 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó 
é o nosso refúgio. 
 
42 
 
Este salmo contrasta a firmeza e solidez eterna do reino 
de Deus, com a instabilidade dos reinos deste mundo, e 
até mesmo da própria terra. 
A firmeza das coisas terrenas, que são naturais e que se 
desgastam pelo uso, não pode sequer ser comparada 
com a cidade celestial cujo fundamento é Deus, sendo 
Ele próprio o nosso refúgio e fortaleza, e socorro sempre 
presente nas tribulações, daqueles que buscam refúgio 
nEle. 
O Senhor não somente protege dos perigos externos, 
como também fortalece com graça o nosso coração, 
para que não tema qualquer circunstância difícil. 
E eleva o espírito às regiões celestiais onde há alegria e 
paz, à visão do rio de água viva que está meio da cidade 
onde habita o Altíssimo. 
A morada de Deus não pode ser abalada, porque Ele está 
no meio dela. 
Quando o cristão está assentado nas regiões celestes 
juntamente com Cristo, por uma real comunhão com 
Ele, estando arrebatado em espírito para além dos 
tumultos e incertezas deste mundo, ele fica aquietado 
porque sabe que o Senhor está exaltado entre as nações 
e em toda a terra, sendo Ele o auxílio, socorro e refúgio 
do Seu povo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
Salmo 47 
 
Salmo dos filhos de Coré 
 
 Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com 
voz de júbilo. 
2 Porque o Senhor Altíssimo é tremendo; é grande Rei 
sobre toda a terra. 
3 Ele nos sujeitou povos e nações sob os nossos pés. 
4 Escolheu para nós a nossa herança, a glória de Jacó, a 
quem amou. 
5 Deus subiu entre aplausos, o Senhor subiu ao som de 
trombeta. 
6 Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai 
louvores ao nosso Rei, cantai louvores. 
7 Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai louvores com 
salmo. 
8 Deus reina sobre as nações; Deus está sentado sobre 
o seu santo trono. 
9 Os príncipes dos povos se reúnem como povo do 
Deus de Abraão, porque a Deus pertencem os escudos 
da terra; ele é sumamente exaltado. 
 
Este salmo é uma profecia relativa ao reino futuro do 
Messias sobre toda a terra, porque nunca se viu antes, e 
não será visto até que Jesus volte, todas as nações 
submetidas a Ele. O salmo prenuncia os louvores e 
aclamações que ocorrerão por ocasião da entronização 
de nosso Senhor diante de todas as nações, quando 
estas se reunirão ao povo de Deus, para adorarem o Rei 
de toda a terra no milênio. 
44 
 
 
Salmos 48 e 49 
 
Salmos dos filhos de Coré 
 
Salmo 48 
 
1 Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na 
cidade do nosso Deus, no seu monte santo. 
2 De bela e alta situação, alegria de toda terra é o 
monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei. 
3 Nos palácios dela Deus se fez conhecer como alto 
refúgio. 
4 Pois eis que os reis conspiraram; juntos vieram 
chegando. 
5 Viram-na, e então ficaram maravilhados; ficaram 
assombrados e se apressaram em fugir. 
6 Aí se apoderou deles o tremor, sentiram dores como 
as de uma parturiente. 
7 Com um vento oriental quebraste as naus de Társis. 
8 Como temos ouvido, assim vimos na cidade do 
Senhor dos exércitos, na cidade do nosso Deus; Deus a 
estabelece para sempre. 
9 Temos meditado, ó Deus, na tua benignidade no 
meio do teu templo. 
10 Como é o teu nome, ó Deus, assim é o teu louvor até 
os confins da terra; de retidão está cheia a tua destra. 
11 Alegre-se o monte Sião, regozijem-se as filhas de 
Judá, por causa dos teus juízos. 
12 Dai voltas a Sião, ide ao redor dela; contai as suas 
torres. 
45 
 
13 Notai bem os seus antemuros, percorrei os seus 
palácios, para que tudo narreis à geração seguinte. 
14 Porque este Deus é o nosso Deus para todo o 
sempre; ele será nosso guia até a morte. 
 
Salmo 49 
 
1 Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos, 
todos os habitantes do mundo, 
2 quer humildes quer grandes, tanto ricos como 
pobres. 
3 A minha boca falará a sabedoria, e a meditação do 
meu coração será de entendimento. 
4 Inclinarei os meus ouvidos a uma parábola; decifrarei 
o meu enigma ao som da harpa. 
5 Por que temeria eu nos dias da adversidade, ao 
cercar-me a iniquidade dos meus perseguidores, 
6 dos que confiam nos seus bens e se gloriam na 
multidão das suas riquezas? 
7 Nenhum deles de modo algum pode remir a seu 
irmão, nem por ele dar um resgate a Deus, 
8 (pois a redenção da sua vida é caríssima, de sorte que 
os seus recursos não dariam;) 
9 para que continuasse a viver para sempre, e não visse 
a cova. 
10 Sim, ele verá que até os sábios morrem, que 
perecem igualmente o néscio e o estúpido, e deixam a 
outros os seus bens. 
11 O pensamento íntimo deles é que as suas casas são 
perpétuas e as suas habitações de geração em geração; 
dão às suas terras os seus próprios nomes.46 
 
12 Mas o homem, embora esteja em honra, não 
permanece; antes é como os animais que perecem. 
13 Este é o destino dos que confiam em si mesmos; o 
fim dos que se satisfazem com as suas próprias 
palavras. 
14 Como ovelhas são arrebanhados ao Seol; a morte os 
pastoreia; ao romper do dia os retos terão domínio 
sobre eles; e a sua formosura se consumirá no Seol, 
que lhes será por habitação. 
15 Mas Deus remirá a minha alma do poder do Seol, 
pois me receberá. 
16 Não temas quando alguém se enriquece, quando a 
glória da sua casa aumenta. 
17 Pois, quando morrer, nada levará consigo; a sua 
glória não descerá após ele. 
18 Ainda que ele, enquanto vivo, se considera feliz e os 
homens o louvam quando faz o bem a si mesmo, 
19 ele irá ter com a geração de seus pais; eles nunca 
mais verão a luz 
20 Mas o homem, embora esteja em honra, não 
permanece; antes é como os animais que perecem. 
 
Estaremos comentando estes salmos em conjunto. 
Quão duro e corrompido é o coração carnal para que 
possa entender qual é a verdadeira natureza da glória. 
O homem se aplica a fazer coisas grandiosas, 
espetaculares, para se orgulhar delas e fazer com que 
seu coração seja inteiramente dominado pela glória 
destas coisas terrenas que ele fabrica pela sua própria 
imaginação, engenhosidade e habilidades. Contudo, há 
uma glória ao redor dele, criada pelo próprio Deus, 
numa grandiosidade que não pode ser igualada, quer na 
sua variedade e formas, quer na sua própria essência. 
47 
 
Veja as estrelas do céu. O próprio firmamento. As 
árvores, suas flores e frutos. Os animais que enchem 
tanto a terra, quanto os mares e os céus. Os minerais em 
sua grande variedade e preciosidade. Tão grandes e 
numerosas são as obras de Deus que não podem ser 
mensuradas. No entanto, não é comum que o homem se 
glorie nelas, porque afinal, não são obras de suas 
próprias mãos. Então, endurecido para a beleza da 
criação, volta-se para se gloriar em coisas efêmeras 
criadas pelas suas próprias mãos. Isto é uma forma de 
idolatria. Da pior das idolatrias, porque está centrada no 
culto de si mesmo, de sua própria inteligência, 
capacidade e poder. Para estes de nada lhes serve o 
grande alerta de Deus pronunciado pelo profeta em Sua 
Palavra: “23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na 
sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se 
glorie o rico nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, 
glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu 
sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na 
terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” 
(Jer 9.23,24). Na verdade, o homem, em sua presente 
condição de estar sujeito ao pecado, não tem nada do 
que se gloriar em si mesmo, senão do que se 
envergonhar e se humilhar diante do Senhor para que 
seja purificado dos seus pecados, e assim, sendo 
preservado, e mantendo o seu coração na humildade, 
possa fazer uma justa avaliação da verdadeira glória, 
que se encontra somente no próprio Senhor. Como diz o 
salmista nestes salmos, que Ele é grande e mui digno de 
ser louvado na sua cidade, no seu monte belo e 
sobranceiro que é a alegria de toda a terra, o monte 
Sião, situado na cidade do grande Rei, a saber, 
Jerusalém. É somente naquilo que se refere a Deus e que 
48 
 
pertence ao Seu culto, que devemos nos gloriar, assim 
como os israelitas se gloriavam no templo do Senhor, 
não propriamente pelas edificações propriamente ditas, 
mas por ser o lugar dedicado ao Seu serviço e adoração. 
Gloriar-se na construção de templos de pedra é algo que 
o Senhor não aprova, porque isto é idolatria. Devemos 
nos gloriar somente nEle. 
É bom lembrarmos o que Jesus disse aos discípulos, 
quando maravilhados lhe falavam acerca da beleza do 
templo de Jerusalém: “1 Ora, Jesus, tendo saído do 
templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os 
seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do 
templo. 2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em 
verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre 
pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1,2). Deus não 
está interessado na beleza exterior das coisas que 
fazemos, nem mesmo no que diz respeito ao nosso 
corpo e vestimentas, senão no interior do nosso 
coração, nas Suas virtudes que o estejam adornando. É 
neste tipo de beleza que Ele se gloria e acha a verdadeira 
glória, e não na das coisas que são passageiras, como por 
exemplo a da própria flor, que tem a sua glória, mas não 
devemos nos gloriar nelas porque delas é dito que: 
“Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória 
como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor;” 
(I Pe 1.24). 
Falando de flores, os homens costumam usá-las como 
adorno em seus festejos carnais, nos quais gastam 
grandes somas de dinheiro, para se gloriarem não 
propriamente no que fizeram, mas uns sobre os outros, 
na superação que não tem limite de se desejar mostrar 
que se é mais do que os outros, naquilo que realizam. 
Quanta pobreza e miséria há neste modo de pensar, 
49 
 
porque as mesmas flores que adornam seus festejos 
carnais, são também usadas para adornarem suas 
sepulturas. No entanto, não podem lembrar disso, 
porque o seu coração não está ligado continuamente na 
simplicidade que é devida a Cristo, e assim, não 
conseguem se amoldar às coisas simples, senão às que 
eles consideram grandes, e que aos olhos de Deus não 
passam de abominação, por causa do desejo de glória 
que há em seus corações pervertidos pela soberba. 
A glória efêmera das torres, dos palácios, das naus 
terrenas, passará pelo tempo ou pelo juízo de destruição 
que virá da parte do Senhor sobre toda a terra. 
Deveríamos ser então sensatos e não colocarmos o 
nosso coração nas coisas que são da terra, senão nas que 
são do céu. Aqueles que desejam se tornar poderosos na 
terra, haverão de ser abatidos pelo Senhor, e aos 
mansos fará com que herdem a terra para sempre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
Salmo 50 
 
 O Poderoso, o Senhor Deus, fala e convoca a terra 
desde o nascer do sol até o seu ocaso. 
2 Desde Sião, a perfeição da formosura. Deus 
resplandece. 
3 O nosso Deus vem, e não guarda silêncio; diante dele 
há um fogo devorador, e grande tormenta ao seu 
redor. 
4 Ele intima os altos céus e a terra, para o julgamento 
do seu povo: 
5 Congregai os meus santos, aqueles que fizeram 
comigo um pacto por meio de sacrifícios. 
6 Os céus proclamam a justiça dele, pois Deus mesmo é 
Juiz. 
7 Ouve, povo meu, e eu falarei; ouve, ó Israel, e eu te 
protestarei: Eu sou Deus, o teu Deus. 
8 Não te repreendo pelos teus sacrifícios, pois os teus 
holocaustos estão de contínuo perante mim. 
9 Da tua casa não aceitarei novilho, nem bodes dos 
teus currais. 
10 Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre 
milhares de outeiros. 
11 Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se 
move no campo é meu. 
12 Se eu tivesse fome, não to diria pois meu é o mundo 
e a sua plenitude. 
13 Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de 
bodes? 
14 Oferece a Deus por sacrifício ações de graças, e paga 
ao Altíssimo os teus votos; 
51 
 
15 e invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu 
me glorificarás. 
16 Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitares os 
meus estatutos, e em tomares o meu pacto na tua 
boca, 
17 visto que aborreces a correção, e lanças as minhas 
palavras para trás de ti? 
18 Quando vês um ladrão, tu te comprazes nele; e tens 
parte com os adúlteros. 
19 Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua trama 
enganos. 
20 Tu te sentas a falar contra teu irmão; difamas o filho 
de tua mãe. 
21 Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que 
na verdade eu era como tu; mas eu te arguirei, e tudo 
te porei à vista. 
22 Considerai pois isto, vós que vos esqueceis de Deus, 
para que eu não vos despedace, sem que haja quem 
vos livre. 
23 Aquele que oferece por sacrifício ações de graças me 
glorifica; e àquele que bem ordena o seu caminho eu 
mostrarei a salvação de Deus. 
 
É de fato admirável,que sem a iluminação do Espírito 
Santo, o homem não pode entender esta carta escrita 
por Deus para a humanidade que é a Bíblia. 
São tão claras e diretas as advertências que o Senhor faz 
contra aqueles que colocam sua confiança em ritos e 
cerimônias religiosas, em vez de uma verdadeira vida 
piedosa, de um coração transformado e santificado; e 
todavia muitos não se dão por avisados e continuam 
pensando que estão agradando a Deus por meramente 
se submeterem a ritos e cerimoniais religiosos. 
52 
 
O Senhor é juiz de todas estas coisas e dará a cada um 
conforme as Suas obras, quando julgar o mundo por 
meio do padrão da vida de Jesus Cristo. 
Não era, portanto, nos animais que eram oferecidos por 
Israel no Velho Testamento, que eles deveriam fazer o 
fim mesmo do ato de culto deles a Deus, porque todos 
os animais pertencem a Ele, e não necessita comer a 
carne deles e nem beber o seu sangue. Então, o sacrifício 
no qual eles deveriam concentrar a atenção deles era 
nas ações de graças e nos votos que tinham para com o 
Altíssimo, especialmente os relativos ao cumprimento 
dos Seus mandamentos. Somente agindo assim, 
invocariam ao Senhor no dia da angústia, e seriam 
livrados por Ele, e em consequência O glorificariam, 
como é do Seu propósito em relação ao Seu povo. Mas 
não deviam contar com isto, enquanto colocassem a 
confiança deles meramente nos sacrifícios de animais 
que Lhe ofereciam, e nos demais cultos externos 
exigidos pela Lei cerimonial, quando os mesmos não 
eram acompanhados por uma verdadeira piedade de 
coração. Quanto aos ímpios então, nem sequer lhes 
daria qualquer atenção quando repetiam os Seus 
preceitos e afirmavam de boca que estavam aliançados 
ao Senhor, porque aborreciam a disciplina e rejeitavam 
as Suas palavras. Eles se compraziam no roubo, e no 
adultério, eram maldizentes e difamadores, e como 
poderiam esperar contar com o favor de Deus enquanto 
permaneciam escravizados a estes pecados e a outros? 
Então somente àqueles que oferecem sacrifício de ações 
de graças, pelo reconhecimento de tudo o que o Senhor 
tem feito, e que preparam o seu caminho para andarem 
somente nas veredas da justiça, o Senhor daria que 
vissem a Sua salvação. 
53 
 
 
Salmo 51 
 
Salmo de Davi quando Natã veio ter com ele depois de 
ter pecado com Bate-Seba 
 
 Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua 
benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo 
a multidão das tuas misericórdias. 
2 Lava-me completamente da minha iniquidade, e 
purifica-me do meu pecado. 
3 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu 
pecado está sempre diante de mim. 
4 Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau 
diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em 
falares, e inculpável em julgares. 
5 Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me 
concedeu minha mãe. 
6 Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-
me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha 
alma. 
7 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e 
ficarei mais alvo do que a neve. 
8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem 
os ossos que esmagaste. 
9 Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas 
as minhas iniquidades. 
10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em 
mim um espírito estável. 
11 Não me lances fora da tua presença, e não retire de 
mim o teu santo Espírito. 
54 
 
12 Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me 
com um espírito voluntário. 
13 Então ensinarei aos transgressores os teus 
caminhos, e pecadores se converterão a ti. 
14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da 
minha salvação, e a minha língua cantará alegremente 
a tua justiça. 
15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca 
proclamará o teu louvor. 
16 Pois tu não te comprazes em sacrifícios; se eu te 
oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias. 
17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito 
quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não 
desprezarás, ó Deus. 
18 Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; 
edifica os muros de Jerusalém. 
19 Então te agradarás de sacrifícios de justiça dos 
holocaustos e das ofertas queimadas; então serão 
oferecidos novilhos sobre o teu altar. 
 
Este salmo revela a profundidade da graça de Deus que 
é oferecida para perdoar os nossos pecados, por mais 
terríveis que eles sejam, tal como o de Davi, ao qual se 
reporta. 
A mão potente do Senhor que pesou sobre Davi por mais 
de onze meses, desde o seu pecado de adultério com 
Bate-Seba, se transformou em mão de graça 
perdoadora, sem que Davi nada fizesse de meritório 
para tal, senão somente reconhecer e confessar o seu 
pecado, o que não havia feito naqueles onze meses, não 
meramente porque estivesse endurecido, mas porque 
não lhe foi concedido graça para arrependimento pelo 
Senhor, para que ele pudesse sair de debaixo da tristeza 
55 
 
e opressão de espírito, em que se encontrava, as quais 
ele descreve neste salmo. 
Davi sabia que o adultério era pecado. 
Que o que havia feito a Urias foi um ato covarde e 
abominável de assassinato traiçoeiro. 
Todavia, conseguiu crer que havia de fato sido perdoado 
por Deus, conforme lhe havia declarado o profeta Natã, 
depois dele ter confessado o seu pecado. 
Temos que crer na bondade de Deus para perdoar os 
nossos pecados, ainda que nossa alma tenha 
permanecido em densas trevas por um longo período, 
nos impedindo que pudéssemos dar um só passo 
adiante na nossa comunhão com o Senhor. 
A perseverança nos impõe que creiamos mesmo contra 
a esperança. Porque é assim fazendo que se chega a 
agradar a Deus, e que se move o Seu coração em nosso 
favor. 
Quando Natã disse a Davi que ele não morreria porque 
a sua transgressão havia sido perdoada por Deus, apesar 
das muitas terríveis consequências e sequelas que 
seriam decorrentes da mesma, Davi não se limitou a 
dizer a Deus muito obrigado. 
Ou então a ficar simplesmente contente com a notícia 
de que havia sido perdoado. 
Ele necessitava sentir a restauração da sua comunhão 
com o Senhor, pela testificação do Espírito Santo se 
movendo no seu interior, e voltando a lhe dar a antiga 
unção e alegria que ele havia perdido por causa do seu 
pecado. 
Então ele se pôs a clamar e a orar pedindo a Deus que 
tivesse misericórdia dele, segundo a Sua benignidade e 
segundo a multidão das Suas misericórdias, e que 
56 
 
apagasse as suas transgressões, por meio da 
manifestação de tal benignidade e misericórdia. 
Ele pediu além disso que o Senhor o lavasse 
completamente da sua iniquidade e que o purificasse do 
seu pecado. 
Porque ele conhecia agora a profundidade do seu 
pecado, porque este estivera sempre diante dele, e foi 
um pecado contra Deus, porque era uma ofensa contra 
as suas leis relativas ao adultério e ao homicídio, de 
modo que Deus seria justo no que julgasse contra ele, 
que havia agido como um malfeitor. 
Ele não tinha como se justificar diante do Senhor, e não 
havia nada que pudesse desculpá-lo perante Ele, pelos 
seus atos, porque como todo homem, era pecador, 
concebido em pecado desde o ventre de sua mãe. 
Mas Deus se compraz na verdade no íntimo e no 
recôndito lhe fez conhecer a sabedoria, porque sondou 
o seu coração e por meio do profeta Natã, revelou o que 
ele havia ocultado a seus próprios olhos, pensando que 
tinha direito de fazer tais coisas por causa da autoridade 
que tinha como rei. 
Ele sabia que não poderia ter alegria espiritual, e ser 
livrado do sentimento de que seus ossos haviam sido 
esmagados pelo juízo de Deus, caso Ele não o 
purificasse, e o lavasse, para que ficasse mais alvo do 
que a neve. 
Por isso pediu ao Senhor que escondesse o rosto dos 
seus pecados, não para não levá-los em conta, mas para 
que os esquecesse através do perdão, que apagaria 
todas as suas iniquidades, e criaria nele um coração 
puro, e renovaria mais uma vez nele um espírito 
inabalável, qual como o que possuía antes de ter 
pecado. 
57 
 
Como ele havia perdido a alegria da salvação, por ter 
entristecido (apagado)o Espírito Santo, se sentia 
repelido da presença do Senhor, e por isso Lhe pediu 
humildemente que restaurasse a sua vida espiritual, 
criando nele o mesmo espírito voluntário com o qual 
sempre Lhe havia servido. 
Se o Senhor lhe concedesse esta bênção, então ele 
poderia ensinar aos transgressores os caminhos de 
Deus, e eles se converteriam a Ele, pelo próprio 
testemunho de lhe ter sido perdoado tão horrível 
pecado. 
Não para incentivá-los a continuarem pecando 
contando com o perdão, porque bem sabia que de Deus 
não se zomba, e nem pode ser enganado, mas para que 
soubessem que há disponibilidade de graça e perdão 
suficientes para perdoar a todos os que buscarem viver 
em retidão perante Ele. 
Jesus pagou o preço altíssimo para o nosso perdão, 
sofrendo a terrível pena em nosso lugar, quando morreu 
na cruz. 
Então, sucedeu a Davi, o mesmo que ocorreria com 
Paulo no futuro, em seus argumentos para encorajar as 
pessoas a crerem no perdão de Jesus, porque se ele, 
perseguidor da Igreja, que era o principal dos pecadores, 
foi perdoado por Ele, então isto comprovava que estava 
disposto a perdoar a qualquer um que confiasse nEle 
como Salvador. 
Tal foi o horror gerado no espírito de Davi pelos juízos 
que o Senhor havia trazido sobre ele, e agora o grande 
constrangimento pelo Seu amor, que em vez de ordenar 
a sua morte por apedrejamento, conforme exigia a Lei, 
usando de graça para com ele, perdoando o seu pecado, 
que Davi pediu que o Senhor o livrasse para o futuro de 
58 
 
cometer crimes de sangue, tal como fizera com Urias, 
para que a sua língua pudesse exaltar a justiça do 
Senhor, que tem uma demanda com os homicidas. 
Davi orou também pedindo a Deus que abrisse de novo 
os seus lábios para que o louvasse, compondo hinos de 
louvor, conforme lhe eram dados pelo Espírito, porque 
naqueles onze meses, a sua harpa ficou desafinada e os 
seus lábios permaneceram emudecidos, porque o 
Espírito já não se movia nele, lhe dando motivos para 
louvar ao seu Deus. 
Assim, ele ofereceu a Deus o seu espírito quebrantado e 
o seu coração compungido e contrito, porque sabia que 
não seriam desprezados pelo Senhor, como sucederia 
com sacrifícios de animais que não fossem 
acompanhados por tal quebrantamento de espírito. 
Finalmente, ele lembra que não se tratava apenas de 
restaurar a sua vida, mas a da própria nação de Israel 
que era liderada por ele, e que certamente ficara 
impactada negativamente por causa do desagrado de 
Deus em relação ao seu pecado, e por isso lhe pediu que 
fizesse bem a Sião, segundo a Sua boa vontade. 
E uma vez restaurada a religião do coração tanto dele, 
quanto da nação, então poderiam se empenhar no culto 
cerimonial de apresentação de holocaustos e sacrifícios, 
que seriam então, agora, agradáveis a Deus. 
O Senhor conhecia perfeitamente a Davi. 
Sabia quão grande e sincero era o seu desejo de agradá-
lo em tudo. 
E viu como não podendo o diabo tentá-lo e fazê-lo cair 
no orgulho pelas vitórias de Davi nas guerras; pela 
grande prosperidade que o Senhor lhe havia dado em 
todo o seu reino; aproveitou-se e levou vantagem sobre 
ele quando o fez fixar seus olhos numa mulher que 
59 
 
tomava banho nua à frente da sacada do seu palácio 
real. 
O Senhor vira como por todos os meios o diabo tentara 
a Davi por longos anos, especialmente nas grandes 
perseguições e traições que recebeu da parte de Saul e 
de muitos dos seus conterrâneos, e como Davi resistira 
bravamente a tudo aquilo por amor do Seu nome, e para 
que este fosse glorificado ainda que à custa dos grandes 
sofrimentos que teve que suportar, então o Senhor se 
compadeceu dele, e Seu coração se encheu de 
misericórdia pelo Seu mavioso salmista, que agora se 
encontrava esmagado debaixo do peso do seu pecado. 
Por isso não pôde resistir por muito tempo e lhe enviou 
o profeta Natã para que fosse restaurado e levantado 
novamente por Ele. 
O mesmo o Senhor Jesus tem feito com todos aqueles 
do Seu povo que O amam sinceramente, e que desejam 
servi-lo acima dos seus próprios interesses. 
Ele os levantará se porventura caírem, porque se 
compadecerá deles, tal como havia se compadecido de 
Davi no passado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
Salmo 52 
 
Salmo de Davi, quando Doegue, edomita, fez saber a 
Saul que Davi havia entrado na casa do sacerdote 
Aimeleque 
 
 Por que te glorias na malícia, ó homem poderoso? 
pois a bondade de Deus subsiste em todo o tempo. 
2 A tua língua maquina planos de destruição, como 
uma navalha afiada, ó tu que usas de dolo. 
3 Tu amas antes o mal do que o bem, e o mentir do que 
o falar a verdade. 
4 Amas todas as palavras devoradoras, ó língua 
fraudulenta. 
5 Também Deus te esmagará para sempre; arrebatar-
te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á 
da terra dos viventes. 
6 Os justos o verão e temerão; e se rirão dele, dizendo: 
7 Eis aqui o homem que não tomou a Deus por sua 
fortaleza; antes confiava na abundância das suas 
riquezas, e se fortalecia na sua perversidade. 
8 Mas eu sou qual oliveira verde na casa de Deus; 
confio na bondade de Deus para sempre e 
eternamente. 
9 Para sempre te louvarei, porque tu isso fizeste, e 
proclamarei o teu nome, porque é bom diante de teus 
santos. 
 
Nós encontramos o contexto deste salmo em I Samuel 
22. 
61 
 
Davi se encontrava na caverna de Adulão, quando 
deixou a cidade de Nobe, fugindo do rei Saul. 
Saul estava acusando Davi injustamente de estar 
conspirando contra a sua vida. 
Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque, 
afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus 
para ser rei sobre todo Israel. 
Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele 
daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal, 
e aquela acusação não era procedente de modo 
nenhum. 
Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote 
Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de 
Saul, com o risco de sua própria vida, e ele foi 
inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada 
sabia sobre o assunto de que Davi estava fugindo do rei 
Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul 
como uma mentira, em razão do grande ódio que ele 
vinha alimentando contra Davi e considerou que todos 
os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua 
alegada conspiração contra ele. 
Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e 
transgressão, pois não somente ordenou a morte de 
todos os sacerdotes, e não somente matou oitenta e 
cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo 
escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de 
Aimeleque, que fugira e foi ter com Davi, como também 
matou à espada homens, mulheres, meninos e até 
mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas 
daquela cidade. 
O rei que deveria cuidar da segurança do povo do 
Senhor estava fazendo com grande injustiça, 
exatamente o oposto do que exigia o seu cargo. 
62 
 
Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de Deus, 
pois os que matam de tal modo injusto, pela espada 
também serão mortos, como viria a ocorrer mais tarde 
com Saul, em razão do juízo que o Senhor determinara 
sobre ele. 
Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele escreveu as 
palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira 
confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer 
juízos sobre os ímpios que intentavam contra a sua vida. 
Nós vemos que a providência divina inspirou tais 
palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue, 
que foi quem inspirou na verdade a escrita deste Salmo, 
mas a verdade que ele contém é uma verdade universal 
e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa 
ímpia, no caso, a de Doegue. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
Salmo 53 
 
 Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. 
Corromperam-se e cometeram abominável iniquidade; 
não há quem faça o bem. 
2 Deus olha lá dos céus para os filhos dos homens, para 
ver se há algum que tenha entendimento, que busque 
a Deus. 
3 Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram 
imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um.

Continue navegando