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Saltando Muralhas Salmos Livro II Silvio Dutra NOV/2015 2 Sumário Salmo 36 4 Salmo 37 7 Salmo 38 18 Salmo 39 21 Salmo 40 24 Salmo 41 28 Salmo 42 31 Salmo 43 34 Salmo 44 35 Salmo 45 38 Salmo 46 41 Salmo 47 43 Salmo 48 44 Salmo 49 44 Salmo 50 50 Salmo 51 53 Salmo 52 60 Salmo 53 63 Salmo 54 65 Salmo 55 74 Salmo 56 78 Salmo 57 81 Salmo 58 84 Salmo 59 87 3 Salmo 60 90 Salmo 61 93 Salmo 62 95 Salmo 63 98 Salmo 64 101 Salmo 65 104 Salmo 66 106 Salmo 67 109 Salmo 68 111 Salmo 69 115 Salmo 70 120 4 Salmo 36 Salmo de Davi A transgressão fala ao ímpio no íntimo do seu coração; não há temor de Deus perante os seus olhos. 2 Porque em seus próprios olhos se lisonjeia, cuidando que a sua iniquidade não será descoberta e detestada. 3 As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou de ser prudente e de fazer o bem. 4 Maquina o mal na sua cama; põe-se em caminho que não é bom; não odeia o mal. 5 A tua benignidade, Senhor, chega até os céus, e a tua fidelidade até as nuvens. 6 A tua justiça é como os montes de Deus, os teus juízos são como o abismo profundo. Tu, Senhor, preservas os homens e os animais. 7 Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade! Os filhos dos homens se refugiam à sombra das tuas asas. 8 Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente das tuas delícias; 9 pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz. 10 Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua justiça aos retos de coração. 11 Não venha sobre mim o pé da soberba, e não me mova a mão dos ímpios. 12 Ali caídos estão os que praticavam a iniquidade; estão derrubados, e não se podem levantar. 5 A inclinação para o mal, ainda que dissimulada, pode dar aos que são dominados por ela, a falsa sensação de que jamais serão descobertos, nem odiados, porque o seu orgulho lhes engana, e não permite enxergarem como perversidade abominável a Deus, as obras que eles praticam, as quais preferem chamar de estratagemas políticos, lampejos de grande inteligência, de argúcia, e outros adjetivos pomposos com o fim de se auto justificarem, só que Deus sempre as chamará de falsidade e obra de iniquidade. É somente na luz do conhecimento do caráter de Deus e da Sua santa vontade, que se pode discernir a corrupção do coração, e além da luz da graça pô-la a descoberto, também tem o poder de extirpá-la e fazer com que em vez de trevas, tenhamos luz em nosso espírito e alma, que nos habilita a fazer o que é bom. Mas ao que foge da luz de Jesus, e ama as trevas da iniquidade, até mesmo quando se deita em sua cama, não concilia o sono porque fica maquinando a perversidade, e ao levantar não poderá andar por caminhos retos, e nem ter neles prazer, porque está apegado ao mal. Todavia, o Senhor permanece imutável em Seu caminho de fidelidade, benignidade e justiça, pelas quais a terra e o que ela contém são preservados. O salmista cita o cuidado do Senhor até mesmo pelos animais; e isto é um fato notório, que todo aquele que é sensível para o bem, tem um sentimento terno para com toda a criação e procura preservá-la e amá-la. Somente o Senhor é o manancial de toda a vida, e só é possível ver a luz das coisas espirituais andando na luz do Senhor, que é Ele próprio. 6 Lembremos que Jesus disse de Si mesmo, ser a luz do mundo. Por isso a benignidade e a justiça do Senhor só podem ser conhecidas pelos que são retos de coração, e que O conhecem por uma experiência pessoal e íntima com Ele. Todavia, os obreiros da iniquidade serão derrubados e destruídos, pelos juízos de Deus, e não lhes será dado poderem se levantar, porque isto não lhes será permitido pelo Senhor, que os sujeitará a uma condenação eterna, como retribuição a todo o mal que praticaram contra o próximo e contra a preservação das obras das Suas mãos, das quais o homem é apenas mordomo em sua breve passagem neste mundo. 7 Salmo 37 Salmo de Davi Não te enfades por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. 2 Pois em breve murcharão como a relva, e secarão como a erva verde. 3 Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na terra, e te alimentarás em segurança. 4 Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. 5 Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. 6 E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu direito como o meio-dia. 7 Descansa no Senhor, e espera nele; não te enfades por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa maus desígnios. 8 Deixa a ira, e abandona o furor; não te enfades, pois isso só leva à prática do mal. 9 Porque os malfeitores serão exterminados, mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra. 10 Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; atentarás para o seu lugar, e ele ali não estará. 11 Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz. 12 O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes, 13 mas o Senhor se ri do ímpio, pois vê que vem chegando o seu dia. 8 14 Os ímpios têm puxado da espada e têm entesado o arco, para derrubarem o poder e necessitado, e para matarem os que são retos no seu caminho. 15 Mas a sua espada lhes entrará no coração, e os seus arcos quebrados. 16 Mais vale o pouco que o justo tem, do que as riquezas de muitos ímpios. 17 Pois os braços dos ímpios serão quebrados, mas o Senhor sustém os justos. 18 O Senhor conhece os dias dos íntegros, e a herança deles permanecerá para sempre. 19 Não serão envergonhados no dia do mal, e nos dias da fome se fartarão. 20 Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor serão como a beleza das pastagens; desaparecerão, em fumaça se desfarão. 21 O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo se compadece e dá. 22 Pois aqueles que são abençoados pelo Senhor herdarão a terra, mas aqueles que são por ele amaldiçoados serão exterminados. 23 Confirmados pelo Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; 24 ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor lhe segura a mão. 25 Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão. 26 Ele é sempre generoso, e empresta, e a sua descendência é abençoada. 27 Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada permanente. 9 28 Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os seus santos. Eles serão preservados para sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada. 29 Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre. 30 A boca do justo profere sabedoria; a sua língua fala o que é reto. 31 A lei do seu Deus está em seu coração; não resvalarão os seus passos. 32 O ímpio espreita o justo, e procura matá-lo. 33 O Senhor não o deixará nas mãos dele, nem o condenará quando for julgado. 34 Espera no Senhor, e segue o seu caminho, e ele te exaltará para herdares a terra; tu o verás quando os ímpios forem exterminados. 35 Vi um ímpio cheio de prepotência, e a espalhar-se como a árvore verde na terra natal. 36 Mas eu passei, e ele já não era; procurei-o, mas não pôde ser encontrado. 37 Nota o homem íntegro, e considera o reto, porque há para o homem de paz um porvir feliz. 38 Quanto aostransgressores, serão à uma destruídos, e a posteridade dos ímpios será exterminada. 39 Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia. 40 E o Senhor os ajuda e os livra; ele os livra dos ímpios e os salva, porquanto nele se refugiam. Davi era de fato um homem sábio e um grande santo, conforme podemos ver das palavras proferidas por ele neste salmo. Ele não era meramente sábio segundo a letra das Escrituras, mas segundo tudo o que pôde aprender da 10 experiência prática da vida, em sua intima comunhão com o Senhor. Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em muitos cristãos de nossos dias, porque ele se dispôs a viver inteiramente para o agrado de Deus, buscando viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus fez com que ele encontrasse a ambos, e que os percorresse de modo que se tornava cada vez mais sábio e mais santo. Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro sucesso não consiste na realização de nossos próprios projetos, e de se acumular muitos bens, fama e poder neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque, por fim tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível juízo aguardando por aqueles que fizeram de tais coisas o deus deles, e que não colocaram, por conseguinte, a sua confiança inteiramente no Senhor. Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama, riquezas e poder, e, no entanto, não permitiu que seu coração e desígnios fossem dirigidos pelo que possuía, ou mesmo pelo desejo que é muito comum de aumentá- los, quando se anda segundo a carne e não segundo o espírito. Davi diz aos homens que façam o bem, e que se alimentem da verdade, agradando-se do Senhor, porque somente assim fazendo, o coração poderá achar a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os desejos que serão achados no coração serão somente os desejos que são aprovados por Ele, e ali colocados por Ele próprio. Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a Ele e temos uma fé verdadeira que conduzirá tudo a bom termo no que se refere à nossa caminhada. 11 Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos ímpios, mas que fazem do próprio Senhor o grande objetivo de suas vidas, verão por fim que é esta a condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa justiça como a luz, e o nosso direito como o sol do meio- dia. Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as nossas causas, de modo que podemos achar nEle descanso e paz para as nossas almas, sem que tenhamos que nos irritar com aqueles que prosperam em seus caminhos à custa de levarem a cabo os seus maus intentos. O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja feita pelo diabo, quer diretamente, quer indiretamente por meio dos seus instrumentos, e deve manter a paz de mente e de espírito em toda e qualquer circunstância. Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver impacientemente por coisa alguma, porque no fim o resultado nunca será bom. O cristão deve ter o temor do Senhor permanentemente, e não imitar as obras das trevas, porque Ele tem um juízo determinado contra todos os que praticam o mal, mas os que esperam no Senhor herdarão a terra, conforme a Sua promessa. Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do Monte aos mansos? Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto, pensando que o ímpio há de prevalecer, porque o Senhor é longânimo e paciente, e tem determinado um dia em que julgará toda a carne. Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os justos a receberão por herança, e viverão numa perfeita paz juntamente com o Senhor e uns com os outros. 12 Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais que este lhe persiga, porque este se encontra debaixo de uma terrível condenação da qual poderá ser livrado somente caso se converta ao Senhor. Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do que a abundância de muitos ímpios, porque esta de nada lhes valerá no dia do Juízo. Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante a fé, nos torna herdeiros de uma herança eterna. Deus havia feito promessas específicas em tal sentido para os fiéis da sua casa, de que usaria de bondade eterna para com eles, conforme podemos ver em outras passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o Senhor firma os passos do homem bom de tal modo que se cair não ficará prostrado, porque o segura pela sua mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo. Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha a ter fome, não mendigará o pão jamais, porque o Senhor o sustentará. Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o bem, que a morada deles será perpétua, isto é, eterna. Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e os preservará para sempre, conforme tem prometido de não lançar fora a nenhum que venha a Ele. Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra, mas que habitarão nela para sempre; porque o Senhor não os deixará nas mãos do perverso, e nem os condenará no juízo. Davi estava falando de coisas escatológicas pelo Espírito, porque disse que o Senhor exaltaria o justo para possuir a terra, e que ele presenciaria isto quando os ímpios fossem exterminados, e que eles serão 13 exterminados a um só tempo juntamente com a descendência deles, ou seja, os que são tão ímpios quanto eles. Vale a pena inserir no comentário deste salmo a promessa que Deus fez a Davi quanto à segurança eterna da salvação, conforme palavras de II Samuel 23.1-7: “1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do Deus de Jacó, o suave salmista de Israel. 2 O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na minha língua. 3 Falou o Deus de Israel, a Rocha de Israel me disse: Quando um justo governa sobre os homens, quando governa no temor de Deus, 4 será como a luz da manhã ao sair do sol, da manhã sem nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor do sol, a erva brota da terra. 5 Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo? 6 Porém os ímpios todos serão como os espinhos, que se lançam fora, porque não se pode tocar neles; 7 mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no mesmo lugar.” As últimas palavras proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo em 14 todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1). Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2). Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15). Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4). Assim, é descrito o caráter de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?”. Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que pertence a esta casa, e é Senhorsobre ela, pois não foi estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”. Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi. 15 Na verdade, não há outra esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi. Tanto que aqueles que permanecerem na condição de filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, isto é, não se permitem serem transformados e educados na justiça por Deus. Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar (v. 6,7). As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará. Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios. Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que corre no sangue. Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3). Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena. O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a 16 Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações. Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar sobre a Sua casa. E esta segurança é garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador da nossa fé e salvação. Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi. A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre. Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi: “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3). É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna. Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua. Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação. Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5). Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela. Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a 17 glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ela o será no céu. E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos. Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS. Por isso Jesus afirma que não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele. Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador. E se diz que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada por Deus. Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu. Ela está tão bem estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu. Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo. Ainda que todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça. As misericórdias prometidas aos aliançados são seguras, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé. A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura. É segura porque é suficiente. Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto que a nossa salvação depende. 18 Salmo 38 Salmo de Davi Ó Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor. 2 Porque as tuas flechas se cravaram em mim, e sobre mim a tua mão pesou. 3 Não há coisa sã na minha carne, por causa da tua cólera; nem há saúde nos meus ossos, por causa do meu pecado. 4 Pois já as minhas iniquidades submergem a minha cabeça; como carga pesada excedem as minhas forças. 5 As minhas chagas se tornam fétidas e purulentas, por causa da minha loucura. 6 Estou encurvado, estou muito abatido, ando lamentando o dia todo. 7 Pois os meus lombos estão cheios de ardor, e não há coisa sã na minha carne. 8 Estou gasto e muito esmagado; dou rugidos por causa do desassossego do meu coração. 9 Senhor, diante de ti está todo o meu desejo, e o meu suspirar não te é oculto. 10 O meu coração está agitado; a minha força me falta; quanto à luz dos meus olhos, até essa me deixou. 11 Os meus amigos e os meus companheiros afastaram-se da minha chaga; e os meus parentes se põem à distância. 12 Também os que buscam a minha vida me armam laços, e os que procuram o meu mal dizem coisas perniciosas, 19 13 Mas eu, como um surdo, não ouço; e sou qual um mudo que não abre a boca. 14 Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja boca há com que replicar. 15 Mas por ti, Senhor, espero; tu, Senhor meu Deus, responderás. 16 Rogo, pois: Ouve-me, para que eles não se regozijem sobre mim e não se engrandeçam contra mim quando resvala o meu pé. 17 Pois estou prestes a tropeçar; a minha dor está sempre comigo. 18 Confesso a minha iniquidade; entristeço-me por causa do meu pecado. 19 Mas os meus inimigos são cheios de vida e são fortes, e muitos são os que sem causa me odeiam. 20 Os que tornam o mal pelo bem são meus adversários, porque eu sigo o que é bom. 21 Não me desampares, ó Senhor; Deus meu, não te alongues de mim. 22 Apressa-te em meu auxílio, Senhor, minha salvação. Este salmo revela o modo muito sério que Davi considerava o pecado. Não o reputava como coisa pequena, sem importância, como os que se desculpam por causa da fraqueza da natureza terrena. Ele não fazia isto porque bem conhecia qual é o poder muito superior da graça de Deus, ao poder do pecado, de forma que nunca se permitiria ficar vencido pelo pecado, sabendo que seria uma grande afronta para o Senhor rejeitar a concessão de tão grande graça que Ele mantém a disposição de todos os Seus filhos. 20 Isto era também grande em Davi, porque se podemos dizer dele que teve uma vida cheia de percalços, podemos também dizer que foi grande em se arrepender diante do Senhor. Com isto, ele achava até mesmo em suas fraquezas, oportunidade de exaltar e engrandecer o Senhor, por se diminuir a seus próprios olhos, e reconhecera sua total pobreza de espírito, ao mesmo tempo que recorria à graça do Senhor para ser perdoado. É preciso aprendermos com ele nesta parte, porque muitos se deixam atormentar por seus pecados, não por causa de terem entristecido ao Senhor, mas porque se sentem desonrados por si mesmos, e se entregam a autocomiserações que são na verdade altas expressões de justiça própria e de incredulidade na bondade, misericórdia, amor e poder de Deus, em nos perdoar e aceitar. Davi, ao contrário disto, reconhecia a sua culpa, e tinha o Senhor sempre por justo em tudo o que lhe sucedia, no entanto, se entregava inteiramente ao Seu cuidado, sabendo que é muito bondoso e misericordioso, e isto é fé na prática, é honra na prática, e disto o Senhor se agrada. 21 Salmo 39 Salmo de Davi Disse eu: Guardarei os meus caminhos para não pecar com a minha língua; guardarei a minha boca com uma mordaça, enquanto o ímpio estiver diante de mim. 2 Com silêncio fiquei qual um mundo; calava-me mesmo acerca do bem; mas a minha dor se agravou. 3 Abraseou-se-me dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava acendeu-se o fogo; então com a minha língua, dizendo; 4 Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou. 5 Eis que mediste os meus dias a palmos; o tempo da minha vida é como que nada diante de ti. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade. 6 Na verdade, todo homem anda qual uma sombra; na verdade, em vão se inquieta, amontoa riquezas, e não sabe quem as levará. 7 Agora, pois, Senhor, que espero eu? a minha esperança está em ti. 8 Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio do insensato. 9 Emudecido estou, não abro a minha boca; pois tu és que agiste, 10 Tira de sobre mim o teu flagelo; estou desfalecido pelo golpe da tua mão. 22 11 Quando com repreensões castigas o homem por causa da iniquidade, destróis, como traça, o que ele tem de precioso; na verdade todo homem é vaidade. 12 Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas lágrimas, porque sou para contigo como um estranho, um peregrino como todos os meus pais. 13 Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome alento, antes que me vá e não exista mais. Davi era um grande rei. Fez proezas com o Senhor e estendeu as fronteiras de Israel para além das nações pagãs ímpias. Todavia, sua alma era como a de uma criança na presença do Senhor, não no que tange a fazer criancices, mas como quem se colocava debaixo do cuidado de Deus inteiramente, tal como um bebê no colo de sua mãe. Chega a comover o nosso coração tão grande humildade, e ainda por cima na pessoa de um rei. Seu coração era muito diferente do de muitos governantes, que cegados pelo poder, esquecem até mesmo que morrerão um dia, e por isso vivem na prepotência e arrogância como se fossem viver para sempre neste mundo, e que não terão que prestar contas a ninguém de seus atos, mesmo ao Criador. Contudo, como Davi era um rei segundo o coração de Deus, recebeu dEle sabedoria para que seu coração não se exaltasse, e sabia que a sua vida, apesar de ser rei, seria breve neste mundo como a de qualquer outro mortal, pois é tal como nuvem que passa. Não era a velhice e nem o ter que partir deste mundo que o amedrontava, mas o fato de não viver com isto em 23 perspectiva, de modo que viesse a perder o temor devido ao Senhor. Ele sabia que depois desta vida a sua única herança seria a mesma que ele havia tido enquanto em vida, a saber, o próprio Senhor. Deus era a sua herança neste mundo e era a única herança que ele desejava ter consigo quando daqui partisse. Então ele pediu ao Senhor que lhe desse reconhecer sempre qual era a sua fragilidade. Como era o próprio Senhor a sua única esperança, então lhe pediu também que o livrasse de todas as suas iniquidades, para que não se tornasse o opróbrio do insensato. Como agradava a Davi se rebaixar diante do Senhor, por isso Ele o exaltou sobremaneira, porque a quem se humilha, Ele dá mais graça. Ele não queria viver pecando, nem naquelas coisas que muitos consideram mínimas. Ele não queria pecar por falta de prudência quando estivesse na presença do ímpio, quando instigados por eles podemos falar coisas que não convêm a santos, e o dito da nossa boca passa a ser precipitado. Por isso Davi decidiu colocar uma mordaça em sua boca quando estivesse na presença do ímpio. 24 Salmo 40 Salmo de Davi Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor. 2 Também me tirou duma cova de destruição, dum charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. 3 Pôs na minha boca um cântico novo, um hino ao nosso Deus; muitos verão isso e temerão, e confiarão no Senhor. 4 Bem-aventurado o homem que faz do Senhor a sua confiança, e que não atenta para os soberbos nem para os apóstatas mentirosos. 5 Muitas são, Senhor, Deus meu, as maravilhas que tens operado e os teus pensamentos para conosco; ninguém há que se possa comparar a ti; eu quisera anunciá-los, e manifestá-los, mas são mais do que se podem contar. 6 Sacrifício e oferta não desejas; abriste-me os ouvidos; holocausto e oferta de expiação pelo pecado não reclamaste. 7 Então disse eu: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito a meu respeito: 8 Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração. 9 Tenho proclamado boas-novas de justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios; 10 Não ocultei dentro do meu coração a tua justiça; apregoei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi 25 da grande congregação a tua benignidade e a tua verdade. 11 Não detenhas para comigo, Senhor a tua compaixão; a tua benignidade e a tua fidelidade sempre me guardem. 12 Pois males sem número me têm rodeado; as minhas iniquidades me têm alcançado, de modo que não posso ver; são mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça, pelo que desfalece o meu coração. 13 Digna-te, Senhor, livra-me; Senhor, apressa-te em meu auxílio. 14 Sejam à uma envergonhados e confundidos os que buscam a minha vida para destruí-la; tornem atrás e confundam-se os que me desejam o mal. 15 Desolados sejam em razão da sua afronta os que me dizem: Ah! Ah! 16 Regozijem-se e alegrem-se em ti todos os que te buscam. Digam continuamente os que amam a tua salvação: Engrandecido seja o Senhor. 17 Eu, na verdade, sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu. Davi era tipo de Jesus não somente quanto ao Seu governo justo, como também por ser um rei justo que se desviava do mal. Guardadas as devidas proporções, o reino de Davi era um tipo do reino de Cristo, que não é deste mundo. Como o reino do Senhor não vem com aparência visível, porque é eminentemente espiritual em nossos corações, então, aqueles que andam por vista e não por fé, jamais verão tal reino, e não poderão compreender as realidades e virtudes espirituais que o compõem, que 26 são, no entanto, a coisa mais real e imutável para aqueles que são participantes do reino, porque sabem que tudo o mais passará, mas as realidades para as quais as palavras de Cristo apontam, jamais passarão. Por isso Davi podia ter tal convicção em relação às coisas futuras, pertencentes ao reino do Senhor, porque estas lhes eram reveladas por Deus ao seu espírito. Por isso dispunha seu coração a se inclinar sempre para as coisas de Deus, para a justiça, para a pureza, para a bondade, para a santidade, porque bem sabia que não é para o Senhor que pende a confiança dos arrogantes e afeiçoados à mentira. E ao se referir a estas coisas estava pensando na maldade extrema que está apegada ao coração dos perversos, e que por fimserá a própria espada que os destruirá no dia do grande Juízo de Deus. Tão identificado estava em figura o reinado de Davi com o de Cristo, pelo desígnio de Deus, que lhe foi dado ter uma revelação específica neste salmo, como em outros, acerca da total devoção de Jesus ao Pai, para fazer a Sua vontade, quanto a reinar sobre o Seu povo, tal como Davi fizera em seus dias: Isto demonstra então claramente que esta questão de ser um rei segundo o coração de Deus, tal como Davi e Jesus, não é devida a meras atitudes externas que expressem decisões justas, mas ter a lei de Deus escrita no próprio coração, e se agradar em fazer a Sua vontade, para proclamar as boas novas da salvação, que é mediante a justificação pela graça, mediante a fé, à grande congregação dos justos, ou seja, daqueles que crerão na pregação destas boas novas para que sejam salvos. 27 Jesus não tinha pecado, mas Davi estava sujeito ao pecado e não escondeu este fato em seus salmos, mas ele tinha por alvo o mesmo alvo de Cristo, que era o de glorificar o nome de Deus, pelo seu testemunho de boas obras de justiça diante dos homens, e por isso levava tão a sério os seus pecados, porque não deixava que criassem raízes e se alastrassem, antes mortificava a todos eles, orando insistentemente ao Senhor que fizesse nele tal trabalho de purificação, para que o Seu nome fosse magnificado, pelo testemunho de sua própria vida santificada por Deus, diante de todos os homens. 28 Salmo 41 Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal. 2 O Senhor o guardará, e o conservará em vida; será abençoado na terra; tu, Senhor não o entregarás à vontade dos seus inimigos. 3 O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe amaciarás a cama na sua doença. 4 Disse eu da minha parte: Senhor, compadece-te de mim, sara a minha alma, pois pequei contra ti. 5 Os meus inimigos falam mal de mim, dizendo: Quando morrerá ele, e perecerá o seu nome? 6 E, se algum deles vem ver-me, diz falsidades; no seu coração amontoa a maldade; e quando ele sai, é disso que fala. 7 Todos os que me odeiam cochicham entre si contra mim; contra mim maquinam o mal, dizendo: 8 Alguma coisa ruim se lhe apega; e agora que está deitado, não se levantará mais. 9 Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto confiava, e que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar. 10 Mas tu, Senhor, compadece-te de mim e levanta- me, para que eu lhes retribua. 11 Por isso conheço eu que te deleitas em mim, por não triunfar de mim o meu inimigo 12 Quanto a mim, tu me sustentas na minha integridade, e me colocas diante da tua face para sempre. 29 13 Bendito seja o Senhor Deus de Israel de eternidade a eternidade. Amém e amém. Neste Salmo, Davi se encontrava enfermo, e mesmo na fraqueza que é produzida pela doença, não se deixou agradar pelas palavras vãs dos falsos consoladores, porque mesmo em fraqueza a sua alma justa abominava o pecado. Agradava-lhe a companhia dos santos e dos justos. Ele conhecia o que era a maldade no coração do homem, porque mesmo aqueles que lhe visitavam, por motivo de cumprimento de uma mera norma social, mas não por um sincero desejo do coração, falavam mal dele pelas costas, logo que saíam da sua presença, e se regozijavam pelo fato de estar muito enfermo. Possivelmente deveriam diagnosticar a causa da enfermidade como sendo falta de fé, ou algum pecado cometido por Davi, com o intuito de lhe infamar o nome. Contudo, o Senhor assistia a Davi no seu leito de enfermidade e lhe afofava a cama. Mais do que ser sarado do corpo Davi aspirava ser sarado em sua alma, sendo perdoado dos seus pecados, para que os seus inimigos não tivessem motivo para falar mal dele. Mas quando foi que ele havia deixado de acudir ao necessitado? Então, necessitado que ele estava naquela hora, tinha a certeza, de que o Senhor, cuja bondade era maior do que a dele, lhe acudiria também, tal como ele havia acudido a outros. E portanto, lhe protegeria e preservaria a vida, contrariando as expectativas de seus inimigos em relação a ele. 30 Eles o odiavam a ponto de rosnarem como cães, e apostavam na sua morte. Mesmo o seu amigo íntimo, em quem havia depositado a sua confiança, e que comia à sua mesa, havia levantado contra ele o seu calcanhar, tal como Judas havia feito com nosso Senhor. Homens cobiçosos passam por amigos até o dia em que veem surgir alguma oportunidade para assumirem a posição de honra daqueles que se fizeram “amigos” por conveniência interesseira. Davi estava bem instruído acerca disto e pôde se acautelar deles nas orações que dirigia ao Senhor para livrá-lo de tais homens; mas aqueles que são ingênuos, crédulos, e que não podem discernir nem as próprias faltas, bem como as más intenções de outros, certamente haverão de cair nos laços que lhes forem armados por tais ímpios, tal logo observem o menor sinal de fraqueza neles. 31 Salmo 42 Salmo dos filhos de Coré Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus? 3 As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, porquanto se me diz constantemente: Onde está o teu Deus? 4 Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como eu ia com a multidão, guiando-a em procissão à casa de Deus, com brados de júbilo e louvor, uma multidão que festejava. 5 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença. 6 Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma está abatida; porquanto me lembrarei de ti desde a terra do Jordão, e desde o Hermom, desde o monte Mizar. 7 Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim. 8 Contudo, de dia o Senhor ordena a sua bondade, e de noite a sua canção está comigo, uma oração ao Deus da minha vida. 9 A Deus, a minha rocha, digo: Por que te esqueceste de mim? por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo? 32 10 Como com ferida mortal nos meus ossos me afrontam os meus adversários, dizendo-me continuamente: Onde está o teu Deus? 11 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. Este salmo mistura as alegrias das visitações da presença de Deus com as tristezas produzidas pelas perseguições e injúrias que sofremos neste mundo, por causa do nosso amor a Ele. Esta, é na verdade, a experiência de todos os que andam de fato na presença de Deus. Somente andando com Deus se pode entender porque o salmista declara ao mesmo tempo que “todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” referindo-se às provações e tribulações, e logo após diz: “contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida”; e ainda, imediatamente depois: “Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está? Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”, e finalmente, logo depois disto, numa forte e firme expressão de fé: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” Sem comunhão com Deus não se pode entender isto, porque sua bênção não significa ausência de tribulações. Ao contrário, importa que todo aquele que crê em Cristo e que anda em Sua pegadas, entre no reino de Deus por 33 meio de muitas tribulações, conforme afirma o apóstolo Paulo, porque é com elas quea alma é quebrantada, o ego é crucificado, a vida transformada à semelhança à de Cristo, para que se possa experimentar as doces consolações da presença do Senhor, que são tão vividamente expressadas neste salmo, e quão preciosas são estas visitações de Deus, que não as trocaríamos por nenhuma riqueza deste mundo, nem mesmo por todas elas. Por isso o salmista declara no início deste salmo que havia em sua alma um suspiro para encontrar ao Senhor, da mesma forma que a corça sedenta procura pelas correntes das águas. Porque a sua sede é do Deus vivo, e não propriamente das bênçãos que Ele possa lhe dar, porque nem mesmo estas podem saciar a sede da alma, senão somente a Sua própria presença. A alma não acha descanso ou sossego quando o Senhor não manifesta a Sua presença nela. Deste modo, o salmista sente saudades dos momentos de alegria espiritual na comunhão dos santos, quando se dirigiam para louvar ao Senhor na Sua casa. Contudo, ele repreendia as tristezas da sua alma pela ausência do Senhor, porque tinha a convicção de que haveria de estar de novo na Sua presença, porque Ele não tem prazer em se manter ausente daqueles que O buscam e O amam com um coração sincero, com fome e sede de justiça, porque tem prazer em saciar aos tais, conforme tem prometido fazer. 34 Salmo 43 Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa contra uma nação ímpia; livra-me do homem fraudulento e iníquo. 2 Pois tu és o Deus da minha fortaleza; por que me rejeitaste? por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo? 3 Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem; levem-me elas ao teu santo monte, e à tua habitação. 4 Então irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha grande alegria; e ao som da harpa te louvarei, ó Deus, Deus meu. 5 Por que estás abatida, ó minha alma? e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. A alma justa e santa não pode achar conforto longe dos louvores de Deus. Afinal, não foi criada para estar debaixo de desassossegos, temores e inseguranças, mas para estar quieta, tranquila e sossegada na fortaleza que é o nosso Deus. Então o salmista expressa os sentimentos de sua alma abatida pela ausência temporária que estava sentindo da presença de Deus, enquanto debaixo das opressões produzidas por seus inimigos. Contudo, o salmista repreendeu as tristezas da sua alma, porque tinha a convicção de que haveria de estar de novo diante dEle, porque não tem prazer em se manter ausente daqueles que O buscam com um coração sincero. 35 Salmo 44 Salmo dos filhos de Coré Ó Deus, nós ouvimos com os nossos ouvidos, nossos pais nos têm contado os feitos que realizaste em seus dias, nos tempos da antiguidade. 2 Tu expeliste as nações com a tua mão, mas a eles plantaste; afligiste os povos, mas a eles estendes-te largamente. 3 Pois não foi pela sua espada que conquistaram a terra, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua destra e o teu braço, e a luz do teu rosto, porquanto te agradaste deles. 4 Tu és o meu Rei, ó Deus; ordena livramento para Jacó. 5 Por ti derrubamos os nossos adversários; pelo teu nome pisamos os que se levantam contra nós. 6 Pois não confio no meu arco, nem a minha espada me pode salvar. 7 Mas tu nos salvaste dos nossos adversários, e confundiste os que nos odeiam. 8 Em Deus é que nos temos gloriado o dia todo, e sempre louvaremos o teu nome. 9 Mas agora nos rejeitaste e nos humilhaste, e não sais com os nossos exércitos. 10 Fizeste-nos voltar as costas ao inimigo e aqueles que nos odeiam nos despojam à vontade. 11 Entregaste-nos como ovelhas para alimento, e nos espalhaste entre as nações. 36 12 Vendeste por nada o teu povo, e não lucraste com o seu preço. 13 Puseste-nos por opróbrio aos nossos vizinhos, por escárnio e zombaria àqueles que estão à roda de nós. 14 Puseste-nos por provérbio entre as nações, por ludíbrio entre os povos. 15 A minha ignomínia está sempre diante de mim, e a vergonha do meu rosto me cobre, 16 à voz daquele que afronta e blasfema, à vista do inimigo e do vingador. 17 Tudo isto nos sobreveio; todavia não nos esquecemos de ti, nem nos houvemos falsamente contra o teu pacto. 18 O nosso coração não voltou atrás, nem os nossos passos se desviaram das tuas veredas, 19 para nos teres esmagado onde habitam os chacais, e nos teres coberto de trevas profundas. 20 Se nos tivéssemos esquecido do nome do nosso Deus, e estendido as nossas mãos para um deus estranho, 21 porventura Deus não haveria de esquadrinhar isso? pois ele conhece os segredos do coração. 22 Mas por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; somos considerados como ovelhas para o matadouro. 23 Desperta! por que dormes, Senhor? Acorda! não nos rejeites para sempre. 24 Por que escondes o teu rosto, e te esqueces da nossa tribulação e da nossa angústia? 25 Pois a nossa alma está abatida até o pó; o nosso corpo pegado ao chão. 26 Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por tua benignidade. 37 O salmista trouxe à memória os grandes feitos de Deus para o livramento do Seu povo, e para lhe dar vitória sobre as nações inimigas, porque ele queria se fortalecer para pedir auxílio ao Senhor para que livrasse os israelitas das presentes condições de opressão que eles estavam sofrendo por parte do inimigo. Isto serve de exemplo para a Igreja que enquanto debaixo de suas angústias presentes, deve trazer em recordação os grandes feitos de Deus do passado, para que possa ter esperança de que os terá também no presente. O jugo pesado da opressão não pode pesar por muito tempo naqueles que temem verdadeiramente ao Senhor, e Ele mesmo os livrará a Seu tempo de todas as suas angústias. Ele o fará conforme as orações que Lhe forem dirigidas por Seu povo, pedindo-Lhe livramento, para que reconheçam que é pela força do Seu próprio braço que eles são livrados e amparados, de modo que o Seu grande nome seja glorificado por eles. Assim, este salmo nos ensina, que não devemos ocupar nossa mente e coração somente com os grandes feitos que o Senhor tem operado nos nossos próprios dias, mas também com aqueles que Ele operou no passado, porque os fizera para o nosso conhecimento, de modo que não apenas o glorifiquemos, como também a nossa fé nEle possa ser aumentada. 38 Salmo 45 Salmo dos filhos de Coré O meu coração trasborda de boas palavras; dirijo os meus versos ao rei; a minha língua é qual pena de um hábil escriba. 2 Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; a graça se derramou nos teus lábios; por isso Deus te abençoou para sempre. 3 Cinge a tua espada à coxa, ó valente, na tua glória e majestade. 4 E em tua majestade cavalga vitoriosamente pela causa da verdade, da mansidão e da justiça, e a tua destra te ensina coisas terríveis. 5 As tuas flechas são agudas no coração dos inimigos do rei; os povos caem debaixo de ti. 6 O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. 7 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros. 8 Todas as tuas vestes cheiram a mirra a aloés e a cássia; dos palácios de marfim os instrumentos de cordas e te alegram. 9 Filhas de reis estão entre as tuas ilustres donzelas; à tua mão direita está a rainha, ornada de ouro de Ofir. 10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece- te do teu povo e da casa de teu pai. 11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu senhor, presta-lhe, pois, homenagem. 39 12 A filha de Tiro estará ali com presentes; os ricos do povo suplicarão o teu favor. 13 A filha do rei está esplendente lá dentro do palácio; as suas vestes são entretecidas de ouro. 14 Em vestidos de cores brilhantes será conduzida ao rei; as virgens, suas companheirasque a seguem, serão trazidas à tua presença. 15 Com alegria e regozijo serão trazidas; elas entrarão no palácio do rei. 16 Em lugar de teus pais estarão teus filhos; tu os farás príncipes sobre toda a terra. 17 Farei lembrado o teu nome de geração em geração; pelo que os povos te louvarão eternamente. O autor de Hebreus (1.9) aplica este Salmo a nosso Senhor Jesus Cristo, sendo entronizado pelo Pai com uma unção que a nenhum outro foi concedida, e revela que a majestade de Jesus Cristo exige que para se estar debaixo do Seu governo, é necessário deixar a dependência de pais e mães, tal qual os nubentes que deixam o lar paterno, para se unirem em casamento. Aqui está declarado de modo evidente o mesmo que Jesus ensinou quanto a que o nosso amor por Ele deve ser maior do que o amor que temos por pai, mãe ou qualquer outro familiar, e até mesmo pela nossa própria vida, para que sejamos achados dignos de sermos Seus discípulos. Ninguém e nada deve ser, portanto, colocado pelos seus servos, em maior estima do que a que é devida a Ele. Na verdade, não se trata de uma comparação de pessoas ou coisas, mas de se ter um grande amor ao Senhor, à sua majestade e formosura real. 40 Então o salmista declara que é ao Rei Jesus que está dedicando esta composição que ele fizera em Sua honra. O motivo deste grande Rei ser exaltado é declarado: por Ele cavalgar prosperamente pela causa da verdade e da justiça, e não para pilhar reinos para aumentar suas riquezas terrenas, como costumam fazer os reis terrenos; suas flechas não são disparadas para produzir mortes, mas para submeter o coração dos Seus inimigos em todos os povos, a Ele, porque o Seu trono é para todo o sempre, porque Ele é Deus, e o cetro com que rege as nações é de equidade, porque não faz acepção de pessoas, porque ama a justiça e odeia a iniquidade. É citada no salmo as bodas do Cordeiro, que é Rei, com a Sua igreja, e estas serão um ato solene e de grande honra ao qual estarão presentes as virgens vigilantes que tinham óleo em suas lâmpadas para aguardarem o Noivo. As nações o servirão quando estabelecer o Seu trono de justiça na terra, e lhe trarão riquezas e presentes, e aqueles que estiverem a Seu lado reinarão juntamente com Ele para sempre. 41 Salmo 46 Salmo dos filhos de Coré Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. 2 Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se projetem para o meio dos mares; 3 ainda que as águas rujam e espumem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. 4 Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o lugar santo das moradas do Altíssimo. 5 Deus está no meio dela; não será abalada; Deus a ajudará desde o raiar da alva. 6 Bramam nações, reinos se abalam; ele levanta a sua voz, e a terra se derrete. 7 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. 8 Vinde contemplai as obras do Senhor, as desolações que tem feito na terra. 9 Ele faz cessar as guerras até os confins da terra; quebra o arco e corta a lança; queima os carros no fogo. 10 Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. 11 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. 42 Este salmo contrasta a firmeza e solidez eterna do reino de Deus, com a instabilidade dos reinos deste mundo, e até mesmo da própria terra. A firmeza das coisas terrenas, que são naturais e que se desgastam pelo uso, não pode sequer ser comparada com a cidade celestial cujo fundamento é Deus, sendo Ele próprio o nosso refúgio e fortaleza, e socorro sempre presente nas tribulações, daqueles que buscam refúgio nEle. O Senhor não somente protege dos perigos externos, como também fortalece com graça o nosso coração, para que não tema qualquer circunstância difícil. E eleva o espírito às regiões celestiais onde há alegria e paz, à visão do rio de água viva que está meio da cidade onde habita o Altíssimo. A morada de Deus não pode ser abalada, porque Ele está no meio dela. Quando o cristão está assentado nas regiões celestes juntamente com Cristo, por uma real comunhão com Ele, estando arrebatado em espírito para além dos tumultos e incertezas deste mundo, ele fica aquietado porque sabe que o Senhor está exaltado entre as nações e em toda a terra, sendo Ele o auxílio, socorro e refúgio do Seu povo. 43 Salmo 47 Salmo dos filhos de Coré Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com voz de júbilo. 2 Porque o Senhor Altíssimo é tremendo; é grande Rei sobre toda a terra. 3 Ele nos sujeitou povos e nações sob os nossos pés. 4 Escolheu para nós a nossa herança, a glória de Jacó, a quem amou. 5 Deus subiu entre aplausos, o Senhor subiu ao som de trombeta. 6 Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores. 7 Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai louvores com salmo. 8 Deus reina sobre as nações; Deus está sentado sobre o seu santo trono. 9 Os príncipes dos povos se reúnem como povo do Deus de Abraão, porque a Deus pertencem os escudos da terra; ele é sumamente exaltado. Este salmo é uma profecia relativa ao reino futuro do Messias sobre toda a terra, porque nunca se viu antes, e não será visto até que Jesus volte, todas as nações submetidas a Ele. O salmo prenuncia os louvores e aclamações que ocorrerão por ocasião da entronização de nosso Senhor diante de todas as nações, quando estas se reunirão ao povo de Deus, para adorarem o Rei de toda a terra no milênio. 44 Salmos 48 e 49 Salmos dos filhos de Coré Salmo 48 1 Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus, no seu monte santo. 2 De bela e alta situação, alegria de toda terra é o monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei. 3 Nos palácios dela Deus se fez conhecer como alto refúgio. 4 Pois eis que os reis conspiraram; juntos vieram chegando. 5 Viram-na, e então ficaram maravilhados; ficaram assombrados e se apressaram em fugir. 6 Aí se apoderou deles o tremor, sentiram dores como as de uma parturiente. 7 Com um vento oriental quebraste as naus de Társis. 8 Como temos ouvido, assim vimos na cidade do Senhor dos exércitos, na cidade do nosso Deus; Deus a estabelece para sempre. 9 Temos meditado, ó Deus, na tua benignidade no meio do teu templo. 10 Como é o teu nome, ó Deus, assim é o teu louvor até os confins da terra; de retidão está cheia a tua destra. 11 Alegre-se o monte Sião, regozijem-se as filhas de Judá, por causa dos teus juízos. 12 Dai voltas a Sião, ide ao redor dela; contai as suas torres. 45 13 Notai bem os seus antemuros, percorrei os seus palácios, para que tudo narreis à geração seguinte. 14 Porque este Deus é o nosso Deus para todo o sempre; ele será nosso guia até a morte. Salmo 49 1 Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos, todos os habitantes do mundo, 2 quer humildes quer grandes, tanto ricos como pobres. 3 A minha boca falará a sabedoria, e a meditação do meu coração será de entendimento. 4 Inclinarei os meus ouvidos a uma parábola; decifrarei o meu enigma ao som da harpa. 5 Por que temeria eu nos dias da adversidade, ao cercar-me a iniquidade dos meus perseguidores, 6 dos que confiam nos seus bens e se gloriam na multidão das suas riquezas? 7 Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, nem por ele dar um resgate a Deus, 8 (pois a redenção da sua vida é caríssima, de sorte que os seus recursos não dariam;) 9 para que continuasse a viver para sempre, e não visse a cova. 10 Sim, ele verá que até os sábios morrem, que perecem igualmente o néscio e o estúpido, e deixam a outros os seus bens. 11 O pensamento íntimo deles é que as suas casas são perpétuas e as suas habitações de geração em geração; dão às suas terras os seus próprios nomes.46 12 Mas o homem, embora esteja em honra, não permanece; antes é como os animais que perecem. 13 Este é o destino dos que confiam em si mesmos; o fim dos que se satisfazem com as suas próprias palavras. 14 Como ovelhas são arrebanhados ao Seol; a morte os pastoreia; ao romper do dia os retos terão domínio sobre eles; e a sua formosura se consumirá no Seol, que lhes será por habitação. 15 Mas Deus remirá a minha alma do poder do Seol, pois me receberá. 16 Não temas quando alguém se enriquece, quando a glória da sua casa aumenta. 17 Pois, quando morrer, nada levará consigo; a sua glória não descerá após ele. 18 Ainda que ele, enquanto vivo, se considera feliz e os homens o louvam quando faz o bem a si mesmo, 19 ele irá ter com a geração de seus pais; eles nunca mais verão a luz 20 Mas o homem, embora esteja em honra, não permanece; antes é como os animais que perecem. Estaremos comentando estes salmos em conjunto. Quão duro e corrompido é o coração carnal para que possa entender qual é a verdadeira natureza da glória. O homem se aplica a fazer coisas grandiosas, espetaculares, para se orgulhar delas e fazer com que seu coração seja inteiramente dominado pela glória destas coisas terrenas que ele fabrica pela sua própria imaginação, engenhosidade e habilidades. Contudo, há uma glória ao redor dele, criada pelo próprio Deus, numa grandiosidade que não pode ser igualada, quer na sua variedade e formas, quer na sua própria essência. 47 Veja as estrelas do céu. O próprio firmamento. As árvores, suas flores e frutos. Os animais que enchem tanto a terra, quanto os mares e os céus. Os minerais em sua grande variedade e preciosidade. Tão grandes e numerosas são as obras de Deus que não podem ser mensuradas. No entanto, não é comum que o homem se glorie nelas, porque afinal, não são obras de suas próprias mãos. Então, endurecido para a beleza da criação, volta-se para se gloriar em coisas efêmeras criadas pelas suas próprias mãos. Isto é uma forma de idolatria. Da pior das idolatrias, porque está centrada no culto de si mesmo, de sua própria inteligência, capacidade e poder. Para estes de nada lhes serve o grande alerta de Deus pronunciado pelo profeta em Sua Palavra: “23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jer 9.23,24). Na verdade, o homem, em sua presente condição de estar sujeito ao pecado, não tem nada do que se gloriar em si mesmo, senão do que se envergonhar e se humilhar diante do Senhor para que seja purificado dos seus pecados, e assim, sendo preservado, e mantendo o seu coração na humildade, possa fazer uma justa avaliação da verdadeira glória, que se encontra somente no próprio Senhor. Como diz o salmista nestes salmos, que Ele é grande e mui digno de ser louvado na sua cidade, no seu monte belo e sobranceiro que é a alegria de toda a terra, o monte Sião, situado na cidade do grande Rei, a saber, Jerusalém. É somente naquilo que se refere a Deus e que 48 pertence ao Seu culto, que devemos nos gloriar, assim como os israelitas se gloriavam no templo do Senhor, não propriamente pelas edificações propriamente ditas, mas por ser o lugar dedicado ao Seu serviço e adoração. Gloriar-se na construção de templos de pedra é algo que o Senhor não aprova, porque isto é idolatria. Devemos nos gloriar somente nEle. É bom lembrarmos o que Jesus disse aos discípulos, quando maravilhados lhe falavam acerca da beleza do templo de Jerusalém: “1 Ora, Jesus, tendo saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo. 2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1,2). Deus não está interessado na beleza exterior das coisas que fazemos, nem mesmo no que diz respeito ao nosso corpo e vestimentas, senão no interior do nosso coração, nas Suas virtudes que o estejam adornando. É neste tipo de beleza que Ele se gloria e acha a verdadeira glória, e não na das coisas que são passageiras, como por exemplo a da própria flor, que tem a sua glória, mas não devemos nos gloriar nelas porque delas é dito que: “Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor;” (I Pe 1.24). Falando de flores, os homens costumam usá-las como adorno em seus festejos carnais, nos quais gastam grandes somas de dinheiro, para se gloriarem não propriamente no que fizeram, mas uns sobre os outros, na superação que não tem limite de se desejar mostrar que se é mais do que os outros, naquilo que realizam. Quanta pobreza e miséria há neste modo de pensar, 49 porque as mesmas flores que adornam seus festejos carnais, são também usadas para adornarem suas sepulturas. No entanto, não podem lembrar disso, porque o seu coração não está ligado continuamente na simplicidade que é devida a Cristo, e assim, não conseguem se amoldar às coisas simples, senão às que eles consideram grandes, e que aos olhos de Deus não passam de abominação, por causa do desejo de glória que há em seus corações pervertidos pela soberba. A glória efêmera das torres, dos palácios, das naus terrenas, passará pelo tempo ou pelo juízo de destruição que virá da parte do Senhor sobre toda a terra. Deveríamos ser então sensatos e não colocarmos o nosso coração nas coisas que são da terra, senão nas que são do céu. Aqueles que desejam se tornar poderosos na terra, haverão de ser abatidos pelo Senhor, e aos mansos fará com que herdem a terra para sempre. 50 Salmo 50 O Poderoso, o Senhor Deus, fala e convoca a terra desde o nascer do sol até o seu ocaso. 2 Desde Sião, a perfeição da formosura. Deus resplandece. 3 O nosso Deus vem, e não guarda silêncio; diante dele há um fogo devorador, e grande tormenta ao seu redor. 4 Ele intima os altos céus e a terra, para o julgamento do seu povo: 5 Congregai os meus santos, aqueles que fizeram comigo um pacto por meio de sacrifícios. 6 Os céus proclamam a justiça dele, pois Deus mesmo é Juiz. 7 Ouve, povo meu, e eu falarei; ouve, ó Israel, e eu te protestarei: Eu sou Deus, o teu Deus. 8 Não te repreendo pelos teus sacrifícios, pois os teus holocaustos estão de contínuo perante mim. 9 Da tua casa não aceitarei novilho, nem bodes dos teus currais. 10 Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de outeiros. 11 Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se move no campo é meu. 12 Se eu tivesse fome, não to diria pois meu é o mundo e a sua plenitude. 13 Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes? 14 Oferece a Deus por sacrifício ações de graças, e paga ao Altíssimo os teus votos; 51 15 e invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás. 16 Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitares os meus estatutos, e em tomares o meu pacto na tua boca, 17 visto que aborreces a correção, e lanças as minhas palavras para trás de ti? 18 Quando vês um ladrão, tu te comprazes nele; e tens parte com os adúlteros. 19 Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua trama enganos. 20 Tu te sentas a falar contra teu irmão; difamas o filho de tua mãe. 21 Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que na verdade eu era como tu; mas eu te arguirei, e tudo te porei à vista. 22 Considerai pois isto, vós que vos esqueceis de Deus, para que eu não vos despedace, sem que haja quem vos livre. 23 Aquele que oferece por sacrifício ações de graças me glorifica; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Deus. É de fato admirável,que sem a iluminação do Espírito Santo, o homem não pode entender esta carta escrita por Deus para a humanidade que é a Bíblia. São tão claras e diretas as advertências que o Senhor faz contra aqueles que colocam sua confiança em ritos e cerimônias religiosas, em vez de uma verdadeira vida piedosa, de um coração transformado e santificado; e todavia muitos não se dão por avisados e continuam pensando que estão agradando a Deus por meramente se submeterem a ritos e cerimoniais religiosos. 52 O Senhor é juiz de todas estas coisas e dará a cada um conforme as Suas obras, quando julgar o mundo por meio do padrão da vida de Jesus Cristo. Não era, portanto, nos animais que eram oferecidos por Israel no Velho Testamento, que eles deveriam fazer o fim mesmo do ato de culto deles a Deus, porque todos os animais pertencem a Ele, e não necessita comer a carne deles e nem beber o seu sangue. Então, o sacrifício no qual eles deveriam concentrar a atenção deles era nas ações de graças e nos votos que tinham para com o Altíssimo, especialmente os relativos ao cumprimento dos Seus mandamentos. Somente agindo assim, invocariam ao Senhor no dia da angústia, e seriam livrados por Ele, e em consequência O glorificariam, como é do Seu propósito em relação ao Seu povo. Mas não deviam contar com isto, enquanto colocassem a confiança deles meramente nos sacrifícios de animais que Lhe ofereciam, e nos demais cultos externos exigidos pela Lei cerimonial, quando os mesmos não eram acompanhados por uma verdadeira piedade de coração. Quanto aos ímpios então, nem sequer lhes daria qualquer atenção quando repetiam os Seus preceitos e afirmavam de boca que estavam aliançados ao Senhor, porque aborreciam a disciplina e rejeitavam as Suas palavras. Eles se compraziam no roubo, e no adultério, eram maldizentes e difamadores, e como poderiam esperar contar com o favor de Deus enquanto permaneciam escravizados a estes pecados e a outros? Então somente àqueles que oferecem sacrifício de ações de graças, pelo reconhecimento de tudo o que o Senhor tem feito, e que preparam o seu caminho para andarem somente nas veredas da justiça, o Senhor daria que vissem a Sua salvação. 53 Salmo 51 Salmo de Davi quando Natã veio ter com ele depois de ter pecado com Bate-Seba Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. 2 Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. 3 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. 4 Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares. 5 Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe. 6 Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze- me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma. 7 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. 8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste. 9 Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. 10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável. 11 Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu santo Espírito. 54 12 Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. 13 Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti. 14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua cantará alegremente a tua justiça. 15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proclamará o teu louvor. 16 Pois tu não te comprazes em sacrifícios; se eu te oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias. 17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. 18 Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. 19 Então te agradarás de sacrifícios de justiça dos holocaustos e das ofertas queimadas; então serão oferecidos novilhos sobre o teu altar. Este salmo revela a profundidade da graça de Deus que é oferecida para perdoar os nossos pecados, por mais terríveis que eles sejam, tal como o de Davi, ao qual se reporta. A mão potente do Senhor que pesou sobre Davi por mais de onze meses, desde o seu pecado de adultério com Bate-Seba, se transformou em mão de graça perdoadora, sem que Davi nada fizesse de meritório para tal, senão somente reconhecer e confessar o seu pecado, o que não havia feito naqueles onze meses, não meramente porque estivesse endurecido, mas porque não lhe foi concedido graça para arrependimento pelo Senhor, para que ele pudesse sair de debaixo da tristeza 55 e opressão de espírito, em que se encontrava, as quais ele descreve neste salmo. Davi sabia que o adultério era pecado. Que o que havia feito a Urias foi um ato covarde e abominável de assassinato traiçoeiro. Todavia, conseguiu crer que havia de fato sido perdoado por Deus, conforme lhe havia declarado o profeta Natã, depois dele ter confessado o seu pecado. Temos que crer na bondade de Deus para perdoar os nossos pecados, ainda que nossa alma tenha permanecido em densas trevas por um longo período, nos impedindo que pudéssemos dar um só passo adiante na nossa comunhão com o Senhor. A perseverança nos impõe que creiamos mesmo contra a esperança. Porque é assim fazendo que se chega a agradar a Deus, e que se move o Seu coração em nosso favor. Quando Natã disse a Davi que ele não morreria porque a sua transgressão havia sido perdoada por Deus, apesar das muitas terríveis consequências e sequelas que seriam decorrentes da mesma, Davi não se limitou a dizer a Deus muito obrigado. Ou então a ficar simplesmente contente com a notícia de que havia sido perdoado. Ele necessitava sentir a restauração da sua comunhão com o Senhor, pela testificação do Espírito Santo se movendo no seu interior, e voltando a lhe dar a antiga unção e alegria que ele havia perdido por causa do seu pecado. Então ele se pôs a clamar e a orar pedindo a Deus que tivesse misericórdia dele, segundo a Sua benignidade e segundo a multidão das Suas misericórdias, e que 56 apagasse as suas transgressões, por meio da manifestação de tal benignidade e misericórdia. Ele pediu além disso que o Senhor o lavasse completamente da sua iniquidade e que o purificasse do seu pecado. Porque ele conhecia agora a profundidade do seu pecado, porque este estivera sempre diante dele, e foi um pecado contra Deus, porque era uma ofensa contra as suas leis relativas ao adultério e ao homicídio, de modo que Deus seria justo no que julgasse contra ele, que havia agido como um malfeitor. Ele não tinha como se justificar diante do Senhor, e não havia nada que pudesse desculpá-lo perante Ele, pelos seus atos, porque como todo homem, era pecador, concebido em pecado desde o ventre de sua mãe. Mas Deus se compraz na verdade no íntimo e no recôndito lhe fez conhecer a sabedoria, porque sondou o seu coração e por meio do profeta Natã, revelou o que ele havia ocultado a seus próprios olhos, pensando que tinha direito de fazer tais coisas por causa da autoridade que tinha como rei. Ele sabia que não poderia ter alegria espiritual, e ser livrado do sentimento de que seus ossos haviam sido esmagados pelo juízo de Deus, caso Ele não o purificasse, e o lavasse, para que ficasse mais alvo do que a neve. Por isso pediu ao Senhor que escondesse o rosto dos seus pecados, não para não levá-los em conta, mas para que os esquecesse através do perdão, que apagaria todas as suas iniquidades, e criaria nele um coração puro, e renovaria mais uma vez nele um espírito inabalável, qual como o que possuía antes de ter pecado. 57 Como ele havia perdido a alegria da salvação, por ter entristecido (apagado)o Espírito Santo, se sentia repelido da presença do Senhor, e por isso Lhe pediu humildemente que restaurasse a sua vida espiritual, criando nele o mesmo espírito voluntário com o qual sempre Lhe havia servido. Se o Senhor lhe concedesse esta bênção, então ele poderia ensinar aos transgressores os caminhos de Deus, e eles se converteriam a Ele, pelo próprio testemunho de lhe ter sido perdoado tão horrível pecado. Não para incentivá-los a continuarem pecando contando com o perdão, porque bem sabia que de Deus não se zomba, e nem pode ser enganado, mas para que soubessem que há disponibilidade de graça e perdão suficientes para perdoar a todos os que buscarem viver em retidão perante Ele. Jesus pagou o preço altíssimo para o nosso perdão, sofrendo a terrível pena em nosso lugar, quando morreu na cruz. Então, sucedeu a Davi, o mesmo que ocorreria com Paulo no futuro, em seus argumentos para encorajar as pessoas a crerem no perdão de Jesus, porque se ele, perseguidor da Igreja, que era o principal dos pecadores, foi perdoado por Ele, então isto comprovava que estava disposto a perdoar a qualquer um que confiasse nEle como Salvador. Tal foi o horror gerado no espírito de Davi pelos juízos que o Senhor havia trazido sobre ele, e agora o grande constrangimento pelo Seu amor, que em vez de ordenar a sua morte por apedrejamento, conforme exigia a Lei, usando de graça para com ele, perdoando o seu pecado, que Davi pediu que o Senhor o livrasse para o futuro de 58 cometer crimes de sangue, tal como fizera com Urias, para que a sua língua pudesse exaltar a justiça do Senhor, que tem uma demanda com os homicidas. Davi orou também pedindo a Deus que abrisse de novo os seus lábios para que o louvasse, compondo hinos de louvor, conforme lhe eram dados pelo Espírito, porque naqueles onze meses, a sua harpa ficou desafinada e os seus lábios permaneceram emudecidos, porque o Espírito já não se movia nele, lhe dando motivos para louvar ao seu Deus. Assim, ele ofereceu a Deus o seu espírito quebrantado e o seu coração compungido e contrito, porque sabia que não seriam desprezados pelo Senhor, como sucederia com sacrifícios de animais que não fossem acompanhados por tal quebrantamento de espírito. Finalmente, ele lembra que não se tratava apenas de restaurar a sua vida, mas a da própria nação de Israel que era liderada por ele, e que certamente ficara impactada negativamente por causa do desagrado de Deus em relação ao seu pecado, e por isso lhe pediu que fizesse bem a Sião, segundo a Sua boa vontade. E uma vez restaurada a religião do coração tanto dele, quanto da nação, então poderiam se empenhar no culto cerimonial de apresentação de holocaustos e sacrifícios, que seriam então, agora, agradáveis a Deus. O Senhor conhecia perfeitamente a Davi. Sabia quão grande e sincero era o seu desejo de agradá- lo em tudo. E viu como não podendo o diabo tentá-lo e fazê-lo cair no orgulho pelas vitórias de Davi nas guerras; pela grande prosperidade que o Senhor lhe havia dado em todo o seu reino; aproveitou-se e levou vantagem sobre ele quando o fez fixar seus olhos numa mulher que 59 tomava banho nua à frente da sacada do seu palácio real. O Senhor vira como por todos os meios o diabo tentara a Davi por longos anos, especialmente nas grandes perseguições e traições que recebeu da parte de Saul e de muitos dos seus conterrâneos, e como Davi resistira bravamente a tudo aquilo por amor do Seu nome, e para que este fosse glorificado ainda que à custa dos grandes sofrimentos que teve que suportar, então o Senhor se compadeceu dele, e Seu coração se encheu de misericórdia pelo Seu mavioso salmista, que agora se encontrava esmagado debaixo do peso do seu pecado. Por isso não pôde resistir por muito tempo e lhe enviou o profeta Natã para que fosse restaurado e levantado novamente por Ele. O mesmo o Senhor Jesus tem feito com todos aqueles do Seu povo que O amam sinceramente, e que desejam servi-lo acima dos seus próprios interesses. Ele os levantará se porventura caírem, porque se compadecerá deles, tal como havia se compadecido de Davi no passado. 60 Salmo 52 Salmo de Davi, quando Doegue, edomita, fez saber a Saul que Davi havia entrado na casa do sacerdote Aimeleque Por que te glorias na malícia, ó homem poderoso? pois a bondade de Deus subsiste em todo o tempo. 2 A tua língua maquina planos de destruição, como uma navalha afiada, ó tu que usas de dolo. 3 Tu amas antes o mal do que o bem, e o mentir do que o falar a verdade. 4 Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta. 5 Também Deus te esmagará para sempre; arrebatar- te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á da terra dos viventes. 6 Os justos o verão e temerão; e se rirão dele, dizendo: 7 Eis aqui o homem que não tomou a Deus por sua fortaleza; antes confiava na abundância das suas riquezas, e se fortalecia na sua perversidade. 8 Mas eu sou qual oliveira verde na casa de Deus; confio na bondade de Deus para sempre e eternamente. 9 Para sempre te louvarei, porque tu isso fizeste, e proclamarei o teu nome, porque é bom diante de teus santos. Nós encontramos o contexto deste salmo em I Samuel 22. 61 Davi se encontrava na caverna de Adulão, quando deixou a cidade de Nobe, fugindo do rei Saul. Saul estava acusando Davi injustamente de estar conspirando contra a sua vida. Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque, afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus para ser rei sobre todo Israel. Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal, e aquela acusação não era procedente de modo nenhum. Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de Saul, com o risco de sua própria vida, e ele foi inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada sabia sobre o assunto de que Davi estava fugindo do rei Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul como uma mentira, em razão do grande ódio que ele vinha alimentando contra Davi e considerou que todos os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua alegada conspiração contra ele. Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e transgressão, pois não somente ordenou a morte de todos os sacerdotes, e não somente matou oitenta e cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de Aimeleque, que fugira e foi ter com Davi, como também matou à espada homens, mulheres, meninos e até mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas daquela cidade. O rei que deveria cuidar da segurança do povo do Senhor estava fazendo com grande injustiça, exatamente o oposto do que exigia o seu cargo. 62 Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de Deus, pois os que matam de tal modo injusto, pela espada também serão mortos, como viria a ocorrer mais tarde com Saul, em razão do juízo que o Senhor determinara sobre ele. Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele escreveu as palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer juízos sobre os ímpios que intentavam contra a sua vida. Nós vemos que a providência divina inspirou tais palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue, que foi quem inspirou na verdade a escrita deste Salmo, mas a verdade que ele contém é uma verdade universal e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa ímpia, no caso, a de Doegue. 63 Salmo 53 Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. Corromperam-se e cometeram abominável iniquidade; não há quem faça o bem. 2 Deus olha lá dos céus para os filhos dos homens, para ver se há algum que tenha entendimento, que busque a Deus. 3 Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um.
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