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Nossa Relação com a Eternidade

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Nossa Relação com 
a Eternidade 
 
 
 
 
Por 
Silvio Dutra 
 
 
 
 
Nov/2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A474 
 Alves, Silvio Dutra 
 Nossa relação com a eternidade / Silvio 
 Dutra Alves 
 Rio de Janeiro, 2018. 
 90p.; 14,8 x21cm 
 
 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra. 
I. Título. 
 
 CDD 252 
 
 
 
 
3 
 
“E sei que o seu mandamento é vida eterna. 
Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente 
como o Pai me ordenou.” (João 12.50) 
“Assim como lhe deste autoridade sobre toda a 
carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles 
que lhe tens dado. E a vida eterna é esta: que te 
conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e 
a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (João 
17.2,3) 
Em sua significação geral a palavra eternidade 
carrega consigo a noção de tudo aquilo que 
jamais deixará de existir. Ainda que o tempo 
deixasse de existir, o ser eterno continuaria em 
sua existência. É fácil de se supor que todos os 
seres que vivem no céu, não estão sujeitos ao 
tempo, conforme ele corre em sucessão aqui na 
Terra, e pode-se dizer que todos os que lá vivem, 
encontram-se em estado eterno. 
Todavia, quando a palavra tem sua significação 
restringida àquilo que é espiritual, duas 
situações devem ser consideradas: 1) a primeira 
é relativa à condição que é chamada de morte 
eterna, em que se encontram todos os seres 
morais que não desfrutam da vida de Deus, e 2) 
a segunda, por conseguinte, à que é chamada de 
vida eterna, por corresponder ao desfrute da 
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vida de Deus por parte daqueles a quem isto é 
concedido, sejam homens ou anjos. É a esta 
segunda condição que os nossos textos de 
abertura se referem. 
Sendo Deus a fonte e a causa de todas as formas 
de vida que chegam por ele à existência, só 
podem ter vida eterna, assim como esta se 
encontra na divindade, aqueles que conhecem 
por experiência pessoal a Deus, e que têm 
participação da comunhão com ele, pois, é 
evidente, que tudo o que se encontra desligado 
da fonte, não pode ter continuidade em si 
mesmo., conforme tudo o que existe na fonte. 
Daí nosso Senhor ter conceituado a vida eterna 
de forma tão sucinta com as seguintes palavras: 
“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, 
como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, 
aquele que tu enviaste.” 
Este é um assunto fascinante por sua própria 
natureza intrínseca em sua extensão ilimitada, 
com variadas e infinitas formas de abordagens, 
das quais temos que selecionar e nos focar 
apenas naquilo que diz respeito às realidades 
espirituais conformem elas existem na própria 
pessoa de Deus. 
Mas, ao focarmos em Deus não estaremos, 
como muitos costumam conceber, fazendo 
considerações de algo monótono e estacionário. 
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Muito a contrário disso, trata-se de uma matéria 
sem limites, assim como é o próprio Deus, que 
não poderiam confiná-lo a algum aspecto 
determinante de tudo o mais. 
Deus é profundidade sem fundo, e suas 
múltiplas realidades e ações são todas elas de 
caráter eterno, assim como ele é eterno. 
Só para ilustrar um destes muitos aspectos, 
podemos antecipar um de importância capital 
que é o ato da morte e ressurreição de Jesus, que 
apesar de terem ocorrido historicamente em 
um determinado ponto do tempo, possuem um 
caráter eterno não somente de gratidão e louvor 
por parte daqueles que são e serão para sempre 
alcançados pela salvação, como também 
permanecem como atos eternos na produção de 
seus benefícios. Toda vez que alguém se 
converte, é como se eles se renovassem e 
ocorressem de novo, apesar de não ser assim, 
pois foram realizados de uma vez para sempre. 
Assim, a vida eterna é composta também de 
vários momentos, inclusive já passados, mas 
que carregam consigo não apenas a lembrança, 
mas a eficácia e os efeitos, de tudo aquilo que é 
bom e edificante, conforme existentes na 
pessoa de Deus. 
Por outro lado, pode-se definir a morte eterna, 
como o alijamento que durará para sempre, de 
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toda a bondade que há em Deus, porque, não se 
tendo experiência desta bondade e amor, não é 
possível trazê-los à lembrança, e nem mesmo 
ser participante de seus benefícios. 
A morte eterna é o estado de completa 
destituição de graça divina. É a miséria absoluta 
que atormentará para sempre a consciência que 
será ativada para este propósito de condenação 
perpétua, em todos aqueles que praticaram o 
mal, e não foram perdoados e lavados de suas 
iniquidades. 
Suas mentes serão aferroadas sem descanso por 
toda a eternidade, pelo próprio mal que 
praticaram, e do bem que fizeram, eles não 
terão qualquer lembrança, por não ter sido feito 
em Deus e por Deus. 
Somente o que procede de Deus terá a marca da 
eternidade, no que se refere ao bem. E nestes 
que são alcançados pela vida eterna divina, não 
haverá lembrança do mal que os atormente, 
porque tudo o que vier à tona, será para o louvor 
e glória de Jesus Cristo. Assim, até mesmo a 
lembrança do mal, naqueles que alcançarem a 
vida eterna em Deus, a maldição será 
transformada em motivo de bênção, em razão 
do perdão concedido a eles. 
Davi era um grande conhecedor, na prática, 
destas verdades, e por isso podia dizer que só um 
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dia nos átrios do Senhor tinha muito mais valor 
do que mil fora da Sua presença. Por que isto, 
porque aqueles momentos de um só dia, 
ficariam marcados na lembrança e na vida, para 
produzir todo um efeito bom de louvor, 
gratidão, alegria, e para consolidar a fé no amor 
de Deus por seus filhos. 
O profeta Jeremias, também conhecendo o 
poder e a realidade destes momentos de 
eternidade com Deus, em suas aflições, sempre 
procurava trazer à lembrança as coisas divinas 
pelas quais podia manter firme a sua esperança. 
Nenhuma boa obra feita em Deus deixará de ter 
o seu galardão, e jamais cairá no esquecimento. 
Aquele gesto de amor da mulher que derramou 
o unguento precioso sobre Jesus, recebeu dEle a 
promessa de que aquilo seria lembrado onde 
quer que o evangelho fosse pregado, para 
memória dela. E certamente, aquele ato nunca 
será esquecido por todos os crentes, por toda a 
eternidade, porque marca o amor eterno em 
ação entre Deus e os Seus. 
Não é preciso esperar para entrar nesta vida 
maravilhosa, porque ela já começa aqui; o reino 
eterno de Deus está em nós, a vida do céu está 
em nós, a partir do momento mesmo que nos 
convertemos a Cristo. A fé nos leva a nos 
apoderar das coisas que ainda não são vistas e 
que esperamos. Ela nos permite viver na 
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atmosfera espiritual e celestial ainda aqui neste 
mundo, e nos aponta a plenitude que teremos 
disto na glória. 
Somos seres criados para a eternidade – 
lembremos sempre disso, uma vez que formos 
criados para sermos à imagem e semelhança de 
Deus. 
Já à luz destas poucas reflexões nós podemos 
concluir quão errado é o modo de se pensar na 
vida eterna como algo desvinculado de nós 
mesmos, como se fosse apenas um simples 
prêmio recebido da parte de Deus, para ir para o 
céu depois da morte neste mundo, e ser livrado, 
por conseguinte, do castigo eterno no inferno. 
Neste sentido, foram muitos que perguntaram a 
Jesus o que deveriam fazer para herdar a vida 
eterna, conforme se vê no registro dos 
evangelhos. Não que eles estivessem pensando 
que mudança deveria ser feita em suas pessoas, 
como eles deveriam se converter a Deus, pois 
não estavam dispostos a isto, senão 
simplesmente, pensando se havia alguma 
forma ritualística de adoração exterior que eles 
ainda não conheciam, e que poderia lhes ser 
revelada por Jesus. (Lc 18.18). 
Sabemos, pelas Escrituras, que Deus planejou 
antes mesmo da fundação do mundo que a 
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salvação seria exclusivamente pela graça, 
mediante a fé e o arrependimento. 
Mas, quantasverdades estão atreladas a esta 
graça, a esta fé e a este arrependimento! Aqui, 
ao se falar de graça, não se deve pensar apenas 
no que é gratuito, mas sobretudo em poder que 
é capaz de converter e produzir santidade no 
pecador. Ao se falar de fé, não está em foco 
apenas crer e confiar, mas receber o dom de 
Deus que nos liga a Cristo, para que possamos 
receber da Sua própria vida, e todos os 
benefícios que Ele conquistou para nós na cruz. 
E o arrependimento que sempre acompanha a 
verdadeira fé, não é mera resignação, mas 
mudança de direção, do pecado para a 
santidade, do mundo e do diabo, para Deus. É 
uma mudança de mente, como está no original 
grego (metanoia) – de uma mente carnal, para 
uma mente espiritual. 
“Para que todo aquele que nele crê tenha a vida 
eterna. Porque Deus amou o mundo de tal 
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que 
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha 
a vida eterna.” (João 3.15, 16). 
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, 
porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas 
sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3.36). 
10 
 
A mente carnal que estava presa às coisas deste 
mundo, e incapaz de conhecer a vida de Deus 
por permanecer na ignorância das trevas, 
quando é vencida, e passamos a ter a mente de 
Cristo, que é obtida na conversão, abre-se um 
amplo horizonte diante de nós, de 
possibilidades que não têm fim, e que sempre 
estão em contínuo movimento assim como as 
águas de um rio que estão sempre correndo 
para o mar. A vida que recebemos de Deus, é 
como um rio de água viva que flui para o grande 
oceano do amor de Deus, e este rio jamais 
secará. 
“Mas aquele que beber da água que eu lhe der 
nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu 
lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre 
para a vida eterna.” (João 4.14). 
Esta que é a maravilha da coisa, pois apesar de 
Jesus ser o mesmo alimento do qual comemos 
sempre, não há qualquer possibilidade de vir a 
se tornar em uma rotina enjoada, porque assim 
como as águas do rio correm continuamente, 
elas nunca são as mesmas águas à medida que 
vão avançando. Assim, em relação a Cristo, que 
é sempre novo para nós, apesar de ser sempre o 
mesmo. Por isso a vida que temos com ele é 
chamada de novidade de vida, não apenas por 
ser algo diferente, mas por ser algo que está 
11 
 
sempre se renovando em nós, sem nunca 
alterar a sua substância santa. 
Paulo diz, a este respeito, que sendo novas 
criaturas em Cristo, o que é velho já passou e 
todas as coisas se fizeram novas, e que o homem 
exterior se corrompe, mas o novo, criado em 
Cristo e por Cristo, se renova diariamente. 
“Trabalhai, não pela comida que perece, mas 
pela comida que permanece para a vida eterna, 
a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, 
Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.” (João 6.27). 
João 6.47: Em verdade, em verdade vos digo: 
Aquele que crê tem a vida eterna. 
João 6.54: Quem come a minha carne e bebe o 
meu sangue tem a vida eterna; e eu o 
ressuscitarei no último dia. 
Como temos visto que a vida eterna se funda no 
bem que está em Deus, o pecado é o grande 
inimigo desta vida, e não podemos morrer para 
o pecado se não morrermos juntamente com 
Cristo, recebendo-o pela fé em nosso coração. 
Se não nos despojarmos do velho homem e não 
nos revestirmos do novo que é criado segundo 
Deus em justiça, não podemos achar os efeitos 
desta vida eterna atuando em nossa existência. 
12 
 
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste 
mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida 
eterna.” (João 12.25). 
É possível ter alcançado a vida eterna por meio 
da fé em Jesus e no entanto viver como morto 
espiritual, por causa da falta de mortificação do 
pecado. Quando não andamos no Espírito, o que 
há de prevalecer são as obras da carne. 
A razão de tudo isto, é porque, como já dissemos, 
a vida eterna é dinâmica, ela vive na piedade e 
no crescimento contínuo na graça e no 
conhecimento de Jesus. Se a água do rio é 
bloqueada ela ficará estagnada. Importa então 
exercitar-se diariamente na vida de piedade que 
para tudo é proveitosa, pois sem isto, não se verá 
todos os movimentos da vida eterna operando 
em nós e através de nós. 
Deus é Deus de vivos, e não de mortos. Vivos 
espirituais, e por isso seu mandamento é que 
não somente sejamos transportados da morte 
para a vida, mas que vivamos perante Ele como 
filhos avivados, renovados pelo Espírito Santo, 
cheios do fruto de justiça e boas obras. 
“E sei que o seu mandamento é vida eterna. 
Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente 
como o Pai me ordenou.” (João 12.50). 
13 
 
“Porque o salário do pecado é a morte, mas o 
dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo 
Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6.23). 
Sendo Deus espirito, e sua eternidade sendo 
então decorrente da sua espiritualidade, nunca 
podemos esquecer que todas as coisas naturais 
visíveis são temporais, e nada têm em si mesmas 
da vida eterna que são espirituais e, portanto, 
invisíveis, e que são reveladas como reais e 
eternas que são, para nós, pela fé. 
O nosso próprio corpo físico que tem a sua 
importância como veículo da alma, todavia, 
também é natural e temporal. Ele pode 
participar do culto a Deus, pois devemos adorá-
lo também com o nosso corpo, mas de modo 
algum ele é apto para atos espirituais, que são 
provenientes exclusivamente das faculdades do 
espírito. Por isso Jesus disse que a carne para 
nada aproveita, e que tudo o que é gerado pela 
carne é carnal e não espiritual. Somente o 
espírito é o que vivifica, e pode responder 
adequadamente à adoração a Deus, porque toda 
a adoração verdadeira é espiritual, porque Deus 
é espírito. 
“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas 
sim nas que se não veem; porque as que se veem 
14 
 
são temporais, enquanto as que se não veem são 
eternas.” (II Coríntios 4.18). 
“Porque quem semeia na sua carne, da carne 
ceifará a corrupção; mas quem semeia no 
Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” 
(Gálatas 6.8). 
Não podemos esquecer que a vida eterna não é 
algo que existe à parte de Jesus Cristo, porque 
Ele própria é a vida eterna, como definiu em seu 
ministério terreno que era a Videira Verdadeira, 
e o caminho e a verdade e a vida. Disto se 
depreende que somente pode ser dito que se 
tem vida eterna, quando se está em união com 
Cristo, participando de Sua vida, alimentando-
se dEle e vivendo nEle. 
“Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e 
nos deu entendimento para conhecermos 
aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele 
que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus 
Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” 
(I João 5.20). 
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém 
comer deste pão, viverá para sempre; e o pão 
que eu darei pela vida do mundo é a minha 
carne.” (João 6.51). 
15 
 
“Antes que as montanhas fossem geradas, ou 
você tivesse formado a terra e o mundo, de 
eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Salmo 90: 
2). 
O título deste salmo é uma oração; o autor, 
Moisés. Ele menciona aqui a eternidade de 
Deus, não somente com respeito à essência de 
Deus, mas à sua providência federal; como ele é 
a morada do seu povo em todas as gerações. A 
duração de Deus para sempre é mais falada nas 
Escrituras do que sua eternidade, embora essa 
seja a base de todo o conforto que podemos tirar 
de sua imortalidade: se ele tivesse um começo, 
ele poderia ter um fim, e assim toda a nossa 
felicidade, esperança e ser expiraria com 
ele; mas as Escrituras às vezes notam que ele é 
sem começo, assim como é sem fim: “Tu és da 
eternidade” (Salmos 93: 2); “Bendito seja Deus 
de eternidade a eternidade” (Salmo 41:13); “Fui 
instituído desde a eternidade” (Provérbios 8:23): 
se sua sabedoria existia desde a eternidade, ele 
mesmo seria de eternidade; entendê-lo de 
Cristo, o Filho de Deus, ou da sabedoriaessencial de Deus, é tudo um para o presente 
propósito. 
A sabedoria de Deus supõe a essência de Deus, 
como os hábitos nas criaturas supõem que o ser 
de algum poder ou faculdade é o assunto deles. 
16 
 
A sabedoria de Deus supõe mente e 
compreensão, essência e substância. A noção de 
eternidade é difícil; como Agostinho disse do 
tempo, se ninguém me fizesse a pergunta, que 
horas são, eu sei bem o que é; mas se alguém me 
perguntar o que é, não sei como explicá-lo; 
então posso dizer da eternidade; é fácil na 
palavra pronunciada, mas dificilmente 
compreendida e mais dificilmente expressada; 
é melhor expresso por negativas do que palavras 
positivas. Embora não possamos compreender a 
eternidade, podemos compreender que existe 
uma eternidade; como, embora não possamos 
compreender a essência de Deus o que ele é, 
mas podemos compreender que ele é; podemos 
entender a noção de sua existência, embora não 
possamos entender a infinitude de sua 
natureza; contudo, podemos entender melhor a 
eternidade do que a infinitude; nós podemos 
melhor conceber um tempo com a adição de 
inumeráveis dias e anos, do que imaginar um 
Ser sem limites; de onde o apóstolo junta a sua 
eternidade com seu poder; “Seu eterno poder e 
divindade” (Rom. 1:20); porque, ao lado do poder 
de Deus, apreendido na criatura, nós viemos 
necessariamente por raciocínio, a reconhecer a 
eternidade de Deus. Aquele que tem um poder 
incompreensível precisa ter uma natureza 
eterna; seu poder é mais sensível nas criaturas 
aos olhos do homem, e sua eternidade 
17 
 
facilmente a partir daí é deduzível pela razão do 
homem. A eternidade é uma duração perpétua, 
que não tem começo nem fim; o tempo tem 
ambos. 
As coisas que dizemos são, no tempo, que 
começam, crescem gradualmente, têm 
sucessão de partes; a eternidade é contrária ao 
tempo e é portanto, um estado permanente e 
imutável; uma posse perfeita da vida sem 
qualquer variação; compreende em si todos os 
anos, todas as idades, todos os períodos de idade; 
nunca começa; ela perdura após cada período 
de tempo e nunca cessa; faz tanto tempo de fuga 
quanto foi antes do começo: o tempo supõe algo 
anterior; mas não pode haver nada antes da 
eternidade; pois não seria então a eternidade. 
O tempo tem uma sucessão contínua; o 
primeiro tempo passa e outro sucede: o último 
ano não é este ano, nem este ano o próximo. 
Devemos conceber a eternidade contrária à 
noção de tempo; como a natureza do tempo 
consiste na sucessão de partes, então a natureza 
da eternidade em uma duração infinita e 
imutável. Eternidade e tempo diferem como o 
mar e rios; o mar nunca muda de lugar e é 
sempre uma água; mas os rios deslizam e são 
engolidos pelo mar; assim é o tempo pela 
18 
 
eternidade. Uma coisa é dita ser eterna ou 
eterno em vez disso, nas Escrituras... 
Quando é de longa duração, embora tenha um 
fim; quando não tem medidas de tempo 
determinadas a isso; então a circuncisão é dita 
estar na carne por um “pacto eterno” (Gên 
17:13); não puramente eterno, mas enquanto 
essa administração da aliança deve durar. E 
assim, quando um servo não deixaria seu 
mestre, mas teria sua orelha perfurada, diz-se, 
ele deveria ser um servo "para sempre" (Deut 
15:17); isto é, até o jubileu, que era todo o 
quinquagésimo ano: assim diz-se que a oferta de 
carne que ofereciam "perpetuamente" (Lev. 
6:20); dizem que Canaã é dada a Abraão por um 
possessão “eterna” (Gên 17: 8); quando os judeus 
são expulsos de Canaã, que é uma presa para as 
nações bárbaras. De fato, a circuncisão não era 
eterna; ainda a substância do pacto do qual isto 
era um sinal, que Deus seria o Deus dos crentes, 
permanece para sempre; e essa circuncisão do 
coração que foi simbolizada pela circuncisão da 
carne, permanecerá para sempre no reino da 
glória. 
Quando uma coisa não tem fim, embora tenha 
um começo. Então anjos e almas são 
eternos; ainda que o seu ser nunca cesse, mas 
houve um tempo em que o ser deles 
19 
 
começou; eles não eram nada antes de serem 
algo, embora nunca sejam nada ainda, mas deve 
viver em infindável felicidade ou miséria. Mas 
isso corretamente é eterno e não tem começo 
nem fim; e assim a eternidade é uma 
propriedade de Deus. 
Vejamos agora como Deus é eterno, ou em que 
aspectos ele é assim. 
A eternidade é um atributo negativo, e é uma 
negação de Deus quaisquer medidas de tempo, 
como a imensidão é uma negação de qualquer 
limite de lugar. Como a imensidão é a difusão de 
sua essência, a eternidade é a duração de sua 
essência; e quando dizemos que Deus é eterno, 
excluímos dele todas as possibilidades de 
começo e fim, todo fluxo e mudança. 
Enquanto a essência de Deus não pode ser 
delimitada por nenhum lugar, por isso não deve 
ser limitada a qualquer momento: como é sua 
imensidão estar em toda parte, assim é sua 
eternidade para sempre. Como as coisas criadas 
dizem estar em algum lugar em relação ao 
lugar, e estar no presente, passado ou futuro, 
em relação a tempo; então o Criador em relação 
ao lugar está em toda parte, em relação ao 
tempo é sempre. Sua duração é tão infinita 
quanto sua essência é ilimitada: ele sempre foi e 
20 
 
sempre será, e não terá mais fim do que teve um 
começo; e esta é uma excelência pertencente ao 
Ser supremo. Como sua essência compreende 
todos os seres, e os excede, e sua imensidade 
supera todos os lugares; então sua eternidade 
compreende todos os tempos, todas as durações 
e infinitamente os excede. 
Deus é sem começo. “No princípio” Deus criou o 
mundo (Gên 1: 1). Deus era então antes do 
começo disto; e que ponto pode ser estabelecido 
onde Deus começou, se ele estava antes do 
começo das coisas criadas? Deus não teve 
começo, embora todas as outras coisas tiveram 
tempo e começaram com ele. Como a unidade é 
antes de todos os números, assim é Deus diante 
de todas as suas criaturas. Abraão convocou o 
nome do Deus eterno (Gênesis 21:33), o Deus 
eterno. - Ele se opõe aos deuses pagãos, que 
eram de ontem, novos e cunhados de novo; mas 
o Deus eterno foi antes do mundo ser 
feito. Nesse sentido, deve ser entendido; “O 
mistério que foi mantido em segredo desde que 
o mundo começou, mas agora se manifesta, e 
pelas Escrituras dos profetas, de acordo com o 
comando do Deus eterno, é tornado conhecido a 
todas as nações pela obediência da fé” (Rom 
16:26). O evangelho não é pregado pelo comando 
de um Deus novo e temporário, mas daquele 
Deus que foi antes de todas as idades: embora a 
21 
 
manifestação disso seja no tempo, ainda assim o 
propósito e a resolução disso foi desde a 
eternidade. Se houvesse decretos antes da 
fundação do mundo, haveria um Decreto antes 
da fundação do mundo. Antes da fundação do 
mundo, ele amava a Cristo como mediador; uma 
pré-ordenação dele foi antes da fundação do 
mundo (João 17:24); uma escolha de homens e, 
portanto, um Seletor antes da fundação do 
mundo (Efésios 1: 4); uma graça dada em Cristo 
antes do mundo começar (2 Timóteo 1: 9) e, 
portanto, um doador daquela graça. Desses 
lugares, diz Crellius, parece que Deus era antes 
da fundação do mundo, mas eles não afirmam 
uma eternidade absoluta; mas estar diante de 
todas as criaturas é equivalente ao seu ser da 
eternidade. O tempo começou com a fundação 
do mundo; mas Deus sendo antes do tempo, não 
poderia ter início no tempo. Antes do começo da 
criação e início dos tempos, não poderia haver 
nada além de eternidade; nada além do que foi 
criado, isto é, nada além do que era sem 
começo. Estar no tempo é ter um começo; ser 
antes de todos os tempos é nunca ter um 
começo, mas sempre para ser; pois, como entre 
o Criador e as criaturas, não há meio, então 
entre o tempo e a eternidade não há meio. É 
como facilmente deduzido que aquele que era 
antes de todas as criaturas é eterno, como 
aquele que fez todas as criaturas é Deus. Se ele 
22 
 
tivesseum começo, ele deve tê-lo de outro, ou 
de si mesmo; se de outro, aquele de quem ele 
recebeu seu ser seria melhor que ele, então 
mais um deus do que ele. Ele não pode ser Deus 
que não é supremo; ele não pode ser supremo 
que deve seu ser ao poder de outro. DEle não 
seria dito apenas ter imortalidade como ele é (1 
Timóteo 6:16), se ele dependesse de outro; nem 
poderia ter um começo de si mesmo; se ele 
tivesse dado início a si mesmo, então ele já seria 
nada; haveria um tempo em que ele não era; se 
ele não fosse, como ele poderia ser a Causa de si 
mesmo? É impossível para qualquer um dar um 
começo e ser para si mesmo: se agir, deve existir 
e, portanto, existir antes de existir. Uma coisa 
existiria como causa antes de existir como 
efeito. 
Aquele que não é, não pode ser a causa que ele 
é; se, portanto, Deus existe, e não tem o seu ser 
de outro, ele deve existir na 
eternidade. Portanto, quando dizemos que Deus 
é de e de si mesmo, queremos dizer que Deus 
não deu ser a si mesmo; mas deve 
negativamente ser entendido que ele não tem 
causa de existência sem ele mesmo. Qualquer 
que seja o número de milhões de milhões de 
anos que possamos imaginar antes da criação do 
mundo, todavia Deus era infinitamente anterior 
a esses; ele é, portanto, chamado o "Ancião dos 
23 
 
Dias" (Daniel 7: 9), como sendo antes de todos os 
dias e tempo, e eminentemente contendo em si 
mesmo todos os tempos e idades. Embora, de 
fato, Deus não possa ser chamado 
apropriadamente de antigo, que testificará que 
ele está decaindo, e em breve não será; não mais 
do que ele pode ser chamado de jovem, o que 
significaria que ele não demorou muito 
antes. Todas as coisas criadas são novas e 
frescas; mas nenhuma criatura pode descobrir 
qualquer princípio de Deus.. 
Deus é sem fim. Ele sempre foi, sempre é e 
sempre será o que é. Ele permanece sempre o 
mesmo em ser; tão longe de qualquer mudança, 
que nenhuma sombra dela possa tocá-lo (Tiago 
1:17). Ele continuará sendo enquanto ele já o 
tiver desfrutado; e se poderíamos acrescentar 
nunca tantos milhões de anos juntos, ainda 
estamos tão longe de um fim como de um 
começo; porque “o Senhor permanecerá para 
sempre”(Salmo 9: 7). 
Como é impossível que ele não seja, sendo 
desde toda a eternidade, então é impossível que 
ele não seja para toda a eternidade. 
A Escritura é mais abundante nos testemunhos 
dessa eternidade de Deus, ou após a criação do 
mundo: diz-se que ele "vive para sempre” 
24 
 
(Apocalipse 4: 9, 10). A terra perecerá, mas Deus 
"durará para sempre", e seus "anos não terão 
fim" (Salmos 102: 27). 
Plantas e animais crescem desde pequenos 
começos, chegam ao seu pleno crescimento, e 
declinam novamente, e sempre têm notáveis 
alterações em sua natureza; mas não há 
declinação em Deus por todas as revoluções do 
tempo. Daí alguns pensam que a 
incorruptibilidade da Deidade foi significada 
pela madeira de cedro, da qual a arca foi feita, 
sendo de natureza incorruptível (Ex 25:10). 
O que que não teve início de duração nunca 
pode ter um fim ou qualquer interrupção 
nele. Desde que Deus nunca dependeu de nada, 
deve fazê-lo deixar de ser eternamente o que ele 
tem sido, ou pôr fim à continuação de suas 
perfeições? Ele não pode querer a sua próprio 
destruição; isso é contra a natureza universal 
em todas as coisas deixarem de ser, se elas 
puderem se preservar. Ele não pode abandonar 
o seu próprio ser, porque ele não pode deixar de 
amar a si mesmo como o melhor e maior bem. A 
razão pela qual qualquer coisa decai é sua 
própria origem em fraqueza, ou um poder 
superior de algo contrário a ela. Não há fraqueza 
na natureza de Deus que possa introduzir 
qualquer corrupção, porque ele é infinitamente 
25 
 
simples sem qualquer mistura; nem pode ser 
dominado por qualquer outra coisa; um mais 
fraco não pode feri-lo, e um mais forte do que ele 
não pode haver; nem pode ser enganado ou 
contornado por causa de sua infinita sabedoria. 
Como ele não recebeu seu ser de ninguém, 
então ele não pode ser privado de si por 
ninguém: como ele necessariamente existe, 
então ele sempre necessariamente existe. Isto, 
na verdade, é propriedade de Deus; nada tão 
apropriado para ele como sempre ser. Quais 
perfeições qualquer ser tem, se não for eterno, 
não é divino. Só Deus é imortal; somente ele é 
assim por uma necessidade da natureza. Anjos, 
almas e corpos também, após a ressurreição, 
serão imortais, não por natureza, mas por 
concessão; eles estão sujeitos a retornar a nada, 
se essa palavra que os levantou do nada deve 
falar a eles em nada novamente. É tão fácil com 
Deus despojá-lo quanto investir com ele; ou 
melhor, é impossível, mas que eles deveriam 
perecer, se Deus retira seu poder de preservá-
los, o que ele exerceu ao criá-los; mas Deus está 
inamovivelmente fixo em seu próprio ser; que, 
como ninguém lhe deu a vida, ninguém pode 
privá-lo de sua vida ou da menor partícula dele. 
Não é um monte de felicidade e a vida que Deus 
infinitamente possui pode ser perdida; será 
durável para sempre, como foi possuído desde a 
eternidade. 
26 
 
Deus revela a Sua eternidade nas Escrituras, 
especialmente pelas profecias, pois, nas 
mesmas demonstra que as coisas que ainda 
serão são perante Ele como já realizadas, de 
forma que tanto em casos particulares como a 
antecipação dos nascimentos e nomes dos reis 
Ciro e Josias, do engrandecimento que seria 
dado a José no Egito, a morte expiatória de Jesus, 
o surgimento sucessivo dos impérios da Assíria, 
Babilônia, Grécia e Roma, tudo isto foi 
profetizado por Deus com séculos de 
antecedência, e ainda há muitas profecias que 
aguardam por cumprimento, como o 
arrebatamento da Igreja, a segunda vinda de 
Jesus etc. 
O Senhor fala destas coisas em sua eternidade, 
como quem vê um desfile do alto e pode 
observar toda a sucessão de modo diferente de 
quem se encontra num ponto fixo aqui embaixo, 
como é o nosso caso, que podemos ver apenas 
aquilo que passa diante de nós, no que 
chamados de presente. 
Quando a Bíblia fala em Apocalipse que o 
Cordeiro que morreu desde antes da fundação 
do mundo, temos aqui uma referência à 
eternidade do sacrifício de Jesus, que tem o 
poder de beneficiar até mesmo aqueles que 
viveram antes do dia da Sua morte na cruz. Na 
27 
 
condição de ter sido um momento eterno, ele 
avança em todas direções quer passadas, 
presentes ou futuras. E isto é a eternidade. 
Não há sucessão em Deus. Deus é sem sucessão 
ou mudança. "De eternidade a eternidade ele é 
Deus”, ou seja, o mesmo. Deus não só 
permanece sempre em ser, mas ele permanece 
sempre o mesmo naquele ser: “tu és o mesmo” 
(Salmos 102: 27) O ser das criaturas é sucessivo; 
o ser de Deus é permanente e permanece 
inteiro com todas as suas perfeições, inalterado 
em uma duração infinita. De fato, a primeira 
noção da eternidade é estar sem começo e fim, 
o que nos indica a duração de um ser em relação 
à sua existência; mas não ter sucessão, nada 
primeiro ou último, nota antes a perfeição de 
um ser em relação à sua essência. As criaturas 
estão em um fluxo perpétuo; algo é adquirido ou 
algo perdido todos os dias. Um homem é o 
mesmo em consideração da existência quando 
ele é homem, como era quando era criança; mas 
há uma nova sucessão de quantidades e 
qualidades nele. 
Todos os dias ele adquire algo até chegar à 
maturidade; todo dia ele perde algo até chegar 
ao seu período. Um homem não é o mesmo à 
noite que ele foi de manhã; algo é expirado e 
algo é adicionado; todos os dias há uma 
28 
 
mudança em sua idade, um mudar em sua 
substância, uma mudança em seus acidentes. 
Mas Deus tem todo o seu ser em um e o mesmo 
ponto, ou momento da eternidade. 
Ele não recebe nada como um acréscimo ao que 
era antes; ele não perde nada do que era antes; 
ele é sempre a mesma excelência e perfeição na 
mesma infinidade como sempre.Seus anos não 
falham (Hebreus 1:12), seus anos não vêm e vão 
como os outros; não há hoje, amanhã ou ontem, 
com ele. Como nada é passado ou futuro com ele 
em relação ao conhecimento, mas todas as 
coisas estão presentes, então nada é passado ou 
futuro em relação à sua essência. Ele não é em 
sua essência neste dia o que ele não era antes, 
ou será no dia seguinte. Todas as suas perfeições 
são mais perfeitas nele a todo momento; antes 
de todas as idades, depois de todas as idades. 
Como ele tem toda a essência indivisa em todo 
lugar, assim como em um espaço imenso, assim 
ele tem todo o seu ser em um momento de 
tempo, assim como em intervalos infinitos de 
tempo. Alguns ilustram a diferença entre a 
eternidade e o tempo pela similitude de uma 
árvore, ou uma rocha em pé sobre o lado de um 
rio ou costa do mar; a árvore permanece sempre 
a mesma e imóvel, enquanto as águas do rio 
deslizam ao longo do pé. O fluxo está no rio, mas 
a árvore não adquire nada além de um respeito 
29 
 
e uma relação de presença diversa para as várias 
partes do rio quando elas fluem. As águas do rio 
pressionam e empurram um para o outro, e o 
que o rio teve neste minuto, não tem o mesmo 
no próximo. Assim são todas as coisas 
sublunares em um fluxo contínuo. E embora os 
anjos não tenham mudanças substanciais, ainda 
assim eles têm uma acidental; pois as ações dos 
anjos neste dia não são as mesmas ações 
individuais que eles realizaram ontem: mas em 
Deus não há mudança; ele sempre permanece o 
mesmo. De uma criatura, pode-se dizer que ele 
era, ou é, ou será; de Deus não pode ser dito, 
senão somente que ele é. Ele é o que sempre foi, 
e ele é o que sempre será; enquanto uma 
criatura é o que ele não era, e será o que ela não 
é agora. Como pode ser dito da chama de uma 
vela, é uma chama: mas não é a mesma chama 
individual que era antes, nem é a mesma que é 
atualmente, depois; há uma dissolução 
contínua no ar e um suprimento contínuo para 
a geração de mais. Enquanto continua, pode-se 
dizer que há uma chama; ainda não 
inteiramente uma, mas em uma sucessão de 
partes. Assim, de um homem pode-se dizer, que 
ele está em falta de partes; mas ele não é o 
mesmo que ele era, e não será o mesmo que ele 
é. Mas Deus é o mesmo, sem a sucessão de 
partes e de tempo; dele se pode dizer: "Ele é". Ele 
não é mais agora do que era, e não será mais 
30 
 
além do que é. Deus possui um ser firme e 
absoluto, sempre constante para si mesmo. Ele 
vê todas as coisas deslizando sob ele em uma 
variação contínua; ele contempla as revoluções 
no mundo sem qualquer mudança de sua 
natureza mais gloriosa e inamovível. Todas as 
outras coisas passam de um estado para outro; 
do seu original, ao seu eclipse e destruição; mas 
Deus possui seu ser em um ponto indivisível, 
não tendo começo, fim, nem meio. 
Não há sucessão no conhecimento de Deus. A 
variedade de sucessões e mudanças no mundo 
não faz sucessão, ou novos objetos na mente 
Divina; pois todas as coisas estão presentes para 
ele desde a eternidade em relação ao seu 
conhecimento, embora elas não estejam 
realmente presentes no mundo, em relação à 
sua existência. Ele não sabe uma coisa agora e 
outra depois; ele vê todas as coisas ao mesmo 
tempo: "Todas as coisas são conhecidas desde o 
princípio do mundo" (Atos 15:18); mas na sua 
verdadeira ordem de sucessão, como estão no 
conselho eterno de Deus, para serem geradas no 
tempo. Embora haja uma sucessão e uma ordem 
de coisas à medida que são feitas, ainda não há 
sucessão em Deus em relação a seu 
conhecimento delas. Deus sabe as coisas que 
devem ser feitas, e a ordem delas em seu ser 
trazida ao palco do mundo; ainda as duas coisas 
31 
 
e a ordem que ele conhece por um ato. Embora 
todas as coisas estejam presentes com Deus, 
ainda assim elas estão presentes para ele na 
ordem de sua aparição no mundo, e não tão 
presentes com ele como se devessem ser 
executadas ao mesmo tempo. A morte de Cristo 
deveria preceder sua ressurreição em ordem de 
tempo; há uma sucessão nisso; ambos de uma 
vez são conhecidos por Deus; todavia, o ato de 
seu conhecimento não é exercido sobre Cristo 
como morrendo e ressurgindo ao mesmo 
tempo; de modo que há uma sucessão nas coisas 
quando não há sucessão no conhecimento de 
Deus sobre elas. Desde que Deus conhece o 
tempo, ele conhece todas as coisas como elas 
são no tempo; ele não sabe todas as coisas de 
uma vez, embora ele saiba imediatamente o que 
foi, é e será. Todas as coisas são passadas, 
presentes e futuras, em relação à sua existência; 
mas não há passado, presente e futuro, em 
relação ao conhecimento de Deus sobre elas, 
porque não é suposto e conhecido por nenhum 
outro, mas por si mesmo; ele é a sua própria luz 
pela qual ele vê, o seu próprio espelho onde ele 
vê; vendo a si mesmo, ele contempla todas as 
coisas. 
Não há também sucessão nos decretos de Deus. 
Ele não decreta isso agora, o que ele não 
decretou antes; porque assim como as suas 
32 
 
obras eram conhecidas desde o princípio do 
mundo, assim foram decretadas as suas obras 
desde o princípio; como são conhecidos 
imediatamente, são decretados de uma só vez; 
há uma sucessão na execução deles; primeiro 
graça, depois glória; mas o propósito de Deus 
para o enriquecimento de ambos foi em um e no 
mesmo momento da eternidade. "Ele nos 
escolheu nele antes da fundação do mundo, 
para que fôssemos santos" (Efésios 1: 4): A 
escolha de Cristo, e a escolha de alguns nele 
para serem santos e felizes, foi antes da 
fundação do mundo. É pelo eterno conselho de 
Deus que todas as coisas aparecem no tempo; 
elas aparecem em sua ordem de acordo com o 
conselho e a vontade de Deus desde a 
eternidade. A redenção do mundo é depois da 
criação do mundo; mas o decreto pelo qual o 
mundo foi criado e por meio do qual foi 
redimido, foi na eternidade. 
Deus é sua própria eternidade. Ele não é eterno 
por concessão e disposição de qualquer outro, 
mas por natureza e essência. A eternidade de 
Deus nada mais é do que a duração de Deus; e a 
duração de Deus nada mais é do que sua 
existência duradoura. Se a eternidade fosse algo 
diferente de Deus, e não da essência de Deus, 
então haveria algo que não era Deus, necessário 
para aperfeiçoar a Deus. Como a imortalidade é 
33 
 
a grande perfeição de uma criatura racional, de 
modo que a eternidade é a perfeição da escolha 
de Deus, sim, o brilho de todas as demais coisas. 
Toda perfeição seria imperfeita, se nem sempre 
fosse uma perfeição. Deus é essencialmente 
tudo o que ele é, e não há nada em Deus além de 
sua essência. Duração ou continuação como 
existe em criaturas, difere de seu ser; pois eles 
podem existir, senão por um instante, caso em 
que deles pode ser dito como sendo, mas não 
com duração, porque toda a duração inclui prius 
et posterius. Todas as criaturas podem deixar de 
ser se for o prazer de Deus; elas não são, 
portanto, duráveis por sua essência e, portanto, 
não são sua devassidão, não mais do que sua 
própria existência. E embora algumas criaturas, 
como anjos e almas, possam ser chamadas 
eternas, como vida é comunicado a eles por 
Deus; todavia, eles nunca podem ser chamados 
de sua própria eternidade, porque tal duração 
não é simplesmente necessária, nem essencial 
para eles, mas acidental, dependendo do prazer 
do outro; não há nada em sua natureza que possa 
impedi-los de perdê-lo, se Deus, de quem eles o 
receberam, planejasse retirá-lo; mas como Deus 
é sua própria necessidade de existir, então ele é 
sua própria duração em existir; como ele 
necessariamente existe por si mesmo, então ele 
sempre existirá necessariamente por si mesmo. 
Portanto todas as perfeições de Deus são 
34 
 
eternas. Em relação à eternidade divina, todas as 
coisas em Deus são eternas; seu poder, 
misericórdia, sabedoria, justiça, conhecimento. 
O próprio Deus não seria eternose alguma das 
suas perfeições, que são essenciais para ele, não 
fosse eterna também, ele não teria sido um Deus 
perfeito desde toda a eternidade, e assim todo o 
seu eu não teria sido eterno. Se algo pertencente 
à natureza de uma coisa está faltando, não se 
pode dizer que seja aquilo que deveria ser. Se 
qualquer coisa necessária para a natureza de 
Deus estivesse faltando num momento, dele 
não poderia ter sido dito ser um Deus eterno. 
Deus é eterno. O Espírito de Deus nas Escrituras 
condescende com as nossas capacidades em 
significar a eternidade de Deus por dias e anos, 
que são termos pertencentes ao tempo, através 
dos quais o medimos (Salmos 102: 27). Mas não 
devemos mais conceber que Deus é delimitado 
ou medido pelo tempo, e tem sucessão de dias, 
por causa dessas expressões, do que podemos 
concluir que ele tem um corpo, porque os 
membros são atribuídos a ele nas Escrituras, 
para ajudar nossas concepções de sua gloriosa 
natureza e operações. Embora os anos lhe sejam 
atribuídos, ainda assim não podem ser 
contados, não podem ser terminados, já que não 
há proporção entre a duração de Deus e os 
homens. “Eis que Deus é grande, e não o 
35 
 
podemos compreender; o número dos seus 
anos não se pode calcular. Porque atrai para si as 
gotas de água que de seu vapor destilam em 
chuva,” (Jó 36:26, 27). O número das gotas de 
chuva que caíram em todas as partes da terra 
desde a criação do mundo, se subtraído do 
número dos anos de Deus, seria encontrado 
uma pequena quantidade, um mero nada, 
comparado com os anos de Deus. Como todas as 
nações do mundo comparadas com Deus, são 
como a “gota de um balde, pior do que nada, do 
que a vaidade” (Isaías 40:15); assim, todas as 
idades do mundo, se comparado com Deus, não 
chegam a tanto quanto a centésima milésima 
parte de um minuto; os minutos da criação 
podem ser numerados, mas os anos da duração 
de Deus sendo infinitos são sem medida. Como 
um dia é para a vida do homem, assim são mil 
anos para a vida de Deus. O Espírito Santo se 
expressa à capacidade do homem, para nos dar 
uma noção de duração infinita, por uma 
semelhança adequada à capacidade do homem. 
Se mil anos são como um dia para a vida de Deus, 
então como um ano é para a vida do homem, 
assim são trezentos e sessenta e cinco mil anos 
para a vida de Deus; e como setenta anos são 
para a vida do homem, assim são vinte e cinco 
milhões quatrocentos e cinquenta mil anos para 
a vida de Deus. E ainda, como não há proporção 
entre o tempo e a eternidade, devemos lançar 
36 
 
nossos pensamentos além de todos esses; por 
anos e dias, medimos apenas a duração das 
coisas criadas, e daquelas que são apenas 
materiais e corpóreas, sujeitas ao movimento 
dos céus, o que faz dias e anos. Às vezes, essa 
eternidade é expressa por partes, olhando para 
trás e para frente; pelas diferenças de tempo, 
“passado, presente e futuro” (Apocalipse 1: 8), 
“que era, e é, e está por vir” (Apocalipse 4: 8). 
O Espírito Santo declara algo apropriado a Deus, 
incluindo todas as partes do tempo; ele sempre 
foi, é agora e sempre será. Pode sempre ser dito 
dele, que ele era, e sempre pode ser dito dele, 
que ele será; Não há tempo em que ele comece, 
não há tempo em que ele cesse. Não se pode 
dizer de uma criatura que ele sempre foi, ele 
sempre é o que ele era, e ele sempre será o que 
ele é; mas Deus sempre é o que era e sempre 
será o que é; de modo que é uma expressão 
muito significativa da eternidade de Deus, como 
pode ser adaptado às nossas capacidades. Sua 
eternidade é evidente, pelo nome que Deus dá a 
si mesmo (Êxodo 3:14): “Disse Deus a Moisés: EU 
SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos 
filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros.” 
Este é o nome pelo qual ele se distingue de todas 
as criaturas; Eu sou, é o seu nome próprio. Esta 
descrição está no tempo presente, mostra que 
sua essência não conhece passado, nem futuro. 
37 
 
Eu sou, o único ser, a raiz de todos os seres; ele 
está, portanto, na maior distância de não ser, e 
isso é eterno. Assim, isso significa sua 
eternidade, assim como sua perfeição e 
imutabilidade. 
A eternidade de Deus é oposta à volubilidade do 
tempo, que é estendida ao passado, presente e 
futuro. Nosso tempo é apenas uma pequena 
gota, como uma areia para todos os átomos e 
pequenas partículas de que o mundo é feito; mas 
Deus é um mar ilimitado de ser. "Eu Sou o que 
Sou", isto é, uma vida infinita; eu não tenho 
agora, o que eu não tinha anteriormente, não 
vou depois ter o que eu não tenho agora; eu sou 
aquele em cada momento que eu era, e estarei 
assim em todos os momentos do tempo, nada 
pode ser adicionado a mim, nada pode ser tirado 
de mim. Não há nada superior a ele, que possa 
prejudicá-lo, nada desejável que possa ser 
acrescentado a ele. Agora, se houvesse qualquer 
princípio e fim de Deus, qualquer sucessão nele, 
ele não poderia ser “Eu Sou”; pois em relação ao 
que foi passado, ele não seria; em relação ao que 
estava por vir, ele ainda não é. De todas as 
criaturas, pode-se dizer que elas eram ou serão; 
mas de Deus não se pode dizer outra coisa senão 
que Deus é, porque ele preenche uma duração 
eterna. Não se pode dizer que uma criatura seja, 
se ainda não é, nem se é agora, mas tem sido. 
38 
 
Deus só pode ser chamado de "Eu Sou"; todas as 
criaturas têm mais de não ser do que ser; pois 
toda criatura não era nada desde a eternidade, 
antes de fazer algo no tempo; e se for 
incorruptível em toda a sua natureza, nada será 
para a eternidade depois de ter sido algo no 
tempo; e se não for corruptível em sua natureza, 
como os anjos, ou em toda parte de sua 
natureza, como homem em relação a sua alma; 
contudo, não tem um ser apropriado, porque 
depende do prazer de Deus de continuar ou 
privá-lo dele; e enquanto é, é mutável e toda a 
mutabilidade é uma mistura de não ser. S 
Deus tem vida em si mesmo (João 5:26): “O Pai 
tem a vida em si mesmo”; ele é o “Deus vivo”, 
portanto, “firme para sempre” (Daniel 6:26). Ele 
tem a vida pela sua essência, não pela 
participação. Ele é um sol para dar luz e vida a 
todas as criaturas, mas não recebe luz nem vida 
de nada; e, portanto, ele tem uma vida ilimitada, 
não uma gota de vida, mas uma fonte; não é uma 
faísca de uma vida limitada, mas uma vida que 
transcende todos os limites. Ele tem vida em si 
mesmo; todas as criaturas têm sua vida nele e 
dele. 
Quando Deus pronunciou seu nome: "Eu Sou o 
que Sou", anjos e homens já haviam sido criados, 
Moisés, a quem ele fala, estava em existência; 
39 
 
mas somente Deus é, porque somente ele tem a 
fonte de ser em si mesmo; mas tudo o que eles 
eram era um riacho dele. Toda a vida está 
assentada em Deus, como em seu próprio trono, 
em sua mais perfeita pureza. Deus é vida; está 
nele originalmente, radicalmente, portanto 
eternamente. Ele é um ato puro, nada além de 
vigor e ato; ele tem por sua natureza a vida que 
os outros têm por sua concessão; donde o 
apóstolo diz (1 Timóteo 6:16) não só que ele é 
imortal, mas que tem imortalidade em plena 
posse; não dependendo da vontade de outro, 
mas contendo todas as coisas dentro de si 
mesmo. Aquele que tem vida em si mesmo e é 
de si mesmo, não pode deixar de ser. Ele sempre 
foi, porque ele não recebeu o seu ser de nenhum 
outro. Se havia algum espaço antes que ele 
existisse, então havia algo que o fez existir; a vida 
não estaria então nele, mas naquilo que o 
produziu; ele não poderia então ser Deus, mas o 
outro que lhe deu ser seria Deus. E dizer que 
Deus surgiu por acaso, quando não vemos nada 
no mundo que é trazido por acaso, mas tem 
alguma causa de sua existência, seria vão; 
porque desde que Deus é um ser, o acaso, que 
não é nada, não poderia produzir algo e pela 
mesma razão, que ele surgiu por acaso, ele pode 
desaparecer totalmente por acaso. Que deus 
estranho seria este! TalDeus que não tinha vida 
em si mesmo, mas do acaso! Visto que ele tem 
40 
 
vida em si mesmo, e que não havia causa de sua 
existência, ele não pode ter causa de sua 
limitação, e não pode mais ser determinado a 
um tempo, do que pode a um lugar, o que tem a 
vida em si, tem vida sem limites, e nunca pode 
abandoná-la, nem ser privado dela; de modo que 
ele vive necessariamente, e é absolutamente 
impossível que ele não viva; enquanto todas as 
outras coisas "vivem e se movem, e têm o seu ser 
nele" (Atos 17:28); por isso, eles vivem de acordo 
com sua vontade, de modo que não podem 
retornar a nada à sua palavra. Se Deus não fosse 
eterno, ele não seria imutável em sua natureza. 
É contrário à natureza da imutabilidade 
permanecer sem eternidade, pois tudo o que se 
inicia muda em sua passagem do não ser para o 
ser. Começou a ser o que não era; e se termina, 
deixa de ser o que era; não pode, portanto, ser 
dito que é Deus, se não havia nem começo nem 
fim, nem sucessão nele (Malaquias 3: 6): “Eu sou 
o Senhor, não mudo;” (Jó 37:23): “Ao Todo-
Poderoso, não o podemos alcançar; ele é grande 
em poder, porém não perverte o juízo e a 
plenitude da justiça.” Deus argumenta aqui, diz 
Calvino, de sua natureza imutável como Jeová, a 
sua imutabilidade em seu propósito. Se ele não 
tivesse sido eterno, haveria a maior mudança de 
nada para alguma coisa. Uma mudança de 
essência é maior que uma mudança de 
propósito. Deus é um sol resplandecendo 
41 
 
sempre na mesma glória, não crescendo na 
juventude; sem passando para a idade avançada. 
Se ele não fosse sem sucessão, permanecendo 
em um ponto da eternidade, haveria uma 
mudança do passado para o presente, do 
presente para o futuro. A eternidade de Deus é 
um escudo contra todo tipo de mutabilidade. Se 
algo se espalhar na essência de Deus que não 
existia antes, ele não poderia ser considerado 
uma substância eterna ou inalterada. Deus não 
poderia ser um Ser infinitamente perfeito, se 
ele não fosse eterno. Uma duração finita é 
inconsistente com a perfeição infinita. Tudo o 
que é contraído dentro dos limites do tempo não 
pode englobar todas as perfeições em si mesmo. 
Deus tem uma perfeição insondável. 
”Porventura, desvendarás os arcanos de Deus 
ou penetrarás até à perfeição do Todo-
Poderoso?”(Jó 11: 7). Ele não pode ser 
descoberto: ele é infinito, porque é 
incompreensível. Incompreensibilidade surge 
de uma perfeição infinita, que não pode ser 
compreendida pela linha curta da compreensão 
do homem. Sua essência em relação à sua 
difusão, e em relação à sua duração, é 
incompreensível, assim como sua ação. Se Deus, 
portanto, tivesse início, ele não poderia ser 
infinito; se não fosse infinito, ele não possuiria a 
mais alta perfeição; porque a perfeição poderia 
ser concebido além disto. Se o seu ser pudesse 
42 
 
falhar, ele não seria perfeito; pode merecer o 
nome da mais alta sensibilidade, o que é capaz 
de corrupção e dissolução? Ser finito e limitado 
é a maior imperfeição, pois consiste em ser um 
ser. Ele não poderia ser o Ser mais abençoado se 
ele não fosse sempre assim, e não deveria 
permanecer para sempre assim; e quaisquer 
que fossem as suas deficiências, seria azedado 
pelos pensamentos, que com o tempo eles 
cessariam, e assim não poderiam ser puros 
afetos, porque não permanentes; mas “ele é 
abençoado de eternidade a eternidade” (Salmos 
41:13). Se ele tivesse um começo, ele não poderia 
ter toda a perfeição sem limitação; ele teria sido 
limitado pelo que lhe dava o começo; o que lhe 
deu ser seria Deus, e não ele mesmo, e portanto 
mais perfeito que ele: mas como Deus é a 
perfeição mais soberana, do que nada pode ser 
imaginado como o mais amplo entendimento, 
Ele é certamente “eterno”, sendo infinito, nada 
pode ser adicionado a ele, nada pode prejudicá-
lo. 
Deus não poderia ser onipotente, todo-
poderoso, se ele não fosse eterno. O título de 
todo-poderoso não concorda com uma natureza 
que teve início; tudo que tem um começo já foi 
nada; e quando não era nada, nada poderia agir: 
onde não há ser, não há poder. Nem o título de 
todo-poderoso concorda com uma natureza que 
43 
 
perece: ele não pode fazer nada com propósito, 
que não pode se preservar contra a força 
exterior e a violência dos inimigos, ou contra as 
causas internas de corrupção e dissolução. 
Nenhuma consideração é feita do homem, 
porque “a respiração dele está nas suas narinas” 
(Isaías 2:22); poderia um relato melhor ser feito 
de Deus, se ele fosse da mesma condição? Ele 
não podia ser propriamente onipotente, nem 
sempre poderoso; se ele é onipotente, nada 
pode prejudicá-lo; ele que tem todo poder, e não 
pode ter ferido. Se ele faz tudo o que lhe agrada, 
nada pode torná-lo miserável, pois a miséria 
consiste naquelas coisas que acontecem contra 
a nossa vontade. A onipotência e a eternidade de 
Deus estão ligadas entre si: “Eu sou Alfa e 
Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que foi, 
e que é, e que virá, o Todo-poderoso” 
(Apocalipse 1: 8): onipotente porque é eterno e 
eterno porque é onipotente. 
Deus não seria a primeira causa de todos se ele 
não fosse eterno; mas ele é o primeiro e o 
último; a causa primeira de todas as coisas, o 
último de todas as coisas: aquilo que é o 
primeiro não pode começar a ser; não foi então 
o primeiro; não pode deixar de ser: o que quer 
que seja dissolvido, é dissolvido naquilo em que 
consiste, que foi antes dele, e então não foi o 
primeiro. O mundo pode não ter sido; não foi 
44 
 
nada; deve ter algum motivo para chamá-lo do 
nada: nada tem poder para se fazer alguma 
coisa; existe uma causa superior, pela vontade e 
pelo poder, e assim dá a todas as criaturas suas 
formas distintas. Esse poder não pode ser senão 
eterno; deve ser antes do mundo; o fundador 
deve estar antes da fundação; e sua existência 
deve ser da eternidade; ou devemos dizer que 
nada existiu desde a eternidade: e se não 
houvesse ser da eternidade, não poderia haver 
agora nenhum ser no tempo. O que vemos e o 
que somos deve surgir de si mesmo ou de outro; 
não pode de si mesmo: se alguma coisa se fez, 
teve o poder de se fazer; isto então tinha um 
poder ativo antes de ter um ser; era algo em 
relação ao poder, e não era nada em relação à 
existência ao mesmo tempo. Suponha que ele 
tenha um poder para se reproduzir, esse poder 
deve ser conferido a ele por outro; e assim, o 
poder de se reproduzir não era de si mesmo, 
mas de outro; mas se o poder do ser era de si 
mesmo, por que não se reproduzia antes? Se 
existe alguma existência, é necessário que 
aquilo que era a “primeira causa” deveria existir 
eternamente. ”Tudo o que foi a causa imediata 
do mundo, senão a primeira e principal causa 
em que devemos descansar, não deve ter nada 
antes disso; pois se tivesse algo antes, não seria 
a primeira; Deus, portanto, essa é a primeira 
causa, deve ser sem começo; nada deve ser 
45 
 
antes dele; se ele teve um começo de outro, ele 
não poderia ser o primeiro princípio e autor de 
todas as coisas; se ele for o primeiro por causa de 
todas as coisas, ele deve dar a si mesmo um 
começo, ou ser da eternidade: ele não poderia 
dar a si mesmo um começo; tudo que começa no 
tempo não era nada antes, e quando não era 
nada, não podia fazer nada; não podia se dar 
nada, pois então daria o que não tinha, e faria o 
que não poderia. Se ele se fez a tempo, por que 
ele não se fez antes? o que o atrapalhou? Foi ou 
porque ele não podia, ou porque ele não faria; se 
ele não pudesse, sempre lhe faltou poder, e 
sempre, a menos que fosse concedido a ele, e 
então ele não poderia ser dito ser de si 
mesmo. Se ele não faria a si mesmo antes, então 
ele poderia ter feito a si mesmo quando ele iria: 
como ele tinha o poder de querer e realizar sem 
ser? 
Então, se Deus foi a causa de todas as coisas, ele 
existiu antes de todas as coisas, e isso desdea 
eternidade. 
A eternidade é apenas apropriada a Deus e não é 
comunicável. É uma loucura tão grande atribuir 
a eternidade à criatura, quanto privar o Senhor 
da criatura da eternidade. É tão apropriado para 
Deus, que quando o apóstolo provasse a 
divindade de Cristo, ele a provaria pela sua 
46 
 
imutabilidade e eternidade, bem como por seu 
poder criador: “Ainda: No princípio, Senhor, 
lançaste os fundamentos da terra, e os céus são 
obra das tuas mãos; eles perecerão; tu, porém, 
permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual 
veste; também, qual manto, os enrolarás, e, 
como vestes, serão igualmente mudados; tu, 
porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão 
fim.”. (Heb 1: 10–12). 
O argumento não teria força, se a eternidade 
pertencesse essencialmente a qualquer outro 
que não fosse Deus; e, portanto, somente dele é 
dito ter "imortalidade" (1 Tim 6:16): todas as 
outras coisas recebem seu ser dele, e podem ser 
privadas de seu ser por ele: todas as coisas 
dependem dele; ele de nenhuma de todas as 
outras coisas que são como roupas, que se 
gastariam se Deus não as preservasse. 
A imortalidade é apropriada a Deus, isto é, uma 
imortalidade independente. Anjos e almas têm 
uma imortalidade, mas por doação de Deus, não 
por sua própria essência; dependente de seu 
Criador, não é necessário em sua própria 
natureza: Deus poderia tê-los aniquilado depois 
que ele os criou; de modo que sua duração não 
pode ser apropriadamente chamada de uma 
eternidade, sendo extrínseco para eles, e 
dependente sobre a vontade do seu Criador, por 
47 
 
quem eles podem ser extintos; não é uma 
imortalidade absoluta e necessária, mas 
precária. 
Tudo o que não é Deus é temporário; tudo o que 
é eterno é Deus. É uma contradição dizer que 
uma criatura pode ser eterna; pois nada criado é 
eterno. O que é distinto da natureza de Deus não 
pode ser eterno, a eternidade sendo a essência 
de Deus. Toda criatura, na noção de criatura, 
fala da dependência de alguma causa e, 
portanto, não pode ser eterna. Como isso é 
repugnante à natureza de Deus não ser eterno, 
por isso é repugnante à natureza de uma 
criatura ser eterna; pois então uma criatura ser 
igual ao Criador, e o Criador, ou a Causa, não 
seria antes da criatura, ou efeito. Seria tudo 
como admitir muitos deuses, como muitos 
eternos; e todos a dizerem que Deus pode ser 
criado, como se dissesse que uma criatura não 
pode ser ferida, o que é ser eterno. 
Quando se diz que em Cristo o homem é imortal 
e eterno, é no sentido que ele já não morre por 
participar da vida dAquele que é imortal e 
eterno, a saber, Cristo. 
Assim, o homem não possui eternidade e 
imortalidade por si mesmo, mas a recebe de 
48 
 
Outro, na medida em que participa da dAquele 
que tem vida em si mesmo. 
A criação é uma produção de algo do nada. O que 
antes era nada, não pode, portanto, ser 
eterno; em si mesmo, portanto, seu ser não 
poderia ser eterno, pois deveria ser antes dele, e 
seria algo quando não era nada. 
Cristo "é antes de todas as coisas" (Col 1:17), ou 
seja, todas as coisas foram criadas por ele; e ele 
não é, portanto, criatura e, se não é criatura, é 
eterno. "Todas as coisas foram criados por ele ”, 
tanto no céu como na terra, anjos, assim como 
homens, sejam tronos ou domínios (ver. 16). 
Cristo não é mais hoje do que era ontem, nem 
será outro amanhã do que hoje; e, portanto, 
Melquisedeque, cuja descendência, 
nascimento e morte, pai e mãe, começo e fim 
dos dias, não estão registrados, era um tipo da 
existência de Cristo sem variação de 
tempo; “Não tendo princípio de dias nem fim de 
vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus” 
(Heb 7: 3). A supressão de seu nascimento e 
morte foi planejada pelo Espírito Santo como 
um tipo de excelência da pessoa de Cristo na 
eternidade e na duração de seu encargo em 
relação ao seu sacerdócio. Como havia uma 
aparência de uma eternidade na supressão da 
49 
 
descendência de Melquisedeque, assim há uma 
verdadeira eternidade no Filho de Deus. 
“Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o 
mundo e vou para o Pai.” (João 16:28). Ele vai ao 
Pai como ele veio do Pai; ele vai para o Pai "para 
sempre", então ele veio do Pai "da eternidade"; 
há a mesma duração em sair do Pai, como no 
retorno ao pai. Mas mais claramente: ele fala de 
uma glória que ele “teve com o Pai antes da 
fundação do mundo” (João 17: 5), quando não 
havia criatura. Esta é uma glória real, e não 
apenas em decreto; como a glória decretada que 
os crentes têm, e por que não pode cada um 
deles dizer as mesmas palavras: "Pai, glorifica-
me com a glória que tive contigo antes que o 
mundo existisse"? Prova que a glória deles é 
apenas por decreto. 
Cristo fala de algo peculiar a ele, uma glória em 
posse real antes que o mundo existisse: 
“Glorifique-me, receba-me, honre-me como 
teu Filho, enquanto Eu tenho sido agora, aos 
olhos do mundo, lidado humildemente como 
um servo.” 
Por que ele não usou as mesmas palavras para 
seus discípulos que estavam com ele? 
50 
 
Sua eternidade também é mencionada no 
Antigo Testamento: “O SENHOR me possuía no 
início de sua obra, antes de suas obras mais 
antigas.” (Provérbios 8:22). 
“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para 
figurar como grupo de milhares de Judá, de ti 
me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas 
origens são desde os tempos antigos, desde os 
dias da eternidade.” (Miqueias 5: 2). Há duas 
saídas de Cristo descritas, uma de Belém, nos 
dias de sua encarnação, e outra da eternidade. O 
Espírito Santo acrescenta, depois de sua 
previsão de sua encarnação, sua saída da 
eternidade, para que ninguém deve duvide de 
sua divindade. Em Isaías 9: 6 ele é 
particularmente chamado de "eterno" ou "Pai 
eterno”, não o Pai na Trindade, mas um Pai para 
nós; ainda "eterno", o "Pai da eternidade". Como 
ele é o "poderoso Deus", ele é "o Pai eterno.” 
Como a eternidade de Deus é a base de toda a 
religião, assim a eternidade de Cristo é a base da 
religião cristã. Poderiam nossos pecados ser 
expiados perfeitamente se ele não fosse uma 
eterna divindade para responder pelas ofensas 
cometidas contra um Deus eterno? Sofrimentos 
temporários seriam de pouca validade, sem 
infinitude e eternidade em sua pessoa para 
adicionar peso à sua paixão. 
51 
 
Se Deus é eterno, ele conhece todas as coisas 
como presentes. Todas as coisas estão presentes 
para ele em sua eternidade; pois esta é a noção 
de eternidade, a saber, deve ser algo sem 
sucessão. 
Deus considera todas as coisas em sua 
eternidade em um conhecimento simples, 
como se estivessem agindo diante dele: 
“Conhecidos por Deus são todas as suas obras 
desde o princípio do mundo”. 
Quando Saulo perseguia a Igreja ele não sabia 
que nos conselhos eternos de Deus ele havia 
sido designado para ser o apóstolo dos gentios, 
cujo nome seria mudado para Paulo. Deus já 
conhecia de antemão tanto perseguidor quanto 
o apóstolo, e pelo seu poder, faria com que o 
perseguidor se convertesse e viesse a ser 
pregador do evangelho para os gentios. 
E como Deus conheceu isto, bem como todas as 
demais coisas, senão por sua eternidade 
essencial? 
O conhecimento é coeterno com ele; pois se ele 
não conhecesse na eternidade, ele não seria 
eternamente perfeito, pois o conhecimento é a 
perfeição de uma natureza inteligente. 
52 
 
Quão audaz e tolo é para uma criatura mortal 
censurar os conselhos e ações de um Deus 
eterno, ou ser muito curioso em sua vida? 
A eternidade coloca Deus acima de nossas 
investigações e censuras. Bebês de um dia de 
idade não são capazes de entender os atos de 
cabeças sábias e grisalhas: nós, que somos de 
um ser tão curto e compreensivo como ontem, 
presumimos medir os movimentos da 
eternidade por nossos escassos intelectos? 
Como a eternidade não pode ser compreendida 
no tempo, não pode ser julgada por uma criatura 
do tempo.Assim como a santidade implica vida eterna, o 
pecado implica morte eterna, daí se dizer que o 
salário do pecado é a morte. 
O Deus eterno que é a fonte da verdadeira vida 
demanda santidade de suas criaturas morais 
para que compartilhem da vida eterna com ele. 
De modo que toda aproximação dele deve ser 
em ou para santificação. 
Que loucura e ousadia existe no pecado, pois um 
Deus eterno é ofendido por isso! Todo pecado é 
agravado pela eternidade de Deus. A escuridão 
das trevas da idolatria pagã estava em mudar a 
53 
 
glória do Deus incorruptível (Rom. 
1:23); erigindo semelhanças dele contrárias à 
sua natureza imortal; como se o Deus eterno, 
cuja vida é tão ilimitada quanto a eternidade, 
fosse como aquelas criaturas cujos seres são 
medidos pelo curto período de tempo, que são 
de natureza corruptível e passando diariamente 
à corrupção; eles não poderiam realmente 
privar Deus de sua glória e imortalidade, mas 
eles o fizeram na sua estimativa. 
Há na natureza de todo pecado uma tendência a 
reduzir Deus a um não ser. Aquele que pensa 
indignamente de Deus, ou age indignamente 
em relação a ele, faz com que (tanto quanto nele 
reside) sujem e destruam estas suas duas 
perfeições: imutabilidade e eternidade. É uma 
alta desonra, como se ele fosse tão desprezível 
quanto uma criatura que não fosse de ontem, e 
não permanecerá no amanhã. Aquele que 
colocaria um fim na glória de Deus, 
escurecendo-a, poria fim à vida de Deus em sua 
mente e coração. 
Se toda a adoração é devida exclusivamente a 
Deus por conta das perfeições de sua 
espiritualidade e eternidade, qual espaço há que 
se introduza outro tipo de adoração, a criaturas, 
ainda que sejam pessoas santas como foi a 
Virgem Maria, os apóstolos Pedro e João, entre 
54 
 
outros? Eles têm eternidade de si mesmos, ou 
são espíritos onipotentes, oniscientes e 
onipresentes? Eles são redentores e criadores 
da santidade que há nos que se convertem? 
Os que o fazem desviam a adoração que é devida 
exclusivamente às três pessoas da Trindade, e 
pervertem o culto que é devido somente a Deus 
“2 Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da 
terra do Egito, da casa da servidão. 
3 Não terás outros deuses diante de mim. 
4 Não farás para ti imagem de escultura, nem 
semelhança alguma do que há em cima nos 
céus, nem embaixo na terra, nem nas águas 
debaixo da terra. 
5 Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque 
eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que 
visito a iniquidade dos pais nos filhos até à 
terceira e quarta geração daqueles que me 
aborrecem.” (Êxodo 20.2-5). 
Quão terrível é estar sob o golpe de um Deus 
eterno! Sua eternidade é um terror tão grande 
para aquele que o odeia, pois é um conforto para 
aquele que o ama; porque ele é o "Deus vivo, um 
rei eterno, as nações não serão capazes de 
suportar a sua indignação.” (Jer 10:10). 
55 
 
Embora Deus esteja menos em seus 
pensamentos e seja feito luz no mundo, ainda 
assim os pensamentos da eternidade de Deus, 
quando ele vier para julgar o mundo, fará os 
ofensores dele tremerem. Que o juiz e punidor 
vive para sempre, é a maior mágoa para uma 
alma na miséria, e adiciona um peso 
inconcebível a ela, acima do que a infinitude do 
poder executivo de Deus poderia fazer sem essa 
duração. Sua eternidade torna o castigo mais 
terrível do que seu poder; seu poder torna-o 
afiado, mas sua eternidade torna-o perpétuo. E 
como é triste pensar que Deus coloca sua 
eternidade para penhorar a punição de 
pecadores obstinados, e engaja-o por um 
juramento, que ele "aguçará sua espada 
cintilante", que sua "mão tomará juízo ”, que ele 
“fará vingança a seus inimigos e uma 
recompensa aos que o odeiam”; uma 
recompensa proporcional à grandeza de suas 
ofensas e à glória de um Deus eterno! “Levanto 
a mão aos céus e afirmo por minha vida 
eterna: se eu afiar a minha espada reluzente, e a 
minha mão exercitar o juízo, tomarei vingança 
contra os meus adversários e retribuirei aos que 
me odeiam.” (Deut 32:40, 41): isto é, tão certo 
como eu vivo para sempre, vou aguçar minha 
espada reluzente. Como ninguém pode 
transmitir bem com uma perpetuidade, 
ninguém pode transmitir o mal com tal duração 
56 
 
eterna como Deus. É uma grande perda perder 
uma embarcação ricamente carregada no 
fundo do mar, para nunca mais ser lançada na 
praia; mas quão maior é perder eternamente 
um Deus soberano, do qual fomos capazes de 
desfrutar eternamente, e passar por um mal 
duradouro? 
As misérias dos homens depois desta vida não 
são atenuadas, mas aguçadas, pela vida e 
eternidade de Deus. 
Mas que fundamento de conforto podemos ter 
em qualquer um dos atributos de Deus, não 
fosse por sua infinitude e eternidade, em que ele 
seja “misericordioso, bom, sábio, fiel?” Que 
apoio poderia haver, se eles fossem perfeições 
pertencentes a um Deus corruptível? 
Que esperanças de uma ressurreição para a 
felicidade podemos ter, ou da duração dela, se 
aquele Deus que prometeu não fosse imortal 
para continuá-lo, bem como poderoso para 
efetuá-lo? Seu poder não seria todo poderoso, se 
sua duração não fosse eterna. 
Se Deus for eterno, sua aliança será assim. É 
fundada sobre a eternidade de Deus; o 
juramento pelo qual ele confirma isso é por sua 
vida. 
57 
 
Visto que não há ninguém maior do que ele, ele 
jura por si mesmo (Heb 6:13), ou por sua própria 
vida, que ele engaja junto com sua eternidade 
para o desempenho total; de modo que, se ele 
viver para sempre, a aliança não será anulada; é 
um “conselho imutável” (v. 16, 17). A 
imutabilidade de seu conselho segue a 
imutabilidade de sua natureza. Imutabilidade e 
eternidade andam juntas. 
A promessa da vida eterna é tão antiga quanto o 
próprio Deus em relação ao propósito da 
promessa, ou em relação à promessa feita a 
Cristo por nós. “Vida eterna que Deus prometeu 
antes do mundo começar.” (Tito 1: 2): Como há 
uma ante-eternidade, também há uma pós-
natalidade; portanto, o evangelho, que é o novo 
pacto publicado, é denominado “o evangelho 
eterno” (Apocalipse 14: 6), que não pode mais 
ser alterado e perecer, do que Deus pode mudar 
e desaparecer em nada; ele pode negar 
moralmente a sua verdade, como ele pode 
naturalmente abandonar sua vida. A aliança 
está aí representada em uma cor verde, para 
notar sua verdura perpétua; o arco-íris, o 
emblema da aliança "sobre o trono, era 
semelhante a uma esmeralda" (Apocalipse 4: 3), 
uma pedra de cor verde, enquanto que o arco-
íris natural tinha muitas cores; mas uma, para 
significar sua eternidade. 
58 
 
Se Deus é eterno, ele sendo nosso Deus em 
aliança, é um eterno bem e possessão. "Este 
Deus é nosso Deus para todo o sempre" (Salmos 
48:14): “Ele é uma morada de todas as gerações”. 
Percorreremos o mundo por algum tempo e 
então chegaremos às bênçãos de Jacó dadas a 
José “as bênçãos dos montes eternos” (Gên 
49:26). Se uma propriedade de mil libras por ano 
dá vida confortável a um homem por um curto 
período de tempo, quanto mais a alma pode ser 
envolvida com alegria no desfrute do Criador, 
cujos anos nunca têm fim, e que vive para 
sempre para ser desfrutado, e pode nos manter 
na vida para sempre para desfrutá-lo! A morte, 
de fato, se apoderará de nós pela vontade de 
Deus por uma ordem irreversível, mas o Criador 
imortal fará com que ela vomite seu bocado e 
nos coloque em uma gloriosa 
imortalidade; nossas almas em sua dissolução, e 
nossos corpos na ressurreição, após o que eles 
permanecerão para sempre, na extensão dessa 
ilimitada eternidade, na fruição do Deus 
soberano e eterno; pois é impossível que o 
crente, que está unido ao Deus imortal que é de 
eternidade a eternidade, possa perecer; por 
estar em conjunção com aquele que é uma fonte 
de vida sempre fluindo, ele não pode permitir 
que ele permaneça nas garras da 
morte. Enquanto Deus é eterno e sempre o 
mesmo, não é possível queaqueles que 
59 
 
participam de sua vida espiritual, não devam 
também participar de sua eternidade. É da 
consideração da imensidão dos anos de Deus 
que a igreja conforta-se para que “seus filhos 
continuem e sua semente seja estabelecida para 
sempre” (Salmo 102: 27, 28). E da eternidade de 
Deus Habacuque (cap. 1:12) conclui a eternidade 
dos crentes: “Não és tu desde a eternidade, ó 
SENHOR, meu Deus, ó meu Santo? Não 
morreremos.” Depois que eles se aposentarem 
deste mundo, eles viverão para sempre com 
Deus, sem qualquer mudança pela multidão 
daqueles anos imagináveis e idades que devem 
durar para sempre. É aquele Deus que não tem 
começo nem fim, esse é o nosso Deus; quem tem 
não apenas a imortalidade em si mesmo, mas a 
imortalidade para dar aos outros. Como ele tem 
“abundância de espírito” para vivificá-los (Mal 
2:15), então ele tem abundância de imortalidade 
para continuar. É somente na consideração 
disto que um homem pode com sabedoria dizer: 
“Então, direi à minha alma: tens em depósito 
muitos bens para muitos anos; descansa, come, 
bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta 
noite te pedirão a tua alma; e o que tens 
preparado, para quem será?”(Lucas 12:19, 20): 
dizê-lo de qualquer outra posse é a maior 
loucura no julgamento do nosso Salvador. “A 
mortalidade será absorvida pela imortalidade;” 
60 
 
“rios de prazer” serão “para todo o sempre”. A 
morte é uma palavra nunca falada ali por 
ninguém; nunca ouvida por ninguém naquela 
posse da eternidade; é para sempre apagada 
como um dos inimigos vencidos por Cristo. A 
felicidade depende da presença de Deus, com 
quem os crentes estarão para sempre 
presentes. A felicidade não pode perecer 
enquanto Deus viver; ele é o primeiro e o 
último; o primeiro de todos os prazeres, nada 
diante dele; o último de todos os prazeres, nada 
além dele; um paraíso de delícias em todos os 
pontos, sem uma espada flamejante. 
O desfrute de Deus será tão fresco e glorioso 
depois de muitas eras, como foi a princípio. Deus 
é eterno e a eternidade não conhece 
mudança; então haverá a possessão mais 
completa sem qualquer deterioração no objeto 
desfrutado. Não pode haver nada passado, nada 
futuro; o tempo não aumenta nem diminui; que 
a infinita plenitude da perfeição que floresce 
nele agora florescerá eternamente sem 
qualquer descoloração dele, pelo menos, por 
aquelas idades inumeráveis que correrão para a 
eternidade, muito menos qualquer 
despojamento dele deles: "Ele é o mesmo em sua 
duração sem fim" (Salmos 102: 27). Assim como 
Deus é, a eternidade dele será, sem sucessão, 
sem divisão; a plenitude da alegria estará 
61 
 
sempre presente; sem passado para ser pensado 
com pesar por ter ido embora; sem futuro a ser 
esperado com desejos atormentadores. Quando 
desfrutamos de Deus, desfrutamos dele em sua 
eternidade sem qualquer fluxo; uma posse total 
de todos juntos, sem a passagem dos prazeres 
que podem ser desejados a retornarem, ou a 
expectativa de alegrias futuras que possam ser 
desejadas. 
O tempo é fluido, mas a eternidade é estável; e 
depois de muitas eras, as alegrias serão tão 
salgadas e satisfatórias como se tivessem sido, 
como naquele primeiro momento provado por 
nossos apetites famintos. Quando a glória do 
Senhor se erguer sobre você, será tão longe se 
estabelecida, que depois de milhões de anos 
serem expirados, tão numerosos quanto as 
areias na praia, o sol, à luz de cujo semblante 
você viverá, será tão brilhante como na primeira 
aparição; ele estará tão longe de deixar de fluir, 
que ele fluirá tão forte, tão cheio, como na 
primeira comunicação de si mesmo em glória à 
criatura. Deus, portanto, sentado em seu trono 
de graça, e agindo de acordo com sua aliança, é 
como uma pedra de jaspe, que é de cor verde, 
uma cor sempre deleitável (Apocalipse 4: 
3); porque Deus é sempre vigoroso e 
florescente; um puro ato de vida, novos e 
brilhantes raios de vida e luz para a criatura, 
62 
 
florescendo com uma fonte perpétua, e 
contentando o desejo mais amplo; formando 
seu interesse, prazer e satisfação; com uma 
variedade infinita, sem qualquer alteração ou 
sucessão; ele terá variedade para aumentar os 
prazeres e a eternidade para perpetuá-los; este 
será o fruto do gozo de um Deus infinito e 
eterno: não é uma cisterna, mas uma fonte em 
que a água está sempre viva e nunca apodrece. 
Se Deus é eterno, aqui está um forte 
fundamento de conforto contra todas as aflições 
da igreja, e as ameaças dos inimigos da igreja. 
A permanência de Deus para sempre é o apelo 
que Jeremias faz pelo seu retorno à sua igreja 
abandonada: “Tu, SENHOR, reinas 
eternamente, o teu trono subsiste de geração 
em geração. Por que te esquecerias de nós para 
sempre? Por que nos desampararias por tanto 
tempo?” (Lamentações 5:19, 20). A igreja é fraca; 
as coisas criadas são facilmente cortadas; o que 
existe, senão aquele Deus que vive para sempre? 
O que, embora Jerusalém tenha perdido seus 
baluartes, o templo foi destruído, a terra 
desperdiçada; ainda o Deus de Jerusalém se 
assenta sobre um trono eterno e, de eternidade 
a eternidade, não há diminuição de seu poder. O 
profeta insinua nesta queixa, não é agradável à 
eternidade de Deus esquecer o seu povo, a quem 
63 
 
ele, desde a eternidade, deu boa vontade. Nas 
maiores confusões, os olhos da igreja devem ser 
fixados na eternidade do trono de Deus, onde ele 
se senta como governador do mundo. Nenhuma 
criatura pode ter qualquer conforto nesta 
perfeição, mas a igreja; outras criaturas 
dependem de Deus, mas a igreja está unida a ele. 
A primeira descoberta do nome “eu sou”, que 
significa a eternidade divina, assim como a 
imutabilidade, foi para o conforto dos "Israelitas 
oprimidos no Egito" (Êxodo 3:14, 15): foi então 
publicado a partir do lugar secreto do Todo-
Poderoso, como o único forte consolo para 
ajudá-los, e jamais perderá sua virtude em 
qualquer das misérias que venham a suceder 
sucessivamente, à igreja. 
É um conforto tão durável quanto o Deus cujo 
nome é; ele ainda é “eu sou” e o mesmo para a 
igreja, como era então para o seu Israel. Dele, o 
Israel espiritual tem um direito maior às glórias 
do que o Israel carnal poderia ter. Nenhuma 
opressão pode ser maior que a deles; o que era 
um conforto adequado a esse sofrimento, tem a 
mesma adequação a qualquer outra opressão. 
Não era um nome temporário, mas um nome 
para sempre; seu “memorial para todas as 
gerações” (ver. 15), e chega à igreja dos gentios 
com quem ele trata como o Deus de Abraão; 
64 
 
ratificando esse pacto pelo Messias, que ele fez 
com Abraão, o pai dos fiéis. 
Os inimigos da igreja não devem ser temidos; 
eles podem brotar como a grama, mas logo 
depois murcham por seus próprios princípios 
internos, ou são cortados pela mão de Deus 
(Salmo 92: 7-9). Eles podem ser instrumentos da 
ira de Deus, mas “serão dispersos como os 
obreiros de Deus”. 
Eles podem ameaçar, mas sua respiração pode 
desaparecer assim que suas ameaças forem 
pronunciadas; pois eles não respiram fundo 
num lugar que suas narinas, sobre as quais o 
Deus eterno pode colocar sua mão, e afundá-los 
com toda a sua raiva. Os profetas e instrutores da 
igreja "vivem para sempre" (Zac 1: 5)? Não: os 
adversários e perturbadores da igreja viverão 
para sempre? Eles desaparecerão como uma 
sombra; seu ser depende do eterno Deus dos 
fiéis e do eterno juiz dos ímpios. Aquele que 
habita a eternidade está acima daqueles que 
habitam a mortalidade; e devem, quer digam ou 
não, "dizer à corrupção: Tu és meu pai, e ao 
verme, Tu és minha mãe e minha irmã ”(Jó 
17:14). Quando eles agirão com confiança, como 
se fossem deuses vivos, ele não será apaziguado; 
mas evidencia-se como um Deus vivo acima 
deles. Por que, então, homens mortais devem 
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ser temidos em suas carrancas, quando um 
Deus imortal prometeu proteção

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