a carga viral do paciente em uso de medicação. Entretanto, cargas virais elevadas na ausência de resistência podem indicar falta de adesão ao tratamento. O sangue deve ser coletado na vigência do esquema anti- retroviral em uso. As mutações podem persistir até duas semanas após a interrupção, mas algumas, como as do códon 184 da TR, podem desaparecer rapidamente na ausência de medicação. A falha virológica deve ser confirmada por dois testes de carga viral com intervalo superior a três semanas. A transativação heteróloga, secundária a infecções transitórias e vacinação podem aumentar a carga viral por períodos curtos sem que ocorram repercussões relacionadas à falha virológica. A falha virológica pode ser decorrente de fatores não- relacionados à resistência viral. Outros fatores, como adesão ou interações medicamentosas, devem ser investigados antes da solicitação do teste. A interpretação do teste pode ser complexa e demandar interação entre os clínicos assistentes e virologistas clínicos. Existe uma rede de Médicos de Referência em Genotipagem (MRG) capacitados, além de serviços com ampla experiência com pacientes com múltiplas falhas prévias. O teste de genotipagem apresenta valor preditivo positivo alto. Uma vez detectadas mutações de resistência é muito provável que a droga não apresente ação ou tenha ação reduzida in vivo. O teste de genotipagem apresenta valor preditivo negativo baixo. A ausência da detecção da resistência não significa necessariamente que a droga seja ativa. A história anti-retroviral e os resultados de testes prévios devem ser considerados na interpretação do teste atual. Mutações selecionadas no passado podem desaparecer na ausência da droga que a selecionou e reemergirem rapidamente quando a droga é reintroduzida (falsa reversão de mutações na ausência das drogas). Os resultados devem ser considerados “atuais” até seis meses após a coleta de amostra para o teste. Considerando-se o ritmo médio de acúmulo de novas mutações na situação de falha mantida, após um período de seis meses podem ter surgido novas mutações e ocorrido perda adicional de opções. Recomendações para Terapia Anti-retroviral em Adultos Infectados pelo HIV 51 Critérios.para.realização.do.teste.de.genotipagem. pela.renageno 1. Falha virológica confirmada (ver capítulo de carac- terização da falha); 2. Carga viral com pelo menos 2.000 cópias/ ml; 3. Uso regular de TARV: há seis meses, para pacientes em geral; há três meses, para gestantes. Princípios gerais da terapia de resgate O manejo do resgate anti-retroviral permanece em constante modificação. Distintamente do que ocorre em relação à terapia inicial, há escassez de recomendações consensuais específicas para escolha de esquemas de resgate. Isso se deve à relativa carência de ensaios clínicos randomiza- dos (ECR) que tenham comparado diferentes estraté- gias de resgate recrutando grande número de pacientes. Nos últimos dois anos, no entanto, resultados de vários ensaios clínicos abordando o manejo de pacientes com múltiplas falhas prévias foram publicados (Lalezari e cols. 2003; Cahn e cols. 2006; Molina e cols. 2007). Embora tenham contribuído para o conhecimento sobre a terapia de resgate, todos foram desenhados para abordar a eficácia de novas drogas (inibidores de protease potentes ou drogas de novas classes) em pacientes com ampla experiência prévia com anti-re- trovirais, portadores de vírus multirresistentes. Portanto, muitas das perguntas sobre o melhor manejo da primeira ou da segunda falha permanecem sem evidências substanciadas em estudos clínicos delineados para respondê-las. Exemplos dessas per- guntas são: Qual é o melhor seqüenciamento de ITRN? Quais são os resultados de comparações diretas entre as drogas em esquemas de resgate? Quais são as melhores combinações de drogas? Sendo assim, as recomendações para terapia de resgate baseiam-se por vezes em inferências teóricas, estudos pilotos ou subanálises de estudos clínicos desenhados para outras finalidades. Feitas essas res- salvas, reconhece-se que algumas recomendações são essenciais para orientar o clínico e podem auxiliá-lo na implementação de um esquema anti-retroviral com maior chance de eficácia para o paciente já tratado previamente. Seguem, portanto, alguns conceitos importantes a serem considerados na avaliação da resistência geno- típica e alguns princípios que, de modo geral, devem orientar a escolha dos esquemas de resgate. Não são regras absolutas, já que o grupo de pacientes em falha terapêutica é bastante heterogêneo em relação a causas de falha, número e tipo de esquemas anti-retrovirais prévios, prevalência de mutações de resistência, opções de drogas ativas, limites e possibilidades do novo esquema etc. Assim, em situações em que há dúvida quanto a esses princípios e ao manejo do caso, recomenda-se que o médico assistente lance mão da retaguarda técnica existente, levando o caso à discus- são com os Médicos de Referência em Genotipagem (MRG), câmaras técnicas ou serviços de referências que detenham ampla experiência no tratamento de pacientes com múltiplas falhas prévias de tratamento e portadores de vírus multirresistentes. 1..Solicitar.precocemente.o.teste.de.genotipa- gem. Assim que for confirmada a falha virológica, deve-se proceder à coleta de amostra para teste de genotipagem. Sabe-se que a viremia persistente na presença de drogas leva ao acúmulo progressivo de mutações e conseqüente aumento da resistência cruzada dentro das classes de drogas (Kantor 2004). A mudança precoce minimiza a resistência cruzada e preserva futuras opções. O teste de genotipagem permite selecionar com maior segurança drogas ativas para o novo esquema. 2..Suprimir.a.carga.viral.ao.nível.mais.baixo.pos- sível,.de.preferência,.até.sua.indetectabilidade. Os estudos recentes sobre novas drogas para tera- pia de resgate demonstraram claramente que com o arsenal terapêutico hoje disponível é possível atingir carga viral indetectável mesmo em pacientes com ampla experiência prévia com anti-retrovirais (Lalezari e cols. 2003; Cahn e cols. 2006; Molina e cols. 2007). Por sua vez, como já discutido acima, a supressão viral completa está associada à resposta imunológica mais robusta e duradoura e, além de interromper o acúmulo progressivo de mutações, tem impacto clínico positivo (Murri e cols. 2006, Hatano e cols. 2006). 3..Evitar.monoterapia.funcional. Uma nova droga com grande potencial de ativi- dade (por exemplo, de uma classe ainda não usada previamente), deve ser utilizada, preferencialmente, Guia de Tratamento52 se puder ser associada a pelo menos uma outra droga plenamente ativa ou a alguma droga com potencial de atividade parcial. Drogas, ainda que potentes, quando usadas isoladamente ou em associação a drogas para as quais já há resistência, produzem resposta inferior tanto na proporção de indetecção da carga viral, quanto em termos de duração da resposta. A eficácia do esquema de resgate aumenta progressivamente com o número de drogas ativas. Em vários estudos clínicos, a melhor resposta virológica foi atingida com a combinação de três drogas ativas. A adição de mais de três drogas ativas não demonstrou vantagens nos vários estudos publicados (Lalezari e cols. 2003; Cahn e cols. 2006; Molina e cols. 2007). 4..Não.usar.inibidores.da.transcriptase.reversa. não-análogos.de.nucleosídeos.(ITRNN),.se.já.hou- ve.falha.prévia.a.essa.classe. A resistência aos ITRNN atualmente disponíveis (efavirenz e nevirapina) surge muito precocemente na presença de carga viral detectável. A barreira ge- nética de resistência dessa classe é muito baixa, pois a presença de apenas uma mutação de resistência pode levar à resistência completa de toda classe. Portanto, os pacientes que apresentam ou já apre- sentaram falha virológica (carga viral detectável) na vigência de esquemas compostos por ITRNN devem ser considerados como portadores de vírus resistentes