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Universidade Federal do Rio Grande Do Sul Escola de Engenharia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM Natacha Sauer Porto Alegre 2020 NATACHA SAUER INTEGRAÇÃO DA GESTÃO DE CUSTOS AO PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO BASEADO EM LOCALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO COM APOIO DE BIM Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Porto Alegre 2020 NATACHA SAUER INTEGRAÇÃO DA GESTÃO DE CUSTOS AO PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO BASEADO EM LOCALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO COM APOIO DE BIM Esta dissertação de mestrado foi julgada para a obtenção do título de MESTRE EM ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelo Professor Orientador e pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2020 Prof. Carlos Torres Formoso PhD pela University of Salford / Grã-Bretanha Orientador Prof. Ângela Borges Masuero Coordenadora do PPGCI/UFRGS BANCA EXAMINADORA Prof. Daniela Dietz Viana Doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Prof. Dayana Bastos Costa Doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Prof. Eduardo Luís Isatto Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Dedico este trabalho à minha família, pelo amor e incentivo em todos os momentos da minha vida. Em especial à minha afilhada Amália, que há 3 anos alegra ainda mais os meus dias. AGRADECIMENTOS Agradeço ao Professor, meu mentor e orientador, Carlos Torres Formoso, por contribuir com o meu desenvolvimento pessoal e profissional, sempre me incentivando a pensar à longo prazo. Sou grata por todos os ensinamentos, orientações, contribuições, correções essenciais ao desenvolvimento deste trabalho. Agradeço a confiança, compreensão e paciência durante todos estes anos. Agradeço à Construtora pela oportunidade de realizar os estudos deste trabalho, pela confiança depositada e todo suporte dado. Muito obrigada especial aos diretores pela compreensão e paciência com meu temperamento em épocas de euforia dissertativa. Meu sentimento de gratidão a Débora Dadalt, Nicola Peccin, Taíse Dalmás, Pedro Berlitz, Fernanda Benezra, Hemanuel Zofoli e Felipe Grossi por todo apoio, incentivo, boas risadas, choros, conselhos, palavras positivas, empenho, dedicação, selfie, stories e stickers, cada etapa desenvolvida e implementada neste trabalho só aconteceu porque vocês estavam comigo. Muito obrigada Time! Agradeço à minha família por não me deixar desistir deste sonho. Mãe, obrigada por sempre me encorajar, pelas palavras positivas e pela tradicional frase: eu quero, eu posso, eu consigo. Mana, obrigada pelas provocações e puxões de orelha, me ajudaram a sair da zona de conforto. Cunha, obrigada pela preocupação e disposição de sempre. Amália, obrigada por deixar os meus dias mais leves, divertidos e coloridos. Pai, por onde estiver, obrigada por sempre me olhar, guiar meus passos e cuidar de mim. Agradeço à Trimble pela licença educacional do software Vico Office. Obrigada ndBIM, em especial ao Antônio Meirelles e Edgar Costa, por todo conhecimento compartilhado sobre o software Vico Office, foram essenciais para a minha evolução com a ferramenta e ao desenvolvimento desta pesquisa. Obrigada família NORIE pelo acolhimento durante todos esses anos. Principalmente aos colegas do grupo de gerenciamento, e especialmente ao colega e amigo Fabrício de Vargas pelo auxílio no uso do software Vico Office e ideias em geral e a colega e amiga Fernanda Saidelles por toda essa troca de experiência e conhecimento durante esses anos, cada contribuição vinda de vocês foi essencial. Obrigada Burpee e Lola por todas as lambidas e companhia nesta longa jornada e obrigada CrossFit, minha terapia “quase” diária para não enlouquecer. Knowledge is power Francis Bacon RESUMO SAUER, Natacha. Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM – Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura, UFRGS, Porto Alegre A ineficácia dos sistemas tradicionais de contabilidade de custos na construção civil tem resultado na dissociação entre o gerenciamento de custos e outros processos gerenciais, contribuindo para aumentar a fragmentação entre diferentes funções na gestão de empreendimentos. A obtenção contínua e rápida de dados integrados e confiáveis atualizados é um dos desafios enfrentados por empresas de construção para nortear as decisões. Nesse contexto, surgiu a abordagem de planejamento denominada Location Based Management (LBM) que, associada a Building Information Modelling (BIM), oferece um meio para extrair e integrar informações de maneira ágil e precisa, além de proporcionar possibilidades de visualização espacial e temporal para facilitar a comunicação. Entretanto, ainda existem lacunas na prática e na pesquisa sobre a integração do planejamento e controle da produção (PCP) baseado em localização e a gestão de custos na construção, e sobre o uso do BIM como facilitador para essa integração. O objetivo desta esta pesquisa consiste em um modelo de gestão de custos integrado ao PCP com base na abordagem baseada em localização e com apoio de BIM. É utilizada a técnica da linha de balanço para representar fluxos de trabalho das obras, enquanto as informações de custos são relacionadas a uma estrutura hierárquica de localizações. O uso do BIM possibilita a visualização espacial dos planos, a extração de quantitativos automáticos e a criação de um banco de dados integrado com as informações de prazo e custo. No sentido de utilizar melhor as informações de custo, este modelo propõe uma classificação dos custos, visando a distinguir os custos de atividades de transformação, separados em materiais e mão de obra, de atividades que não agregam valor. Da mesma forma, buscou-se explicitar os custos variáveis em relação ao tempo e eventos, para permitir a avaliação do impacto da duração da obra no custo total. A abordagem metodológica utilizada nesta pesquisa foi Design Science Research (DSR), sendo o modelo desenvolvido em empíricos desenvolvidos em uma mesma empresa construtora. Concluiu-se que a integração entre a gestão de custos e o planejamento baseado na localização, com o apoio de BIM, propiciou um controle mais efetivo dos custos durante a produção, permitindo que as ações de controle da produção analisassem, também, o impacto financeiro na tomada de decisões. A integração facilitou o planejamento dos custos e a atualização da projeção do fluxo de caixa, a qual possibilitou a conferência da disponibilidade financeira. Além disto, simulações 4D e 5D combinadas ao plano de longo prazo permitiu analisar, discutir e comunicar o fluxo de trabalho e ritmo de produção a todos os envolvidos. De uma forma geral, esta pesquisa contribuiu para o avanço do conhecimento da gestão integrada de processos em relação ao tempo e custo por meio do uso da abordagem LBM, do conceito de orçamento com visão operacional e de BIM para a extração de quantitativos e integração de informações do orçamento e planejamento. Palavras-chave: integração, gestão dos custos, planejamento e controle da produção; LBM, BIM,4D, 5D. ABSTRACT SAUER, Natacha. Integration of Cost Managementand Location Based Production Planning and Control in Construction using BIM – Dissertation (Masters in Civil Engineering) - Graduate Program in Civil Engineering: Construction and Infrastructure, UFRGS, Porto Alegre The ineffectiveness of traditional cost accountancy systems has resulted in the dissociation between cost management and other managerial processes in construction, increasing the fragmentation between different project management functions. Getting integrated, reliable and up-to-date data quickly is a major challenge for construction companies, so that decision making related to production management can be supported. In this context, a planning approach named Location Based Management (LBM) has emerged, which, if associated to Building Information Modelling (BIM), offer means for obtaining and integrating information, besides making it possible to visualize 3D and 4D models for facilitating communication. However, there are some gaps in both in practical and theoretical knowledge on the integration of location-based production planning and control and cost management in construction, and on how to use of BIM as a facilitator for this integration. The aim of this research work is to devise a model for cost management, integrated to production planning and control, based on the location-based approach, with the support of BIM. The line of balance technique is used for representing workflows in construction sites, while cost information is connected to a hierarchical location structure. The use of BIM makes it possible to generate 4D simulations of plans, to automate quantity take-off for cost estimating, and to create an integrated database of cost and time information. With the aim of improving the way cost information is used, this model proposes a classification of different types of costs, such as costs of transformation activities, divided into materials and labor, and non-value-adding activities. Also, time- and event-related costs are made explicit so that the impact of project duration on total costs can be assessed. The methodological approach adopted in this investigation was Design Science Research (DSR), and the proposed model was devised in four empirical studies undertaken in the same construction company. The conclusion was made that the integration between cost management and location-based planning, with the support of BIM, made production cost control more effective, in which the financial impact of decisions can be analyzed. This integration made it easier to do cost planning, as well as to get an up-to-date cash flow projection, which allows the availability of financial resources to be checked. Moreover, 4D e 5D simulations, associated to long-term plans, supported the analysis, discussion and dissemination of information related to workflows and work rhythm among stakeholders. In general, this research made a contribution to the knowledge on time and cost integrated management by using Location Based Methods, the concept of operational cost estimating, and BIM for quantity take-off and integration of cost estimating and planning information. Keywords: integration, cost management, production planning and control, LBM, BIM, 4D, 5D. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 16 1.1 MOTIVAÇÃO .................................................................................................................... 16 1.2 CONTEXTO E JUSTIFICATIVA...................................................................................... 17 1.3 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................ 21 1.4 QUESTÕES DE PESQUISA .............................................................................................. 24 1.5 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................................ 24 1.6 DELIMITAÇÕES ............................................................................................................... 25 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO........................................................................................ 25 2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO ................................................. 27 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA ................................. 27 2.2 DESPERDÍCIOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................................................. 30 2.2.1 Perdas por Making-do ................................................................................................... 30 2.2.2 Falta de terminalidade .................................................................................................. 31 2.2.3 Retrabalho ..................................................................................................................... 31 2.2.4 Trabalho em progresso ................................................................................................. 31 2.3 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO (PCP) ........................................... 32 2.3.1 Sistema Last Planner (LPS) .......................................................................................... 33 2.3.2 PCP baseado em locais.................................................................................................. 34 2.3.3 Location-Based Management (LBM) ........................................................................... 36 2.3.4 Integração LBM e LPS ................................................................................................. 38 3 GESTÃO DE CUSTOS NA CONSTRUÇÃO ................................................................ 39 3.1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE CUSTOS ...................................................................... 39 3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ORÇAMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ......................... 41 3.2.1 Crítica à gestão de custos tradicional .......................................................................... 42 3.2.2 Importância da visão operacional ................................................................................ 42 3.3 CURVA DE AGREGAÇÃO DE RECURSOS .................................................................. 43 3.3.1 Críticas à Técnica EVM ................................................................................................ 45 3.4 ABORDAGEM LBM NA INTEGRAÇÃO DE PCP E CUSTOS ..................................... 46 4 BIM PARA GESTÃO DE CUSTOS ............................................................................... 47 4.1 BUILDING INFORMATION MODELING ......................................................................... 47 4.1.1 Modelagem paramétrica ............................................................................................... 48 4.1.2 Interoperabilidade......................................................................................................... 48 4.1.3 Nível de desenvolvimento (LOD) ................................................................................. 48 4.2 BIM E ESTIMATIVA DE CUSTOS.................................................................................. 49 4.3 BIM NA INTEGRAÇÃO DE PCP E CUSTOS ................................................................. 50 4.4 DIRETRIZES DE MODELAGEM .................................................................................... 52 5 MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................................... 54 5.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA ......................................................................................... 54 5.2 DELINEAMENTO ............................................................................................................. 56 5.3 DESCRIÇÃO DA EMPRESA CONSTRUTORA .............................................................60 5.4 DESCRIÇÃO DAS OBRAS ESTUDADAS ...................................................................... 60 5.5 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS POR ESTUDO ................................ 62 5.5.1 Estudo exploratório 1 – Obra A ................................................................................... 62 5.5.2 Estudo Empírico 1 – Obra B ........................................................................................ 64 5.5.3 Estudo Empírico 2 – Obra C ........................................................................................ 65 5.5.4 Estudo Empírico 3 – Obra D ........................................................................................ 66 5.6 AVALIAÇÃO DA SOLUÇÃO .......................................................................................... 68 5.7 FONTES DE EVIDÊNCIAS .............................................................................................. 67 6 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ....................................................................... 70 6.1 ESTUDO EXPLORATÓRIO ............................................................................................. 70 6.1.1 Diagnóstico do PCP e dos custos da Construtora....................................................... 70 6.1.2 Principais deficiências encontradas ............................................................................. 72 6.1.3 Propostas de ações de melhorias .................................................................................. 74 6.2 ESTUDO EMPÍRICO 1 ...................................................................................................... 74 6.2.1 Modelagem 3D ............................................................................................................... 75 6.2.2 Planejamento da produção baseado em localização .................................................. 75 6.2.3 Planejamento dos custos integrados ao PCP .............................................................. 77 6.2.4 Controle dos custos integrados ao PCP ....................................................................... 79 6.2.5 Concepção preliminar do modelo para gestão de custos integrada ao PCP ............ 83 6.2.6 Contribuições do estudo empírico 1 ............................................................................ 83 6.3 ESTUDO EMPÍRICO 2 ...................................................................................................... 84 6.3.1 Modelagem 3D ............................................................................................................... 84 6.3.2 Aprendizado do software BIM de PCP e Custos ........................................................ 85 6.3.3 Elaboração da planilha orçamentária ......................................................................... 86 6.3.4 Planejamento de longo prazo ....................................................................................... 87 6.3.5 Definição dos custos proporcionais ao tempo ............................................................. 89 6.3.6 Etapas fundamentais associadas a modelagem 5D .................................................... 90 6.3.7 Dados planejados ........................................................................................................... 98 6.3.8 Rotina do ciclo de controle sistemático da Produção e Custos ............................... 103 6.3.9 Indicadores de desempenho ....................................................................................... 108 6.3.10 Apresentação dos resultados dos indicadores desempenho .................................... 109 6.3.11 Contribuições do estudo empírico e reflexão sobre as lições aprendidas ............... 115 6.4 ESTUDO EMPÍRICO 3 .................................................................................................... 117 6.4.1 Processo de Modelagem 3D ........................................................................................ 117 6.4.2 Formação do modelado BIM federado ..................................................................... 119 6.4.3 Extração de quantitativos e elaboração da planilha orçamentária ........................ 120 6.4.4 Extração de quantitativos por tipologia de apartamento e circulação ................... 124 6.4.5 Definições iniciais de planejamento e divisão dos modelos em localização ............ 125 6.4.6 Definição dos custos variáveis em relação ao tempo ................................................ 129 6.4.7 Documentos de referência .......................................................................................... 130 6.4.8 Contribuições do estudo empírico 3 .......................................................................... 132 7 MODELO PARA INTEGRAÇÃO DA GESTÃO DE CUSTOS AO PCP BASEADO EM LOCALIZAÇÃO COM APOIO DE BIM ........................................................................ 133 7.1 VISÃO GERAL DO MODELO ....................................................................................... 133 7.1.1 Nível de longo prazo .................................................................................................... 134 7.1.2 Ciclo do Nível Planejamento e Controle de Médio Prazo........................................ 140 7.1.3 Ciclo do Nível de Curto Prazo .................................................................................... 143 7.1.4 Avaliação do PCP e Custos ......................................................................................... 144 7.2 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO EXECUTIVO ................... 145 7.3 DIRETRIZES PARA DEFINIÇÃO DA LBS .................................................................. 148 7.4 AVALIAÇÃO FINAL DA SOLUÇÃO ........................................................................... 149 7.4.1 Utilidade ....................................................................................................................... 149 7.4.2 Aplicabilidade .............................................................................................................. 151 7.5 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ...................................................................................... 152 7.6 AVALIAÇÃO DO SOFTWARE...................................................................................... 153 8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 156 8.1 PRINCIPAIS CONCLUSÕES .......................................................................................... 156 8.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................... 160 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 162 APÊNDICE A – Quadro de Controle ....................................................................................... 175 APÊNDICE B – Estrutura do Orçamento ............................................................................... 178 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Modelo tradicional de processo ............................................................................... 27 Figura 2 - Modelo de processo da Lean Construction .............................................................. 28 Figura 3 – Descrição dos LOD ................................................................................................. 49 Figura 4 - Relação das fases do estudo e empreendimentos..................................................... 56 Figura 5 - Delineamento da pesquisa ....................................................................................... 57 Figura 6 - Fases propostas por Holmström, Ketokivi e Hameri (2009) aplicadas ao delineamento ............................................................................................................................. 59 Figura 7 – Caracterização asobras estudadas .......................................................................... 60 Figura 8 – Implantação e pavimento tipo da Obra A ............................................................... 61 Figura 9 – Implantação e pavimento tipo da Obra B ................................................................ 61 Figura 10 – Implantação e pavimento tipo das torres 1 e 2 da Obra C .................................... 62 Figura 11 – Implantação e pavimento tipo da Obra D ............................................................. 62 Figura 12 – Desdobramento dos constructos Utilidade e Aplicabilidade ................................ 69 Figura 13 – Resumo das fontes de evidências por estudos....................................................... 68 Figura 14 – Links entre os modelos BIM 3D arquitetônico e estrutural e a implantação geral75 Figura 15 - Linha de balanço planejada para fase 1 da Obra B ................................................ 76 Figura 16 – Sequência executiva entre as equipes de elevação de alvenaria estrutural e reboco externo ...................................................................................................................................... 77 Figura 17 – Processos escolhidas para desenvolvimento e teste do modelo preliminar .......... 77 Figura 18 - Custo planejado para o andaime fachadeiro da Torre 7 da Obra B ....................... 78 Figura 19 – (a) Distribuição mensal e acumulada dos custos dos processos escolhidos para .. 79 Figura 20 - Atualização da linha de fluxo da Torre 7 ............................................................... 80 Figura 21 - Dados reais no andaime fachadeiro da torre 7 ....................................................... 80 Figura 22 - Análise das perdas da Torre 7 ................................................................................ 81 Figura 23 – Curva S indicador de prazo ................................................................................... 82 Figura 24 - Reprogramação da Obra B ..................................................................................... 82 Figura 25 – Percentual de conclusão até agosto/18 e cálculo da perda projetada por torre ..... 82 Figura 26 – Modelagem BIM da superfície do terreno existente versus terreno da implantação proposto pelo arquiteto ............................................................................................................. 84 Figura 27 – Obra C - Modelo de Implantação e Modelos BIM por disciplina da Torre 2 ....... 85 Figura 28 – Descrição dos grupos de custos da planilha orçamentária .................................... 86 Figura 29 – Modelo 3D da Torre 1 e Lotes de Produção para os processos da etapa Estrutura .................................................................................................................................................. 88 Figura 30 –Linha de balanço processos de produção internos das Torres 1, 2 e 3 ................... 89 Figura 31 – Cálculo dos custos do guindaste baseados no planejamento de longo prazo ........ 90 Figura 32 – Fluxo de trabalho do software Vico Office ........................................................... 91 Figura 33 – Modelos importados via plugin no Revit ao Vico Office ..................................... 91 Figura 34 – Amostra da lista de itens de quantidades (TOI) e lista de quantitativos (TOQ) para o grupo de laje e paredes deste estudo ...................................................................................... 93 Figura 35 –Extração de quantitativos do objeto BIM Viga Baldrame no software VO e Revit .................................................................................................................................................. 94 Figura 36 – Itens de custos do orçamento referente ao concreto das Vigas Baldrames ........... 95 Figura 37 – Divisão da LBS ..................................................................................................... 96 Figura 38 – Integração Orçamento (5D) e Processos (4D) ...................................................... 98 Figura 39 – Linha de fluxo da Obra C ...................................................................................... 99 Figura 40 – Amostra da Planilha de Custos dos Processo ...................................................... 100 Figura 41 – Curva ABC de Material e Mão de Obra.............................................................. 101 Figura 42 – Classificação dos Custos ..................................................................................... 101 Figura 43- Fluxo de Caixa Planejado Geral Obra C ............................................................... 102 Figura 44- Curva S planejada geral e por torre da Obra C ..................................................... 102 Figura 45 – Amostra da tabela de Perdas da Obra C .............................................................. 103 Figura 46 – Rotina de controle da produção integrada a gestão de custos ............................. 104 Figura 47 – (a) Planilha eletrônica preenchida pela obra (b) Quadro de Controle do software VO .......................................................................................................................................... 105 Figura 48 – Linha de fluxo com os dados planejados, executados e projetados da Estrutura 106 Figura 49 – Simulação 4D comparando os estágios de informação planejado e executado .. 106 Figura 50 – Indicador de Desvio de Prazo, Curva S da Obra C ............................................. 110 Figura 51 – Curva S da Obra C .............................................................................................. 110 Figura 52 – Indicador de Desvio de Prazo, Curva S e snapshot Simulação 4D da torre 1 .... 110 Figura 53 – Indicador de Desvio de Prazo, Curva S e snapshot Simulação 4D da torre 2 .... 111 Figura 54 – Indicador de Desvio de Prazo, Curva S e snapshot Simulação 4D da torre 3 .... 111 Figura 55 – Simulação 4D status planejado versus executado .............................................. 112 Figura 56 – Indicador de Custo Atual e no Término da Obra C ............................................ 112 Figura 57 – Indicador de Aderência ao Lote Obra C ............................................................. 113 Figura 58 – Indicador de Perdas da Obra C ........................................................................... 114 Figura 59 – Atualização do fluxo de caixa ............................................................................. 114 Figura 60 – Atualização da classificação dos custos .............................................................. 115 Figura 61 – Estudo de implantação do terreno com apoio da Modelagem 3D ...................... 117 Figura 62 – (A) Template com famílias padrão de arquitetura, (B) Modelagem da Obra D . 118 Figura 63 – Comparação da modelagem da superfície do terreno proveniente do levantamento planialtimétrico por topógrafo e por drone ............................................................................. 119 Figura 64 – (A) Modelo Federado completo da Obra D (B) Modelo Federado das Torres da (C) Modelo Federado da Infraestrutura .................................................................................. 120 Figura 65 – Modelos BIM 3D autorais inseridos no VO para a Torre 2 ................................ 120 Figura 66 – (A) Categorização dos parâmetros dos modelos estruturais (B) Categorização dos parâmetros dos modelos arquitetônicos ................................................................................. 121 Figura 67 – Tabela dos parâmetros dos itens de custo da Estrutura ....................................... 122 Figura 68 – Novos parâmetros para categorização dos quantitativos .................................... 123 Figura 69 – Modelagem 3D com paredes empilhadas para facilitar a extração de quantitativos ................................................................................................................................................123 Figura 70 – (A) Criação de fórmula para aplicar critérios de medição (B) Criação de TOQ 124 Figura 71 – Extração de quantitativos por tipologia de apartamento ..................................... 125 Figura 72 – (A) LBS para os processos de estrutura e acabamentos Obra D (B) LBS para os processos de fachada Obra D.................................................................................................. 126 Figura 73 – Integração 3D-5D-4D Obra D ............................................................................. 127 Figura 74 – Linha de fluxo da estrutura ................................................................................. 129 Figura 75 – Linha de fluxo dos acabamentos internos dos apartamentos .............................. 129 Figura 76 –Fluxo de Caixa da Obra D .................................................................................... 130 Figura 77 – Curva S Geral da Obra D e Curva S por Torre ................................................... 130 Figura 78– Amostra da planilha com os custos alocadas nos processos ................................ 131 Figura 79 – Distribuição dos custos ....................................................................................... 131 Figura 80 – Visão geral do modelo de integração da gestão de custos ao PCP com apoio de BIM ......................................................................................................................................... 133 Figura 81 – Integração do PCP a gestão de custos com apoio de BIM .................................. 135 Figura 82 – Indicadores de desempenho ciclo de médio prazo .............................................. 142 Figura 83 – Variáveis dos indicadores de desempenho e critérios ......................................... 143 Figura 84 – Classificação dos custos ...................................................................................... 146 Figura 85 – Descrição da divisão dos custos .......................................................................... 147 Figura 86 – Relações entre as saídas da DSR e os resultados do trabalho ............................. 156 LISTA DE ABREVIATURAS AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção AIA – American Institute of Architects BIM – Building Information Modeling BDI – Bonificação e despesas indiretas CPM – Critical Path Method DSR – Design Science Research EAP – Estrutura Analítica de Projeto EE – Estudo Exploratório EE1 – Estudo Empírico 1 EE2– Estudo Empírico 2 EE3– Estudo Empírico 3 EVM – Earned Value Management – Análise de Valor Agregado IFC – Industry Foundation Class IRR - Índice de Remoção de Restrições LBM – Location-Based Management LBS –Location Breakdown Structure - Estrutura hierárquica de localização LOB – Linha de balanço LOD – Level of Development LPS – Last Planner System – Sistema Last Planner MEP - Mechanical, Electrical, and Plumbing NORIE – Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação PCP – Planejamento e Controle da Produção PLS – Planilha levantamento dos Item de custos PMCMV - Programa Minha Casa Minha Vida PPC – Percentual de pacotes completos PSP – Projeto do Sistema da Produção WBS – Work Breakdown Structure - Estrutura Analítica de Projeto WIP – Trabalho em progresso 16 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM 1 INTRODUÇÃO Este capítulo inicia com a motivação da pesquisa, seguindo da apresentação do contexto e a justificativa do tema proposto e do problema de pesquisa (lacuna do conhecimento). Finaliza com as questões de pesquisa e os objetivos da pesquisa. 1.1 MOTIVAÇÃO O desenvolvimento desta pesquisa foi motivado inicialmente pela vivência prática da pesquisadora, em quatro diferentes empresas de distintos setores da indústria AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção), nas quais atuou no planejamento e controle da produção (PCP) e gestão de custos. Na sua atividade profissional, a mesma percebeu a falta de integração entre os setores envolvidos nestas atividades, e os problemas que isto causa no que se refere ao desempenho físico e financeiro dos empreendimentos. Entre as dificuldades vivenciadas pela pesquisadora, destacam-se o planejamento dos custos e a gestão do fluxo de caixa dos empreendimentos, os quais dependiam da integração das informações dos setores de PCP e Custos. Mais recentemente, a pesquisadora passou a atuar no planejamento e controle de obras de habitação para população de baixa renda, nas quais as margens de lucro são bastante reduzidas. Devido a isso, o conhecimento dos custos de produção e a gestão dos prazos de construção, como forma de reduzir custos fixos, são muito importantes para obter o sucesso financeiro desse tipo de empreendimento. Outro fator que a incentivou na elaboração desta pesquisa é o atual momento de “disruptura digital” da indústria AEC, denominação utilizada para descrever inovações que geram mudanças por meio do uso de novas tecnologias, principalmente devido ao uso de BIM. Conceituado como elemento central no processo de digitalização da construção, o BIM, para cumprir o seu potencial de fornecer informações precisas, confiáveis, integradas e rápidas, exige diversas mudanças, incluindo a reorganização dos processos tradicionalmente utilizados na construção. Com isso, surgiu o interesse em desenvolver modelos e técnicas apoiadas em BIM, que tornem mais eficazes a integração das informações da gestão de custos e o planejamento e controle da produção, de forma apoiar as tomadas de decisão. Somando-se a isso, a empresa construtora, na qual a pesquisadora tem atuado, demonstrou interesse na implementação BIM, criando uma oportunidade para a realização desta pesquisa em um ambiente real de empreendimentos de construção. 17 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 1.2 CONTEXTO E JUSTIFICATIVA O ambiente da indústria AEC possui características de complexidade, incluindo o elevado número de partes e interdependências e o alto grau de incerteza e variabilidade (KOSKELA, 2000). Um empreendimento de construção é um produto único, que é realizado em canteiros de obra, utilizando uma organização temporária (KOSKELA; BALLARD, 2003). O produto sendo transformado é estacionário, enquanto os recursos transformadores (materiais, informações, equipamentos e pessoas) movimentam-se (SLACK et al., 2006). Devido às características peculiares da indústria AEC, e considerando os conceitos e princípios da filosofia da produção enxuta, o processo de produção deve ser visto com um fluxo de materiais ou informações desde a matéria prima até o produto final (KOSKELA, 2000), sendo esse fluxo formado pelas atividades de processamento ou conversão, inspeção, movimento e espera (KOSKELA, 1992). Segundo Koskela (1992), embora todas as atividades despendam custos e consumam tempo, só as de conversão podem adicionar valor ao produto. Assim, as atividades de inspeção, movimento e espera são denominadas como atividades de fluxo que não agregam valor ao produto do ponto de vista do cliente final, também conhecidas como perdas (KOSKELA, 1992). Em geral, supõe-se que exista um nível muito alto de perdas na construção (FORMOSO et al., 2011), sendo estas causadas principalmente pela ineficácia do PCP. A ineficácia do PCP acaba expondo o processo à variabilidade e à incerteza (FORMOSO et al., 2001), que resulta em mudanças de ritmo, trabalho em progresso (WIP), maiores despesas operacionais, movimentações desnecessárias, interrupções na execução de atividades, aumento do esforço por unidade de produção, tempo de produção mais longo, qualidade reduzida,ou seja, menor eficiência (KENLEY; SEPPÄNEN, 2010). Embora seja difícil medir sistematicamente todos as perdas da construção, estudos de vários países confirmaram que os resíduos representam uma porcentagem relativamente grande nos custos de produção (FORMOSO et al., 2011). Para Ulhôa (2012), as perdas estão diretamente ligadas ao aumento de custo e de prazo. Para Bulhões (2001), as perdas devem ser expressas em termos de custos para que os empresários do setor se mobilizem na aplicação de medidas que resultem na sua diminuição ou eliminação. Além disso, a adoção de sistemas de controle que monitorem os custos durante a produção podem contribuir para aumentar a eficiência no processo construtivo (BULHÕES, 2001). De acordo com Laufer e Tucker (1987), custo deveria ser um dos focos principais do PCP, pois um dos mais importantes objetivos do PCP deve ser a programação do uso dos recursos de maneira 18 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM eficiente (recursos humanos, equipamentos, materiais, capital). Tendo em vista o ambiente incerto e dinâmico no qual a construção está inserida e o impacto da ineficácia do PCP em termos de custos, é de suma importância que a gestão dos custos seja integrada ao processo de produção do empreendimento, para embasar decisões quanto ao planejamento da produção e à programação financeira do empreendimento (KERN, 2005). No entanto, os sistemas de gestão de custos tradicionais não são aptos a lidar com a dinâmica, interdependência e complexidade dos processos que definem os custos ao longo do tempo (KERN, 2005). Além da falta de informação quanto ao planejamento dos custos considerando o aspecto desembolso, os documentos utilizados são dificilmente atualizados ao longo do tempo. Com isto, não consideram as modificações que possam ocorrer tendo em vista a natureza complexa do ambiente de construção (KERN, 2005). Como consequência, a informação gerada por esses sistemas tem limitado uso como apoio à tomada de decisões para os gestores (KERN, 2005). De acordo com Marchesan (2001), as deficiências nos sistemas de gestão de custos começam na orçamentação, com o emprego de composições de custos que utilizam coeficientes de consumo de materiais e mão-de-obra de origem obscura, que possuem pouco vínculo com a realidade das obras das empresas. Segundo Kenley e Seppänen (2010), a indústria AEC, geralmente, não mede e controla os coeficientes de consumo de produção e, devido a isso, o sistema de custos dificilmente é retroalimento com valores atualizados. Para Stallworthy (1980), a essência de um sistema de gestão de custos na construção civil é assinalar a tendência da evolução do empreendimento e avaliar suas implicações em relação ao prazo e custo final, disponibilizando informações que possibilitam ver, de antemão, a tendência de evolução dos custos de forma a dirigir esforços para as situações que necessitam de maior atenção (OSTRENGA et al., 1992). Koskela (2000) afirma que um sistema de gestão dos custos não pode se limitar apenas aos custos de atividades de transformação, mas, dentro do possível, deve também explicitar os custos de atividades de fluxos de uma obra. Kern (2005) destaca a importância da integração de informações do orçamento com as informações do planejamento da produção e programação de pagamentos. Somente por meio de um controle integrado entre a produção e custos é possível analisar o impacto do prazo de produção (duração da obra) no custo final do empreendimento (KERN; FORMOSO, 2013). Attia e Dernold (1994) afirmam que, quando o tempo e o custo são gerenciados separadamente, o monitoramento de custos não é confiável, sendo que. no caso de ocorrer aumento de custos ou atrasos de prazo, é difícil que 19 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 sua causa seja determinada. Por um lado, Kern e Formoso (2013) salientam que os custos dos empreendimentos podem se apresentar adequados, se comparados aos custos estimados no orçamento inicial, mas o andamento da produção pode não alcançar o prazo planejado, impactando no custo final. Por outro lado, a produção pode estar ocorrendo perfeitamente dentro do prazo estipulado, porém os custos podem estar muito além do previsto no orçamento (KIM; BALLARD, 2001). Segundo Formoso (1986), a distinção entre os custos relativos ao tempo e os custos proporcionais à quantidade podem trazer importantes benefícios à integração entre orçamento e planejamento e controle da produção. Com objetivo de retratar os custos da forma como os mesmos ocorrem, Cabral (1988) destaca a necessidade de decompor os item de custos orçados em atividades, sendo que o critério de decomposição deve seguir uma abordagem operacional, isto é, a sequência e a forma como as equipes de mão de obra dividem suas tarefas na etapa de produção. Nesta linha, o orçamento com visão operacional é caracterizado por retratar com fidelidade o processo de produção do edifício, sendo que principal diferença entre o orçamento convencional e o orçamento operacional é a consideração do fator tempo (CABRAL, 1988). Nesse contexto, com objetivo promover a reutilização dos dados e promover a iteração entre os processos de tempo e de custos (MARTINEZ, 2018), surge a abordagem denominada Location Based Management (LBM). A abordagem LBM é uma ampliação do planejamento e controle da produção baseado em localização, com base na premissa de que os empreendimentos de construção são caracterizados por uma série de locais físicos nos quais trabalho de diferentes tipos e quantidades devem ser concluídos (KENLEY; SEPPANEN, 2010). Assim, a abordagem LBM promove por meio da localização a integração do PCP a processos de tempo, custo e qualidade (KENLEY; SEPPANEN, 2010). O uso do planejamento baseado em localização para o PCP permite visualizar os fluxos de trabalho, simular e discutir diferentes estratégias e alternativas para o sequenciamento das atividades, ao mesmo tempo que traz informações de quando e onde cada atividade vai ser realizada (KEMMER; HEINECK; ALVES, 2008). Além disso, esta abordagem permite a visualização e identificação de conceitos importantes ao PCP, tais como o tamanho do lote de produção, lead time (tempo total de produção de uma tarefa), tempo de ciclo (tempo para completar uma única unidade), ritmo de produção e sincronia (balanceamento das produtividades a fim de ter um fluxo de trabalho estável), simultaneidade (atividades acontecendo ao mesmo tempo em diferentes locais), trabalho em progresso (estoque de produto acabado), sequenciamento das atividades, trajetória das equipes, 20 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM buffers, conflitos espaciais e técnicos, e trabalhos já executados (LUCKO; ALVES; ANGELIM, 2014). Alguns estudos têm sidos realizados no contexto de implementação da abordagem de LBM no PCP e vem apontando benefícios, tais como Seppänen e Kankainen (2004), Kala et al., (2012), Martinez (2013), que aplicaram a abordagem LBM em um contexto real, Olivieri (2016) e De Vargas (2018). Alguns trabalhos buscaram integrar LBM com outros métodos, tais como o sistema Last Planner (LPS)1 e CPM. Segundo Olivieri (2016), enquanto os elementos do LPS dirigem o tratamento da variabilidade e das incertezas, características dos empreendimentos de construção, o LBM tem a principal função de implantação do fluxo ininterrupto e a melhoria dos processos de controle. Olivieri (2016) e De Vargas (2018) nãose aprofundam na análise de custos, mas sugerem que há benefícios na utilização de LBM para alocação e distribuição dos custos planejados, reais e projetados, a fim da obtenção do fluxo financeiro do empreendimento. Segundo Kenley e Seppänen (2010), a abordagem LBM, quando integra os processos de PCP e gestão de custos, permite visualizar projeções de tendências do empreendimento, e avaliar suas implicações em relação ao prazo e ao custo final. Por meio da integração, o LBM tem a capacidade de disponibilizar informações que proporcionam ver, de forma antecipada, problemas relacionados entre a produção e os custos, contribuindo para a tomada de decisão e para avaliações de oportunidades. No entanto, a fragmentação dos setores ainda é um problema comum na indústria da construção (ALASHWAL; FONG, 2015), resultando em um ambiente de comunicação ineficaz. Diante desse cenário, um dos desafios enfrentados pela construção é a obtenção contínua e rápida de dados integrados e confiáveis atualizados, para viabilizar e nortear as decisões (DAVE et al., 2011). Como forma de responder a esses desafios, o BIM tem sido apontado como uma plataforma central no auxílio da sincronização, visualização (DAVE, 2013), integração (FIRAT et al., 2010) e armazenamento (SCHLUETER; THESSELING, 2009) de diferentes tipos de informação. Entre os benefícios do uso de BIM, destacam-se a melhoria da qualidade e do fluxo de informações durante o ciclo de vida de um empreendimento, e o apoio à tomada de decisão pelas equipes envolvidas na concepção, construção e operação do empreendimento (EASTMAN et al., 2011). Para Lee et al., (2002), o uso do BIM facilita as análises em diferentes etapas de um empreendimento, por meio da 1 LPS é um modelo hierarquizado para PCP fortemente baseado em conceitos da filosofia da produção enxuta 21 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 manipulação e avaliação dos impactos de alterações dos parâmetros do projeto, fundamentando a tomada de decisão com novas informações. Em relação à aplicação de BIM na gestão dos custos de produção, chamado de BIM 5D, a literatura traz duas abordagens distintas. A primeira se refere ao uso do BIM 5D na estimativa de custos, com a única função de extrair os quantitativos do modelo 3D (WONG et al., 2011; CHEUNGA et al., 2012; THOMAS, 2012; ZHOU, 2012; OLATUNJI, 2010; FREI et al., 2013). A outra abordagem é mais ampla, e considera a importância da integração dos processos de tempo e custo, defende que um modelo BIM de custos só pode ser construído com base em um modelo BIM que inclua análise de tempo e construtibilidade (STAUB-FRENCH & KHANZODE, 2007; PANUCHEV; SPIRO, 2006; WITICOVSKI, 2011). Por meio do uso do BIM, espera-se que a eficiência e a precisão de orçamentos possam melhorar e, por meio da integração das informações dos modelos tempo e custo, melhorar o planejamento e o controle de custos do empreendimento (MA; LIU, 2014; WITICOVSKI, 2011). 1.3 PROBLEMA DE PESQUISA A integração de sistemas de controle de custos e planejamento tem sido uma questão de grande preocupação para pesquisadores e profissionais da construção (FAN et al., 2015). Vários esforços foram realizados para integrar os processos de tempo e custo (KERN, 2005; MARCHESAN, 2001; KENLEY; SEPPÄNEN, 2005), sendo que, nos últimos anos, o BIM tem sido considerado como meio facilitador para extração e integração de informações (FORGUES et al., 2012; JRADE; LESSARD, 2015; FENATO, 2017; SANTOS, 2018). Diversas pesquisas apontam que a principal forma para a integrar as informações de prazo e custo é por meio da integração das estruturas analíticas de projeto (EAP)2 de orçamento e de planejamento (HENDRICKSON; AU, 1989; KIM, 1989; RASDORF; ABUDAYYEH, 1991; CAR, 1993; ISIDORE; BACK, 2002; JUNG; WOO, 2004). Assim, Fan et al. (2015) propuseram um modelo orientado a objetos que vincula objetos BIM a itens de custo e itens de programação, integrando automaticamente os itens de custo e os itens de programação. Essas pesquisas têm se concentrado na resolução de como estruturar e integrar as informações, por meio do uso de codificações e estruturas analíticas de custo ou explorando o BIM somente como uma tecnologia e desconsideram o uso das informações integradas durante todo o processo de produção. 2 EAP é a de subdivisão das entregas e do trabalho em componentes menores e mais facilmente gerenciáveis. 22 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM Wang et al. (2014) apresentaram um modelo BIM 5D para auxílio no controle de custos e prazo, enquanto Jrade e Lessard (2015) propuseram um sistema integrado de gerenciamento de tempo na qual uma plataforma baseada na análise de valor agregado foi utilizada em um ambiente virtual durante as fases de planejamento e construção de um empreendimento. Santos (2018), por sua vez, elaborou um método que descreve o fluxo de informações para integração dos processos de orçamento, planejamento e acompanhamento da produção com apoio de BIM, envolvendo pessoas e tecnologias. Segundo a referida autora, a implementação do método depende da utilização de uma EAP comum a todos os processos e de um processo cíclico de troca de informações para definição dos pacotes de trabalho. As soluções apresentadas acima propuseram sistemas integrados de informações de custo e tempo com apoio de BIM. Entretanto, os trabalhos são limitados às abordagens tradicionais de planejamento e orçamento, não sendo avaliados também, durante o acompanhamento da produção, o fluxo de trabalho e o impacto do desvio de prazo em termos de desvios custos. Kern (2005) desenvolveu um modelo de planejamento e controle de custos para a fase de construção, considerando as principais características da natureza dos processos e fatores que definem os custos dos empreendimentos. Segundo a referida autora, o orçamento deve ter caráter dinâmico, na medida em que mudanças de projeto ou no processo de produção ou alterações de contratos resultam em novas definições de custos. Portanto, a gestão de custos deve ser integrado ao PCP, a fim de considerar o impacto do fator prazo nos custos. No entanto, Kern (2005) não apresenta formas de avaliar o processo de produção em termos físicos e financeiros durante a construção. Kenley e Seppänen (2005), considerando a abordagem LBM, desenvolveram uma ferramenta para modelar e avaliar em termos de custos, o impacto das interrupções do fluxo de trabalho e do desvio de avanço físico. Para isso, utilizaram o conceito de localização da abordagem LBM associados a técnica de análise de valor agregado (EVM)3 para distribuir e avaliar o custo no tempo. Os custos variáveis em relação ao tempo foram associados a tarefas da produção na etapa de planejamento, e ao longo da construção foram sendo monitorados e projetados em relação ao prazo. Os referidos autores se concentraram na análise dos custos variáveis em relação ao tempo. De Marco et al. (2009) buscaram monitorar os dados de planejamento e custos por meio do acompanhamento da produção à medida que os recursos são processados. A solução encontrada foi 3 EVM é um método de mensuração do desempenho com foco na integração de Cronograma, Escopo e Custo 23 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 dividir o projeto em localizações uniformes e repetitivas para distribuir as informações planejadas de custo e tempo, devendo o monitoramento durante a produção ser realizado por meio da análise de valor agregado (EVM). Na mesma linha, Salmi(2018) elaborou um meio para coleta de dados automática, de diferentes sistemas de informação, para gerar gráficos de análise de valor agregado combinados ao uso da abordagem LBM. O mesmo autor elaborou as curvas planejadas considerando as regras de pagamento dos fornecedores. No entanto, ambas as pesquisas consideraram apenas os custos relacionados a transformação, sem analisar o impacto do prazo nos custos. Além disto, a extração de quantitativos por localização de forma manual foi apontada como um desafio na implementação. Alguns estudos em Portugal foram elaborados considerando o uso da abordagem LBM associado aos modelos BIM (SALGADO, 2016; COELHO, 2016; FERREITA, 2015; BAPTISTA, 2015; JUNIOR, 2016). No entanto, a maioria dos estudos estão concentrados somente na análise dos software, testando a extração de quantitativos por localização, elaboração da linha de balanço4 e na integração entre itens de custos e tarefas e na comparação dos diferentes software disponíveis no mercado. Nesta linha, Firat et al. (2010) exploraram o fluxo de processo de extração de quantitativos por meio de modelos BIM e o planejamento baseado em localização, e verificaram a essência do modelo 3D ser elaborado considerando as diretrizes de modelagem para extração de quantidades. Kala et al. (2010), por sua vez, implementaram modelos 5D combinados com a abordagem de planejamento baseado em localização, na construção de um grande hospital. Para ambos estudos, a combinação do modelo 3D a estimativa de custos, além de fornecer os quantitativos, facilita compreensão e a divisão do modelo conforme as localizações e promove a integração do orçamento e plano de longo prazo, fornecendo um fluxo de caixa mais preciso. No entanto, os referidos estudos ficaram restritos à etapa de planejamento, não abordando o controle de prazo e custos durante a etapa de construção. A literatura aponta que ainda existem diversos desafios ao uso do BIM, relacionados a diretrizes de modelagem, tecnologia e fluxo de trabalho (FORGUES et al., 2012). Segundo Smith (2015), o potencial do uso do BIM na gestão de custos não está sendo alcançado, pois geralmente os modelos e objetos BIM não contém todas as informações necessárias para a estimativa de custos, exigindo o desenvolvimento de diretrizes de modelagem e análise das necessidades dos usuários (VARGAS, 2018). Além disto, para o uso eficaz do BIM na gestão de custos, é necessário definir novos fluxos 4 Linha de balanço é uma técnica de programação visual que permite explicitar o fluxo de trabalho 24 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM de trabalho que permitam remover as barreiras criadas pela fragmentação dos setores da construção e pelo comportamento de entregas de projetos lineares e fragmentadas (FORGUES et al., 2012). Segundo Kala, Seppänen e Stein (2010), embora haja vários estudos de caso sobre o uso de modelos 3D para simulação de custo ou tempo, há poucos estudos sobre o uso integrado de aplicações 5D combinadas ao planejamento e controle baseado em localização. De fato, Vargas (2018) sugere explorar a modelagem 5D combinada ao PCP baseado em localização, considerando as decisões tomadas na produção, de uma forma diferente dos métodos tradicionais que não consideram as atividades de fluxo Portanto, diante das lacunas de pesquisas apresentadas, nota-se a necessidade de desenvolver estudos sobre a integração da gestão dos custos e do planejamento e controle da produção que considerem os aspectos relacionados a produção como um fluxo e a interação entre prazo e custo para uma efetiva gestão da construção e que busquem o apoio de BIM como um facilitador para a extração de informações consistentes e um meio de integração de processos. 1.4 QUESTÕES DE PESQUISA Tendo em vista as deficiências e falhas dos sistemas de gestão de custos tradicionalmente utilizados por empresas construtoras, a questão principal que norteou a realização desta pesquisa consiste em: Como gerenciar os custos da produção de empreendimentos de construção por meio do planejamento e controle baseado em localização e com o apoio de BIM? Como desdobramento da questão principal, foram definidas as seguintes questões secundárias: a) Quais os benefícios e dificuldades de utilizar BIM na integração da gestão de custos com o planejamento e controle baseado em localização? b) Como modelar os custos de produção por meio da integração da gestão de custos ao planejamento e controle da produção baseado em localização? 1.5 OBJETIVOS DA PESQUISA O objetivo geral deste trabalho consiste em propor um modelo para gestão dos custos integrado ao processo de planejamento e controle baseado em localização e com o apoio de BIM. Além do objetivo geral, foram propostos os seguintes objetivos específicos: 25 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 a) Propor uma estrutura de modelagem de custos para permitir um controle mais efetivo das atividades de transformação e fluxo. b) Estabelecer critérios para avaliar e mensurar de forma integrada os desvios de prazo e custo dos empreendimentos. c) Identificar desafios e oportunidades na utilização de BIM para apoiar a integração do processo de PCP e gestão dos custos. 1.6 DELIMITAÇÕES Essa dissertação tem delimitações nos desenvolvimentos dos estudos que devem ser consideradas. a) A pesquisadora desenvolve atividade profissional na empresa, como Gestora de Planejamento e Orçamentos desempenhando um papel ativo nos processos gerenciais da empresa, tendo uma ligação muito acentuada no processo de mudança, o que pode trazer um viés na análise dos resultados. Além disto, em função deste envolvimento, muitas das informações referentes a etapa preparatória da pesquisa não foram coletas de maneira formal. b) A empresa estava implementando seus processos BIM em paralelo aos estudos. A pesquisadora, por compor a equipe profissional da empresa, também era responsável por essa implementação. Os modelos BIM, com exceção do modelo estrutural, foram desenvolvidos na construtora e, em consequência disso, contêm alguns elementos principais para a gestão de custos. c) A empresa construtora é especializada em empreendimentos de habitação para população de baixa renda. Os estudos empíricos foram desenvolvidos em diferentes empreendimentos desta empresa. Assim, não é possível generalizar de forma direta seus resultados para outros tipos de construções e contextos na construção civil. 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO Além do capítulo de introdução, que são descritos contexto e justificativa, problema de pesquisa, questões de pesquisa e os objetivos, este trabalho dispõe de mais 6 capítulos, como descritos abaixo. O segundo, terceiro e quarto capítulos são referentes à revisão bibliográfica. O capítulo 2 aborda conceitos fundamentais da gestão da produção e foca-se principalmente no planejamento e controle da produção baseado em localização. O capítulo 3, a revisão bibliográfica trata da gestão de custos 26 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM da produção, por meio da apresentação de conceitos fundamentais, classificação dos orçamentos e técnicas de controle. No capítulo 4, conceitos sobre a modelagem BIM estão explicitadas, iniciando pelos conceitos gerais, uso do BIM para elaboração de estimativas de custos e apresentando a integração de processos PCP e gestão de custos. O capítulo 5 apresenta o método de pesquisa, com a descrição daestratégia de pesquisa o delineamento, a descrição dos estudos e a definição dos constructos definidos para avaliação do artefato desta pesquisa. No capítulo 6, está apresentado o desenvolvimento da pesquisa, com a descrição detalhada das atividades realizadas durante os estudos, bem como seus resultados e análises. O capítulo 7 apresenta o modelo proposto e a avaliação da solução. Por fim, o capítulo 8 é de conclusão da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros. 27 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO Este capítulo trata de conceitos relacionados à gestão da produção e técnicas de planejamento e controle da produção. O capítulo inicia com a revisão de conceitos fundamentais da construção enxuta, com o foco nos fluxos da produção e conceito de perdas, e segue para assuntos relacionados ao planejamento e controle da produção. Posteriormente, são descritos as diferentes abordagens e técnicas utilizadas para planejar e controlar a produção. 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA O Sistema Toyota de Produção (STP) nasceu da necessidade de reduzir custos (OHNO, 1997). Na visão de Shingo (1989), reduzir custos é principalmente reduzir perdas e a sua eliminação é obtida por meio da racionalização do emprego de todos os recursos de produção (materiais, mão de obra, máquinas e tempo). A redução dos recursos utilizados, que resulta em custos menores, é alcançada por meio da eliminação da parcela de recursos desnecessários (GHINATO, 1996). Isto implica melhorias dos processos de produção, que pode resultar na redução do tempo de execução dos produtos e aumento da sua qualidade (GHINATO, 1996). O conceito tradicional de produção, que tem suas origens no Taylorismo, considera o processo como uma transformação (ou conversão) de recursos (KOSKELA, 1992). Por transformação entende-se o uso de recursos para mudar o estado ou condição de algo para produzir saídas, ou seja, bens ou itens de custos (SLACK et al., 1997). De acordo com esse modelo (Figura 1), o processo de produção pode ser dividido em subprocessos, que são considerados também como atividades de transformação. Este conceito é usado implicitamente em muitas práticas na indústria, tais como orçamento e planejamento (KOSKELA, 1992). Figura 1 - Modelo tradicional de processo Fonte: Koskela (1992) Para Koskela (1992) um processo de produção é um fluxo de materiais ou informações desde a matéria-prima até o produto final (KOSKELA, 2000; SHINGO, 1996), sendo este formado pelas 28 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM atividades de processamento (corresponde à transformação), inspeção, movimento e espera (Figura 2). As atividades de movimentação, espera e inspeção, são denominadas atividades de fluxos (KOSKELA, 1992), estas atividades não agregam valor ao produto do ponto de vista do cliente. Em processos complexos, como é o caso da construção de edificações, a maior parte dos custos é originada das atividades que não agregam valor (BULHÕES, 2009). Figura 2 - Modelo de processo da Lean Construction Fonte: Koskela (1992) Um aspecto importante relacionado ao conceito de processo como fluxo é a introdução do tempo como recurso de entrada a ser consumindo no processo (KOSKELA, 2000).Neste contexto a redução do tempo em todo o processo produtivo passa a ser um importante objetivo. Como consequência, passa a ser importante a redução das atividades que não agregam valor ao produto, também chamadas de perdas (FORMOSO, 2001). No mecanismo da função produção (MFP) a produção é considerada como uma rede de processos e operações (SHINGO, 1989). Os processos, referem-se ao fluxo de produtos de um trabalhador para outro, ou seja, representam os estágios pelos quais a matéria prima se move até se tornar um produto. As operações, por outro lado, são as ações executadas para realizar a transformação da matéria-prima, ou seja, o trabalho realizado pelo trabalhador e pelas máquinas. As operações são meios utilizados para acionar os processos, visando a realização da produção (ISATTO; ZUCHETTI, 2014). Assim, a análise dos processos examina o fluxo de material ou produto, e a análise das operações analisa o trabalho realizado pelo trabalhador e máquinas sobre os produtos (SHINGO, 1996). Como o produto da construção é estacionário, ocorre a movimentação (fluxo) dos recursos pelos locais (SLACK et al., 2006). Tendo como base esses conceitos, Shingo (1996) salienta que para realizar melhorias significativas no processo de produção, os fluxos de processos e operações devem ser analisados separadamente, tentando melhorar em primeiro lugar os processos, e a seguir as operações. O mesmo autor aponta que para isso acontecer devem ser eliminadas as perdas identificadas em cada um deles. 29 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 Relacionado ao conceito de processo (produto) e operação (mão de obra e máquinas), surgem duas formas de caracterizar o fluxo de produção: a) Fluxo contínuo diz respeito ao produto, no qual a produção de uma peça ou lote pequeno de itens é realizada por vez, sendo que o item passa de um processo para o seguinte, sem interrupção (ROTHER; SHOOK, 1999). A ideia é ter sempre uma equipe trabalhando em cada local, não deixando o produto ocioso. b) Fluxo ininterrupto diz respeito as operações, visando que as equipes de trabalho ou recursos, sejam utilizados ininterruptamente, na medida em que se movem continuamente de um local para outro sem precisar esperar por trabalho (HARRIS; IOANNOU, 1998), o objetivo é sempre ter produto (local) disponível, para a equipe não ficar ociosa. O impacto imediato da implementação do fluxo contínuo é a redução do lead time5, ou seja, o intervalo de tempo entre a entrada da matéria-prima até a saída dos produtos acabados (ROTHER; SHOOK, 1999). Liker (2004) apresenta os seguintes benefícios decorrentes da implementação do fluxo contínuo: criação de flexibilidade real, aumento da produtividade, identificação de pontos de ociosidade e sobrecarga de trabalho no sistema, liberação de espaço e redução do custo de estoques. A retirada do estoque de produção é fundamental para que os problemas de produção sejam explicitados e resolvidos (LIKER, 2004; WOMACK; JONES, 1996). Os estoques são materiais existentes ao longo do fluxo entre as etapas de processamento (LIB, 2003) e podem ser classificados como: (a) Matéria prima: itens de uma fábrica que ainda não foram processados; (b) Estoques em processo: itens entre etapas de processamento; (c) Produtos acabados: itens prontos em uma fábrica aguardando expedição (LIB, 2003; SLACK et al., 1997). Para Bulhões (2009) a implementação do fluxo contínuo pode ser vista como um mecanismo indutor de melhoria de todo o sistema de produção. A visão de fluxo adiciona aspectos importantes ao objetivo “o trabalho desnecessário não é realizado” (KOSKELA; HOWELL, 2002). Nesta visão, a premissa básica, é a eliminação de desperdício nos processos, onde as reduções do tempo de produção e da variabilidade são intensificadas (BULHÕES, 2009). Diante desse contexto é possível verificar a relação da definição de perdas na construção civil ao conceito de processo e operação da produção (FORMOSO et al., 2002). 5 Lead time é sinônimo de tempo de ciclo, e pode ser definido como a soma de todos os tempos (transporte, espera, processamento e inspeção) para um produzir um determinado produto, ou para realizar determinada tarefa. 30__________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM 2.2 DESPERDÍCIOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Formoso et al. (2000) definem perdas, de uma forma mais ampla, sendo qualquer espécie de perda de recursos – material, tempo (mão-de-obra e equipamentos) e capital – processados por atividades que geram custo direto ou indireto, mas não adicionam valor para o produto final do ponto de vista do cliente. Para Ulhôa (2012), perda está diretamente ligada ao aumento de custo, de prazo e de impacto negativo ao meio ambiente. Para Koskela, Sacks e Rooke (2012) perda não tem sido um conceito predominante na literatura de gestão de operações e de gestão da construção. Assim, existe a necessidade de uma análise conceitual mais aprofundada sobre as perdas na construção, pois as sete categorias de perdas propostas por Ohno não cobrem todos os problemas existentes na construção. Estudos apontam que as principais causas de perdas na construção estão relacionadas à falha na gestão, principalmente no que se refere ao planejamento e controle da produção (KHANH; KIM, 2014). Perdas como making-do, falta de terminalidade, retrabalho e trabalho em progresso têm sido apresentados como categorias principais de perdas na construção (VILLAMAYOR, 2016). As relações entre making-do, retrabalho, falta de terminalidade e trabalho em progresso geram impactos na construção, tais como redução da produtividade, perda de material, baixa qualidade e redução da segurança (VILLAMAYOR, 2016). 2.2.1 Perdas por Making-do Making-do tem sido definida como uma situação na qual uma tarefa é iniciada mesmo com a falta de um ou mais dos seus recursos ou é continuada quando um desses recursos é cessado (KOSKELA, 2004). De acordo com Pikas, Sacks e Priven (2012), making-do pode ser considerada uma sub otimização do fluxo de produção. Koskela (2004) atribui a causa de making-do à variabilidade do processo de produção na construção. Making-do também tem sido associado ao conceito de improvisação (SOMMER, 2010). Segundo Formoso et al. (2017), a improvisação é utilizada como um mecanismo para concluir as atividades quando nem todos os recursos estão disponíveis, podendo ser considerada uma forma de inovação, embora possa resultar em impactos negativos, tais como redução da segurança, redução da qualidade, redução da produtividade, retrabalho, desmotivação e perda de materiais. Segundo Cunha (2004), pessoas enfrentam situações no trabalho em que é necessário executar atividades com o que há disponível para atingir as metas. De acordo com Sommer (2010), as improvisações surgem como uma maneira de não interromper o fluxo de trabalho, já que o processo de identificação e remoção de restrições foi ineficaz. 31 __________________________________________________________________________________________ Natacha Sauer (sauer.nat@gmail.com). Porto Alegre: UFRGS/EE/PPGCI, 2020 2.2.2 Falta de terminalidade Falta de terminalidade, na construção, correspondem os processos que são deixadas para trás quando uma equipe deixa um local de trabalho, sendo frequentemente caracterizadas como um retrabalho (FIREMAN; FORMOSO; ISATTO, 2013). Segundo Ulhôa (2012), o resultado da falta de terminalidade é a impossibilidade de iniciar a atividade seguinte, devido à necessidade de retorno da equipe para finalizar as pendências. De acordo com o autor citado, o retrabalho e o aumento dos custos e do prazo, também são consequências da falta de terminalidade, além de provocar atraso na conclusão de diversos serviços e atrapalhar a sequência das atividades (ULHÔA, 2012). A causa de falta de terminalidade está relacionada à falta de materiais, inadequação dos materiais entregues, interferência entre duas equipes no mesmo espaço e a falta de mão-de-obra qualificada (EMMIT; PASQUIRE; MERTIA, 2012). Outra causa de falta de terminalidade está relacionada ao comportamento das empresas terceirizadas, que tendem a redirecionar seus esforços para frentes de trabalho com maior quantidade de trabalho disponível, deixando os pequenos detalhes para trás (SACKS; GOLDIN, 2007). 2.2.3 Retrabalho Retrabalho é definido como o esforço desnecessário de refazer um processo ou atividade que foi incorretamente implementada da primeira vez (LOVE, 2002), para atender especificações de projetos e procedimentos (YE et al., 2010), qualidade (BURATI; FARRINGTON; LEDBETTER, 1992) e requisitos (HWANG et al., 2009). De acordo com Ulhôa (2012), retrabalho implica no aumento de passos para concluir a atividade, além de causar impacto negativo na sequência das atividades posteriores. Retrabalho, também tem sido apontado como uma das causas dos desvios de custos e prazos na construção civil (HWANG et al., 2009). Retrabalho é um tipo de perda largamente reconhecida, porém não é claro na literatura se retrabalho é simplesmente uma consequência do desvio de qualidade ou se é também uma consequência de mudanças do cliente ou de tarefas incompletas (VIANA; FORMOSO; KALSAAS, 2012). As causas que geram retrabalho são mudanças do cliente, erros e omissões de projeto, mudanças de projeto, erro ou omissão do fornecedor, mudança de fornecedor, erros e omissões na etapa de execução da construção, mudanças na etapa de construção e erros de transporte (HWANG, 2006). 2.2.4 Trabalho em progresso Trabalho em progresso (WIP – work in progress) é considerado como uma perda associada ao conceito de espera entre processos (BULHÕES, 2009) ou frentes de serviços abertas (SACKS; RADOSAVLJEVIC; BARAK, 2010). Para Sacks e Partouche (2009), o WIP contribui com o aumento das durações das atividades. A redução do trabalho em progresso facilita o controle da 32 __________________________________________________________________________________________ Integração da Gestão de Custos ao Planejamento e Controle da Produção baseado em Localização na Construção com apoio de BIM produção e melhora o uso do espaço físico disponível (ISATTO et al., 2000). As causas do WIP podem estar relacionadas as interferências e mudanças dos clientes (ALVES, 2000), interrupções nos fluxos de trabalho causados pela alta variabilidade nos processos e à falta de sincronização (BULHÕES, 2009). 2.3 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO (PCP) A gestão da produção é a atividade de gerenciar os recursos que são destinados à produção e à entrega de produtos e serviços, e pode trazer diversos benefícios a qualquer organização se bem empregado, como por exemplo, reduzir custos, aumentar a lucratividade, reduzir a necessidade de investimentos e aumentar a inovação (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2007). Segundo Slack, Chambers e Johnston (2007), existem três ações na gestão da produção: (a) Projeto do Sistema de Produção (PSP); (b) Operação do sistema de produção (operação pode ser dividida em planejamento, controle e correções); e (c) melhoria do sistema de produção. Sendo que, o projeto do sistema de produção deve existir antes do ato produtivo, a operação durante, e a melhoria pode ser realizada somente depois do ato produtivo, quando se é capaz de observar como o sistema de produção se comporta de fato (KOSKELA; BALLARD, 2003). Segundo Schramm, Costa e Formoso (2006) o PSP tem como propósito analisar e exprimir em um conjunto de decisões a estratégia de produção pretendida do sistema de produção, formando uma estrutura de referência para gerenciar as diversas atividades (SCHRAMM; COSTA; FORMOSO, 2006). Segundo os mesmos autores, o plano de longo prazo pode ser considerado um dos resultados do PSP. Entre as decisões tomadas se encontram a definição do nível de integração vertical, nível da capacidade produtiva, arranjo físico, fluxos e sincronização de trabalho (SCHRAMM; COSTA; FORMOSO, 2006). Estas decisões são interdependentes, e
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