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1 EsFCEx 1. A Organização do Espaço Brasileiro. ............................................................................... 1 a. A integração brasileira ao processo de internacionalização da economia; o desenvolvimento econômico e social; e os indicadores sociais do Brasil. .............................. 10 b. O processo de industrialização brasileira, os fatores de localização e as suas repercussões: econômicas, ambientais e urbanas. ................................................................ 16 c. A rede de transportes brasileira e sua estrutura e evolução. .......................................... 22 d. A questão urbana brasileira: processos e estruturas. .................................................... 30 e. A agropecuária, a estrutura fundiária e problemas sociais rurais no Brasil, dinâmica das fronteiras agrícolas e sua expansão para o Centro-Oeste e para a Amazônia. ...................... 38 f. A população brasileira: evolução, estrutura e dinâmica. .................................................. 45 g. A distribuição dos efetivos demográficos e os movimentos migratórios internos: reflexos sociais e espaciais. ................................................................................................................ 53 2. A Questão Regional no Brasil a. A regionalização do país: sua justificativa socioeconômica e critérios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); as regiões e as políticas públicas para fins de planejamento. b. As regiões brasileiras: especializações territoriais, produtivas e características sociais e econômicas. .............................................. 59 3. O Espaço Natural Brasileiro: seu aproveitamento econômico e o meio ambiente. a. Geomorfologia do território brasileiro: O território brasileiro e a placa sul-americana; as bases geológicas do Brasil; as feições do relevo; os domínios naturais e as classificações do relevo brasileiro. ................................................................................................................................ 90 b. A questão ambiental no Brasil. ....................................................................................... 98 c. Os recursos minerais ................................................................................................... 117 d. As fontes de energia e os recursos hídricos. ................................................................ 124 e. A biosfera e os climas do Brasil. .................................................................................. 131 Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 2 Olá Concurseiro, tudo bem? Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação. Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou questionamentos sobre o conteúdo da apostila. Todos e-mails que chegam até nós, passam por uma triagem e são direcionados aos tutores da matéria em questão. Para o maior aproveitamento do Sistema de Atendimento ao Concurseiro (SAC) liste os seguintes itens: 01. Apostila (concurso e cargo); 02. Disciplina (matéria); 03. Número da página onde se encontra a dúvida; e 04. Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhar em e-mails separados, pois facilita e agiliza o processo de envio para o tutor responsável, lembrando que teremos até cinco dias úteis para respondê-lo (a). Não esqueça de mandar um feedback e nos contar quando for aprovado! Bons estudos e conte sempre conosco! Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 1 A cartografia da formação territorial brasileira revela, em diferentes períodos, os processos que levaram o Brasil a chegar até a forma territorial e as divisões internas atuais. Desde 1500, o país passou por diversas conformações territoriais, fruto de diferentes organizações políticas e administrativas. Observe o mapa. Brasil: Capitanias Hereditárias (1534-1536) A doação de uma capitania era feita por meio de dois documentos: a Carta de Doação e a Carta Foral. Pela primeira, o donatário recebia a posse da terra, podendo transmiti-la para seus filhos, mas não vendê- la. Recebia também uma sesmaria de dez léguas da costa na extensão de toda a capitania. Devia fundar vilas, construir engenhos, nomear funcionários e aplicar a justiça, podendo até decretar a pena de morte para escravos, índios e homens livres. Adquiria alguns direitos: isenção de taxas, venda de escravos índios e recebimento de parte das rendas devidas à Coroa. A Carta Foral tratava, principalmente, dos tributos a serem pagos pelos colonos. Definia ainda, o que pertencia à Coroa e ao donatário. Se descobertos metais e pedras preciosas, 20% seriam da Coroa e, ao donatário, caberiam 10% dos produtos do solo. A Coroa detinha o monopólio do comércio do pau-brasil e de especiarias. O donatário podia doar sesmarias aos cristãos que pudessem colonizá-las e defendê- las, tornando-se assim colonos. O modelo de colonização adotado por Portugal baseava-se na grande propriedade rural voltada para a exportação. Dois fatores influíram nesta decisão: a existência de abundantes terras férteis no litoral brasileiro e o comércio altamente lucrativo do açúcar na Europa. Num primeiro momento os portugueses lançaram mão do trabalho escravo do índio e, depois, do negro africano. A colonização iniciou-se, então, apoiada no seguinte tripé: a grande propriedade rural, a monocultura de produto agrícola de larga aceitação no mercado europeu e o trabalho escravo. As dificuldades iniciais eram muitas. Bem maiores do que os donatários podiam calcular. Era difícil a adaptação às condições climáticas e a um tipo de vida totalmente diferente do da Europa. Além disso, o alto custo do investimento não trazia retorno imediato. Alguns donatários nem chegaram a tomar posse das terras, deixando-as abandonadas. 1. A Organização do Espaço Brasileiro. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 2 A cartografia da formação territorial do Brasil Com a chegada de Cristóvão Colombo na América, em 1492, o território americano passou a ser cobiçado pelos principais países europeus. Em 1494, após anos de negociação mediada pela Igreja Católica, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas, que repartia as novas terras entre esses dois países. Observe o mapa a seguir. Brasil: o Tratado de Tordesilhas Definiu-se que as terras situadas a leste da linha de Tordesilhas seriam de posse de Portugal e aquelas localizadas a oeste seriam de propriedade espanhola. Contudo, a existência do Tratado não garantiu na prática a posse dos territórios na América. Primeiro porque esses territórios não estavam vazios, ou seja, encontravam-se ocupados por diferentes grupos indígenas. Os portugueses e espanhóis teriam de conquistar suas terras, o que envolveu muitas batalhas. Em segundo lugar, outros Estados (como França, Inglaterra e Holanda) não reconheciam a legitimidade do tratado nem o direito de Portugal e Espanha sobre essas terras e também as disputavam. No caso português, a ocupação de suas terras na América ocorreu de fato a partir de 1530. Até então, Portugal limitou-se a criar postos de comércio no litoral para a comercialização de pau-brasil – as feitorias. Porém, devidoa constantes invasões de piratas e expedições estrangeiras, o rei viu-se obrigado a ocupar o território para garantir o seu domínio. Foi a partir de então que começaram as primeiras expedições de exploração e colonização do litoral brasileiro e de algumas regiões no interior mais próximas. Ao longo do século XVI, a exploração e o povoamento da colônia pouco avançaram em direção ao seu interior. No século XVII, o desenvolvimento da economia açucareira e de algumas atividades voltadas para abastecer o pequeno mercado interno proporcionou a exploração e ocupação de novos territórios – uma vez que era necessário espaço para desenvolvê-las. Observe o mapa a seguir. Brasil: povoamento no século XVI Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 3 A exploração e a ocupação de novas terras na Colônia acompanharam o processo de desenvolvimento da economia local, conforme é possível observar o mapa anterior. É importante ressaltar que o desenvolvimento econômico e as consequentes possibilidades de enriquecimento serviam de estímulo para promover o povoamento da Colônia. É possível notar ainda que, no século XVII, a maior parte de cidades e vilas ainda se concentrava no litoral. Porém, graças às atividades como a pecuária e a procura pelas chamadas drogas do sertão, ervas encontradas na região amazônica, foi possível conhecer e ocupar novos territórios no continente – ultrapassando, inclusive, os limites da Linha de Tordesilhas. Porém, ainda havia uma grande parcela de terras a leste de Tordesilhas que não tinha sido explorada pelos portugueses. Por mais que, segundo o tratado, pertencessem à Portugal, na prática esses territórios ainda eram controlados por indígenas. Portanto, para serem conquistados, eles deveriam ser explorados e ocupados. A exploração desses territórios deu-se a partir do século XVII, por meio das entradas e bandeiras. As entradas eram expedições oficiais de exploração do território da Colônia, financiados pela Coroa Portuguesa. Já as bandeiras, apesar de também possuírem um caráter exploratório, eram expedições particulares, movidas por interesses econômicos e comandadas por homens conhecidos como bandeirantes. As Bandeiras e os Bandeirantes Grande parte das bandeiras originou-se das vilas de São Vicente e São Paulo. Devido às dificuldades econômicas enfrentadas no sul da Colônia, muitos homens viram-se forçados a explorar novos territórios em busca de riquezas minerais (como ouro e prata) e de escravos indígenas para vender. Outra atividade comum era a captura de escravos negros fugitivos. Os comandantes dessas expedições, os bandeirantes, foram responsáveis pela exploração de grande parte do atual território brasileiro. Apesar das contribuições dadas ao processo de expansão do território brasileiro, as ações dos bandeirantes são alvo de controvérsia. Não devemos esquecer que eles foram responsáveis pela escravização e morte de diversos povos indígenas. Observe o mapa a seguir, que mostra as principais bandeiras dos séculos XVII e XVIII. Brasil: principais bandeiras (séculos XVII e XVIII) Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991 Observando o mapa, é possível notar que as bandeiras que partiam de São Paulo tinham como direção o interior da Colônia, ultrapassando os limites do Tratado de Tordesilhas. Essas expedições foram responsáveis pela exploração de áreas e a criação de vilas nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do país – que até então haviam sido nada ou pouco exploradas. É importante ressaltar que, entre 1580 e 1640, Portugal permaneceu sob domínio espanhol, época conhecida como a União Ibérica. Assim, durante todo esse período, o Tratado de Tordesilhas passou a ser invalidado de fato, o que facilitou a exploração e ocupação de territórios além de seus limites por parte dos bandeirantes. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 4 Foi apenas em 1750 que Portugal e Espanha assinaram um tratado que substituía o de Tordesilhas. Ambos os países reconheciam que os limites estabelecidos em Tordesilhas não foram historicamente respeitados. Assim, naquele ano foi assinado o Tratado de Madri, que teve como objetivo regularizar a fronteira entre suas colônias. Segundo os termos do Tratado de Madri, as fronteiras das colônias deveriam ser estabelecidas como base na lógica de Uti Possidetis, expressão em latim que significa que quem ocupa determinado território tem a posse sobre ele. O mapa a seguir mostra como ficou a fronteira brasileira após o Tratado de Madri. O território brasileiro após o Tratado de Madri (1750) Repare como o território brasileiro se expandiu para além dos imites do Tratado de Tordesilhas – aproximando-se, inclusive, de seus limites atuais. Pode-se dizer que a expansão territorial do Brasil ocorreu graças à ação exploratória dos bandeirantes, que foram responsáveis por explorar e povoar essas novas áreas e garantir a posse delas no Tratado de Madri, em 1750. Apesar do novo tratado, ele não significava o fim das questões referentes a territórios e fronteiras na região. Até o fim do período colonial, o Uruguai e parte do Rio Grande do Sul foram disputados entre Brasil e Espanha. A Organização Política e Administrativa do Brasil Em 1621, durante a União Ibérica, o rei Felipe III decretou a separação da Colônia portuguesa em dois estados: Estado do Maranhão, com capital em São Luís, e o Estado do Brasil, com capital no Rio de Janeiro. Cada um desses Estados encontrava-se dividido em várias capitanias, conforme representa o mapa que mostra a divisão das capitanias em 1709. Nesse ano, o Estado do Maranhão era composto pelas capitanias do Grão-Pará e do Maranhão, tendo sua capital transferida para a cidade de Belém. Em 1763, foi a vez de mudar a capital do Estado do Brasil, passando de Salvador para o Rio de Janeiro. Em 1774, a Coroa portuguesa decretou a reunificação da Colônia, que permaneceu assim até a sua independência. Observe e compare os mapas das divisões territoriais do Brasil em 1709 e em 1822, ano da independência do país. Divisão Territorial do Brasil (1709) - São Paulo no seu Máximo A partir de 1709, o Brasil já estava dividido em sete estados. Onde hoje abrange parte da Amazônia, no Norte do país, localizava-se a província do Grão-Pará. Abaixo, na área que pertence atualmente a Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e parte do Paraná, era dominada pelo Estado de São Paulo. O estado do Nordeste era ocupado apenas por Maranhão, Pernambuco e Bahia. Na região Sul, apenas a província de São Pedro. A Sudeste, o Rio de Janeiro. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 5 Divisão territorial do Brasil (1822) Em 1822, ano da independência brasileira, o território brasileiro configurava-se assim: Brasil em 1822 Observe que, em 1822, os limites do território brasileiro assemelhavam-se aos atuais. Nesse caso, deve-se destacar a região da Cisplatina, que na época pertencia ao Brasil. Pouco tempo depois, a Cisplatina tornou-se independente do Brasil e passou a se chamar Uruguai. 1823: Províncias Imperiais No ano de 1823, um ano após a Declaração da Independência, foram acrescentados ainda mais territórios. O Brasil ganhou os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará e Piauí. No Sul, houve o acréscimo do estado de Santa Catarina e da Província da Cisplatina, o atual Uruguai. Divisão territorial do Brasil (1889) Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 6 Na época da independência, a divisão político-administrativa brasileira era baseada em províncias, e não em estados, como hoje em dia. Repare como as diversas províncias existentes em 1822, assim como suas fronteiras, deram origem a muitos estados atuais.Até o fim do Império e a formação da República, em 1889, o território brasileiro sofreu algumas pequenas modificações. Da mesma forma, alguns territórios deixaram de pertencer a algumas províncias e foram incorporados a outras, como mostra o mapa acima. Com a instauração da República, a divisão político-administrativa brasileira, que antes compunha várias províncias, passou a se basear em estados. Dessa forma, o Brasil tornou-se uma República Federativa, composta por diferentes unidades. Desde 1889 foram criados alguns estados novos, bem como uma nova divisão político-administrativa: os territórios federais. Esses territórios integravam diretamente a União, sem pertencer a nenhum estado. Em 1988, os territórios federais existentes foram extintos e suas áreas foram incorporadas a estados vizinhos. As Unidades Federativas do Brasil As unidades federativas são entidades político-administrativas e territoriais vinculadas ao Estado Nacional – no caso brasileiro, à República Federativa. Elas possuem autonomia no que diz respeito à eleição de seus governantes, à criação de determinadas leis e à cobrança de impostos. Atualmente, o Estado brasileiro é composto por 27 unidades federativas: 26 estados e o Distrito Federal, onde se localiza Brasília, a capital do país. O estado é composto por diversos municípios. Todos os estados possuem um governador e uma assembleia legislativa que são responsáveis por gerir e regular as políticas dentro de seu território. O Brasil no Mundo: Localização e Extensão Posição Geográfica e Noções Cartográficas do Brasil Os pontos extremos do Brasil são: setentrional – nascente do Rio Ailã, no Monte Caburaí (em Roraima, fronteira com a Guiana); meridional: Arroio Chuí (no Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai); oriental: Ponta do Seixas (na Paraíba); ocidental: a nascente do Rio Moa, na Serra do Divisor ou Contamana (no Acre, na fronteira com o Peru). O gigantismo do território brasileiro se confirma pelos 15.719 quilômetros de fronteiras que o Brasil possui com quase todos os países da América do Sul (exceto Chile e Equador), bem como pelos 7.367 quilômetros de costa atlântica. Cerca de 90% de seu território se encontra entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, e que o predomínio das terras nas baixas latitudes confere ao Brasil características típicas de um país tropical. A expressiva amplitude longitudinal do Brasil explica a adoção de diferentes fusos horários. A Posição Latitudinal do Brasil e suas Implicações A latitude corresponde ao ângulo formado pela distância de um lado paralelo em relação à Linha do Equador. A variação latitudinal implica mudanças da obliquidade, isto é, da inclinação com a qual os raios solares incidem sobre a superfície terrestre. No território brasileiro, dadas as suas grandes dimensões, essa mudança da inclinação da incidência solar é relativamente perceptível. O extremo sul do Brasil recebe raios oblíquos, que implicam temperaturas médias anuais mais baixas e, consequentemente, climas mais amenos em comparação àqueles dominantes na maior parte do país. Quanto a extensão latitudinal do Brasil e a localização espacial do extremo sul, essa porção do território brasileiro está situada ao sul do Trópico de Capricórnio, o que implica obliquidade maior. Por isso, é dominada pelo clima zonal temperado, cujas temperaturas médias estão entre as mais baixa registradas no país. A Posição Longitudinal do Brasil e suas Implicações A longitude corresponde ao ângulo formado pela distância de um ponto qualquer da superfície terrestre em relação ao meridiano de Greenwich, que, divide a Terra em dois hemisférios: o Ocidental e o Oriental. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 7 A longitude varia de zero a 180 graus a partir do Meridiano de Greenwich, tanto para o leste, como para oeste. O território brasileiro se localiza integralmente no Hemisfério Ocidental. Fronteiras Marítimas do Brasil Nas últimas décadas do século XX, uma nova fronteira chamou a atenção da sociedade e do governo brasileiro: e as águas do Oceano Atlântico que banham nosso território. Isso tem um motivo: a tecnologia desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial criou navios mais rápidos que os anteriores e com maior capacidade de carga, que podem viajar a grandes distâncias, explorando economicamente as águas longe de seus territórios de origem. Gigantescos navios frigoríficos japoneses e europeus, por exemplo, passaram a dispor de recursos que lhes permitem explorar, até a exaustão, os cardumes que se deslocam em alto-mar. Essa acelerada evolução tecnológica trouxe novas perspectivas às nações, que passaram a considerar o mar não só uma via de transportes ou fonte de alimentos, mas um grande gerador de riquezas e matérias-primas. Assim, os mares e oceanos tornaram-se estratégicos, e muitos países passaram a tentar incorporar áreas marítimas aos seus territórios. Depois da Segunda Guerra Mundial, a ONU patrocinou diversas reuniões sobre os limites marinhos. Elas ficaram conhecidas como Conferências das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Nessa época, muitos defendiam que os recursos dos fundos marinhos, situados além das jurisdições nacionais, fossem considerados patrimônio comum da humanidade. Dessa maneira, passou a ser necessário determinar os limites marítimos de cada Estado costeiro. Enquanto ocorriam essas negociações, o Brasil adotou, em 1970, para resguardar os interesses econômicos do país e por razões de segurança nacional, o limite de 200 milhas náuticas (cerca de 370 quilômetros) para exploração das águas territoriais brasileiras. Nessas águas – cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados de superfície aquática – somente navios brasileiros e de empresas estrangeiras com autorização do governo brasileiro poderiam exercer alguma atividade. Navios estrangeiros sem licença pagariam multas e seriam apreendidos. Em 1982, na Jamaica, foi assinada a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Foi nessa convenção que os limites marítimos dos países foram definidos, da seguinte forma: * mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas marítimas (cerca de 22 quilômetros) de largura, medidas a partir do litoral e das ilhas brasileiras. Nesse espaço marítimo, o Estado costeiro tem total controle sobre as águas, o espaço aéreo e o fundo do mar; * zona contígua: delimitada por 12 milhas além do limite do mar territorial. Essa faixa é importante, pois se trata de uma área de segurança, onde os países podem fiscalizar todas as embarcações que nela navegarem; * zona econômica exclusiva: área que se estende até 200 milhas além do mar territorial. Pela convenção da ONU, os Estados costeiros têm o direito de explorar e a obrigação de conservar os recursos (sejam eles minerais ou pesqueiros) que se encontram em toda essa região. Desde o início da década de 1980, o Brasil vem realizando estudos para identificar o potencial de pesca no Oceano Atlântico e zelar pela manutenção dele; * plataforma continental: conforme a convenção de 1982, corresponde ao leito e ao subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial. Os países que tiverem intenção de ampliar sua atuação para além das 200 milhas devem apresentar um relatório para a Convenção da ONU, provando que a plataforma continental se prolonga para além de 200 milhas. Para cumprir essa determinação, o governo brasileiro criou, na década de 1980, o projeto Levantamento da Plataforma Continental (Leplac). Cientistas, militares e técnicos da Petrobras participaram dessa empreitada, e o relatório em 2013 já havia sido praticamente todo aprovado pela comissão da ONU. Assim, o Brasil controlaria a área de 4,5 milhões de quilômetros quadrados no mar, o que praticamente equivale, em extensão territorial, a uma nova Amazônia. Foi por isso que muitos passaram a chamar essa região de Amazônia Azul.Nessa área ocorre quase 80% da exploração petrolífera brasileira. Muitos especialistas afirmam que em um futuro próximo será possível explorar outros minerais que existem no fundo do mar. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 8 Por esse tratado, o Brasil também é responsável, por exemplo, por operações de resgate em uma área muito maior que a Amazônia Azul. Trata-se de uma nova fronteira que ainda precisa ser muito estudada e conhecida. A Divisão Regional do IBGE Os primeiros estudos de divisão regional datam de 1941 e foram realizados sob a coordenação do engenheiro, geógrafo e professor Fábio Macedo Soares Guimarães (1906-1979). Ao avaliar as diversas propostas de divisão regional que já existiam naquela época, esse trabalho visava a elaborar uma única divisão regional do Brasil para a divulgação de dados estatísticos sobre a realidade socioespacial de nosso país. Foi assim que, em 1942, surgiu a primeira divisão regional do IBGE, que levava em conta sobretudo as características naturais. Era constituída por cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste. A região Nordeste foi subdividida em Nordeste Ocidental e Nordeste Oriental. Por sua vez, a região Leste foi subdividida em Leste Setentrional e Leste Meridional. Em 1945, o IBGE divulgou uma nova divisão regional do Brasil, levando em consideração, agora, sub- regiões denominadas zonas fisiográficas, baseadas no quadro físico do território, com vistas ao agrupamento de dados estatísticos municipais, em unidades espaciais de dimensão mais reduzida que as das unidades da federação. Desde então, uma sucessão de divisões regionais foi proposta pelo IBGE. Ressalta-se que, em todas as divisões regionais propostas pelo IBGE, há um aspecto importante em comum: os limites das regiões coincidem com os limites estaduais. Evidentemente, essas divisões regionais não levam em conta as especificidades naturais do nosso país. O norte de Minas Gerais, por exemplo, apesar de abrigar paisagens naturais típicas do Sertão nordestino, integra a região Sudeste. Lista do Estados e Capitais por região Região Norte Acre – Capital: Rio Branco. Amapá – Capital: Macapá. Amazonas – Capital: Manaus. Pará – Capital: Belém. Rondônia – Capital: Porto Velho. Roraima – Capital: Boa Vista. Tocantins – Capital: Palmas. Região Nordeste Alagoas – Capital: Maceió. Bahia – Capital: Salvador. Ceará – Capital: Fortaleza. Maranhão – Capital: São Luís. Paraíba – Capital: João Pessoa. Pernambuco – Capital: Recife. Piauí – Capital: Teresina. Rio Grande do Norte – Capital: Natal. Sergipe – Capital: Aracaju. Região Centro-Oeste Goiás – Capital: Goiânia. Mato Grosso – Capital: Cuiabá. Mato Grosso do Sul – Capital: Campo Grande. Distrito Federal – Capital: Brasília. Região Sudeste Espírito Santo – Capital: Vitória. Minas Gerais – Capital: Belo Horizonte. São Paulo – Capital: São Paulo. Rio de Janeiro – Capital: Rio de Janeiro. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 9 Região Sul Paraná – Capital: Curitiba. Rio Grande do Sul – Capital: Porto Alegre. Santa Catarina – Capital: Florianópolis. Questões 01. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Julgue (C ou E) o próximo item, relativo à formação histórica do território brasileiro. A formação histórica do território brasileiro iniciou-se com a assinatura do Tratado de Madri, que determinou, por meio da criação de uma linha imaginária, o primeiro limite territorial da colônia portuguesa nas Américas. (....) Certo (....) Errado 02. (TJ/SC – Analista Administrativo – TJ/SC) Sobre o território brasileiro, sua localização geográfica e sua organização política-territorial, todas as alternativas estão corretas, EXCETO: (A) O Brasil é uma república federativa formada por 27 unidades sendo, 26 estados e um Distrito Federal. (B) A divisão política do território brasileiro tem mudado no decorrer do tempo, assim até a Constituição de 1988 existia no Brasil a denominação de Território Federal. (C) Os Territórios Federais eram divisões internas do país administradas diretamente pelo governo federal. (D) Na divisão política-administrativa do Brasil, em 1988 é extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, que passa a fazer parte do Estado de Pernambuco. (E) O Brasil ocupa a porção centro-ocidental da América do Sul, portanto, apresenta fronteiras com quase todos os países sul-americanos exceto, o Chile e Equador. 03. (DPE/SP – Oficial de Defensoria Pública – FCC) O Estado Brasileiro organiza-se, política e administrativamente, sob a forma de (A) confederação democrática. (B) república parlamentarista. (C) república federativa. (D) federação parlamentarista. (E) confederação parlamentarista. 04. (IF/PI – Assistente em Administração – FUNRIO) A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende (A) a União e os Estados, somente. (B) a União, os Estados e o Distrito Federal, somente. (C) a União e o Distrito Federal, somente. (D) os Estado, o Distrito Federal e os Municípios, somente. (E) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Gabarito 01. Errado / 02.E / 03.C/ 04.E Comentários 01. Resposta: Errado A colonização foi um dos processos que definiram a formação populacional brasileira. A partir do século XV, os europeus – especialmente os portugueses, seguidos dos espanhóis – iniciaram a expansão marítima que os levou à conquista de terras até então desconhecidas – na África, na Ásia e na América. 02. Resposta: E O Brasil é considerado um país continental, se encaixa entre os cinco maiores países do mundo. Ocupa a porção centro-oriental do continente, fazendo fronteira com quase todos os países sul-americanos (exceção do Chile e do Equador). Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 10 03. Resposta: C A organização do Estado Brasileiro segue a seguinte fórmula: A forma de Estado é a Federação. A forma de governo é a República. O sistema de governo é o Presidencialismo e o Regime de Governo é a Democracia. Portanto, a organização do Estado política e administrativamente é na forma da República Federativa. 04. Resposta: E Artigo 18, CF/88: A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. ECONOMIA BRASILEIRA APÓS A ABERTURA POLÍTICA1 A Abertura Comercial, a Privatização e As Concessões de Serviços Ao longo da década de 1980, a ciranda financeira e as altas taxas de inflação, com a consequente perda do poder de compra dos salários, levaram a um período de estagnação na produção industrial e ao baixo crescimento econômico (o PIB brasileiro cresceu em média 2,7% nos anos 1980). A necessidade de controlar a inflação e ajustar as contas externas levou os governos, tanto o do general João Baptista Figueiredo (1979-1985) quanto o de José Sarney (1985-1989), a se preocupar com ajustes de curto prazo na política econômica. Essa prioridade significou uma década inteira sem planejamento econômico de longo prazo, o que levou a uma queda de 5% na participação da produção industrial no PIB brasileiro. Por causa da alta inflação, os preços eram remarcados diariamente e, por isso, as pessoas geralmente faziam suas comprar assim que recebiam o salário. A política econômica do governo de Sarney desenvolveu um incipiente processo de privatização de empresas estatais (dezessete, ao todo), começando a retirar o Estado do setor produtivo para concentrar sua ação na fiscalização e na regulamentação. No governo seguinte, de Fernando Collor de Mello (1990-1992), o primeiro presidente eleito pela população após o fim da ditadura, foi criado o Plano Collor, que, além do confisco dos depósitos bancários em dinheiro (superioresa 50 mil cruzeiros2), se apoiava em outros três pontos: → Privatização de empresas estatais; → Eliminação dos monopólios do Estado em telecomunicações e petróleo e fim da discriminação ao capital estrangeiro; → Abertura da economia ao ingresso de produtos e serviços importados. Essas medidas tiveram continuidade durante os governos de Itamar Franco (que sucedeu a Fernando Collor) e de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A abertura do mercado brasileiro aos bens de consumo e de capital exerceu grande influência no processo de industrialização do Brasil. A compra no exterior de máquinas e equipamentos industriais de última geração possibilitou modernizar o parque industrial e aumentar a produtividade, mas, por outro lado, acarretou o desemprego estrutural. No setor de bens de consumo, a entrada de produtos importados de países que aplicavam elevados subsídios às exportações e pagavam baixíssimos salários (com destaque para a China, nos setores de calçados, têxteis e de brinquedos) provocou a falência de muitas indústrias nacionais, contribuindo para elevar ainda mais o desemprego. De outro lado, a concorrência com mercadorias importadas fez a qualidade de muitos produtos nacionais melhorar e levou a uma significativa redução dos preços. A abertura econômica propiciou um aumento no número de empresas multinacionais e uma diversificação de marcas, além de uma dispersão espacial das fábricas (por exemplo, até então existiam indústrias automobilísticas apenas em São Paulo e Minas Gerais). A privatização de empresas estatais e a concessão de exploração dos serviços de transporte, energia e telecomunicações a empresas privadas nacionais e estrangeiras apresentaram aspectos positivos e negativos, dependendo da forma como foram realizadas as transferências e dos problemas relacionados à administração e à fiscalização. A maioria das empresas privatizadas, quando eram estatais, dependia 1 NE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018. 2 Cerca de R$ 3.238,79 em valores de abril de 2018, usando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) como indexador. a. A integração brasileira ao processo de internacionalização da economia; o desenvolvimento econômico e social; e os indicadores sociais do Brasil. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 11 de recursos do governo e não pagava diversos tipos de impostos. Ao privatizá-las, os governos federal, estaduais e municipais passavam a arrecadar impostos. Por exemplo, no setor siderúrgico, a única estatal lucrativa era a Usiminas, que, estrategicamente, foi a primeira a ir a leilão, para que os investidores acreditassem na disposição de reforma estrutural do Estado brasileiro. Na indústria automobilística, embora num primeiro momento tenha havido grande redução no número de trabalhadores por unidade fabril, verificou-se significativo aumento no número de instalações industriais, com a entrada de novas fábricas, que até então não produziam no Brasil (Honda, Toyota, Renault, Peugeot, entre outras), e novos investimentos de outras empresas, que já estavam instaladas antes da abertura às importações, como a construção de uma nova fábrica da Ford em Camaçari (BA). Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2017, além dos automóveis de passeio, a indústria automobilística brasileira produziu 728.091 veículos comerciais leves, 28.220 caminhões e 9.102 ônibus, totalizando 766.013 veículos. O aumento no volume de produção indicado na década de 1990 foi acompanhado por uma redução no número de empregos, que se recuperou somente a partir de 2010. Isso se explica pela modernização da linha de produção e pelo fato de as montadoras que se instalaram recentemente já empregarem tecnologia de ponta. A abertura comercial obrigou as indústrias a buscar uma melhor relação qualidade-preço para seus produtos. Entre 2014 e 2016, o país entrou em recessão, com PIB negativo, juros, inflação e taxas de desemprego em alta. Nos setores de transportes e telecomunicações, além de as empresas serem deficitárias, os sistemas estavam sucateados e o Estado tinha baixa capacidade de investimento para recuperá-los. As rodovias estavam malconservadas e uma linha telefônica era considerada um patrimônio pessoal, chegando a custar 5 mil reais (praticamente 5 mil dólares) no mercado paralelo em 1995. Além disso, as tarifas públicas, como energia elétrica, telefonia, pedágios, etc., estavam muito defasadas. Esses valores eram estabelecidos segundo conveniências políticas e manipulados para que não pressionassem as taxas de inflação. Com a privatização e a concessão de exploração dos serviços públicos, esses setores receberam investimentos privados, expandiram-se e passaram a operar em condições melhores que anteriormente, à custa de aumento nas tarifas. O aumento no preço dos pedágios, do pulso telefônico ou da energia elétrica obedece às condições estabelecidas nos contratos de concessão. Para aumentar os preços, as empresas concessionárias devem cumprir metas de investimento, comprovar aumento de custos ou registrar em contrato que o reajuste estará atrelado a algum índice de inflação. Em alguns casos, até o percentual de lucro que as empresas podem obter está estabelecido em contrato. Na década de 1990, os governos eram acusados pelos partidos de oposição de vender o patrimônio do Estado e abandonar a infraestrutura nas mãos da iniciativa privada, com prejuízo para a população. Daquela época até os dias atuais, o Estado continua comandando os setores concedidos e privatizados por meio de agências reguladoras: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), entre outras. O setor de energia elétrica, entretanto, constitui um dos casos de má gestão, tanto por parte do governo quanto das empresas concessionárias. Em 2001, foi imposto um racionamento à população e, em 2009 e 2012, ocorreram colapsos no abastecimento que deixaram grande parte dos países sem energia elétrica por algumas horas (episódios conhecidos como “apagões”). Outro caso são as empresas de telefonia, que apesar de promoverem uma grande expansão no serviço, garantindo acesso quase universalizado à população, não mostraram melhorias técnicas e de atendimento ao consumidor, prestando serviços com qualidade inferior aos prestados por empresas semelhantes nos países desenvolvidos. Não é raro os sistemas dessas empesas entrarem em pane e ocorrer desrespeito às normas legais de atendimento ao cliente. Em razão disso, as regências reguladoras lavram multas, ou até proíbem a expansão do atendimento. Outro fator problemático é que, geralmente, os salários dos trabalhadores não são indexados, ou seja, não acompanham a inflação, fazendo com que os reajustes das tarifas, ano a ano, comprometam cada vez mais os orçamentos familiares. A forte expansão no setor de telefonia, no período de 1997 a 2017, demandou investimentos estimados em mais de 20 bilhões de dólares. Como havia interesse do setor privado em investir e o governo não possuía recursos ou preferia dar outro destino ao dinheiro, optou-se por privatizar o setor para atrair investimentos. Uma das principais críticas ao processo de privatização e concessão refere-se ao destino dado ao dinheiro arrecadado pelo governo nos leilões, direcionado ao pagamento de juros da dívida interna, sem amortização do montante principal, e à desnacionalização provocada por esse processo. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 12 Até 1998 o sistema de telefonia brasileiro era monopólio do Estado; a partir daí, porém, passou a receber investimentos do setor privado o que ampliou bastante a disponibilidadede linhas telefônicas fixas e móveis. As privatizações e a abertura da economia brasileira possibilitaram o ingresso do capital estrangeiro em setores produtivos anteriormente dominados pelo Estado e por empresas de capital privado nacional. Assim, a partir de 1990, foram obtidos superávits à custa de maior desnacionalização da economia. Isso fez a economia brasileira reduzir sua dependência do capital especulativo, o que a tornou mais sólida e mais bem estruturada, mas aumentou a saída de dólares na forma de remessa de lucros e pagamento de royalties às matrizes das empresas que se instalaram no país. Em contrapartida, a acelerada modernização de alguns setores da economia fez aumentar a competitividade da nossa produção agrícola e industrial no mercado internacional, embora o Brasil ainda tenha uma economia muito fechada do ponto de vista comercial quando comparada à de outros países. A partir de 2015, a China tornou-se um grande investidor de infraestrutura e outros setores na economia brasileira. Um exemplo disso é a usina hidrelétrica de Campos Novos no rio Canoas, em Santa Catarina. Essa usina pertence à CPFL, antiga empresa estatal comprada por empresa chinesa. Estrutura e Distribuição da Indústria Brasileira Em 2015, a indústria de transformação era responsável por 10% do PIB brasileiro. Segundo o IBGE (Pesquisa Industrial Anual, de Empresas), as atividades mais importantes nesse ano foram: → 20% na fabricação de produtos alimentícios e bebidas; → 10% de derivados de petróleo e biocombustíveis; → 10% de produtos químicos e farmacêuticos; → 8% na metalurgia e produtos de metal; → 7% em máquinas e equipamentos e materiais elétricos; → 6% na fabricação de veículos automotores; → 2% em informática, eletrônicos e ópticos. Seguindo tendência mundial, o parque industrial se modernizou e ganhou impulso com a instalação de diversos tecnopolos espalhados pelo país. Há parques tecnológicos em todas as regiões, somando 94 (em 2015: 28 em operação, 28 em fase de implantação e 38 em fase de projeto). Os principais estão localizados em: Sudeste: São Paulo, Campinas e São José dos Campos (SP); Santa Rita do Sapucaí e Viçosa (MG) e Rio de Janeiro (RJ); Nordeste: Recife (PE); Fortaleza (CE); Campina Grande (PB) e Aracaju (SE); Sul: Porto Alegre (RS); Florianópolis (SC) e Cascavel (PR); Centro-Oeste: Brasília (DF); Norte: Manaus (AM) e Belém (PA). Alguns aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira se destacam: Grande potencial de expansão do mercado interno, com desconcentração de produção e consumo; Aumento na produtividade; Melhora da qualidade dos produtos. A indústria ainda enfrenta, porém, vários problemas que aumentam os custos e dificultam a maior participação no mercado externo, como: Preço elevado da energia elétrica; Flutuação cambial: quando o dólar está alto em relação ao real, isso favorece as exportações de produtos industrializados, porque os exportadores recebem mais, em reais, por unidade vendida; porém, encarece as importações de máquinas e equipamentos para as indústrias. Quando o dólar está baixo, acontece o contrário: isso encarece as exportações, mas barateia as importações; Problemas de logística, como deficiências e altos preços nos transportes, com predomínio do rodoviário; Baixo investimento público e privado em desenvolvimento tecnológico; Insuficiente qualificação da força de trabalho; Elevada carga tributária (todos os impostos pagos aos governos municipais, estaduais e federal); Barreiras tarifárias e não tarifárias impostas por outros países à importação de produtos brasileiros. Esses problemas explicam, em parte, a redução da participação percentual do setor industrial na composição do PIB a partir da metade da década passada. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 13 Brasil: número de empregos por gênero de indústrias (mercado formal) – 2006/2015 Discriminação 2006 2011 2015 Indústria extrativa mineral 183.188 232.588 228.997 Indústria da construção civil 1.438.713 2.810.712 2.853.635 Indústrias de transformação 6.253.684 7.681.193 8.263.436 Industria (total) 7.875.585 11.161.199 11.346.118 A abertura econômica do país na década de 1990 facilitou a entrada de muitos produtos importados, forçando as empresas nacionais a se modernizar e incorporar novas tecnologias ao processo produtivo para concorrer com as empresas estrangeiras. Apesar da modernização, continua havendo aumento no contingente de trabalhadores na indústria da maior parte dos gêneros. Porém, esse aumento não acompanhou o ritmo de ingresso de mão de obra no mercado de trabalho. A associação entre pesquisa tecnológica e empresas públicas e privadas atrai investimentos produtivos para todos os setores da economia. Desconcentração da Atividade Industrial Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infraestrutura, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando e apresenta maior dispersão espacial dos estabelecimentos industriais em regiões historicamente marginalizadas. A tabela a seguir revela a redução da participação do Sudeste e o aumento das demais regiões no valor da produção industrial. Observe no mapa abaixo a concentração do parque industrial. Brasil: Distribuição Regional do Valor da Transformação Industrial – 1970-2015. Participação (%) Região 1970 1980 2000 2010 2015 Sudeste 80,7 72,6 66,1 61,0 58,0 Sul 12,0 15,8 18,2 18,2 19,8 Nordeste 5,7 8,0 8,9 9,3 10,4 Norte e Centro-Oeste 1,6 3,6 6,8 11,5 11,8 Desde o início do século XX até a década de 1930, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro abrangeu mais da metade do valor da produção industrial brasileira; mas mesmo assim a organização espacial das atividades econômicas era dispersa. As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase totalmente autônoma. As atividades da região Sudeste, onde se desenvolvia o ciclo do café, quase não interferiam nas atividades econômicas que se fortaleciam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou no Sul (carne, indústria têxtil e pequenas agroindústrias de origem familiar) nem sofriam interferência dessas atividades. As indústrias de bens de consumo, a maioria ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam a maior parte da sua produção apenas em escala regional. Somente um pequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição entre as empresas instaladas nas diferentes regiões do país, consideradas até então arquipélagos econômicos regionais. Embora ainda haja grande concentração industrial no Sudeste e no Sul do país, atualmente o parque industrial está se dispersando e já há várias localidades interioranas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste que apresentam mais de cem empresas industriais. A crise do café e o impulso à industrialização, comandado pelo Sudeste, alteraram esse quadro. Os mercados regionais se integraram mais fortemente, comandados pelo centro econômico mais dinâmico do país, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro, interligando os arquipélagos econômicos regionais. A participação de produtos industriais do Sudeste nas demais regiões do país aumentou, o que levou muitas indústrias, principalmente nordestinas, à falência. Além do fator histórico, as atividades industriais tenderam a se concentrar no Sudeste por causa de dois outros motivos: → A complementaridade industrial: as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às automobilísticas; as petroquímicas, próximo às refinarias; etc.; Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 14 → A concentração de investimentos públicos no setor de infraestrutura industrial: o governo gasta menos concentrando investimentos em determinada região, em vez de distribuí-los pelo território nacional, sobretudo no início do processo de industrialização, quando os recursos eram mais escassos. A primeira grande açãogovernamental para dispersar o parque industrial aconteceu em 1968, com a criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e do polo industrial naquela cidade, o que promoveu grande crescimento econômico. Em seguida, estabeleceram-se os Planos Nacionais de Desenvolvimento dos governos Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1979), e começaram a ser inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste. Quando o governo passou a atender ao menos parte das necessidades de infraestrutura das regiões historicamente marginalizadas, começou a haver um processo de dispersão do parque industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas regional. Não só as indústrias se deslocaram, como também a mão de obra. Os donos das indústrias passaram a buscar mão de obra mais barata e lugares onde os sindicatos não eram tão atuantes. Seguindo uma tendência já verificada em países desenvolvidos e mesmo no estado de São Paulo, o mais equipado do país quanto à infraestrutura, tem ocorrido um processo de deslocamento das indústrias em direção às cidades médias em todas as regiões do país, como as que receberam a instalação dos parques tecnológicos. O desenvolvimento da informática e a modernização da infraestrutura de produção de energia, transporte e telecomunicação criaram condições de especialização produtiva por intermédio da integração regional. Nas regiões, buscam-se, atualmente, a especialização em poucos setores da atividade econômica e a aquisição, em outros mercados (do Brasil ou do exterior), dos bens de consumo que atendam ao cotidiano da população. Estrutura e Distribuição Espacial do Comércio e dos Serviços Desde o final do século XIX, as atividades terciárias (comércio e serviços) concentram a maior participação no PIB e no número de empregos no país, porque é nelas que circulam todos os bens produzidos nas atividades primárias e secundárias e são prestados os diversos tipos de serviços a pessoas e empresas de todos os setores. As empresas que exercem as atividades de comércio e serviços possuem grande diversidade e complexidade em termos de tamanho, qualidade, produtividade, número de empregados, faturamento, etc. No Brasil, segundo o Atlas Nacional de Comércio e Serviços (IBGE, 2013), em 2011, 99% das empresas que exerciam atividades terciárias eram micro oi pequenas, envolvendo ramos de atividade que atuam em pequena escala, como salões de beleza, oficinas de costura, pequeno comércio, manutenção de equipamentos domésticos, entre outros. No total, as micro e pequenas empresas ocuparam, naquele ano, 51,6% da mão de obra do setor, o que significa dizer que 1% das empresas que exerciam atividades terciárias era de médio e grande portes e ocupava 48,4% da mão de obra. Na maioria das empresas que exercem atividades terciárias, como alguns comércios e prestação de serviços, vigora o uso intensivo de mão de obra familiar e contratada em atividades nas quais há dificuldade de substituição de pessoas por “máquinas”. Alguns setores de comércio e serviços podem ser automatizados, substituindo trabalhadores por computadores, câmeras de monitoramento, etc., o que reduz a quantidade de empregos. Isso já acontece, há algum tempo, por exemplo, em bancos e empresas de segurança, entre outros. Observe a tabela abaixo e perceba que, em 2015, 84,3% das empresas brasileiras atuavam em comércio ou serviços, empregando 70,6% do pessoal ocupado no Brasil. Brasil: empresas e pessoal ocupado por setor em 2015 Setores Empresas (em%) Pessoal ocupado (em%) Comércio 44,0 29,3 Serviços 40,3 41,3 Construção Civil 5,4 7,1 Indústria 9,5 21,1 Demais 0,8 1,2 Total 100,0 100,0 A distribuição espacial das atividades terciárias segue o padrão da distribuição da população pelo território, com concentração espacial no Centro-Sul do país e nas regiões de economia mais dinâmica. Segundo o Atlas Nacional de Comércio e Serviços, em 2011, as regiões Sudeste e Sul concentravam: Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 15 81,1% da receita bruta de prestação de serviços; 81,3% do valor dos salários, retiradas e outras remunerações; 60,3% do pessoal ocupado. Ainda segundo esse documento, a receita bruta do comércio brasileiro se concentrava no comércio por atacado nas regiões Norte (47,7%), Sudeste (44,4%) e Centro-Oeste (42,6%). Já o comércio varejista obteve maior representação na Região Nordeste (48,2%). Na Região Sul, o comércio por atacado (42,8%) e o varejista (42,7%) obtiveram percentuais praticamente equivalentes. No entanto, naquele ano, o comércio varejista foi responsável pelo maior número de pessoas ocupadas em todo o Brasil. O rendimento médio do trabalho também apresentava diferença em sua distribuição espacial. A região Sudeste apresentava a maior média, com 2 salários mínimos, acima da média brasileira, que foi de 1,8, enquanto as regiões Nordeste e Centro-Oeste ficaram abaixo (1,4 e 1,7, respectivamente). É interessante destacar que algumas empresas de prestação de serviços que não demandam presença física próxima ao cliente, como telecomunicação e tele atendimento, embora apresentem pequena participação percentual no conjunto total das atividades terciárias, estão se instalando em municípios de regiões distantes das quais se originaram. O comércio atacadista de alimentos está concentrado espacialmente nos médios e grandes centros urbanos e abastece tanto a população em geral como os varejistas espalhados por diversos bairros e outros municípios, onde só há comércio de pequeno e médio portes. Questões 01. (GasBrasiliano – Economista Júnior – IESES/2017) A abertura da economia brasileira à concorrência internacional nos anos 90 resultou em vários aspectos, EXCETO: (A) Redução de tarifas de importação. (B) Introdução de inovações tecnológicas na economia nacional. (C) Redução da produtividade da economia nacional. (D) Aumento da competitividade na economia nacional. 02. (IBGE – Tecnologista – FGV) O gráfico 1 apresenta a dispersão geográfica das multinacionais brasileiras no mundo. O gráfico 2 apresenta a década da primeira internacionalização das empresas brasileiras. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 16 Entre os fatores que explicam a dinâmica de internacionalização das empresas brasileiras nas últimas décadas, está: (A) a abertura econômica para as empresas brasileiras atuarem no mercado regional sul-americano na década de 1970; (B) a assinatura de tratados de livre comércio do Mercosul com outros blocos econômicos, como o NAFTA e a União Europeia; (C) as políticas protecionistas, que restringem a entrada de produtos estrangeiros, mas incentivam a internacionalização das empresas nacionais; (D) a criação de linhas de crédito voltadas especificamente para a internacionalização produtiva de empresas brasileiras desde a década de 1980; (E) a abertura da economia brasileira, a partir da década de 1990, criou condições para a internacionalização das empresas brasileiras. Gabarito 01.C / 02.E Comentários 01. Resposta: C Alguns aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira se destacam: Grande potencial de expansão do mercado interno, com desconcentração de produção e consumo; Aumento na produtividade; Melhora da qualidade dos produtos. 02. Resposta: E A abertura econômica do país na década de 1990 facilitou a entrada de muitos produtos importados, forçando as empresas nacionais a se modernizar e incorporar novas tecnologias ao processo produtivo para concorrer com as empresas estrangeiras. A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA3 No início do século XX era necessária uma grande quantidade de trabalhadores nas linhas de produção e as indústrias impulsionaram grandes transformações no espaço geográfico. Como por exemplo, o aumento dos fluxos migratórios, de produtos e de serviços, a construção de moradias,o surgimento de novos bairros, o investimento em transportes coletivos, etc. Para entendermos o atual estágio de desenvolvimento econômico brasileiro, é necessário conhecer o contexto histórico do processo de industrialização e de desenvolvimento das atividades terciárias no país. Desde o período colonial, o desenvolvimento econômico brasileiro, e consequentemente a industrialização, foram comandados por grupos e setores que pressionaram os governos a atender a seus interesses políticos e econômicos. Assim, só é possível entender as etapas da industrialização brasileira se for analisada a conjuntura econômica (brasileira e mundial) e política de cada momento histórico. Como exemplo, podemos citar os investimentos em infraestrutura de energia, transportes e comunicações, que impulsionaram diversos setores da economia. Entretanto, a construção de grandes usinas hidrelétricas sempre envolve questões socioambientais, como inundações de pequeno ou grande porte e deslocamento de povos indígenas e de moradores locais. 3 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018. b. O processo de industrialização brasileira, os fatores de localização e as suas repercussões: econômicas, ambientais e urbanas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 17 Origens da Industrialização A industrialização brasileira teve início, embora de forma incipiente, na segunda metade do século XIX, período em que se destacaram importantes empreendedores, como o barão de Mauá, no eixo São Paulo- Rio de Janeiro, e Delmiro Gouveia, em Pernambuco. Foi principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que o país passou por um significativo desenvolvimento industrial e maior diversificação do parque fabril, pois, em virtude do conflito na Europa, houve redução da entrada de mercadorias estrangeiras no Brasil. Observe a tabela abaixo. Brasil: estabelecimentos industriais existentes em 1920, de acordo com a data de fundação das empresas Data de fundação Número de estabelecimentos Valor da produção (%) Até 1884 388 8,7 1885-1889 248 8,3 1890-1894 452 9,3 1895-1899 472 4,7 1900-1904 1080 7,5 1905-1909 1358 12,3 1910-1914 3135 21,3 1915-1919 5936 26,3 Data desconhecida* 267 1,6 *Corresponde a estabelecimentos industriais existentes em 1920 cuja data de fundação era desconhecida ou não informada. Em 1919, período posterior à Primeira Guerra Mundial, as fábricas brasileiras eram responsáveis por 70% da população industrial nacional e produziam tecidos, roupas, alimentos e bebidas (indústrias de bens de consumo não duráveis, com predomínio de investimentos de capital privado nacional). No início da Segunda Guerra Mundial (1939), essa porcentagem caiu para 58%, porque houve ingresso de empresas estrangeiras em setores como aço, máquinas e material elétrico. Apesar da importância dos setores industrial e agrícola na economia brasileira, as atividades terciárias (como o comércio e os serviços) apresentavam índices de crescimento econômico superiores. Isso porque é no comércio e nos serviços que circula toda a produção agrária e industrial. A agricultura cafeeira, principal atividade econômica nacional até então, exigia a construção de uma eficiente rede de transportes. Assim, as ferrovias foram se desenvolvendo no país para escoar a produção do interior para os portos. Também se estabeleceram s]um sistema bancário integrado à economia mundial e um comércio para atender às crescentes necessidades nas cidades. Nessa época, as indústrias utilizavam muitos trabalhadores nas linhas de produção e impulsionaram importantes transformações, como o desenvolvimento de transportes coletivos. Embora tenha passado por importantes períodos de crescimento, como o da Primeira Guerra, a industrialização brasileira sofreu seu maior impulso apenas a partir de 1929, com a crise econômica mundial decorrente da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Na região Sudeste do Brasil, principalmente, essa crise se refletiu na redução do volume de exportações de café e na perda da importância dessa atividade no cenário econômico, contribuindo para a diversificação da produção agrícola brasileira. Outro acontecimento que contribuiu para o desenvolvimento industrial brasileiro foi a Revolução de 1930, que tirou a oligarquia4 agroexportadora paulista do poder e criou novas possibilidades político- administrativas em favor da industrialização, ema vez que o grupo que tomou o poder com Getúlio Vargas era nacionalista e favorável a tornar o Brasil um país industrial. Apesar disso, a agricultura continuou responsável pela maior parte das exportações brasileiras até a década de 1970. A partir da crise de 1929, as atividades industriais passaram a apresentar índices de crescimento superiores aos das atividades agrícolas. O colapso econômico mundial diminuiu a entrada de mercadorias estrangeiras que poderiam competir com as nacionais incentivando o desenvolvimento industrial nacional. É importante destacar que o cultivo do café permitiu o acúmulo de capitais que serviram para dinamizar e impulsionar a atividade industrial. Os barões do café, que residiam nos centros urbanos, sobretudo na cidade de São Paulo, aplicavam enorme quantidade de capital no sistema financeiro, para cuidar da comercialização da produção nos bancos e investir na Bolsa de Valores. Parte desse capital aplicado ficou disponível para montar indústrias e investir em infraestrutura. Todas as ferrovias, construídas, com a finalidade principal de escoar a produção cafeeira para o porto de Santos, interligavam-se na capital 4 Oligarquia é um regime político sob o controle de um pequeno grupo de pessoas pertencentes a um partido, classe ou família. O poder é exercido somente por pessoas desse pequeno grupo. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 18 paulista e constituíam um eficiente sistema de transporte. Havia também grande disponibilidade de mão de obra imigrante que foi liberada dos cafezais pela crise ou que já residia nas cidades, além de significativa produção de energia elétrica. A associação desses fatores favoreceu o processo de industrialização, que passou a crescer notadamente na cidade de São Paulo, onde havia maior disponibilidade de capitais, trabalhadores qualificados e uma infraestrutura básica, mas também em algumas regiões dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Na instalação de novas indústrias predominava, com raras exceções, o capital de origem nacional, acumulado em atividades agroexportadoras. A política industrial comandada pelo governo federal era a de substituir as importações, visando à obtenção de um superávit cada vez maior na balança comercial e no balanço de pagamentos, para permitir um aumento nos investimentos nos setores de energia e transportes. O Governo Vargas e a Política de “Substituição de Importações” Getúlio Vargas governou o país pela primeira vez de 1930 a 1945. Tomou posse com a Revolução de 1930, caracterizada pelo aspecto modernizador. Até então, o mundo capitalista acreditava no liberalismo econômico, ou seja, que as forças do mercado deveriam agir livremente para promover maior desenvolvimento e crescimento econômico. Com a crise, iniciou-se um período em que o Estado passou a intervir diretamente na economia para evitar novos sobressaltos do mercado. De 1930 a 1956, a industrialização no país caracterizou-se por uma estratégia governamental de criação de indústrias estatais nos setores de bens intermediários e de infraestrutura de transportes e energia. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi uma das importantes indústrias que se destacaram no período, na extração de minerais. Outras de grande destaque foram a Petrobras, para extração de petróleo e petroquímica; a Companhia Siderúrgica Nacional(CSN); a Fábrica Nacional de Motores (FNM), que, além de caminhões e automóveis, fabricava máquinas e motores; e também a Companha Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), para produção de energia hidrelétrica. Foi necessário um investimento inicial muito elevado para o desenvolvimento desses setores industriais e para a infraestrutura estratégica. Entretanto, por dar retorno a logo prazo, esse investimento não interessava ao capital privado, seja nacional, seja estrangeiro. Por isso, o próprio governo o assumiu. A ação do Estado foi decisiva para impulsionar e diversificar os investimentos no parque industrial do país, combatendo os principais obstáculos ao crescimento econômico e fornecendo, a preços mais baixos, os bens intermediários e os serviços de que os industriais privados necessitavam. Era uma política de caráter nacionalista. Embora a expressão substituição de importações possa ser utilizada desde que a primeira fábrica foi instalada no país, foi o governo de Getúlio Vargas que iniciou a adoção de medidas cambiais e fiscais que caracterizaram uma política industrial voltada à produção interna de mercadorias. As duas principais medidas adotadas foram a desvalorização da moeda nacional (réis até 1942 e, em seguida, cruzeiro) em relação ao dólar, o que tornava o produto importado mais caro (desestimulando as importações), e a introdução de leis e tributos que restringiam, e às vezes proibiam, a importação de bens de consumo e de produção que pudessem ser fabricados internamente. Em 1934, Getúlio Vargas promulgou uma nova Constituição, que incluiu a regulamentação das relações de trabalho, como a criação do salário mínimo, as férias anuais e o descanso semanal remunerado, o que garantiu o apoio da classe trabalhadora. Com base no apoio popular, Vargas aprovou uma nova Constituição em 1937, que o manteve no poder como ditador até ser deposto, ao fim da Segunda Guerra, em 1945, período que ficou conhecido como Estado Novo. A intervenção do Estado possibilitou um forte crescimento da produção industrial, com exceção do período da Segunda Guerra. Durante os seis anos desse conflito, em razão da carência de indústrias de base e das dificuldades de importação, o crescimento industrial brasileiro foi de 5,4%, uma média inferior a 1% ao ano. Veja a tabela abaixo. Brasil: taxas de crescimento da produção industrial (em %) – 1939/1945 Metalúrgicas 9,1 Material de transporte -11,0 Óleos vegetais 6,7 Têxteis 6,2 Calçados 7,8 Bebida e fumo 7,6 Total 5,4 Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 19 Observe que houve um significativo crescimento na produção interna em diversos setores que sofreram restrições durante a guerra, mas o setor de transportes, cuja expansão não poderia ocorrer sem a importação de veículos, máquinas e equipamentos, sofreu forte redução. Política Econômica e Industrialização Brasileira do Pós-Guerra à Ditadura Militar O final da Segunda Guerra levou muitos países ao enfrentamento dos problemas que aconteceram durante os anos do conflito e que prejudicaram o desenvolvimento de muitas atividades econômicas. No caso brasileiro, entre o final da Segunda Guerra e o início da ditadura militar (1946-1964), houve alternância de diretrizes na política econômica e de estratégias de desenvolvimento ao longo dos governos que se sucederam nesse período: Dutra, retorno de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Políticas Econômicas O Governo Dutra (1946-1951) O general Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em 1946 e instituiu o Plano Salte, destinando investimentos ao setores de saúde, alimentação, transportes, energia e educação. No decorrer do governo Dutra, as reservas de capital acumuladas durante a Segunda Guerra foram utilizadas com: a) importação de máquinas e equipamentos para as indústrias têxteis e mecânicas; b) reequipamento do sistema de transportes; c) incremento da extração de minerais metálicos, não metálicos e energéticos. Houve também abertura à importação de bens de consumo, o que contrariava os interesses da indústria nacional. Os empresários nacionais defendiam a reserva de mercado. O Retorno de Getúlio e da Política Nacionalista (1951-1954) Em 1951, Getúlio Vargas retornou à presidência eleito pelo povo e retomou seu projeto nacionalista: a) investiu em setores que impulsionaram o crescimento econômico, como sistemas de transportes, comunicações, produção de energia elétrica e petróleo, e restringiu a importação de bens de consumo; b) dedicou-se à criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES (1952) e da Petrobras (1953). O projeto nacionalista de Getúlio acabou sendo derrotado pelos liberais, que argumentavam que: a) com a economia fechada ao capital estrangeiro, a modernização e a expansão do parque industrial nacional tornavam-se dependentes do resultado da exportação de produtos primários; b) qualquer crise ou queda de preço desses produtos, particularmente do café, resultava em crise na modernização e na expansão do parque industrial. Em 1954, em meio à séria crise política, Vargas suicidou-se. Café Filho, seu vice-presidente, assumiu o poder, permanecendo até 1956. Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas (1956-1961) Durante o governo de JK foi implantado o Plano de Metas, com as seguintes estratégias: a) investir em agricultura, saúde, educação, energia, transportes, mineração e construção civil para atrair investimentos estrangeiros; b) fazer o país crescer “50 anos em 5”; c) transferir a capital federal do Rio de Janeiro (litoral) para Brasília (centro do país), buscando promover a ocupação do interior do território; d) direcionar 73% dos investimentos aos setores de energia e transportes; e) facilitar o ingresso de capital estrangeiro, principalmente nos setores automobilístico, químico- farmacêutico e de eletrodomésticos. O parque industrial brasileiro passou a contar com significativa produção de bens de consumo duráveis, o que deu continuidade à política de substituição de importações. Ao longo do governo JK consolidou-se o tripé da produção industrial nacional, formado pelas indústrias: a) de bens de consumo não duráveis, com amplo predomínio do capital privado nacional; b) de bens intermediários e bens de capital, que contaram com investimento estatal nos governos de Getúlio Vargas; c) de bens de consumo duráveis, com forte participação de capital estrangeiro. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 20 Com a concentração do parque industrial no Sudeste, as migrações internas intensificaram-se e os maiores centros urbanos registram crescimento desordenado. O crescimento econômico acelerado e o aumento da dívida externa provocaram o aumento da inflação. A partir de 1959 foram criados diversos órgãos de planejamento com a estratégia de descentralizar investimentos produtivos por todas as regiões do país. O Governo João Goulart e a Tentativa de Reformas (1961-1964) João Goulart, conhecido como Jango, então vice-presidente, assumiu a Presidência do Brasil após a renúncia do presidente Jânio Quadros, empossado poucos meses antes. A renúncia de Jânio agravou os problemas econômicos herdados do governo JK, como a elevada dívida externa e a inflação. A posse de Jango, em 7 de setembro de 1961, ocorreu após a instauração do parlamentarismo, que reduziu os poderes do chefe do Executivo (presidente). Durante o período parlamentarista do governo João Goulart (até início de 1963), a inflação e o desemprego aumentaram, e as taxas de crescimento reduziram-se. Em 6 de janeiro de 1963 houve o retorno ao presidencialismo e foram encaminhadas as reformas de base, com as seguintes diretrizes: a) reforma dos sistemas tributário, bancário eleitoral; b) regulamentação dos investimentos estrangeiros e da remessa de lucros ao exterior; c) reforma agrária;d) maiores investimentos em educação e saúde. Tal política foi tachada de comunista pelos setores mais conservadores da sociedade civil e militar, criando as condições para o golpe de 31 de março de 1964. O Período Militar Em 1º de abril de 1964, após um golpe de Estado que tirou João Goulart do poder, teve início no país o regime militar, com uma estrutura de governo ditatorial. O Brasil apresentava o 43º PIB do mundo capitalista e uma dívida externa de 3,7 bilhões de dólares. Em 1985, ao término do regime, o Brasil apresentava o 9º PIB do mundo capitalista e sua dívida externa era de aproximadamente 95 bilhões de dólares, ou seja, o país cresceu muito, mas à custa de um pesado endividamento. O parque industrial se desenvolveu de uma forma bastante significativa, e a infraestrutura nos setores de energia, transportes e telecomunicações se modernizou. No entanto, embora os indicadores econômicos tenham evoluído positivamente, a desigualdade social aprofundou-se muito nesse período, concentrando a renda nos estratos mais ricos da sociedade. Segundo o IBGE e o Banco Mundial, em 1960 os 20% mais ricos da sociedade brasileira dispunham de 54% da renda nacional; em 1970 passaram a contar com 62% e em 1989, com 67,5%. Entre 1968 e 1973, período conhecido como “milagre econômico”, a economia brasileira desenvolveu- se em ritmo acelerado. Houve um crescimento acelerado anual do PIB brasileiro entre 1967 e 1975. Esse ritmo de crescimento foi sustentado por investimentos governamentais em infraestrutura, como energia, transporte e telecomunicações. No entanto, várias obras tinham necessidade, rentabilidade ou eficiência questionáveis, como as rodovias Transamazônica e Perimetral Norte e o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha. Além disso, muitos investimentos foram feitos graças à captação de recursos no exterior, com taxa de juros flutuantes, o que levou a dívida externa. Quanto à construção da rodovia Transamazônica, a mesma foi construída numa época em que não existia preocupação com a sustentabilidade ambiental e sem planejamento eficiente para a promoção do crescimento econômico com justiça social, um dos eixos do desenvolvimento sustentável. O capital estrangeiro entrou em setores como o de telecomunicações, a extração de minerais metálicos (projetos Carajás, Trombetas e Jari), a expansão das áreas agrícolas (monoculturas de exportação), as indústrias química e farmacêutica e a fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados pelas indústrias de bens de consumo. Como o aumento dos preços dos produtos (inflação) não era integralmente repassado aos salários, a taxa de lucro dos empresários foi ampliada com a diminuição do poder aquisitivo dos trabalhadores. Aumentava-se, assim, a taxa de reinvestimento dos lucros em setores que gerariam empregos, principalmente para os trabalhadores qualificados, mas as pessoas pobres eram excluídas, o que deu continuidade ao processo histórico de concentração da renda nacional. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 21 Nesse contexto, pessoas de classe média com qualificação profissional viram seu poder de compra ampliado, quer pela elevação dos salários em cargos que exigiam formação técnica e superior, quer pela ampliação do sistema de crédito bancário, permitindo maior financiamento de consumo. Enquanto isso, trabalhadores sem qualificação tiveram seu poder de compra diminuído e ainda foram prejudicados com a degradação dos serviços públicos, sobretudo os de educação e saúde. No final da década de 1970, os Estados Unidos promoveram a elevação das taxas de juros no mercado internacional, reduzindo os investimentos destinados aos países em desenvolvimento. Além de sofrer essa redução, a economia brasileira teve de arcar com o pagamento crescente dos juros da dívida externa. Diante dessa nova realidade, a saída encontrada pelo governo para honrar os compromissos da dívida pode ser sintetizada na frase: “Exportar é o que importa”. Porém, em um país em desenvolvimento como o Brasil, que quase não investia em tecnologia, era muito difícil tornar seus produtos internacionalmente competitivos. A frase do então ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, em resposta à inquietação dos trabalhadores ao ver seus salários arrochados, ficou famosa: “É necessário fazer o bolo crescer para depois reparti-lo”. O bolo (a economia) cresceu, o Brasil chegou a ser a 9ª maior economia do mundo capitalista no início da década de 1980. No entanto, a renda permaneceu muito concentrada. Segundo o Censo Demográfico de 1980, naquele ano 33,3% da população recebia até 1 salário mínimo e detinha 7,1% da renda nacional, enquanto 1,7% ganhava mais de 10 salários mínimos e detinha 34,3% da renda. As soluções encontradas, apesar de favorecerem a venda de produtos no mercado externo, foram desastrosas para o mercado interno: → Redução do poder de compra dos assalariados, conhecida como “arrocho salarial”, para combater o aumento dos preços; → Subsídios fiscais para exportação (cobrava-se menos imposto por um produto exportado do que por um similar vendido no mercado interno); → Negligência com o ambiente, levando a diversas agressões ao meio natural; → Desvalorização cambial, ou seja, a valorização do dólar em relação ao cruzeiro (moeda da época) facilitava as exportações e dificultava as importações. Assim se explica o aparente paradoxo: a economia cresce, mas o povo empobrece. Na busca de um maior superávit na balança comercial, o governo aumentou os impostos de importação não apenas para bens de consumo, como também para os bens de capital e intermediários. A consequência dessa medida foi a redução da competitividade do parque industrial brasileiro diante do exterior ao longo dos anos 1980. Os industriais não tinham como importar novas máquinas, pois eram caras, o que afetou a produtividade e a qualidade dos produtos. Com isso, as indústrias, com raras exceções, foram perdendo competitividade no mercado internacional e as mercadorias comercializadas internamente tornaram-se caras e tecnologicamente defasadas em relação às estrangeiras. Os efeitos negativos dessa política se agravaram com a crise mundial, iniciada em 1979. As taxas de juros da dívida externa atingiram, em 1982, o recorde histórico de14% ao ano. Durante toda a década de 1980 e início da de 1990, a economia brasileira passou por um período em que se alternavam anos de recessão e outros de baixo crescimento, conhecido como ciranda financeira, na qual o governo imitia títulos públicos para captar o dinheiro depositado pela população nos bancos. Como as taxas de juros oferecidas internamente eram muito altas, muitos empresários deixavam de investir no setor produtivo, o que geraria empregos e estimularia a economia aumentado o PIB, para investir no mercado financeiro. Na época, essa “ciranda” criava a necessidade de emissão de moeda em excesso, o que levou os índices de inflação. O período dos governos militares no Brasil caracterizou-se pela apropriação do poder público por agentes que desviaram os interesses do Estado para as necessidades empresariais. As carências da população ficaram em segundo plano; as prioridades foram o crescimento do PIB e do superávit da balança comercial. O objetivo de qualquer governo é aumentar a produção econômica; o problema é saber como atingi-lo sem comprometer os investimentos em serviços públicos, que possibilitam a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Apesar do exposto, durante esse período, o processo de industrialização e de urbanização continuou avançando, resultando em significativa melhora nos índices de natalidade, mortalidade e expectativa de vida. Esse fato deve-se, sobretudo, ao intenso êxodo rural, já que nas cidades havia mais acesso a saneamento básico, a atendimento médico-hospitalar, a remédios e a programas de vacinação em postos de saúde, o que garantiu uma melhora da qualidade de vida de muitaspessoas que migraram para os centros urbanos. Em 1984, a campanha por eleições diretas para presidente contou com a realização de comícios simultâneos em todas as capitais e grandes cidades brasileiras, reunindo milhões de pessoas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 22 O fim do período militar ocorreu em 1985, depois de várias manifestações populares a favor das eleições diretas para presidente da República. Os problemas econômicos herdados do regime militar foram agravados no governo que se seguiu, o de José Sarney, e só foram enfrentados efetivamente nos anos de 1990. Questão 01. (Enem) Os textos abaixo relacionam-se a momentos distintos da nossa história. “A integração regional é um instrumento fundamental para que um número cada vez maior de países possa melhorar a sua inserção num mundo globalizado, já que eleva o seu nível de competitividade, aumenta as trocas comerciais, permite o aumento da produtividade, cria condições para um maior crescimento econômico e favorece o aprofundamento dos processos democráticos. A integração regional e a globalização surgem assim como processos complementares e vantajosos.” (Declaração de Porto, VIII Cimeira Ibero-Americana, Porto, Portugal, 17 e 18 de outubro de 1998) “Um considerável número de mercadorias passou a ser produzido no Brasil, substituindo o que não era possível ou era muito caro importar. Foi assim que a crise econômica mundial e o encarecimento das importações levaram o governo Vargas a criar as bases para o crescimento industrial brasileiro.” (POMAR, Wladimir. Era Vargas – a modernização conservadora) É correto afirmar que as políticas econômicas mencionadas nos textos são: (A) opostas, pois, no primeiro texto, o centro das preocupações são as exportações e, no segundo, as importações. (B) semelhantes, uma vez que ambos demonstram uma tendência protecionista. (C) diferentes, porque, para o primeiro texto, a questão central é a integração regional e, para o segundo, a política de substituição de importações. (D) semelhantes, porque consideram a integração regional necessária ao desenvolvimento econômico. (E) opostas, pois, para o primeiro texto, a globalização impede o aprofundamento democrático e, para o segundo, a globalização é geradora da crise econômica. Gabarito 01.C Comentário 01. Resposta: C O primeiro texto destaca a importância da integração regional entre os países e a globalização como processos complementares e vantajosos, que criam condições para um crescimento econômico mais intenso e valorização da democracia. Já o segundo texto destaca a importância da política de substituição de importações para dinamizar o processo de industrialização brasileira, no contexto da crise econômica que se iniciou em 1929. ESTRUTURAS DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES5 Os Transportes no Brasil O desenvolvimento econômico dos países relaciona-se ao seu sistema de transportes. Quanto mais desenvolvido, diversificado e eficiente o sistema de transportes, maiores são as possibilidades de circulação rápida de pessoas e mercadorias, o que implica maiores ganhos para produtores e consumidores. Por outro lado, um sistema de transportes pouco eficiente acaba por dificultar a circulação de pessoas e mercadorias em países mais pobres, que, por sua vez, incide e aumenta suas dificuldades econômicas. 5 MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini; Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013. c. A rede de transportes brasileira e sua estrutura e evolução. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 23 Brasil – Redes de Transportes – IBGE/2014 http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_redes_de_transporte.pdf. http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_redes_de_transporte.pdf. Tipos de Transportes Utilizados no Brasil Brasil – Evolução das Redes Ferroviária e Rodoviária - IBGE Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 24 http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_evolucao_das_redes_ferroviaria_e_rodoviaria.pdf. Transporte Ferroviário O transporte ferroviário no Brasil começou a se expandir durante o Segundo Império, no final do século XIX, associado à expansão do café. Esse tipo de transporte é, em geral, 50% mais barato que o transporte rodoviário. Uma característica importante da malha ferroviária brasileira é sua pequena conectividade, ou seja, em geral, as ferrovias brasileiras foram construídas interligando as áreas produtoras aos portos, para facilitar a exportação das mercadorias. O maior adensamento dessa rede dessa rede de transporte também coincide com a principal região brasileira produtora de café no início do século XX: o estado de São Paulo. Mesmo ferrovias construídas recentemente mantêm essa característica de não se integrarem umas às outras, lingando apenas as áreas produtoras aos portos. A partir de 1996, as ferrovias brasileiras, sob o controle da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), foram privatizadas. Transporte Rodoviário As rodovias constituem o principal meio de transporte utilizado no Brasil, correspondendo a 60,5% de toda movimentação de cargas, apesar de seus elevados custos de manutenção. A implantação das rodovias teve por objetivo integrar rapidamente o vasto território brasileiro, com o intuito de consolidar o mercado consumidor interno, base para o modelo de industrialização adotado em nosso país (substituição de importações). Atualmente, são inúmeros os problemas enfrentados pelos trabalhadores do transporte rodoviário: roubos constantes de carga, violência, estradas mal conservadas e mal sinalizadas, baixo preço do frete, etc. Os prejuízos, às vezes, também são elevados e estão associados às longas distâncias a serem percorridas, ao péssimo estado de conservação das vias que, por sua vez, geram aumento do consumo de óleo diesel, gastos com consertos dos veículos danificados em função de buracos e elevado número de acidentes. De acordo com o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a situação da malha rodoviária federal brasileira em relação ao seu estado de conservação, em abril de 2003, era a seguinte: Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 25 A partir da década de 1990, o governo federal começou a fazer uma série de licitações com o objetivo de estabelecer concessões para que a iniciativa privada explorasse e mantivesse as rodovias federais. A segunda etapa de concessões abrangeu 680,6 Km, composto de um lote: Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 26 Transporte Hidroviário Brasil – Principais Hidrovias O transporte hidroviário é o que apresenta menores custos, desde que existam condições favoráveis à sua implantação, como rios potencialmente navegáveis, relevo mais ou menos plano e condições de navegabilidade nos rios. Caso essas condições não existam, é possível estabelecer a navegação a partir da construção de eclusas, como em Jupiá (SP) e Bom Retiro (RS). O Brasil possui cerca de 42.000 Km de rios navegáveis, localizados, sobretudo, na Região Norte. São vantagens do transporte hidroviário: transportar grandes volumes a grandes distâncias; preservar o meio ambiente; implantação e frete mais baratos que os de outros meios de transportes. Bacias Hidrográficas Brasileiras Principais Hidrovias Brasileiras Hidrovia do Madeira Localizada no Corredor Oeste-Norte, é navegável numa extensão de aproximadamente 1.056 Km, entre Porto Velho e sua foz, no Rio Amazonas, permitindo, mesmo na época de estiagem, a navegação de grandes comboios, com até 28.000 toneladas. Atualmente transporta cerca de 2 milhõesde toneladas ao ano. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 27 Hidrovia do Guamá-Capim Localizada no Corredor Araguaia-Tocantins, transportando principalmente minérios. Hoje observa-se a formação de relevantes polos agropecuários, especialmente na região de Paragominas. Hidrovia do São Francisco Localizada no Corredor São Francisco, o Rio São Francisco é totalmente navegável em 1.371 Km, entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA) / Petrolina (PE), para a profundidade de projeto de 1,5 m, quando da ocorrência do período crítico de estiagem (agosto a novembro). A partir da implantação do sistema multimodal, o escoamento da produção agrícola do oeste da Bahia, com foco na cidade de Barreiras, banhada por um dos seus principais afluentes, o Rio Grande, é realizado por rodovia até a cidade de Ibotirama, na margem do São Francisco, descendo o rio pelo transporte hidroviário até Juazeiro/Petrolina, e deste, por ferrovia, para o Porto de Aratu (BA). No quilômetro 42 acima de Juazeiro/Petrolina situa-se a barragem de Sobradinho, cuja transposição é realizada através de eclusa. A movimentação anual fica em torno de 60.000 toneladas por ano. Hidrovia Tietê-Paraná Localizada nos Corredores Transmetropolitano do Mercosul e do Sudoeste, a hidrovia Tietê-Paraná permite a navegação numa extensão de1.100 Km entre Conchas, no rio Tietê (SP), e São Simão (GO), no rio Paranaíba, até Itaipu, atingindo 2.400 Km de via navegável. Ela já movimenta mais de um milhão de toneladas de grãos/ano, a uma distância média de 700 Km. Se computarmos as cargas de pequena distância como areia, cascalho e cana-de-açúcar, a movimentação no rio Tietê aproxima-se de dois milhões de toneladas. Hidrovia do Paraguai Localizada no Corredor do Sudoeste, essa hidrovia compõe um sistema de transporte fluvial de utilização tradicional, em condições naturais, que conecta o interior da América do Sul com os portos de águas profundas no curso inferior do Rio Paraná e no Rio da Prata. Com 3.442 Km de extensão, desde Cáceres até o seu final, no estuário do rio da Prata, proporciona acesso e serve como artéria de transporte para grandes áreas no interior do continente. As principais cargas transportadas no trecho brasileiro são: minério de ferro, minério de manganês e soja. Os fluxos de carga na hidrovia vêm crescendo nos últimos anos, respondendo à expectativa de interação comercial na região. No território brasileiro, a hidrovia percorre 1.278 Km e tem como principais portos: Cáceres, Corumbá e Ladário, além de três terminais privados com expressiva movimentação de carga. Entre 1998 e 2000, foram movimentadas mais de seis milhões de toneladas de cargas no trecho brasileiro. Fazem parte das Hidrovias do Sul as Lagoas dos Patos e Mirim, o canal de São Gonçalo, que liga o Rio Jacuí a seu afluente, o Taquari e uma série de rios menores, como Caí, Sinos e Gravataí, que constituem o estuário do Guaíba. O Rio Jacuí foi canalizado com a construção das barragens eclusadas, compreendo uma extensão de300 Km, para calados de 2,5 m. No rio Taquari foi implantada a barragem eclusada de Bom Retiro do Sul, que vence um desnível máximo de 12,50 m, dando acesso ao Porto Fluvial de estrela, para embarcações de 2,5 m de calado. Hidrovias do Tocantins-Araguaia e do Tapajós Importantíssimas para a viabilização da produção agrícola da região Centro-oeste, que será encaminhada aos portos do Norte do país, com grandes reduções de custos. As hidrovias, apesar de apresentarem um impacto ambiental menor que outros meios de transporte, também afetam o meio ambiente. Os principais impactos ambientais das hidrovias são de três ordens: impactos gerados a partir da implantação das obras, impactos resultantes das operações e impactos nas áreas de influência indireta (sobretudo nas áreas de mananciais). Impactos Quando da Implantação das Obras Necessárias A área de influência direta é, de fato, o próprio leito do rio, que é o local onde se efetuam as principais intervenções necessárias. Uma pequena faixa de margem é utilizada para implantação da sinalização, de forma pontual. As principais obras e de maior impacto são as dragagens de implantação e os derrocamentos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 28 Impactos quando da operação 1. Dragagem de manutenção: feita com menores volumes e monitorada ambientalmente; 2. Risco de acidentes com cargas perigosas: exigência de casco duplo para embarcações, para aprimorar as possibilidades de derramamento e aplicação de planos de emergência; 3. Contaminação de águas por lançamento de dejetos: programas de educação ambiental e controle sanitário do sistema de coleta das embarcações. Impactos na área de influência indireta O impacto na área de influência indireta de uma infraestrutura de transporte é preocupação que inquieta a maioria dos ambientalistas. Estudos já comprovaram que o grande degradador dos recursos d’água é o mau uso da área de bacia de contribuição de manancial e não o seu uso como hidrovia. O controle é de responsabilidade da implantação de uma Política Institucional de Racionamento e Gerenciamento do Uso da Água. A dragagem tem por objetivo garantir uma profundidade mínima, para que as embarcações possam circular sem agarrar no fundo do canal. Essa via imaginária possui uma largura que varia de acordo com o tamanho da embarcação, e situa-se normalmente nos locais onde o rio é mais fundo, pois quase sempre coincide com seu canal natural. Sobre a hidrovia do Paraguai, há uma grande polêmica, uma vez que a realização de obras como o aprofundamento do leito dos rios poderia afetar o Rio Paraguai e seus afluentes, alterando as condições ecológicas do Pantanal Mato-grossense, considerado patrimônio ecológico da humanidade. Apesar de os rios dessa bacia serem de planície e naturalmente navegáveis, há ao longo de seus leitos bancos de areia e rochas, que tornam a navegação perigosa e atrasam a movimentação das cargas. O projeto de aprofundamento do leito dos rios previa a dragagem dos bancos de areia e a detonação das rochas, desimpedindo o fluxo das águas e aumento sua velocidade de escoamento. Porém, muitos grupos ambientalistas posicionaram-se contrariamente ao projeto, pois isso significaria a drenagem do Pantanal e o comprometimento do seu ecossistema. Corredores de Exportação Corredores de exportação são sistemas de circulação de mercadorias que integram hidrovias, rodovias e principalmente ferrovias e portos equiparados para exportação de determinados produtos. No início do século XXI, o Brasil se estabeleceu como um dos maiores provedores de soja do mundo. Em plena região amazônica, o arco do desmatamento funcionou como uma frente de expansão agrícola em que milhares de quilômetros quadrados de florestas e cerrados deram lugar ás pastagens e à cultura da soja. Desse modo, o Brasil entrou no segundo milênio incorporando vastas extensões de terras ao imenso espaço econômico internacional, mantendo um modelo econômico agrário-exportador que, acima de tudo, sustentou os pagamentos da dívida externa aos credores internacionais. O intenso desmatamento da Amazônia foi concentrado em dois estados: Mato Grosso e Rondônia. No primeiro, a área plantada de soja cresceu em 400% nos últimos dez anos. O crescimento dessas novas regiões produtoras está apenas no seu início, pois, justamente nos últimos anos, a iniciativa provada, juntamente com o Estado brasileiro, tem criado condições para o escoamento dessas imensas safras agrícolas. O estabelecimento do corredor de exportação Madeira- Amazonas, baseado no transporte dos grãos pelos citados rios amazônicos, proporcionou aos agricultores do Norte e do Centro-Oeste do Brasil uma diminuição do custo do frete que se aproxima dos 50%. E, com o custo de transporte reduzido quase pela metade, a soja das novas regiões produtoras do Brasilse tornou altamente competitiva (mais barata) no mercado internacional. Uma das razões do baixo custo e eficiência do corredor Madeira-Amazonas é justamente o aproveitamento do transporte fluvial, o mais competitivo que se conhece atualmente. Nesse contexto, os produtos agrícolas de grande parte do Mato Grosso, estado do Tocantins e Rondônia, são transportados por via terrestre até Porto Velho (RO), seguindo daí por embarcações até o porto flutuante de Itacoatiara (AM) e, daí, para o mercado internacional. A existência de portos bem equiparados e especializados é uma das características fundamentais da implementação dos chamados corredores de exportação. Abaixo, veremos a relação dos principais corredores de exportação do Brasil, juntamente com os principais produtos vendidos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 29 Entre todos esses corredores de exportação, o ligado ao porto de Santos é o que teve um grande papel histórico vinculado tanto ao ciclo do café como ao processo de industrialização da década de 1950 (implantação da indústria automobilística na atual região metropolitana de São Paulo). Na década de 1970, com um forte investimento do Estado, surgiram e se desenvolveram outros corredores de exportação, ligados ao comércio de produtos agrários (porto de Paranaguá) ou de minérios brutos e semi-industrilizados, como no caso do porto de Tubarão, no Espírito Santo. O estabelecimento do porto de Itaqui, também como um exportador de produtos agrários, bem como a instalação do porto flutuante de Itacoatiara, estão ligados à recente expansão do agronegócio em novas áreas do Norte e Centro-oeste do Brasil. Corredor de exportação/ Principais produtos escoados Transporte Aéreo6 Implantado no Brasil em 1927, o transporte aéreo é realizado por companhias particulares sob o controle do Ministério da Aeronáutica no que diz respeito ao equipamento utilizado, abertura de novas linhas, etc. A rede brasileira, que cresceu muito até a década de 1980, sofreu as consequências da crise mundial que afetou o setor nos primeiros anos da década de 1990. Há dez anos, o Brasil vive uma verdadeira revolução no setor da aviação. Antes privilégio de poucos, voar hoje é uma realidade para a grande maioria da população. Prova disso é que entre 2004 e 2014, o desenvolvimento expressivo do transporte aéreo no país levou à redução de 48% do custo da passagem aérea doméstica. A média anual de crescimento do setor foi três vezes o crescimento médio do PIB – Produto Interno Bruto – para o mesmo período (3,4%). Paralelamente, o número de passageiros cresceu 170%, alcançando 117 milhões em 2014. E a qualidade do serviço também melhorou. O índice de atrasos nos aeroportos brasileiros, por exemplo, caiu 62% de 2007 a 2014, passando de 29,84% para 11,3%. Nesse mesmo período, a demanda de passageiros cresceu 88%. Nessa democratização do transporte aéreo, três fatores passaram a influenciar na escolha da forma de viajar dos brasileiros: custo, tempo e conforto. A infraestrutura aeroportuária também está passando por melhorias significativas. Entre 2011 e 2015, foram investidos R$ 15,6 bilhões no setor. 6 http://www.aviacao.gov.br/obrasilquevoa/cenario-da-aviacao-brasileira.php. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 30 Questões 01. (TRT/8R – Analista – CESPE/2016) A respeito da infraestrutura rodoviária brasileira e suas implicações para o setor rodoviário nacional, assinale a opção correta. (A) A flexibilização das rotas e a possibilidade de movimentação de pequenos volumes são algumas das vantagens apresentadas pelo transporte de cargas rodoviário, se comparado aos demais tipos de transporte de carga. (B) A utilização do transporte rodoviário como meio de transporte complementar é inviabilizada devido ao elevado custo de transposição de carga que o transporte rodoviário apresenta. (C) O estado de conservação do pavimento das rodovias gera pouco impacto no custo total do transporte de cargas rodoviário. (D) O Brasil possui uma das malhas rodoviárias mais extensas do mundo, sendo grande parte dela pavimentada. (E) Em comparação com as rodovias de pavimento flexível, as rodovias de pavimento rígido acarretam maior custo de manutenção, menor segurança e maior consumo de combustível pelos veículos. 02. (IPEA – Técnico – CESPE) Com relação à matriz brasileira de transportes e aos sistemas de transporte, julgue os próximos itens. Na competição entre os sistemas rodoviário e ferroviário de transportes, a ferrovia no Brasil perde espaço no transporte a longas distâncias, mesmo apresentando condições econômicas mais competitivas. (....) Certo (....) Errado Gabarito 01.A / 02.Certo Comentários 01. Resposta: A As principais vantagens do modal de transporte rodoviário: Acessibilidade, pois conseguem chegar em quase todos os lugares do território brasileiro; Facilidade para contratar ou organizar o transporte; Flexibilidade em organizar a rota; Pouca burocracia quanto à documentação necessária para o transporte; Maior investimento do governo na infraestrutura das rodovias se comparada aos outros modais. As principais desvantagens do modal de transporte rodoviário: Alto custo de frete, por causa do impacto direto que pedágios e alto valor do combustível geram; Baixa capacidade de carga; Menor distância alcançada com relação ao tempo utilizado para o transporte; Maiores chances da carga ser extraviada, por causa de roubos e acidentes. 02. Resposta: Certo Apesar de o transporte ferroviário possuir custo variável baixo (Lembrando custo fixo é o referente à implantação → este é elevado; No entanto, para o transporte de mercadorias, importa o custo variável → este é baixo, de fato), o transporte rodoviário é o mais utilizado, pelo fato de ter maior flexibilidade. CIDADES E URBANIZAÇÃO BRASILEIRA7 A fundação de Brasília, em 1960, e a abertura de rodovias integrando a nova capital ao restante do país provocaram significativas alterações nos fluxos migratórios e na urbanização brasileira. Os 7 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018. d. A questão urbana brasileira: processos e estruturas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 31 municípios já existentes cresceram, outros foram inaugurados e, consequentemente, houve reflexos na malha municipal brasileira. O que consideramos Cidade? No mundo, atualmente, há cidades de diferentes tamanhos, densidades demográficas e condições socioeconômicas. Em algumas, apenas uma função urbana recebe destaque, enquanto em outras são desenvolvidas múltiplas atividades. Muitas se estruturaram há séculos, outras começaram a se desenvolver há poucos anos ou décadas. Há ainda cidades que apresentam grande desigualdade social e aquelas nas quais as desigualdades são menos acentuadas. Todos esses aspectos se refletem na organização do espaço e são visíveis nas paisagens urbanas. Dependendo do país ou da região em que se localiza, uma pequena aglomeração de alguns milhares de habitantes pode apresentar grande diversidade de funções urbanas ou, simplesmente, constituir uma concentração de residências rurais. Por exemplo, na Amazônia, onde a densidade demográfica é muito baixa, um pequeno povoado pode contar com diversos serviços, como posto de saúde, escola e serviço bancário, enquanto no inteiro do Estado de São Paulo, onde a rede urbana é bastante densa, o distrito de um município de pequeno porte pode se constituir apenas como local de moradia de trabalhadores rurais, com comércio de produtos básicos, sem apresentar outras funções urbanas. Quanto à população, uma cidade localizada em regiões pioneiras pode ter muito menos habitantes que uma vila ruralde um município muito populoso localizado em uma região de ocupação mais antiga. Na maioria dos países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, a classificação de uma aglomeração humana como zona urbana ou cidade costuma considerar algumas variáveis básicas: densidade demográfica, número de habitantes, localização e existência de equipamentos urbanos, como comércio variado, escolas, atendimento médico, correio e serviços bancários. No Brasil, o IBGE considera população urbana as pessoas que residem no interior do perímetro urbano de cada município, e população rural as que residem fora desse perímetro. Entretanto, as autoridades administrativas de alguns municípios utilizam as atribuições que a lei lhes garante e determinam um perímetro urbano bem mais amplo do que a área efetivamente urbanizada. Dessa forma, muitas chácaras, sítios ou fazendas, inegavelmente áreas rurais, acabam registradas como parte do perímetro urbano e são taxados com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e não com o Imposto Territorial Rural (ITR). Com o IPTU, o governo dos municípios obtém ima arrecadação muito superior à que obteria com o ITR. Em 2017, 94,5% dos municípios brasileiros tinham até 100 mil habitantes e abrigavam 43,5% da população do país; neles, as diversas atividade rurais ocupavam grande parte dos trabalhadores e comandavam o modo de vida das pessoas. Já que todos os municípios, independente de sua extensão territorial e população, têm, obrigatoriamente, uma zona estabelecida como urbana, algumas aglomerações cercadas por florestas, pastagens e áreas de cultivo são classificadas como áreas “urbanas”. Segundo esse critério, o estado do Amapá e de Mato Grosso têm índices de urbanização equivalentes ao da região Sudeste. Portanto, como não há um critério uniforme, a comparação dos dados estatísticos de população urbana e rural entre o Brasil e outros países fica comprometida. Alguns estados com grau de urbanização maior (acima de 70%) localizam-se em regiões de floresta, de expansão agrícola ou reservas indígenas e ecológicas (principalmente na região Norte do país), nas quais as atividades rurais, como agropecuária e extrativismo, são dominantes. Por exemplo, segundo o IBGE, o Amapá, que em 2017 possuía apenas 797 mil habitantes distribuídos em 16 municípios, sendo 474 mil habitantes em Macapá, apresenta índices de urbanização igual ao de outros estados do Centro- Sul. População Urbana e Rural A metodologia utilizada na definição das populações urbana e rural resulta em distorções. É inquestionável, entretanto, que os índices de população urbana tenham aumentado em quase todo o país em razão da migração rural-urbana, embora atualmente ela seja menos intensa do que nas décadas anteriores. Até meados dos anos 1960, a população brasileira era predominantemente rural. Entre as décadas de 1950 e 1980, milhões de pessoas migraram para as regiões metropolitanas e capitais de estados. Esse processo provocou crescimento desordenado, segregação espacial e aumento das desigualdades nas grandes cidades, mas também melhoria em vários indicadores sociais, como a redução da natalidade e Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 32 dos índices de mortalidade infantil, além do aumento na expectativa de vida e nas taxas de escolarização. Veja a tabela a seguir. Brasil: Índice de Urbanização por Região (%) Região 1950 1970 2015 Sudeste 44,5 72,7 93,1 Centro-Oeste 24,4 48,0 89,8 Sul 29,5 44,3 85,6 Norte 31,5 45,1 75,0 Nordeste 26,4 41,8 73,1 Brasil 36,2 55,9 84,7 Observe que o Centro-Oeste apresenta o segundo maior índice de urbanização entre as regiões brasileiras. Isso se explica por dois fatores: toda a população do Distrito Federal (cerca de 3 milhões de habitantes em 2017) mora dentro do perímetro urbano de Brasília, que é o único aglomerado urbano dessa unidade da Federação; e houve a abertura de rodovias e a expansão das fronteiras agrícolas com pecuária e a agricultura mecanizada (que usam pouca mão de obra), o que promoveu o crescimento urbano nas cidades já existentes e o surgimento de outras. Atualmente, a distinção entre população urbana e rural torou-se mais complexa, pois é considerável o número de pessoas que trabalham em atividades rurais e residem nas cidades, assim como moradores da área rural que trabalham no meio urbano. São inúmeras as cidades que surgiram e cresceram em regiões do país que têm a agroindústria como propulsora das atividades econômicas secundárias e terciárias. Ao mesmo tempo, vem aumentando e se diversificando o número de atividades econômicas secundárias e terciárias instaladas na zona rural, que, assim, se torna cada vez mais integrada à cidade. A Rede Urbana Brasileira Nas primeiras décadas da colonização foram fundadas várias vilas no Brasil. Em 1549, foi fundada Salvador, a capital do Brasil até 1763, quando a sede foi transferida para o Rio de Janeiro. As demais vilas da Colônia, assim que atingiam certo nível de desenvolvimento, recebiam título de cidade. A partir da República, as vilas passaram a ser chamadas de cidades, e seu território (perímetro urbano e zona rural) passou a ser designado município. Ao longo da história da ocupação do território brasileiro, houve grande concentração de cidades na faixa litorânea, em razão do processo de colonização do tipo agrário-exportador. Durante o auge da atividade mineradora, ocorreu um intenso processo de urbanização e uma efervescência cultural em Minas Gerais, além da ocupação de Goiás e Mato Grosso. Mas, com a decadência da mineração, essas regiões, mais distantes do litoral, perderam população. A forte migração para a então província de São Paulo, onde se iniciava a cafeicultura, possibilitou o desenvolvimento de várias cidades, como Taubaté, Bragança Paulista e Campinas. Além da cidade, os municípios podem conter outros núcleos urbanos, chamados distritos, que são subdivisões administrativas. Em alguns casos, esses distritos crescem e se tornam maiores que a cidade, incentivando movimentos de emancipação. Entretanto, muitos desses novos municípios não têm arrecadação suficiente para manter as despesas inerentes, como Prefeitura, Câmara Municipal e serviços públicos. Considerando a viabilidade financeira dos novos municípios, ou seja, a relação entre receitas e despesas, conclui-se que nem sempre há condições para sua autonomia econômica. Assim, muitos municípios acabam deficitários, dependentes do auxílio estadual e federal. Porém, para a população local, a criação de um novo município costuma parecer uma grande conquista, pois, em geral, sente-se marginalizada e reivindica mais atenção e investimentos. A partir de 2001, essas emancipações diminuíram muito porque a Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu certa autonomia econômica aos distritos e regulamentou as condições de repasse de verbas entre as esferas de governo. O Brasil tinha em 1960, 2766 municípios; em 1980, 3991; em 2000, 5507; em 2010, 5565 e em 2017, 5570. O processo de urbanização e estruturação da rede urbana brasileira pode ser dividido em quatro etapas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 33 Brasil: Integração Regional Até a década de 1930 as migrações e o processo de urbanização se organizavam predominantemente em escala regional, com as respectivas metrópoles funcionando como polos de atividades secundárias e terciárias. As atividades econômicas, que impulsionam a urbanização, desenvolviam-se de forma independente e esparsa pelo território nacional. A integração econômica entre São Paulo (região cafeeira), Zona da Mata nordestina (cana-de-açúcar, cacau e tabaco), Meio-Norte (algodão, pecuária e extrativismo vegetal) e região Sul (pecuária e policultura) era muito restrita. Com a modernização da economia, as regiões Sul e Sudeste formaram um mercado único que, posteriormente, incorporou o Nordestee, mais arde, o Norte e o Centro-Oeste. A partir da década de 1930, à medida que a infraestrutura de transportes e telecomunicações se expandia pelo país, o mercado se unificava, mas a tendência à concentração das atividades urbano- industriais na região Sudeste fez com que a atração populacional ultrapassasse a escala regional, alcançando o país como um todo. Os dois grandes polos industriais do Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro, passaram a atrair um enorme contingente de mão de obra das regiões que não acompanharam o mesmo ritmo de crescimento econômico e se tornaram metrópoles nacionais. Foi particularmente intenso o afluxo de mineiros e nordestinos para as duas metrópoles, que, por não atenderem às demandas de investimento em infraestrutura, tornaram-se centros urbanos com diversos problemas em setores como moradia e transportes. Entre as décadas de 1950 e 1980 ocorreram intenso êxodo rural e migração inter-regional, com forte aumento da população metropolitana no Sudeste, Nordeste e Sul. Nesse período, o aspecto mais marcante da estruturação da rede urbana brasileira foi a concentração progressiva e acentuada da população em grades cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais que cresciam velozmente. Da década de 1980 aos dias atuais observa-se que o maior crescimento tende a ocorrer nas metrópoles regionais e cidades médias, com predomínio da migração urbana-urbana-deslocamento de população das cidades pequenas para as médias e retorno de moradores das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro para as cidades médias, tanto da região metropolitana quanto para outras mais distantes, até de outros estados. A Integração Econômica A mudança na direção dos fluxos migratórios e na estrutura da rede urbana é resultado de uma contínua e crescente reestruturação e integração dos espaços urbano e rural. Isso resulta da dispersão espacial das atividades econômicas, intensificada a partir dos anos 1980, e da formação de novos centros regionais, que alteraram o padrão hegemônico das metrópoles na rede urbana do país. As metrópoles não perderam a sua primazia, mas os centros urbanos regionais não metropolitanos assumiram algumas funções até então desempenhadas apenas por elas. Com novas funções, muitos desses centros urbanos geraram vários dos problemas da maioria das grandes cidades que cresceram sem planejamento. Principais Problemas Urbanos Moradia A especulação imobiliária tem tornado o solo urbano cada vez mais caro, excluindo a população de baixa renda das áreas com melhor infraestrutura, porque são as mais valorizadas. Assim, grande parte da população se instala em assentamentos irregulares, como encostas de morros e várzeas de rios, muitos deles consideradas áreas de risco para estabelecer moradia. Trânsito A necessidade de percorrer grandes distâncias diariamente no percurso casa-trabalho-casa, em função da distribuição desigual de empregos pela cidade, e a falta de um transporte público eficiente geram um número elevado de automóveis particulares nas vias públicas. Além disso, a verticalização8 característica dos grandes centros urbanos, alternativa encontrada para o adensamento9, quando feita sem planejamento, influencia diretamente o aumento do transito de automóveis. O aumento da concentração de poluentes na atmosfera nos centros urbanos é causado pelo lançamento de partículas geradas, sobretudo, pela queima dos combustíveis dos veículos. Doenças 8 Verticalização é um processo urbanístico que ocorre em metrópoles e consiste na construção de grandes e inúmeros edifícios, o que acaba, inevitavelmente, dificultando a circulação de ar, devido à diminuição do espaço físico plano para construção. Ademais, é decorrente a formação de ilhas de calor nesses locais. 9 Fenômeno associado ao crescimento populacional das cidades, que resulta no uso intensivo do espaço urbano. Aglomeração de pessoas em um espaço pequeno. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 34 cardíacas e respiratórias têm sido associadas à presença de partículas poluentes nos pulmões e na corrente sanguínea dos habitantes dos grandes centros urbanos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Violência A violência em geral é maior nos grandes centros urbanos, onde a desigualdade social é mais acentuada. Na tentativa de diminuir a sensação de insegurança, proliferam os condomínios residenciais fechados e o setor privado de segurança. Fora dos condomínios residenciais, a busca por segurança incentiva a procura por prédios para moradia, o que contribui para a verticalização dos grandes centros urbanos. O crescimento do número de shopping centers nos grandes centros materializa o desejo de espaços mais seguros para o lazer e as compras. As Regiões Metropolitanas Brasileiras As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional em 1973, que as definiu como “um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infraestrutura comum”, que deveriam ser reconhecidas pelo IBGE. A Constituição de 1988 permitiu a estadualização do reconhecimento legal das metrópoles, conforme o artigo 25, §3º: “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”. As Regiões Integradas de Desenvolvimento (Rides) também são regiões metropolitanas, mas os municípios que as integram situam-se em mais de uma unidade da Federação e, por causa disso, são criadas por lei federal. Em 2017, de acordo com a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), havia 74 regiões metropolitanas no país, abrigando 115,9 milhões de pessoas, 55,9% da população brasileira. Veja a tabela a seguir, na qual estão listadas as quinze maiores regiões metropolitanas (incluída a Ride do Distrito Federal). Brasil: Maiores Regiões Metropolitanas e Rides - 2017 Região Metropolitana População São Paulo 21.391.624 Rio de Janeiro 12.377.305 Belo Horizonte 5.314.930 Ride DF e entorno 4.373.841 Porto Alegre 4.293.050 Fortaleza 4.051.744 Salvador 4.015.205 Recife 3.965.699 Curitiba 3.572.326 Campinas 3.168.019 Vale do Paraíba e Litoral Norte 2.497.857 Goiânia 2.493.792 Manaus 2.488.336 Belém 2.441.761 Sorocaba 2.088.321 Na tabela acima estão listadas regiões metropolitanas reconhecidas por lei estadual que trata-se do reconhecimento legal como conjunto de cidades conturbadas com infraestrutura comum. À medida que as cidades vão se expandindo horizontalmente, ocorre a conturbação, ou seja, elas se tornam contínuas e integradas. Embora com administrações diferentes, espacialmente é como se fossem uma única cidade. Portanto, os problemas de infraestrutura urbana passam a ser comuns ao conjunto de municípios que formam a região metropolitana. Das 74 regiões metropolitanas existentes em 2017, duas, São Paulo e Ri ode Janeiro, são consideradas metrópoles nacionais, pelo fato de polarizarem o país inteiro. Ambas também são Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 35 consideradas cidades globais por estarem mais fortemente integradas aos fluxos mundiais. É nessas cidades, sobretudo em São Paulo, que estão as sedes dos grandes bancos e das indústrias do país, alguns dos centros de pesquisa mais avançados, as Bolsas de Valores e mercadorias, os grandes grupos de comunicação, os hospitais de referência, etc. A conturbação entre duas ou mais metrópoles não significa que as malhas urbanas sejam contínuas; ela envolve plena integração socioeconômica, com intensidade de fluxos entre os municípios, mesmo com a presença de zona rural entre eles. Hierarquia e Influência dos Centros Urbanos no Brasil - MobilidadeDentro da rede urbana, as cidades são os nós dos sistemas de produção e distribuição de mercadorias e da prestação de serviços diversos, que se organizam segundo níveis hierárquicos distribuídos de forma desigual pelo território. Por exemplo, o Centro-Sul do país possui uma rede urbana com grande número de metrópoles, capitais regionais e centros sub-regionais bastante articulados entre si. Já na Amazônia, as cidades são esparsas e bem menos articuladas, o que leva centros menores a exercerem o mesmo nível de importância na hierarquia urbana regional que outros maiores localizados no Centro-Sul. Outro fator importante que devemos considerar ao analisar os fluxos no interior de uma rede urbana é a condição de acesso proporcionada pelos diferentes níveis de renda da população. Um morador rico de uma cidade pequena consegue estabelecer muito mais conexões econômicas e socioculturais que um morador pobre de uma grande metrópole. A mobilidade das pessoas entre as cidades da rede urbana depende de seu nível de renda. Segundo o IBGE, as regiões de influência das cidades brasileiras são delimitadas principalmente pelo fluxo de consumidores que utilizam o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede urbana. Ao realizar o levantamento para a elaboração do mapa da rede urbana, investigou-se a organização dos meios de transporte entre os municípios e os principais destinos das pessoas que buscam produtos e serviços. O IBGE classificou as cidades em cinco níveis: Metrópoles – os doze principais centros urbanos do país, divididos em três subníveis, segundo o tamanho e o poder de polarização: a) Grande metrópole nacional – São Paulo, a maior metrópole do país (21,2 milhões de habitantes, em 2016), com poder de polarização em escala nacional; b) Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília (12,3 milhões e 4,3 milhões de habitantes, respectivamente, em 2016), que também estendem seu poder de polarização em escala nacional, mas com um nível de influência menor que o de São Paulo; c) Metrópole – Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Recife, Curitiba, Campinas e Manaus, com população variando de 2,6 (Manaus) a 5,9 milhões de habitantes (Belo Horizonte), são regiões metropolitanas que têm poder de polarização em escala regional. Capital regional – Neste nível de polarização existem setenta municípios com influência regional. É subdividido em três níveis: a) Capital regional A – engloba 11 cidades, com média de 955 mil habitantes; b) Capital regional B – 20 cidades, com média de 435 mil habitantes; c) Capital regional C – 39 cidades, com média de 250 mil habitantes. Centro sub-regional – Engloba 169 municípios com serviços menos complexos e área de polarização mais reduzida. É subdividido em: a) Centro sub-regional A – 85 cidades, com média de 95 mil habitantes; b) Centro sub-regional B – 79 cidades, com média de 71 mil habitantes. Centro de zona – São 556 cidades de menor porte que dispõem apenas de serviços elementares e estendem seu poder de polarização somente às cidades vizinhas. Subdivide-se em: a) Centro de zona A – 192 cidades, com média de 45 mil habitantes; b) Centro de zona B – 364 cidades, com média de 23 mil habitantes. Centro local – as demais 4.473 cidades brasileiras, com média de 8.133 habitantes e cujos serviços atendem somente à população local, não polarizam nenhum município, sendo apenas polarizadas por outros. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 36 Plano Diretor e Estatuto da Cidade Em 10 de julho de 2001, foi sancionado o Estatuto da Cidade, documento que regulamentou itens de política urbana que constam da Constituição de 1988. O estatuto fornece as principais diretrizes a serem aplicadas nos municípios, por exemplo: regularização da posse dos terrenos e imóveis, sobretudo em áreas de risco que tiverem ocupação irregular; organização das relações entre a cidade e o campo; garantia de preservação e recuperação ambiental, entre outras. Segundo o Estatuto da Cidade, é obrigatório que determinados municípios elaborem um Plano Diretor, que é um conjunto de leis que estabelecem as diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico e a preservação ambiental, regulamentando o uso e a ocupação do território municipal, especialmente o solo urbano. O Plano Diretor é obrigatório para municípios que apresentam uma ou mais das seguintes características: Abriga mais de 20 mil habitantes; Integra regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; Integra áreas de especial interesse turístico; Insere-se na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; É um local onde o poder público municipal quer exigir o aproveitamento adequado do solo urbano sob pena de parcelamento, desapropriação ou progressividade do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Os planos são elaborados pelo governo municipal – por uma equipe de profissionais qualificados, como geógrafos, arquitetos, urbanistas, engenheiros, advogados e outros. Geralmente se iniciam com um perfil geográfico e socioeconômico do município. Em seguida, apresenta-se uma proposta de desenvolvimento, com atenção especial para o meio ambiente. A parte final, e mais extensa, detalha as diretrizes definidas para cada setor da administração púbica, ou seja, habitação, transporte, educação, saúde, saneamento básico, etc., assim como as normas técnicas para ocupação e uso do solo, conhecidas como Lei de Zoneamento. Assim, o Plano Diretor pode alterar ou manter a forma dominante de organização espacial e, portanto, interfere no dia a dia de todos os cidadãos. Por exemplo, uma alteração na Lei de Zoneamento pode valorizar ou desvalorizar os imóveis e alterar a qualidade de vida em determinado bairro. Outro exemplo prático de planejamento urbano constante no Plano Diretor é o controle dos polos geradores de tráfego, uma vez que os congestionamentos são um sério problema para os moradores das grandes e médias cidades. Para isso, tem colaborado bastante a difusão dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). Os SIGs permitem coletar, armazenar e processar, com grande rapidez, uma infinidade de dados georreferenciados fundamentais e mostrá-los por meio de plantas e mapas, gráficos e tabelas, o que facilita muito a intervenção dos profissionais envolvidos com o planejamento urbano. Antes de ser elaborado pela Prefeitura (Poder Executivo) e aprovado pela Câmara Municipal (Poder Legislativo), o Plano Diretor deve contar com a “cooperação das associações representativas no planejamento municipal”. A participação da comunidade na elaboração desse documento passou a ser uma exigência constitucional que prevê, ainda, projetos de iniciativa popular (geralmente na forma de abaixo-assinado), que podem ser apresentados desde que contem com participação de 5% do eleitorado, conforme inciso XIII do artigo 29 da Constituição. Além de um Plano Diretor bem-estruturado, é importante que o poder público e os cidadãos respeitem as regras estabelecidas, colaborando, assim, para que os problemas das cidades sejam minimizados. Entretanto, o planejamento das ações governamentais e a sua execução demandam um processo composto de várias fases, e algumas (como preparar uma licitação ou aprovar o orçamento no Legislativo) dificilmente podem ser organizadas pela população. Como o encaminhamento dessas fases exige uma ação administrativa complexa, na prática a participação popular no planejamento e na execução de intervenções urbanas só se concretiza quando a pressão popular e a vontade dos governantes convergem nessa direção. Aplicações do Plano Diretor Cada Plano Diretor trata de realidades particulares dos diversos municípios, mas maioria deles apresenta as seguintes aplicações práticas: Lei do Perímetro Urbano – Estabelece os limites da área considerada perímetro urbano, em cujo interior é arrecadadoo IPTU. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 37 Lei do Parcelamento do Solo Urbano – A principal atribuição dessa lei é estabelecer o tamanho mínimo dos lotes urbanos, o que acaba determinado o grau de adensamento de um bairro ou zona da cidade. Por exemplo, num bairro onde o lote mínimo tenha área de 200 m², a ocupação será mais densa que em outro onde ele tenha 500 m². Lei de Zoneamento (uso e ocupação do solo urbano) – Estabelece as zonas do município nas quais a ocupação será estritamente residencial ou mista (residencial e comercial), as áreas em que ficará o distrito industrial, quais serão as condições de funcionamento de bares e casas noturnas e muitas outras especificações que podem manter ou alterar profundamente as características dos bairros. Código de Edificações – Estabelece as áreas de recuo nos terrenos (quantos metros do terreno deverão ficar desocupados na sua parte frontal, nos fundos e nas laterais), normas de segurança (contra incêndio, largura das escadarias, etc.) e outras regulamentações criadas por tipo de construção e finalidade de uso, como escola, estádio, residência, comércio, etc. Leis Ambientais – Regulamentam a forma de coleta e destino final do lixo residencial, industrial e hospitalar e a preservação das áreas verdes: controlam a emissão de poluentes atmosféricos, normatizam ações voltadas para a preservação ambiental; Plano do Sistema Viário e dos Transportes Coletivos – Regulamenta o trajeto das linhas de ônibus e estabelece estratégias que facilitem ao máximo o fluxo de pessoas pela cidade por meio da abertura de novas avenidas, corredores de ônibus, investimentos em trens urbanos e metrô, etc. Questões 01. (Enem) Subindo morros, margeando córregos ou penduradas em palafitas, as favelas fazem parte da paisagem de um terço dos municípios do país, abrigando mais de 10 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). MARTINS, A. R. A favela como um espaço da cidade. Disponível em: http://www.revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 31 jul. 2010. A situação das favelas no país reporta a graves problemas de desordenamento territorial. Nesse sentido, uma característica comum a esses espaços tem sido (A) o planejamento para a implantação de infraestruturas urbanas necessárias para atender as necessidades básicas dos moradores. (B) a organização de associações de moradores interessadas na melhoria do espaço urbano e financiadas pelo poder público. (C) a presença de ações referentes à educação ambiental com consequente preservação dos espaços naturais circundantes. (D) a ocupação de áreas de risco suscetíveis a enchentes ou desmoronamentos com consequentes perdas materiais e humanas. (E) o isolamento socioeconômico dos moradores ocupantes desses espaços com a resultante multiplicação de políticas que tentam reverter esse quadro. 02. (Enem) Em um debate sobre o futuro do setor de transporte de uma grande cidade brasileira com trânsito intenso, foi apresentado um conjunto de propostas. Entre as propostas reproduzidas a seguir, aquela que atende, ao mesmo tempo, à implicações sociais e ambientais presentes nesse setor é (A) proibir o uso de combustíveis produzidos a partir de recursos naturais. (B) promover a substituição de veículos a diesel por veículos a gasolina. (C) incentivar a substituição do transporte individual por transportes coletivos. (D) aumentar a importação de diesel para substituir os veículos a álcool. (E) diminuir o uso de combustíveis voláteis devido ao perigo que representam. Gabarito 01.D / 02.C Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 38 Comentários 01. Resposta: D As aglomerações de moradias subnormais são construídas em terrenos públicos e particulares invadidos. Como as áreas de risco suscetíveis a enchentes e a desmoronamentos geralmente estão desocupadas, tornam-se alvo de invasão e construção de moradias para a população que não tem acesso aos programas habitacionais do poder público. 02. Resposta: C A substituição do transporte individual por coletivo reduz a quantidade de veículos em circulação e, portanto, reduz os congestionamentos. AGROPECUÁRIA10 Agropecuária é a denominação dada para as atividades que usam o solo com fins econômicos e que são voltadas à produção agrícola associada à criação de animais. Distribuição e Função Social da Terra no Brasil No Brasil, a distribuição de terras é considerada historicamente desigual. Uma das características mais marcantes das áreas de produção agropecuária é a concentração da propriedade de terras, também chamada de concentração fundiária. Isso significa que há grandes propriedades de terra, conhecidas como latifúndios, concentradas nas mãos de poucos indivíduos. As propriedades rurais brasileiras apresentam não só tamanhos diferentes, mas também distintas formas de organização do trabalho. Como a agricultura familiar, aquela em que a mão de obra predominante é composta por integrantes da família proprietária da terra. Geralmente trata-se de pequenas propriedades onde é praticado o policultivo, ou seja, o cultivo de diferentes espécies. Já nas grandes propriedades, onde se pratica o agronegócio11, a mão de obra é contratada, e a produção, altamente mecanizada. Além disso, uma característica marcante é o monocultivo, ou seja, o cultivo de uma única espécie. Embora as propriedades sejam menores, em termos gerais, na agricultura familiar trabalham mais pessoas do que na agricultura não familiar. Existem estabelecimentos rurais de propriedade familiar que vendem sua produção para grandes empresas agrícolas. No entanto, é a agricultura familiar que produz uma parcela significativa dos alimentos consumidos no Brasil. Pode-se dizer que a agricultura familiar garante o abastecimento de produtos básicos. Estes, porém, não geram muita renda aos produtores, motivo pelo qual não são cultivados pelos empresários do agronegócio. Os grandes latifúndios são destinados à produção em larga escala de mercadorias destinadas principalmente ao mercado externo, como soja, algodão, milho e cana-de-açúcar. Condições de Trabalho no Campo Estrutura Agrária Brasileira A propriedade de terras é uma questão importante no Brasil desde o período colonial. Devido ao papel da agricultura em nossa economia, é por meio da terra que historicamente se produziu e acumulou riquezas no país. Até hoje, é da agricultura e da pecuária que vem grande parte de nosso Produto Interno Bruto (PIB). 10 FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015. 11 Agronegócio é a denominação das atividades comerciais e industriais que envolvem a produção de alimentos em larga escala, desde o cultivo na propriedade rural até a chegada aos consumidores. e. A agropecuária, a estrutura fundiária e problemas sociais rurais no Brasil, dinâmica das fronteiras agrícolas e sua expansão para o Centro-Oeste e para a Amazônia. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 39 Sesmarias no Período Colonial O primeiro mecanismo oficial de distribuição de terras no território brasileiro foi o sistema de doação de sesmarias, enormes parcelas de terra que eram concedidas pela Coroa Portuguesa ou pelo governador-geral, visando promover a colonização de terras e implantar o sistema de plantation na colônia. As sesmarias vigoraram no Brasil até 1822, ano de sua independência. Obviamente, essa concessão de terras abrangia apenas as pessoas nobres ou ricas – que possuíam algum tipo de relação com a Coroa portuguesa e teriam condições de desenvolver economicamente suas propriedades. Nesse caso, as doações de sesmarias correspondiam às áreas produtivas e já exploradas no litoral ou próximas dessa região. Ao receber uma sesmaria na Colônia e produzirem suas terras, o proprietário tinha o direito de posse por toda a vida, repassando-as para seus herdeiros depois da sua morte. Nesse contexto, a Colônia assistia à formação de uma elite, composta por famílias que concentravam em suas mãos as maiores terras e, consequentemente, a riqueza local oriunda da exportação do açúcar que produziam. Apesar da necessidade de concessão por parte da Coroa ou do governador-geral para obtenção de sesmarias, essa não era a única forma de se conseguir a posse de terras na Colônia. Devido à abundância de áreas inexploradas no território e ao baixo número de habitantes europeus na Colônia, as terras do interior não possuíam valor comercial. Outro aspecto referente à propriedade de terras nesse período diz respeito à mão de obra disponível. Para produzir em grande escala, era necessário o uso intenso de trabalhadores – os africanos escravizados. Os maiores proprietários rurais eram aqueles que possuíam maior número de escravos. Por isso, na condição de mais ricos da colônia, os maiores proprietários de terra eram aqueles que podiam comprar mais escravos. As pessoas que penetravam no interior do território e se mostravam dispostas a enfrentar indígenas e a desbravar as áreas virgens podiam ocupar um pedaço de terra, no qual podiam produzir a fim de conseguir a sua posse. Mesmo assim, apesar de ter a posse não contestada da terra, esses colonos não possuíam a propriedade legal, uma vez que ela só era obtida por meio de uma concessão oficial. A partir daí, surgiu no Brasil a figura do posseiro – pessoa que ocupa uma área territorial para obter a sua posse, mas sem ter a sua propriedade. Geralmente, os posseiros eram colonos que não possuíam capital para comprar escravos e, por isso, tinham uma produção de pequena escala voltada para a subsistência ou para o abastecimento do mercado interno. Dessa forma, no período colonial, coexistiam grandes latifúndios de famílias ricas ligadas ao poder local e pequenas propriedades pertencentes aos camponeses locais. Surgimento do Trabalho Assalariado e a Lei de Terras No dia 4 de setembro de 1850 foi assinada a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos no Brasil. Apesar de não ter surtido efeito prático imediato, a Lei Eusébio de Queirós foi um marco no processo de abolição da escravidão no país. Ao criar uma perspectiva de término desse tipo de relação de trabalho, ela estimulou o surgimento do trabalho assalariado no território brasileiro. Nesse contexto, a Lei de Terras foi assinada no mesmo mês. Mesmo com a independência do Brasil e a formação do Estado brasileiro, em 1822, não houve nenhuma política de regulamentação das propriedades rurais até a criação da Lei de Terras em 1850. Até então, deu-se continuidade ao processo de obtenção de terras por meio da posse, sem a sua devida documentação. Além de propor a regularização das propriedades não documentadas no país, a Lei de Terras buscou criar uma política para regulamentar a apropriação das terras não exploradas. Com ela, estabeleceu-se que as terras não exploradas passariam a pertencer ao Estado e só poderiam ser adquiridas por meio da compra – e não mais pela ocupação e exploração do território. Segundo a Lei de Terras, para realizar esse processo, os posseiros deveriam legalizar as suas terras em cartórios localizados nas cidades, os quais, na época, eram de difícil acesso para a população rural, pois não havia facilidades de deslocamentos como hoje em dia. Além disso, a maioria deles não possuía recursos para pagar taxas de registro e oficializar sua propriedade. Os proprietários não legalizados (os posseiros) deveriam registra-las em cartórios para regularizar a sua documentação. Caso contrário, a propriedade da terra não seria reconhecida. Ao definir a compra como a única forma de obtenção de terras, o Estado excluiu a possibilidade da população pobre como posseiros, ex. escravos, tornar-se proprietário rural. Em contrapartida, favorecia a minoria rica do país, que se via em condições de adquirir as maiores e melhores terras. Isso resultou no monopólio das terras nas mãos de uma minoria a abundância de trabalhadores livres necessária para substituir futuramente os escravos. Além de alto número de terras ocupadas sem registro legal, suas demarcações eram feitas de modo impreciso. Os limites das propriedades, eram, muitas vezes, vagamente definidos por elementos naturais Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 40 como rios, quedas d’agua ou morros. Esse cenário foi agravado pelo início de um intenso processo de apropriação ilegal de terras no país denominado grilagem de terra. Muitos apropriaram-se das facilidades políticas e dos conhecimentos legais que possuíam para registrar terras que não lhes pertenciam – fossem elas ocupadas por posseiros, indígenas ou de propriedade do Estado. Em um contexto no qual a grande maioria da população era analfabeta, os únicos aptos a produzir tais documentos eram os integrantes da minoria letrada do país. Em muitos casos, essas terras não foram incorporadas com fins produtivos. Ao se apropriarem delas, os grileiros tinham como objetivo esperar a sua valorização para, posteriormente, vendê-las a um preço alto. Devido ao seu caráter excludente com relação à distribuição de terras, a Lei de Terras resultou em uma estrutura fundiária extremamente desigual e que se perpetua até os dias de hoje no Brasil. Movimentos Sociais e a Reforma Agrária A má distribuição de terras foi responsável por uma série de problemas nas zonas rurais brasileiras. A difusão do processo de grilagem resultou na expulsão forçada de diversos posseiros de suas terras. Naturalmente, os posseiros não costumavam aceitar passivamente a expulsão das terras que ocupavam há anos, ou mesmo há gerações. Os conflitos envolvendo a disputa por terras costumavam ser resolvidos por meio da intimidação e, principalmente, da violência física. Outro aspecto relacionado à concentração fundiária no Brasil diz respeito à pobreza no campo. Esse fenômeno é consequência da existência de uma massa de trabalhadores rurais conhecidos como sem- terra, que, para sobreviver, dependem de trabalhos com salários significativamente baixos. Além desse fator, as condições de vida do trabalhador rural são agravadas pelo desenvolvimento tecnológico no campo. O uso cada vez maior de máquinas reduz a necessidade de contratação de muitos trabalhadores, o que aumenta o desemprego no campo. Debate sobre a reforma agrária no Brasil Os problemas envolvendo a má distribuição de terras motivaram o debate sobre a necessidade ou não de se fazer uma reforma agrária no país. Reforma agrária consiste em uma proposta de mudança na política de distribuição de terras, feita com o objetivo de diminuir ou acabar com a concentração fundiária – e assim reduzir os impactos sociais negativos acarretados por ela. A questão da reforma agrária é abordada na atual Constituição brasileira, de 1988. Nela, afirma-se que as propriedades rurais que não cumprem sua função social, por serem improdutivas, devem ser desapropriadas pelo Estado e distribuídas para trabalhadores sem-terra. Com isso espera-se que haja diminuição da desigualdade social no campo e o aumento da produtividade agrícola no país. De fato, a concentração de terras pode acarretar em uma menor produtividade, já que, devido às suas condições econômicas e ao tamanho de suas terras, os pequenos agricultores veem-se obrigados a produzir o máximo em suas propriedades de modo a garantir a maior renda possível. Em contrapartida, muitos dos grandes produtores se dão ao luxo de não produzir em toda a área de suas propriedades. Devido ao caráter mercadológico que a propriedade fundiária adquiriu após a Lei de Terras, desenvolveu-se no país uma prática de especulação, por meio da qual grandes proprietários mantêm vastas áreas improdutivas, com o intuito de revende-las quando estiveremvalorizadas. Ao garantir maior produtividade agrícola, a reforma agrária também implicaria no aumento da oferta de alimentos no país e, com isso, poderia provocar uma diminuição do preço desses produtos. Enquanto a produção dos latifúndios é voltada para o mercado externo, são os pequenos produtores os responsáveis pela maior parte do abastecimento de alimentos no mercado interno nacional. Polêmicas da Reforma Agrária A vida e a economia no campo brasileiro carregam uma série de contradições. Por um lado, a produção agrícola para exportação apresenta um alto grau de desenvolvimento tecnológico e uso de mecanização. Essa atividade também possui grande participação na economia brasileira, sendo responsável por boa parte das exportações. Porém, é nas zonas rurais que se encontram as regiões mais pobres do país, onde as condições de trabalho são as piores. Da mesma forma, existem muitos pequenos produtores que não têm condições financeiras de desfrutar do desenvolvimento tecnológico nas suas produções, contrastando com os grandes produtores. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 41 A proposta de reforma agrária implica uma distribuição mais justa das terras que, espera-se, resultar em um número maior de pessoas empregadas no campo. Como consequência, haveria uma diminuição significativa do êxodo rural12. Mesmo assim, apesar do alto número de terras improdutivas no país, pouco se fez pela reforma agrária ao longo da História brasileira. Obviamente, mesmo com os benefícios sociais que seriam alcançados, as políticas de distribuição de terras prejudicariam os interesses econômicos de diversos grupos. Não se pode esquecer de que a exportação agrícola baseada no cultivo em latifúndios ainda é responsável pela maior parte da economia brasileira. Por isso, alguns grupos defendem que a distribuição de terras seria prejudicial ao país, pois diminuiria a arrecadação obtida por meio da economia agroexportadora. Outra questão polêmica envolvendo a reforma agrária diz respeito aos critérios de classificação do que seriam terras improdutivas ou que produzem abaixo de sua capacidade. No caso da pecuária, por exemplo, os defensores da reforma agrária argumentam que existem muitas terras subaproveitadas. De fato, existe no Brasil um número alto de fazendas em que uma cabeça de gado ocupa, em média, uma área maior do que um minifúndio ou uma pequena propriedade. Por outro lado, os proprietários alegam que estão produzindo no local e, por isso, não deveriam perder sua terra. No Brasil, a desigualdade social no campo está diretamente relacionada à concentração fundiária e, assim como em outros lugares do mundo, tal desigualdade provocou uma série de mobilizações sociais. O principal movimento social organizado de camponeses no mundo é a Via Campesina. Essa organização internacional, criada em 1993, é composta por mais de 170 movimentos sociais ligados à terra de países da América, Ásia, Europa e África. Entre os seus integrantes estão milhões de trabalhadores rurais sem-terra, pequenos e médios proprietários, indígenas e migrantes que se opõem ao agronegócio vigente em muitos países pobres ou emergentes. Eles defendem o incentivo ao pequeno produtor e a distribuição de terras, de modo a atingir um modelo de produção socialmente mais justo e menos impactante ao meio ambiente. No Brasil, os movimentos sociais de luta pela terra foram historicamente combatidos tanto pelo Estado como pelos grandes proprietários de terra. Esses movimentos abrangem tanto comunidades indígenas como posseiros e trabalhadores rurais sem terra. Ao longo da história, as disputas por terra no país foram marcadas pela violência e pela apropriação à força dos territórios. Alguns dos primeiros expoentes dessa luta no Brasil foram as Ligas Camponesas, criadas pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Elas tiveram uma atuação política intensa ao Nordeste durante as décadas de 1950 e 1960, período em que muitas de suas lideranças foram assassinadas. Com o governo militar (1964 -1985) a perseguição contra as Ligas Camponesas se intensificou e suas atividades rapidamente se extinguiram. Porém, apesar do fim das Ligas Camponesas, a luta pela terra continuou durante o período da ditadura militar. Nos anos 1970, os principais conflitos ocorreram na Amazônia, entre posseiros, indígenas e grileiros. Eles se deram, em grande parte, devido às políticas do Estado brasileiro de incentivo ao desenvolvimento da agropecuária na região, o que motivou o interesse de grandes empreendedores sobre as terras locais. Nessa época foram criadas importantes organizações sociais vinculadas à Igreja Católica, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – a primeira ligada aos colonos e posseiros, e a segunda, aos indígenas. Hoje em dia, a principal organização de camponeses do Brasil é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Esse movimento social foi criado na década de 1980 e tem como principal bandeira a luta pela reforma agrária no país. A principal forma de ação do MST é a ocupação de terras. Essa prática costuma ocorrer em latifúndios considerados improdutivos ou com histórico de grilagem. Por isso, essas práticas costumam ser mais intensas na região Norte do país, onde os índices de grilagem e terras improdutivas são maiores. Ao ocupar as terras, os integrantes do MST constroem acampamentos nas propriedades, podendo se estabelecer lá por anos até conseguirem sua posse por meio do Estado ou serem expulsos pelos proprietários. Além das ocupações, o MST promove outros tipos de ações, como marchas, ocupações de prédios públicos, acampamentos em cidades e manifestações. Por ser a sede do poder político brasileiro, Brasília é geralmente escolhida para sediar esses atos. As ações políticas do MST são alvo de muitas críticas por parte de diversos setores da sociedade brasileira. A maior parte delas diz respeito às ocupações de terras que o movimento alega serem 12 Êxodo rural é o termo pelo qual se designa a migração do campo por seus habitantes, que, em busca de melhores condições de vida, se transferem de regiões consideradas de menos condições de sustentabilidade a outras, podendo ocorrer de áreas rurais para centros urbanos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 42 improdutivas, condição tal negada pelos proprietários. Por isso, é comum os opositores do movimento chamarem esses atos de invasões e não de ocupações. A maior parte dos conflitos relacionados ao MST envolve os proprietários que tiveram suas terras ocupadas, ou invadidas, e o Estado na busca da garantia e da defesa do direito à propriedade provada. Esses conflitos costumam ser violentos e muitas vezes resultam em mortes. Se, por um lado, os movimentos sociais estruturam organizações para reivindicarem seus direitos, assim o fazem também os fazendeiros, chamados de ruralistas. Desde 1985 eles organizam-se na União Democrática Ruralista (UDR), associação de fazendeiros que luta pelos direitos da propriedade privada no campo. As entidades dos movimentos sociais e a UDR opõem-se declaradamente, pois seus objetivos são conflitantes. Interdependência entre Campo e Cidade Muitas vezes, cidade e campo são concebidos como lugares opostos. Assim, a cidade seria o espaço do desenvolvimento, das tecnologias e da modernização, onde se encontram as infraestruturas mais modernas e as condições de vida são melhores. Em contrapartida, o campo muitas vezes é idealizado como um lugar pouco desenvolvido, onde as infraestruturas e as tecnologias são menos avançadas e as condições de vida são piores. Porém, no campo, coexistem a riqueza e a pobreza, bem como a modernização associada ao desenvolvimento tecnológico. O mesmo ocorre nas cidades, onde é possível notar uma grande desigualdade social que se reflete nas condições de vida da população e nos tiposde serviços acessíveis a ela. Historicamente, zonas urbanas e zonas rurais sempre se relacionaram de alguma forma. Por serem locais de prática do comércio, é nas cidades que se comercializa a produção agrícola do campo. Por outro lado, elas dependem das regiões rurais para abastece-las com alimentos e outros tipos de produtos agrícolas indispensáveis à vida e ao dia a dia das pessoas. Das zonas rurais são obtidas as matérias- primas utilizadas na fabricação de produtos que são consumidos principalmente pela população urbana. Áreas Produtivas e as Questões Ambientais Se, por um lado, a estrutura da produção agropecuária moderna envolve o uso de máquinas e técnicas com avançadas tecnologias, por outro implica em sérias questões ambientais. O modelo atual explora os recursos naturais de tal forma que muitas vezes leva-os ao esgotamento. O desmatamento é uma prática muito comum para a realização da agropecuária. A retirada da cobertura vegetal resulta em inúmeras consequências: redução da biodiversidade, erosão e redução dos nutrientes do solo, assoreamento dos corpos hídricos, entre outros. No caso da pecuária, além da retirada da cobertura vegetal e de sua substituição por pastagens, o pisoteio do rebanho de animais provoca a compactação dos solos, o que dificulta a infiltração de água no terreno. Além do desmatamento, em algumas áreas também é comum a utilização de queimadas, o que pode trazer inúmeros danos, como a perda de fertilidade do solo. Outro agravante muito discutido é a utilização de insumos químicos – fertilizantes, inseticidas e herbicidas, conhecidos como agrotóxicos -, que causam contaminação do solo e das águas. Os insumos são conduzidos pelas águas da chuva: uma parte penetra no solo, atinge o lençol freático e o contamina, e outra parte é levada até os mananciais. Desde 2008, o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no planeta. Sistemas Agroflorestais Com o crescimento dos danos ambientais provocados pelo modelo agrícola atual, muitas pessoas vêm buscando criar e resgatar alternativas de produção de alimentos de forma a gerar menos impactos ao meio ambiente. Uma dessas alternativas é chamada de agroflorestal. Um Sistema Agroflorestal, também chamado de SAF, é um tipo de uso da terra no qual se resgata a forma ancestral de cultivo, combinando árvores com cultivos agrícolas e/ou animais. A agrofloresta busca utilizar ao máximo todos os recursos naturais disponíveis no local, sem recorrer a agentes externos, como insumos químicos. Assim, torna-se um sistema extremamente benéfico ao meio ambiente, além de muito mais barato para o agricultor, já que elimina os gastos com insumos químicos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 43 Expansão da Fronteira Agrícola O conceito de fronteira agrícola é utilizado para designar as áreas limítrofes entre o chamado meio natural e o local onde se praticam atividades agropecuárias. A tendência dessas áreas é a de se expandir constantemente, acompanhando o ritmo da produção agrícola. A expansão da fronteira agrícola traz uma série de mudanças no espaço geográfico, implicando uma nova organização espacial. São ampliadas infraestruturas de transporte, comunicação e geração de energia, o que eleva a concentração populacional e impulsiona o desenvolvimento econômico das regiões em questão. No Brasil, a partir da década de 1960, houve o avanço da fronteira agrícola para a Região Centro- Oeste, estimulados pelos projetos do governo federal de ocupação e desenvolvimento do interior do país. Nesse período, foram oferecidos diversos incentivos, como créditos agrícolas e vendas de lotes de terra a preços baixos, com o objetivo de atrair agricultores do Sul, Sudeste e Nordeste para a região. Atualmente, a fronteira agrícola expande-se em direção à Amazônia. A expansão traz sérios danos ambientais, como o desmatamento e poluição dos solos e dos rios. Além disso, como a expansão da fronteira agrícola geralmente é baseada na mecanização e na utilização de insumos químicos, o que agrava o problema da questão fundiária, já que pequenos proprietários rurais são obrigados a vender suas terras por não terem condições de arcar com os custos da produção. Revolução Verde A partir dos anos 1960, o espaço agrícola brasileiro passou por intensas mudanças, ligadas principalmente à implantação de novas tecnologias na agropecuária. Essas transformações estão ligadas a um processo mundial, conhecido como Revolução Verde. A Revolução Verde iniciou-se na década de 1950, nos Estados Unidos, e consistia na aplicação da ciência ao desenvolvimento de técnicas agrícolas com o objetivo de aumentar a produtividade da agricultura e da pecuária. Nas décadas seguintes, esse conjunto de mudanças foi implantado em vários países, inclusive no Brasil, com o objetivo de erradicar a fome por meio do aumento na produção de alimentos. A indústria química desenvolveu os agrotóxicos. Os laboratórios de genética criaram sementes padronizadas e mais resistentes a doenças, pragas e aos próprios agrotóxicos. A indústria mecânica desenvolveu tratores, colheitadeiras e outros equipamentos para o plantio, a colheita e a criação de animais. Esse conjunto de transformações tinha como objetivo aproximar a agricultura de um padrão industrial de produção. Portanto, uma das propostas da Revolução Verde era a adoção do mesmo padrão de cultivo em todos os lugares do mundo, desconsiderando as variações locais das condições naturais, como o clima ou a fertilidade natural do solo, e as necessidades e possibilidades dos agricultores. A adoção de monoculturas, largas propriedades de terra destinadas ao cultivo de uma única espécie, foi outra medida imposta pela Revolução Verde, já que a eficiência dos insumos químicos e do maquinário dependia da uniformidade do cultivo. No Brasil, a implantação da Revolução Verde foi estimulada por meio de políticas públicas que promoviam o financiamento e a assistência técnica aos produtores rurais, oferecendo créditos e subsídios. Houve um significativo aumento na produção, maior até que o aumento na área plantada. Isso porque os cultivos tornaram-se mais produtivos. No entanto, tal processo foi feito às custas de danos ao meio ambiente e de aumento de desemprego no campo, já que muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas. Esse processo de modernização da agricultura não se deu de forma uniforme e igualitária ao longo do território brasileiro. Além disso, gerou desemprego e concentração de renda, beneficiando somente os grandes produtores. Transgênicos, biotecnologia e agroindústria Nas áreas onde se implantaram as técnicas agrícolas consideradas modernas, observou-se a concentração de indústrias de equipamentos agrícolas e de agrotóxicos e também de estabelecimentos comerciais. Além disso, houve a rápida instalação e expansão das chamadas agroindústrias, que têm como objetivo transformar gêneros agrícolas e pecuários em produtos industrializados. Por isso, geralmente, estão localizadas nas proximidades dos lugares onde se produz tais gêneros, o que reduz significativamente o custo com transporte da matéria-prima. Com o desenvolvimento e avanço da ciência, novas técnicas foram criadas e incorporadas às práticas agrícolas. Uma das mais polêmicas é a biotecnologia, o desenvolvimento de técnicas voltadas à Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 44 adaptação ou ao aprimoramento de características de organismos vivos, animais e vegetais, visando torna-los mais produtivos. Por meio dessas técnicas é possível, por exemplo, cultivar plantas de clima temperado em lugares de clima tropical, acelerar o ritmo de crescimento de plantas e animais, aumentar o tempo entre o amadurecimento e a deterioração das frutas, entre tantas outras mudanças. Em meados da década de 1990, surgiu um novo ramo dentro da biotecnologia, ligado à pesquisados genes dos organismos, o qual gerou um dos campos mais controversos da agricultura moderna: a produção e manipulação de transgênicos. Eles são gerados por meio de técnicas que possibilitam a introdução de um gene ou de um grupo de genes em um organismo. Esses genes podem ser de outra variedade, espécie, gênero, ou até mesmo de até mesmo de outro reino. Como por exemplo, a utilização de sementes transgênicas que está atrelada a um pacote tecnológico que envolve a utilização de maquinários, agroquímicos e monocultura associada a grandes propriedades. Os agricultores ficam condenados a utilizar esse pacote tecnológico no momento em que adquirem a semente transgênica, justamente para garantir a sua produtividade. Essas sementes modificadas são programadas para não se reproduzirem depois de determinada geração, o que obriga o produtor a adquiri novas sementes constantemente. Além disso, os laboratórios que desenvolvem tais técnicas fazem parte de grandes conglomerados agroindustriais que se fortalecem a cada dia. Muitas vezes, os fabricantes de sementes transgênicas são os mesmos que fabricam agrotóxicos e fertilizantes. Não existem estudos conclusivos sobre os impactos dos transgênicos na saúde humana. Depois de fortes pressões exercidas por movimentos sociais que lutam contra a difusão dos transgênicos, o governo federal criou uma lei que obriga as agroindústrias a identificar as embalagens dos alimentos que contêm transgênicos com um símbolo. Questões 01. (IPERON/RO – Tecnologia da Informação – UERR/2018) O processo denominado de expansão da fronteira agrícola possui diferentes fases históricas de ocorrência. Atualmente, a expansão da fronteira agrícola promove diversas consequências, com maior ou menor impacto. Entre as alternativas a seguir, a que melhor apresenta a principal consequência da expansão da fronteira agrícola é: (A) ampliação das unidades de conservação ambiental para mais de 70% do território. (B) diminuição das áreas agrícolas e aumento das áreas urbano-industriais. (C) degradação ambiental com desmatamento das vegetações naturais. (D) manutenção permanente das paisagens naturais da floresta amazônica. (E) substituição da floresta amazônica pelas espécies típicas do cerrado. 02. (IF/MT – Professor de Geografia – UFMT) Sobre a Geografia Agrária, assinale a afirmativa INCORRETA. (A) Dentre os agentes que compõem a questão agrária no Brasil, estão os latifundiários, os agricultores familiares/camponeses. (B) A Lei de Terras de 1850 possibilitou que o processo de acesso à terra no Brasil fosse facilitado para os nativos do país. (C) Dentro dos estudos da geografia agrária na geografia brasileira, muitos se concentram no Paradigma da Questão Agrária (PQA) e no Paradigma do Capitalismo Agrário (PCA). (D) A política fundiária brasileira assume que a função social da terra é produzir, portanto, se um estabelecimento não cumprir essa função, poderá ser desapropriado. 03. (UNESP – Assistente em Engenharia Ambiental – VUNESP) O uso de agrotóxicos, sem dúvida, foi um dos fatores que contribuiu para o aumento da produção agropecuária por meio do controle de pragas e doenças. Hoje, porém, discute-se como aumentar a produção agropecuária orgânica, pois o uso de agrotóxicos (A) é uma tecnologia ultrapassada, somente utilizada em países subdesenvolvidos. (B) sempre intoxica os seres humanos que utilizam produtos dessa cadeia alimentar. (C) pode contribuir para contaminação ambiental em larga escala. (D) estimula o desenvolvimento de outras metodologias mais caras para produção de alimentos. (E) melhora a qualidade do solo e garante o aumento no número de empregos nas áreas rurais. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 45 Gabarito 01.C / 02.B / 03.C Comentários 01. Resposta: C A expansão traz sérios danos ambientais, como o desmatamento e poluição dos solos e dos rios. 02. Resposta: B Através da Lei de Terras a terra se transformava em uma mercadoria de alto custo, acessível a uma pequena parte da população brasileira. Com isso, pessoas com condição financeira inferior, como ex escravos, imigrantes e trabalhadores livres, tinham grandes dificuldades em obter um lote, legitimando o desmando e a ampliação de terras dos grandes proprietários. 03. Resposta: C Um agravante muito discutido é a utilização de agrotóxicos, que causam contaminação do solo e das águas. Os mesmos são conduzidos pelas águas da chuva: uma parte penetra no solo, atinge o lençol freático e o contamina, e outra parte é levada até os mananciais. ASPECTOS DA POPULAÇÃO BRASILEIRA13 A população do Brasil foi formada após a ocupação portuguesa, principalmente de povos nativos ou indígenas, africanos e europeus. Nesse período, a maior parte dos africanos tinha origem etnolinguística banto e ioruba, enquanto os europeus eram oriundos especialmente de Portugal, mas, em menor número, também da França, dos Países Baixos, do Reino Unido, entre outros. Desde meados do século XIX até os dias atuais, a população brasileira teve influência de variados povos que imigraram em épocas diferentes para o país em busca de melhores condições de vida. São exemplos os europeus, como italianos, espanhóis, alemães e poloneses; os asiáticos vindos do Japão, da Coreia do Sul e de países do Oriente Médio; os latino-americanos vindos principalmente da Bolívia, do Chile e do Haiti; além dos africanos de distintas nacionalidades, como moçambicanos, guineenses, angolanos e cabo-verdianos. Primeiros Habitantes A quantidade de indígenas que ocupava o que é hoje o território brasileiro antes da chegada dos portugueses ainda não é consenso entre os pesquisadores. As etnias com maiores populações e que ocupavam as maiores extensões territoriais eram a jê e a tupi-guarani. É inquestionável, entretanto, que, de 1500 aos dias atuais, os indígenas sofreram intenso genocídio. No passado, as causas principais foram as doenças trazidas pelos europeus, para as quais os nativos não tinham imunidade, e os conflitos com os colonizadores. Havia ainda as guerras entre diferentes nações indígenas, que se intensificavam quando alguns grupos fugiam das regiões ocupadas pelos europeus em direção a terras de outros povos, ou quando alguns grupos se aliavam militarmente a portugueses, franceses e holandeses para lutar contra nações inimigas. Muitos povos também sofreram etnocídio14, pois passaram a adotar hábitos dos colonizadores, como falar outra língua, professar uma nova religião e alterar o próprio modo de vida, como a vestimenta e a alimentação. De acordo com a Funai e o Censo demográfico do IBGE, em 2010, a população de origem indígena estava reduzida a 817 mil indivíduos (0,4% da população total do país), distribuídos entre 505 terras indígenas e algumas áreas urbanas e concentrados principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Essas estimativas revelaram também que há pelo menos 107 referências de grupos isolados, isto é, que não estabeleceram contanto com a sociedade brasileira. 13 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018. 14 Etnocídio é a destruição da cultura de um povo. f. A população brasileira: evolução, estrutura e dinâmica. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 46 Somente a partir da metade do século passado verificou-se uma tendência de aumento desse contingente, principalmente em razão da demarcação de terras indígenas que em 2018 ocupavam 12,5% do território brasileiro. A Constituição Federal assegura aos indígenas o direito à terra: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Apesardisso, a invasão de terras indígenas é uma realidade que esses povos continuam enfrentando até os dias atuais. Em 2010, 39% dos indígenas viviam em áreas urbanas e 61%, na zona rural. A taxa de crescimento da população indígena, de 3,5% ao ano, era bem superior à média da população não indígena, de 0,8%. Entre as 305 etnias existentes no país, os Yanomami ocupavam a terra indígena mais populosa, com 25,7 mil habitantes, distribuídos entre os estados do Amazonas e de Roraima. A etnia ticuna (AM) é a mais numerosa, com 46 mil pessoas distribuídas por várias terras esparsas, seguida dos Guarani Kaiowá (MS), com 43 mil membros. Os grupos indígenas isolados não foram contabilizados no Censo 2010 em razão da política de preservação cultural. Povos Indígenas: Condições de Vida Brasil: Terras Indígenas 2017/2018 http://brasildebate.com.br/demarcacao-e-disputa-pelas-terras-indigenas/ A criação de parques e terras indígenas, onde ficam asseguradas as condições de vida em comunidade dos povos nativos, constitui o reconhecimento do direito de existência de culturas distintas, com valores e costumes próprios. O princípio que embasa a demarcação dessas terras é o fato de que os indígenas foram os primeiros habitantes desse território. Esse tipo de garantia é importante por causa da visão de mundo de diversas nações indígenas. A terra é considerada a base do grupo por ser o lugar onde reproduzem a cultura, desenvolvem sua organização social e jazem seus ancestrais. Formação da População Brasileira Desde o século XVI, início da colonização, os portugueses foram se fixando no Brasil. Entre 1532 e 1850, os africanos foram trazidos forçadamente para o território brasileiro. Depois de 1870, a imigração de europeus, asiáticos e latino-americanos foi ampliada e, com isso, o país foi sendo povoado e novas famílias se formaram. Os descendentes de todos esses povos compõem o povo brasileiro atual. Como a População Brasileira se Identifica Segundo o IBGE, o percentual de pessoas que se consideram brancas tem caído e o número das que se consideram pretas caiu de 1950 a 1980 e voltou a aumentar em 2010. Já a auto identificação como parda está crescendo desde a década de 1950. Isso pode indicar que o processo de aceitação e de Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 47 valorização da identificação afrodescendente da população brasileira tem se ampliado nas últimas décadas. Os dados levantados pelo IBGE refletem a forma como as pessoas se identificam. Nem sempre os pardos se declararam como tal, havendo muitos que se declaravam como brancos. Além disso, o Censo 2010 foi o primeiro a oferecer a opção “indígena” como auto identificador. Existem ainda muitas pessoas que, por particularidades culturais, não se identificam com nenhuma das cindo opções oferecidas para enquadramento da resposta (branca, preta, amarela, parda e indígena). A espécie humana é única, não existem raças. O conceito de raça (além do de cor, que seria expressão fenotípica de um indivíduo), como aparece nas pesquisas e relatórios do IBGE, não tem embasamento biológico; ele corresponde a uma construção social ao longo da história. Imigração Internacional (Forçada e Livre) Como a Coroa portuguesa não fazia registros oficiais do tráfico de pessoas escravizadas, não existem dados precisos sobre o número de africanos que ingressaram no Brasil, quais foram os anos de maior fluxo, por qual porto entraram e de que lugar da África vieram. Segundo estimativas, ingressaram no país pelo menos 4 milhões de africanos entre 1550 e 1850, a maioria proveniente do golfo de Benin e das regiões que atualmente compreendem os territórios de Angola (ao sul do continente, costa ocidental) e Moçambique (também ao sul, costa oriental). A participação brasileira no total de escravizados por destino mundial é muito grande, o mesmo ocorrendo com o Rio de Janeiro e São Paulo em relação à quantidade de escravizados para o Brasil. Entre as correntes migratórias livres a mais importante foi a portuguesa, que se estendeu até os anos 1980 e voltou a acontecer depois da crise econômica mundial iniciada em 2008, com a vinda de profissionais qualificados em busca de empego. Além de serem numericamente mais significativos, os imigrantes portugueses espalharam-se por todo o território nacional. Até 1883, a segunda maior corrente de imigrantes livres foi a italiana, que nessa época se dirigiu aos cafezais do Sudeste; a terceira, a alemã, que se concentrou no Sul, em colônias; e a quarta, a espanhola, que se dirigiu a várias cidades do Sudeste e Sul do país. A partir de 1850, a expansão dos cafezais pelo Sudeste e a necessidade de efetiva colonização da região Sul levaram o governo brasileiro a criar medidas de incentivo à vinda de imigrantes europeus para substituir a mão de obra escravizada. Algumas das medidas adotadas e divulgadas na Europa foram o financiamento da passagem e a suposta garantia de emprego, com moradia, alimentação e pagamento anual de salários. Embora atraente, essa propaganda governamental revelou-se enganosa e escondia uma realidade perversa: a escravidão por dívida. A saída do imigrante da fazenda somente seria permitida quando a dívida fosse quitada. Como não tinha condições de pagar o que devia, ele ficava aprisionado no latifúndio, vigiado por capangas. Essa prática, de escravidão por dívida, é comum até hoje em vários estados do Brasil, sobretudo na região Norte. Além dos cafezais da região Sudeste, outra grande área de atração de imigrantes europeus, com destaque para portugueses, italianos e alemães, foi o Sul do país. Nessa região, os imigrantes ganhavam a propriedade da terra, onde fundaram colônias de povoamento. Os espanhóis não fundaram colônias; em vez disso espalharam-se pelos grandes centros urbanos de todo o Centro-Sul brasileiro, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1908, aportou em Santos a primeira embarcação trazendo colonos japoneses. O destino de quase todos foram as lavouras de café do oeste do estado de São Paulo e do norte do Paraná; alguns se instalaram no vale do Ribeira (SP) e ao redor de Belém (PA). Da década de 1980 até 2008/2009, porém, alguns descendentes de japoneses passaram a fazer o caminho inverso de seus ancestrais, emigrando em direção ao Japão como trabalhadores, e a ocupar postos de trabalho menos procurados por cidadãos japoneses, geralmente em linhas de produção industrial. Essas pessoas são conhecidas como decasséguis (do japonês deru, “sair”, e kasegu, “para trabalhar”). Com a crise econômica mundial que se iniciou em 2008 e o aumento do desemprego no Japão, esse fluxo se estagnou, e muitos decasséguis retornaram ao Brasil. As correntes imigratórias de menor expressão numérica incluem judeus, espalhados pelo Brasil e oriundos de diversos países, principalmente europeus; árabes, sírios e libaneses, também distribuídos pelo país; chineses e coreanos, mais concentrados em São Paulo; eslavos, sobretudo poloneses, lituanos e russos, mais concentrados em Curitiba e outras cidades paranaenses. Há também sul-americanos, com argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivianos, venezuelanos e chilenos, a maioria na Grande São Paulo; e haitianos e pessoas de vários países africanos, com destaque para Angola, Cabo Verde e Nigéria. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 48 Migração (Movimentos Internos) Segundo dados do IBGE, em 2015, 38% dos habitantes do Brasil não eram naturais do município em que moravam, e cerca de 15% deles não eram procedentes da unidade da federação em que viviam. Esses dados revelam que predominam os movimentos migratórios dentro do estado de origem. Atualmente há um crescimento dos fluxos urbano-urbano e intrametropolitano, isto é, aumenta o número de pessoas que migram de uma cidade para outra no mesmo estado ou em determinada região metropolitanaem busca de melhores condições de vida. Analisando a história brasileira, percebemos que, desde o século XVI, os movimentos migratórios estão associados a fatores econômicos. Quando o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste decaiu, por exemplo, se intensificou o do ouro em Minas Gerais, e muitas pessoas foram atraídas para este estado. Esses grandes deslocamentos provocam um intenso processo de urbanização na nova centralidade econômica do país. Mais tarde, com o ciclo do café e o processo de industrialização, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro se tornou o grande polo de atração de migrantes, que saíam da região de origem em busca de emprego ou de melhores salários. Somente a partir da década de 1970, por causa do processo de desconcentração da atividade industrial e da criação de políticas públicas de incentivo à ocupação das regiões Norte e Centro-Oeste, a migração para o Sudeste começou a apresentar significativa queda. Se determinada região do país começa a receber investimentos produtivos, públicos ou privados, que aumentam a oferta de emprego, em pouco tempo ela se torna polo de atração de pessoas. É o que acontece atualmente com os municípios de médio porte em vária regiões do país. Municípios médios e grandes do interior do Estado de São Paulo, como Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Sorocaba e São José do Rio Preto, e alguns menores apresentam índices de crescimento econômico maiores do que os da capital, o que gera atração populacional. Isso de deve ao desenvolvimento dos sistemas de transporte, energia e telecomunicações. Emigração Os movimentos de população sempre estão associados a fatores de repulsão e de atração e, muitas vezes, os emigrantes saem contrariados de seu país de origem. A partir da década de 1980, o fluxo imigratório do Brasil começou a se tornar negativo, ou seja, o número de emigrantes tornou-se maior do que o de imigrantes. Do início da década de 1980 até a crise mundial que começou em 2008, muitos brasileiros se mudaram para Estados Unidos, Japão e países da Europa (sobretudo Portugal, Reino Unido, Espanha e França), entre outros destinos, em busca de melhores condições de vida. Os principais motivos para a evasão eram os salários muito baixos pagos no Brasil, comparados aos desses países, e os índices elevados de desemprego e subemprego no país. Enquanto perdurou a crise econômica mundial iniciada em 2008, o Brasil passou a receber muitos imigrantes de países latino-americanos, com destaque para a Bolívia, Peru e Paraguai. Além disso, muitos brasileiros que moravam no exterior voltaram para o país. Dessa forma, naqueles anos, o Brasil deixou de ser um país onde predominava a emigração e passou a receber imigrantes em maior número, mesmo durante o período recessivo entre 2014 e 2017 e a crise econômica que se seguiu a ele. Há também um grande número de brasileiros estabelecidos no Paraguai, quase todos produtores rurais que para ali se dirigiram em busca de terras baratas e de uma carga tributária menor do que a brasileira. Aspectos da População Brasileira Nas últimas décadas o Brasil vem passando por significativas mudanças estruturais em sua composição demográfica, com uma tendência ao envelhecimento populacional. Isso ocorre, sobretudo, em razão da redução da taxa de fecundidade e do aumento da expectativa de vida. Essas transformações que provocam grandes impactos na sociedade e economia. Crescimento Vegetativo da População Brasileira A sociedade brasileira vem passando por expressivas mudanças em seu perfil demográfico. Até a década de 1990, as taxas de fecundidade eram altas, o que contribuía para que a maior parte da população brasileira fosse jovem. Nos últimos anos, a quantidade de filhos por mulher diminuiu de forma expressiva gerando reflexos diretos no crescimento populacional. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 49 Segundo os Indicadores de desenvolvimento sustentável 2017 do IBGE, em 2016 a taxa de fecundidade da mulher brasileira era de 1,7%, inferior aos 2,1% considerados pela ONU como nível de reposição. Essa é a média de filhos por mulher necessária para manter a população estável. Essa redução do número de filhos por mulher é consequência de uma série de fatores, como urbanização, desenvolvimento de métodos contraceptivos, melhoria de índices de educação, adoção de políticas públicas visando o planejamento familiar, maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho, e mudanças nos valores socioculturais, com destaque para a emancipação feminina. Entre 1950 e 1980, a população brasileira cresceu em média 2,8% ao ano, índice que projetava sua duplicação a cada 25 anos. Já de 2010 para 2015, o crescimento populacional caiu para 0,8% ao ano, e a projeção para a população duplicar aumentou para 87 anos. Da década de 1940 para a de 2010, o número médio de filhos por mulher diminuiu de 6,2 para 1,8. Paralelamente à redução acentuada da natalidade, a esperança de vida ao nascer tem aumentado. Esse aumento se dá em razão da melhoria das condições de vida da população e dos avanços na área da medicina e da saúde pública. Assim, por causa desse movimento paralelo, o Brasil encontra-se em um período de transição demográfica, que se intensificou a partir dos anos 1980. O número de crianças no total da população brasileira tem diminuído, enquanto o de jovens, adultos e idosos tem aumentado, em consequência da redução da fecundidade e do aumento da esperança de vida. Nas próximas décadas, o número de idosos continuará crescendo, enquanto o de crianças e jovens cairá. Essas alterações na composição etária da população indicam que o Brasil ingressou num período especial conhecido como janela ou bônus demográfico. Ele ocorre quando há predomínio de adultos no conjunto total da população em relação a crianças (0 a 14 anos) e idosos (65 anos ou mais). Isso aumenta o número de pessoas em idade produtiva e diminui a quantidade de dependentes, favorecendo o desenvolvimento econômico. Entretanto, o país não está aproveitando esse período de bônus demográfico de forma eficiente. Setores de saúde pública e educação básica, por exemplo, que poderiam criar condições estruturais melhores para o crescimento econômico, recebem poucos investimentos. O mesmo ocorre em setores de infraestrutura, como o de transportes. Estima-se que o percentual de brasileiros em idade produtiva deva aumentar até por volta de 2020 e depois comece a diminuir. O crescimento vegetativo no Brasil vem diminuindo, especialmente por causa do menor número de nascimentos. Em termos percentuais, a taxa de mortalidade brasileira já atingiu um patamar equivalente ao de países desenvolvidos, próximo a 6‰. Isso significa que seis habitantes morrem a cada grupo de mil ao ano. Segundo as projeções, a partir de 2042 a população brasileira deverá parar de crescer e passará a sofrer redução, porque o número de óbitos provavelmente será maior do que o de nascimentos. Conhecer essas mudanças no comportamento demográfico possibilita aos governos estabelecer planos de investimentos em áreas essenciais, como educação, saúde e previdência social, adequados ao perfil populacional. Por exemplo, saber que a população idosa vai aumentar expressivamente em relação à PEA leva à necessidade de o governo monitorar as regras da previdência social, uma vez que haverá menos trabalhadores contribuindo e um número maior de pessoas utilizando o sistema previdenciário (aposentados e pensionista). Além disso, o crescimento da população com idade acima de 60 anos exige, cada vez mais, maiores investimentos no sistema de saúde, pois em geral os idosos requerem mais cuidados médicos. Esperança de Vida e Mortalidade Infantil A esperança de vida ao nascer e a taxa de mortalidade infantil são importantes indicadores da qualidade de vida da população de um país. Essas taxas podem revelar como está a qualidade do ensino, do saneamento básico e dos serviçosde saúde, como campanhas de vacinação, atenção ao pré-natal, aleitamento materno e nutrição, entre outros. Brasil: Esperança de Vida ao Nascer - 2016 Regiões Total (em anos) Norte 72,2 Nordeste 73,1 Sudeste 77,5 Sul 77,8 Centro-Oeste 75,1 Brasil 75,7 Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 50 É importante observar que, no Brasil, os contrastes regionais são muito acentuados. Em 2016, na região Sul, a expectativa de vida ao nascer era 4,7 anos maior do que na região Nordeste. Embora tenha caído de 115% para 13% entre 1970 e 2016, a mortalidade infantil no Brasil ainda é alta se comparada com a de outros países com nível de desenvolvimento semelhante. Segundo o Banco Mundial, em 2015, na Argentina essa taxa era de 11% e no Chile, 7%. Com relação aos países desenvolvidos, a distância é ainda maior: Luxemburgo e Japão, 2%. Nesses países, os fatores da mortalidade infantil independem de políticas de infraestrutura social; já no caso do Brasil, o percentual de mortes associadas à carência de serviços públicos essenciais ainda é elevado. Apesar da grande queda no índice de mortalidade infantil nas regiões Nordeste e Norte, elas continuam a apresentar as maiores taxas do país. Os avanços nos serviços públicos de saúde contribuíram para a diminuição da mortalidade infantil. Um exemplo disso é a campanha de vacinação contra a poliomielite. Estrutura da População Brasileira O aumento da esperança de vida da população brasileira ao nascer e a queda das taxas de natalidade e mortalidade vêm provocando mudanças na pirâmide etária. Está ocorrendo um significativo estreitamento em sua base, que corresponde aos mais jovens, e o alargamento do meio para o topo, por causa do aumento da participação percentual de adultos e idosos. Quanto à distribuição da população brasileira por gênero, o país se enquadra nos padrões mundiais, nascem cerca de 105 homens para cada 100 mulheres. No entanto, a taxa de mortalidade infantil e juvenil masculina é mais elevada, e a expectativa de vida dos homens é mais baixa do que das mulheres. Em razão disso, é comum as pirâmides etárias apresentarem uma parcela ligeiramente maior de população feminina. Segundo o IBGE, em 2015, o Brasil tinha 99,4 milhões de homens (48,5%) e 105,5 milhões de mulheres (51,5%). Mortalidade de Jovens e Adultos Um aspecto demográfico da população brasileira que se torna cada vez mais preocupante é o aumento das mortes de adolescentes e adultos jovens do sexo masculino por causas violentas, como assassinatos e acidentes automobilísticos decorrentes de excesso de velocidade, imprudência ou uso de drogas. Isso provoca impactos na distribuição etária da população e na proporção entre os sexos, além de trazer implicações socioeconômicas, com a diminuição da qualidade de vida da população em geral (em decorrência da insegurança generalizada) e o aumento de gastos com prevenção e coibição da violência, vigilância à venda de drogas, entre outros. Segundo o IBGE, se não ocorressem mortes prematuras da população masculina, a esperança de vida média dos brasileiros seria maior em dois ou três anos. O predomínio de mulheres na população total vem aumentado. Em 2000, havia 98,7 homens para cada grupo de 100 mulheres. Em 2010, esse índice reduziu para 97,9 homens para cada grupo de 100 mulheres. PEA15 e Distribuição de Renda no Brasil Relativo à distribuição da população economicamente ativa no Brasil em 2015, observou-se que 13,9% da PEA trabalha na agropecuária. Embora esse número venha diminuindo em razão da modernização e da mecanização do campo em algumas localidades, as atividades agrícolas também são praticadas de forma tradicional e ocupam significativa mão de obra nas regiões mais pobres do país. O setor industrial brasileiro, incluindo a construção civil, absorve 21,6% da PEA, número comparável ao de países desenvolvidos. Após a abertura econômica, iniciada na década de 1990, o parque industrial brasileiro se modernizou e algumas empresas ganharam projeção internacional. O setor terciário, embora ocupe mais da metade da PEA no Brasil, apresenta os maiores níveis de subemprego, uma vez que muitos dos trabalhadores exercem atividades informais, sem garantia de direitos trabalhistas, além de não contribuírem para a previdência social. No Brasil, 64,5% da PEA exercem atividades terciárias, somando-se serviços, comércio e manutenção. No setor formal de serviços (como escolas, hospitais, repartições públicas, transportes, etc.), as condições de trabalho e o nível de renda são muito variáveis: há instituições avançadas administrativa e tecnologicamente, ao lado de outras bastante tradicionais. Por exemplo, ao compararmos o ensino oferecido em escolas públicas, percebemos diferenças significativas de qualidade entre as unidades. Essa discrepância ocorre também no setor da saúde. 15 PEA refere-se à população economicamente ativa. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 51 O comércio ambulante é uma atividade informal, pois não são recolhidos impostos e os trabalhadores não usufruem de direitos trabalhistas. Participação das Mulheres Quanto à composição da PEA por gênero, é possível notar certa desproporção: em 2015, 43% dos trabalhadores eram do sexo feminino. Nos países desenvolvidos, essa participação é mais igualitária, com índices próximos aos 50%. O aumento da participação feminina na PEA ganhou impulso com os movimentos feministas a partir da década de 1970, que passaram a reivindicar igualdade de gênero no mercado de trabalho, nas atividades políticas e em outras esferas da vida social. Além disso, muitas mulheres passaram a prover o sustento da família, inserindo-se cada vez mais no mercado de trabalho formal. O percentual de mulheres que são empregadas com baixa remuneração é mais alto do que o de homens. Apesar de, no Brasil, as mulheres apresentarem médias mais elevadas de anos de estudo em relação aos homens, ainda hoje muitas vezes elas recebem salários menores. Em 2015, as trabalhadoras recebiam, em média, 76,1% dos rendimentos dos trabalhadores do sexo masculino. Além disso, há predominância feminina em empregos de menor qualificação e salários mais baixos, como o trabalho doméstico e a operação de telemarketing. Nas sociedades em que a democracia está mais consolidada, e a cidadania, mais desenvolvida, existe maior igualdade de oportunidades de trabalho entre homens e mulheres. A redução da discriminação por gênero é um importante fator de combate à pobreza. Participação dos Afrodescendentes Para a avaliação do nível de desenvolvimento de um país, não basta considerar o crescimento econômico. É fundamental ponderar também como se dá a distribuição das riquezas entre sua população. Segundo o IBGE, em 2015, as pessoas que se declaravam pretas ou pardas recebiam cerca de 59% a menos do que aquelas que se classificavam como brancas, revelando uma grave distinção social entre grupos de cor ou raça no país, além da falta de equidade entre gênero. Embora as desigualdades entre gêneros e entre cor ou raça tenham sido reduzidas desde a década de 1970, elas ainda são muito acentuadas, e combatê-las é uma das ações fundamentais para diminuir a pobreza no país. A diferença na taxa de frequência escolar dos adolescentes brancos e pretos ou pardos caiu cerca de 6,4% para 3,1% entre 2004 e 2015. E a melhora do índice foi crescente para todas as cores ou raças da população brasileira. IDH do Brasil Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2016, publicado pelo Pnud em 2015, o Brasil possuía um índice de Desenvolvimento Humano elevado, ocupando a 79ª posição mundial. O país mantém o nível elevado de desenvolvimento humano desde 2005. Das três variáveis consideradas no cálculo do IDH (educação, renda e longevidade), a que apresentou maior contribuição para a melhora do índice brasileiro, nas últimasdécadas, foi a educação. Em contrapartida, a renda foi a variável que menos contribuiu nesse período. No item longevidade, que permite avaliar as condições gerais de saúde da população, os avanços também foram bastante significativos. Apesar de ter apresentado o maior avanço nas últimas décadas, o índice de educação é o mais baixo dos três, o único que se localiza abaixo de 0,700%. Em 2010, era de 0,637%, na faixa de médio desenvolvimento humano. Avanços na Educação De acordo com os dados do Relatório de Desenvolvimento Humano 2016 em comparação aos dados de 1990, observa-se que: → Entre 1990 e 2015, a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais de idade aumentou de 82% para 92,6%; → No mesmo período, a esperança de vida ao nascer cresceu de 67,6 para 77,5 anos; → A renda per capita subiu de US$ (PPC) 7349 para US$ (PPC) 14145; → De 1990 a 2015, a taxa de matrícula no Ensino Fundamental de crianças entre 7 e 14 anos aumentou de 86% para 98%. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 52 Questões 01. (AFAP – Assistente Administrativo – FCC/2019) Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é atualizado anualmente, visando permitir o conhecimento sobre as condições de vida das nações avaliadas. Este índice possui uma variação de 0 até 1, sendo que quanto mais próximo for de 1 a avaliação do país, melhor classificado ele será no IDH, ou seja, melhores condições de vida aquela população terá. Analise o IDH do Brasil mostrado na tabela abaixo. Os dados apresentados e os conhecimentos sobre o contexto socioeconômico brasileiro indicam (A) os elevados déficits em setores de importância socioeconômica, como é o caso da Previdência. (B) que, atualmente, o país tem apresentado significativa redução das desigualdades sociais. (C) que as condições de vida da população brasileira tiveram reduzida evolução. (D) o esforço do governo para manter políticas públicas destinadas às crianças e jovens. (E) a posição do Brasil como o país de maior IDH da América do Sul, superando a Argentina. 02. (ABIN – Oficial de Inteligência – CESPE/2018) Acerca dos movimentos migratórios internos, da estrutura etária da população brasileira e da evolução de seu crescimento no século XX, julgue o item a seguir. A dinâmica da estrutura etária da população brasileira tende ao equilíbrio quanto à quantidade de crianças, jovens, adultos e idosos: a população de idosos com maior expectativa de vida cresce tanto quanto a população em idade infantil e jovem. (....) Certo (....) Errado 03. (IFB – Professor de Geografia – IFB/2017) Há cerca de 50 anos, apenas 15% dos postos de trabalho no Brasil eram ocupados por mulheres. Atualmente, elas representam mais de 43% da População Economicamente Ativa (PEA). Esse dado mostra que o contingente de mulheres responsáveis pela renda familiar aumentou significativamente nas últimas décadas. A redução do tempo de convivência familiar em razão da permanência no trabalho, além dos altos custos com alimentação, saúde, lazer e educação; e os programas de planejamento familiar desenvolvidos pelo Estado por meio do Ministério da Saúde, fizeram com que ocorresse na dinâmica demográfica brasileira: (A) um aumento da expectativa de vida; (B) a queda gradual da taxa de natalidade; (C) o predomínio da população idosa; (D) a queda das taxas de mortalidade; (E) um aumento na renda per capita. Gabarito 01.C / 02.Errado / 03.B Comentários 01. Resposta: C Apesar de ter apresentado o maior avanço nas últimas décadas, o índice de educação é o mais baixo dos três, o único que se localiza abaixo de 0,700%. Em 2010, era de 0,637%, na faixa de médio desenvolvimento humano. 02. Resposta: Errado Nas próximas décadas, o número de idosos continuará crescendo, enquanto o de crianças e jovens cairá. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 53 03. Resposta: B A redução do número de filhos por mulher é consequência de uma série de fatores, como urbanização, desenvolvimento de métodos contraceptivos, melhoria de índices de educação, adoção de políticas públicas visando o planejamento familiar, maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho, e mudanças nos valores socioculturais, com destaque para a emancipação feminina. MOVIMENTOS POPULACIONAIS16 Movimentos Migratórios Movimentos migratórios referem-se aos diversos tipos de migração, a qual, por sua vez, é entendida como os deslocamentos de determinada população de um lugar para outro. Portanto, qualquer migração possui dois movimentos: o de saída de um lugar e o de entrada em outro. As migrações são muito variadas. Podem ocorrer dentro do mesmo território ou de um país para outro. Quando são realizadas dentro do mesmo país, são chamadas de migrações internas. Quando ocorrem de um país para outro, são chamadas de migrações externas. Observe a imagem a seguir: Migrantes nordestinos no Terminal Rodoviário do Tietê. Este é um grande fluxo de migração interna que existe no Brasil. São Paulo, SP, 2010. As migrações externas são caracterizadas por dois movimentos: emigração e imigração. O movimento de entrada de estrangeiros em um país é chamado de imigração. O movimento de saída de indivíduos de um país é chamado de emigração. Por exemplo, imagine que uma família está se mudando da Colômbia para o Equador. Em seu país de origem, a Colômbia, eles são considerados emigrantes. Já no país de destino, o Equador, eles são considerados imigrantes. Observe a imagem a seguir: Família de imigrantes espanhóis, São Paulo, cerca de 1890. Por que as Pessoas Migram? As migrações podem acontecer de forma forçada ou espontânea. A migração forçada é aquela em que a pessoa não migra por vontade própria, como foi o caso dos africanos que vieram para cá escravizados durante o período colonial. A ocorrência de fenômenos naturais, como grandes terremotos, tsunamis, 16 FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015. g. A distribuição dos efetivos demográficos e os movimentos migratórios internos: reflexos sociais e espaciais. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 54 explosões vulcânicas ou inundações, por exemplo, também pode provocar a migração forçada. Grandes guerras e perseguições políticas ou religiosas também são motivos que levam as pessoas a saírem de seu lugar de origem. A migração espontânea ocorre quando as pessoas migram por vontade própria. Ou seja, decidem deslocar-se de um lugar a outro em busca de melhores condições de vida. No entanto, devemos perceber que essa migração espontânea está baseada em um movimento de expulsão e atração. Ou seja, de alguma maneira, as pessoas sentem-se repelidas por um lugar e atraídas por outro. As condições econômicas e sociais de um país podem fazer que uma pessoa decida buscar melhores condições de vida em outro. A falta de emprego, a escassez de terras para os agricultores, a precarização das condições de trabalho, a mecanização da produção e outros processos similares são fatores que muitas vezes dificultam a vida do trabalhador, levando-o a se mudar. Migração Temporária e Migração Pendular A migração temporária é o deslocamento populacional que ocorre por determinado período. Por exemplo, no caso da construção de uma grande obra de engenharia, milhares de pessoas são atraídas para um lugar onde antes não havia oportunidades de emprego. Quando a construção terminar, essas pessoas retornarão ao seu lugar de origem ou irão procurar emprego em outros lugares. Outro exemplo de migração temporária é a que acontece em determinados períodos do ano, como na época da colheita de certos produtos agrícolas, que atrai pessoas de diferentes regiões para trabalhar durante esseperíodo. Já a chamada migração pendular consiste no movimento diário da população que se desloca de um lugar a outro para estudar ou trabalhar. Geralmente, ocorre entre municípios vizinhos. Imigração no Brasil Com o processo de colonização, iniciou-se um período de atração de diferentes povos para as novas terras. Uma boa parte da atual população brasileira é formada por imigrantes e seus descendentes. Os primeiros a chegar aqui foram os portugueses, seguidos pelos africanos trazidos na condição de escravos. Séculos depois, com o fim da escravidão, muitos outros imigrantes vindos da Europa e da Ásia estabeleceram-se no Brasil, principalmente a partir de meados do século XIX, para substituir a mão de obra escrava. Estudaremos a seguir alguns dos povos que vieram para o Brasil em períodos específicos. São milhares de pessoas que saíram de seus países de origem e vieram para cá, influenciando a cultura e os hábitos do povo brasileiro. Além deles, muitos outros povos vieram para o Brasil, como os libaneses, os poloneses e os russos, porém em quantidades menores e durante períodos mais curtos. Portugueses Os portugueses foram os colonizadores das terras que vieram a se tornar o Brasil. Sua entrada foi constante e contínua durante todo o período colonial. A migração dos portugueses trouxe sérios impactos para os povos indígenas que já habitavam aqui. Eles foram perseguidos, mortos e escravizados. Houve também uma intensa imigração portuguesa para o Brasil entre os anos de 1881 e 1967. Africanos Gravura que retrata o embarque de escravos em um navio negreiro. Negros no fundo do porão de navio, Johann Moritz Rugendas, Brasil, séc. XIX. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 55 Entre os séculos XVI e XIX, de 2 a 4 milhões de africanos foram forçados a vir para o Brasil na condição de escravos. Eles pertenciam a diferentes povos, principalmente da região da África Central, cada um com costumes, língua e fisionomia diferentes. Contudo, as culturas desses povos não só influenciaram um a outro, mas também todos os demais que viviam na Colônia, como os próprios portugueses e até os indígenas. Todas essas pessoas que vieram para cá sofreram com as duras condições de vida, trabalhando em situações precárias - isso para dizer o mínimo - e privadas de sua liberdade. Desenvolveram diferentes tipos de trabalho, ligados principalmente à agricultura. Alemães Tradicional festa alemã em Blumenau (SC), 2013 Os alemães começaram a chegar ao Brasil de forma expressiva em meados do século XIX. O primeiro grupo de imigrantes alemães chegou ao Brasil em 1824, mas o período mais intenso de imigração ocorreu entre 1848 e 1933. A grande maioria desses imigrantes estabeleceu-se nas serras dos estados do Sul do Brasil, formando as chamadas colônias, onde preservavam os hábitos e sua terra natal, inclusive muitas vezes sem falar o português. Dedicaram-se principalmente à agricultura e à criação de animais. Italianos Os imigrantes italianos chegaram ao Brasil após os alemães. Assim como eles, vieram em busca de promessas de uma vida melhor, fugindo das duras situações em que viviam na Europa. Dirigiram-se principalmente para os estados de São Paulo - a fim de trabalhar nas lavouras de café e, posteriormente, nas indústrias paulistas - e do Rio Grande do Sul, onde também formaram colônias. Observe a imagem a seguir. Embarque de italianos para o Brasil, Itália, 1910 Japoneses A imigração maciça de japoneses teve início no século XX. Em 1908, aportou em Santos o primeiro navio de imigrantes japoneses, chamado Kasato Maru. A grande maioria deles estabeleceu-se no estado de São Paulo, trabalhando nas lavouras de café e, posteriormente, no cultivo de hortaliças e frutas. Observe a imagem a seguir. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 56 Imagem do Kasato Maru, navio que trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil. Santos, 1908 Migração Interna No Brasil, há uma grande mobilidade da população de região para região. Isso significa que existem milhares de pessoas que não moram no lugar em que nasceram. De acordo com dados do Censo de 2010, a cada 100 brasileiros, 37 não nasceram no município onde estão estabelecidos atualmente. Êxodo Rural O processo de urbanização no Brasil teve início no século XX, a partir do processo de industrialização, que atraiu milhares de pessoas da área rural em direção à urbana. Esse deslocamento do campo para a cidade é chamado de êxodo rural. Atualmente, mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas. Observe o gráfico a seguir, que mostra a taxa de urbanização brasileira entre 1940 e 2010. Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E Estatística, [s.d.] apud GOBBI, Leonardo Delfim. Urbanização brasileira. Globo. com, [s.d.]. Educação. Geografia. No gráfico acima, podemos observar progressivamente, os anos 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010. A parte cinza representa a população urbana, e a parte verde, a população rural. O êxodo rural está ligado a um movimento tanto de expulsão dessa população do campo quanto de atração pela cidade. As condições de vida para a população rural tornaram-se cada vez mais difíceis, já que muitos trabalhadores perderam seus empregos e suas terras com a modernização da agricultura - a mão de obra de muitos trabalhadores do campo foi substituída por máquinas e tratores sofisticados. Por outro lado, as cidades surgem como uma grande oportunidade de melhoria de vida, ainda que muitas vezes isso não aconteça na prática. Na maioria dos casos, esses migrantes são obrigados a enfrentar situações muito precárias. Fluxos Migratórios Inter-Regionais A migração inter-regional, ou seja, entre as diferentes regiões do Brasil, começou a ser estudada com mais precisão a partir do estabelecimento da regionalização brasileira, em meados da década de 1930. A grande disparidade entre as regiões estimulou a continuidade de um fluxo regular de migrantes em diferentes períodos do século XX. Décadas de 1930-1940 O principal fluxo inter-regional estabeleceu-se do Nordeste para o Sudeste. Milhares de migrantes dirigiram-se ao Sudeste em busca de melhores condições de vida, fugindo das secas que assolavam a região Nordeste. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 57 Décadas de 1950-1970 Nesse período foram realizadas grandes obras de integração regional, como a construção da nova capital do país, Brasília, inaugurada em 1960 no governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956- 1961), e da Rodovia Transamazônica no início da década de 1970 durante o período militar, sob o governo do general e presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). A construção de Brasília atraiu migrantes de todas as partes do Brasil para a região Centro-Oeste. A rodovia, por sua vez, estabeleceu um fluxo de trabalhadores do Nordeste para o Norte que se dirigiram principalmente às áreas de extração do látex para a fabricação de borracha nos chamados seringais. Décadas de 1970-1990 O fluxo entre Nordeste e Sudeste se manteve. Além disso, muitos migrantes do Sul dirigiram-se para outras áreas da região Norte, como o Acre, e também para o Centro-Oeste, graças ao auxílio do governo, que estimulava esse Fluxo por meio do oferecimento de facilidades, como pequenos lotes de terra. Na década de 1990 intensificaram-se os fluxos no interior do país e inicia-se uma corrente de migração do Sudeste para o Nordeste. Observe abaixo os mapas que demonstram os principais fluxos migratórios entre os períodos de 1950 a 1990. Fonte: Disponível em: <http://www.padogeo.com/atividade-migracoes.htrnl> A Migração Atual Nos últimos anos, houve uma profunda mudança no padrão das migrações internas brasileiras. As regiões ainda apresentam muita disparidadeentre si. No entanto, a saída de migrantes da região Nordeste em direção ao Sudeste diminuiu significativamente. Isso se deve principalmente à redução das ofertas de emprego nas indústrias e no setor de serviços no Sudeste e também à recente industrialização do Nordeste. Além disso, muitos migrantes estão votando para as suas regiões de origem, em um movimento conhecido como migração de retorno. Entre os grupos de imigrantes que se dirigem atualmente ao Brasil, podemos destacar os haitianos e os bolivianos. O Haiti sofre historicamente com a pobreza e a miséria. Em 2010, um terremoto dizimou o país, o que afetou a vida de milhões de habitantes e deixou milhares de mortos. Isso contribuiu para a decisão de vários cidadãos de buscar no Brasil trabalho e melhores condições de vida. A maioria dos haitianos entra no Brasil pelo estado do Acre, de onde se dirige para as demais regiões do país. Os bolivianos, por sua vez, também migram para o Brasil em busca de melhores condições de vida e ofertas de emprego. Como a Bolívia faz fronteira com o nosso país, o caminho mais comum é entrar pela cidade de Assis Brasil, também localizada no Acre. É importante destacar que esses imigrantes muitas vezes entram de foram ilegal no Brasil. Com isso, acabam tendo maiores dificuldade para arranjar emprego e bons salários, sendo obrigados, muitas vezes, a trabalhar em troca de salários muito baixos ou até em condições mais precárias, semelhantes à escravidão. Questões 01. (DER/CE – Geografia – UECE/CEV) Sobre as migrações internas no Brasil, é correto afirmar que (A) houve um fluxo de nordestinos para o Sudeste, atraídos pela expansão industrial, e para a Amazônia, atraídos pelos projetos agropecuários, minerais e industriais. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 58 (B) o maior fluxo migratório interno se deu dos estados da região Norte para a região Sul do Brasil, devido à expansão da soja e da cana-de-açúcar. (C) os movimentos migratórios internos ocorreram numa escala muito pequena e de forma isolada nas regiões metropolitanas das grandes metrópoles do Sudeste. (D) ocorreram apenas nas décadas de 1940 e 1950 do Nordeste para o Sudeste por causa das secas que castigavam a região. 02. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) Analise este gráfico: Brasil e regiões: participação relativa das regiões no total populacional do país (1960 – 2000) Considerando-se que, no Brasil, a quase totalidade dos movimentos migratórios ocorridos em sua história estiveram relacionados com condições socioeconômicas, a região brasileira que tem sido lugar de partida de grandes movimentos migratórios é (A) o Centro-Oeste. (B) o Nordeste. (C) o Norte. (D) o Sul. 03. (IBGE – Pesquisa e Mapeamento – CESGRANRIO) No Brasil, durante muito tempo, as migrações internas, do Norte para o Sul e do mundo rural para as cidades, constituíram uma tentativa de resposta individual à extrema pobreza de algumas regiões. Fator de diversificação do tecido social e de desenvolvimento de associações e ONG, essa mobilidade contribuiu para a riqueza do Sul, assim como para a expansão das favelas urbanas. A esses efeitos devem-se acrescentar, hoje, fluxos populacionais mais diversificados. DURAND, M-F. et al. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 130. Adaptado. Na atual realidade brasileira, ocorre um novo e recente fluxo populacional denominado (A) movimento pendular (B) êxodo rural (C) migração de retorno (D) transumância (E) transmigração Gabarito 01.A / 02.B / 03.C Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 59 AS REGIONALIZAÇÕES DO TERRITÓRIO BRASILEIRO17 A regionalização pode ser entendida como a divisão de um território em áreas que apresentam características semelhantes, de acordo com um critério preestabelecido pelo grupo de pessoas responsáveis por tal definição: aspectos naturais, econômicos, políticos e culturais, entre tantos outros. Portanto, regionalizar significa identificar determinado espaço como uma unidade que o distingue dos demais lugares o seu redor. A divisão de um território em regiões auxilia no planejamento das atividades do poder público, tanto nas questões sociais quanto econômicas, já que permite conhecer melhor aquela porção territorial. O governo e as entidades privadas podem executar projetos regionais, considerando o número de habitantes de cada região, as condições de vida de sua população, as áreas com infraestrutura precária de abastecimento de água, esgoto tratado, energia elétrica, entre outros. Os Critérios de Divisão Regional do Território O Brasil é um país muito extenso e variado. Cada lugar apresenta suas particularidades e existem muitos contrastes sociais, naturais e econômicos. Como cada região diferencia-se das demais com base em suas características próprias, a escolha do critério de regionalização é muito importante. Um dos critérios utilizados para regionalizar o espaço pode ser relacionado a aspectos naturais, como clima, relevo, hidrografia, vegetação, etc. A regionalização também pode ser feita com base em aspectos sociais, econômicos ou culturais. Cada um apresenta uma série de possibilidades: regiões demográficas, uso do solo e regiões industrializadas, entre outras. As Regiões Geoeconômicas A fim de compreender melhor as diferenças econômicas e sociais do território brasileiro, na década de 1960, surgiu uma proposta de regionalização que dividiu o espaço em regiões geoeconômicas, criada pelo geógrafo Pedro Geiger. Nessa regionalização, o critério utilizado foi o nível de desenvolvimento, características semelhantes foram agrupadas dentro da mesma região. De acordo com esse critério, o Brasil está dividido em três grandes regiões: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul, como pode observar-se no mapa a seguir. 17 FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015. TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2013. 2. A Questão Regional no Brasil a. A regionalização do país: sua justificativa socioeconômica e critérios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); as regiões e as políticas públicas para fins de planejamento. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 60 Brasil: regiões geoeconômicas http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/normal_brasilgeoeconomico.jpg Os limites da Amazônia correspondem à área de cobertura original da Floresta Amazônica. Essa região é caracterizada pelo baixo índice de ocupação humana e pelo extrativismo vegetal e mineral. Nas últimas décadas, a Amazônia vem sofrendo com o desmatamento de boa parte de sua cobertura original para a implantação de atividades agropecuárias, como o cultivo de soja e a criação de gado. A região Nordeste é tradicionalmente caracterizada pela grande desigualdade socioeconômica. Historicamente, essa região é marcada pela presença de uma forte elite composta basicamente por grandes proprietários de terra, que dominam também o cenário político local. A região Centro-Sul é marcada pela concentração industrial e urbana. Além disso, apresenta elevada concentração populacional e a maior quantidade e diversidade de atividades econômicas. Essa proposta de divisão possibilita a identificação de desigualdades socioeconômicas e de diferentes graus de desenvolvimento econômico do território nacional. Seus limites territoriais não coincidem com os dos estados. Assim, partes do mesmo estado que apresentam distintos graus de desenvolvimento podem ser colocadas em regiões diferentes. Porém, esses limites não são imutáveis: caso as atividades econômicas, as quais influenciam as áreas do território,passem por alguma modificação, a configuração geoeconômica também pode mudar. Outras Propostas de Regionalização Regionalização do Brasil por Roberto Lobato Corrêa http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Apoio_Rita/flg386/2s2016/Regionalizacoes_do_Brasil.pdf Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 61 Outro geógrafo, chamado Roberto Lobato Corrêa, também fez uma proposta de regionalização que dividia o território em três: Amazônia, Centro-Sul e Nordeste. No entanto, em sua proposta ele respeitava os limites territoriais dos estados, diferentemente da proposta das regiões geoeconômicas que acabamos de observar acima. Regionalização do Brasil por Milton Santos http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1551&evento=5 Os geógrafos Milton Santos e Maria Laura Silveira propuseram outra regionalização para o Brasil, que divide o território em quatro regiões: Amazônia, Nordeste, Centro-Oeste e Concentrada. Essa divisão foi feita com base no grau de desenvolvimento científico, técnico e informacional de cada lugar e sua influência na desigualdade territorial do país. A região Concentrada apresenta os níveis mais altos de concentração de técnicas, meios de comunicação e população, além de altos índices produtivos. Já a região Centro-Oeste caracteriza-se pela agricultura moderna, com elevado consumo de insumos químicos e utilização de tecnologia agrícola de ponta. A região Nordeste apresenta uma área de povoamento antigo, agricultura com baixos níveis de mecanização e núcleos urbanos menos desenvolvidos do que no restante do país. Por fim, a Amazônia, que foi a última região a ampliar suas vias de comunicação e acesso, possui algumas áreas de agricultura moderna. As Regiões do Brasil ao Longo do Tempo Os estudos da Divisão Regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) tiveram início em 1941. O objetivo principal deste trabalho foi o de sistematizar as várias divisões regionais que vinham sendo propostas, de forma que fosse organizada uma única divisão regional do Brasil para a divulgação das estatísticas brasileiras. A proposta de regionalização de 1940 apresentava o território dividido em cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Este (Leste), Sul e Centro. Essa divisão era baseada em critérios tanto físicos como socioeconômicos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 62 Regionalização do Brasil → década de 1940 http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1557&evento=5 IBGE e a Proposta de Regionalização O IBGE surgiu em 1934 com a função de auxiliar o planejamento territorial e a integração nacional do país. Consequentemente, a proposta de regionalização criada pelo IBGE baseava-se na assistência à elaboração de políticas públicas e na tomada de decisões no que se refere ao planejamento territorial, por meio do estudo das estruturas espaciais presentes no território brasileiro. Observe a regionalização do IBGE de 1940 no mapa acima. Regionalização do Brasil → década de 1950 http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1558&evento=5 Na década de 1950, uma nova regionalização foi proposta, a qual levava em consideração as mudanças no território brasileiro durante aqueles anos. Foram criados os territórios federais de Fernando de Noronha, Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta Porã e Iguaçu – esses dois últimos posteriormente extintos. Note também que a denominação das regiões foi alterada e que alguns estados, como Minas Gerais, mudaram de região. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 63 Regionalização do Brasil → década de 1960 http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1560&evento=5 Na década de 1960, houve a inauguração da nova capital federal, Brasília. Além disso, o Território de Guaporé passou a se chamar Território de Rondônia e foi criado o estado da Guanabara. Observe o mapa a seguir. Regionalização do Brasil → década de 1970 http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1561&evento=5 Na década de 1970, o Brasil ganha o desenho regional atual. É criada a região Sudeste, que abriga os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. O Acre é elevado à categoria de estado e o Território Federal do Rio Branco recebe o nome de Território Federal de Roraima. A regionalização da década de 1980 mantém os mesmos limites regionais. No entanto, ocorre a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro e a criação do estado do Mato Grosso do Sul. A mudança nas regionalizações ao longo dos anos é fruto do processo de transformação espacial como resultado das ações do ser humano na natureza. Assim, reflete a organização da produção em função do desenvolvimento industrial. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 64 Regionalização do Brasil → década de 1980 http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1562&evento=5 A Regionalização Oficial do Brasil Atual A regionalização oficial do Brasil é a de 1990 e apresenta as modificações instituídas com a criação da Constituição de 1988. Os territórios de Roraima e Amapá são elevados à categoria de estado (o território de Rondônia já havia sofrido essa mudança em 1981); é criado o estado de Tocantins; e é extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, que passa a ser incorporado ao estado de Pernambuco. Regionalização oficial do Brasil atual http://alunosonline.uol.com.br/geografia/regionalizacao-brasil.html É importante refletir sobre a regionalização atual proposta pelo IBGE, já que ela não apresenta uma solução definitiva para a compreensão dos fenômenos do território brasileiro. A produção do espaço é um processo complexo, resultado da interação de diferentes fatores e não pode ser encaixada dentro de uma categoria única e específica. A atual divisão regional obedece aos limites dos estados brasileiros, mas não necessariamente aos limites naturais e humanos das paisagens, os quais, muitas vezes, não são tão evidentes. É o caso, por exemplo, do Maranhão. Grande parte de seu território apresenta características naturais comuns à região Norte, principalmente devido à presença da Floresta Amazônica. Além disso, o estado apresenta fortes marcas culturais que também remetem ao Norte, como a tradicional festa do Boi-Bumbá. No entanto, segundo a regionalização oficial, o Maranhão faz parte da região Nordeste. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 65 Região e Planejamento A divisão do território brasileiro em regiões definidas pelo IBGE teve como objetivo facilitar a implantação de políticas públicas que estimulassem o desenvolvimento de cada região. Um dos aspectos marcantes do espaço geográfico brasileiro é a disparidade regional. Isso significa que as diferentes regiões possuem níveis distintos de desenvolvimento. Uma das principais causas dessa disparidade é a concentração da industrialização no Centro-Sul do país. Para promover o desenvolvimento de regiões consideradas socioeconomicamente estagnadas, o governo brasileiro empreendeu um programa federal baseado na criação de instituições locais fincadas nesse objetivo, como é o caso da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). É o que veremos abaixo. O Estado Brasileiro e o Planejamento Regional No século XX, a concentração espacial das indústrias na região Sudeste impactou de maneira negativa as estruturas produtivas de outras regiões brasileiras. Para promover a desconcentração da economia, foram criadaspolíticas de integração e de desenvolvimento regional. Território e Políticas Públicas Por meio das políticas de desenvolvimento regional, propunha-se a implantação de infraestruturas nas regiões menos desenvolvidas, com a finalidade de atrair investimentos e aumentar a oferta de empregos. O desenvolvimento industrial iniciado na década de 1930 transformou, ao mesmo tempo, a economia e a geografia do Brasil. No plano da economia, o modelo agroexportador foi, aos poucos, sendo substituído pelo modelo urbano e industrial que vigora no país até hoje. No plano da geografia, as diferentes regiões brasileiras passaram a se articular de maneira cada vez mais intensa, de forma a prover tanto a matéria-prima quanto a força de trabalho necessárias à produção industrial fortemente concentrada na Região Sudeste. Esse novo contexto de industrialização e de integração nacional tornou, evidente a desigualdade de desenvolvimento entre as regiões brasileiras. O crescimento da economia da Região Sudeste contrastava vivamente com a estagnação da economia nordestina. No Nordeste, diante do desemprego resultante do declínio das atividades nas lavouras de cana-de-açúcar e nas indústrias têxteis, dos baixos salários e da concentração de terras nas mãos de poucos, muitos optaram por tentar a vida em outras regiões do país. A Região Nordeste transformou-se em grande fornecedora de mão de obra para os principais centros urbanos e industriais do país. São Paulo tornou-se o principal destino dos migrantes nordestinos: na década de 1940, eles foram responsáveis por cerca de 60 do incremento populacional ocorrido na cidade. Para combater a desigualdade, o governo federal lançou políticas de desenvolvimento regional. Por meio delas, esperava-se promover a desconcentração da economia, atraindo investimentos e ampliando a oferta de empregos nas regiões menos desenvolvidas. As regiões selecionadas receberiam infraestrutura (energia, estradas, portos) e incentivos fiscais, ou seja, o governo passaria a isentar ou cobrar menos impostos dos empresários que lá implantassem novos negócios. Em meados da década de 1950, começaram a ser implementadas as agências de desenvolvimento regional, órgãos federais que tinham o objetivo de centralizar e implementar essas políticas. A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a primeira delas, entrou em funcionamento em 1959. A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) foi criada em 1966. Sudene e Sudam foram as mais importantes agências implantadas no Brasil. O Estado e a Valorização da Amazônia Para a valorização da economia regional da Amazônia e sua conexão aos centros mais dinâmicos do território brasileiro, o governo federal priorizou a construção de estradas e a implantação de projetos industriais (zona franca), minerais e de colonização. A Integração Nacional O propósito de integrar a Amazônia ao conjunto da economia nacional já estava na agenda do governo federal na década de 1940, mas foi apenas na década de 1950 que as políticas de planejamento começaram a atuar de fato na região. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 66 Em 1953, nasceu a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), um órgão federal encarregado de valorizar a economia regional e conectá-la aos centros mais dinâmicos do território brasileiro. A área de atuação da SPVEA recebeu o nome de Amazônia Brasileira, uma região de planejamento. Na época, o processo de industrialização demandava a criação de um mercado interno de dimensões nacionais, o que exigia grandes transformações no território. A construção de estradas que possibilitassem o intercâmbio de mercadorias e pessoas entre as diversas regiões brasileiras era considerada uma tarefa prioritária para o governo federal. Uma nova capital, Brasília, estava sendo construída em um planalto situado no Brasil central, até então pouco integrado. Por meio de Brasília, pretendia-se integrar não apenas o Centro-Oeste mas também a Amazônia, escassamente povoada e detentora de imensos potenciais. O planejamento e a execução da Rodovia Belém-Brasília, por meio da qual o sistema viário brasileiro alcançou a Amazônia pela primeira vez, contou com a colaboração da SPVEA. Sudam: A Devastação Planejada A política de planejamento regional voltada para a Amazônia ganhou novos contornos após o golpe de 1960, quando os destinos do país passaram a ser comandados pela ditadura militar. Em 1966, a SPVEA foi extinta e substituída por outro órgão, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), cuja área de atuação recebeu o nome de Amazônia Legal. No ano seguinte, foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). A Indústria na Amazônia A implantação de complexos industriais figurava entre as prioridades do projeto de valorização econômica da Amazônia concebido pelos militares. Como vimos, a Sudam foi criada em 1966. No ano seguinte, seria a vez da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Com ela, Manaus foi transformada em zona franca. Essa nova condição significou para Manaus a isenção de taxas de importação das máquinas e matérias-primas necessárias à produção industrial, bem como dos impostos de exportação das mercadorias industrializadas. Com esses incentivos, indústrias transnacionais e nacionais foram atraídas para a cidade, e Manaus transformou-se em um polo industrial importante, principalmente no setor de bens de consumo duráveis (televisores, aparelhos portáteis e eletrodomésticos). Atualmente, o polo industrial instalado em Manaus dinamiza boa parte da economia regional e emprega diretamente cerca de 85 mil pessoas. A indústria local, no entanto, depende da manutenção da zona franca. As mercadorias produzidas em Manaus viajam milhares de quilômetros até chegar aos principais centros de consumo do país e incorporam em seu custo o preço desse transporte. Na década de 1970, teve início o processo de crescimento industrial de Belém. Nesse caso, predominam as indústrias de transformação mineral, em especial a siderurgia do ferro e do alumínio, atraídas pela presença de matérias-primas e da energia proveniente da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Uma das siderúrgicas mais importantes do setor de produção de alumínio está instalada no Porto de Barcarena, situado nos arredores de Belém. A Amazônia Legal https://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensfundamental/geografia/mapa_amazonia_legal.gif Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 67 Na visão dos militares, a Amazônia era um imenso vazio demográfico que precisava ser conquistado e explorado, de forma a transformar seu enorme potencial natural em riquezas que iriam financiar o desenvolvimento do país. Para isso, eles propunham integrar a Amazônia implantando grandes projetos minerais, industriais e agropecuários. A população local, em grande parte concentrada nas margens dos rios e dos igarapés e vivendo do cultivo de pequenos lotes de terra, foi praticamente desconsiderada nos novos planos do governo para a região. A Sudam foi criada para ser uma espécie de intermediária entre o governo e os empresários no processo de valorização econômica da Amazônia. Além disso, o órgão também deveria formular projetos de atração de migrantes, para promover o povoamento e consolidar um mercado de trabalho regional. Muitos desses migrantes, a maior parte de origem nordestina, acabaram por se fixar nas periferias das cidades amazônicas, que conheceram um crescimento explosivo a partir da década de 1870. A Transamazônica, rodovia que corta a região no sentido latitudinal, foi planejada para ligar o Amazonas à Paraíba e viabilizar o assentamento dos migrantes recém-chegados e representar uma rota para os novos investimentos - ou, nas palavras do próprio governo, “a pista da mina de ouro”. A Transamazônica não cumpriuo papel almejado por seus planejadores. Encravada no meio da floresta e desconectada da rede viária nacional, a estrada não foi capaz de dinamizar os fluxos regionais e acabou por se tornar um imenso atoleiro. Nessas condições, os dois mais importantes eixos de penetração para a Amazônia passaram a ser as rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre. Em suas margens, foi implantada a maior parte dos projetos minerais e agropecuários incentivados pela Sudam. Não por acaso, esses eixos apresentam a maior taxa de desmatamento e de degradação ambiental. Além disso, também são palcos de violentos conflitos, já que posseiros, fazendeiros e madeireiros disputam a posse da terra valorizada pela presença das estradas. O eixo da Belém-Brasília se estende até a Serra dos Carajás, onde se encontra a maior reserva de minério de ferro do mundo. O ferro de Carajás, em exploração desde a década de 1970 pela Companhia Vale do Rio Doce (privatizada em 1997), é escoado pela Estrada de Ferro Carajás, até o Complexo Portuário de São Luís, no Maranhão. Nas margens da rodovia e da ferrovia, a floresta equatorial já foi quase toda derrubada. Em seu lugar, surgiram núcleos urbanos e os mais diversos empreendimentos. No outro extremo da Amazônia, o principal eixo de ocupação foi a Rodovia Brasília-Acre. O estado de Rondônia, atravessado por esse eixo, foi alvo de um grande projeto de colonização e recebeu milhares de migrantes, vindos especialmente das regiões Nordeste e Sul. Atualmente, Rondônia figura entre os estados mais devastados da região. A herança da Sudam permanece na realidade amazônica: está presente tanto na destruição do modo de vida tradicional das populações ribeirinhas e indígenas quanto na grande mancha de devastação ambiental produzida pelos empreendimentos aprovados pelo órgão. Definitivamente, esse modo predatório de ocupação está em descompasso com os parâmetros atuais de valorização do patrimônio ambiental amazônico, sobretudo no que se refere à enorme biodiversidade da formação florestal e à presença de imensos reservatórios de água doce. Planejamento Estatal e a Economia Nordestina As políticas públicas para o desenvolvimento do Nordeste, implantadas pela Sudene, consideraram o seu conjunto e não suas sub-regiões separadamente. Garantiram a disponibilidade de energia e realizaram investimentos industriais, em especial no setor petroquímico. As Sub-Regiões Nordestinas O Nordeste pode ser dividido em quatro sub-regiões: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio- Norte. Cada uma delas apresenta características naturais e econômicas particulares. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 68 http://4.bp.blogspot.com/-a-BvOFZXprs/T8gu5KVAYAI/AAAAAAAAABM/WlZjI0_lOic/s1600/Meio+norte.jpg A Zona da Mata, quente e úmida, foi transformada pela implantação de grandes propriedades produtoras de cana-de-açúcar, ainda nos primeiros tempos de colonização. Os senhores de engenho, também conhecidos como barões do açúcar, continuaram a dominar a economia e a política após a independência. Em meados do século XIX, a economia açucareira entrou em crise, devido à concorrência exercida pelo açúcar produzido nas Antilhas. Mais tarde, a produção de açúcar com técnicas mais modernas na Região Sudeste, em especial no estado de São Paulo, deu continuidade ao longo período de crise econômica no Nordeste. Atualmente, a Zona da Mata é uma região de economia dinâmica, concentrando grande parte da população e os maiores polos industriais do Nordeste; O Agreste, situado entre a Zona da Mata úmida e o Sertão semiárido, é tradicionalmente ocupado por pequenas propriedades, dedicadas ao cultivo de subsistência e ao abastecimento alimentar dos engenhos e cidades da Zona da Mata. Nessa sub-região, o padrão técnico rudimentar que caracteriza a maior parte dos estabelecimentos agrícolas resulta em baixa produtividade e em expressiva pobreza rural; O Sertão, dominado pelo clima semiárido, conheceu um primeiro movimento de valorização ainda durante a colonização, quando se transformou em espaço da pecuária extensiva, produzindo carne para os mercados da Zona da Mata. Depois, grandes latifúndios, de propriedade dos coronéis do sertão (nome pelo qual ficaram conhecidos os proprietários das grandes fazendas sertanejas), passaram a dominar a paisagem. Em meados do século XIX, o cultivo de algodão tornou-se uma atividade econômica de importância significativa no Sertão, em grande parte devido à crise na produção algodoeira dos Estados Unidos decorrente da Guerra de Secessão. Durante muito tempo, o gado e o algodão iriam dividir o espaço sertanejo; O Meio-Norte, situado na transição entre o Sertão semiárido e a Amazônia equatorial, foi durante a maior parte de sua história uma sub-região praticamente marginal no contexto da economia nordestina. A pecuária extensiva, prolongamento da criação de gado sertaneja, e o extrativismo, em especial das palmeiras babaçu e carnaúba, eram as atividades de maior destaque no Meio-Norte. Em momentos históricos diferentes, duas sub-regiões nordestinas - Sertão e Zona da Mata - já haviam sido objeto de programas governamentais de ajuda e de incentivo econômico muito antes da existência da Sudene. Em ambos os casos, porém, as elites sub-regionais foram as principais beneficiadas. Programas Pioneiros: Sertão No caso do Sertão, desde o período imperial existiram políticas de combate à seca e, principalmente, aos seus efeitos. Em 1881, após um período de estiagem que causou a morte de milhares de pessoas e de uma parcela considerável do gado, o imperador mandou construir um grande açude em Quixadá, no Ceará, visando reservar água e evitar futuras catástrofes. Nos primeiros decênios da República, essas políticas cresceram e tornaram-se institucionais. Em 1909, foi criada uma Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs), com o objetivo de espalhar açudes em todo o Sertão, além de construir estradas para facilitar o escoamento e a comercialização dos produtos sertanejos. Em 1945, a Ifocs passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), mas sua linha de atuação continuou a mesma. Entretanto, além dos açudes, das barragens e das estradas, o Dnocs passou a organizar também frentes de trabalho. Quando ocorriam as secas, a população carente era recrutada para trabalhar nas obras federais, e, assim, ganhava um meio de sobrevivência, mesmo que muito precário. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 69 Na maior parte dos casos, os açudes e as estradas construídos pelos sertanejos pobres acabavam por tornar ainda mais valiosas as terras dos coronéis, nas quais (ou nas proximidades delas) as obras eram realizadas. Além disso, os coronéis não precisavam se preocupar com a sobrevivência de seus trabalhadores durante a estiagem, já que o Estado cuidava disso. Quando as chuvas voltavam, era só aproveitar as melhorias de suas terras e recrutar de volta os trabalhadores. Desse modo, o governo ajudava a enriquecer os que já eram ricos e mantinha os pobres - a maioria da população - no limite da sobrevivência. Programas Pioneiros: Zona da Mata Os “barões do açúcar” da Zona da Mata também receberam auxílio do governo, ainda que de forma indireta. Na década de 1930, a agricultura canavieira paulista começou a se modernizar, ampliando sua base técnica, e passou a ameaçar a economia açucareira nordestina. Nesse contexto, o governo criou o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), com o objetivo de estabelecer cotas de produção de açúcar entre os estados brasileiros e garantir um preço mínimo para o produto. Assim, o IAA reservava uma parcela do mercado açucareiro aos produtores da Zona da Mata nordestina, além de garantir preços compatíveis com seus custos de produção relativamente elevados. Durante longos decênios, o IAA ajudou a garantir a presença do açúcarnordestino no mercado brasileiro, fornecendo-lhe condições de sobrevivência. Em longo prazo, porém, a estratégia revelou-se ineficiente: protegidos pelas cotas e pelos preços governamentais, os produtores nordestinos investiram pouco em modernização, e desde 1990, quando o IAA foi extinto, vêm perdendo parcelas crescentes do mercado para os produtores paulistas. A Sudene e a Industrialização do Nordeste A criação da Sudene modificou inteiramente a direção das políticas públicas de desenvolvimento do Nordeste. Em primeiro lugar, essas políticas ganharam uma nova dimensão: não era uma ou outra sub- região, mas o conjunto do Nordeste que seria alvo do planejamento estatal. A lei que criou a Sudene delimitou também a área de atuação do órgão, que não coincide exatamente com a Região Nordeste definida pelo IBGE, já que incluiu o norte de Minas Gerais. Em 1998, parte do Espírito Santo também entrou para essa “região de planejamento”. Em segundo lugar, por estarem baseados em uma nova visão acerca dos problemas regionais, os planos da Sudene foram orientados para outra direção. Já estudamos que, até então, a intervenção governamental nos assuntos nordestinos tinha se destinado, sobretudo, a solucionar os problemas do campo, beneficiando os grandes proprietários da terra e reforçando a concentração fundiária tanto no Sertão quanto na Zona da Mata. A Sudene trouxe uma nova prioridade: de acordo com o diagnóstico de seus fundadores, o maior problema do Nordeste não era a falta de chuvas ou a baixa competitividade da produção açucareira, mas a falta de indústrias modernas, capazes de dinamizar a economia como um todo. A solução, portanto, estava no incentivo à industrialização. Para tanto, era preciso primeiro garantir a disponibilidade de energia. Essa tarefa ficou a cargo das Centrais Hidrelétricas do Rio São Francisco (Chesf), que transformou a Bacia do São Francisco em uma importante produtora de energia de origem hídrica. O governo federal também tomou para si a tarefa de realizar investimentos industriais, em especial no setor petroquímico. A criação do Polo Petroquímico de Camaçari, o principal complexo industrial nordestino, nasceu das políticas levadas a efeito pela Sudene. A Refinaria Landulfo Alves, de propriedade da Petrobras, abastece as empresas públicas e privadas que operam no polo. Além disso, foram concedidos financiamentos públicos e incentivos fiscais aos conglomerados industriais que implantassem fábricas na região. O setor de bens intermediários (tais como produtos químicos e metalúrgicos) foi o principal beneficiário, pois acreditava-se que ele seria capaz de dinamizar a economia regional e gerar mercado para o setor de bens de consumo (tais como alimentos e vestuário). Desse modo, esse setor também acabaria por implantar-se no Nordeste. Devido aos incentivos, diversos grupos empresariais inauguraram unidades produtivas no Nordeste. Com a Sudene, a economia industrial chegou às capitais nordestinas, em especial a Recife e Salvador. Mas sabe-se hoje que isso não bastou para eliminar as desigualdades entre o Nordeste e o Sudeste e/ou para melhorar a qualidade de vida da população regional. O Nordeste brasileiro ainda espera por políticas capazes de gerar crescimento econômico com inclusão social. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 70 Questões 01. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) No atual período histórico, caracterizado pela forte internacionalização do modo de produção capitalista, importantes transformações de ordem técnica, política e econômica têm promovido intensa reestruturação produtiva e regional do Brasil e do mundo. A intensificação do poder das empresas transnacionais sobre o espaço mundial é uma dessas manifestações. Iná Elias de Castro. Política pública e conflito no espaço urbano. In: GEOgraphia, ano 18, n.º 36, 2016 (com adaptações). Considerando esse texto, julgue o item a seguir. A divisão regional do Brasil em cinco macrorregiões de planejamento é uma referência para o ensino de geografia atualmente. Entretanto, para a compreensão das dinâmicas atuais de uso e reorganização do território nacional, é necessário abordar as novas regionalizações, como a divisão por complexos regionais (Amazônia, Nordeste e Centro-Sul) e a divisão em quatro regiões (Concentrada, Centro-Oeste, Amazônia e Nordeste). (....) Certo (....) Errado 02. (Prefeitura de Sobral/CE – Agente Administrativo – UVA/2017) Entre as últimas alterações da divisão regional oficial do Brasil, podem-se destacar: (A) a extinção dos territórios federais e a criação do Distrito Federal. (B) a criação de Fernando de Noronha e a do território de Roraima. (C) a extinção do Distrito Federal e a criação do território federal de Tocantins. (D) a extinção dos territórios e a criação do Estado de Tocantins. 03. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) Com relação aos processos de regionalização no Brasil e no mundo, julgue o item subsequente. Décadas depois da implementação do primeiro órgão responsável pelos estudos de planejamento macrorregional no Brasil, a SUDENE, os principais problemas e disparidades regionais do país persistem. (....) Certo (....) Errado Gabarito 01.Certo / 02.D / 03.Certo Comentários 01. Resposta: Certo A atual divisão regional obedece aos limites dos estados brasileiros, mas não necessariamente aos limites naturais e humanos das paisagens, os quais, muitas vezes, não são tão evidentes. 02. Resposta: D Com as mudanças da Constituição de 1988, ficou definida a divisão brasileira que permanece até os dias atuais. O estado do Tocantins foi criado a partir da divisão de Goiás e incorporado à região Norte; Roraima, Amapá e Rondônia tornaram-se estados autônomos; Fernando de Noronha deixou de ser federal e foi incorporado a Pernambuco. 03. Resposta: Certo Um dos aspectos marcantes do espaço geográfico brasileiro é a disparidade regional. Isso significa que as diferentes regiões ainda possuem níveis distintos de desenvolvimento. Uma das principais causas dessa disparidade é a persistente concentração da industrialização no Centro-Sul do país. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 71 REGIÕES BRASILEIRAS18 Introdução O que é Região? Provavelmente, você já ouviu alguém referir-se a algum lugar como região. Esse termo aparece bastante em nosso cotidiano. Para a Geografia, região é um conceito muito importante e que vem sendo debatido há muitos anos. Podemos entender região como uma área de determinado território onde se localizam lugares com características semelhantes, levando em consideração a combinação entre elementos naturais, a economia e aspectos sociais. Abaixo seguem as 5 regiões brasileiras e seus principais aspectos: Região Nordeste O Nordeste apresenta pontos de elevado dinamismo econômico, tanto no campo quanto nas cidades. Porém, a elevada concentração fundiária e a persistência de graves problemas sociais representam um entrave ao desenvolvimento regional. Obstáculos e Perspectivas Apesar de não se destacar em grande parte dos indicadores econômicos e sociais, a Região Nordeste passa por um processo de integração econômica com as outras regiões do país e com o mundo, apresentando alternativas para o desenvolvimento em diferentes setores. Se comparados o índice de desenvolvimento humano do Brasil com o dos estados do Nordeste, observamos que todos eles, apresentam IDH menor que a média nacional, o que evidencia a defasagem social dessa região em relação ao Brasil. Entre os estados nordestinos, a Bahia conta com a maior participação no PIB brasileiro. Sua economia é diversificada e produz riqueza com atividades da agropecuária, da indústria e de serviços. Ocupação Territorial A ocupação do Nordeste ocorreu paralelamente à implantação de atividades econômicas,como a produção de cana-de-açúcar nas áreas litorâneas e, posteriormente, a agricultura de subsistência no Agreste e a pecuária do Sertão. A Região Nordeste é formada por nove estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco (incluindo o Distrito Estadual de Fernando de Noronha), Alagoas, Sergipe e Bahia. Com área de 1.554.257 km², equivalente a 18,25% do país, concentrava, em 2011, 27,77 da população brasileira, ou seja, 54.226.000 habitantes à época. Durante os séculos XVI e XVII, a produção de açúcar para exportação sustentou a economia colonial, baseada no latifúndio monocultor e no sistema escravista. A cana-de-açúcar desenvolveu-se bem nos solos de massapé presentes no litoral dos atuais estados de Pernambuco e Bahia. Entre as atividades complementares implementadas na América portuguesa estavam os cultivos de subsistência e a pecuária. A criação de gado, inicialmente feita na Zona da Mata (litoral), foi empurrada para o interior (Sertão) de Pernambuco, para o Vale do Rio São Francisco e para os estados do Piauí, do Ceará e do Maranhão, promovendo a ocupação efetiva dessas áreas. Nos séculos XVIII e XIX, a descoberta de minerais preciosos no interior do país e a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), entre outros fatores, acentuaram o declínio da produção de açúcar e aumentaram os problemas econômicos e sociais da região. As grandes propriedades rurais sempre foram controladas por latifundiários ou coronéis, como ficaram conhecidos os grandes fazendeiros nordestinos. Ainda no século XX, a débil economia regional sob o domínio do coronelismo acentuou a extrema pobreza da população nordestina, em especial a do 18 TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2013. b. As regiões brasileiras: especializações territoriais, produtivas e características sociais e econômicas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 72 sertanejo, habitante das vastas áreas de caatinga. Para a maioria dessa população, castigada pelo precário desenvolvimento econômico, não restou outra opção senão migrar para outras regiões do país. O Nordeste Atual: Economia, Recursos Naturais e População A implantação de polos industriais e de agricultura modernizada vem transformando a economia nordestina. Porém, apesar dos avanços econômicos, o Nordeste ainda figura abaixo da média nacional no que diz respeito ao desenvolvimento humano e à qualidade de vida. A economia nordestina mostrou-se mais dinâmica desde as últimas décadas do século XX. Entre as razões desse dinamismo estão o desenvolvimento industrial e o avanço dos setores agrário e de serviços. Com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1959, o setor secundário ou industrial do Nordeste recebeu a maior parte dos investimentos. Como consequência, houve a montagem de importantes e modernos centros industriais. No entanto, apenas uma parcela muito reduzida da população nordestina foi beneficiada, já que as indústrias se concentraram principalmente em três estados (Bahia, Pernambuco e Ceará), particularmente nas capitais, com destaque para as de transformação e de confecções. Com a política de desconcentração industrial, a partir da década de 1990, os governos estaduais da Região Nordeste têm investido em infraestrutura e oferecido vantagens, como incentivos fiscais visando atrair indústrias para seus territórios. Entretanto, a implantação de uma indústria, em geral bastante automatizada, abre poucos postos de trabalho, quase sempre mais qualificados, além de contribuir com impostos reduzidos. Assim, apenas algumas empresas transnacionais ou de capital nacional acabam sendo as mais beneficiadas. Quanto ao setor agrícola, destacam-se duas importantes monoculturas cultivadas na Zona da Mata; a cana-de-açúcar, especialmente em Alagoas e Pernambuco, e o cacau, no sul da Bahia. No Meio-Norte, além da agricultura tradicional (cana, soja, mandioca, arroz) e do extrativismo vegetal (babaçu, carnaúba), têm crescido as plantações de soja no sul dos estados do Maranhão e do Piauí – cultivo que se estende até o sertão, chegando ao oeste da Bahia. No Sertão, caracterizado pelo clima semiárido, solos pedregosos e vegetação de caatinga, subsiste a agricultura tradicional cultivada nos vales mais úmidos e nas encostas e pés de serras. Milho, arroz, feijão, mandioca, algodão e cana-de-açúcar são as principais culturas. A fruticultura irrigada do Nordeste adquire cada vez mais importância não apenas no mercado interno, mas também para a exportação. É desenvolvida no Vale do Rio São Francisco (uva, manga), no Vale do Rio Açu no Rio Grande do Norte (melão, manga) e no Sertão do Ceará (acerola, melão). A maior região produtora de melão no país localiza-se no polo Açu/Mossoró, no Rio Grande do Norte, e o polo Petrolina/Juazeiro firmou-se como grande exportador de manga, banana, coco, uva, goiaba, melão e pinha. Mão de obra barata e disponível, preços atrativos das terras e a localização da Região Nordeste em relação à Europa e aos Estados Unidos (reduzindo o tempo e o custo de transporte) conferem vantagens à fruticultura na região. O desenvolvimento de tecnologias (criação de variedades de frutas, produção integrada, produção de mudas sadias, entre outras) e o aperfeiçoamento de técnicas de irrigação foram essenciais para o crescimento da atividade. Na pecuária predomina a criação de animais de pequeno porte como asininos (jumentos, mulas e burros), caprinos (cabras), ovinos (ovelhas) e suínos (porcos). A criação de bovinos (bois), tradicionalmente desenvolvida no Sertão de forma extensiva, vem crescendo também em áreas do Agreste próximas ao Sertão, com solos de baixa fertilidade e pouca umidade, e em áreas do Maranhão. A pecuária leiteira, na modalidade extensiva e voltada para o abastecimento da Zona da Mata, é praticada no Agreste. No Agreste ainda se desenvolve a policultura comercial para o abastecimento da Zona da Mata, em médias e pequenas propriedades. É praticada em solos férteis com boas condições de umidade, na fronteira com a Zona da Mata. O turismo desenvolvido a partir das potencialidades naturais é outra atividade econômica de grande importância para a região. Turismo Garante Expansão Regional “No ranking das dez cidades mais visitadas do Brasil por estrangeiros em 2008, o Nordeste emplacou três capitais. Salvador, Recife e Fortaleza ocuparam o terceiro, o sexto e sétimo postos, respectivamente, na escolha dos visitantes internacionais. À sua maneira, com sol, praias e características culturais diferenciadas, a região contribuiu para que o país se tornasse o sétimo maior destino mundial dos turistas estrangeiros no ano de 2012 – e o mais movimentado ponto de desembarque de visitantes com origem na América Latina, desbancando o México. [...] A multiplicação dos voos regulares entre capitais como Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 73 Salvador e Recife – no ano 2000 havia apenas uma linha regular – e diferentes pontos da Europa e dos Estados Unidos contribuiu de maneira decisiva para o incremento do fluxo de turistas estrangeiros. Os desembarques internacionais na região cresceram 11,9% em 2008 em relação ao ano anterior. O maior volume de chegadas de estrangeiros teve um reflexo direto na elevação das taxas de emprego no setor de turismo na região, com um aumento de 5,7% no mesmo período”. (ROCHA, M.; DAMIANI, M. Turismo garante expansão regional. O Estado de São Paulo, São Paulo, 10 dezembro 2009). O Nordeste conta com diversos parques nacionais, entre eles o da Serra da Capivara (PI), com grande concentração de sítios arqueológicos e pinturas rupestres, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Distrito Estadual de Pernambuco) e o Parque Nacional daChapada Diamantina (BA). Entre os eventos culturais que atraem turistas estão o carnaval (com destaque para Salvador, Olinda e Recife), as festas juninas (Caruaru, Campina Grande, etc.), as danças e comidas típicas e o artesanato (rendas, cerâmicas) da região. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ligada à ONU, instituiu uma lista de sítios e monumentos de valor excepcional e de interesse universal, que integram o Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade. O objetivo é a preservação desses sítios para as gerações futuras. A Região Nordeste abriga grande número de Patrimônios Culturais e Naturais da Humanidade, como o centro histórico de Olinda (PE), de São Luís (MA) e de Salvador (BA), com o Pelourinho, além dos sítios arqueológicos de São Raimundo Nonato no Parque Nacional da Capivara (PI). Em relação aos recursos naturais, o Rio Grande do Norte se sobressai como o maior produtor de sal marinho do país. Destacam-se também o petróleo e o gás natural, extraídos no Ceará, Sergipe, Rio Grande do Norte e na Bahia. Indicadores Sociais e Urbanização A Região Nordeste ainda responde pelos índices de qualidade de vida mais baixos do país. Problemas sociais como elevadas taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, baixos salários, grande concentração de renda e terras também alcançaram números que superam os de outras regiões. Em 2009, 6,8% das crianças de 7 a 14 anos de idade não sabiam ler e escrever no país. No Nordeste, esse percentual chegava a 11,8%. A média de anos de estudo da população de 15 anos ou mais de idade, naquele mesmo ano, era mais baixa no Nordeste, de 6,3 anos, enquanto no Sudeste chegava a 8,2 anos. Cerca de 36,3% dos núcleos familiares nordestinos tinham rendimento de até meio salário mínimo per capita, contra apenas 12,2% no Sudeste. De povoamento antigo, a Zona da Mata continua sendo a sub-região mais importante do Nordeste, concentrando seis capitais e a maior parte da população. Salvador e Recife são as principais cidades, destacando-se ainda como áreas industriais. As Sub-Regiões Geoeconômicas Considerando os aspectos econômicos, é possível identificar sete sub-regiões no Nordeste brasileiro. Em cada uma delas, existem polos de intensa modernização, que convivem com as atividades econômicas tradicionais: Litoral - concentra cerca da metade da maior parte da população e abriga os três maiores polos urbano-industriais nordestinos: Salvador, Recife e Fortaleza. Na Grande Salvador, o destaque é o Polo Petroquímico de Camaçari, principal complexo industrial do Nordeste, que integra o refino de petróleo, a petroquímica básica e intermediária e a produção de resinas. A Grande Recife, por sua vez, abriga o Porto Digital, principal polo tecnológico do Nordeste, e o Complexo Industrial-Portuário de Suape, instalado na década de 1970, com cerca de 100 empresas e no qual se encontram em implantação uma refinaria de petróleo, uma siderúrgica e um grande estaleiro. Em Fortaleza, destacam-se as indústrias intensivas em mão de obra, tais como a têxtil e a de calçados, e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, inaugurado em 2002 e concebido para receber indústrias de base tais como a Companhia Siderúrgica do Pecém, um consórcio entre a brasileira Vale e duas empresas coreanas, em implantação. Pré-Amazônia - inserida apenas no Maranhão, essa região geoeconômica apresenta predomínio de atividades agrícolas tradicionais, marcadas pela baixa produtividade. Entretanto, nos últimos anos, a região vem registrando aumento da área dedicada ao cultivo de grãos, em especial soja e milho, bem como uma intensa atividade de exploração madeireira. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 74 Parnaíba - abriga o polo de Teresina, maior aglomeração industrial interiorizada do Nordeste, com destaque para as indústrias têxtil, de alimentos, de cerâmica e madeireira. Sertão - embora haja a predominância da pecuária e da agricultura tradicionais, abriga polos industriais modernos, tais como o setor calçadista em Sobral e Crato, no Sertão cearense, e o polo gesseiro do Araripe, no Sertão pernambucano. Agreste - o dinamismo econômico da sub-região vem crescendo com a implantação de indústrias têxteis, de calçados e de confecções, especialmente em Campina Grande (PB), Caruaru (PE) e Feira de Santana (BA), e pelo aumento da produtividade das bacias leiteiras, instaladas em Pernambuco e Alagoas. São Francisco - destaque para as práticas de fruticultura irrigada, especialmente nos polos geminados de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Cerrado - sub-região de intenso crescimento econômico, devido à implantação da agroindústria da soja, do milho e do algodão. Alguns de seus centros urbanos, tais como Barreiras (BA), Luis Eduardo Magalhães (BA) e Balsas (MA), vêm apresentando grande crescimento econômico, graças à instalação de modernas indústrias de beneficiamento, produzindo principalmente óleo e farelo. A maior parte da produção destina-se à exportação e é escoada pelas ferrovias Norte-Sul e Carajás até o porto de Itaqui (MA). Nordeste: sub-regiões geoeconômicas Região Sudeste Grande parte do território da Região Sudeste é dominada por formações planálticas, com destaque para os Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, constituídos pelos cinturões orogênicos, e os Planaltos da Bacia Sedimentar no Paraná. O surguimento da Placa Tectônica Sul-Americana, entre o final do Período Cretáceo e o início do Paleógeno, movimentou antigas linhas de falha e provocou a formação de escarpas acentuadas com elevadas altitudes, como as da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar. Assim, com exceção dos picos do Maciço das Guianas, no extremo norte do país, é no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que se encontram os pontos mais altos do Brasil. Em 2004, o IBGE, em parceria com o Instituto Militar de Engenharia (IME), revisou as altitudes desses pontos, utilizando recursos mais modernos de sistema de navegação e posicionamento por satélites. A Serra do Espinhaço corta Minas Gerais desde as proximidades de Belo Horizonte até o Vale do Rio São Francisco, podendo ser subdividida em dois compartimentos de planaltos: o planalto meridional e o planalto setentrional, ricos em minérios (ferro, bauxita, ouro). Em 2005, a Unesco reconheceu esse Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 75 conjunto de planaltos da Serra do Espinhaço como Reserva da Biosfera, pela diversidade ambienta e histórica do local. Além de integrar pontos culturais importantes como Congonhas, Ouro Preto e Diamantina, é o divisor de águas entre as bacias hidrográficas do São Francisco, Doce e Jequitinhonha, e apresenta a biodiversidade florística mas risca dos campos rupestres do planeta. A superfície do Planalto Atlântico foi bastante desgastada pelos processos erosivos, formando um relevo dominante de morros com topos convexos, denominados mares de morros. Entre os Planaltos e as Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Atlântico, encontram-se as depressões periféricas, superfícies bastante erodidas entre o Paleógeno e o Quaternário (há cerca de 70 milhões de anos). Nesses compartimentos do relevo da Região Sudeste, os terrenos apresentam altitudes menores, sendo delimitados pelos Planaltos Sedimentares da Bacia do Paraná por escarpas denominadas frentes de cuestas. Do norte do Espírito Santo ao sul do Estado de São Paulo, há um conjunto diversificado de ambientes costeiros. Nesse trecho do litoral brasileiro, de formação cenozoica, existem inúmeras restingas, baías e ilhas costeiras. Entre as primeiras, destacam-se as de Marambaia e Cabo Frio, ambas localizadas no litoral do Rio de Janeiro. Entre as baías, as mais conhecidas são as de Guanabara (RJ), Parati (RJ), Vitória (ES), Angra dos Reis (RJ) e Santos (SP). O clima tropical predomina naRegião Sudeste. No oeste paulista, parte do Triângulo Mineiro e na porção centro-norte de Minas Gerais, o padrão climático tropical apresenta duas estações bem demarcadas, com o verão muito chuvoso e o inverno seco. Na faixa litorânea, o volume e a frequência das chuvas são maiores. Ao contrário, no norte de Minas Gerais, as chuvas são escassas e irregulares. O clima tropical de altitude abrange as regiões serranas de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais. Por fim, o clima subtropical ocorre no extremo meridional do território paulista, ao sul do Trópico de Capricórnio. Originalmente, a mata tropical era a cobertura de vegetação dominante no Sudeste, refletindo o padrão climático regional. Na depressão periférica e nas regiões mineiras com a estação seca mais acentuada, predominavam os cerrados. Tanto a Mata Atlântica como o Cerrado foram amplamente devastados no processo de formação territorial da Região Sudeste. População e Dinâmica Espacial O Sudeste é a região mais populosa do Brasil. Em 2011, contava com mais de 82 milhões de habitantes, o que representava 42% do total da população brasileira. No entanto, esse contingente populacional está desigualmente distribuído pelo território. São Paulo concentrava 41,3 milhões, Minas Gerais, 19,6 milhões e o Rio de Janeiro, quase 16 milhões de pessoas. Entre esses estados mais populosos, o Rio de Janeiro possuía a maior densidade demográfica (365,23 hab./km²), seguido por São Paulo (166,25 hab./km²). Ainda que a densidade demográfica média, na época, era de apenas 86,92 habitantes por km², as regiões litorâneas são mais densamente povoadas, podendo atingir 10 mil habitantes por km² nas maiores cidades. A partir de 1940, São Paulo tornou-se o estado mais povoado do Brasil. Esse crescimento foi povoado pelos fluxos internos de migrantes em busca de trabalho, sobretudo do Nordeste. Na década de 1970, os migrantes foram responsáveis por mais de 40% do crescimento demográfico do estado. Além disso, houve também grande mobilidade populacional entre os estados da própria região. Entre 2005 e 2010, mais de 500 mil pessoas de Minas Gerais se deslocaram em direção a São Paulo, um contingente superior aos migrantes da Bahia, que representaram 21% dos fluxos de chegada, cerca de 230 mil pessoas. Apesar do registro de fluxos de regresso de São Paulo para os estados de origem, entre 2005 e 2010 São Paulo registrou saldo migratório positivo, indicando que o território paulista ainda exerce atração da população migrante. Nesse intervalo, São Paulo foi o Estado que recebeu o maior número de migrantes (1,1 milhão), seguido do Rio de Janeiro (270 mil). Entretanto, a participação no componente migratório no crescimento da população do estado vem perdendo intensidade desde a década de 2000. Entre as regiões brasileiras, a Sudeste foi a primeira a se tornar majoritariamente urbana e é também a que apresenta a maior taxa de urbanização. Enquanto o cruzamento das curvas de crescimento das populações rural e urbana no Brasil ocorreu na década de 1960, essa reversão de proporcionalidade no Sudeste ocorreu já nos anos 1950. Região Norte Desafios Estratégicos O desenvolvimento socioeconômico da Região Norte é uma questão nacional estratégica que se relaciona com a exploração dos recursos da Amazônia brasileira. A região, que conta com mais de 15,8 Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 76 milhões de habitantes, que produzem 5,3% do PIB brasileiro, ainda é defasada em muitos indicadores sociais. Referente ao conflito entre o modelo de desenvolvimento econômico da Região Norte e a preservação ambiental, observa-se que ao mesmo tempo que as atividades agropecuária e mineradora contribuem para a geração de riqueza na Amazônia, causam degradação ambiental de grandes áreas de floresta. Quanto à distribuição da população da Região Norte, ela se concentra, sobretudo, nas capitais dos dois maiores estados da região: Belém e Manaus. A ocupação mais efetiva de Rondônia, de Tocantins e da porção leste do Pará denota o avanço da atividade agropecuária sobre a Floresta Amazônica. A região amazônica pertence a sete países, além do Brasil. A construção de diversos eixos rodoviários garantiu a articulação da região ao território nacional. Evolução do desmatamento na Amazônia Legal (1988-2016) http://www.inpe.br/noticias/arquivos/imagens/img02_291116.jpg. A Conquista da Amazônia Colonizada inicialmente pelos espanhóis e cobiçada por ingleses, franceses e holandeses, a bacia amazônica foi ocupada pelos portugueses, o que garantiu a posse ao Império brasileiro. Com cerca de 7,8 milhões de km² que abrangem oito países - Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname - e a Guiana Francesa, a Amazônia Internacional é uma região natural formada pela floresta equatorial e por seus ecossistemas associados. A maior parte dessa área, marcada pelos climas quentes e úmidos, está assentada no interior da bacia fluvial amazônica. Com exceção da Guiana Francesa, departamento da França, os outros países firmaram em 1978 o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), cujas metas são a cooperação científica, a preservação ambiental, o uso racional dos recursos hídricos e o desenvolvimento regional. O Brasil ocupa um papel de destaque nas políticas do TCA, pois abriga mais de 64% região. No sentido político, porém, a Amazônia começou a se configurar antes mesmo da independência desses países, quando a região passou a ser explorada pelas Coroas de Espanha e de Portugal. Amazônia Internacional http://2.bp.blogspot.com/-pqRZs_1PEjo/VqZlvt5749I/AAAAAAAACnI/acPXCXEwenE/s1600/amazonia-legal-brasileira-regiao-norte-2.jpg. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 77 Na Amazônia Internacional há outros países com percentual maior de superfície territorial coberta pela Floresta Amazônica, como o Peru, a Guiana e o Suriname. Porém, o Brasil detém a maior parte do bioma amazônico. A Amazônia Internacional – Porção do bioma amazônico em cada país (% da superfície) A Amazônia Internacional – Repartição do bioma amazônico entre os países (em %) A Ocupação Portuguesa Nos termos do Tratado de Tordesilhas (1494), grande parte da Bacia Amazônica pertencia à Coroa espanhola. Em 1541, uma expedição comandada pelo espanhol Gonzalo Pizarro, irmão do conquistador do Império Inca, Francisco Pizarro, partiu de Quito em busca dos lugares lendários que supostamente havia nessas terras florestadas: o "País da Canela", onde a especiaria brotava em abundância, e o "EI Dorado", com suas enormes jazidas de ouro. Ninguém sabe ao certo quantas pessoas integraram essa expedição, mas estima-se que ela contava com algumas centenas de soldados espanhóis e milhares de indígenas, muitos dos quais padeceram de fome e de frio na travessia da Cordilheira dos Andes. Em algum ponto da viagem, quando os expedicionários já estavam bastante debilitados, Gonzalo encarregou um grupo, liderado por seu primo Francisco de Orellana, de seguir pelo rio em busca de alimentos. Entretanto, em vez de retornar com as provisões, o grupo de Orellana prosseguiu no curso do rio que hoje chamamos de Amazonas, viajando nove meses até alcançar a foz, em agosto de 1542. O diário de viagem do frei Gaspar de Carvajal, um dos integrantes do grupo, é o primeiro relato de uma jornada completa pelo Rio Amazonas, dos Andes até o Oceano Atlântico. Apesar de seu valor histórico, o diário não é um documento confiável, já que o frei se esforça em ressaltar os percalços enfrentados durante a viagem para justificar o descumprimento da ordem de regressar o mais rápido possível, levando alimentos para a expedição de Pizarro. A descrição do terrível combate travado com as guerreiras amazonas, que lutavam com a força comparada à de muitos homens e exerciam o poder sobre diversas tribos indígenas, reforçao caráter fantasioso do documento. Nos anos seguintes, diversas outras expedições comandadas pelos espanhóis percorreram trechos da Bacia Amazônica, sempre animadas pela busca de tesouros. Porém, o interesse pela região logo seria ofuscado pela descoberta das imensas jazidas de prata na região de Potosí (atual Bolívia), que atraiu grande parte dos exploradores e aventureiros espanhóis. Enquanto isso, franceses, ingleses e holandeses, inimigos tradicionais dos espanhóis, estabeleciam feitorias no baixo curso do Rio Amazonas. Durante a União Ibérica (1580-1640), período no qual Portugal e Espanha formaram uma única monarquia, os portugueses começaram a se estabelecer na foz do Amazonas. No início do século XVII, as expedições pelo Amazonas tornaram-se oficiais. Partiam da foz e eram organizadas para expulsar holandeses e ingleses, senhores de muitas feitorias ao longo do curso dos rios, e impedir o contrabando de produtos nativos, como madeira e pescado. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 78 Com o fim da União Ibérica, a Coroa portuguesa intensificou a ocupação militarizada da região, erguendo uma rede de fortificações lusitanas ao longo da calha central do Rio Amazonas. Entre eles, destaca-se o Forte de São José do Rio Negro, criado em 1668, em torno do qual surgiu o arraial de Lugar da Barra, mais tarde elevado à categoria de vila e, depois, de cidade, com o nome de Barra do Rio Negro. Em 1856, a cidade foi rebatizada e passou a se chamar Manaus, em homenagem aos índios da etnia manaó. Para preservar a hegemonia na região, a Coroa ainda estimulou a ação das missões religiosas, que utilizavam a mão de obra indígena na coleta das "drogas do sertão" e na produção de alimentos. No entanto, foi em meados do século XVIII que o Império Português de fato consolidou sua soberania na área, criando o estado do Grão-Pará, com capital em Belém. Na nova estrutura política e administrativa, o Grão-Pará, marcado pelas baixas densidades demográficas e pelo extrativismo, passou a ser uma unidade distinta de Estado do Brasil. Com a independência do Brasil em 1822, o estado do Grão-Pará foi dissolvido e tornou-se parte do Império Brasileiro, cujo poder administrativo concentrava-se no Rio de Janeiro. No entanto, dada a precariedade das suas redes de transporte e comunicações, a região permaneceu durante muito tempo isolada do centro político e econômico do país. A Conquista da Fronteira Interna O empreendimento de conquista e incorporação efetiva da vasta porção setentrional do Brasil teve início após a Revolução de 1930, marcada pela centralização do poder, e prosseguiu nas décadas seguintes, quando a Amazônia Legal se tornou uma região de planejamento. As políticas que orientaram essa conquista geraram um conflito entre dois tipos de ocupação do espaço regional. O povoamento tradicional, em grande parte herdeiro das atividades missionárias, marcado pelo extrativismo e pela agricultura de excedente, consistiu numa ocupação linear e ribeirinha, assentada na circulação fluvial e na rede natural de rios e igarapés: a "Amazônia dos rios". O novo povoamento seguia a trajetória dos eixos de circulação viária, na qual eram implantados núcleos urbanos e projetos florestais, agropecuários e minerais; é a chamada "Amazônia das estradas". O conflito entre o modo de ocupação tradicional e o moderno, representado pelos eixos viários, expressou-se na tensão social que envolveu índios, posseiros e grileiros. Até os dias atuais, as disputas por terra configuram um "arco de violência" nos municípios da Amazônia Legal. De outro lado, a conquista da Amazônia resultou na modificação antrópica das paisagens e na degradação progressiva dos ecossistemas naturais. Um "arco da devastação" demarca as áreas de ocupação recente do Grande Norte. Nos estados de Tocantins, Pará e Maranhão, a devastação antrópica atinge formações do Cerrado, da Floresta Amazônica e da Mata dos Cocais. No Mato Grosso e Rondônia, manifesta-se com intensidade no Cerrado, na Floresta Amazônica e nas largas faixas de transição entre esses domínios. Focos de calor na Amazônia – 2000/2010 Os focos de calor marcam a ocorrência das queimadas que abrem os terrenos para as atividades agropastoris ou minerais, resultando em um arco de devastação dos ecossistemas amazônicos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 79 Os Novos Eixos de Integração e a Ocupação do Espaço Amazônico A construção de rodovias foi fundamental para a inserção da região amazônica nos fluxos e circuitos econômicos nacionais. Belém e Manaus são os dois centros urbanos que polarizam a rede urbana regional. As políticas voltadas para a conquista integraram a Amazônia às dinâmicas territoriais nacionais. Esse processo se realizou por meio de dois vetores. Um primeiro vetor estruturou-se originalmente na década de 1960, em torno do eixo viário da Belém- Brasília. Nas décadas seguintes, a exploração dos minérios da Serra de Carajás, a implantação da E. F. Carajás e do Porto de Itaqui e a construção da hidrelétrica de Tucuruí reforçaram esse vetor, estendendo- o até São Luís (MA). Uma vasta mancha de povoamento, nucleada por áreas de intensa modificação das paisagens naturais, desdobrou-se de sul a norte no estado de Tocantins e avançou pelas porções meridional e oriental do Pará e por todo o oeste maranhense. Um segundo vetor estruturou-se a partir da década de 1970, em torno do segmento sul da Cuiabá- Santarém (BR-163) e da Brasília-Acre (BR-364). Portanto, a integração viária com o Centro-Oeste ocorre através de Rondônia, até Rio Branco, no Acre. Ao longo desse eixo aparecem as principais áreas de desflorestamento, associadas à expansão da fronteira agrícola. No norte de Mato Grosso e em Rondônia, a colonização agrícola impulsionada por migrantes do Centro-Sul originou dezenas de novos núcleos urbanos. Ao mesmo tempo, a criação e consolidação da Zona Franca de Manaus (ZFM) transformava a capital amazonense em importante centro industrial e reforçava seus vínculos externos com os capitais e mercados do Centro-Sul. Os Novos Caminhos para Manaus Na década de 1980, a ocupação intensiva de Roraima foi facilitada pela pavimentação da rodovia Manaus-Boa Vista (BR-174), que atravessa a fronteira setentrional do país, interligando-se às rodovias da Venezuela. Ao longo do seu eixo, na porção central de Roraima e nas proximidades de Manaus, surgiram em poucos anos largas faixas de devastação. A construção dessa estrada e a concomitante implantação do imenso reservatório da hidrelétrica de Balbina desfiguraram a reserva indígena Waimiri- Atroari, localizada no vale do Rio Jauaperi, a oriente do Rio Branco. A BR-174 foi a primeira rodovia pavimentada a alcançar Manaus, que até então só podia ser atingida por via fluvial ou aérea. O novo eixo destina-se a projetar a influência da ZFM para os países vizinhos. A produção industrial do enclave amazonense é parcialmente responsável pelo superávit do Brasil nas trocas comerciais realizadas com a Venezuela e pode impulsionar os fluxos de comércio do país com as economias centro- americanas. No entanto, o isolamento físico do enclave de Manaus está sendo rompido em outra direção. O projeto de pavimentação da Porto Velho-Manaus (BR-319) pretende conectar a metrópole da Amazônia Ocidental e o vetor de ocupação estabelecido em Rondônia. Com a Hidrovia do Madeira, essa estrada tem como objetivo consolidar um corredor de exportação para os produtos agrícolas de Rondônia e Mato Grosso, através do Rio Amazonas. O eixo em implantação pode acarretar, porém, nova frente de devastação da Floresta Amazônica. A fronteira agrícola de Rondônia já se moveu até Humaitá, no sudoeste do Amazonas, primeira cidade alcançada pela pavimentação da BR-319. Em torno da cidade, uma larga mancha de desflorestamento assinala a abertura da floresta para a exploraçãoda madeira, acompanhada pelo avanço da agropecuária. Os Impactos da BR-319 "Se por um lado a construção e a pavimentação de estradas na Amazônia geram benefícios na forma de redução de custos de transportes, por outro lado impulsionam o desmatamento, os conflitos sociais e a ilegalidade. A eficiência econômica e os efeitos diversos dos projetos precisam ser identificados e instrumentos que garantam uma distribuição mais equânime de custos e benefícios entre os atores afetados precisam ser implantados. Neste estudo, utilizamos a análise custo-benefício para avaliar a eficiência econômica do projeto de recuperação do principal segmento da Rodovia BR-319, localizado entre os quilômetros 250,00 e 655,70, no estado do Amazonas, de forma a contribuir com a discussão dessas questões. Este trecho encontra- se fortemente deteriorado e virtualmente intransitável desde 1986. Planeja-se sua recuperação dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 80 [...] As obras aqui analisadas, com custo de implantação de cerca de 557 milhões de reais, incluem a recuperação e a pavimentação da rodovia e a construção de quatro novas pontes entre Manaus e Porto Velho, o que viabilizará o tráfego continuado entre Manaus e o resto do país. A análise [...] demonstra que o projeto é inviável economicamente, gerando prejuízos de cerca de 316 milhões de reais, ou 33 centavos de benefícios para cada real de custos, em valores atuais. Isso significa que para que o projeto alcance viabilidade econômica, os benefícios brutos estimados teriam de ser multiplicados por três. [...] Modelagens recentes indicam que o projeto provocará forte desmatamento no Interflúvio Madeira- Purus, com a perda de importantes recursos naturais ainda em excelente estado de conservação, caso políticas eficazes de contenção do desmatamento não sejam implantadas. Estimamos que o custo econômico parcial do desmatamento [...] poderia alcançar aproximadamente 1,9 bilhão de reais, em valores atuais. Destes, 1,4 bilhão corresponderia ao efeito negativo do projeto sobre as mudanças climáticas globais, valor muito superior aos benefícios brutos gerados pelo projeto, de 153 milhões de reais." FLECK. Leonardo C. Eficiência econômica, riscos e custos ambientais da reconstrução da rodovia BR-319. Lagoa Santa: Conservação Estratégica, 2009. p. 19-20. Redes Urbanas Regionais Enquanto a Amazônia se integrava ao Centro-Sul, a rede urbana regional tornava-se mais complexa e diferenciada. Nesse processo, a influência vasta e difusa de Belém sobre todo o espaço amazônico desvanecia-se, em razão da emergência de Manaus. Na última década, configurou-se uma situação de dupla polarização, na qual se desenham esferas de influência distintas das metrópoles do Amazonas. Durante a década de 1970, com a fronteira agrícola avançando em Mato Grosso e em Rondônia, ocorreu o acelerado desenvolvimento de Porto Velho e, em grau menor, dos núcleos instalados junto à rodovia, como Vilhena, Cacoal, Ji-Paraná e Ariquemes. Na década seguinte, a fronteira agrícola moveu-se até o sul do Acre, acompanhando o trecho pavimentado da BR-364. Nas áreas das cidades de Xapuri e Brasileia, as atividades madeireiras avançaram sobre os seringais, provocando conflitos e impulsionando a organização dos seringueiros. Cenários Futuros: Entre a Devastação e a Tecnologia Para romper o ciclo de devastação e desigualdade social será preciso o desenvolvimento de políticas territoriais que valorizem as comunidades locais e a preservação da biodiversidade. As políticas territoriais amazônicas implementadas pela ditadura militar nortearam-se pela meta geopolítica de “conquista” da Amazônia. O planejamento regional elaborado nesse contexto fundamentou-se num conceito distorcido de desenvolvimento, que estimula a acumulação de capital por grandes empresas e o uso predatório dos recursos naturais. Os largos e extensos corredores de devastação ambiental e as vastas manchas de desflorestamento, assim como a poluição de rios e igarapés pelos subprodutos do garimpo, são resultado das opções de planejamento adotadas nesse período. As políticas amazônicas dissociaram a noção de desenvolvimento de seu conteúdo social. A abertura de rodovias de integração e a implantação de grandes projetos geraram intensos fluxos migratórios para a Amazônia, além do esvaziamento demográfico de várzeas e igarapés. A exclusão social se materializa nas periferias das cidades médias, nos povoados miseráveis nascidos junto a empreendimentos minerais e florestais e no surgimento de populações itinerantes, que vagueiam à procura de escassas oportunidades de trabalho. O novo ciclo de obras rodoviárias na Amazônia, especialmente a Cuiabá-Santarém (BR-163) e a Porto Velho-Manaus (BR-319), visa estabelecer a ligação entre Manaus e Porto Velho, mas ameaçava reproduzir, em escala ampliada, os desastres sociais e ambientais do ciclo anterior. A alternativa consistia em redefinir o sentido do planejamento regional, priorizando o desenvolvimento social e a valorização dos ecossistemas naturais. A geração de empregos e a exploração sustentável dos recursos naturais são as metas a serem perseguidas por um planejamento regional renovado. Um Zoneamento Econômico e Ecológico O planejamento regional da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) baseou- se em estudos de pequena escala, inadequados para a definição das realidades sociais e vocações ecológicas de áreas de médias e pequenas dimensões. Contudo, um planejamento regional voltado para o desenvolvimento sustentável não pode abrir mão do reconhecimento dessas áreas e suas peculiaridades. Atualmente, as imagens de satélite e as técnicas de cartografia computadorizada Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 81 fornecem os meios necessários para a elaboração de estudos em média e grande escala, produzindo um zoneamento econômico e ecológico do imenso espaço amazônico. A "conquista" da Amazônia deixou como herança um mosaico complexo, no qual vastas áreas de paisagens naturais quase intactas intercalam-se com zonas de garimpo, grandes projetos e corredores de devastação. Um zoneamento econômico e ecológico destina-se a elucidar a organização desse mosaico, criando bases para a seleção de políticas específicas para cada área. Um passo inicial consistiria em distinguir os espaços de preservação (reservas indígenas e unidades de proteção ambiental) dos espaços disponíveis para a valorização econômica, e cartografá-Ios nas escalas adequadas. Um segundo passo consistiria no planejamento das modalidades de uso do solo, das instalações de infraestrutura viária e energética e no desenvolvimento urbano dos espaços disponíveis. O incentivo ao aproveitamento econômico da biodiversidade também pode proporcionar vantagens econômicas. Os produtos naturais da floresta encontraram novas e sofisticadas aplicações nas indústrias farmacêutica, de cosméticos e de alimentos. Além disso, as universidades e os institutos científicos da Amazônia pesquisam técnicas adequadas para o cultivo de espécies como a seringueira e a castanheira. Esses projetos experimentais sugerem caminhos para a elaboração de modelos agrícolas a serem implantados em áreas degradadas dos corredores de ocupação. Desmatamento causado pelo garimpo de diamantes na reserva indígena Roosevelt, em Vilhena (RO, 2007) Transporte de carga na BR-155, no trecho que liga Marabá e Eldorado dos Carajás (PA, 2013) Região Sul Herdeira de uma padrão de colonização baseado em pequenas propriedades voltadas para os mercados internos, a Região Sul atualmente se destaca na produção industrial e agrícola e apresenta indicadores sociais acima da média nacional. Quanto à distribuição populacional, a Região Sul é a mais homogênea do país devido à área reduzida dessaregião e à sua ocupação em pequenas propriedades com produções diversificadas, o que pode ser relacionado com o processo de ocupação e desenvolvimento de núcleos populacionais no interior dos estados. Referente à distribuição de renda, a Região Sul apresenta uma distribuição menos desigual que a média do Brasil. Enquanto a parcela da população com rendimento mensal de até um salário mínimo é 5,8% menor que a nacional, os percentuais das outras classes de rendimento dessa região são maiores do que os brasileiros. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 82 Diversificação Econômica A diversificação em diferentes setores econômicos acarretou transformações sociais na Região Sul. A modernização da agricultura e o fortalecimento da agroindústria aceleraram o êxodo rural, aumentando a migração para outros estrados e a ocupação de áreas urbanas. Por ser a população bem distribuída no território, a estrutura fundiária é a menos desigual do pais. As terras parceladas em pequenas propriedades são características da agricultura familiar. Em 2011, mais de 2,7 milhões de pessoas trabalhavam na indústria, compondo na Região Sul o maior percentual regional de trabalhadores nessa atividade. Embora se destaquem as indústrias têxtil e alimentícia na Região Sul, o segundo maior polo industrial automobilístico brasileiro foi implantado na década de 1990 na Região Metropolitana de Curitiba. Região Sul: Domínios Naturais Entre os aspectos naturais da Região Sul destacam-se o clima subtropical, o relevo predominantemente planáltico e a presença de formações vegetais características, como a Mata das Araucárias e as pradarias. A Região Sul é formada pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A região faz fronteira com três países sul-americanos: a oeste com Paraguai e Argentina, e ao sul com Uruguai. Em 2011, a população da região chegava a 27.875.000 habitantes, ou seja, 14,27% da população do país. O clima subtropical predomina na região. No inverno, as baixas temperaturas que ocorrem principalmente nas áreas serranas e planálticas provocam geadas e até neve. Regiões litorâneas e com menores altitudes, como os vales dos rios Paraná e Uruguai, apresentam temperaturas elevadas no verão. No norte do Paraná aparece o clima tropical. Nos três estados da Região Sul predominam os planaltos recobertos originalmente pela Mata das Araucárias. Os Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná se estendem a oeste do Paraná até o Rio Grande do Sul, os Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, a leste, e o Planalto Sul-Rio- Grandense, no extremo sul. No centro, aparece a Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná, e mais ao sul a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense. No litoral do Rio Grande do Sul predomina a Planície da Lagoa dos Patos e Mirim. Ao longo do litoral, os planaltos da Região Sul apresentam escarpas de altitudes mais elevadas: a Serra do Mar e a Serra Geral. No sudoeste do Rio Grande do Sul destaca-se a Campanha Gaúcha, com relevo de coxilhas (levemente ondulado) coberto por campos limpos. Essa unidade de relevo é parte brasileira da vasta planície platina, o Pampa, que abrange também o Uruguai e a Argentina. Nessas áreas, aprecem os banhados, ecossistemas úmidos ricos em espécies animais e vegetais. Região Sul – unidades da federação http://files.planetagaia.webnode.com/200000586-08de109d58/mapa-regiao-sul.jpg. Grande parte dos rios da Região Sul pertence à Bacia Platina, formada pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai e afluentes. O Rio Uruguai nasce em território brasileiro, da fusão dos rios Canoas (SC) e Pelotas (RS), e serve de divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Brasil e Argentina, e Uruguai e Argentina, desaguando no Estuário do Prata. O Rio Paraná, segunda maior bacia fluvial em área e potencial hidrelétrico do Brasil, oferece condições de navegabilidade. A Hidrovia Tietê-Paraná tornou-se um importante sistema de transporte, aproximando o Brasil dos seus parceiros do Mercosul. Outro problema ambiental que ocorre em áreas do sudoeste do Rio Grande do Sul é o processo de arenização dos solos, ou seja, o aumento dos depósitos arenosos, dificultando a fixação da vegetação. Em área subtropical úmida, onde o processo ocorre, a água e os ventos têm importante papel na mobilidade dos sedimentos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 83 As enxurradas provocam erosão e os ventos dispersam a areia, formando dunas e expandindo o processo. A substituição da vegetação nativa dos pampas e pela pecuária extensiva ou agricultura comercial explica a degradação dos solos na região. A arenização atinge quase 4 mil hectares, em áreas dos municípios de Alegrete, São Francisco de Assis, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Uruguaiana, Quaraí, Santiago, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, São Borja, Unistalda e Cacequi. No oeste do estado do Paraná, na fronteira com a Argentina, o Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1934 e tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade em 1986. Constitui uma grande reserva florestal e inclui parte da cabia hidrográfica do Rio Iguaçu, que percorre todo o estado do Paraná, e as Cataratas do Iguaçu. Ocupação Territorial Iniciada pelos portugueses no século XVII, a colonização da Região Sul ganhou impulso no século XIX, quando de estabeleceram os principais núcleos de povoamento fundados pr imigrantes europeus. O território que hoje pertence aos estados da Região Sul inicialmente não fazia parte da América portuguesa, tendo ficado fora dos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Expedições exploradoras haviam percorrido a costa no século XVI, mas somente no século XVII começaram as atividades colonizadoras na região. Com o domínio espanhol sobre Portugal (1580-1640), o Tratado de Tordesilhas perdeu sua validade, uma vez que todas as terras pertenciam ao monarca espanhol. Colonos portugueses então se estabeleceram em territórios espanhóis, adquirindo para Portugal soberania sobre essas áreas. Jesuítas ultrapassaram a linha de Tordesilhas ao sul, fundando missões em áreas da campanha gaúcha, onde índios aldeados criavam gado - trazido dos territórios que formaram o Uruguai e a Argentina - e plantavam erva-mate. Outros povoados também foram fundados, como o de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Ainda no século XVII, os bandeirantes pau listas iniciaram o apresamento dos índios aldeados nas missões - que se destinavam à sua proteção e catequese - para vendê-las às capitanias luso-espanholas, produtoras de açúcar. Com a expulsão dos holandeses do Nordeste (1654), o tráfico negreiro voltou a abastecer os engenhos. No entanto, quando o domínio espanhol chegou ao fim, as missões estavam praticamente destruí das; o gado, solto, começou a se reproduzir nos campos do sul. Tropeiros paulistas, índios aldeados e pessoas errantes passaram então a se dedicar à caça do gado selvagem e ao comércio de couro. Com a descoberta de ouro e o desenvolvimento das minas gerais durante o século XVIII, os tropeiros desenvolveram um novo negócio: caçavam os animais, reuniam estes em currais e os transportavam até as áreas mineradoras. À Coroa portuguesa, porém, interessava garantir a posse das terras do sul. Para isso, na metade do século XVIII, Portugal enviou casais de açorianos ao território do atual Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, especialmente para a faixa litorânea, com o objetivo de povoar a região. Lotes de terras também foram doados a tropeiros, que, além de se fixar na área, deram início à criação do gado em grandes estâncias - atividade que se transformaria numa das mais importantes do atual Rio Grande do Sul. No século XIX, surgiram diversos núcleos de povoamento na Região Sul. Em 1808, famílias de açorianos fundaram a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Os primeiros imigrantes alemães se dirigirampara a atual cidade de São Leopoldo, no vale do Rio dos Sinos, em 1824. Os italianos chegaram a partir de 1875 e foram assentados em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os alemães formaram colônias de povoamento baseadas no cultivo de trigo e da policultura, ao passo que os italianos dedicaram-se ao cultivo da uva. No Paraná, imigrantes eslavos voltaram-se para o extrativismo de madeira. Estavam lançadas as raízes de uma economia rural diversificada, baseada na policultura e no trabalho familiar. Região Sul: Dinâmicas Econômicas Na Região Sul, os ramos industriais que mais se desenvolveram utilizam como matéria-prima os produtos da agropecuária. Porto Alegre e Curitiba, porém, destacam-se pela diversidade de seus parques industriais, que incluem também os setores metalúrgico e automobilístico. No século XVIII, teve início uma das primeiras e mais importantes atividades econômicas da Região Sul- a pecuária. Preocupada em garantir a posse das terras na área, evitando o avanço espanhol, a Coroa portuguesa passou a distribuir lotes de terras aos tropeiros, permitindo que os rebanhos soltos, quase dizimados pela caça e venda na região mineradora, passassem a ser criados em grandes estâncias, de Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 84 forma extensiva, espalhando-se pelo território do atual Rio Grande do Sul. Formava-se, assim, uma classe de grandes pecuaristas, que comercializavam charque ou carne-seca. Na região do atual Paraná, a extração das folhas dos arbustos de erva-mate teve início ainda no século XVII, e aos poucos se transformou em uma das principais atividades econômicas da Região Sul. Na segunda metade do século XIX, foi a vez do café. As primeiras fazendas já ocupavam o norte paranaense quando agricultores mineiros e paulistas levaram mudas para a região. No século XX, a Região Sul modernizou-se seguindo o contexto brasileiro e mundial, mas de acordo com características próprias resultantes da base econômica, social e cultural construída durante os períodos colonial, imperial e republicano, com importantes contribuições dos imigrantes. Nas áreas urbanas o artesanato familiar evoluiu para a moderna e diversificada atividade industrial. Nas áreas rurais, as pequenas e médias propriedades familiares se expandiram. Como resultado, a Região Sul apresenta indicadores sociais favoráveis em relação a outras regiões brasileiras. Em 2010, dados do IBGE indicavam menor taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais (5,5%), as menores taxas de mortalidade infantil (15,10%) e a mais alta esperança de vida ao nascer (75,2 anos). Observe a tabela. Agropecuária Em 2012, o Paraná respondia por 19.1 da produção agrícola nacional; o Rio Grande do Sul estava em terceiro lugar, com 12.1, e Santa Catarina, em nono lugar, com 3,6. No que diz respeito à produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, o Sul perde apenas para o Centro-Oeste. Na Região Sul, a produção agropecuária pode estar associada à indústria: é o caso da cultura da uva à fabricação de vinhos, do cultivo do milho à criação de frangos e porcos ou da pecuária leiteira às usinas de leite e fábricas de laticínios. A modernização da agropecuária tem provocado mudanças na estrutura agrária em toda a Região Sul, com o aumento da concentração fundiária e dos movimentos de luta pela terra, a partir da década de 1980. Pequenos proprietários e trabalhadores rurais perderam suas terras e trabalho, tendo como consequência o aumento de boias-frias e de migrações para as cidades, para outras regiões ou mesmo para outros países, como o Paraguai. Nas pastagens naturais da Região Sul desenvolve-se a pecuária extensiva de corte, geralmente em grandes propriedades e com poucos trabalhadores. Indústria e Tecnologia Os ramos industriais na Região Sul evoluíram inicialmente graças às matérias-primas fornecidas pela agropecuária - couro e calçados (pecuária), móveis (pinho), têxteis (algodão) e bebidas (uva, mate). O maior centro industrial da Região Sul é Porto Alegre. Bastante diversificado, conta com indústrias alimentícias, de fiação e tecelagem, de produtos minerais não metálicos, siderúrgicas, mecânicas, de material eletrônico, químicas, de couros e de bebidas. Rio Grande, Pelotas e Caxias do Sul destacam-se nos setores de alimentos, tecidos, móveis e calçados. O complexo metal mecânico desenvolveu-se em Gravataí, Canoas, Guaíba e Cachoeirinha. São Leopoldo e Novo Hamburgo são importantes pelos da cadeia produtiva de artigos de couro. Em São Leopoldo está se formando um importante polo de informática. A indústria automobilística ganhou força com a instalação de uma grande fábrica em Gravataí, na Grande Porto Alegre, em 2000. No Rio Grande do Sul, as aglomerações industriais se caracterizam por empresas que inovam e diferenciam produtos, ou seja, a dinâmica industrial nessa região é influenciada por empresas de maior conteúdo tecnológico. Pequenas e médias empresas têm se destacado na busca de alternativas competitivas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 85 O setor industrial de Santa Catarina também é muito importante; porém, ao contrário das outras capitais de estado no Brasil, a cidade de Florianópolis não ocupa o primeiro lugar na economia do estado. Essa posição cabe a Joinville, município mais populoso no norte catarinense, importante polo metal mecânico, além de centro de serviços. Com grandes empresas dos setores metal mecânico, químico, plástico e têxtil, tornou-se um dos mais dinâmicos polos industriais do sul do país. No Vale do Itajaí, onde se situam as cidades de Brusque, Blumenau, Pomerode, entre outras, estabeleceu-se um dos mais importantes parques têxteis do país, a partir de pequenas unidades fabris dos imigrantes europeus, sobretudo alemães. Blumenau destaca-se também por desenvolver um polo tecnológico. No eixo Chapecó-Seara-Concórdia, a produção industrial voltou-se para o setor alimentício de processamento de produtos suínos e avícolas. Apresentam ainda índice de industrialização alto os municípios de Criciúma, Lages e Joaçaba. A estrutura portuária concentra-se nos portos de Itajaí, Imbituba e São Francisco do Sul. Curitiba é o segundo maior centro industrial da Região Sul, com destaque para os estabelecimentos do setor mecânico e, mais recentemente, para as indústrias de ponta geradoras de maior valor agregado. Em 1999, uma importante montadora de carros alemã instalou-se na região de São José dos Pinhais (área metropolitana de Curitiba); em seguida, estabeleceram-se uma americana e outra francesa, consolidando um polo automobilístico na região. Turismo e Integração Com paisagens variadas e os invernos mais rigorosos do país, a Região Sul atrai grande número de turistas. Cidades com características europeias, como Canela e Gramado, ou centros produtores de vinho, como Bento 'Gonçalves e Caxias do Sul, são lugares procurados pela culinária e atrativos culturais no Rio Grande do Sul. Durante o verão, os litorais de Santa Catarina e do Paraná recebem muitos turistas estrangeiros. Tradições e festas típicas são eventos que tornam concorridos lugares como Blumenau, onde se realiza, em outubro, a festa da cerveja, chamada Oktoberfest, de origem alemã. No Rio Grande do Sul, as ruínas das povoações jesuítas do século XVII, em São Borja e São Migue das Missões, foram transformadas pela Unesco em patrimônio da humanidade. Em Ponta Grossa, no Paraná, o Parque Estadual de Vila Velha apresenta interessantes formações rochosas esculpidas pela erosão causada pelas chuvas e pelos ventos. Todos os estados da Região Sul contam com zonas de fronteira, ou seja, faixas territoriais localizadas de cada lado de um limite internacional. Nas zonas de fronteira desenvolveram-se diversas cidades cortadas por limites internacionais. Essas cidades-gêmeas geralmente apresentamgrande fluxo de pessoas e mercadorias e integração econômica e cultural. Oktoberfest em Blumenau (SC, 2010). A festa teve origem em Munique (Alemanha) no início do século XIX, e hoje é celebrada também em diversos municípios de Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Região Centro-Oeste O Meio Natural e os Impactos Ambientais A Região Centro-oeste é formada pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e pelo Distrito Federal, ocupando cerca de 18% do território e abrigando pouco mais que 7% da população do país. O clima tropical é predominante na Região Centro-oeste, caracterizado por estação bem seca no inverno e outra chuvosa no verão. O norte da região está’ sob influência do clima equatorial úmido e da massa equatorial continental. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 86 No extremo sul da região as frentes frias da massa polar atlântica causam instabilidades no inverno e queda da temperatura, ocasionando as friagens, quando a temperatura pode cair bastante. No verão, as temperaturas são mais elevadas, com máximas oscilando entre 30ºC e 40ºC. O Cerrado predomina na Região Centro-Oeste. Em seu limite oeste, localiza-se o Pantanal, enquanto o limite norte caracteriza-se pela presença da Floresta Amazônica; ao sul ocorrem remanescentes da Mata Atlântica. O Cerrado apresenta grande biodiversidade. Na vegetação, encontram-se formações florestais (mata ciliar, mata seca e cerradão), formações savânicas (cerrado no sentido restrito, arque de cerrado, palmeiral e vereda) e campestres (campo sujo, campo limpo e campo rupestre). Variações do tipo de solo e nas formas de relevo explicam essas diferenças: a mata galeria, por exemplo, formada por espécies arbóreas, ocorre nas margens de rios, em vales úmidos. Nas últimas décadas, a expansão rápida e intensiva da agropecuária tem provocado a destruição de matas ciliares e de reservas permanentes do Cerrado. Na região das nascentes do Rio Araguaia, por exemplo, a erosão provoca voçorocas (erosões profundas que atingem o lençol freático). O assoreamento dos rios e a poluição dos aquíferos também são problemas comuns no Cerrado. Iniciativas importantes do Governo Federal, como o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado e o Programa Cerrado Sustentável buscam promover a conservação, a recuperação e o manejo sustentável desse bioma, além de incentivar a valorização e o reconhecimento das populações tradicionais. Entretanto, isso não tem sido suficientes para conter a devastação. Quatro bacias hidrográficas drenam a Região Centro-oeste: Amazônica (Rio Xingu e afluentes do Amazonas), do Paraguai, do Tocantins-Araguaia e Platina (rios Paraná e Uruguai). O relevo do Centro-Oeste é predominantemente planáltico. Nele, destacam-se os Planaltos e Serras de Goiás-Minas, os Planaltos e Chapadas dos Parecis, os Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná e as Serras Residuais do Alto Paraguai. Entre os Planaltos, estão encaixadas depressões como a Marginal sul-amazônica, e do Alto Paraguai-Guaporé e a do Araguaia. O Pantanal A planície do Pantanal Mato-Grossense e a do Rio Guaporé localizam-se a oeste da região. O Pantanal é uma planícies sujeita a inundações sazonais, em decorrência da pequena declividade de seu relevo e do padrão de drenagem da bacia do Rio Paraguai. A vegetação é mista (cerrados, florestas, campos, charcos inundáveis e ambientes aquáticos), e mais de mil espécies animais, incluindo cerca de 650 tipos de aves aquáticas, vivem na região. No Pantanal, a expansão da agropecuária e as queimadas acarretaram a supressão de parte da vegetação e a contaminação dos corpos d’água por agrotóxicos. Além disso, o pantanal recebe os rejeitos da atividade mineradora de exploração de diamantes e de ouro, especialmente o mercúrio, altamente poluente. Diversos programas e políticas ambientais têm sido desenvolvidos pelo governo federal para proteger o bioma, prevendo o manejo correto de bacias hidrográficas, saneamento e apoio ao produtor. A Floresta Amazônica se estende pela metade norte do estado do Mato Grosso, e se encontra bastante ameaçada por desmatamentos e queimadas. A expansão da fronteira agropecuária nessa área, para plantio ou criação de gado, atinge áreas de conservação ambiental e provoca erosão e assoreamento nos rios. Ocupação Territorial e Dinâmicas Econômicas Originalmente, os territórios que hoje compõem a Região Centro-Oeste eram habitados por diversos agrupamentos indígenas, especialmente os bororo. Nos termos do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, essas terras pertenceriam à América espanhola. Entretanto, a partir do século XVI, sucessivas ondas de bandeirantes paulistas se dirigiram para a região com a finalidade de aprisionar e escravizar indígenas, desbravando o interior do Brasil. No final do século XVII, estimulados pela descoberta de ouro em Minas Gerais, os bandeirantes passaram a se aventurar em terras cada vez mais distantes. Subindo o Rio Cuiabá e alcançando o território bororo, os bandeirantes encontraram ouro e iniciaram a conquista do território que atualmente corresponde ao Mato Grosso. Enquanto isso, expedições pelo sertão descobriam minas de ouro no território que hoje compreende o estado de Goiás, onde foi fundada a Vila Boa, embrião da atual cidade de Goiás. Em 1726, Rodrigo César de Meneses, capitão-geral de São Paulo, chegou às minas chamadas de Cuiabá, fundando, no ano seguinte, a Vila Real do Bom Jesus, que já contava com dois portos fluviais. Deles, partiam as expedições que visavam ao apresamento de indígenas no Pantanal. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 87 A cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho, foi fundada em 1726 pelo filho do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Em 2001 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Em 1748, preocupada com a posse dessas terras, a Coroa portuguesa criou a capitania de Mato Grosso, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada pelo mineradores às margens do Rio Guaporé. Posteriormente, a sede da capitania foi transferida para a Vila de Cuiabá. A Capitania de Goiás, com sede em Vila Bela, também foi criada em 1748. Em 1750, a assinatura do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha legalizou a posse efetiva da região pelos portugueses. Porém, com a anulação desse tratado, ocorrida em 1761, a Coroa portuguesa passou a implantar uma rede de fortificações para garantir a posse da margem direta do Rio Guaporé: o Forte de Conceição foi erguido em 1762 e o Forte de Príncipe da Beira, em 1776. O Tratado de Santo Idelfonso, firmado pelas coroas ibéricas em 1777, finalmente ratificou a soberania portuguesa sobre o território das duas capitanias ocidentais. A partir de então, o povoamento luso-brasileiro passou a avançar na direção do Rio Tocantins, dizimando os índios caiapó de Goiás, os xavante do Araguaia e, mais tarde, os canoeiro do Tocantins. Do século XIX em diante, com o declínio da mineração, as províncias de Mato Grosso e de Goiás conheceram um longo período de decadência econômica e de isolamento. Apenas as atividades agrícolas de subsistência, como a extração da borracha, a criação de gado e a exploração de erva-mate, sobreviveram na região. A Ocupação Moderna do Centro-Oeste Ao longo do século XX, porém, o isolamento da região foi sendo vencido gradativamente com a transformação dos estados do Centro-Oeste em área de atração populacional. A inauguração de Goiânia, em 1933, a Marcha para o Oeste, iniciada por Getúlio Vargas na década de 1940, a construção de Brasília, assim como as políticas de integração nacional consolidadas pela ditadura militar na década de 1970, incentivaram a migração para o Centro-Oeste, contribuindo para acelerar o povoamento da região. No início do século XX, a abertura da Estrada de Ferro Noroeste Brasil (Bauru-Corumbá)ajudou a intensificar os fluxos entre o Sudeste e o Centro-Oeste. A ferrovia abriu a fronteira para a pecuária do Mato Grosso, permitindo o transporte do gado vivo até os frigoríficos de São Paulo e do Rio de Janeiro. A partir da década de 1960, rodovias como a Belém-Brasília, a Cuiabá-Porto Velho e a Brasília-Acre transformaram-se em plataforma para a conquista da Amazônia. Em 1977 o estado de Mato Grosso foi desmembrado, e dois anos depois oficializou-se a criação do estado de Mato Grosso do Sul. Goiás, por sua vez, foi desmembrado em 1988, quando se criou o estado de Tocantins, que atualmente pertence à Região Norte. Em ambos os casos, as justificativas utilizadas para o desmembramento foram a grande extensão desses estados, as dificuldades de planejamento e de administração. Cenário Econômico Recente Na década de 1970, teve início um período de intenso desenvolvimento econômico nos estados do Centro-Oeste, motivado principalmente pela modernização da agricultura. A mecanização, a introdução de novas culturas e o desenvolvimento de tecnologias e técnicas como a adubação e correção dos solos de cerrados impulsionaram a produtividade da agricultura regional, que se tornou altamente competitiva nos mercados internacionais. No entanto, essa modernização tem sido responsável por diferentes impactos ambientais, em especial o desmatamento. Desde a década de 1980, o incremento da produção agropecuária e os incentivos fiscais atraem para o Centro-Oeste indústrias ligadas à transformação de matérias-primas de origem animal ou vegetal. É o caso dos frigoríficos, das empresas de avicultura, do setor sucroalcooleiro e das indústrias que processam os grãos de soja. Instaladas próximos aos polos produtores, essas indústrias lucraram com a redução de despesas com fretes. Sendo assim, o panorama industrial da região é pouco diversificado. A exceção fica por conta de alguns polos produtivos instalados no eixo Brasília-Goiânia, em especial em Anápolis, que concentra empresas do setor farmoquímico e farmacêutico. Nas últimas décadas, o Mato Grosso do Sul foi o estado da região que apresentou maior crescimento econômico. A agricultura, praticada principalmente na porção leste do estado, beneficiou-se da proximidade com os grandes mercados consumidores do Sul e do Sudeste. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que somente no estado de Mato Grosso, o crescimento da área plantada de soja foi de 28,7% entre os anos de 2008 e 2011. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 88 A expansão dos canaviais para o Centro-Oeste também é fato recente. Os maiores índices de crescimento da produção de cana-de-açúcar são encontrados em Goiás e Mato Grosso do Sul. Além do aumento da área cultivada, destaca-se a instalação de usinas na região, o que fortalece a cadeia agroindustrial sucroalcooleira. A indústria do turismo também tem apresentado rápido crescimento na Região Centro-Oeste. O pantanal é a área mais visitada, embora os parques nacionais da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e das Esmas, no sudeste goiano, também contribuam para o aumento do número de turistas, atraídos pelas chapadas, cânions, quedas-d’água, cavernas e diversos sítios arqueológicos. No Rio Araguaia, na época da estiagem (junho a setembro), o nível das águas cai formando praias, tornando a região uma atração turística. Cidades históricas como Pirenópolis e Goiás, antiga capital goiana, atraem visitantes pelos sobrados coloniais preservados e pelas igrejas de arquitetura barroca. Em direção ao sul do estado, a cidade de Caldas Novas recebe em média um milhão de turistas por ano, em busca de suas fontes de água quente. Brasília apresenta arquitetura moderna e é considerada Patrimônio da Humanidade. Os Centros Urbanos A rede urbana do Centro-Oeste desenvolveu-se de maneira linear, seguindo as rodovias de integração e as ferrovias que ligam à Região Sudeste. Brasília, metrópole nacional, Goiânia, metrópole, assim como Campo Grande e Cuiabá, capitais regionais, situam-se sobre os grandes eixos viários. As cidades que exibem forte crescimento – como Dourados (MS), Rondonópolis (MT) e Anápolis (GO) – estão também situadas nesses eixos. A Cidade-Capital Brasília representa um caso especial, entre as grandes cidades brasileiras. Não simplesmente por ser uma cidade planejada: Belo Horizonte, fundada em 1897, e Goiânia, fundada em 1933, constituem outros exemplos de cidades planejadas no Brasil. A singularidade de Brasília reside na finalidade específica que orientou seu planejamento urbano – a criação de uma cidade-capital, condição que determinou a expansão demográfica e econômica da região. O Plano Piloto constitui o cerne da nova capital. É ele que está submetido ao plano urbanístico, com seu rígido sistema de aprovação de plantas destinado a conservar as características originais da cidade. Ideologicamente, esse plano, de autoria de Lúcio Costa, vinculava-se à tradição de pensamento urbanístico do francês Le Corbusier e da escola arquitetônica da Carta de Atenas, cujos princípios remontam ao IV Congresso de Arquitetura Moderna, realizado em 1933. A cidade deveria ser, a um só tempo, funcional e harmônica: uma engrenagem de residências, consumo e trabalho. Para isso, os planejadores deveriam dispor da capacidade de organizar o espaço de forma absoluta, excluindo as incertezas e os conflitos inerentes ao desenvolvimento espontâneo das aglomerações urbanas. A ordem seria um produto da autoridade e do saber urbanístico. A base espacial do plano urbanístico reside na segregação funcional. No interior do Plano Piloto, definiram-se as áreas reservadas às diferentes funções urbanas – administração pública, residências, comércio local e central, etc. Um eixo viário retilíneo, chamado Eixo Monumental, foi implantado e reservado aos palácios e edifícios destinados aos órgãos de poder político, à administração e às embaixadas. Esse eixo é cortado por um outro, arqueado, chamado Eixo Rodoviário, destinado à circulação expressa. Com 13 quilômetros de extensão e cinco pistas sem cruzamentos, ele separa a circulação municipal da circulação local. Juntos, os dois eixos têm o formato de asas de avião. Ao longo do Eixo Rodoviário alinham-se as superquadras, destinadas à moradia. Nessas áreas encontram-se escolas, igrejas e espaços de comércio local. Esses serviços localizam-se no interior dos conjuntos de superquadras, direcionado a circulação de pessoas para dentro e não para as ruas. O comércio de grande porte foi alocado em uma zona separada, no cruzamento entre os dois grandes eixos da cidade. Todo o sistema de zoneamento e circulação da cidade prioriza o automóvel, a circulação expressa. Concebida por Oscar Niemeyer, a arquitetura da capital é coerente com o plano urbanístico, visando reforçar simbolicamente a função de sede dos órgãos de poder político, que constitui a razão de ser de Brasília. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 89 A Cidade Polinucleada O plano urbanístico não eliminou a clássica estruturação espacial das grandes cidades brasileiras: o contraste entre as áreas centrais reservada às classes médias e às elites, de um lado, e as periferias populares, de outro. No entanto, operou uma transformação radical nesse esquema, abrindo um espaço vazio entre a área central (o Plano Piloto) e a periferia (as cidades-satélite). O elevado preço dos terrenos no Plano Piloto empurrou os mais pobres para os núcleos urbanos satélites, que cresceram como verdadeiras cidades-dormitório. Embora não estivessem formalmente previstas no plano, as cidades-satélite desenvolveram-se para, de certa forma, protege-lo, evitando a concentração da pobreza. Dessa maneira, a capital cresceu como cidade polinucleada: uma única aglomeração urbana dispersa territorialmente em diversosnúcleos separados. Esses núcleos são chamados de regiões administrativas, já que a Constituição impede a formação de municípios autônomos no Distrito Federal. A maioria da população ativa que reside nas cidades-satélite trabalha no Plano Piloto e consome horas diárias em deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego. A concentração de recursos financeiros no Plano Piloto – que abriga uma elite de políticos, burocratas da administração pública e diplomatas estrangeiros – dinamiza a economia do Distrito Federal, atraindo migrantes para as cidades-satélite. Assim, o crescimento demográfico dos núcleos urbanos ao redor é muito superior ao da área central: em 1960, o Plano Piloto concentrava cerca de metade da população do Distrito Federal; atualmente essa proporção é inferior a 15%. Questões 01. (PGE/RO – Técnico da Procuradoria – FGV) O desenvolvimento econômico da região norte pode ser entendido a partir da criação de um projeto ferroviário para interligar a região amazônica entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. No entanto, com o advento do regime militar brasileiro, nos anos 60 do século XX, o projeto ferroviário foi abandonado em razão da prioridade dada pelo regime militar ao transporte: (A) pluvial na região norte; (B) naval pelo litoral da região norte; (C) aéreo na região norte; (D) misto aéreo e pluvial da região norte; (E) rodoviário da região norte. 02. (PGE/RO – Técnico da Procuradoria – FGV) “A sensação térmica pode chegar a 38º C neste sábado (5) na capital de Rondônia. De acordo com o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), o tempo deve ser firme em todo o estado no final de semana”. A previsão é de céu claro sem chuvas em todo o centro sul. Já nas demais regiões, incluindo Porto Velho, céu claro a parcialmente nublado com pancadas de chuvas e trovoadas em áreas isoladas, podendo ser acompanhada de rajadas de ventos no período da tarde e noite. (Fonte: http://g1.globo.com/, 05/09/2015. Acesso em 20/09/2015). A descrição do tempo apresentada na notícia revela características de temperatura e pluviosidade comuns na região norte do Brasil, onde predomina o clima: (A) equatorial, com baixa amplitude térmica anual e estações bem diferenciadas em termos de precipitação; (B) tropical úmido, mesotérmico em termos de temperatura e de pluviosidade irregular; (C) tropical semiúmido, de baixa amplitude térmica anual e duas estações pluviométricas bem definidas; (D) equatorial, com pequena variação de temperatura ao longo do ano e total pluviométrico anual elevado; (E) tropical, com temperaturas médias elevadas ao longo do ano e precipitação distribuída de forma irregular ao longo do ano. 03. (Prefeitura de Santana do Jacaré/MG – Psicólogo – Reis & Reis) O Brasil segue, atualmente, a divisão regional estabelecida em 1970, em quantas regiões se divide o território brasileiro? (A) 06 regiões; (B) 05 regiões; (C) 04 regiões; (D) 01 região. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 90 04. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) A região Centro-Oeste é uma das cinco regiões do Brasil definidas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Sobre ela, é correto afirmar: (A) É a primeira região do país em superfície territorial. (B) É formada pelos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso. (C) É formada somente pelos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (D) É formada pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal. (E) É formada pelos Estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais e pelo Distrito Federal. 05. (CODAR – Motorista – EXATUS/PR) O Brasil é dividido em 5 Regiões Geográficas, estas abrigam 26 Estados e 1 Distrito Federal. Dadas estas informações, assinale a alternativa que apresenta as Regiões Geográficas Brasileiras que são formadas por apenas 3 Estados? (A) Apenas, Centro-Oeste. (B) Centro-Oeste e Sul. (C) Sul, apenas. (D) Nenhuma alternativa responde corretamente ao enunciado da questão. Gabarito 01.E / 02.D / 03.B / 04.D / 05.B ESTRUTURA GEOLÓGICA E FORMAS DE RELEVO19 O relevo influencia as atividades agrícolas, os sistemas de transporte e a malha urbana. Em todos esses casos se evidenciam a interação entre a sociedade e a natureza e a transformação do meio ambiente pelo ser humano, também demonstrando como o conhecimento das características do relevo são indispensáveis ao planejamento das atividades rurais e urbanas. Geomorfologia O relevo da superfície terrestre apresenta elevações e depressões de diversas formas e altitudes. É constituído por rochas e solos de diferentes origens, e inúmeros processos o modificam ao longo do tempo. A disciplina que estuda a dinâmica das formas do relevo terrestre é a geomorfologia. Observe o planisfério e as imagens a seguir. Planisfério físico http://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/galeria/imagens/index.aspx?d=geografia&a=5&u=4&t=mapa 19 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018. 3. O Espaço Natural Brasileiro: seu aproveitamento econômico e o meio ambiente. a. Geomorfologia do território brasileiro: O território brasileiro e a placa sul-americana; As bases geológicas do Brasil; as feições do relevo; os domínios naturais e as classificações do relevo brasileiro. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 91 Os mapas que indicam altitude de relevo são chamados mapas hipsométricos. A hipsometria é a técnica que representa as diferentes altitudes da superfície por meio de uma variação de cores. Em alguns mapas, o relevo submarino também é representado em diferentes tonalidades de azul. A fisionomia da paisagem terrestre é extremamente variada. Abaixo, dois exemplos de formações de relevo da superfície da Terra. Cânion do rio São Francisco, na divisa entre os estados de Sergipe, Alagoas e Bahia https://www.modices.com.br/dicas-de-viagem/canions-sao-francisco/ Região montanhosa na Patagônia https://www.viajali.com.br/fotos-apaixonantes-patagonia/ O relevo é resultado da atuação de agentes internos e externos na crosta terrestre. Agentes internos, também chamados endógenos, são aqueles impulsionados pela energia contida no interior do planeta. Esses fenômenos deram origem às grandes formações geológicas existentes na superfície terrestre e continuam a atuar em suas transformações. Observe a imagem do Monte Osorno (Chile), originado pelo vulcanismo, um dos agentes internos que alteram a paisagem terrestre. https://br.pinterest.com/pin/17592254764573916/ Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 92 Agentes externos, também chamados exógenos, atuam na modelagem da crosta terrestre, transformando as rochas, erodindo os solos e dando ao relevo o aspecto que apresenta atualmente. Os principais agentes externos são naturais, a temperatura, o vento, as chuvas, os rios e oceanos, as geleiras, os microrganismos, a cobertura vegetal, mas há também a ação crescente dos seres humanos. Entre os agentes externos, destaca-se o ser humano. Mineração, aterramento, desmatamento, terraplanagem, canalização e represamento são exemplos de ações humanas que alteram diretamente as formas do relevo, como o que ocorreu com o pico do Cauê, em Itabira, em decorrência de intensa mineração. Abaixo imagens de como era o pico na década de 1970, e como foi posteriormente transformado em cratera. http://somagui.blogspot.com/2015/11/itabira-e-um-retrato-na-parede.html As forças externas naturais são, portanto, modeladoras e atuam de forma contínua ao longo do tempo geológico. Ao agirem na superfície da crosta, provocam a erosão e alteram o relevo por meio de suas três fases: intemperismo, transporte e sedimentação. Intemperismo →é o processo de desagregação (intemperismo físico) e decomposição (intemperismo químico) sofrido pelas rochas. O principal fator de intemperismo físico é a variação de temperatura (dia e noite, verão e inverno), que provoca dilatação e concentração das rochas, fragmentando-as. Já o intemperismo químico resulta, sobretudo, da ação da água sobre as rochas, provocando, com o passar do tempo, uma lenta modificação na composição química dos minerais. Ambos os intemperismos atuam concomitantemente, mas dependendo das características climáticas um pode atuar de maneira mais intensa que o outro. Transporte e sedimentação→ o material fragmentado pelo intemperismo está sujeito a erosão. Nesse processo, as águas e o vento desgastam a camada superficial de solos e rochas, removendo substâncias que são transportadas para outro local, onde se depositam ou se sedimentam. O relevo se modifica tanto no local de onde o material foi removido como no local onde ele é depositado, que forma ambientes de sedimentação: fluvial (rios), glaciário (gelo e neve), eólico (vento), marinho (mares e oceanos) e lacustre (lagos), entre outros. A atuação do intemperismo é acentuada ou atenuada conforme características do clima, da topografia20, da biosfera, dos minerais que compõem as rochas e do tempo de exposição delas às intempéries21. Os diferentes minerais apresentam maior ou menor resistência à ação do intemperismo e da erosão. Em ambientes mais quentes e úmidos, o intemperismo químico é mais intenso, enquanto em ambientes mais secos predomina o intemperismo físico. As rochas que compõem os escudos cristalinos, por serem de idades geológicas remotas, sofreram por mais tempo a ação do intemperismo e da erosão, o que se reflete em suas formas. As altitudes modestas e as formas arredondadas, como nos montes Apalaches (Estados Unidos), nos alpes Escandinavos (Suécia e Noruega), na serra do Espinhaço (Brasil) e nos montes Urais (Rússia), mostram a ação desses processos modeladores nas formas do relevo. A exposição ao sol aquece as rochas provocando sua dilatação. Com a chuva e a ação das marés, há queda brusca de temperatura, o que provoca contração e desagregação mecânica de partículas. 20 Topografia é a ciência que estuda todos os acidentes geográficos definindo a sua situação e localização na Terra. 21 Intempérie é o substantivo feminino que significa mau tempo ou tempestade. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 93 Costão rochoso na ilha do Farol, em Arraial do Cabo (RJ) https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g1056623-d1368438-i95639294-Prainhas_do_Pontal_do_Atalaia- Arraial_do_Cabo_State_of_Rio_de_Janeiro.html A erosão é resultado da ação de algum agente, como chuva, vento, geleira, rio ou oceano, que provoca o transporte de material sólido. Na imagem abaixo, dunas nos Lençóis Maranhenses, em Barreirinhas (MA), um exemplo de ação do vento (erosão eólica). https://www.xapuri.info/ecoturismo/dunas-lagos-lencois-maranhenses/ Curvas de Nível Refere-se à prática que consiste em arar o solo e semeá-lo seguindo as cotas altimétricas do relevo (curvas de nível ou isoípsas22), o que por si só já reduz a velocidade de escoamento superficial da água da chuva. https://www.gedtopografia.com/services/calculo-de-curva-de-nivel/ 22 Isoípsa ou ¨ curva de nível¨ é o nome que se dá à uma linha que em um mapa topográfico une os pontos que apresentam a mesma elevação ou cota. A isoípsa é considerada uma “isolinha”. A representação da isoípsa é indispensável em um mapa topográfico. É muito usada também na agricultura moderna. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 94 Classificação do Relevo Brasileiro Em 1940, foi elaborada uma classificação dos compartimentos do relevo brasileiro considerada até então a mais coerente com a geomorfologia do nosso território. Seu autor foi o geógrafo e geomorfólogo Aroldo de Azevedo (1910-1974), que, considerando as cotas altimétricas23, definiu planaltos como terrenos levemente acidentados, com mais de 200 metros de altitude, e planícies como superfícies planas, com altitudes inferiores a 200 metros. Essa classificação divide o Brasil em sete unidades de relevo, com os planaltos ocupando 59% do território e as planícies, os 41% restantes. Em 1958, Aziz Ab’Sáber (1924-2012) publicou um trabalho propondo alterações nos critérios de definição dos compartimentos do relevo. A partir de então, foram consideradas as seguintes definições: Planalto → área em que os processos de erosão superam os de sedimentação. Planície → área mais ou menos plana em que os processos de sedimentação superam os de erosão, independentemente das cotas altimétricas. Essa classificação divide o Brasil em dez compartimentos de relevo, com os planaltos ocupando 75% do território e as planícies, 25%. Em 1989, Jurandyr Ross (1947) divulgou a mais recente classificação do relevo brasileiro, com base nos estudos e classificações anteriores e na análise de imagens de radar obtidas no período de 1970 e 1985 pelo Projeto Radambrasil, que consistiu em um mapeamento complexo e minuciosos do país. Além dos planaltos e das planícies, foi detalhado mais um tipo de compartimento: Depressão → relevo aplainado, rebaixado em relação ao seu entorno; nele predominam processos erosivos. O território brasileiro possui, ainda, uma grande diversidade de formas e estruturas de relevo, como serras, escarpas, chapadas, tabuleiros, cuestas24 e muitas outras. Diferença Entre Forma e Estrutura do Relevo Brasileiro O território brasileiro é formado por estruturas geológicas antigas. Com exceção das bacias de sedimentação recente, como a do Pantanal Mato-Grossense, parte ocidental da bacia Amazônica e trechos do litoral nordeste e sul, que são do Terciário e do Quaternário (Cenozoico), o restante das áreas tem idades geológicas que vão do Paleozoico ao Mesozoico, para as grandes bacias sedimentares, e ao Pré-Cambriano (Arqueozoico-Proterozoico), para os terrenos cristalinos. No território brasileiro, as estruturas e as formações litológicas25 são antigas, mas as formas do relevo são recentes. Estas foram produzidas pelos desgastes erosivos que sempre ocorreram e continuam ocorrendo, e com isso estão permanentemente sendo reafeiçoadas (mudando de forma). Desse modo, as formas grandes e pequenas do relevo brasileiro têm como mecanismo genético, de um lado, as formações litológicas e os arranjos estruturais antigos, de outro, os processos mais recentes associados à movimentação das placas tectônicas e ao desgaste erosivo de climas anteriores e atuais. Grande parte das rochas e estruturas que sustentam as formas do relevo brasileiro são anteriores à atual configuração do continente sul-americano, que passou a ter o seu formato depois da orogênese andina e da abertura do oceano Atlântico, a partir do Mesozoico. 23 Cota altimétrica é o número que exprime a altitude de um ponto em relação ao nível do mar ou a outra superfície de referência. 24 Cuesta é uma forma de relevo em que colinas e montes têm um declive não simétrico, ou seja, suave de um lado e íngreme do outro. A palavra tem origem no idioma espanhol e significa encosta de uma colina ou monte. 25 O termo litologia pode se referir ao estudo especializado em rochas e suas camadas e que estuda os processos de litificação, ou às categorizações referentes a esses mesmos processos e aos tempos geológicos em que ocorreram. Litologia está relacionada à rocha que irá formar o solo. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 95 Classificação de Jurandyr L. S. Ross http://www.clebinho.pro.br/wp/?p=9992 Bacia Sedimentar x Planície Não devemos confundir bacia sedimentar, denominação que se refere à estrutura geológica, com planície, que se refere à formado relevo. A estrutura sedimentar indica a origem, a formação e a composição de parte da crosta, ocorrida ao longo do tempo geológico. Durante sua formação, enquanto a sedimentação supera os processos erosivos, a bacia sedimentar é sempre uma planície. No entanto, uma bacia sedimentar que no passado foi uma planície pode estar atualmente sofrendo um processo de erosão, de desgaste, e, portanto, corresponder a um planalto ou a uma depressão, com as da Amazônia. Em contrapartida, bacias sedimentares que hoje ainda estão em processo de formação correspondem a planícies. Um exemplo: a planície do Pantanal. Na imagem abaixo pode-se observar um trecho do Pantanal, em Corumbá (MS), durante o período das cheias. Este é um exemplo típico de planície em formação, uma vez que durante as inundações anuais ocorre intensa sedimentação. http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2015/10/decreto-define-criterios-de-uso-sustentavel-do-pantanal-para-o-car.html Agora observe esse relevo de origem sedimentar que está sofrendo erosão e, portanto, é um planalto sedimentar, localizado na Chapada dos Guimarães (MT). Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 96 https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/chapada-dos-guimaraes/ Outras Formas do Relevo Ao estudarmos as formas do relevo brasileiro, encontramos ainda outras categorias: Escarpa → declive acentuado que aparece em bordas de planalto. Pode ser gerada por um movimento tectônico, que forma escarpas de falha, ou ser modeladas pelos agentes externos, que geram escarpas de erosão. Cuesta → forma de relevo que possui um lado com escarpa abrupta e outro com declive suave. Essa diferença de inclinação ocorre porque os agentes externos atuaram sobre rochas com resistências diferentes. Chapada → tipo de planalto cujo topo é aplainado e as encostas são escarpadas. Também é conhecido com planalto tabular. Morro → em sua acepção mais comum é uma pequena elevação de terreno, uma colina. Em sua classificação dos domínios morfoclimáticos, Ab’Sáber destacou os “mares de morros”. Montanha → os movimentos orogenéticos (enrugamento, dobra e soerguimento da crosta devido à ação das forças endógenas) deram origem às grandes cadeias montanhosas do planeta. Os dobramentos modernos do Cenozoico são o exemplo mais lembrado, pois são as maiores montanhas existentes, como os Andes e o Himalaia. No Brasil não ocorreram dobramentos modernos, mas sim dobramentos mais antigos que ao longo do tempo geológico foram modelados pelos processos exógenos, dando origem a formas rebaixadas e desgastadas (montanhas antigas), como o monte Roraima e as elevações dos planaltos e serras do Atlântico. Serra→ esse nome é utilizado para designar um conjunto de formas variadas de relevo, como dobramentos antigos e recentes, escarpas de planalto e cuestas. Sua definição e uso não são rígidos, sofrendo variação de uma região para outra do país. Inselberg → (do alemão, “monte ilha”), saliência no relevo encontrada em regiões de clima árido e semiárido. Sua estrutura rochosa foi mais resistente à erosão do que o material que estava em seu entorno. Questões 01. (ENEM) Muitos processos erosivos se concentram nas encostas, principalmente aqueles motivados pela água e pelo vento. No entanto, os reflexos também são sentidos nas áreas de baixada, onde geralmente há ocupação urbana. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 97 Um exemplo desses reflexos na vida cotidiana de muitas cidades brasileiras é (A) a maior ocorrência de enchentes, já que os rios assoreados comportam menos água em seus leitos. (B) a contaminação da população pelos sedimentos trazidos pelo rio e carregados de matéria orgânica. (C) o desgaste do solo nas áreas urbanas, causado pela redução do escoamento superficial pluvial na encosta. (D) a maior facilidade de captação de água potável para o abastecimento público, já que é maior o efeito do escoamento sobre a infiltração. (E) o aumento da incidência de doenças como a amebíase na população urbana, em decorrência do escoamento de água poluída do topo das encostas. 02. (ENEM) As áreas do planalto do cerrado – como a chapada dos Guimarães, a serra de Tapirapuã e a serra dos Parecis, no Mato Grosso, com altitudes que variam de 400 m a 800 m – são importantes para a planície pantaneira mato-grossense (com altitude média inferior a 200 m), no que se refere à manutenção do nível de água, sobretudo durante a estiagem. Nas cheias, a inundação ocorre em função da alta pluviosidade nas cabeceiras dos rios, do afloramento de lençóis freáticos e da baixa declividade do relevo, entre outros fatores. Durante a estiagem, a grande biodiversidade é assegurada pelas águas da calha dos principais rios, cujo volume tem diminuído, principalmente nas cabeceiras. Cabeceiras ameaçadas. Ciência Hoje. Rio de Janeiro: SBPC. Vol. 42, jun. 2008 (adaptado). A medida mais eficaz a ser tomada, visando à conservação da planície pantaneira e à preservação de sua grande biodiversidade, é a conscientização da sociedade e a organização de movimentos sociais que exijam (A) a criação de parques ecológicos na área do pantanal mato-grossense. (B) a proibição da pesca e da caça, que tanto ameaçam a biodiversidade. (C) o aumento das pastagens na área da planície, para que a cobertura vegetal, composta de gramíneas, evite a erosão do solo. (D) o controle do desmatamento e da erosão, principalmente nas nascentes dos rios responsáveis pelo nível das águas durante o período de cheias. (E) a construção de barragens, para que o nível das águas dos rios seja mantido, sobretudo na estiagem, sem prejudicar os ecossistemas. Gabarito 01.A / 02.D Comentários 01. Resposta: A A erosão é um processo constituído por três etapas: intemperismo, transporte e sedimentação. As partículas das rochas são transportadas pelos agentes erosivos (água das chuvas, rios, ventos e outros) para as partes mais baixas do relevo e, quando o material sedimenta nos rios, provocam assoreamento e maior ocorrência de enchentes. 02. Resposta: D As diferenças de altitude entre a planície do Pantanal e as serras e planaltos que o circundam o tornam uma área inundável. No tocante ao seu papel na manutenção do nível das águas, tanto no período chuvoso quanto no de estiagem, as agressões ambientais que acontecem no entorno do Pantanal causam impacto direito em seu interior, destacando-se a redução no volume de água disponível e o assoreamento. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 98 QUESTÕES AMBIENTAIS DO PLANETA26 Os Problemas Ambientais: A Degradação Ambiental e seus Impactos Como introdução ao conteúdo de problemas ambientais mundiais, iniciemos observando a seguinte manchete: “As marcas da destruição do planeta - Nações Unidas radiografam em quinze fotos, a saúde da Terra e advertem que os Estados não estão no caminho certo para cumprir os principais tratados internacionais sobre meio ambiente”. (https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/13/album/1552476582_773089.html#foto_gal_5) Vamos observar abaixo as fotos chocantes e suas legendas: 1) Caranguejo preso em um copo de plástico no mar na Passagem de Isla Verde, nas Filipinas, em 7 de março de 2019. 2) Algumas vacas atravessando a lagoa seca de Aculeo, em Paine (Chile), em 9 de janeiro de 2019. 3) Poluição causada por veículos em uma rua em Nova Delhi (Índia), em 14 de novembro de 2017. 26 TAMDJIAN, James Onning. Geografia: estudos para compreensão do espaço. 2ª edição. São Paulo: FTD, 2013. b. A questão ambiental no Brasil. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 99 4) Cão sobre uma montanha de lixo em Nova Delhi (Índia), em 5 de março de 2019. 5) Casal junto a seus animais, resgatadosde uma inundação em Burgaw, Carolina do Norte (Estados Unidos), em 17 de setembro de 2018. 6) Chaminés de uma refinaria de petróleo no estado de Utah (Estados Unidos), em 10 de dezembro de 2018. 7) Voluntários limpando a baía de lixo de Lampung em Sumatra, em 21 de fevereiro de 2019. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 100 8) Edifícios envoltos por uma nuvem de poluição em Seul (Coréia do Sul), em 6 de março de 2019. 9) Grupo de trabalhadores protegendo-se da poluição com máscaras durante uma manifestação em Seul (Coreia do Sul) em 6 de março de 2016. 10) Vista aérea de uma área desmatada da floresta amazônica, no sudeste do Peru, causada pela mineração ilegal, em 19 de fevereiro de 2019. 11) Bombeiros tentando apagar um incêndio na aldeia grega de Kineta, em 24 de julho de 2018. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 101 12) Vista aérea da ponte ferroviária derrubada por um deslizamento de terra após o colapso, em 25 de janeiro de 2019, de uma barragem em uma mina de minério de ferro em Brumadinho, Minas Gerais. 13) Restos mortais de um urso polar morto como resultado da falta de comida devido à mudança climática, fotografado em julho de 2013, no oeste de Svalbard (Groenlândia). 14) Vista aérea do desaparecimento do mar de Aral em 2018, no Uzbequistão. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 102 15) Mergulhadores nadando em uma cama de corais mortos na Ilha Tioman da Malásia, em 2018. Feita a análise das fotos acima, podemos concluir que a humanidade está diante de uma terrível crise ambiental. O modelo de desenvolvimento econômico calcado no avanço do industrialismo, no consumismo desenfreado e na exploração cada vez mais intensa dos recursos naturais do planeta tem levado tanto ao agravamento quanto ao surgimento de novos problemas ambientais. Diante dos problemas ambientais existentes no passado, os sintomas da crise ambiental contemporânea adquiriram proporções jamais alcançadas, atingindo, inclusive, as áreas mais remotas e inóspitas do planeta, como as regiões polares, que já sofrem os efeitos das alterações climáticas desencadeadas pela intensa poluição atmosférica. Esse exemplo do derretimento das geleiras polares no Ártico, decorrente do aquecimento atmosférico global, nos revela também outra face da problemática ambiental contemporânea, em que os problemas ambientais deixaram de se restringir no âmbito local ou regional para se tornarem questões de ordem planetária. As Origens dos Problemas Ambientais Desde a Antiguidade, o ambiente é um tema discutido pelas sociedades. Na Grécia antiga, por exemplo, os filósofos já debatiam sobre qual era a essência de tudo o que existe no mundo, especialmente da água, da terra, do fogo e do ar. As poucas, mas significativas, descobertas feitas por eles levaram-nos a acreditar que a Terra era perfeitamente harmônica, concebida por algo divino e de extrema inteligência. Aristóteles (c. 485 a.C-420 a.C.), um dos maiores pensadores gregos, defendia que todas as coisas na Terra, vivas e não vivas (como as rochas), tinham uma profunda ligação entre si e até mesmo uma essência comum, sendo úteis para a sobrevivência. Pouco a pouco se desenvolveu a ideia de que a Terra é um gigantesco ser vivo. Na Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), o ambiente passou a ser tratado isoladamente, como se fosse um conjunto de elementos que não tinham nenhuma relação com a sociedade e existiam apenas para atender às suas necessidades. Dentro desse contexto histórico, com suas características sociais, econômicas e políticas, os interesses econômicos privados tomaram-se explícitos e prevaleceram sobre qualquer alerta de problemas ambientais que poderiam surgir em longo prazo. De meados do século XIX até os nossos dias, ocorreu um verdadeiro saque aos recursos naturais e uma destruição de muitos elementos da natureza. A Sociedade de Consumo Vivemos em uma sociedade marcada e dominada pela lógica do consumo. Todos os seus componentes, jovens, adultos e idosos, sejam eles ricos ou pobres, estão inseridos nesse contexto. Grande parte dos meios de comunicação faz uma ligação entre o consumo e o prazer. São centenas de milhares de produtos apresentados como necessários para se alcançar a felicidade. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 103 É cada vez mais comum observarmos que o ato de consumir é colocado como uma das formas que permite ao cidadão ou ao indivíduo sentir-se inserido na sociedade. A expansão acelerada do consumismo acarreta alta demanda de energia, minérios, água e tudo o que é necessário à produção e ao funcionamento dos bens de consumo. Esse padrão vem se difundindo em todo o globo, por uma espécie de globalização do consumo, que vem crescendo a cada ano. Extensos estudos feitos pela ONU, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, alertam para a velocidade de utilização dos recursos naturais, que já é muito maior que a capacidade de regeneração da natureza, uma vez que a reposição de alguns elementos é impossível, pois a escala de tempo para a sua formação é milhões de vezes maior que a da vida média dos seres humanos. O Consumo e seus Impactos no Espaço Urbano O consumo crescente também altera a paisagem urbana. As melhores áreas e as mais centrais, ou ainda com melhor acessibilidade, normalmente são dominadas pelo setor comercial, gerando uma hipervalorizarão dos imóveis em seu entorno. Essa especulação imobiliária nos grandes centros urbanos empurrou e ainda empurra um grande número de trabalhadores para locais distantes dos seus postos de trabalho. Quanto maiores forem os deslocamentos, maiores serão os custos de transporte e a poluição gerada. Um exemplo disso é a produção de veículos, que por sua vez está atrelada à produção de aço, petróleo, ferramentas e máquinas. Em uma sociedade de consumo, o investimento em transporte deve se manter vinculado à produção de mercadorias a serem transportadas. Portanto, mais consumo, maior produção; maior produção, mais transportes; mais transportes, maior emissão de poluentes. Por fim, a produção de energia deve também acompanhar o crescimento de todas essas atividades econômicas, o que demanda também maior produção de equipamentos. Note, portanto, que estamos praticamente em um ciclo vicioso. O Desenvolvimento Sustentável Apesar de relativamente recente, a ideia de desenvolvimento sustentável vem ganhando espaço com o desenvolvimento das relações internacionais intensificadas pelo aumento das trocas comerciais, principalmente nos últimos 200 anos. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que essas preocupações ganharam relevância. Uma das principais razões para isso foi a tragédia das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (1945), que mataram centenas de milhares de pessoas. Ao deixar um rastro de radioatividade, as bombas ampliaram muito as ocupações ambientais de uma considerável parcela da população mundial. Com a criação da ONU, em 1945, as relações internacionais passaram por uma mudança que também atingiu a questão ambiental. Em 1949 ocorreu a conferência das Nações Unidas para a Conservação e Utilização dos Recursos (Unscur), em Nova York. Em 1968, intelectuais, empresários e líderes políticos criaram uma organização voltada ao debate sobre o futuro da humanidade, o chamado Clube de Roma, que financiava pesquisas para publicação de relatórios importantes. Em 1972 eles lançaram o relatório Limites do crescimento, em conjunto com cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Esse relatório gerou muita polêmica, pois basicamente afirmava que, se continuassem os ritmos de crescimento da população, da utilização dos recursos naturaise da poluição, a humanidade correria sérios riscos de sobrevivência no final do século XXI. Um Novo Patamar de Discussões a partir de 1972 Em 1972, a ONU organizou a Conferência de Estocolmo, conhecida também como a Primeira Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano. Já se sabia que a economia do planeta consumia um volume cada vez maior de combustíveis fósseis e recursos não renováveis, lançando bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, criando assim, uma grande instabilidade climática. Era preciso reduzir o impacto das atividades econômicas, mas, para isso, fazia-se necessário reduzir o consumo e o desperdício. Começava, então, uma corrida para se atingir o desenvolvimento sustentável. Efetivamente, poucos avanços foram conseguidos ao final desse encontro em 1972. Porém, a sensibilização das lideranças da comunidade internacional acabou levando a ONU a criar, naquele período, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conhecida pela sigla Pnuma. No entanto, tanto os países em desenvolvimento quanto os muito pobres não estavam interessados em abrir mão das vantagens do desenvolvimento econômico em nome da preservação ambiental. Assim, Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 104 como havia muitas discussões sem solução, foi adotado um primeiro conceito chamado “ecodesenvolvimento27”. Somente em 1987 o Pnuma divulgou o relatório Nosso futuro comum, sendo o primeiro grande documento científico que apresentou com detalhes as causas dos principais problemas ambientais e ecológicos. A grande contribuição desse documento foi a popularização do chamado desenvolvimento sustentável, como um aperfeiçoamento do ecodesenvolvimento. Para atingir o desenvolvimento sustentável seria necessário: → A implantação de projetos econômicos baseados em tecnologias menos agressivas ao ambiente como uma forma de ajuda ao combate das instabilidades e do subdesenvolvimento, que representavam um risco para o equilíbrio ecológico, justamente pela falta de recursos para implementar as mudanças necessárias; → O combate da pobreza humana, uma vez que populações desempregadas e desamparadas tendem a retirar recursos da natureza de forma descontrolada para sua sobrevivência, incluindo assim, o conceito de desenvolvimento social; → A tomada de decisões sobre os caminhos a serem tomados, com ampla participação da sociedade, para que fossem revertidos em resultados positivos ao equilíbrio ambiental, incluindo assim, a democracia. Assim, definiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável: Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Eco 92 Em junho de 1992, a ONU organizou na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), que ficou conhecida como Cúpula da Terra ou Eco 92. Entre os objetivos principais dessa conferência, destacaram-se: → Examinar a situação ambiental mundial desde 1972 e suas relações com o estilo de desenvolvimento vigente; → Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não poluentes aos países subdesenvolvidos; → Incorporar critérios ambientais ao processo de desenvolvimento; → Prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos emergenciais; → Reavaliar os organismos da ONU, eventualmente criando novas instituições para implementar as decisões da conferência. Abaixo vamos conhecer algumas resoluções e documentos importantes da ECO-92. A Convenção do Clima A Convenção do Clima atribuiu aos países desenvolvidos a responsabilidade pelas principais emissões poluentes, dando a eles os encargos mais importantes no combate às mudanças do clima. Aos países em desenvolvimento, concedeu-se a prioridade do desenvolvimento social e econômico, mantendo, porém, a tarefa de controlar suas parcelas de emissões de poluentes na medida em que se industrializassem. As recomendações da convenção foram: → Adotar políticas que promovessem eficiência energética e tecnologias mais limpas; → Reduzir as emissões do setor agrícola; → Desenvolver programas que protegessem os cidadãos e a economia contra possíveis impactos da mudança do clima; → Apoiar pesquisas sobre o sistema climático; → Prestar assistência a outros países em necessidade; → Promover a conscientização pública sobre essa questão. Infelizmente os acordos da Eco 92 ficaram apenas no plano das boas intenções. 27 O ecodesenvolvimento é um conjunto de ideias e procedimentos que dão prioridade ao processo criativo de transformação do meio em que vivemos, porém, com a ajuda de técnicas ecologicamente corretas e que sejam adequadas a da um dos lugares. São as populações desses lugares que devem se envolver, se organizar, utilizar os recursos naturais de forma prudente e procurar soluções que em a um futuro digno. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 105 A Convenção da Biodiversidade Nessa convenção, estava prevista a transferência de parte dos recursos ou lucros obtidos com a exploração e comercialização dos recursos naturais para o seu local de origem, que receberia esse volume de dinheiro para aplicar em programas de preservação e de educação ambiental. Esse tratado visava a favorecer o diálogo Norte-Sul, ou seja, as relações entre os países desenvolvidos e as nações em desenvolvimento. Porém, muito pouco foi feito. A evolução dos estudos genéticos levou a biotecnologia a adquirir a capacidade de alterar e reproduzir organismos, como plantas e seres vivos em geral. Esse fato dotou os países ricos da possibilidade de explorar produtos naturais e modificá-los geneticamente, adquirindo o direito de patentear tais espécies. Isso abriu espaço para a biopirataria. A Agenda 21 Esse documento, assinado pela comunidade internacional durante a Eco 92, assumiu compromissos para a mudança do padrão de desenvolvimento no século XXI. Ou seja, a Agenda 21 procurou traduzir em ações o conceito de desenvolvimento sustentável. O termo "agenda" teve, nesse caso, o sentido de intenções, isto é, de propostas de mudanças, visando a criar um modelo de civilização pelo qual sejam possíveis a convivência e a simultaneidade do equilíbrio ambiental com a justiça social entre as nações. A Agenda 21 buscava: → Geração de emprego e de renda; → Diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda; → Mudança nos padrões de produção e consumo; → Construção de cidades sustentáveis; → Adoção de novos modelos e instrumentos de gestão. No entanto, para alcançar essas metas, era preciso mobilizar, além dos governos, todos os segmentos da sociedade. Uma Nova Etapa Pós Eco 92: o Protocolo de Kyoto Como estava previsto na Convenção do Clima, assinada durante a Eco 92, deveria ocorrer um novo encontro internacional para se discutir a redução da emissão de gases responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta. Tal reunião ocorreu em 1997, em Kyoto, no Japão, onde líderes de 160 nações assinaram um compromisso que ficou conhecido como Protocolo de Kyoto. Esse documento previa, entre 2008 e 2012, um corte de 5,2% nas emissões dos gases causadores do efeito estufa, em relação aos níveis de 1990. Para entrar em vigência, o Protocolo de Kyoto deveria ser ratificado por, no mínimo, 55 governos, que, se somados, representariam no mínimo 55% das emissões de CO² produzidas pelos países industrializados. Essa porcentagem foi adotada para que os Estados Unidos, um dos maiores poluidores do planeta, não pudesse impedir, sozinho, a adoção dessas medidas. A Rio+10 Em 2002, mais uma vez a ONU tentou estabelecer ações globais para a melhoria da qualidade de vida. Tal medida ficou conhecida como Rio+10, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, que se realizou em Johanesburgo, na África do Sul.Os principais temas então abordados foram: Clima e energia: foi estabelecido o uso de energias limpas, mas não foram determinadas as metas. Por isso, os ambientalistas protestaram, afirmando que o texto permitia a inclusão da energia nuclear, já que incentivava as energias avançadas; Subsídio agrícola: segundo muitos críticos, a superficialidade do texto fortaleceu a OMC, controlada pelos países ricos, e esvaziou o papel mediador da ONU; Protocolo de Kyoto: desde o protocolo, pouco mudou, pois os países que não haviam assinado até então, apenas prometeram que estudariam o caso (exceto os Estados Unidos, que até mesmo abandonou a reunião antes de seu final); Biodiversidade: decidiu-se reduzir o ritmo de desaparecimento de espécies em extinção e repassar os recursos obtidos pela exploração de produtos naturais para seus locais de origem; Água e saneamento: foi decidido que se devia aumentar o número de pessoas com acesso à água potável. Os críticos afirmaram, porém, que o texto poderia ser mais específico quanto aos procedimentos conjuntos a serem adotados; Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 106 Transgênicos: foram objeto de polêmica, pois as organizações supranacionais recomendaram que regiões com fome crônica adotassem esses alimentos. Por outro lado, o mesmo documento dizia que os países teriam o direito de rejeitar os transgênicos até o surgimento de estudos mais conclusivos; Pesca e oceano: o tema constituiu a maior conquista da reunião, já que previa a criação de áreas de proteção marinha e a abolição imediata de qualquer subsídio à atividade pesqueira irregular. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). O principal papel desse organismo foi o de criar relatórios e documentos para acompanhar a situação ambiental do planeta e também o de fornecer essas informações para a Convenção do Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, órgão responsável por essas discussões. Em 2007, o IPCC recebeu, junto com o ex-vice-presidente estadunidense AI Gore, o prêmio Nobel da paz, pelo trabalho de divulgação e busca de conscientização sobre os riscos das mudanças climáticas. Veja os principais alertas do IPCC: → A temperatura da Terra deve subir entre 1,8ºC e 4ºC, nas próximas décadas, o que aumentaria a intensidade de tufões e secas, ameaçaria um terço das espécies do planeta e provocaria epidemias e desnutrição; → O derretimento das camadas polares poderia fazer com que os oceanos se elevassem entre 18 e 58 cm até 2100, fazendo desaparecer pequenas ilhas e, assim, obrigando centenas de milhares de pessoas a aumentar o fluxo dos chamados "refugiados ambientais". A Conferência de Copenhague Em dezembro de 2009, realizou-se em Copenhague, Dinamarca, a Cop-15 (Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima), tendo como princípio norteador, as responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Mas o que seria isso? Os países industrializados, que historicamente foram os primeiros a lançar uma quantidade maior de CO² e outros gases de efeito estufa na atmosfera, teriam uma responsabilidade maior no corte de emissões. Acreditava-se que eles fossem assumir plenamente uma meta de 25 a 40% de redução até 2020. Os países emergentes seguiriam o mesmo caminho, mas com outras metas. A Rio+20 Em 2012, o Rio de Janeiro foi sede de um evento para marcar o 20º aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento do meio Ambiente, realizada em 1992, conhecida como Rio 92. O encontro foi popularmente chamado de Rio+20. A meta principal foi fazer um balanço dos últimos anos na busca de um modelo econômico baseado no desenvolvimento sustentável. Uma das principais resoluções foi transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência da ONU, como por exemplos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), o que lhe daria mais poderes e recursos. Um exemplo de avanço na Rio+20 foram acordos para a redução da emissões de gases causadores de efeito estufa. Os Principais Problemas Ambientais do Planeta Poluição Atmosférica A poluição do ar consiste no lançamento e acúmulo de partículas sólidas e gases tóxicos que se concentram na atmosfera terrestre alterando suas características físico-químicas. De maneira geral, os poluentes atmosféricos podem ser produzidos por fontes primárias ou secundárias. Os poluentes primários são aqueles liberados diretamente das fontes de emissão, como os gases que provém de queimadas em florestas ou da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), lançados do escapamento dos veículos automotores e também das chaminés das fábricas, entre eles, monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO²), dióxido de enxofre (SO²) e metano (CH4). Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 107 Os poluentes secundários, por sua vez, são aqueles formados na atmosfera a partir de reações químicas entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera, como o ácido sulfúrico (H²SO4), ácido nítrico (HNO³) e ozônio (O³). A esses poluentes somam-se ainda materiais particulados que abrangem um grande conjunto de poluentes formados por poeiras, fumaças, materiais sólidos e líquidos, que se mantêm suspensos na atmosfera. Desde o início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, o nível de poluentes na atmosfera terrestre vem aumentando exponencialmente com o avanço da industrialização, dos meios de transportes e demais atividades econômicas que se desenvolvem apoiadas na queima de combustíveis fósseis. Milhares de toneladas de gases poluentes são lançados todos os dias na atmosfera terrestre, desencadeando uma série de problemas ambientais, com impactos que ocorrem tanto em escalas local e regional (como o fenômeno das inversões térmicas e das chuvas ácidas) quanto em escala global (como a diminuição da camada de ozônio e a ocorrência do efeito estufa). A alta concentração de poluentes no ar forma uma camada de partículas em suspensão, parecida com uma neblina, conhecida como smog, fazendo com que a visibilidade diminua. Também causa muitos problemas de saúde, principalmente relacionados ao sistema respiratório e cardiovascular. Em grandes centros urbanos dos países industrializados, é frequente os níveis de poluição do ar ultrapassarem os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esses gases poluentes são provenientes da queima de florestas e, em especial, de combustíveis fósseis (petróleo e carvão). Os principais agentes poluidores são os veículos automotores e as indústrias, sobretudo as termelétricas, siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e refinarias de petróleo. Um exemplo disso é a população chinesa, que é aconselhada constantemente a usar máscara para sair às ruas, evitar exercícios ao ar livre e, em dias críticos, é alertada a permanecer no interior de suas casas, devido aos altos níveis de poluição do ar encontrados em diversas províncias do país. Foram registradas milhares de mortes, principalmente na última década, decorrentes de problemas respiratórios e cardiovasculares agravados pela poluição do ar. Inversão Térmica Em condições normais, o ar presente na Troposfera28 costuma circular em movimentos ascendentes, o que ocorre em razão das diferenças de temperatura entre o ar mais aquecido e, portanto, mais leve, nas camadas mais baixas, e o ar mais frio e mais denso, nas camadas mais elevadas. Em regiões afetadas por intensa poluição atmosférica, como os grandes centros urbanos, a fuligem e os gases poluentes lançados pelas chaminésdas fábricas e pelo escapamento dos veículos automotores tendem a se dispersar por meio dessas correntes ascendentes. Em dias mais frios, com baixas temperaturas e pouco vento, típicos do outono e do inverno, a ausência de corrente de ar dificulta a dispersão dos poluentes atmosféricos. Nessa situação, o ar em contato com a superfície mais fria também se resfria, ficando aprisionado pela camada de ar mais quente acima, o que impede a dispersão dos poluentes atmosféricos. https://www.todamateria.com.br/inversao-termica/ Tem-se, assim, uma inversão da temperatura do ar atmosférico, a chamada inversão térmica, fenômeno que pode ser observado na forma de uma faixa cinza-alaranjada no horizonte dos grandes centros urbanos. 28 A troposfera é a camada mais baixa da atmosfera terrestre, sendo a região em que vivemos e onde ocorrem os fenômenos meteorológicos. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 108 https://www.ecycle.com.br/4175-inversao-termica.html Com a ausência dos ventos ascendentes, os poluentes atmosféricos deixam de dispersar e concentram-se próximos à superfície, o que compromete a qualidade do ar e gera problemas de saúde aos habitantes das grandes cidades. Quando expostas aos altos índices de poluição, muitas pessoas apresentam sintomas como dores de cabeça, coceira na garganta e irritação nos olhos, crises alérgicas e pulmonares, problemas que afetam principalmente crianças e idosos, mais sensíveis à poluição. As Mudanças Climáticas A humanidade já passou por períodos mais quentes que o atual e por períodos muito frios também. Dessa forma, muitos podem afirmar que as preocupações com o aquecimento são exageradas e que a Terra vai passar por períodos de resfriamento tal qual já ocorreu. Isso não é verdade. O problema está no fato de que se ampliou muito a emissão de CO² na atmosfera desde o início da Revolução Industrial. As fábricas e as indústrias usavam e ainda usam carvão mineral para gerar energia. Com o avanço das tecnologias, o petróleo passou a ser usado também como matéria-prima e fonte de combustíveis para muitos sistemas de transporte. Apesar de a emissão de poluentes não ser igual em todos os países e de os mais industrializados terem responsabilidade maior nesse processo, hoje já é possível afirmar que se trata de um problema global. Grandes quantidades de poluição produzidas em um lugar podem atingir outras localidades do planeta, em função da circulação das massas de ar que transportam esses rejeitos. O Desequilíbrio no Efeito Estufa O principal problema causado pelo CO² e por outros poluentes é o desequilíbrio no efeito estufa. Efeito estufa é um fenômeno natural, em que alguns gases funcionam como retentores de calor, condição fundamental para manter a existência de vida no planeta. https://www.grupoescolar.com/a/b/A6A65.jpg As temperaturas médias no mundo subiram muito nos últimos 150 anos, e a explicação está no acúmulo de gases causadores do efeito estufa. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 109 O metano é outro gás muito agressivo. Sua capacidade de reter calor na atmosfera é 23 vezes maior que a do gás carbônico. Cerca de 30% das emissões mundiais de metano estão ligadas à pecuária, mas o metano é liberado também por outras fontes, como a queima de gás natural, de carvão e de material vegetal e também por campos de arroz inundados, esgotos, aterros e lixões. Entre os exemplos mais bem-sucedidos de combate à poluição atmosférica podemos citar a estruturação de áreas urbanas com base na circulação de transporte público e bicicletas ao longo de corredores e ciclovias, o que contribui para reduzir as emissões provenientes dos automóveis. Promover o uso de combustíveis alternativos, como o etanol e o biodiesel, que emitem menos gases poluentes do que a gasolina e o diesel convencional, além do desenvolvimento de carros elétricos, também podem ser medidas válidas para minimizar a poluição; porém, elas não reduzem a dependência da população em relação ao automóvel, objetivo que deve estar na agenda de qualquer sociedade sustentável. O Buraco na Camada de Ozônio No final do século XVIII e início do século XIX, o cientista holandês Martin van Marum, descobriu um gás com cheiro muito forte durante algumas experiências com reações químicas. Anos depois, o cientista alemão Christian Friedrich Schönbein, chamou esse gás de ozônio, quando percebeu que ele era liberado nos processos químicos de purificação da água. Schönbein também notou que esse gás subia pelo ar rapidamente e adquiria uma cor azul bem pálida. Ele acreditava então que o ozônio existia em grande quantidade nas altas camadas da atmosfera, fato que veio a ser comprovado por Gordon Miller Bourne Dobson por volta dos anos 1920. Por meio dessas pesquisas foi possível perceber que a camada de ozônio é um filtro natural para a Terra. A constituição química do gás detém os raios solares nocivos à saúde humana, portanto, a camada de ozônio é um dos elementos mais importantes para a manutenção da vida. A destruição dessa camada tem relação direta com o modo de vida e o modelo produtivo adotado pela economia mundial nos últimos tempos. Para refrigerar os alimentos usavam-se, no início do século XX, gases extremamente perigosos, como a amônia e o enxofre. No final dos anos 1920, Thomas Midgley Jr. descobriu um gás proveniente da combinação do carbono com o flúor e o cloro, trata-se do clorofluorcarboneto (CFC), depois registrado pela empresa dona da patente como gás fréon. Com inúmeras vantagens em relação aos outros gases, o fréon passou a ser usado largamente e permitiu a popularização das geladeiras domésticas, que eram impensáveis quando se usavam os outros gases. As pesquisas também permitiram a fabricação de espumas, produtos de limpeza, sprays e uma quantidade infinita de derivados desse gás. Em meados dos anos 1980, descobriu-se a existência de uma falha nessa camada protetora da Terra. Cientistas britânicos e estadunidenses anunciaram que havia um buraco de milhões de quilômetros quadrados na atmosfera sobre a Antártida. As pesquisas apontavam que esse buraco era causado pela emissão de gases fréon, que, quando sobem às altas camadas, destroem o ozônio e permitem a passagem dos raios solares nocivos à vida. O problema reside no fato de que esses gases duram na atmosfera entre 20 e 90 anos. https://www.bbc.com/portuguese/geral-45558884 Na imagem acima, observa-se a Camada de ozônio sobre o Polo Sul, em setembro de 2018. Em roxo e azul estão as áreas que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 110 O buraco está principalmente sobre a Antártica, mas já se notam pequenas falhas também no Hemisfério Norte. Sabe-se que existe um sistema mundial de circulação de ar que acumula os gases fréon sobre a Antártica em quantidade máxima justamente nos meses mais frios, quando o ar fica mais denso e circula somente nas proximidades dessa área. Quando os raios solares mais fortes chegam a essa região no verão, as reações químicas quebram o ozônio e permitem a passagem dos raios nocivos. A solução para esse problema está ligada à redução da emissão de gás CFC, fato que já foi registrado muitas vezes por cientistas credenciados pela ONU. Para se chegar a esse pequeno avanço, foi assinado em 1987 o Protocolo de Montreal (Canadá), que previa a erradicação gradual da produção de CFC. Entre 1988 e 1995, o consumo do gás diminuiu quase 80% em escala mundial. Mesmo assim, especialistas acreditam existir um mercado paralelo e ilegal de CFC que movimenta milhares de toneladas de gás por ano. Esse quadro influencia diretamente a saúde humana. Especialistas na área de medicina afirmam que problemas como casos de catarata e câncer de pele vêm se avolumandoem grande escala no planeta. A Devastação das Florestas As atividades agropecuárias, a urbanização e a industrialização podem ser caracterizadas de maneira geral como os processos que iniciaram a devastação das florestas. Com o desenvolvimento da tecnologia em todos os campos da ação humana, surgiram métodos que aceleraram o desmatamento e acabaram afetando vastas áreas ricas em biodiversidade. Como exemplos, podem-se citar extensas áreas florestais da Europa e dos Estados Unidos praticamente extintas no final do século XIX e início do século XX. Esse processo esteve ligado ao desenvolvimento e ao avanço das relações capitalistas que se materializavam no território. Infelizmente esse processo de destruição continua até hoje e de forma cada vez mais preocupante. A instalação de atividades econômicas sobre áreas praticamente intactas é resultado da expansão da indústria madeireira, das atividades mineradoras, em especial as ilegais, e da corrida por novas áreas pela agricultura comercial, fato que ficou conhecido como expansão das fronteiras agrícolas. A partir dos anos 1980, principalmente, a consciência ecológica levou muitos países, em especial os mais desenvolvidos, a realizar programas de replantio de espécies nativas, o que possibilitou a recuperação de antigas áreas devastadas. Em contrapartida, nos países mais pobres e nas nações em desenvolvimento, essa tragédia natural tem crescido ano a ano. A atuação de grandes empresas exploradoras que operam em regiões florestais do planeta gera outros graves problemas. As populações das regiões florestais extremamente pobres viviam dos frutos das florestas de forma racional, uma vez que o ritmo de exploração das matas permitia a sua regeneração. Com a chegada das grandes empresas exploradoras, ocorreu uma radical mudança na vida dessas pessoas. Desprovidos de áreas para exercer suas atividades, os trabalhadores pobres empregam-se nessas companhias, recebendo baixíssimos salários. Aqueles que não trabalham nessas empresas acabam derrubando a mata para vender a madeira de forma ilegal e assim obter recursos para sustentar suas famílias. Nos últimos anos as preocupações estão cada vez maiores, pois mapeamentos detalhados mostram que a devastação põe em risco principalmente as florestas localizadas em regiões úmidas do planeta. São áreas de mata inundadas ou saturadas de água, como as várzeas dos rios, manguezais, florestas em áreas costeiras e próximas de grandes bacias hidrográficas. Na Ásia, a maior parte das terras úmidas florestadas estão ameaçadas pela expansão da agricultura comercial do arroz e pela exploração de madeira, como no caso da Indonésia, que já perdeu grande parte de sua cobertura florestal original. Todos os relatórios e avisos feitos pelos cientistas alertam que essas áreas úmidas devem ser preservadas, pois ajudam a regular o fluxo e o abastecimento de depósitos subterrâneos de água. Caso essas regiões entrem em colapso natural, isso pode gerar um efeito desastroso para a sociedade, que ficaria sem água. Uma experiência que merece menção é a da Finlândia. Quase 80% do território finlandês é coberto por florestas, o que é a maior taxa de ocupação florestal da Europa, em razão de as florestas terem sido consideradas patrimônio ecológico, social, cultural e econômico do país. Nas últimas décadas, as áreas plantadas vêm superando as áreas cortadas em 20 a 30% anualmente. Um dos grandes segredos desse sucesso está no replantio de espécies nativas; na Finlândia somente podem ser replantadas madeiras originais daquela região. Isso permite uma atividade econômica mais sustentável e não tão agressiva ao solo, ao clima e aos animais que habitam essas matas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 111 Os defensores da silvicultura (atividade que se dedica ao manejo e estudo de florestas plantadas) finlandesa afirmam que a estrutura do replantio é semelhante à das florestas naturais e que os seres humanos a exploram desde sempre. Dessa forma, a indústria florestal é um dos maiores setores da economia do país, e a comercialização de madeira, papel, polpa de papel e outros derivados da celulose chega a representar cerca de 30% de suas exportações. Para combater o mercado clandestino de madeira e o desmatamento em todo o mundo, foi criada a certificação florestal pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC), uma entidade ambientalista mundial. Esse certificado garante ao consumidor final de madeira e de seus derivados que aquele produto é fruto de um reflorestamento não agressivo ou mesmo de uma exploração sustentável, que preserva e respeita o ritmo de regeneração da natureza. Já existem milhares de itens e produtos que contam com essa certificação. Portas, pisos, móveis e até mesmo papel higiênico são certificados para comprovar que não vieram de uma matéria-prima fruto da devastação. A Destruição dos Recursos Hídricos O modelo econômico que vigora em nossos dias é marcado por um consumo crescente de mercadorias das mais variadas. No entanto, para se produzir nessa larga escala, estamos assistindo a um desenfreado consumo de água. Em função desse modelo econômico, o processo de industrialização e de urbanização dá origem a um volume cada vez maior de esgotos domiciliares, lixo e outros resíduos, que são lançados nos rios e mares cotidianamente. Isso afeta qualidade das águas, tanto as superficiais quanto as dos aquíferos, em vários pontos do planeta. Escassez de Água: Uma Crise Anunciada Os rios e os lagos, que formam os ecossistemas de água doce, são considerados o meio de vida natural mais ameaçado do planeta. Embora ocupem apenas 1% da superfície terrestre, os ecossistemas de água doce abrigam cerca de 40% das espécies de peixes e 12% dos demais animais. Para se ter uma ideia da diversidade desses ecossistemas, o Rio Amazonas, sozinho, possuiu mais de 3 mil espécies de peixe. Todos os estudos feitos recentemente apontam que 34% das espécies de peixes de água doce encontradas em todo o mundo correm o risco de extinção, ameaçadas, principalmente, pela construção de represas, canalização dos rios e poluição. Entre 1950 e os nossos dias atuais, o número de grandes barragens no mundo passou de 5.750 para mais de 41 mil, fato que alterou radicalmente a dinâmica da vida aquática. Esse cenário alarmante é agravado pela pequena disponibilidade de água para o consumo humano. Embora 75% da superfície terrestre seja recoberta por água, os seres humanos só podem usar uma pequena porção desse volume, porque nem sempre ela é adequada ao consumo. É o caso da água salgada dos mares e oceanos, que representa cerca de 97% da quantidade total de água disponível na Terra. Dos cerca de 3% restantes, apenas um terço é acessível, em rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e na atmosfera. Os outros dois terços são encontrados nas geleiras, calotas polares e lençóis freáticos muito profundos. Além de ser um recurso finito, a água é cada vez mais consumida no mundo todo. Ao longo do século XX, por exemplo, a população mundial cresceu três vezes, enquanto as superfícies irrigadas cresceram seis vezes e o consumo global, sete vezes. Esse aumento exponencial do consumo mundial de água está gerando um fenômeno conhecido como estresse hídrico, isto é, carência de água. Segundo o Banco Mundial, essa situação ocorre quando a disponibilidade de água não chega a 1.000 metros cúbicos anuais por habitante. O Mal Uso da Água e a Salinização dos Solos São consideradas regiões que sofrem com a salinização aquelas que perdem seu rendimento econômico na agricultura. Salinização é a concentração de sais, provocada pela evapotranspiração máxima ou intensa, principalmente em locais de climas tropicais áridos ou semiáridos, onde normalmente existe drenagem ineficiente. Os solos apresentam sais em níveis diferenciados. Quando este nível se eleva, chegando a uma concentração muito alta, pode prejudicaro desenvolvimento de algumas plantas mais sensíveis, ou mesmo impedir o desenvolvimento de praticamente todas as espécies. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 112 A salinização do solo pode ser causada pelo mau manejo da irrigação em regiões áridas e semiáridas, caracterizadas pelos baixos índices pluviométricos e intensa evapotranspiração. A baixa eficiência da irrigação e a drenagem insuficiente nessas áreas contribuem para a aceleração do processo de salinização, tornando-as improdutivas em curto espaço de tempo. Os solos mais sujeitos a esse problema são os que estão em regiões mais secas. Neles, qualquer tipo de irrigação mal conduzida pode gerar uma forte salinização se não estiver presente um adequado sistema de drenagem. Abaixo seguem dois exemplos de solos salinizados. https://alunosonline.uol.com.br/geografia/salinizacao-solo.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Saliniza%C3%A7%C3%A3o A Organização das Nações Unidas para Alimentação e agricultura estima que, dos 250 milhões de hectares irrigados em todo o planeta, cerca de metade já tem problemas de salinização, e uma grande parte é abandonada todo ano por esse motivo. Por isso, a irrigação precisa ser feita com muito cuidado. Entendemos que a água está cada vez mais escassa em todo o globo. A combinação de fatores naturais e socioeconômicos como pressão demográfica e uso irracional gera desertificação, salinização e poluição desenfreada. O aumento do estresse hídrico já reduziu de forma considerável as reservas hídricas disponíveis no planeta. Em quase metade das localidades habitadas, já existem problemas de escassez, e cerca de 20 a 30% da população mundial não têm acesso a redes satisfatórias de água e esgoto. Esse quadro fica ainda mais grave uma vez que a escassez desse recurso se soma a problemas políticos entre povos e nações. No Oriente Médio, por exemplo, há inúmeras disputas pela posse da água que se misturam a rivalidades criadas por décadas de conflitos. Israelenses e palestinos têm na água um dos maiores pontos de discórdia. Eles disputam as águas oriundas da nascente do Rio Jordão e do Lago Tiberíades nas proximidades das Colinas de Golã. Além disso, 90% dos canais de abastecimento de água são controlados por Israel. Organismos internacionais afirmam que a disponibilidade per capita de água é quatro vezes maior em Israel do que nos territórios palestinos, fato que potencializa epidemias, queda da produtividade agrícola e tantos outros problemas. Outro exemplo de tensão em razão da disputa pela água ocorre entre Síria, Turquia e Iraque. A Turquia tem um plano de desenvolvimento que inclui a construção de mais de 20 barragens ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Essas obras de grande porte alteram radicalmente a vazão de água dos rios e ameaçam o abastecimento de grandes áreas em países vizinhos, como o Iraque e a Síria. Esses países discutem hoje um estatuto comum para a administração desses rios, visto que não foram poucas as vezes que eles entraram em alerta para uma possível guerra: um temendo perder o enorme volume de água, fundamental para seu povo, outro temendo perder as barragens, fundamentais para seu desenvolvimento. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 113 A Destruição dos Oceanos A intensificação do comércio internacional nas últimas décadas tem deixado marcas negativas nos oceanos. Nos mares de quase todas as regiões do planeta existem gigantescas manchas de petróleo. Em parte, essas manchas ocorrem por descaso e pelo uso de equipamentos obsoletos que causam vazamentos. Além disso, muitos navios petroleiros chegam a lavar seus reservatórios nas costas de países pobres, especialmente africanos, que não têm sistemas de vigilância eficientes para evitar esse crime. Outro grave problema é a pesca predatória, que também contribui para o esgotamento dos estoques de pescados oceânicos. Cerca de 90% das espécies comerciais, ou seja, pescadas, processadas e vendidas, correm risco iminente de destruição em razão da pesca predatória. Grandes grupos econômicos ligados direta e indiretamente ao setor alimentício são os responsáveis por essa destruição. Eles permitem a prática da pesca predatória, que, na busca do lucro imediato, não respeita, em muitos casos, o período de reprodução das espécies, fato que minimamente garantiria a reposição dos estoques. O mar também sofre a partir das terras costeiras. Grupos imobiliários promovem a ocupação irregular de áreas litorâneas pela construção de casas, condomínios e hotéis em áreas de manguezal, alterando o equilíbrio ambiental. É importante lembrar que os oceanos são fundamentais para o equilíbrio ecológico de todo o planeta. Eles concentram 97% das águas e produzem cerca de um sexto do oxigênio da atmosfera, além de serem os principais responsáveis pela recomposição dos estoques de água doce, graças à umidade que geram. Por todos esses fatores, os oceanos são fundamentais para a manutenção das características climáticas do planeta. A Degradação dos Solos (Desertificação) A degradação do solo geralmente é causada pela associação de situações climáticas extremas, como exemplos, a seca ou o excesso de chuvas, práticas predatórias, como o desmatamento de áreas florestais, expansão das pastagens, utilização intensiva de agrotóxicos e a mineração descontrolada. Essas atividades alteram e destroem a cobertura vegetal natural do solo, deixando-o exposto à ação de ventos e chuvas, que gradualmente desgastam o solo desnudo de vegetação. Esse processo erosivo pode evoluir, e a rocha bruta, base do solo, chegar a ficar exposta. Quando isso ocorre, está se iniciando o processo de desertificação. O manejo agrícola inadequado é um dos grandes responsáveis pela degradação dos solos. Quase metade das áreas agrícolas do planeta tem algum problema que afeta a sua produção de alimentos. Esse problema está longe de ser somente ambiental. Ele tem profunda relação com a sociedade e a economia, uma vez que a perda de grãos com a desertificação chega a mais de 20 milhões de toneladas, cifra suficientemente grande para atenuar o problema da fome no mundo. As consequências nefastas da degradação do solo afligem também grandes contingentes populacionais. Calcula-se que 30 milhões de pessoas morreram, nas últimas décadas, de fome, ocasionada pelo esgotamento de suas áreas naturais, e mais de 120 milhões realizaram o êxodo rural nos últimos 50 anos. As soluções para esse problema passam sempre pela alteração do modelo produtivo ou pela aplicação de enormes recursos financeiros na recuperação de áreas. Em 1994 foi assinada a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. A principal decisão foi a aplicação de vastos recursos financeiros para promover a educação ambiental, principalmente em sociedades agrárias, para que estas sejam reprodutoras das práticas e dos conhecimentos voltados à conservação dos solos. Resíduos Sólidos: Recurso e Problema Diariamente milhões de toneladas de resíduos sólidos são lançadas no ambiente. A prática de depositar resíduos ao ar livre, lançá-los na água, descartá-los em terrenos baldios e queimar os restos inaproveitáveis teve início nas civilizações antigas, em que os métodos de lidar com os descartes consistiam em depositá-los bem longe das moradias. Essa solução vigorou durante muito tempo e se incorporou à cultura cotidiana de muitas populações. Hoje é evidente que o crescimento populacional e o aumento do consumo levaram a humanidade a uma enorme produção de resíduos, que causam graves problemas quando manipulados e depositados de forma inadequada. Após a década de 1950, iniciou-se uma mudança de mentalidade em relação ao resíduo sólido, a princípio nos países mais ricos. Antes visto como desprezível e problemático, gradualmente ele passou a ser encarado como energia, matéria prima e parte da solução paraalguns problemas. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 114 Atualmente, processos como a reciclagem reduzem o volume de resíduos sólidos descartado e interferem no processo produtivo, economizando energia, água e matéria-prima, além de reduzir sensivelmente a poluição da água, do ar e do solo. Mesmo assim, a quantidade de lixo reciclada é muito pequena perante a total. Uma das soluções que podem ajudar a solucionar esse problema é a coleta seletiva de lixo, ou seja, o processo pelo qual se separam os materiais encontrados no lixo. Essa separação é fundamental para o reaproveitamento dos resíduos, pois a coleta potencializa o reaproveitamento dos materiais. A reciclagem passou a ser uma obrigação em função do enorme volume de resíduos que a sociedade produz. As Consequências das Mudanças Climáticas e Ambientais A Chuva Ácida A atmosfera, como vimos, vem sendo contaminada por compostos químicos como o enxofre e o nitrogênio, que vão se concentrando no vapor de água e, consequentemente, nas nuvens. Estas, quando muito carregadas, despejam uma chuva extremamente ácida. Até a década de 1990, a chuva ácida era comum apenas nos países de industrialização mais antiga, mas depois, com a expansão mundial do processo industrial, ela passou a ocorrer em grande quantidade também na Ásia, em países como China, Índia, Tailândia e Coreia do Sul, que hoje são os grandes responsáveis pela emissão de óxido nitroso (NO) e dióxido de enxofre (SO²). Grande parte desse problema foi surgindo conforme a produção industrial se expandia. Isso significou maior uso de termelétricas que geram energia por meio do carvão e do petróleo (combustíveis altamente poluentes), maior circulação de carros e outros meios de transportes. Nos últimos anos há incidência de chuva ácida praticamente em todo o mundo. Em alguns lugares onde não existem atividades industriais poluentes, ela ocorre em razão do deslocamento das massas de ar vindas de países emissores de poluição. https://escolakids.uol.com.br/geografia/chuva-acida.htm Entre as consequências da chuva ácida, destacam-se: → Alteração da composição do solo e das águas, tanto dos rios quanto dos lençóis freáticos; → Destruição da cobertura florestal (No Brasil, isso é visível por exemplo, em trechos das encostas da Serra do Mar nas proximidades de Cubatão, no litoral de São Paulo, importante polo industrial petroquímico que já foi conhecido mundialmente pela péssima qualidade do ar); → Contaminação das lavouras; → Corrosão de edifícios, estátuas e monumentos históricos. Abaixo, uma imagem de um grande impacto ambiental, com destruição dos galhos e folhas de árvores de montanhas polonesas, causado pela chuva ácida. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 115 https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-chuva-acida.htm Poluição Atmosférica e Aquecimento Global: O Aumento da Temperatura do Planeta As razões do aumento da temperatura do planeta ainda geram muitos debates entre os cientistas. Causas naturais e provocadas pelos seres humanos têm sido propostas para explicar o fenômeno. A principal evidência do aquecimento vem das medidas de temperatura de estações meteorológicas em todo o globo desde 1860. Os dados mostram que houve um aumento médio da temperatura durante o século XX. Para explicar essas mudanças, os cientistas usam ainda evidências secundárias, como a variação da cobertura de gelo e neve em certas áreas, o aumento do nível dos mares e das quantidades de chuvas, entre outras. Diversas montanhas já perderam enormes áreas geladas e nevadas, e a cobertura de gelo no Hemisfério Norte na primavera e no verão também diminuiu drasticamente. O aumento da temperatura global pode levar um ecossistema a graves mudanças, forçando algumas espécies a sair de seus habitats, invadindo outros ecossistemas, ou potencializando a extinção. Outra situação que causa grande preocupação é o aumento do nível do mar, de 20 a 30 cm por década. Algumas ilhas no Oceano Pacífico já sofrem com esse problema. Deve-se lembrar que a subida dos mares ocorre principalmente por causa da expansão térmica da água dos oceanos, ou seja, as águas dilatam. No entanto, as preocupações com o futuro incluem também o derretimento das calotas polares e dos glaciares, que guardam enormes quantidades de água na forma de gelo. Alguns cientistas afirmam que as mudanças podem ocorrer de forma sutil e mesmo imperceptível. Na imagem abaixo, um urso polar sofre com o derretimento das calotas polares. http://meioambiente.culturamix.com/recursos-naturais/derretimento-das-calotas-polares Tudo isso leva a uma situação preocupante. Previsões feitas pela ONU alertam que entre 50 e 100 milhões de pessoas podem abandonar suas casas temporária ou definitivamente por problemas relacionados a questões ambientais nas próximas décadas, tornando-se refugiados ambientais. Nesses números estão incluídos grupos humanos, comunidades inteiras que serão levadas a migrar em razão da poluição das águas, de enchentes, do desgaste dos solos, do fim da disponibilidade de peixes e da subida do nível dos oceanos. É certo que essa situação exigirá uma legislação internacional, uma vez que países e regiões inteiras vão ser evacuados, e os refugiados poderão ser levados em circunstâncias emergenciais a outros países. Apostila gerada especialmente para: marcelo henrique swerei de souza 088.287.089-05 116 Sustentabilidade29 A qualidade de vida das gerações atuais e futuras começou a se tornar preocupante, tendo em vista o estilo de vida e a relação que temos com o meio ambiente, provedor de matérias-primas para a nossa sobrevivência. Por causa disso, a sustentabilidade hoje é um tema bastante discutido em escolas, universidades, redes sociais e países de modo geral. O que é uma Sociedade Sustentável? A defesa de uma sociedade sustentável baseia-se na ideia de o ser humano estabelecer uma relação com o espaço que o rodeia de modo que seu estilo de vida não prejudique as futuras gerações. Ou seja, a sustentabilidade tem como premissa uma exploração do meio ambiente que respeite os limites do planeta e minimize os efeitos da ação do ser humano. Atualmente, pensar sobre esses limites é uma tarefa cada vez mais importante e emergencial, pois se o nível de consumo mundial dos recursos naturais continuar no mesmo patamar, será insustentável sua manutenção para, consequentemente, usufruto das gerações futuras. Mesmo garantindo nossa própria sobrevivência, a qualidade de vida de toda a população também deve ser um motivo de preocupação. Nesse sentido, a própria desigualdade social pode ser considerada insustentável, pois favorece uns em detrimento de outros. As Construções Alternativas As paisagens urbanas têm cada vez mais se distanciado da forma original da natureza, de modo que não proporciona um vínculo entre a dinâmica das cidades e o meio ambiente. Atualmente, 60% dos resíduos sólidos urbanos provêm da construção civil, o que também provoca grande demanda de madeira, contribuindo para o desmatamento de áreas de floresta. Inseridas no pensamento sustentável, as construções alternativas começam a ser disseminadas com o intuito de minimizar a desarmonia entre o ambiente natural e o construído, reduzindo os impactos ambientais envolvidos na construção civil. Essas construções são baseadas em uma arquitetura que considera a necessidade de transformar sem agredir o ambiente, promovendo a utilização de matérias-primas biodegradáveis e de maneira proveniente de reservas extrativistas sustentáveis, além do emprego de tecnologias que reduzam o desperdício de água e energia e que facilitem a reutilização. Para que essas construções atendam a esses objetivos, os elementos do clima local devem ser sempre considerados; assim, é possível executar um planejamento voltado à iluminação e ao