Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Eletrocardiograma INTRODUÇÃO • Definição e conceitos: o O eletrocardiograma é a inscrição elétrica do que acontece dentro do coração o Isso aparece para gente como uma onda P, o complexo QRS, uma onda T, eventualmente uma onda U e no final voltamos a uma nova onda P de um novo estímulo elétrico o Devemos estar atentos à duração da onda P, ao intervalo PR, à duração do QRS, à altura do ponto J, ao ponto J60 (ponto J + 60 ms), à variação do segmento ST, à variação do segmento ST-T e ao intervalo entre a onda T e a onda P (tudo isso é medido porque tudo isso nos ajuda a fazer diagnóstico) o Para fazermos essas medidas, o ECG não pode ser num papel liso e sim num papel milimetrado. Essa inscrição do eletro no papel milimetrado tem alguns parâmetros padrões ▪ O papel deve correr numa velocidade constante de 25 mm/s (podemos fazer isso numa velocidade diferente dependendo da necessidade de identificar arritmias) ▪ No eixo horizontal vemos a medida em milissegundo, sendo que cada quadrado menor tem 40ms ou 0,04s e o quadrado maior tem 200ms ou 0,2s → Então aquelas medidas de duração das ondas serão em ms ▪ No eixo vertical vemos a voltagem ou amplitude, sendo que cada quadrado menor tem 1 mm, podendo ser considerado 0,1mV em voltagem, e o quadrado maior tem 5mm ou 0,5mV • Calibração do aparelho: o Geralmente está em N → Cada 10 mm (quadrado maior) correspondem a 1 mV o Pode ser dividido em N/2 (quando temos sobrecarga ventricular esquerda) → Cada mV corresponde a 5 mm PROFA. RENATA PRETTI 2 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Pode ser feito numa calibração maior, de 2N (quando se tem uma voltagem baixa, nos casos de pericardite por exemplo) → Cada mV valerá 20 mm • Valores normais: o Temos que nos ater a esses valores normais porque em cima deles que veremos se tem algo alterado ou não o Onda P → Duração de 0,10s e amplitude ≤ 2,5mm o Intervalo PR → Duração entre 0,12 e 0,20 segundos o Complexo QRS → Duração entre 0,07 e 0,10 segundos o Segmento ST ▪ Ponto J → É medido no segmento ST, tanto no aumento quanto na depressão de ST ▪ Ponto J60 → É um ponto que é medido no teste ergométrico, porque num teste ergométrico normal, em um paciente que não tem alteração, o ponto J pode ter depressão ou elevação sem indicar isquemia. Mas, quando esse ponto J60 tem uma alteração isso sim pode indicar isquemia ▪ A referência que temos para medir valores de depressão ou elevação é a linha reta que é uma linha isoelétrica. O local normal do ponto J é que ele fique nessa linha de base. Então, caso não esteja, contamos quantos quadradinhos está de diferença para poder dizer “elevação” ou “depressão” de tantos milímetros • Passos na interpretação do ECG: o Determinar o ritmo e a regularidade → Esse ritmo vai de um ritmo normal (sinusal) até os ritmos arrítmicos o Calcular a frequência cardíaca → Sempre pegando algum ponto específico com a próxima inscrição desse ponto, por exemplo medir entre um P e o outro P ou entre um R e o outro R o Avaliar a onda P 3 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Calcular o intervalo PR o Analisar o complexo QRS o Examinar o onda T o Calcular o intervalo QT o Observar as outras características • Passos em determinação de resultado (colocar no laudo): o Avaliar o ritmo o Determinar o eixo o Ver se tem algum bloqueio de ramo o Ver se existe aumento de alguma cavidade o Ver se tem isquemia ou infarto o Ver se existem outras anormalidades O EXAME • Análise geral: o Analisar os segmentos do eletro (P, PR, QRS, ST e ST) determinando eixo, amplitude, duração morfologia e conclusão que se chega (se está normal, alterado etc.) ▪ Existe eixo da onda P e do QRS, sendo o mais importante o eixo do QRS, onde analisamos se em DI é positivo é negativo e em aVF se é positivo ou negativo • Eixos: o O eixo normal vai variar de - 30° até +90° o Na imagem dos eixos as pontas da setas voltam para a parte positiva, então se em determinada derivação o QRS é positivo ele estará para o lado que a ponta da seta vai e se é negativo estará para o outro lado (em outro quadrante) o Se estiver entre 90° e 180° → Desvio do eixo para direita o Se estiver entre -30° e -90° → Desvio do eixo para esquerda 4 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Se estiver entre -90° e -180° → Desvio extremo do eixo (“terra sem lei”), diversas patologias podem acarretar esse desvio, sendo mais inespecífico • Como definimos o eixo? o Temos o ECG com todas as derivações e vamos observar a primeira derivação (DI) ▪ Avaliar se o QRS é positivo ou negativo → Normalmente em DI é positivo ▪ Considerando o DI positivo ver em seguida o aVF ❖ Se for positivo significa que só se passou no quadrante de eixo normal, estando entre 0° e 90° (independente se está em 30° ou 60°, está no eixo elétrico normal) ❖ Se for negativo significa é insuficiente, pois está entre 0° e -90°, então pode estar entre o eixo normal e o desvio para esquerda → Nesse caso procurar aVL, aVR ou DII para ter ideia de que local está o eixo o O mais importante, então, é definir DI e aVF → Se estiver nos quadrantes normais (positivos), aVR ou DII obrigatoriamente vão estar positivos também, porque está entre 0° e 90° ▪ Se o aVL estiver positivo não é possível estar entre 60° e 90°, então esse eixo está entre 0° e 60° o Observar que se o DIII estiver negativo pode haver um desvio do eixo para esquerda • O que significa cada onda? o Onda P → Transcrição elétrica da despolarização atrial o Segmento PR → O atraso de condução do nó atrioventricular o Complexo QRS → Despolarização ventricular o Onda T → Repolarização ventricular (não enxergamos a repolarização atrial porque ela está dentro de QRS) o Linha isoelétrica → Momento em que a célula miocárdica está sem eletricidade • Em relação ao suprimento: o A maioria dos locais elétricos do coração é irrigada pela ACD, por isso é a artéria elétrica 5 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Nó sinoatrial → 55-60% pela ACD o Nó atrioventricular → 90% pela ACD o Sistema Hiss-Purkinje → ACD ou DA o O feixe de Hiss se bifurca em feixes para a direita e esquerda ▪ Feixe da direita (ADA) ▪ Feixe da esquerda (ACD ou DA) • Velocidades e atrasos: o Quando o estímulo sai do nó sinusal e passa pelas fibras pelo átrio ele passa por uma velocidade muito alta, de 60 a 80 cm/s o Quando ele chega no nó sinoatrial ele passa por uma lentificação absurda, ficando a 10 cm/s o Depois que começa a despolarizar o ventrículo esquerdo, a velocidade tem que ser muito alta, então os feixes iniciais do ramo esquerdo e direito também são em velocidade alta (200 a 400 cm/s) o Quando está na parte mais distal das fibras de Purkinje ele volta a desacelerar (30 cm/s) • Anatomia dos componentes elétricos: o Nó sinusal/sinoatrial → Muito próximo à Veia Cava Superior o Nó atrioventricular → No átrio direito, mas bem perto do ventrículo o Existem 3 vias principais de condução pelo átrio, mas se sabe que toda a musculatura dos átrios despolariza dando a resposta que vai ser sentida no nó atrioventricular o O que atravessa do átrio para o ventrículo é um feixe comum que é o feixe de Hiss, que se bifurca em ramo direito e ramo esquerdo e posteriormente fazem subdivisões nas fibras de Purkinje que vão transportar a eletricidade para todo o coração • Eventos elétricos: o No início se dá a despolarização atrial, aparecendo a onda P o Depois que foi todo o átrio e a onda P está totalmente inscrita, há um momento isoelétrico o Depois a condução começa a pegar o septo interventricular, que é onde inicia o complexo QRS passando cada vez por mais massa muscularo Depois que a energia elétrica passa por todo os ventrículos há a contração deles o Na repolarização vai saindo essa energia e gera a onda T até voltar a ficar isoelétrico 6 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 DERIVAÇÕES • Eletrodos do plano frontal: o O paciente tem que estar deitado e o aparelho de eletro fica idealmente do lado esquerdo do coração pela questão dos cabos, para não ficarem muito esticados o Temos os eletrodos que ficam no plano frontal que são determinados por cores específicas ▪ No braço direito o eletrodo vermelho ▪ Na perna direita o eletrodo preto ▪ No braço esquerdo o eletrodo amarelo 7 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Na perna esquerda o eletrodo verde • Derivações precordiais: o Vão de V1 a V6 e não obrigatoriamente têm a mesma coloração ▪ V1 → Fica no 4º EIC no lado direito do esterno ▪ V2 → Fica no 4º EIC no lado esquerdo do esterno ▪ V3 → Fica entre V2 e V4 ▪ V4 → Fica no 5º EIC na linha clavicular média à esquerda ▪ V5 → Fica no 5º EIC na linha axilar anterior esquerda ▪ V6 → Fica no 5° EIC na linha axilar média esquerda • Derivações do plano frontal: o Derivação dos membros ▪ DI → É a comparação entre os 2 membros superiores ▪ DII → É a comparação entre membro superior direito e membro inferior esquerdo ▪ DIII → É a comparação entre membro superior esquerdo e membro inferior esquerdo o Derivação aumentada dos membros: ▪ aVR → É uma somatória dos membros esquerdos com o membro superior direito 8 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ aVL → É uma somatória do MSD + MIE com o membro superior esquerdo ▪ aVF → É uma somatória dos membros superiores relacionados ao membro inferior esquerdo o O membro inferior direito funciona como um eletrodo de referência ou “terra”, porque em momento nenhum ele é analisado, servindo da parte vetorial para uma referência • Derivações precordiais: o São um comparativo das derivações do triângulo de Einthoven basal com as derivações de V1 a V6 • Outras derivações: o V3R, V4R, V5R e V6R → Derivações direitas, nada mais é do que colocar os eletrodos no 5º EIC do lado direito o V7, V8 e V9 → São as partes posteriores do coração 9 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 CONDUÇÃO • O sistema de condução: o O nó sinusal costuma conduzir em torno de 70 batimentos por minuto (bpm) o Quando vai para o nó atrioventricular se assumir ele assume uma frequência de 45-50 bpm o O feixe de Hiss se assumir fica na mesma média do nó AV, assim como os ramos esquerdo, direito e sub-ramos 10 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Despolarização ventricular: o A ativação elétrica acontece primeiro no nó sinusal depois no nó atrioventricular e aí sim a despolarização dos ventrículos, que ocorre de forma vetorial ▪ Vetor 1 → Despolarização do septo (onda q) ▪ Vetor 2 → Despolarização das paredes livres (onda R) ▪ Vetor 3 → Despolarização das porções basais (onda S) o A inscrição elétrica do QRS ocorre porque os vetores de energia são somados 11 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ANÁLISE ELETROCARDIOGRÁFICA • Itens que devem ser analisados: o Ritmo o Frequência o Eixo o Bloqueios o Sobrecarga de câmaras o Isquemia / infarto o Outras anormalidades RITMO • Ritmo sinusal: o O ritmo é considerado sinusal quando: ▪ Onda P positiva nas derivações inferiores (DII, DIII e aVF) e negativa em aVR ▪ FC entre 50 e 100 bpm o Se FC <50bpm → Bradicardia sinusal o Se FC >100bpm → Taquicardia sinusal o Se onda P negativa nas derivações inferiores, atentar para: ▪ Posicionamento errado dos eletrodos ▪ Marcapasso ectópico (fora do nó atrial) ▪ Dextrocardia (posicionamento do coração no lado direito do tórax) 12 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Flutter atrial: o Quando a origem desse estímulo não é feita no nó sinusal e sim em algum local do eixo cavotricuspídeo, geralmente originado do átrio direito o Gera no ECG um serrilhado com ondas F (de flutter) o As ondas de flutter conduzem em torno de 300 bpm, conduzindo para o ventrículo de 1:1 (ventrículo também conduz a 300 bpm) ou de 1:2 (ventrículo conduzindo a 150 bpm) ou algo proporcional a isso o A distância de QRS é regular, porque há um padrão de comparação entre átrio e ventrículo • Fibrilação atrial: o É uma coisa mais caótica dentro do átrio → Pode se originar em qualquer ponto do átrio direito ou esquerdo o Vai para conduções maiores que 300 bpm o O átrio não consegue contrair, ele fica fibrilando, só tremendo o A condução que passa pelo nó atrioventricular e vai para o ventrículo não tem uma ordenação nem relação de 1:1 ou 1:2 proporcional como no flutter atrial o Não gera um serrilhado e sim uma ausência de onda P e uma distância entre os QRS completamente irregular • Outras alterações de ritmo: o Bloqueio atrioventricular de 1º grau o Bloqueio atrioventricular de 2º grau do tipo 1 o Bloqueio atrioventricular de 2º grau do tipo 2 o Bloqueio atrioventricular de 3º grau 13 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Taquicardia ventricular: o É o estímulo elétrico vindo pelo ventrículo em altas frequências o Pode ser: ▪ Monomórfica → A cada condução é idêntica, tudo é originado do mesmo ponto do ventrículo ▪ Polimórfica → Morfologias diferentes ❖ Há uma polimórfica bem específica (Torsades de pointes) → Fica alta depois baixa, alta depois baixa etc. como se estivesse torcendo as pontas 14 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Fibrilação ventricular: o É uma situação caótica em que não se tem nenhum batimento efetivo do coração o É um ritmo de parada cardíaca, não há contração, apenas tremor ventricular o Normalmente é uma fibrilação mais grosseira, mas pode ser uma fibrilação ventricular fina (tomar cuidado par não confundir com assistolia onde há linha isoelétrica por completo) o Tanto taquicardia ventricular quanto fibrilação ventricular são ritmos chocáveis ▪ Na taquicardia ventricular tomamos cuidado para o choque ser sincronizado, chocando relacionado ao QRS ▪ Na fibrilação ventricular como é totalmente aleatório, o ritmo não é sincronizado. Se colocar na posição sincronizada, o choque não vai acontecer, porque não vai encontrar o complexo QRS ▪ É importante não confundir a fibrilação ventricular com assistolia porque na assistolia não se aplica o choque, apenas massagem cardíaca FREQUÊNCIA CARDÍACA • Medição da frequência: o Idealmente é feita com o uso de um compasso, pode ser feita com régua ou papel de rascunho 15 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Avalia a distância de um complexo QRS e outro para ver se é regular ou não o Pegamos a distância de um QRS e outro e medimos os quadrados, sendo que cada quadrado grande representa 300 batimentos por minuto • O método de 300: o Dividir 300 pela quantidade de quadrados grandes entre os intervalos RR o Então se os QRS estão acontecendo a cada quadrado grande, esse coração está batendo a 300bpm, se estão acontecendo a cada 2 quadrados grandes, está batendo a 150 bpm e por aí vai o Determina a FC de uma forma mais grosseira EIXO • O eixo: o É tomado em comparação com a rosa dos ventos, mas relacionada ao triângulo de Einthoven o A questão de ser positivo ou negativo é o posicionamento vetorial de QRS nas diversas derivações • Tipos de eixos: o O eixo normal fica entre -30° e 90° o O eixo para esquerda fica entre -30° e -90° o O eixo para direita fica entre 90° e 180° o O desvio extremo fica entre -90° e -180°• Vetor: o O vetor resultante normal ficará entre -30° e 90° (no eixo normal) o As derivações do plano frontal vão mostrar onde cada um enxerga, se o complexo QRS é positivo ou negativo para cada derivação 16 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Desvio do eixo para esquerda pode acontecer por: o Envelhecimento o Estenose aórtica o IAM parede inferior o Bloqueio de ramo esquerdo o Hipertrofia ventricular esquerda o Alterações mecânicas (Ex.: Ascite, gestação e tumores) → Coração é empurrado • Desvio do eixo para a direita pode acontecer por: o Enfisema pulmonar o Hipertensão pulmonar o IAM parede lateral o Estenose pulmonar o Bloqueio de ramo direito o Hipertrofia ventricular direita 17 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Alguns casos especiais: o Em obesos, o diafragma é empurrado para cima, podendo determinar desvio para a esquerda o Um ventrículo hipertrofiado tem maior atividade elétrica, deslocando o vetor → Hipertrofia ventricular esquerda leva desvio para esquerda e hipertrofia ventricular direita leva desvio para direita o Em uma área de infarto não existe atividade elétrica, de modo que o vetor tende em apontar em direção contrária → Infarto inferior leva desvio para a esquerda e Infarto lateral leva desvio para a direita • Patologias: o De acordo com o tipo de desvio encontrado, já é possível separar possíveis patologias que estão levando a isso • Vetor resultante: o No eixo teremos que ver esse vetor resultante de despolarização ventricular (QRS), observando se ele é positivo ou negativo o Pode ocorrer uma inscrição de QRS totalmente positiva o Pode ocorrer onda positiva e negativa, assim eu faço o diferencial (o que está acima da linha isoelétrica é positivo e o que está abaixo é negativo) ▪ O vetor resultante pode vir positivo (> 0) ▪ O vetor resultante pode vir negativo (< 0) BLOQUEIOS ATRIOVENTRICULARES • Atrasos da condução atrioventricular: o Os impulsos atriais sempre sofrem retardo ou falham em atingir os ventrículos → Até porque não pode bater átrio e ventrículos juntos o Há uma característica eletrofisiológica normal do nódulo AV, denominada “condução decremental”, que é a redução da velocidade de condução do estímulo elétrico do nó AV e que pode ser avaliada por meio do intervalo PR no ECG convencional ▪ O intervalo PR é exatamente o atraso que teve entre a despolarização atrial e a despolarização ventricular 18 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Intervalo PR é considerado normal no adulto quando se encontram entre 120 e 200 ms, mas depende muito da idade e da FC do paciente o Anatomicamente esses atrasos podem estar localizados principalmente no próprio nódulo AV (bloqueio nodal), mas também no sistema His-Purkinje (bloqueio intra-His) ou abaixo dele (bloqueio infra-His), geralmente já denominando se é bloqueio de ramo esquerdo ou direito o Geralmente, os atrasos nodais (do nó AV) apresentam-se com complexos QRS estreitos (< 120 ms) e bom prognóstico, ao contrário dos atrasos intra e infra-His, que mais frequentemente cursam com complexos QRS alargados e pior evolução • Causas dos bloqueios atrioventriculares: o Transitórios: ▪ Vagotonia → Visto muito pós-cateterismo por compressão do N. Vago ▪ Cardiopatia (miocardite, endocardite e insuficiência coronária) ▪ Medicamentos (betabloqueador, digital e outros) ▪ Distúrbios metabólicos (hiperpotassemia, alterações de cálcio) o Persistentes: ▪ Idoso ▪ Doença de Chagas ▪ Doença arterial coronária → Fibrose na região ▪ Outras cardiopatias • Bloqueio atrioventricular do primeiro grau: o Representa um retardo na condução do nó AV o Pose ser medicamentoso (digital, amiodarona, BB) o Bom prognóstico, não requer tratamento específico o Ocorre muito com idosos o A distância entre a onda P e o QRS fica aumentada (> 0,2 s) o Mesmo com atraso, ele sempre conduz → Toda onda P gera um QRS o BAV de 1º grau não necessariamente reduz a FC 19 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Bloqueio atrioventricular do segundo grau tipo 1: o BAV de segundo grau Mobitz tipo 1 ou fenômeno de Wenckebach o Há um prolongamento progressivo do intervalo PR até que um impulso atrial não conduza e com isso fica sem um QRS o Esses eventos vão ocorrendo sucessivamente o O problema é dentro do nó atrioventricular o Dica → Comparar o intervalo PR antes da onda P bloqueada com o da primeira onda P conduzida após o bloqueio • Bloqueio atrioventricular do segundo grau tipo 2: o Conhecido como Mobitz tipo 2 o Intervalo PR é constante e de repente ocorre uma não condução súbita de um QRS por falha de condução ▪ Bloqueia a onda P sem muito alargamento de PR antes o Ocorre após o nó átrio ventricular, no feixe de His ou nas fibras de Purkinje o É pior que o Mobitz tipo 1 20 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Dentro da classificação Mobitz 2 há o bloqueio atrioventricular avançado ▪ Mais de 1 onda P bloqueada para cada QRS conduzido ▪ 2 ondas P sucessivas bloqueadas → Diminui a frequência cardíaca ▪ Intervalo PR das ondas P conduzidas não varia → Diagnóstico diferencial de BAVT • Bloqueio atrioventricular total (de terceiro grau): o Bloqueio atrioventricular de terceiro grau ou bloqueio AV total ocorre quando não existe comunicação elétrica entre o átrio e o ventrículo → Dissociação atrioventricular o Os achados típicos incluem onda P presentes e complexos QRS presentes que não se associam um ao outro 21 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Dessa forma, o átrio e o ventrículo funcionam de forma independente ▪ Essa interindependência é ruim porque em alguns momentos teremos a sístole atrial no momento da sístole ventricular, então o átrio não irá esvaziar o Gera uma onda A em canhão no pulso venoso o A função cardíaca é mantida por um ritmo de escape (juncional ou ventricular) ▪ Juncional → Escape com complexo estreito (<0,12s de duração) ▪ Ventricular → Escape com complexo largo (>0,12s de duração) está se originando abaixo da bifurcação do feixe de His (prognóstico pior) o Intervalos RR e intervalos PP regulares, mas sem relação um com o outro BAVT – Intervalos PP e RR regulares BAVT – Bolinha vermelha mostrando as ondas P e a regularidade entre elas + Bolinhas azuis mostrando os intervalos RR, também regulares. A frequência ventricular está batendo a 44 bpm e a frequência atrial a 75 bpm. Nos momentos que têm o encontra de P e R é quando se tem a onda a em canhão. BAVT – Ritmo que é originado abaixo do nó atrioventricular → Ritmo ventricular de escape com QRS alargado 22 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 23 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 BLOQUEIOS INTRAVENTRICULARES Os bloqueios atrioventriculares acontecem antes do nó atrioventricular, já os bloqueios intraventriculares acontecem no feixe de His. • Bloqueios de ramo: o Alteração na condução do estímulo elétrico localizada em qualquer ponto do sistema hisiano, que ocasiona que a câmara biventricular se despolarize em forma sequencial e não mais simultaneamente, fato que necessariamente prolonga o tempo de despolarização ventricular (duração do QRS) o A anômala sequência na despolarização é responsável pela alteração secundária da repolarização ventricular condicionante que o ST/T seja oposto a última deflexão lenta da despolarização ventricular • Bloqueio de ramo esquerdo: o O feixe de Hiss se bifurca em ramo direito e ramo esquerdo. O ramo esquerdo tem a parte inicial e seus 3 fascículos, o fascículo posteroinferior, o fascículo anteromedial e o fascículoanterossuperior ▪ O bloqueio de ramo esquerdo é o que acontece nessa parte inicial do ramo o Por ser bloqueado, os vetores ficam de forma diferente e as inscrições um pouco diferenciadas no ECG ▪ Alterações no ECG: ▪ QRS alargados (≥ 120 ms) como condição fundamental (as manifestações clássicas do Bloqueio do Ramo Esquerdo − BRE, contudo, expressam-se em durações superiores a 130 ms) ▪ Ausência de “q” em D1, aVL, V5 e V6 → Porque modificou o vetor ▪ Ondas R alargadas e com entalhes e/ou empastamentos médio-terminais em D1, aVL, V5 e V6 ▪ Onda “r” com crescimento lento de V1 a V3, podendo ocorrer QS Ativação x Repolarização do VE no BRE 24 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Ondas S alargadas com espessamentos e/ou entalhes em V1 e V2 ▪ Deflexão intrinsecóide em V5 e V6 ≥ 50 ms ▪ Eixo elétrico de QRS entre -30° e +60° → Ainda considerado eixo normal ▪ Depressão de ST e T assimétrica em oposição ao retardo médio-terminal o Pode ocorrer um bloqueio incompleto do ramo esquerdo: ▪ O estímulo elétrico atravessa lentamente o ramo esquerdo (<0,06s), mas atravessa ▪ ECG quase normal pois apenas ocorre despolarização septal anômala, mas algumas há alterações: ❖ Onda T positiva em D1, aVL, V5 e V6 ❖ QS em V1 e R pura em V6 ❖ QRS <0,12s ▪ Diagnósticos diferenciais são IAM septal e fibrose septal BRE – Alargamento com entalhe de onda R em V5 e V6; Em V1 e V2 está complicado enxergar ST, podendo confundir com infarto. O diagnóstico é feito baseado em DI, aVL, V5 e V6. Como houve bloqueio do ramo esquerdo, tudo vai ser conduzido pelo ramo direito, então o vetor fica diferente. A maneira de enxergar esse vetor nas derivações precordiais é com esses entalhes. BRE – Onda R alargada e com entalhe em V5 25 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Bloqueio de ramo direito: o O ramo direito também se subdivide em anterossuperior, anteroinferior e posteroinferior o O bloqueio ocorre na parte inicial do ramo direito, então tudo vai conduzir pelo remo esquerdo o Gera também uma alteração dos vetores e os vetores resultantes são diferentes, então a maneira dele se inscrever vai ser o que vai determinar a alteração o Alterações no ECG: ▪ QRS alargados (≥ 120 ms) como condição fundamental ▪ Ondas S empastadas em D1, aVL, V5 e V6 BRE – V5 e V6 com R puro com mesta (entalhe) e V1 e V2 com QS ou rS. 26 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Ondas qR em aVR com R empastada ▪ rSR’ ou rsR’ em V1 com R’ espessado → Morfologia de letra M ▪ Eixo elétrico de QRS variável, tendendo para a direita no plano frontal ▪ Onda T assimétrica em oposição ao retardo final de QRS o Enquanto BRE enxergamos mais em V5 e V6, no BRD enxergamos mais em V1 e V2, principalmente V1 BRD – QRS alargado com duração ≥ 0,12 s / Desvio do eixo elétrico para a frente / Morfologia em V1 do tipo rsR’ (letra M) / Ondas S lentas, em D1, V5 e V6 BRD – Ramo direito bloqueado, então tudo está passando pelo lado esquerdo. Podemos ver o V1 clássico da inscrição em M. 27 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 28 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • BRE x BRD: o V1 → Derivação fundamental para o diagnóstico do bloqueio de ramo / Característica maior em BRD ▪ BRE → QRS alargado com alteração de ST não considerada (não é supra e sim o bloqueio) ▪ BRD → QRS alargado com a letra M o V6 → Característica maior em BRE ▪ BRE → Alargamento de QRS com o entalhe/meseta em R ▪ BRD → Pode parecer um infra de ST, que na verdade é só o bloqueio SOBRECARGAS Nas sobrecargas vamos analisar as amplitudes das ondas, não mais a duração. • Onda P e sobrecarga atrial: o Onda P mostra a despolarização atrial o É a inscrição da despolarização atrial tanto do átrio esquerdo quanto do átrio direito, mas como o nó sinusal fica dentro do átrio direito, a despolarização desse átrio começa antes do que o esquerdo o Numa onda P de contorno normal há primeiro a despolarização do átrio direito depois a despolarização do átrio esquerdo, mas quando isso é somado dá o contorno normal da onda P o Quando temos uma alteração, por exemplo, de estenose mitral, há sobrecarga do átrio esquerdo, fazendo com que ele aumente 29 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Nesse caso, há a inscrição inicial da onda P normal, porque ela está relacionada ao átrio direito, mas quando tem a despolarização do átrio esquerdo, ela é mais forte porque tem mais área atrial, então gera um desenho de onda P com deflexão mais aguda , aumentando sua duração ▪ No V1, o átrio direito tem uma despolarização positiva e o átrio esquerdo negativa. Então vemos a onda P fazendo “plus or minus”, positivo e negativo o Quando temos uma onda P pulmonale, estamos pensando em aumento do átrio direito, que ocorre numa estenose pulmonar (sobrecarga de ventrículo direito → sobrecarga de átrio direito) ▪ A onda P vai aumentar em amplitude e não em duração como na P mitrale, porque a despolarização do AD, por ter uma área maior, ficará mais alta. Isso somado com o que temos de AE, vai aparecer maior ▪ Despolariza no tempo correto e o átrio esquerdo está normal, então fica normal a duração ▪ Em V1 notamos que a parte positiva do V1 fica mais alta e a parte negativa mantém normal 30 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Complexo QRS: o Duração normal < 0,10 s ou 100mseg o Amplitude mínima: ▪ Biplano ou frontal <5mm ▪ Plano transverso <8mm o Amplitude máxima (Sokolow): ▪ Onda S de V1 ou V2 + onda R de V5 >35mm • Sobrecarga ventricular: o No normal temos o vetor resultante normal ▪ V1 → Enxerga a cauda do vetor, de forma negativa ▪ V6 → Enxerga a parte positiva do vetor (inicialmente negativo, mas muito mais positivo) o Quando tem uma hipertrofia do ventrículo esquerdo, o vetor resultante é diferente ▪ V1 → Continua negativo, mas mais profundo, porque a angulação ficou maior, V1 enxerga agora exatamente a cauda do vetor, quase perpendicular ▪ V6 → A ponta do vetor também estará muito positiva, já que está com uma angulação praticamente de 0° com V6, então a positividade dela vai ser mais sentido o Quando tem uma hipertrofia de ventrículo direito, o vetor muda completamente ▪ V1 → Em vez de olhar a cauda, vê a ponta da seta, então enxerga de forma positiva ▪ V6 → Não é totalmente positiva como normalmente, fica com uma parte positiva e uma parte negativa (esse pedaço negativo é o que fala em V6 que se tem sobrecarga de ventrículo direito) 31 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Na sobrecarga ventricular esquerda, existem vários índices (Sokolov-Lion, Cornell) para ver o quanto é aumentado e para poder ver se tem mesmo sobrecarga ou não, mas isso é muito específico ISQUEMIA • Paredes: o As paredes que realmente definem são as precordiais, são as mais específicas em relação ao que é ventrículo direito (V3R e V4R), parede dorsal (V7 e V8), anterosseptal (V1 a V3), anterior (V1 a V4), lateral baixa (V5 e V6), anterolateral (V4 a V6) e anterior extensa (V1 a V6) ▪ Quando falamos em parede inferior por DII, DIII e aVF não é uma coisa direta, porque não são derivações precordiais e sim periféricas (mas a inferior é difícil de ver então acabamos utilizando) • Em relação ao segmento ST: o O segmento ST faz parte da repolarização ventricular o A repolarização ventricular vai estar alterada nas isquemias, porque tem tecido em que tem que ter aquele sincício elétrico para passar de uma célula para outra e o potencial de ação dessa célula em isquemia estará alterada, por isso não fica uma linha isoelétrica,o vetor não fica de forma correta ▪ O vetor se altera e aponta para uma lado ou para o outro para definir se será um infra ou um supra de ST o Quando tem um acometimento menor (infartos que não são totalmente obstrutivos), a alteração vetorial não pega todo o pedaço do músculo cardíaco e com isso há alterações apenas de infra o Quando há uma obstrução total, logo uma área isquêmica mais pesada, há o supra do segmento ST porque o vetor resultante daquela parede que está entrando no processo de apoptose modifica o vetor de repolarização levando a linha que seria isoelétrica para cima o Temos as depressões ditas como fisiológicas, que têm a característica de upsloping do ST, onde em vez do ST sair direto na linha isoelétrica, ele sobe numa rampa → É uma alteração considerada fisiológica, tanto que é bastante observado em teste ergométrico (é comum acontecer na atividade física) ▪ Então, isso é considerado normal se a onda T não estiver invertida ▪ Os estados de hiperventilação podem causar uma alteração de ST semelhante o Existem algumas depressões de ST que são tidas como não específicas, pois têm causas a mais ▪ A hipocalemia e o paciente que está mais taquicárdicos (liberação adrenérgica maior) causam uma depressão de ST em que a onda T fica achatada (repolarização mais lenta) e pode haver uma onda U, que é o resultado final da repolarização ventricular que normalmente não está presente ▪ Pode haver também alteração de infra do ST fazendo uma barriguinha, que era muito visto com o uso da digoxina, por doses mais altas e intoxicação digitálica. Hoje em dia se usa dose mais baixa de digoxina, então é mais difícil acontecer, além de existirem várias medicações para uso no lugar dela 32 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Alteração do ECG em relação à quantidade de miocárdio: o Na depressão do segmento ST há um infarto suboclusivo e com isso há uma área de infarto subendocárdica (é menor a distância) ▪ É importante observar a diferença da depressão de ST em rampa que é fisiológica para a depressão de ST considerada patológica, que cai abaixo da linha isoelétrica e mantém reto, além de que a onda T inverte o Já o infarto transmural, onde ocorre uma oclusão total da artéria, geralmente trombótica, não é apenas subendocárdica, vai até em cima fazendo um infarto transmural (acomete todas as camadas do miocárdio) e com isso há uma alteração da despolarização com supra de ST ▪ No supra, há um afastamento de todo o segmento ST, que devia estar na linha isoelétrica, sendo que ele sobe e acaba emendando com a onda T 33 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Depressão de ST por isquemia: o O típico da isquemia é gerar uma depressão de ST horizontal ou em downsloping (rampa descendente) o O que acabamos vendo na vida real pode ser: ▪ Uma depressão horizontal com ST bem-marcado/distinto ▪ Um downsloping com uma onda T positiva ▪ Um downsloping com uma onda T invertida ▪ Uma depressão do segmento ST que é inicialmente horizontal e depois começa a subir (diferente da rampa fisiológica, há uma angulação, não dá para só traçar uma linha reta) o Existe um sinal específico do infra de ST, chamado de Sinal de Winter, que é uma exceção à regra em relação ao upsloping/rampa, porque é uma rampa que faz uma barriguinha, não é totalmente reta (é uma rampa com a onda T bem-marcada/proeminente) ▪ Esse sinal normalmente pega bastante derivações precordiais, indicando grande isquemia miocárdica, geralmente da parede anterior com uma oclusão na DA proximal • Anormalidades de repolarização secundárias: o Outras coisas que podem indicar que é uma alteração de repolarização são: ▪ Bloqueio de ramo esquerdo → Um paciente que tem dor precordial e tem BRE perguntamos se ele já tinha alguma alteração de eletro, caso ele fale que não ou se desconhece, consideramos isso como uma alteração de repolarização por isquemia ▪ Hipertrofia ventricular esquerda → Pode dar a sensação de que se tem uma alteração de repolarização, mas não é tão característico como na isquemia ▪ Bloqueio de ramo direito → Altera a repolarização por bloqueio e não isquemia ▪ Pré-excitação (Wolff-Parkinson-White) → Alteração que não é só após a excitação, ela é uma alteração inicial, na pré-excitação, atrapalhando o início do QRS (cria a onda delta). Além disso, não há uma repolarização normal, não tem T marcado nem infra, tem apenas uma barriguinha 34 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ❖ O importante do Wolff é porque esse paciente tem uma via anômala de comunicação entre o átrio e o ventrículo que em vez de passar pelo nó atrioventricular ele passa em outra região, com isso pode gerar arritmias (Ex.: FA associada) → O arritmologista pode fazer ablação dessa via ▪ Hipertrofia ventricular direita → Pode ter alteração porque acaba aprofundando um pouco a onda R e, com isso, o segmento ST pode ser invertido. Mas, se tiver essa imagem num paciente com dor precordial, devemos continuar a investigação para isquemia • Supra de ST: o Mantém a onda P com mesmo comprimento, o intervalo PR com mesma duração e o complexo QRS tem a mesma distância o Em vez de ter o QR e descer para o S, só há o QR e o resto é o supra o Para medir de quanto é o supra de ST, traça-se a linha no que é isoelétrico e conta quantos quadradinhos acima está o supra o Existem aquelas elevações de ST clássicas de isquemia: ▪ Supra convexo ▪ Supra em upsloping (rampa ascendente) ▪ Supra horizontal ▪ Supra downsloping (rampa descendente) o Existe também um supra côncavo, o S fica mais certinho e depois faz uma concavidade supra → Isso geralmente não é isquêmico (observar que a elevação acontece um pouco depois do ponto J, então o supra fica entre o ponto J até o pico da onda T) o Sempre observar, então, o ponto J 35 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Quando termos necrose, ela é vista dentro do QRS (Ex.: Onda q patológica) ▪ Quando há alteração do segmento ST consideramos que já temos também uma lesão ▪ Quando há uma isquemia na sua porção inicial temos alteração mais da onda T • Evolução do infarto: o Pelas alterações elétricas: ▪ Inicialmente, há alteração só da onda T ▪ Depois, aparece um supra, mas com uma distância pequena ▪ O supra vai ficando mais acentuado, com queda da onda R ▪ O supra vai ficando muito mais próximo ao R ▪ Depois há uma volta para a onda T invertida ▪ No fim há a normalização do eletro com uma reperfusão adequada o Pela isquemia: ▪ Começa com parede ventricular normal sem isquemia ▪ Depois começa a ter uma área isquêmica, tendo uma onda T invertida, meio pontiaguda ▪ A zona de isquemia começa a se definir e já tem uma subida do segmento ST ▪ Quando já tem uma área definida de infarto há o supra do segmento ST ▪ Depois que essa isquemia vai se resolvendo, cai o supra, mas mantendo a inversão de onda T ▪ Quando há cicatriz, o clássico é a onda que não tinha onda q começar a aparecer q na parede, isso significa um infarto que evoluiu e já se curou com cicatriz (onda q patológica é uma sequela de infarto) 36 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Alterações da onda T: o Podemos ter a onda T normal ou um pouco variante do normal em que ela começa um pouco antes o Podemos ter a onda T larga por hipercalemia → Fica aumentada, aumento simétrico e mais pontiaguda o Podemos ter a onda T larga do infarto hiperagudo (de isquemia) → Está associada a um supra inicial DIVERSOS • Distúrbios eletrolíticos: o Distúrbios de potássio: ▪ Hipocalemia → Abaixa a onda T (como se estivesse apertando) e acaba aparecendo apenas uma onda U ▪ Hipercalemia → Gera uma onda T apiculada (como se estivesse puxando) o Distúrbios de cálcio(age bastante na repolarização): ▪ Hipocalcemia → Prolongamento de QT ▪ Hipercalcemia → Aproximação do intervalo QT o Distúrbios de magnésio (mais difícil de observar): ▪ Hipomagnesemia → Faz uma onda T alta, mas não é como a da hipercalemia, porque não é simétrica. Além disso, pode ter um pouco de depressão do segmento ST (não isquêmica) ▪ Hipermagnesemia → Atua na despolarização, com um prolongamento do intervalo PR, podendo gerar um BAV de 1º grau. Além disso, o QRS fica um pouco mais alargado, mas sem chegar a tamanho de BRD ou BRE • Outras anormalidades: o Hipotermia → Tem uma característica eletrocardiográfica bem marcante, que é a onda de Osborne ▪ A onda de Osborne fica dentro do QRS, logo após ele, ficando no ponto J ▪ Tem uma elevação de ST com prolongamento do intervalo PR e intervalo QT ▪ Histórias bem clássicas disso são de moradores de rua de cidades frias, como São Paulo ▪ O tratamento nada mais é do que soro aquecido e manter o paciente aquecido com mantas (aquecidas, se disponível) → Antigamente aquecia o soro no banho maria, hoje normalmente se usa o micro-ondas mesmo 37 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Acidente vascular cerebral: ▪ Faz uma alteração de onda T chamada de onda T cerebral → Ela vai negativando e ficando simétrica negativa profunda sem respeitar as paredes (pega V2 a V6, DI, DII, DIII e aVF) ▪ Acredita-se que isso acontece por estímulo cerebral, que acaba mexendo na parte elétrica cardíaca o Wolff-Parkinson-White: ▪ Tem uma onda inicial, a onda delta, antes do QRS (junto da sua parte de subida) ❖ É uma onda positiva e bem-marcada ▪ O QRS fica na repolarização um pouco mais lentificado ▪ O Wolff é característico de uma via anômala (de fácil correção para o pessoal da eletrofisiologia) ▪ Para ser diagnosticado com a síndrome de Wolff- Parkinson-White não é suficiente apenas a onda delta, o paciente tem que ter tido pelo menos 1 episódio de taquicardia 38 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ESQUEMA DE ANÁLISE ELETROCARDIOGRÁFICA • Esquema: o Definir o eixo → Pode ser definido na onda P e no QRS o Definir a amplitude → Da onda P, do QRS e da onda T o Definir a duração → Da onda P, do intervalo PR, do QRS, do ST e da onda T o Definir as morfologias → Do segmento ST (se tem infra, supra etc.) e da onda T (se é apiculada etc.) o Conclusão → Somatório do que foi observado (se está normal ou se tem algo alterado e o que) 39 CARDIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Análise rápida de ECG: o Infarto anterior: ▪ Elevação de ST na parede anterior (de V1 a V4) ▪ Geralmente associado com a oclusão da DA (Descendente Anterior), que é um ramo da ACE o Infarto lateral: ▪ Elevação de ST em DI, aVL, V5 e V6 ▪ Pode ter alteração ou não da onda q, dependendo do estágio do infarto ▪ Pode ser um componente de infartos múltiplos da parede lateral (porque ela tem mais de 1 irrigação) ▪ Geralmente está associado a obstrução da artéria circunflexa o Infarto inferior: ▪ Elevação de ST em DII, DIII e aVF ▪ Geralmente associado a oclusão da ACD ▪ Um infarto da circunflexa, se for circunflexa dominante, pode dar alteração também na parede inferior, porém não são supras tão pronunciados quanto no infarto causado por ACD o Infarto do ventrículo direito: ▪ Veremos em V4R e V5R ▪ Geralmente acompanhado do infarto inferior, então é na parte proximal da ACD ▪ O diagnóstico é feito de melhor qualidade quando temos elevação de ST em V4R ▪ É uma causa bem importante de hipotensão → Há uma distensão da jugular ▪ É necessário dar muito volume para o paciente (o tratamento não é droga vasoativa) ▪ A mortalidade é alta ▪ Se for necessário, é colocado marca-passo o Infarto posterior: ▪ V1 e V2 terão imagem em espelho do que é o infarto posterior (em V8 e V9) ❖ Em espelho é quando a parede contralateral enxerga infra onde é supra ▪ Então, há onda alternada em V1 e V2, com uma elevação do segmento ST em V8 e V9, podendo não ter alteração do q ▪ Geralmente está associado a uma obstrução de ACD ou circunflexa ▪ É um infarto que temos que ter uma alta suspeita, porque podemos acabar confundindo com infarto sem supra (um infarto com infra de ST em V1 em V2) o Bloqueio de ramo esquerdo: ▪ Pode aparecer por conta do infarto e alargar o QRS (> 0,12s) ▪ Aparecimento de complexos QR ou rS na derivação V1 e meseta em V6 V1 V6
Compartilhar