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PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA

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FACULDADE DO VALE DO JAGUARIBE – FVJ 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
PÂMELA RAQUEL DE LIMA 
 
 
 
 
 
 
PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA: A IMPORTÂNCIA DAS 
COTAS DE GÊNERO COMO UM INSTRUMENTO JURISDICIONAL DE 
INCLUSÃO DE MULHERES EM ESPAÇOS DE PODER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARACATI/CE 
2021 
PÂMELA RAQUEL DE LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA: A IMPORTÂNCIA DAS 
COTAS DE GÊNERO COMO UM INSTRUMENTO JURISDICIONAL DE INCLUSÃO 
DE MULHERES EM ESPAÇOS DE PODER 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Graduação em Direito da Faculdade do 
Vale do Jaguaribe, como requisito parcial 
para obtenção do Título de Bacharel em 
Direito. 
 
Orientadora: Prof. (a). Ma. Jackeline 
Ribeiro e Sousa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARACATI/CE 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Faculdade do Vale do Jaguaribe 
Biblioteca Dr. Salomão Mussolini Pinheiro Maia 
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) 
 
 
L732 
 
Lima, Pâmela Raquel de 
PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA: A IMPORTÂNCIA DAS COTAS DE 
GÊNERO COMO UM INSTRUMENTO JURISDICIONAL DE INCLUSÃO DE MULHERES EM 
ESPAÇOS DE PODER / Pâmela Raquel de Lima. – 2021. 
69 f.: 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade do Vale do Jaguaribe. Aracati. -
Curso de Direito. 
Orientação: Me. Jackeline Ribeiro e Sousa. 
 
1. Mulheres 2. Política 3. Eleições 4. Cotas de gênero 5. Lei n. º 9.504/1997 I. Título. II. 
Faculdade do Vale do Jaguaribe III. Lima, Pâmela Raquel de. 
CDD 340 
 
 
 
 
PÂMELA RAQUEL DE LIMA 
 
 
 
PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA: A IMPORTÂNCIA DAS 
COTAS DE GENÊRO COMO UM INSTRUMENTO JURISDICIONAL DE INCLUSÃO 
DE MULHERES EM ESPAÇOS DE PODER 
 
 
 
Monografia apresentado ao Curso de 
Graduação em Direito da Faculdade do 
Vale do Jaguaribe, como requisito parcial 
para obtenção do Título de Bacharel em 
Direito. 
 
 
 
Aprovado em: ___/___/______. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
___________________________________________ 
Prof. Ma. Jackeline Ribeiro e Sousa (Orientador) (a) 
Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVJ) 
 
___________________________________________ 
Professor (a) Examinador (a) 
Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVJ) 
 
___________________________________________ 
Professor (a) Examinador (a) 
Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVJ) 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar, início meus agradecimentos a Deus, por ter me dado força, 
sabedoria, saúde e discernimento para a construção deste trabalho e de minha 
jornada acadêmica. “Bendito seja o Senhor, pois ouviu as minhas súplicas. O Senhor 
é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda. 
(Salmos 28:6-7). Sem Deus nada teria sido desta forma, pois nele encontrei forças 
para enfrentar os momentos difíceis dessa jornada e por isso dou graças. 
Sou grata a minha mãe que durante esses cinco anos não mediu esforços 
para me ajudar, se preocupar e me esperar em todas noites meu retorno para casa, 
jamais terei como retribuir tudo que fizestes por mim, “O amor é paciente, o amor é 
bondoso, não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece, não maltrata, não procura 
seus interesses, não se ira, não se alegra com o mal. O amor não se alegra com a 
injustiça, mas se alegra com a verdade. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo 
suporta” (I coríntios 13: 4-7), o seu amor incondicional e sua dedicação me motiva a 
buscar sempre o melhor para nós! 
Ao meu pai, agradeço por me ajudar ainda que não pudesse estar presente 
em todos os momentos, por me criar e fazer de mim o que sou, eu te agradeço por ter 
batalhado para me dar o que não foi lhe dado. Te agradeço pelas exortações, que 
mesmo que eu não entendesse, eram para o meu bem. “Vós filhos, sede obedientes 
a vossos pais no senhor, por que isto é justo. Honra teu pai e tua mãe, que é o primeiro 
mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” 
(Efésios 6: 1-3). 
Agradeço a minha irmã Patrícia e meu querido sobrinho Murilo, vocês também 
fazem parte dessa jornada! Apesar de nossas diferenças irmã, você sempre apoiou 
meus sonhos e planos, “Oh! Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união” 
(Salmo 133: 1). Meu querido e amado sobrinho Deus te formou e planejou para me 
fazer feliz e mudar nossa família para melhor, não imagino minha vida sem vocês, e 
é por isso que eu vos amo e agradeço. 
Quero agradecer a minha tia Edilna, por sempre acreditar na minha 
capacidade, pelo amor, incentivo. Quero dizer que a sua presença foi muito importante 
para a construção da minha jornada acadêmica e profissional. “O Senhor te abençoe 
e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça; o 
Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz.” (Números 6:24-26). 
As minhas amigas Fabiana Lopes e Bruna Rocha, estamos juntas desde o 1° 
semestre e só nós sabemos o quão difícil foi essa jornada, mas conseguimos, 
chegamos ao fim! E estou muito feliz por permanecermos juntas e mesmo com tantas 
diferenças uma sempre ajudou a outra. Quero dizer a vocês que sou grata por que 
tive pessoas assim em minha vida, jamais esquecerei vocês. “Melhor é serem dois do 
que um, por que têm melhor paga do seu trabalho, por que se um cair, o outro levanta 
o seu companheiro, mas dia se estiver só, pois quando cair, não haverá outro que o 
levante” (Eclesiastes 4: 9-10). 
Quero agradecer a minha orientadora por todo suporte, sempre prestativa e 
receptiva para sanar as dúvidas que surgiram na construção deste trabalho, pelas 
suas correções e incentivos. Sua dedicação e empenho para com os alunos é 
admirável, “Fala com sabedoria e ensina com amor.” (Provérbios 31:26). Quero te 
dizer que você foi uma peça fundamental para que eu conseguisse chegar até aqui! 
Muito obrigada por ter aceitado me orientar e por ter trabalhado comigo nessa fase de 
conclusão. “Procure obter sabedoria e entendimento; não se esqueça das minhas 
palavras nem delas se afaste. Não abandone a sabedoria, e ela o protegerá; ame-a, 
e ela cuidará de você. O conselho da sabedoria é: 
Procure obter sabedoria; use tudo o que você possui para adquirir entendimento. 
Dedique alta estima à sabedoria, 
e ela o exaltará; abrace-a, e ela o honrará” (Provérbios 4:5-8). Te agradeço! 
Agradeço também a esta instituição, seu corpo docente, direção e 
administração que sempre demonstraram estar comprometidos com a qualidade e 
excelência do ensino aos seus alunos. Bem como a todos os professores pela 
participação na construção desse sonho, a dedicação de cada um fez muita diferença 
na minha trajetória, toda dedicação foi essencial para que este trabalho fosse 
concluído satisfatoriamente. 
Termino meus agradecimentos ressaltando que muitas pessoas fizeram parte 
da minha caminhada e mesmo não tendo sido citadas são muito importantes para 
mim, a todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, o meu 
muito obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quando uma mulher entra na política, muda 
a mulher. Quando muitas entram, muda a 
política.” 
(Michelle Bachelet) 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa propõe uma análise acerca da participação feminina na política 
brasileira e a importância das cotas de gênero, regra estabelecida no artigo 10, 
parágrafo 3° da Lei n.º 9.504/ 1997 (Lei das Eleições), como um instrumento 
jurisdicional de inclusão de mulheres em espaços de poder, destacando os 
mecanismos utilizados como método de inclusão que o sistema político brasileiro 
utiliza para garantir o equilíbrio de gênero nas casas legislativas. Observando o 
quadro geral de participação nas eleições gerais de 2014 e 2018, a problemática 
acerca de a apesar da lei das eleições estabelecer cotasde gênero determinando um 
percentual mínimo e um máximo para candidatura de mulheres e pleitos eleitorais, 
ainda assim poucas mulheres são eleitas, suscitando a questão norteadora: é possível 
que a lei evolua em eficácia a ponto que a participação das mulheres na composição 
dos quadros eleitorais como candidatas a cargos eletivos seja uma realidade 
equiparadas ou superior aos dos homens? O estudo tem como objetivo geral entender 
quais os fatores históricos, culturais e socioeconômicos têm ligação direta com a baixa 
participação de mulheres na política, e o papel das cotas em garantir o equilíbrio de 
gênero nas casas legislativas. Para tanto, foram estabelecidos três objetivos 
específicos, quais sejam, compreender o contexto político, histórico e cultural em que 
se principiou o processo de exclusão feminina, no cenário político brasileiro; Analisar 
a evolução da política de cotas com ênfase no artigo 10, §3º, da lei n.º 9.504/1997, e 
identificar aspectos que influenciam a participação da mulher no processo político; e 
Compreender os principais aspectos socioculturais e históricos que propiciaram a 
inserção de mulheres na política e os fatores que, ainda, se constituem barreiras para 
a candidatura e a eleição de mulheres a mandatos eletivos. O caminho metodológico 
na pesquisa segue a linha da revisão bibliográfica, na perspectiva de conhecer e 
compreender os aspectos que fundamentaram o tema em estudo, mediante pesquisa 
bibliográfica de materiais publicados em periódicos, livros, artigos, dissertações e 
teses; e pesquisa descritiva e documental, utilizada a triangulação de dados, como 
método comparativo, será realizada a observação acerca de quais fatores influenciam 
na escolha na hora do voto, com vistas para a importância do gênero na escolha, bem 
como quais motivações afastam as mulheres da política, podendo assim analisar e 
compreender como se dá a participação feminina na política. 
 
 
Palavras-chave: Mulheres. Politica. Cotas de gênero. Lei n. º 9.504/1997. 
 
 
ABSTRACT 
 
This research proposes an analysis about female participation in Brazilian politics and 
the importance of gender quotas, a rule established in article 10, paragraph 3 of Law 
No. 9.504 / 1997 (Law of Elections), as a jurisdictional instrument for the inclusion of 
women. women in spaces of power, highlighting the mechanisms used as a method of 
inclusion that the Brazilian political system uses to guarantee the gender balance in 
legislative houses. Observing the general framework of participation in the general 
elections of 2014 and 2018, the problem about the despite the election law establishing 
gender quotas determining a minimum and a maximum percentage for the candidacy 
of women and electoral elections, still few women are elected, raising the guiding 
question: is it possible that the law will evolve in efficiency to the point that the 
participation of women in the composition of electoral staff as candidates for elective 
positions is a reality equivalent to or superior to that of men? The general objective of 
the study is to understand which historical, cultural and socioeconomic factors are 
directly linked to the low participation of women in politics, and the role of quotas in 
ensuring gender balance in legislative houses. To this end, three specific objectives 
were established, namely, to understand the political, historical and cultural context in 
which the process of female exclusion began, in the Brazilian political scenario; 
Analyze the evolution of the quota policy with an emphasis on Article 10, §3, of Law 
No. 9.504 / 1997, and identify aspects that influence the participation of women in the 
political process; and Understand the main socio-cultural and historical aspects that 
led to the inclusion of women in politics and the factors that still constitute barriers to 
the candidacy and election of women to elective mandates. The methodological path 
in the research follows the line of the bibliographic review, in the perspective of knowing 
and understanding the aspects that justified the theme under study, through 
bibliographic research of materials published in journals, books, articles, dissertations 
and theses; and descriptive and documentary research, using data triangulation as a 
comparative method, an observation will be made about which factors influence the 
choice at the time of the vote, with a view to the importance of gender in the choice, as 
well as what motivations keep women away from thus being able to analyze and 
understand how female participation in politics takes place. 
 
Keywords: Women. Politics. Gender quotas. Law No. 9.504/1997. 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade 
CEDAW Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação 
contra a Mulher 
CNDM Conselho Nacional dos Direitos da Mulher 
FEFC Fundo Especial de Financiamento de Campanha 
OEA Organização dos Estados Americanos 
ONU Organização das Nações Unidas 
Parlatino Parlamento Latino-Americano e do Caribe 
PSD Partido Social Democrático 
REDE Rede Sustentabilidade 
SPM-PR Secretaria de Políticas paras as Mulheres da Presidência da República 
STF Supremo Tribunal Federal 
TSE Tribunal Superior Eleitoral 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 13 
2 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NA 
POLÍTICA....................................................................................................... 17 
2.1 Movimento feminista: histórico da luta feminina por espaço na sociedade 
e na política.................................................................................................... 18 
2.2 Participação feminina na construção do atual cenário político: trajetória 
das mulheres na política brasileira.............................................................. 25 
3 COTAS POR GÊNERO E O SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO............... 32 
3.1 Representação feminina e o sistema eleitoral adotado pelo Brasil ......... 34 
3.2. Instrumentos internacionais de direitos das mulheres: impactos sobre a 
criação de políticas públicas internas de inclusão feminina na 
política........................................................................................................... 35 
3.3 Ações afirmativas como um mecanismo de inserção de mulheres na 
política............................................................................................................ 37 
4 QUESTÕES DE GÊNERO E O ACESSO A ESPAÇOS DE PODER............ 48 
4.1 Fatores que contribuem para a baixa representatividade feminina na 
política............................................................................................................ 50 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 63 
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 65 
 
 
 
13 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
No Brasil os espaços de decisão política são ocupados tradicionalmente por 
homens, que compõem as casas legislativas de forma majoritária, em contraponto a 
participação política e a ocupação de cargos eletivos por mulheres é minoritária. Essa 
dualidade é resultado da cultura machista e patriarcal que historicamente molda os 
ditames sociais, ao determinar a divisão sexual de papéis e o predomínio masculino 
nas relações seja na seara da vida privada, ou na vida pública, em espaços de decisão 
e poder. 
Múltiplas correntes dos movimentos feministas lutaram para que se pudessem 
ver garantidos direitos e garantias para as mulheres. Estas mudanças resultaram em 
transformações legislativas, de modo a garantir a participação feminina na política e, 
assim, com significativa representatividade nas casas legislativas, garantir políticas 
efetivas para proteção da mulher, como a erradicação daviolência de gênero entre 
outros anseios da população feminina, o que necessariamente beneficiaria a 
sociedade. 
Este estudo parte da observação do engajamento feminino no cenário político 
das eleições entre os anos 2014 e 2018, tanto ao nível federal, estadual, distrital e 
municipal, bem como pela realização de estudo da legislação especifica, cite-se Lei n. 
º 9.504 de 30 de setembro de 1997 (Lei Geral das Eleições), com enfoque no efeito 
causado pelas cotas de gênero na inclusão feminina na seara da política. 
A participação feminina na política brasileira e a importância das cotas de 
gênero como um instrumento jurisdicional de inclusão de mulheres em espaços de 
poder foi enfatizada com a criação de leis para tentar garantir igualdade de gênero na 
política. Entretanto, mesmo com os avanços legais, o Brasil continua entre os Estados 
com menor participação de mulheres na política. 
Muitos avanços aconteceram, frutos de décadas de luta de movimentos 
sociais, incitando o Estado a criar mecanismos de inclusão de mulheres na política, 
porém, ainda há falhas na execução destas políticas públicas. O que sugere, portanto, 
o questionamento: é possível que a lei evolua em eficácia a ponto da participação das 
mulheres na composição dos quadros eleitorais como candidatas a cargos eletivos 
seja equiparada a dos homens? 
14 
 
O presente estudo tem como objetivo geral entender quais os fatores 
históricos, culturais e socioeconômicos que têm ligação direta com a baixa 
participação de mulheres na política, destacando os mecanismos utilizados como 
método de inclusão feminina que o sistema político brasileiro utiliza para garantir o 
equilíbrio de gênero nas casas legislativas. 
Para tanto, foram estabelecidos três objetivos específicos, quais sejam, 
compreender o contexto político, histórico e cultural em que se principiou o processo 
de exclusão feminina, no cenário político brasileiro; analisar a evolução da política de 
cotas com ênfase no artigo 10, §3º, da lei n.º 9.504/1997, e identificar aspectos que 
influenciam a participação da mulher no processo político; e compreender os 
principais aspectos socioculturais e históricos que propiciaram a inserção de mulheres 
na política e os fatores que, ainda, se constituem barreiras para a candidatura e a 
eleição de mulheres a mandatos eletivos. 
Apesar da vasta gama de estudos voltados para a participação feminina na 
política, o campo de estudo sobre a participação da mulher na política é amplo, visto 
que a temática não se esgota e possui variadas nuances. Assim, por meio da 
necessidade de uma análise de tais questões, busca-se identificar quais as possíveis 
mudanças na aplicação das políticas públicas já criadas para que haja essa inclusão 
feminina na política e em consequência na ocupação de cargos de poder, buscar-se-
á contribuir para a ampliação da abordagem da inserção de mulheres em espaços de 
decisão política. 
Para cumprir os objetivos da pesquisa acerca das condições culturais, 
históricas, políticas, sociais e econômicas que contribuem para a baixa participação 
de mulheres na propositura de candidaturas e a eleição de um baixo número de 
mulheres, bem como os mecanismos legais de inclusão feminina. Este trabalho 
dividiu-se em três capítulos. 
No primeiro capítulo, busca-se realizar uma análise histórica da atuação do 
movimento feminista a partir dos anos 1990 em alguns países que compõem a 
América Latina – Argentina, Chile, Bolívia, México e Colômbia – e sua trajetória 
histórica de incorporação de mulheres à política formal. Observada a influência desse 
movimento na edição de tratados internacionais sobre direitos da mulher que 
impactaram na formação de legislações com a finalidade de garantir igualdade e 
equidade para as mulheres no campo da política com a intenção de tornar o processo 
decisório no Brasil e nas demais nações latino-americanas mais inclusivo e plural. 
15 
 
Em seguida, no segundo capítulo, realiza-se a análise do artigo 10, §3º, da 
Lei n.º 9.504/1997 (Lei das Eleições), na perspectiva de identificar aspectos que 
afetam a participação da mulher no processo político. Busca-se compreender o 
conceito de cotas no âmbito eleitoral, observada sua aplicação na legislação eleitoral 
em alguns países da América Latina e no Brasil. Explana-se também acerca das 
barreiras e falhas que minam a aplicação efetiva da Lei e a atuação do Poder 
Judiciário para o combate às fraudes eleitorais. Acentuada a atuação de entidades da 
sociedade civil e de entidades internacionais para o incentivo a participação da mulher 
na política e a construção de um parlamento equitativo e paritário. 
Por fim, o terceiro capítulo volta-se para a compreensão dos fatores 
socioculturais e históricos que influem e impactam diretamente no quantitativo de 
mulheres que se propõem a concorrer a cargos eletivos e no número de candidatas 
eleitas. Observa-se o impacto da cultura patriarcal e do machismo estrutural no 
ingresso e na atuação feminina nos espaços políticos de decisão e de poder, 
observados fatores como não percepção da mulher como um agente político e a 
violência de gênero, que distanciam mulheres da seara política. 
Neste trabalho, busca-se, por intermédio de um levantamento bibliográfico 
com enfoque na participação feminina na esfera da política e na ocupação de espaços 
de poder na política brasileira, entender como as mudanças legislativas corroboraram 
para essa inserção. Esse aspecto é importante, pois, se considera um dos caminhos 
para compreender melhor o porquê da baixa representatividade feminina em cargos 
eletivos, em uma democracia representativa, cuja população e também o eleitorado é 
composto majoritariamente por mulheres. 
Para o desenvolvimento deste estudo qualitativo, serão utilizados como 
procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, na perspectiva de obter dados 
referentes ao tema ora estudado. Desta forma, foi realizada a pesquisa de materiais 
publicados em periódicos, livros, artigos, dissertações e teses, com o objetivo de 
registrar e correlacionar dados de modo a compreender a construção histórica e social 
da participação das mulheres na política. 
A presente pesquisa utilizou como procedimento a coleta de dados de 
pesquisas e bancos de dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral, que detém amplo 
acervo de pesquisa censitária sobre o tema em questão em sua base de dados. Deste 
modo, a triangulação de dados, foi utilizada como método comparativo, e assim pode-
se observar alguns dos fatores que podem influenciar na escolha na hora do voto, 
16 
 
com vistas para a importância do gênero na escolha, bem como quais motivações 
afastam as mulheres da política, podendo assim analisar e compreender como se dá 
a participação feminina na política. 
Dessa forma, compreende-se ser relevante para a comunidade acadêmica e 
para toda a sociedade desenvolver estudos que venham a dar publicidade aos temas 
de interesses públicos, principalmente quando o interesse da coletividade, pautados 
no âmbito constitucional, estão sendo utilizado com desvios de finalidades e 
defendendo interesses privados. Evidencia-se, nesse cenário, que a dimensão jurídica 
também não tem uma atuação consistente, aspecto que contribui para que se projete 
uma atmosfera de impunidade para gestores que descumprem os preceitos 
normativos vigentes. 
 
17 
 
2 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA 
 
O presente capítulo busca realizar uma análise histórica da atuação do 
movimento feminista a partir dos anos 1990 em alguns países que compõem a 
América Latina – tais como Argentina, Chile, Bolívia, México e Colômbia – sua 
trajetória histórica de incorporação de mulheres à política formal e a sua influência na 
edição de tratados internacionais sobre direitos da mulher que impactaram na 
formação de legislações com a finalidade de garantir igualdade e equidade para as 
mulheres nocampo da política, com a intenção de tornar o processo decisório no 
Brasil e nas demais nações latino-americanas mais inclusivo e plural. 
Como bem explana Luana Simões Pinheiro (2007), o trabalho de reconstrução 
da política tem seguido um longo e tortuoso caminho histórico, visto que, a 
participação feminina na política brasileira se deu de maneira lenta e, em 2021, ainda 
caminha devagar. Esse aspecto evidencia que as mudanças legislativas, tanto no que 
diz respeito a candidaturas femininas, quanto ao exercício do sufrágio, trazem 
ressalvas sobre a participação de mulheres que implica em dificuldade no acesso aos 
cargos eletivos. 
A participação feminina na esfera política, apesar de os esforços instituídos 
pelo legislador ao determinar um quantitativo de vagas específico às mulheres que 
desejam ser candidatas e a elaboração de mecanismos e políticas públicas para a 
sua implementação ainda se desenvolve em condições de desigualdade, conforme 
aponta estudo realizado pelo Instituto Update (2021, p. 101), por ir além de questões 
meramente legais, é necessária a construção de um imaginário político nas mulheres, 
ainda presas ao ideário patriarcal de que a ocupação de espaços de decisão política 
pertencem exclusivamente a homens. 
Assim, a presença e o protagonismo feminino no parlamento, bem como na 
vida política está associada ao binômio silêncio e voz, de modo que a ausência de 
mulheres nessas esferas remete ao silêncio, em razão da carência de representação 
e de interesse da população feminina de participar efetivamente de espaços de 
decisão, aponta Pinheiro (2007, p. 19). 
 A inclusão de mulheres nesses espaços representaria a construção de canais 
pelos quais se poderia ouvir as vozes, as necessidades e os interesses da população 
feminina. Ao partir deste pressuposto, uma maior participação de mulheres na política 
institucional levaria à inclusão de anseios da comunidade feminina e de minorias 
18 
 
sociais na agenda política nas casas legislativas, podendo ser destacados temas até 
então negligenciados e suplantados (PINHEIRO, 2007, p. 20). 
Para entender como acontece a inserção destes temas no atual momento 
político, bem como a importância da participação feminina no cenário político e nos 
espaços de poder para a inserção dessa agenda inclusiva, é crucial a realização de 
uma análise histórica acerca do percurso traçado pelo movimento feminista na luta 
por direitos e espaço de fala e atuação feminina nos mais diversos campos da vida 
cotidiana. 
 
De fato, a participação política das mulheres apresenta um conjunto de 
características peculiares que devem ser levadas em conta na discussão do 
tema. Não se pode ignorar que este é um campo no qual a presença feminina 
se deu tardiamente, tendo sido garantida, de maneira formal, apenas em 
1932 com a promulgação do Novo Código Eleitoral brasileiro. Até então, a 
maneira que as mulheres encontraram para se manifestar politicamente foi 
por meio dos movimentos sociais, em particular do movimento sufragista, 
responsável, em última instância, pela garantia dos seus direitos políticos. 
(PINHEIRO, 2007, p. 32) 
 
Assim, extrai-se que a atuação política não se restringe a um marco ou 
conquista como foi com o direito ao voto, mas a um conjunto amplo de ações para 
ampliar a participação formal de mulheres em espaços políticos que tradicionalmente 
são ocupados por homens (PINHEIRO, 2007, p. 32). 
 
2.1 Movimento feminista: histórico da luta feminina por espaço na sociedade 
e na política. 
 
O movimento feminista, percursor na luta pela garantia de direitos civis e 
políticos e na ruptura com a velha política desenvolvida por homens e para homens, 
fez-se presente na construção de importantes marcos na luta das mulheres na busca 
por emancipação e na conquista de direitos essenciais (SENADO FEDERAL, 2015, p. 
17), que ampliaram de maneira significativa o protagonismo feminino em centros de 
decisão no Brasil e no mundo. 
O feminismo figurou como um questionador do conceito patriarcal arraigado 
na sociedade brasileira que assim como no mundo todo destinava à mulher o cuidado 
doméstico, restrito ao lar, e a procriação, sem abertura para espaços de conhecimento 
como o acesso à educação superior. Camilla Ceylão (2020) traz o conceito sobre o 
surgimento do feminismo: 
19 
 
 
O conceito de feminismo como o conhecemos surgiu no século XIX como um 
movimento social, filosófico e político. Sua principal característica é a luta pela 
equidade entre gêneros e, por consequência, a participação e respeito às 
mulheres na vida em sociedade, no sentido de que todos os gêneros tenham 
os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. (CEYLÃO, 2020, p. 7) 
 
Segundo Cynthia Andersen Sarti (2004, p. 44) o feminismo fundou-se na 
tensão de uma identidade sexual compartilhada, que transpassam desde questões 
biológicas até questões sociais e culturais nas quais a mulher se torna mulher, assim, 
com enfoque na atuação feminista no Brasil na luta para a ocupação de espaços de 
poder e influência na política, esta transcorre um caminho maior e enfrenta percalços 
para firmar uma base representativa nesses espaços. 
Ao partir de uma análise da atuação do movimento feminista na América 
Latina nas últimas décadas na luta por direitos políticos, mudança cultural, na 
estrutura familiar e na participação efetiva de mulheres em espaços de decisão, em 
um estudo Romer M. Santos e Geissa C. Franco (2021, p. 80) analisam a presença 
do feminismo na constituição de importantes marcos civis e políticos em toda a 
comunidade latino-americana, diante deste fato, de forma sucinta cumpre pontuar as 
mudanças legislativas que marcaram alguns países. 
Conforme dados do Instituto Update (2021, p. 97) no estudo “Eleitas – 
Mulheres na Política”, a trilha pelas conquistas políticas das mulheres latino-
americanas começa pela Argentina. Mais de uma década após o Brasil garantir o 
direito ao voto as mulheres, o direito ao sufrágio feminino foi colocado em pauta na 
Argentina, garantindo assim no ano de 1947 as mulheres argentinas o direito ao voto 
e em razão desta conquista as mulheres foram às urnas pela primeira vez e cerca de 
30% dos eleitos para as casas do Congresso eram do sexo feminino. 
Pioneiro, no ano de 1991 o país foi o primeiro a aprovar uma legislação de 
cotas, na América do Sul, garantindo um mínimo de 30% das vagas para mulheres 
em listas de candidatura (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 97). No ano de 2017, foi 
apresentada a proposta de aumentar a cota de representação política feminina de 
30% para 50% que posteriormente no pleito do ano de 2019 veio a se efetivar 
(FRANCO e SANTOS, 2021, p. 80). 
Ao seguir a linha histórica da emancipação política feminina na América 
Latina, no ano de 1949 foi garantido as chilenas o direito ao voto, o país sofreu de um 
20 
 
golpe militar violento em 1973 e esteve sob o comando do General Augusto Pinochet 
até o ano de 1990 (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 108). 
Apesar do surgimento tardio de mecanismos legais de inclusão de mulheres 
na política, o país foi pioneiro na América Latina ao eleger a primeira mulher como 
presidente, Michelle Bachelet foi eleita no ano de 2006 (INSTITUTO UPDATE, 2021, 
p. 108). O processo de redemocratização do Chile bem como as pautas feministas 
caminham a passos lentos, advindo a primeira legislação de cotas de gênero na 
política no ano de 2015, esta estabeleceu um patamar de 40% de vagas destinadas 
às mulheres em listas eleitorais (FRANCO e SANTOS, 2021, p. 81). 
Com a elaboração de uma nova constituição, outra conquista importante para 
as mulheres chilenas se concretizou, com aprovação da paridade de gênero na 
Assembleia Constituinte no ano de 2020. Esse importante marco deu a oportunidade 
histórica da construção de um protagonismo feminino no Chile (INSTITUTO UPDATE, 
2021, p. 108). 
Na linha histórica da luta feminina por representação em espaços de tomada 
de decisãoa Bolívia, somente no ano de 1952, garantiu o direito ao sufrágio as 
cidadãs bolivianas, e quatro décadas após foi sancionada a lei de cotas no ano de 
1997, esta destinava a cota de 30% das vagas nas listas eleitorais para mulheres. 
Essa inovação legislativa tornou-se referência regional (INSTITUTO UPDATE, 2021, 
p. 100). 
Adiante, no ano de 2009 surgiu a proposta de paridade em todos os cargos 
públicos, concretizada no texto legal da Lei do Regime Eleitoral n. 026 de junho de 
2010 (FRANCO e SANTOS, 2021, p. 80), essa reestruturação da representação nos 
órgãos legislativos possibilitou avanços na construção de uma identidade política para 
as mulheres e permitiu a consolidação dos direitos das mulheres e princípios 
fundamentais a vida política de um país, como o de paridade, alternância e 
equivalência na participação política. (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 100). 
Apesar dos avanços legais no sentido de inclusão feminina na política 
boliviana, as raízes patriarcais insurgem na forma de violência política de gênero, que 
resultou no assassinato de Juana Quispe, vereadora de Ancoraimes - La Paz, em 
março de 2012, o fatídico caso resultou na aprovação da Lei n°243, que tipifica a 
violência de gênero (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 91). 
Quanto ao desenvolvimento e conquista históricos de direitos políticos das 
mulheres dentre os países latino-americanos, o México é o país que conta com uma 
21 
 
das legislações que garante mais equidade. No ano de 1953, as mexicanas puderam 
pela primeira vez exercer o direito ao sufrágio. Quatro décadas após essa conquista, 
no ano de 1996 foi estabelecida a primeira legislação voltada a cotas de gênero 
eleitorais, que determinava um quantitativo de 30% das vagas para candidatura 
deveriam ser compostas por mulheres, cota que cresceu ao longo dos anos e que no 
ano de 2014 alcançou o percentual de 50% (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 114). 
As raízes machistas e patriarcais no México mostram que apesar da evolução 
legal no sentido de incluir mulheres nos espaços de decisão política e equipara-las 
aos homens, os índices de violência em razão do gênero feminino seguem 
relativamente altos, diante deste fato, no ano de 2017 foi desenvolvido um protocolo 
de atendimento às mulheres vítimas de violência política. Com a reforma 
constitucional no ano de 2019, o México garantiu que o princípio da paridade já 
estabelecido para os cargos do legislativo se estendesse aos poderes executivo e 
judiciário (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 114). 
Por intermédio da articulação das bases femininas nos principais partidos 
colombianos, a Colômbia garantiu as mulheres o direito ao sufrágio universal, com a 
reforma constitucional que ocorra no ano de 1954 (INSTITUTO UPDATE, 2021, p. 
110). Adiante, quase seis décadas após a conquista do direito ao voto, no ano de 
2011 foi estabelecida a legislação de cotas de gênero (Lei n.º 1.475 de 2011), que 
obedecendo ao princípio de equidade e igualdade de gênero que fixou um número 
mínimo de 30% de ocupação das candidaturas para mulheres (FRANCO e SANTOS, 
2021, p. 81). 
Findada a linha histórica dos principais avanços legais e conquistas femininas 
na América Latina, tem-se, portanto, que o movimento feminista, foi e continua sendo 
uma ferramenta decisiva para a promoção da igualdade na participação feminina na 
política. O ativismo feminino em prol da participação política de mulheres por meio de 
ações para combater a discriminação e a subalternidade feminina, com o objetivo de 
criar meios para que as mulheres sejam protagonistas na construção da história 
política de seus países, traçou um legado de direitos e possibilitou mudanças a favor 
de uma sociedade igualitária para as mulheres. Ao tratar sobre a atuação feminina na 
busca por reconhecimento de direitos e ocupação de espaços, Leila Linhares Barsted 
(2011, p. 98) assevera: 
 
22 
 
O protagonismo das mulheres na luta por sua cidadania – em busca de um 
tempo perdido – marcou a última metade do século XX. Não se tratava tão 
somente da inclusão de um novo sujeito de direitos ou da extensão para as 
mulheres dos direitos existentes. Trava-se da construção de um novo direito 
capaz de abarcar novas demandas de um sujeito coletivo específico 
(BARSTED, 2011, p. 98) 
 
Nesse sentido, segundo Joice Graciele Menuci e Júlia Nielsson (2019, p. 4), 
a participação de mulheres na política é fruto da união feminina, que num movimento 
mundial uniram-se em prol de uma causa, a exemplo do movimento sufragista que 
surgiu com um caráter reivindicatório, a fim de que fossem garantidas às mulheres 
direitos políticos. 
Outras garantias anteriores ao direito ao sufrágio são frutos da luta feminista, 
entretanto, importa tratar da conquista ao direito da participação na política, que 
possibilitou às mulheres a abertura de caminhos para se estabelecerem no campo 
político e ampliou de maneira significativa o protagonismo feminino na sociedade, 
assim o ciclo de limitações impostas as mulheres, que outrora restringia-se aos papéis 
voltados a esfera do lar, como foi em grande parte da história foi quebrado (SENADO 
FEDERAL, 2015, p. 16). 
Ao traçar uma linha histórica de acontecimentos que consolidaram direitos em 
diversas esferas que perpassam desde direitos civis, político, econômicos e sociais, 
de modo a dar equidade as relações que envolvem homens e mulheres na esfera 
pública e privada, Barsted (2011, p. 99) pontua documentos internacionais que datam 
das décadas de 1960 e 1970, que foram redigidos sob forte influência e pressão dos 
movimentos feministas de diversos países, entre eles, cumpre destacar a Convenção 
sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW, 
aprovada no ano de 1979. 
No Brasil a ratificação do tratado somente ocorreu em 1º de fevereiro de 1984, 
entretanto, o decreto presidencial que promulgou a Convenção contava com reservas 
em alguns artigos1. Somente no ano de 2002 por um novo decreto foi assegurada a 
validade total disposições da Convenção2. 
A convenção foi um marco na luta feminina por reconhecimento e 
representação por abranger diversas áreas e se solidificou como o primeiro 
instrumento internacional de direitos humanos que se voltava a proteção da mulher, 
 
1 Decreto no 89.460, de 20 de março de 1984. 
2 Decreto nº 4.377, de 13 de setembro de 2002. 
23 
 
ao pontuar em seus artigos as formas de discriminação e que, portanto, ferem o pleno 
gozo e exercício dos direitos e liberdades da mulher nos campos, político, social, etc. 
(BARSTED, 2011, p. 100). 
Esse cenário principiou não só o acesso, mas a motivação para que outras 
mulheres se encorajassem a adentrar às disputas eletivas dos pleitos políticos, e 
desse modo consolidou e efetivou o direito constituído. Contudo, essa abertura não 
significou a plenitude dos direitos, nem tampouco, a extinção dos campos de disputas, 
apenas principiou um novo cenário para as mulheres na política. 
O percurso histórico da atuação do movimento feminista no Brasil, analisado 
sob a ótica de uma linha temporal da conquista de direitos inicia-se pela liberação do 
acesso à educação básica a meninas no ano de 1827 (CEYLÃO, 2020, p. 8), seguido 
por outros marcos até a conquista do direito ao sufrágio, garantido pelo decreto n. 
21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que regulou o alistamento e o processo eleitoral 
no Brasil. Entretanto, o registro de representação feminina no parlamento somente se 
deu no ano de 1933, nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte que 
elaborou a Constituição de 1934. 
Em um estudo a respeito da participação feminina na constituinte de 1934, 
Rita de Cássia B. de Araújo (2003, p. 136 - 137) trata na evolução de sua pesquisa 
das ações feministas, voltadas para conquistas de direitos políticos para a mulher e a 
trajetória percorrida por ativistas como Berta Lutz, que em 1918 em conjunto com um 
grupo de colaboradoras criaram, a Liga paraEmancipação Intelectual da Mulher, que, 
adiante passou se chamar Liga pelo Progresso Feminino e adiante, no ano de 1922 a 
Federação Brasileira para o Progresso Feminino, todos com o escopo de dar 
visibilidade e incluir a mulher na política. 
A primeira legislação em território brasileiro a garantir a participação feminina 
no processo eleitoral data do ano de 1927, quando, segundo TRIBUNAL SUPERIOR 
ELEITORAL (2020, p. 8), “Em 25 de outubro de 1927, foi sancionada, no Rio Grande 
do Norte, a Lei n.º 660, que regulava o serviço eleitoral do estado e garantia a todos 
os cidadãos, sem distinção de sexo, o direito de votar e de ser votado”. Tem-se, 
portanto, a sanção deste dispositivo legal como um marco histórico para o país na 
construção da participação feminina na vida política. 
No ano de 1928 as primeiras mulheres foram às urnas exercer o direito ao 
sufrágio, entretanto, os votos foram considerados inapuráveis pela Comissão de 
Poderes do Senado, entrave este que explicita a resistência da sociedade patriarcal 
24 
 
da época a inclusão de mulheres em ambientes fora do domínio do lar (TRIBUNAL 
SUPERIOR ELEITORAL, 2020, p. 8). Ainda, segundo Senado Federal (2015, p. 19) 
na obra “Mais mulheres na política”, no mesmo ano, também no Rio Grande do Norte, 
no Município de Lajes, viria a ser eleita a primeira prefeita no país, a professora Alzira 
Soriano de Souza. 
No portifólio “Construção da voz feminina na cidadania” o TRIBUNAL 
SUPERIOR ELEITORAL (2020) elencou as primeiras candidatas que comporiam a 
assembleia constituinte de 1934 e que por sua luta por inclusão deram vez e voz as 
mulheres nos espaços de decisão, a começar por Leolinda Daltro, Edwiges de Sá 
Pereira, Martha de Hollanda, Carlota Pereira de Queiroz, Almerinda Farias Gama, 
Bertha Lutz, Natércia da Cunha Silveira e Alzira Reis Vieira Ferreira, seus exemplos 
de busca por autonomia na vida política serviram como base para que as futuras 
gerações de mulheres pudessem avançar ainda mais na luta pela garantia de direitos 
a população feminina do Brasil. 
Algumas décadas a frente, no ano de 1979, Eunice Michiles do Estado do 
Amazonas, foi a primeira senadora eleita como suplente assumiu o cargo, em razão 
da morte do titular. No poder executivo a ascensão ao cargo de chefia estadual deu-
se somente no ano de 1994, quando Roseana Sarney foi eleita como governadora do 
estado do Maranhão. Ainda no ano de 1986 a vice-governadora do Acre Iolanda 
Fleming, assumiu o cargo quando o titular entrou na disputa por uma vaga como 
senador (SENADO FEDERAL, 2015, p. 20 - 21) 
O movimento feminista no Brasil teve atuação expressiva nos anos de 1964 a 
1985, quando o país se encontrava sob a égide do regime militar, nesse contexto de 
dura repressão aos movimentos favoráveis a democracia, aliando-se aos movimentos 
estudantis o feminismo posicionou-se de maneira incisiva ao contestar a ordem 
política instituída no país (SARTI, 2004, p. 35 - 36). Sobre o tema assevera Patrícia 
Coimbra (2011, p. 25): 
 
De acordo com dados da Rede Mulher12 a década de oitenta é marcada pelo 
fortalecimento e crescimento do movimento de mulheres que, ampliado e 
diversificado, adentrou partidos políticos, sindicatos, associações 
comunitárias. A luta das mulheres se consolida e o Estado Brasileiro 
reconhece acolhendo as propostas das mulheres na Constituição Federal em 
elaboração e atuando eficazmente na elaboração de políticas públicas 
voltadas para as mulheres. (COIMBRA, 2011, p. 25) 
 
25 
 
Para Sarti (2004, p. 39), o reconhecimento por parte Organização das Nações 
Unidas (ONU) da questão da mulher como problema social foi crucial para a 
concepção de um movimento social e a formação de grupos políticos encabeçados 
por mulheres que passaram a atuar abertamente. Nesse sentido, esclarece ainda que 
o feminismo brasileiro possuía características impares, incialmente nascido na classe 
média e composto por mulheres com acesso à educação universitária, posteriormente 
se expandiu abrangendo camadas populares da sociedade. 
Assim é possível reconhecer a atuação do movimento feminista na busca por 
garantir espaço para as mulheres nas esferas de poder e que essa influência se 
destaca em diversas resoluções da ONU, como na plataforma de ação mundial, 
aprovada durante a 4ª Conferência sobre as Mulheres, que ocorreu em Pequim no 
ano de 1995, que determina aos Estados à adoção de medidas para eliminar os 
preconceitos e a superioridade de um gênero sobre o outro (SENADO FEDERAL, 
2015, p. 17 - 18). 
Diante deste percurso histórico de conquista de direitos e inserção feminina 
nos espaços de poder e decisão, marcado por inúmeros marcos na construção de 
direitos da mulher antes e após a Constituinte de 1987, até a promulgação da lei das 
eleições, que em seu texto estabeleceu o percentual mínimo de candidaturas 
femininas no ano de 1997, extrai-se à seguinte conclusão acerca da luta feminista: 
 
A busca das mulheres por mais direitos é um movimento ancestral e em 
constante construção. No século 21, esse movimento ganhou mais 
pluralidade e o poder de alcance da internet. Tornou-se um movimento 
massivo e tomou conta de várias sociedades, como uma onda impossível de 
ser detida. (INSTITUTO UPDATE, 2020, p. 13) 
 
Deste modo, percebe-se que o feminismo contestou a estrutura patriarcal a 
qual a sociedade estava envolta e deu voz as mulheres, sendo o responsável por 
tentar levar as mulheres a espaços de poder e de decisão (MENDES, 2010), 
entretanto, a discriminação ainda perdura, motivo pelo qual a luta por direitos e à 
ocupação de espaços de poder não se estagna, sempre se reinventando na busca de 
novas formas de diálogo e inclusão feminina. 
 
2.2 Participação feminina na construção do atual cenário político: trajetória 
das mulheres na política brasileira 
 
26 
 
Conforme preceitua Pinheiro (2006), é inegável que a participação feminina 
na política se deu tardiamente, visto que as primeiras garantias formais de 
participação se iniciaram com a promulgação do Código Eleitoral Brasileiro de 1932 
(PINHEIRO, 2006, p. 26). Esta participação, outrora, dava-se por intermédio de 
movimentos sociais de cunho feminista como o movimento sufragista, que, mediante 
sua atuação na luta por direitos e garantias para mulheres, trouxe mudanças 
legislativas favoráveis a inclusão feminina no campo de política. 
 
A emergência do tema se deu basicamente por dois motivos correlatos. O 
primeiro refere-se ao contraste observado entre o grau de inserção feminina 
em esferas da ida social – como na educação e no mercado de trabalho – e 
a sua escassa presença nas instancias formais e informais do poder. A 
segunda motivação encontra-se no surgimento, em todo o mundo, em 
especial na América Latina, das ações afirmativas aplicadas ao campo 
político. (PINHEIRO, 2006, p. 28) 
 
Segundo Pinheiro (2006, p. 28), os estudos sobre participação feminina na 
vida política e como ela se desenvolve ganharam ênfase a partir da década de 1990. 
O desenvolvimento de tais pesquisas tinham como pano de fundo a ascensão das 
mulheres em diversos aspectos sociais que pairam desde o acesso à educação básica 
e posteriormente ao ensino superior à inserção no mercado de trabalho livre da 
necessidade de consentimento do marido, que foi garantida pela Lei n.º 4.212 de 27 
de agosto de 1962 (Estatuto da mulher casada). 
O estatuto garantiu também o direito à herança e a possibilidade de requerer 
a guarda dos filhos em caso de separação, mecanismos legais como estes 
possibilitaram as mulheres, emancipação nas questões relacionadas a vida privada, 
garantindo assim autonomia, ainda que de forma primária para a participação no 
mundo da política (CEYLÃO, 2020, p. 8). 
Assim, vê-se que a participação feminina na política não se deu 
exclusivamente nas casas legislativas ou em outras esferas de exercício político e de 
poder, tendo importante atuação na luta de base e conscientização acercada 
participação na vida política por parte das mulheres. Ainda, é notório que essa 
participação se dá de forma lenta em razão de fatores externos que influenciam 
diretamente na escolha da mulher em participar ativamente na vida política e em 
espaços de decisão. 
 
A luta pela emancipação feminina no Brasil é longa e antiga. Preconceito e 
condescendência andavam juntos na tentativa de frear e desqualificar a luta 
das mulheres por espaço nas esferas de poder. Enfrentando situações 
difíceis (como a anulação dos votos das primeiras eleitoras) e inusitadas 
27 
 
(como a da primeira juíza do país, Auri Moura Costa, aprovada em concurso 
somente por equívoco: pensaram que seu nome, considerado “masculino”, 
se referisse a um homem), as primeiras mulheres no Legislativo, no Executivo 
e no Judiciário, bem como nas urnas, abriram portas para a inclusão feminina 
nos espaços de poder brasileiros. (TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, 
2020, p. 20) 
 
 Acerca dos fatores externos que influem na participação da mulher na vida 
política, importa abordar sobre a estrutura patriarcal, na qual a sociedade, de modo 
geral, está envolta, apesar dos avanços legais, principalmente os culturais, que deram 
vez e voz a grupos e minorias, dentre eles as mulheres, que há muito eram silenciadas 
e postas em segundo plano. 
Para Pinheiro (2007, p. 42), apesar de rompidas as barreiras formais de 
acesso ao mundo da política as questões que distanciam a mulher do campo político 
e a baixa participação na vida pública, têm também ligação direta com uma espécie 
de autoexclusão. Assim, os fatores históricos que moldaram a estrutura social como 
é conhecida embutiu nas mulheres o sentimento de que os espaços decisões, são 
ambientes feitos para homens. 
A evolução da participação e a inserção de mulheres no campo da política 
acontecem de maneira gradativa em razão de entraves históricos e culturais que 
permeiam a função da mulher enquanto indivíduo na sociedade, ao lhes delimitar 
papéis secundários e de pouca influência, ao definir o homem como um ator principal 
nos espaços de decisão. Nesse sentido, Menuci e Nielsson (2019, p. 4) asseveram: 
 
Após a conquista do direito de voto feminino, em 1932, a participação política 
e a representatividade auferida pelas mulheres no espaço público ainda era 
escassa. A parca representação feminina na política ainda em 1995 fazia com 
que as mulheres não tivessem suas demandas abarcadas pelo poder público 
e quiçá requeressem sobre elas. A participação política feminina ainda era 
novidade e muitas mulheres mal sabiam como adentrar nesse meio por ser 
compreendido como um local primordialmente masculino, para modificar 
esse cenário era preciso de legislação que colocasse as mulheres na política. 
(MENUCI; NIELSSON, 2019, p. 4). 
 
Essa estruturação ainda atua fortemente quando se trata de política e espaços 
de poder. Tal afirmação encontra base também em recente matéria lançada pelo 
Portal da Câmara de Deputados que revela a baixa representatividade de brasileiras 
na política se reflete no número de deputadas que compõem a casa (CÂMARA DE 
DEPUTADOS, 2019, online). 
A abertura de espaço na política para mulheres, principalmente em espaços 
de poder e influência é, portanto, uma luta cotidiana e que requer constante zelo. Nas 
palavras de Simone de Beauvoir “De maneira global ganhamos a partida, mas a 
28 
 
mesma autora alertou que a luta ainda estava no começo. Basta uma crise política, 
econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados.” 
(BEAUVOIR, 1949, p. 29) 
Seguindo panorama histórico a partir do processo de reabertura política que 
ganhou força na década de 1980, com a decadência do poderio militar sobre o Brasil 
e a redemocratização vindoura do país e o crescimento do movimento feminista. Os 
grupos que buscavam espaços de fala para as mulheres que atuaram junto a outras 
frentes democráticas durante o regime militar, se uniram para garantir que houvesse 
representatividade feminina na Assembleia Nacional Constituinte que viria a acontecer 
nos anos de 1987 - 1988 (TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, 2020, p. 16). 
Com a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher — CNDM, no 
ano de 1985, os anseios dos grupos que reivindicavam direitos para as mulheres 
ganharam repercussão por todo território nacional. Suas ações culminaram em 
campanhas que buscavam visibilidade e espaço para as mulheres na elaboração na 
nova Constituição Federal, como a campanha “Mulher e Constituinte”. Essa atuação 
resultou no lançamento da Carta das Mulheres aos Constituintes, documento 
elaborado no Encontro Nacional da Mulher e Constituinte promovido pela CNDM 
(SENADO FEDERAL, 2018). 
O denominado Lobby do Batom foi composto por 26 deputadas eleitas por 
voto direto no ano de 1986, e, apesar do número relativamente baixo, o movimento 
conseguiu, através da ação e articulação das Constituintes, conferir direitos e 
garantias na elaboração da nova Carta Magna para grupos da sociedade que eram 
considerados invisíveis, como a igualdade entre homens e mulheres estabelecida no 
art. 5º, inciso I da CRFB/88 (SENADO FEDERAL, 2018). 
Adiante na linha do tempo da construção da participação feminina na política 
brasileira, outro avanço na inclusão de mulheres no legislativo foi a Lei n.º 9.100 de 
29 de setembro de 1995. A lei surgiu com a finalidade de estabelecer normas para a 
realização das eleições municipais de 3 de outubro de 1996 e se caracterizou como a 
primeira lei com previsão de ações afirmativas para mulheres, ao estabelecer no 
art.11, § 3º, que, no mínimo, 20% da lista de candidatos de cada partido ou coligação 
deveria ser preenchida por mulheres. Entretanto, a proposta se restringia as câmaras 
municipais (BRASIL, 1995, online). 
 Sob uma ótica ampla, as disposições acordadas na Plataforma de Ação 
Mundial da 4º Conferência Mundial da Mulher promovida pela ONU no ano de 1995, 
29 
 
que recomendavam a formulação de políticas para a implementação de ações 
afirmativas para promover e acelerar a diminuição das diferenças de gênero, através 
da promoção do princípio da igualdade e evitar a discriminação na participação do 
poder político (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1995), influenciaram na 
criação da política de cotas em muitos países, inclusive o Brasil, com a promulgação 
da Lei 9.100/95 (SENADO FEDERAL, 2015, p. 18). 
No ano de 1997, ao deliberar sobre um conjunto de normas para a 
regulamentação do processo eleitoral unificado para o Brasil, foi editada a Lei n.º 
9.504/97, também conhecida como Lei das Eleições. O texto legal trouxe a questão 
da equidade na participação de homens e mulheres na política, ampliou e estabeleceu 
assim diretrizes para a aplicação da política de cotas, a regra passou a valer para as 
Assembleias Estaduais e para a Câmara de Deputados Federais, não mais se 
limitando às Câmaras Municipais (SENADO FEDERAL, 2015, p. 39). 
A nova regra aumentou o percentual mínimo de vagas reservadas a 
candidaturas de mulheres para 30%, com a ressalva de que nas eleições do ano 
subsequente as cotas seriam de 25% em caráter de transitoriedade, visto que no ano 
de 1998 haveria eleições e não haveria tempo hábil para que os partidos se 
adequassem a nova regra. Desta feita, garantiu o legislador que a aplicação da nova 
política de cotas, tal como o texto legal estabelece, somente atingiria o percentual 
estabelecido em lei nas demais eleições (SENADO FEDERAL, 2015, p. 40). 
Ao estudar as potencialidades e os limites da política de cotas no Brasil, Clara 
Araújo (2001, p. 245 - 246), pondera sobre as limitações existentes no novo diploma. 
Tais limitações podem ser entendidas como herança da legislação anterior, que 
tratava sobre a política de cotas, características como a não obrigatoriedade do 
preenchimento do percentual mínimo estabelecido para mulheres e o aumento no 
contingente de candidatos que poderiam concorrer ampliado em 50%,dificultando 
assim a ocupação das vagas, que resultou no não preenchimento das cotas na maioria 
dos partidos nas eleições porvindouras. 
Na busca por sanar possíveis erros e brechas para fraudes, o legislador 
inseriu inovações benéficas ao processo eleitoral, a cada pleito são realizadas 
mudanças na legislação eleitoral. Posto isto, observadas algumas falhas na 
implementação da política de cotas estabelecida no art. 10 da Lei das Eleições, a Lei 
n.º 12.034 de 29 de setembro de 2009 deu a ela nova redação, e tornou obrigatório o 
preenchimento do percentual mínimo de 30% para candidaturas femininas. 
30 
 
 
A Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes 
alterações: [...] “Art.10. ................................................................................... 
§ 3o Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada 
partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o 
máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo. 
(BRASIL, 2009, art.3º) 
 
A alteração do texto legal resultou em um aumento significativo no número de 
candidatas, ainda assim a política de cotas encontrava dificuldade em atingir os fins 
almejados pelo legislador, deste modo, com o objetivo de contribuir para a efetividade 
do art.10, § 3º da Lei n.º 9.504/97 a Lei n.º 12.891 de 11 de dezembro de 2013 trouxe 
importantes inovações com o condão de incentivar a igualdade de gênero na política 
e possibilitar a abertura de espaço para diálogo e inclusão feminina na política. 
Em outra perspectiva, o legislador na tentativa de aplicar políticas públicas 
inclusivas para mulheres na política, alterou e incluiu na Lei n.º 9.096 de 19 de 
setembro de 1995 que dispõe sobre os partidos políticos, e trata, por conseguinte do 
Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, sua distribuição e 
aplicação, o inciso V foi incluído no art. 44 pela Lei n.º 12.034 de 2009, ao determinar 
que os recursos oriundos do fundo partidário serão aplicados na criação e na 
manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das 
mulheres, de acordo com o percentual fixado pelo diretório nacional do partido, 
observado o mínimo de cinco por cento do total. (BRASIL, 2009, online) 
A redação foi considerada ainda genérica, assim a Lei n.º 13.165 de 29 de 
setembro de 2015 alterou o dispositivo legal, e determinou aos partidos políticos a 
obrigatoriedade de repasse de um mínimo de 5% do Fundo Partidário para as 
instâncias internas que promovam as candidaturas femininas, com a finalidade de 
custeio dos programas de promoção e difusão da participação de mulheres na política 
(BRASIL, 2015, online). A lei foi objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 
5617/DF, que decidiu que os recursos do fundo deveriam seguir o patamar mínimo 
estabelecido pelo §3º do art. 10 da Lei n.º 9.504/1997 (SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL, 2018, p. 112). 
Ainda, recentemente, a Lei n.º 13.877 de 27 de setembro de 2019 alterou mais 
uma vez o inciso V do art.44 da Lei n.º 9.096/1995, e assim a forma de aplicação dos 
recursos oriundos do fundo partidário, e incumbiu ao órgão nacional responsável pela 
direção dos partidos a fixação do percentual a ser destinado para as campanhas de 
candidaturas de mulheres, observado o mínimo de 5% (BRASIL, 2019, online). 
31 
 
No ano de 2013, com a sanção da lei 12.891/13, responsável pela 
minirreforma eleitoral, algumas mudanças com o condão de incentivar e promover as 
candidaturas de mulheres foram realizadas com a inclusão do art. 93-A, que versa 
sobre a possibilidade de o TSE – Tribunal Superior Eleitoral promover propaganda 
institucional, com o intuito de estimular a participação feminina na política (BRASIL, 
2013, online). 
 
A Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes 
alterações: [...] “Art. 93-A. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no período 
compreendido entre 1º de março e 30 de junho dos anos eleitorais, em tempo 
igual ao disposto no art. 93 desta Lei, poderá promover propaganda 
institucional, em rádio e televisão, destinada a incentivar a igualdade de 
gênero e a participação feminina na política. (BRASIL, 2013, art.3º) 
 
Assim, garantias de participação política por ações afirmativas previstas pela 
Lei das Eleições — Lei n.º 9.504/1997, devem ser entendidas e estudadas a fundo, 
afim sanar falhas na aplicação dessas políticas públicas e assim avançar na garantia 
de direitos a mulheres, com o intuito de compor uma bancada representativa, seja 
qual for a esfera do poder legislativo. 
 
32 
 
3 COTAS POR GÊNERO E O SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO 
 
Este capítulo volta-se para a análise do artigo 10, §3º, da Lei n.º 9.504/1997 
(Lei das Eleições), na perspectiva de identificar aspectos que afetam a participação 
da mulher no processo político. Parte-se da premissa de que fatores como o pouco 
estímulo à candidatura, reduzido apoio financeiro e ideológico dos partidos e 
desinteresse em mudar a realidade, repleta de machismo político culturalmente 
enraizado estão entre as razões para a discreta participação feminina na política 
brasileira. 
Ao partir do pressuposto de que a seara política consiste em um universo 
social, faz-se mister observar as posições ocupadas neste campo. Para Pinheiro 
(2007, p. 43), o reconhecimento e a ocupação de papéis atuantes no Congresso 
Nacional decorrem do capital político, ao passo em que o acúmulo de capital político 
define os lugares a serem ocupados pelos indivíduos na política. 
Ao tratar sobre a influência do capital político na construção de uma carreira 
eleitoral, Luís F. Miguel (2003, p. 121) definiu-o como “[...] em grande medida, uma 
espécie de capital simbólico: o reconhecimento da legitimidade daquele indivíduo para 
agir na política.”. Assim, seria o capital político um alavancador da atuação do 
parlamentar, que de forma implícita apropria-se de bens e serviços públicos, 
garantindo-lhe influência e meios para destacar-se e suas pautas, fator que gera uma 
base política fortalecida, como é o caso dos candidatos que vem de bases sindicais, 
ou mesmo de partidos que pelas redes de relações familiares, constituem dinastias 
políticas (PINHEIRO, 2007, p. 43). 
Sobre representação política, Clara Araújo (2009, p. 23 - 24) destaca sua 
importância nas democracias modernas, pondera ainda que esta representação se 
viabiliza por intermédio dos partidos políticos. Deste modo os partidos podem ser 
entendidos como importantes agentes políticos de jogo político-eleitoral, cujo objetivo 
e o sentido da existência é o acesso ao poder. Nesse sentido destaca a autora que 
“Provavelmente por isso, conseguir espaços e recursos nessas organizações parece 
ser elemento decisivo para aqueles que pretendem disputar eleições e vencê-las, seja 
para o Executivo ou o Legislativo.” (ARAÚJO, 2009, p. 23) 
Apesar de a legislação de cotas atuar como um mecanismo de inserção de 
mulheres no campo da política, fatores como o capital político atuaria como uma forma 
de controle da participação feminina, de modo a filtrar o espaço político reservado a 
33 
 
mulheres cujas pautas afete minimamente a lógica de poder atualmente instituída. 
Isso restringiria pautas progressistas, tais como igualdade e paridade de gêneros na 
participação do processo legislativo (MENUCI; NIELSSON, 2019, p. 17 - 18). 
Quanto à atuação de mulheres na política, o fator “capital político” se evidencia 
no perfil de mulheres eleitas e a base eleitoral que as elegeram. Em análise sobre a 
representatividade feminina na política, Thais K. F. Medeiros e Maria C. Chaves (2017, 
p. 111), observam uma estruturação das mulheres que adentram na política em 
grupos. 
Conforme Medeiros e Chaves (2017, p. 111), a participação feminina ocorre 
de três maneiras: na primeira, um grupo se destaca por ter importante participação 
em movimentos sociais. Tal grupo é normalmentede esquerda, possui curso superior 
e que adquire bagagem política por meio dos movimentos aos quais está engajado. 
O segundo grupo chega à política por herança familiar, com o dever de substituir e 
dar continuidade carreira política de seus antecessores. Já o terceiro grupo compõe-
se por mulheres que não são engajadas em movimentos sociais de grande 
repercussão e tampouco vêm de família com longa tradição política, mas geralmente 
representam comunidades específicas as quais integram, como as candidatas eleitas 
por igrejas, sem representação política expressiva além da comunidade em que faz 
parte (MEDEIROS; CHAVES, 2017, p. 111). 
Quanto as mulheres que são eleitas, para Pinheiro (2007, p. 172), a atuação 
das parlamentares está fortemente condicionada a sua trajetória profissional e pelo 
seu baixo nível de capital político, destaca-se que esse pensamento corrobora com a 
ideia de divisão política de mulheres em grupos. Entretanto, Pinheiro (2007, p. 172) 
fatores como a base político-eleitoral fazem com que suas representantes atuem e 
direcionem suas ações para grupos sociais específicos, e no caso das parlamentares 
“explicitam uma tendência em atender à população mais carente e mais excluída do 
centro econômico do país, que tem pouco acesso à renda produzida ou aos direitos 
sociais [...]” (PINHEIRO, 2007, p. 173). 
Nesse sentido, explanam Michelle M. C. Campos e Thyerrí J. C. Silva (2020, 
p. 180) acerca da baixa representatividade feminina na política estar ligada a ideia de 
divisão em grupos de mulheres com objetivos e pautas distintas, que se habilitam a 
concorrer a cargos eletivos. Aponta como causa da baixa representatividade feminina, 
o fato de não existir uma união político-eleitoral de mulheres, e por conseguinte atribui 
a esta falta de sororidade a dificuldade de efetivação de políticas públicas, ações 
34 
 
afirmativas e demais interesses da população feminina (CAMPOS; SILVA, 2020, p. 
180). 
 
3.1 Representação feminina e o sistema eleitoral adotado pelo Brasil 
 
 Na busca por maior visibilidade e espaço na política, no sentido de ampliar a 
ocupação feminina no legislativo, cumpre, ainda, observar a influência dos sistemas 
político-eleitorais e a forma como se estruturam os partidos na construção da 
participação feminina na seara política. 
De acordo com o Senado Federal (2015, p. 27), um sistema eleitoral consiste 
em um conjunto de regras e diretrizes que determinam o processo eleitoral de um 
país, impactando diretamente na organização partidária, seu poder e grau de 
importância na organização política. 
Araújo (2009, p. 30) aponta como a relação entre cotas e os tipos de sistemas 
eleitorais se articulam sobre a temática da representação. Ao tomar como referência 
a ideia de que as políticas de cotas por terem por objetivo ampliar a representação 
numérica de mulheres nas casas legislativas, são formas de representação descritiva. 
Ao passo os sistemas eleitorais abrangem um conjunto amplo de procedimentos 
institucionalizados, e tem importante papel na organização dos objetivos da 
representação política por meio do processo eleitoral. 
O sistema eleitoral brasileiro adota o sistema majoritário para os cargos de 
representantes do Poder Executivo – Presidente da República, Governador do Estado 
e Prefeito Municipal – e para os representantes do Senado. Assim, apurados os votos 
em uma determinada circunscrição eleitoral3, as candidaturas mais votadas, em regra, 
são eleitas para o mandato. Leva-se em conta a regra de alternância em relação à 
quantidade de vagas disputadas em cada pleito. Já para os representantes da Câmara 
dos Deputados, adota-se o sistema proporcional de lista aberta, em que os candidatos 
mais votados da lista são eleitos dentro do número de vagas que cabe ao partido ou 
à coligação, de acordo com o total de votos recebidos (SENADO FEDERAL, 2015, p. 
29). 
 
3 Circunscrições são as divisões territoriais que formam a unidade básica em uma eleição, no Brasil, 
os estados brasileiros são as circunscrições eleitorais nas eleições para Câmara dos Deputados e 
Senado. (SENADO FEDERAL, 2015, p. 28) 
35 
 
A adoção de listas de candidatura fechadas pode ser um fator considerado 
favorável à eleição de mulheres, visto que em países que adotam esse sistema, é 
favorecida a presença de maior número de mulheres nos parlamentos. Segundo o 
Senado Federal (2015, p. 28), isso ocorre em razão da alternância entre gêneros, que 
pode ser estabelecida em lei ou por decisão dos partidos. 
O sistema eleitoral brasileiro apresenta variadas nuances e há muito se 
discute sobre a necessidade de mudanças no sistema político-eleitoral (SENADO 
FEDERAL, 2015, p. 29), a fim de que se possa garantir uma representação política 
que atenda às necessidades do eleitorado, bem como possa permitir a participação 
equitativa de homens e mulheres. 
Para Araújo (2009, p. 32), ao considerar que os sistemas eleitorais podem 
influenciar positiva ou negativamente nas chances de acesso, é de suma importância 
identificar como esses sistemas interferem em cada contexto, para assim viabilizar a 
adoção de determinadas políticas afirmativas. 
Nesse sentido, mudanças no sistema eleitoral possibilitariam, assim, a 
garantia de equidade na participação de homens e mulheres nos processos políticos-
eleitorais. Desse modo, se permitiria às mulheres mais acesso a cargos responsáveis 
pela tomada de decisões, o que, por sua vez, refletiria na desconstrução de barreiras 
estruturais e ideológicas que mantêm a mulher afastada da política. 
 
3.2 Instrumentos internacionais de direitos das mulheres: impactos sobre a 
criação de políticas públicas internas de inclusão feminina na política 
 
Com o intuito de reduzir as diferenças e em busca de uma política paritária, a 
ONU Mulheres, em parceria com diversos outros órgãos e entidades internacionais, 
além da sociedade civil, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, tem articulado 
estudos e campanhas de incentivo ao empoderamento, à liderança e à participação 
política feminina. 
Por meio de parcerias, a ONU Mulheres defende os compromissos 
internacionais assumidos pelos Estados-Membros da ONU com os direitos humanos 
das mulheres. Dentre os tratados, destaca-se a Convenção para a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher - CEDAW (1979), que foi 
considerada a carta de direitos humanos das mulheres, com força de lei no marco 
legal brasileiro, e a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (1995), a qual definiu 
36 
 
o conceito de gênero para a agenda internacional e um compromisso mínimo com os 
direitos humanos das mulheres. Ressalte-se o Brasil foi signatário de ambos os 
instrumentos, o que resultou na ampliação da política de cotas que, no ano de 1997, 
teve sua inclusão nas eleições gerais. 
Para tanto outro importante órgão pelo qual há a promoção de políticas 
públicas voltadas para a igualdade entre homens e mulheres, combate a todas as 
formas de preconceito e discriminação foi criado: a Secretaria de Políticas para as 
Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). Criada em 2003, hoje integra o 
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e atua com a finalidade de 
valorizar e incluir a mulher no processo de construção social, cultural, econômica e 
política do país. 
 
É essencial elaborar, implementar e monitorar a plena participação das 
mulheres em políticas e programas eficientes e eficazes de reforço mútuo 
com a perspectiva de gênero, inclusive políticas e programas de 
desenvolvimento em todos os níveis, que poderão fomentar o 
empoderamento e o avanço das mulheres; (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES 
UNIDAS, 1995, p. 153) 
 
Percebe-se que a SPM atua em consonância com os apontamentos da IV 
Conferência Mundial da Mulher, no que diz respeito a atuar em prol do 
empoderamento da mulher e promoção da igualdade, a fim de ampliar sua 
participação no processo decisório emtodos os campos sociais (ORGANIZAÇÃO 
DAS NAÇÕES UNIDAS, 1995, p. 153). 
Conforme dados obtidos da Plataforma Participa Mulher da Justiça Eleitoral, 
o projeto foi lançado em dezembro de 2019 pela então presidente do Tribunal Superior 
Eleitoral – TSE, Ministra Rosa Weber, e faz parte do conjunto de ações e campanhas 
de incentivo à participação da mulher na vida política. Visa-se à conscientização sobre 
a importância das candidaturas femininas. Essa é uma ação que integra o núcleo de 
atividades da Comissão Gestora de Política de Gênero, também denominada TSE 
Mulheres, instituída por meio da Portaria TSE n.º 791/2019. 
Na obra “Participa Mulher: Por uma Cidadania Feminina Plena: Homenagem 
à Ministra Cármen Lúcia”, promovida pelo Tribunal Superior Eleitoral, Julianna S. 
Sesconetto (2020, p. 29), trata do surgimento da Comissão em razão da solicitação 
feita pela Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos - 
OEA, que nas eleições de 2018 fez recomendações para que a Justiça Eleitoral 
atuasse em prol do aumento da participação das mulheres no cenário político. 
37 
 
A Procuradoria da Mulher na Câmara de Deputados Federais foi criada no 
ano de 2009, pelo então Deputado e Presidente da Casa Legislativa, Michel Temer, 
com o objetivo de promover uma participação mais efetiva das deputadas nos órgãos 
e nas atividades da Câmara, além de fiscalizar e acompanhar programas do Governo 
Federal, cooperar com organismos nacionais e internacionais, entre outras ações que 
visem a promoção dos direitos da mulher. 
As ações de inclusão feminina não se limitam a esses projetos. A exemplo, o 
Senado Federal, por meio da Procuradoria Especial da Mulher, tem desenvolvido 
campanhas permanentes em prol da participação feminina na política e no debate 
sobre questões de gênero. Tais campanhas possuem o objetivo de equalizar a 
representação entre homens e mulheres e dirimir as diferenças entre eles nos 
espaços de decisão do país, por meio da realização de ações de fiscalização, controle 
e incentivo dos direitos da mulher, por meio da promoção de campanhas e estudos 
que têm como objetivo a sondagem e identificação fatores que resultam na baixa 
representatividade das mulheres nos cargos eletivos no país. 
Dentre as entidades da sociedade civil que possuem projetos de incentivo a 
participação política de mulheres, destaca-se o Instituto Update. Esta organização 
estuda e fomenta pesquisas sobre inovação política na América Latina, debate de 
gênero e combate à desigualdade para o fortalecimento das democracias. Dentre os 
projetos desenvolvidos que vão ao encontro do objeto em estudo nesta pesquisa, está 
o Projeto Eleitas – mulheres na política, este se trata de um estudo e série audiovisual 
que aborda a atuação de mulheres latino-americanas em cargos eletivos a partir de 
suas histórias, desafios e trajetórias, para fortalecer a democracia e através do 
exercício do poder fazer uma nova política mais inclusiva e plural (INSTITUTO 
UPDATE, 2021, p. 04). 
 
3.3 Ações afirmativas como mecanismo de inserção de mulheres na política 
 
No âmbito eleitoral, as ações afirmativas de gênero funcionam como 
instrumento para garantir a maior participação de mulheres nos pleitos eleitorais e a 
ocupação de cargos eletivos. Dessa maneira, objetiva-se tornar a distribuição de 
gêneros nas casas legislativas, uma representação da população feminina no país. 
No caso do Brasil, em que a população feminina representa mais da metade do 
percentual de brasileiros, busca-se uma forma de sanar a questão da sub-
38 
 
representação de mulheres em espaços de decisão e poder (SENADO FEDERAL, 
2015, p. 29). 
Ao estudar a aplicação das políticas de implementação de ações afirmativas 
na América Latina, Lucía Martelotte (2016, p. 92) acentua que as ações afirmativas 
para os cargos eletivos se caracterizam como ferramentas que objetivam a correção 
do problema da sub-representação feminina nos parlamentos. 
 
São ferramentas de ação afirmativa2 centradas no poder Legislativo e cujo 
principal objetivo é corrigir a sub-representação feminina na arena política e 
assegurar o cumprimento efetivo dos direitos políticos das mulheres. 
Enquanto o movimento sufragista, surgido na segunda metade do século 19, 
lutou pelo direito das mulheres ao voto, as leis de cotas centraram-se na 
possibilidade de as mulheres serem eleitas, em outras palavras, de 
participarem como candidatas no processo eleitoral. 
(MARTELOTTE, 2016, p. 92) 
 
Pode-se pensar nas cotas de gênero na política como medidas afirmativas de 
reserva de espaços ou recursos para a promoção da eleição de mulheres, que visam 
sobretudo, a promoção da igualdade e da equidade. Para Martelotte (2016, p. 92), as 
legislações que tratam sobre cotas assumiram o papel de sanar a baixa participação 
política por parte das mulheres. 
Conforme levantamento acerca da implementação de política de cotas no 
mundo realizado pelo Senado Federal (2015, p. 30), foi possível identificar que o 
sistema de cotas pode ser instituído de duas formas, quais sejam, por previsão legal 
ou voluntariamente pelos partidos políticos. 
No primeiro caso, reservam-se vagas nas listas por determinação legal. 
Entretanto, essa determinação não garante que o grau de elegibilidade de mulheres 
seja correspondente ao percentual fixado em lei, de modo que o estudo conseguiu 
identificar que nos sistemas proporcionais de lista fechada ou pré-ordenada, haveria 
maior probabilidade de eleger mulheres, em razão da alternância de gênero (SENADO 
FEDERAL, 2015, p. 30 - 31). 
O segundo caso remonta à reserva voluntária de vagas em listas eleitorais 
pelos partidos quando não há legislação específica que determine política de cotas. 
Essa possibilidade também tende a ser mais usual em sistemas proporcionais de lista 
fechada por conta do sistema de alternância de gêneros (SENADO FEDERAL, 2015, 
p. 30). 
Ao partir de uma observação voltada para a legislação eleitoral de alguns 
países da América Latina, cujos históricos de evolução dos direitos políticos já foram 
39 
 
apresentados, quais sejam – Argentina, Chile, Bolívia, México e Colômbia – passar-
se-á à análise da aplicação das políticas de cotas por eles implementadas. 
A Argentina adotou o sistema proporcional de listas eleitorais partidárias 
fechadas com a obrigatoriamente de reserva de vagas para a candidatura de 
mulheres. Nesse sentido, o Código Eleitoral Nacional argentino, após alterações no 
ano de 2019, em seu art. 60-bis, aumentou a cota de representação feminina nas listas 
de candidatura, que antes era de 30% e passou a 50%4 (ARGENTINA, 2019, online). 
No Chile, a Lei n. 20.840 de 05 de maio de 2015, com o objetivo de substituir 
o sistema eleitoral binominal ⎯ criado para dificultar o surgimento de candidaturas 
independentes e garantir um empate entre as duas grandes coalizões de partidos 
chilenos ⎯ pelo sistema proporcional, bem como de fortalecer a representatividade 
no Congresso Nacional, promoveu uma reforma eleitoral e trouxe mudanças na 
composição das listas de candidaturas, de forma que nem os homens, nem as 
mulheres podem ultrapassar 60% do respectivo total de vagas nas listas5 (CHILE, 
2015, online). 
Na Bolívia, o instrumento legal responsável pela determinação de cotas é a 
Lei do Regime Eleitoral n. 026 de 2010, mais precisamente no artigo 11, que garantiu 
a equidade e a igualdade entre gêneros, obrigando os partidos a comporem as listas 
de forma paritária e observada a alternância entre gêneros (BOLÍVIA, 2010). O país 
adotou o bicameralismo e o sistema eleitoral misto de lista fechada (SENADO 
FEDERAL, 2015, p.34). 
Como anteriormente tratado, o México conta com uma das legislações 
eleitorais que mais promove equidade. A paridade no número de vagas nas listas de 
candidaturas foi conquistada com a promulgação da “Ley general de instituciones y 
procedimentos electorales” de 23 de maio de 2014.

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