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Prévia do material em texto

Fundamentos Teóricos e Práticos 
do Ensino de História
Autoras
Gisele Thiel Della Cruz
Daniela dos Santos Souza
2009
Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, 
mais informações www.iesde.com.br
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
S729 Souza, Daniela dos Santos; Cruz, Gisele Thiel Della. / Funda-
mentos Teóricos e Práticos do Ensino de História. / Daniela 
dos Santos Souza; Gisele Thiel Della Cruz. — Curitiba : IESDE
Brasil S.A. , 2009.
208 p.
ISBN: 978-85-387-0579-6
1. História – Estudo e ensino. I. Título. II. Cruz, Gisele Thiel 
Della.
CDU 372.48
Todos os direitos reservados.
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 
80730-200 • Curitiba • PR
www.iesde.com.br
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Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialis-
ta em Currículo e Prática Educativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de 
Janeiro (PUCRio). Graduada em História pela Fundação Universidade Federal do 
Rio Grande (FURG). Professora titular do Ensino Fundamental e Médio do Colégio 
Sion e de Ensino Superior do Instituto Superior de Educação Nossa Senhora do 
Sion (ISE – Sion). 
Daniela dos Santos Souza
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Gradu-
ada em História pela UFPR e em Letras Português-Inglês pela Pontifícia Universi-
dade Católica do Paraná (PUCPR). Possui experiência na área de Educação, com 
ênfase em Ensino-Aprendizagem. 
Gisele Thiel Della Cruz
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Sumário
O estudo das Ciências Humanas: História e Geografia .....13
Por que estudar História e Geografia 
na Educação Infantil e nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental? .................. 13
Como tudo começou: 
novas perspectivas do ensino da História e da Geografia .......................................... 14
Proposta da disciplina ............................................................................................................. 18
História para a Educação Infantil: parte 1 ........................ 21
O conceito de infância construído historicamente ....................................................... 21
A creche e a pré-escola numa perspectiva sociocultural ........................................... 24
As propostas do RCNEI: conhecimento de mundo ....................................................... 25
O que oferecer para a criança – como apresentar-lhe o mundo ............................. 26
História para a Educação Infantil: parte 2 ........................ 31
Propostas do RCNEI para a Educação Infantil – 
Tema: Natureza e Sociedade ................................................................................................. 31
A História em sala de aula: dinamizando conceitos ..................................................... 32
Como podem ser trabalhados 
os conteúdos com crianças de quatro a seis anos ........................................................ 33
Aceitar valores diferentes dos nossos ................................................................................ 34
Brincando com a História ....................................................................................................... 35
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O estudo da História 
no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – 
Conceitos fundamentais: o fato histórico ........................ 39
O estudo da História: o tempo e o fato histórico ........................................................... 39
Por que se estudava uma História factual? ...................................................................... 41
Longe de uma História apenas de fatos ........................................................................... 42
Mexendo com os fatos ............................................................................................................ 43
A compreensão do fato por meio da imagem ................................................................ 44
O estudo da História 
no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – 
Conceitos fundamentais: o sujeito histórico .................. 49
Definições sobre o sujeito histórico ................................................................................... 50
A historiografia e o sujeito histórico ................................................................................... 50
Como trabalhar o sujeito histórico 
no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental ........................................................................ 52
O sujeito histórico e a noção de participação na História .......................................... 53
O estudo da História 
no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – 
Conceitos fundamentais: o tempo histórico .................. 59
Conceito de tempo ................................................................................................................... 60
Discussões sobre as propostas dos PCN e o estudo do tempo histórico .............. 62
Como dinamizar o estudo do tempo em sala de aula – 
propostas didáticas e trabalho com fontes ..................................................................... 64
Tempo histórico e valores permanentes ........................................................................... 67
Avaliar o trabalho desenvolvido .......................................................................................... 68
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A História e as propostas dos Temas Transversais: 
História e cidadania, eixo de trabalho .............................. 73
As propostas dos PCN: os Temas Transversais e a cidadania ..................................... 74
Cidadania e História: formando cidadãos ........................................................................ 75
Uma perspectiva de transversalidade/interdisciplinaridade: 
a comunicação da História com outras disciplinas ....................................................... 76
A seleção de conteúdos e fontes 
e a importância do conhecimento histórico .................. 81
Conteúdos para trabalhar com História no 1.° e 2.° ciclos .......................................... 81
O uso das fontes: onde procurar respostas? .................................................................... 83
Trabalho com fontes historiográficas em sala de aula ................................................. 84
A importância do conhecimento histórico ...................................................................... 85
A compreensão do fenômeno “tempo” ........................ 89
Introdução ao tema .................................................................................................................. 89
Para quem? .................................................................................................................................. 89
Proposta de trabalho ............................................................................................................... 90
Observando a Lua .................................................................... 99
Introdução ao tema .................................................................................................................. 99
Para quem? ................................................................................................................................100
Proposta de trabalho .............................................................................................................100Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, 
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Meu pai e minha mãe já foram crianças? ......................109
Introdução ao tema ................................................................................................................109
Para quem? ................................................................................................................................110
Proposta de trabalho .............................................................................................................110
A criança tem história ...........................................................119
Introdução ao tema ................................................................................................................119
Para quem? ................................................................................................................................120
Proposta de trabalho .............................................................................................................120
A história da criança no contexto social ........................131
Introdução ao tema ................................................................................................................131
Para quem? ................................................................................................................................132
Proposta de trabalho .............................................................................................................132
A diversidade cultural ...........................................................139
Introdução ao tema ................................................................................................................139
Para quem? ................................................................................................................................141
Proposta de trabalho .............................................................................................................141
Memória e identidade ..........................................................151
Introdução ao tema ................................................................................................................151
Para quem? ................................................................................................................................152
Proposta de trabalho .............................................................................................................152
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O nascimento da humanidade ..........................................161
Introdução ao tema ................................................................................................................161
Para quem? ................................................................................................................................163
Proposta de trabalho .............................................................................................................163
Os calendários .........................................................................175
Introdução ao tema ................................................................................................................175
Para quem? ................................................................................................................................176
Proposta de trabalho .............................................................................................................176
Discutindo os fatos históricos ............................................187
Introdução ao tema ................................................................................................................187
Para quem? ................................................................................................................................188
Proposta de trabalho .............................................................................................................189
Referências ................................................................................201
Anotações .................................................................................207
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Apresentação
Esta disciplina vem oferecer o estudo da História sob dois aspectos dife-
renciados. O primeiro é a base teórica-conceitual que sustenta o ensino de Histó-
ria nas escolas do Ensino Fundamental, e o segundo trata das práticas educativas 
que devem contribuir como instrumento de reflexão para os professores, a partir 
de propostas de trabalho sobre temas fundamentais desta matéria.
Na base teórico-conceitual serão abordados temas como a importância de 
estudar História e Geografia na Educação Infantil, apontando sua contribuição 
social na formação do cidadão, mostrando que os alunos precisam perceber que 
a relação entre a formação e a organização das sociedades humanas e o funcio-
namento da natureza são inseparáveis. 
Destaca ainda, aspectos importantes do Referencial Curricular Nacional 
para Educação Infantil (RCNEI), sugerindo atividades de como trabalhar os temas 
como a natureza e a sociedade com crianças de quatro a seis anos, o estudo da 
História nos quatro primeiros ciclos do Ensino Fundamental, destacando os con-
ceitos de tempo, fatos históricos e como essas dimensões são contempladas no 
currículo, como eram abordados e quais aspectos eram privilegiados no ensino 
de História nos séculos XIX e XX. 
Discute ainda as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) 
com relação ao estudo do conceito de História, nas Séries Iniciais, apontando pro-
postas didáticas e o trabalho como fontes para o estudo do tempo histórico.
No segundo aspecto de estudos da História, o objetivo é gerar novas prá-
ticas escolares por parte de cada professor comprometido com a educação no 
nosso país. Sendo assim, serão abordados temas como: a necessidade das crian-
ças aprenderem sobre a organização do tempo natural, com isso organizando 
suas vidas dentro desse tempo; a diversidade cultural, que está presente na vida 
de todos; a noção da existência de diversos grupos sociais, que são diferentes por 
motivos variados, como estarem em diferentes espaços geográficos, serem orga-
nizados em épocas diferentes, possuírem diferentes idéias e tecnologias etc. 
É importante, ainda, que as crianças saibam como os povos foram orga-
nizados em diferentes tempos e espaços, por isso devem estudar sobre o sur-
gimento da humanidade e o estudo do calendário que mostra como os povos 
espalhados no planeta percebiam a relação que a mudança do tempo exercia 
sobre a natureza. 
Os fatos históricos estudados nas aulas de História mostram que o aluno 
deve ser um indivíduo questionador e crítico, deixando de ser apenas espectador, 
desenvolvendo nos alunos a capacidade criativa para que percebam e questionem 
como ocorreu a construção destes fatos e por que eles ficam marcados na História.
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Gisele Thiel Della Cruz
O meu olhar é nítido como um girassol, 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de vez em quando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 
Sei ter o pasmo essencial 
Que tem a criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do mundo.Fernando Pessoa
Por que estudar História e Geografia 
na Educação Infantil e nos primeiros 
ciclos do Ensino Fundamental?
Estudar a História e a Geografia na Educação Infantil e no Ensino Fun-
damental resulta em uma grande contribuição social. O ensino da História 
e da Geografia pode dar ao aluno subsídios para que ele compreenda, 
de forma mais ampla, a realidade na qual está inserido e nela interfira de 
maneira consciente e propositiva.
Hoje, a compreensão do espaço geográfico é indissociável da história 
humana. O espaço geográfico é produzido pelo homem, historicamente, à 
medida que ele se organiza econômica e socialmente em sua sociedade e 
necessita do que o espaço tem para lhe fornecer. Indiscutivelmente, essa 
perspectiva de historicidade colocou o homem como construtor do espaço 
O estudo das Ciências 
Humanas: História e Geografia
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
geográfico e, ao mesmo tempo, revelou os comportamentos e os valores huma-
nos, à medida que ele foi se apropriando desse espaço de diferentes formas.
Para que o aluno perceba os dados elementares de seu dia-a-dia, desde as 
relações que se estabelecem na cidade até a paisagem que se revela nas diferen-
tes imagens do seu cotidiano, todos esses dados atravessam o crivo dos conhe-
cimentos históricos e geográficos.
As escolhas na maneira de ensinar a História e a Geografia são provenientes, 
não só de mudanças na produção historiográfica, ou das abordagens científi-
cas da Geografia dentro dos circuitos acadêmicos. Essa nova visão também tem 
relação com as novas proposições de ensino, com a caminhada que o proces-
so educativo tem estabelecido, tendo como vertente de suas preocupações as 
questões da identidade e da cidadania.
Portanto, o objetivo mais relevante no ensino da História é a noção de identi-
dade, vinculada à reflexão sobre cidadania. Por isso, os estudos históricos devem 
abranger três aspectos: identidade social a partir da relação entre o particular e 
o geral (cultura e localidade), noções de diferença e semelhança – o eu e a per-
cepção do outro – e, finalmente, noções de continuidade e permanência. São 
relevantes para essa compreensão o desenvolvimento de três conceitos básicos 
para a construção da História: fato, sujeito e tempo históricos.
Da mesma forma, o ensino da Geografia deve encaminhar o aluno para a 
compreensão da formação das sociedades humanas e sua relação com o espaço 
geográfico, desenvolvendo as noções básicas de paisagem, território e lugar. 
A partir desses estudos, o professor terá material suficiente para criar inda-
gações, momentos de reflexão e de posicionamento dos seus alunos quanto às 
questões pertinentes sobre a identidade e a cidadania.
Como tudo começou: novas perspectivas 
do ensino da História e da Geografia
O caminho da História: das universidades à sala de aula
Em meados do século XIX, a história da civilização substitui a antiga história 
sagrada; no entanto, assimila alguns de seus traços. A ordem dos acontecimentos 
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O estudo das Ciências Humanas: História e Geografia
15
era articulada com uma sucessão de reis e de lutas, bem como de grandes even-
tos. No caso do Brasil, eventos como a Independência ou mesmo a Constituição 
do Estado-nacional. Com o advento da República e a tentativa de laicização da 
educação, criou-se uma escola capaz de instruir, transmitir valores patrióticos e 
espírito cívico, e isso se deveu principalmente à preocupação com o universo de 
imigrantes que aportavam no país. 
Esse modelo permaneceu inalterado, mesmo com algumas reformas instituí-
das pelos primeiros governos republicanos. A situação da escola pública pouco 
mudou e, da mesma maneira, pouco se viu alterações curriculares.
Nas décadas de 1960 e 1970, sob o domínio militar, mais ainda a História 
passa a ser uma disciplina significativa, alicerçada na “dobradinha” História e Ge-
ografia, conhecida como Estudos Sociais. Vê-se crescer o espírito nacionalista e 
o desenvolvimento das idéias cívicas de caráter moralizante. 
Acalentada pela possibilidade de voltar a ser uma disciplina e ter novamente 
um papel mais definido na formação da cidadania, ainda na década de 1970, a 
História tradicional passa a sofrer contestações. Tem-se um novo projeto, não 
só de fazer História, mas de ensinar História: o olhar da história sobre o sujeito 
histórico, sobre o papel que todos os homens desempenham na formulação da 
história. O pensamento marxista é a espinha dorsal desse processo de constru-
ção de uma história mais politizada e crítica. Introduziu-se a chamada História 
Crítica, com o objetivo de desenvolver atitudes de compreensão da realidade e 
de capacitação para a cidadania.
Dessa forma, os currículos foram modificados e ampliados e a História passou 
a ser ensinada nas escolas, desde a Educação Infantil até os primeiros anos do 
Ensino Fundamental. Hoje, o enfoque e as análises historiográficas se dispõem 
a discutir a micro-história, a história das mentalidades, a história dos excluídos e 
marginalizados, ampliando a rede dos sujeitos históricos e da compreensão de 
que diferentes indivíduos são responsáveis pela sua construção.
O caminho da Geografia: 
das universidades à sala de aula
A produção do pensamento geográfico no Brasil teve sua fundação na facul-
dade de Filosofia da Universidade de São Paulo, na década de 1940, a partir da 
disciplina de Geografia. Essa Geografia tinha como característica uma produção 
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
de caráter objetivo e quantitativo, fundamentada no modelo francês. A partir 
dessa tendência, nasceram inúmeras correntes cuja característica era estudar 
o espaço geográfico em sua relação com o homem sem, no entanto, levar em 
consideração as relações sociais. Esse tipo de Geografia ficou conhecido como 
Geografia Tradicional.
Essa Geografia, essencialmente descritiva da paisagem natural e humaniza-
da, ainda existe em alguns lugares do país. Esse tipo de Geografia estava em-
basado em uma perspectiva neutra, cujos objetivos eram a memorização e as 
generalizações. Essa influência prevaleceu sobre os livros didáticos até a metade 
da década de 1970.
A partir da década de 1960, sob a influência das teorias marxistas, surge uma 
tendência cuja particularidade era a crítica da Geografia Tradicional. Absoluta-
mente todas as relações que eram estabelecidas e próprias do homem eram jus-
tificadas e compreendidas por meio do viés marxista, num processo quase que 
militante da disci plina. Não bastava explicar o mundo; era preciso transformá-lo. 
Para tanto, a Geografia lançou mão de conteúdos políticos, voltados para a for-
mação do cidadão.
Tanto o modelo da Geografia Tradicional quanto da Geografia marxista orto-
doxa “negligenciaram a relação do homem e da sociedade com a natureza em 
sua dimensão sensível de percepção do mundo” (PCN, v. 5, p.105). A Geografia 
das últimas duas décadas do século XX, apresenta como características o estudo 
das dimensões subjetivas e singulares das relações entre homem e natureza.
Observa-se que a Geografia tem pautado suas discussões em conexão com 
outras áreas do saber como a Antropologia, a Sociologia e a Biologia, levan-
do para a sala de aula essa pluralidade de discussão e de interferências. Hoje, 
o centro de estudo da Geografia é, sem dúvida, uma Geografia humanizada e 
potencial mente historicizada.
Trabalho integrado: um exemplo
Observe a figura a seguir:
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O estudo das Ciências Humanas: História e Geografia
17
PC
N
, v
. 5
. p
. 1
52
.
Ao visualizaro mapa, podemos identificar que a aluna foi extremamente feliz 
em apresentar, de acordo com a sua visão, os diferentes estados do Brasil. No en-
tanto, mais do que isso, compõem essa ilustração noções de cartografia, estudo 
da paisagem a partir de imagens de seu cotidiano, estudo da natureza e das re-
lações campo-cidade. Se o professor quiser ir mais longe, ele pode desenvolver 
uma reflexão, a partir desse desenho, sobre as identidades e cultura regionais, a 
composição popu lacional e outros elementos, tendo como referência o desen-
volvimento histórico do país.
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18
Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
Proposta da disciplina
O que se propõe a partir dessa disciplina é que você elabore uma nova com-
preensão a respeito das disciplinas de História e de Geografia. Que tenha sub-
sídios suficientes para discutir e trabalhar, em sala de aula, conceitos que são 
fundamentais para ambas as áreas do conhecimento, e que disponha de um 
material interessante em termos de sugestões de atividades para serem desen-
volvidas junto aos seus alunos.
Atividades
1. De que maneira o estudo da História e da Geografia podem contribuir para 
uma consciência mais crítica e comprometida com a sociedade?
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O estudo das Ciências Humanas: História e Geografia
19
2. A forma como a História e a Geografia são estudadas hoje, proposta pelos 
PCN, mudou muito em relação ao tempo que você fez o Ensino Fundamen-
tal? De acordo com o texto, quando essas mudanças se estabeleceram?
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Gisele Thiel Della Cruz
Os pais não se contentavam mais em pôr filhos 
no mundo, em estabelecer apenas alguns deles, 
desinteressando-se dos outros. A moral da época 
lhes impunha proporcionar a todos os filhos, e não, 
apenas ao mais velho – e, no fim do século XVII, 
até mesmo às meninas – uma preparação para a 
vida. Ficou convencionado que essa preparação 
fosse assegurada pela escola.
Philippe Ariès
O conceito de infância 
construído historicamente
A idéia de infância e de sua importância social foi registrada por Philippe 
Ariès em um clássico da historiografia contemporânea da história da famí-
lia, denominado História Social da Criança e da Família (1973). Tendo a crian-
ça e a família como objetos, o autor passa da interpretação da sociabilidade 
tradicional à compreensão das modernas sociedades industrializadas. Em 
seu livro, procura traçar paralelos entre a visão que se tinha da criança na 
Idade Média e as mudanças que aconteceram no início dos tempos mo-
dernos. Naquela época, bastava a criança desmamar que já era introduzida 
no mundo dos adultos. Prova disso está nas diversas vezes em que o autor 
se reporta à iconografia para apresentar a imagem da criança medieval, 
geralmente vestida ou mesmo desenhada como se fosse um adulto, com 
características absolutamente distintas do comportamento ou tratamento 
que damos à criança hoje. Ariès mostra que, inicialmente, o traje das crian-
ças se confundia com a vestimenta dos adultos (ARIÈS, 1981, p. 71).
Da mesma forma, Ariès nos mostra um desenvolvimento da noção 
de escola, bem como de sua responsabilidade, admitida na formação da 
História para a 
Educação Infantil: parte 1
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22
Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
criança e do jovem, principalmente a partir do século XIX, quando as concepções 
de criança e a preocupação com a sua formação começaram a ser assunto de 
discussão social. O interessante na contribuição de Ariès é justamente fazer um 
retrospecto sobre a escola dos séculos XV ao XVIII e as mudanças estabelecidas 
após esse período, no que se refere, por exemplo, à formação das classes e à sepa-
ração dos alunos por grau de conhecimentos e não por idade. A partir do século 
XIX, começou a se estabelecer uma maior relação entre idade e classe, quase que 
se tornando uma exigência manter esse tipo de classificação, justamente por 
essas diferenças e pela própria preocupação com a formação da criança. 
Tratava-se, agora, de despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua 
dignidade. A criança era menos oposta ao adulto (embora se distinguisse bastante dele na 
prática) do que preparada para a vida adulta. Essa preparação não se fazia de uma só vez 
brutalmente. Exigia cuidados e etapas, uma formação. Esta foi a nova concepção da educação, 
que triunfaria no século XIX. (ARIÈS, 1981, p. 182)
Fotografia de crianças.
(A
RI
ÈS
; C
H
A
RT
IE
R,
19
91
, p
. 5
21
)
Não é à toa que no século XIX a preocupação com a educação e com a for-
mação das crianças e dos jovens se tornou a tônica do momento. O início dessa 
preocupação com o estabelecimento da classe escolar e com a concepção de 
criança na modernidade surge em paralelo com a noção de família moderna e 
com a predominância de valores burgueses.
A partir do século XIX, muitos foram os pensadores e educadores que procu-
raram reconstruir ou apresentar novos fundamentos para a educação. Essa plura-
lidade de concepções é desenvolvida por Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Decroly 
Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, 
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História para a Educação Infantil: parte 1
23
e Montessori, cada um apontando, dentro de dinâmicas diversas, o seu interesse 
pelo estudo da criança e de sua relação com a aprendizagem. É importante que 
compreendamos que essas definições estiveram sempre atreladas a fatores que 
extrapolam o ambiente escolar e que dizem respeito a fatores históricos – cul-
turais e sociais. Por isso, são carregados de significação que, às vezes, parecem 
distantes de nossa realidade. O que importa saber é que esses educadores de-
finiram como importante, para a aquisição do conhecimento pela criança, que 
essa estivesse inteirada de seu meio social e que passasse a adquirir hábitos e 
atitudes armazenados pelos homens no decorrer da história.
Com Rousseau, nascem as primeiras concepções sobre as diferentes fases da 
vida humana. Partindo dessa abordagem, Froebel, seguidor de Pestalozzi1, passa 
a dedicar seus estudos à primeira fase da vida humana: a infância. Ele irá fundar 
inúmeros jardins de infância. De acordo com FROEBEL, “o indivíduo (...) é uma 
unidade, quando considerado em si mesmo, mas mantém relações com um todo 
maior, isto é, incorpora-se a outros homens para a consecução de certos objetos” 
(NICOLAU, 2000, p. 31). Para ele, o homem é uma unidade quando pensado em 
relação a si mesmo. Da mesma forma, ele faz parte de uma dimensão maior, à 
medida que integra o Universo e mantém relações com outros homens. Sua teoria 
aponta para a idéia de unidade. Froebel acreditava na atividade e na liberdade. 
Outros dois pensadores importantes do século XIX, Decroly e Montessori, 
priorizaram a integração com o outro, o respeito à individualidade e à liberdade 
como tema de discussão para as questões da educação. Tanto Ovide Decroly 
quanto Maria Montessori desenvolveram seus trabalhos a partir das análises e 
estudos com crianças “normais”. No caso, os exercícios desenvolvidos por eles 
foram estendidos a métodos educativos com crianças “normais”.
Decroly participou do movimento de transição da Escola Tradicional para 
uma escola renovada (Escola Nova na Europa). Para isso, Decroly desenvolveu os 
chamados “centros de interesse”, onde a criança desenvolvia suas aptidões, no 
sentido de permitir o seu crescimento a partir dos seus interesses, associando 
conteúdo com suas necessidades naturais.Para ele, a educação se dá em todos 
os espaços: a criança aprende no museu, no jardim, em casa.
Por sua vez, Maria Montessori, por meio de sua experiência com crianças “anor-
mais”, vai desenvolver um método educacional ligado a exercícios que têm como 
característica o desenvolvimento das atividades sensoriais e motoras, visando 
principalmente o atendimento à educação pré-escolar. Absolutamente tudo que 
1 Para João Pestalozzi, a educação podia modificar e influen ciar os homens. Leitor de Rousseau, foi influenciado por inúmeras de suas concepções. 
Acreditava em uma educação sem coer ção, recompensas ou punições. Obras: Leonardo e Gertrudes (1782) e Minhas Investigações sobre o Curso da 
Natureza no Desenvolvimento da Raça Humana (1792).
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
está no entorno da criança é desenvolvido para que ela tenha uma visão mais 
ampla do mundo. O material com que ela trabalha, o ambiente escolar, as cartei-
ras, os materiais coloridos, as peças cilíndricas, tudo vem a colaborar para a des-
coberta do aluno, para que desperte seu interesse. Numa classe montessoriana, 
a organização e o silêncio são fundamentais. O aluno precisa do silêncio para se 
desenvolver e ter espaço suficiente para ver desabrochar a imaginação.
No século XX, duas grandes contribuições colocam novos alicerces para se 
pensar a educação. Definitivamente, a criança é um ser dinâmico que interage 
com a realidade. Destacam-se nesse século Piaget e Freinet. A liberdade e a au-
tonomia da criança são pressupostos teóricos de ambos. Para tanto, de acordo 
com Piaget, é preciso haver um respeito ao desenvolvimento da criança, uma 
vez que ela passa por etapas distintas para o desenvolvimento intelectual, fases 
essas de assimilação e de acomodação. Para ele, a criança interage socialmente 
a partir da sua experiência com o outro.
Quando Freinet propõe os passeios livres (aulas-passeio), a criança descobre 
o mundo por meio do seu olhar, de sua observação. O conhecimento seria cons-
truído por meio da retomada do que era vivenciado no passeio.
Observamos que as noções sobre a criança e sobre a educação sofreram mo-
dificações ao longo de inúmeras fases. O processo de ensino se transformou no 
decorrer do tempo. As concepções sobre criança e educação são noções histó-
ricas, porque estão diretamente relacionadas às mudanças sócio-político-cultu-
rais de cada época. Dessa forma, é impossível pensarmos em uma caminhada 
sobre os diferentes tratamentos dados à criança na pré-escola ou em creches, 
sem antes termos visitado essas modificações que ocorreram na própria noção 
de infância. Por quê? Justamente porque a forma como vamos trabalhar com as 
crianças e as prioridades que temos hoje, em termos educacionais, são frutos de 
conquistas e de mudanças.
A creche e a pré-escola 
numa perspectiva sociocultural
Ao serem abordados os trabalhos de Piaget2 e Vygotsky pode-se observar que 
o cerne da discussão de ambos está justamente na produção do conhecimento 
pela criança. Para Piaget, a construção do conhecimento está em sua interação 
com o meio, não importando que características tenha esse meio. Ao apresentar 
2 PIAGET e lNHELDER, B. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993. VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvol-
vimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
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História para a Educação Infantil: parte 1
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os tipos de interação social, ele aponta para as de coação e de interação (a primei-
ra no nível da imposição e a segunda estabelecendo trocas, geralmente prazero-
sas). De acordo com os críticos da teoria piagetiana, ele não apresenta nenhuma 
preocupação com os fatores sociais e tampouco se preocupa em descrever os 
diferentes contextos em que a criança se insere, e as diferenças significativas no 
desenvolvimento das capacidades cognitivas. Diferentemente, Vygotsky traz à 
luz uma abordagem que necessariamente passa pelo viés do social e cultural.
O autor parte do princípio de que todos os indivíduos são necessariamente 
constituídos dentro do meio social, permeados pela cultura e, portanto, seres 
sociais. O universo de sistemas simbólicos oferecidos pela cultura é, justamente, 
o universo de descobertas da criança. O homem se constitui e se forma na inte-
ração com o outro. Um outro que compartilha com ele de um mesmo contex-
to, um outro social. Repensar a Educação Infantil é repensar essas perspectivas 
sobre a educação e ter uma perspectiva maior acerca desse novo olhar sobre a 
infância e o conhecimento.
Dessa forma, é possível pensarmos que é fundamental considerar os aspectos 
culturais e sociais dentro do processo de desenvolvimento da criança e de sua 
formação. O meio em que a criança vive é carregado de significados, de história 
e de cultura. A aprendizagem da criança passa necessariamente pela noção que 
ela vai conceber sobre o meio onde ela vive.
É desde pequenos, a partir da apresentação desse universo, que estamos for-
mando pessoas. É nesse momento que se estabelece a noção de identidade e 
de autonomia. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação 
Infantil (RCNEI), “a construção da identidade e da autonomia diz respeito ao co-
nhecimento, desenvolvimento e uso dos recursos pessoais para fazer frente às 
situações da vida” (BRASIL, 1998, p. 13). É por isso que as creches e as pré-escolas 
assumiram um papel importante dentro da educação. Por isso, também é impor-
tante que a criança passe a reconhecer a si e ao outro por meio da construção de 
sua perspectiva de história e cultura, a partir da interação com outras crianças, 
com outras pessoas e com o mundo ao seu redor.
As propostas do RCNEI: conhecimento de mundo
O RCNEI, no âmbito do conhecimento de mundo, sugere que inúmeros con-
teúdos e atividades sejam desenvolvidos cotidianamente com a criança. Algu-
mas dessas propostas, inclusive, já foram desenvolvidas por muitos professores 
em sala de aula. A partir de uma seleção cultural para o currículo, nessa etapa 
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
do desenvolvimento do conhecimento infantil, foram levados em consideração 
aspectos de compreensão da realidade natural, social e cultural. O RCNEI propõe 
para tanto uma divisão de trabalho em seis eixos: Movimento, Artes Visuais, 
Música, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, e Matemática.
Dentro do eixo Natureza e Sociedade, enquadram-se os temas relacionados 
ao mundo social e natural, às áreas do conhecimento das Ciências Humanas e 
Bio lógicas ou Naturais. O Referencial propõe que se extrapole antigas atividades 
desenvolvidas nessas áreas, como, por exemplo, comemorações de datas cívicas, 
atividades voltadas para o calendário ou de cópia e repetição. Sua abordagem 
deve dar conta de apresentar diferentes formas de representação e explicação 
do mundo social e natural, aproximando e estabelecendo relações entre essas 
formas de conhecimento. Para crianças de 0 a 3 anos de idade, o Referencial não 
estipula conteúdos, indica explorar o cotidiano da criança. Para crianças de 4 a 6 
anos, os conteúdos foram organizados em cinco blocos:
organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar; �
os lugares e as paisagens; �
objetos e processos de transformação; �
os seres vivos; �
fenômenos da natureza. �
Em cada um dos blocos de conteúdo apresentados, é possível desenvolver 
inúmeras abordagens socioculturais com as crianças, partindo de um referencial 
histórico. A referência sobre a história da localidade, ou mesmo a relação do ser 
humano com a natureza, não só em sua comunidade como em outras épocas e 
civilizações, trarápara a criança bases sobre a vida social, a relação do homem 
com ele mesmo e com o meio ambiente. Esses dados são fundamentais para que 
a crian ça passe a identificar comportamentos no grupo, a observar o diferente, a 
entender as diferenças e as semelhanças e a construir a sua identidade.
O que oferecer para a criança – 
como apresentar-lhe o mundo
Que tipo de mundo construímos e que tipo de mundo queremos mostrar 
para as crianças? A História é um pouco disso. Fruto de nossos dissabores, de 
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História para a Educação Infantil: parte 1
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nossas perdas e também de nossas vitórias. O que temos aí, no dia-a-dia, é o re-
sultado de séculos sendo amalgamados em guerras, em misérias e esperanças, 
em opressão e solidariedade. Esse mundo das diferenças e da exclusão, do crime 
contra a vida e contra a ética está à volta. É esse mundo que deve ser mostrado 
para as crianças. Como colocar as crianças a par de tudo isso?
A escola é o lugar privilegiado não só para desvendar e apresentar esse coti-
diano, mas também é o lugar de promover uma educação crítica. A formação de 
novos cidadãos está justamente na forma como revemos o passado e o repensa-
mos. A cultura da destruição e da desumanização, em que coleguinhas de aula 
passam fome, ou moram em péssimas condições, pode ser redefinida.
A discussão sobre ética, solidariedade e o respeito ao outro depende de 
educar a favor desses valores. Depende de recuperar, pela formação da História, 
imagens que não queremos fazer. Nesse sentido, é possível gerar um sentido de 
solidariedade, de pertença, de reconhecimento e acolhimento das diferenças. 
Por isso, é impossível dissociar cultura, história e educação.
Atividades
1. Quais as mudanças ocorridas na concepção de infância, de acordo com Phi-
lippe Ariès, entre a Idade Média e a Modernidade?
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
2. Quais as principais contribuições dos educadores do século XIX para a nova 
abordagem, com relação ao papel da educação e o conceito de criança?
3. Como podemos pensar o papel da pré-escola e das creches hoje? Quais gru-
pos sociais são mais privilegiados em poder usufruir desse recurso para a 
educação de seus filhos?
4. Quais as novidades trazidas para o campo da educação a partir das teorias 
de Vygotsky?
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História para a Educação Infantil: parte 1
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5. Que aspectos da história o RCNEI apresenta como importantes para serem 
trabalhados com a criança na fase pré-escolar?
6. Quais as relações que você pode estabelecer entre os estudos socioculturais 
propostos pelos RCNEI e o estudo da História na Educação Infantil?
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Gisele Thiel Della Cruz
Visando à preservação de uma boa qualidade de vida, 
as crianças precisam penetrar, gradativamente e 
de acordo com as suas possibilidades, no mundo das 
relações humanas onde o trabalho, a interdependência 
social e a preservação ambiental são aspectos fundamentais.
Marieta Lúcia Machado Nicolau
Propostas do RCNEI para a Educação 
Infantil – Tema: Natureza e Sociedade
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação In-
fantil (RCNEI), a educação da criança deve ser trabalhada sob dois âmbi-
tos, isto é, formação pessoal e social e conhecimento de mundo. Dentro 
dessa proposta, buscou-se contemplar na Educação Infantil, a dimensão 
própria do desenvolvimento da infância e o conhecimento de diferentes 
linguagens e da realidade social e cultural da criança.
Nessa perspectiva e a partir dessa proposta, no âmbito do conheci-
mento de mundo, o RCNEI propôs o seu estudo em seis eixos: Movimento, 
Artes Visuais, Música, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, e 
Matemática. O que nos interessa desenvolver aqui são as sugestões apon-
tadas para trabalhar o eixo Natureza e Sociedade.
Dentre as indicações gerais, está a correspondência para o desenvolvi-
mento de questões a partir da integração de áreas do conhecimento, no 
caso, Ciências Humanas e Biológicas ou Naturais. Dessa maneira, preten-
de-se que a criança perceba e relacione com maior facilidade questões e 
definições sobre o mundo que a rodeia. A proposta funciona por meio do 
desenvolvimento dos conteúdos de forma congregada. Assim, ao traba-
lhar determinado conteúdo, o professor fará análises ou referências sobre 
História para a 
Educação Infantil: parte 2
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
um mesmo objeto de estudo utilizando diferentes pontos de vista, sejam eles 
de caráter histórico ou biológico-natural. As atividades que serão desenvolvidas 
têm como finalidade transmitir algumas noções relacionadas aos seres vivos, 
à natureza e ao homem como elemento que pertence, usufrui e interage com 
essas categorias, dentro de um espaço e período de tempo.
Para tanto, o RCNEI propõe o desenvolvimento de blocos de conteúdo:
Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar. �
Os lugares e as paisagens. �
Objetos e processos de transformação. �
Os seres vivos. �
Fenômenos da natureza. �
O primeiro item, por exemplo, “Organização dos grupos e seu modo de ser, 
viver e trabalhar”, pode ser desenvolvido a partir do que a criança estabelece 
como relação dentro e fora da escola. É possível trazer a criança ao convívio 
da comunidade, no seu entorno, ou levá-la a conhecer o diferente. Passeio ao 
museu, exibição de vídeos ou manifestações culturais de outros povos.
O item três, objetos e processos de transformação, é bastante interessante, 
visto que revela a relação do ser humano com plantas e animais. Trabalhar o 
processo de transformação da natureza e a produção de diferentes objetos é 
muito bem-vindo. Como pode ser feito isso? É possível trabalhar desde a com-
paração com o que foi produzido pelo homem em diferentes comunidades/so-
ciedades ao longo do tempo até com o que a nossa civilização produz. Observar 
máquinas, brinquedos, meios de comunicação ou objetos de uso da criança, por 
exemplo, o lápis.
A História em sala de aula: 
dinamizando conceitos
Os conceitos fundamentais para o estudo da História (fato histórico, sujeito 
histórico e tempo histórico) podem ser trabalhados em sala de aula a partir de 
atividades cotidianas. A leitura ou a dinâmica de histórias em sala podem ser 
executadas do ponto de vista do fato histórico; uma reflexão sobre as atividades 
cotidianas da criança em casa ou na escola é o suporte para uma avaliação sobre 
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História para a Educação Infantil: parte 2
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o tempo, o tempo histórico e, finalmente, uma observação e avaliação sobre as 
ações cotidianas identificam o sujeito histórico, não só o sujeito histórico de ações 
acontecidas em um passado distante, mas um sujeito histórico identificável nas 
ações de um grupo dentro da comunidade local, em atividades desenvolvidas 
pela classe escolar, em trabalhos e ações do aluno e seus pares.
Como podem ser trabalhados os 
conteúdos com crianças de quatro a seis anos
Uma das formas de trabalhar com a criança é estimulando-a com operações 
mentais, desafiando a criança a pensar por meio da proposta de atividades insti-
gantes. Cabe à Educação Infantil provocar na criança o desejo de conhecer o 
 mundo e o conhecer-se a si mesma e aos outros.
Quando o professor conta à criança uma históriae ela passa a interpretar as 
ações dos personagens, fazendo comentários e leituras próprias, está sendo tra-
balhada a sua capacidade de interpretação da realidade. Por isso, é interessan-
te, ao contar uma história, narrando qualquer fato histórico, que o professor dê 
pausas e faça a criança se perguntar coisas sobre a história em questão. A partir 
das respostas, o professor pode orientá-los e refletir com eles sobre suas respos-
tas e sobre os desdobramentos de tal fato histórico.
As atividades cotidianas da criança são um bom suporte para que ela enten-
da a dinâmica do tempo. Também a partir dessas atividades, é possível que o 
aluno assimile a idéia de cultura, algo que se constrói a partir de hábitos, valores 
e tradições de seus familiares. Tempo e cultura podem ser observados com ati-
vidades lúdicas bastante simples. Partindo das necessidades humanas básicas, 
o professor pode fazer perguntas sobre a moradia, a alimentação, o vestuário, a 
higiene e o lazer. Por exemplo: “o café que tomamos pela manhã, quem traba-
lhou para que ele estivesse em nossa mesa? Para que ele chegasse até a mesa, o 
que foi necessário acontecer?” Dessa maneira, o professor pode ir direcionando 
o pensamento do aluno. Alguém plantou uma semente na terra e nasceu uma 
plantinha. Dela se colhem os frutos que serão ensacados pelos lavradores e en-
viados a um lugar onde serão torrados e moídos. Depois, serão colocados em 
saquinhos e levados aos supermercados, às padarias e aos armazéns. Ali, vão ser 
comercializados e comprados pelas famílias. Com base nesses dados, pode-se 
fazer uma associação, a partir do café, do tempo necessário para que determi-
nado produto chegue em nossa casa, para que se observe as diferentes fases 
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
de produção. É possível desenvolver as noções de campo e cidade, industriali-
zação e comércio. Ainda com a orientação do professor, o aluno pode compre-
ender que tomar café é um hábito, um dado cultural. O que acontece no café 
da manhã? Dá para resgatar também as relações familiares. Essa é uma parcela 
das inúmeras atividades que se pode desenvolver com a criança para que ela 
perceba tempo, hábitos e costumes. Atividades simples que lhe dão a base para 
a compreensão de conceitos e noções complexas.
Mesmo trabalhar com civilizações distantes, a partir de dados do cotidiano 
da criança, também é possível. Ao observar a própria escola e as imediações, a 
criança poderá se dar conta de inúmeros dados sobre o meio ambiente, desde 
a observação sobre os animais até sobre as plantas. É viável que seja trabalhada 
uma infinidade de relações recíprocas entre esses componentes, bem como a 
necessidade de um sobre o outro. Atividades como o plantio podem ser bem 
interessantes para que a criança observe não só o crescimento e o cuidado com 
a planta, mas também o processo da preparação da terra. Assim, é possível es-
tabelecer conexões com a necessidade de comer e com a importância da água, 
uma vez que a planta precisará ser regada. A partir desses dois itens, comida 
e água, pode ser apresentado a eles essa dinâmica nas sociedades antigas. Os 
alunos podem conhecer a civilização egípcia, o plantio ao longo do Nilo e a ne-
cessidade das águas. A abordagem pode partir de como uma civilização nasceu 
da organização do povo para aproveitar melhor os recursos hídricos e com isso 
se alimentar. Essa reflexão pode ser fortalecida, além da aula em campo com o 
plantio, por meio de uma pesquisa sobre quem eram os egípcios, terminando 
com a construção de um painel. Trabalho esse que pode ser desenvolvido ao 
longo de um mês ou mesmo de um bimestre.
Aceitar valores diferentes dos nossos
Essa é uma das questões-chave para serem abordadas. A criação de uma iden-
tidade ou a observação de sua existência e a compreensão das diferenças. Traba-
lhar valores diferenciados e hábitos distintos é um dos elementos em questão. É 
preciso que se tome como fonte tudo o que rodeia a vida da criança: brinquedos, 
coisas pessoais, hábitos e costumes e, a partir do exame sobre outros elementos 
que são caracteristicamente diferentes e que pertencem a outro colega, esta-
belecer análises e conclusões sobre diferenças culturais e sociais. A partir desse 
olhar, é possível que se desenvolva com a criança a noção de diferença e, ao 
mesmo tempo, que o professor conduza e aponte essas diferenças que irão se 
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História para a Educação Infantil: parte 2
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manifestar também em nível da sexualidade, da classificação social etc., procu-
rando ter como resposta a aceitação do outro e de seu universo.
Brincando com a História
Para que a criança tenha acesso a diferentes episódios da História, é interes-
sante o trabalho não somente com quadros e gravuras prontas, mas também 
fazer o trabalho de releitura de tais figuras, paisagens ou personagens. Assim, é 
possível desenvolver com a criança não somente o reconhecimento dessas lo-
calidades ou indivíduos, mas também trabalhar determinada habilidade, prin-
cipalmente que desenvolvesse o controle dígito-manual. Para tanto, essas ima-
gens podem ser revisitadas e trabalhadas várias vezes e, em cada fase, a criança 
pode agregar novos dados à sua leitura anterior.
Por exemplo, caso se trabalhe uma imagem do Coliseu romano, da Acrópole 
grega ou das Pirâmides egípcias, podem ser desenvolvidas atividades com o ob-
jetivo de preencher a figura com bolinhas de jornal ou revista; também pode-se 
utilizar o cordão para traçar as bordas e margens do desenho (contorno de figuras) 
ou mesmo perfuração e alinhavo de determinados desenhos. Esse tipo de ativida-
de não só estimula as questões de habilidade motora, como também pode servir 
de base para a reflexão sobre aquela localidade, povo ou personagem histórico.
Após esse exercício, é possível solicitar à criança que apresente aos seus co-
legas o trabalho que foi desenvolvido. Isso tudo é extremamente lúdico e pode 
ser feito de maneira livre, deixando a criança produzir seu trabalho da forma que 
melhor lhe convier, a partir de sua observação das formas e contornos da figura, 
ou seja, de seu olhar sobre o desenho ou a obra. Esse tipo de atividade pode ser 
desenvolvida com as áreas ou lugares da comunidade/localidade da criança.
A educação pré-escolar.
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
Atividades
1. Quais as propostas que existem no RCNEI, em termos de conteúdos, para 
que seja desenvolvido o eixo Natureza e Sociedade?
2. Como é possível planejar o trabalho a ser desenvolvido em creches e pré- 
-escolas adotando as indicações do RCNEI? Aponte suas dificuldades.
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História para a Educação Infantil: parte 2
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3. Que atividades você sugere para que a criança compreenda as diferenças 
culturais existentes em sala de aula? A História dá suporte para que ela com-
preenda essas diferenças?
 
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Gisele Thiel Della Cruz
Os factos humanos são, por essência, fenômenos delicadíssimos, 
muitos dos quais escapam à medida matemática. Cumpre utilizar uma 
linguagem finíssima, [uma cor adequada ao tom verbal], para traduzir 
bem os factos humanos, e portanto para os penetrar bem (...).
Marc Bloch
O estudo da História: 
o tempo e o fato histórico
Há muito tempo, os historiadores rumaram para uma nova concepção 
acerca daHistória e da construção da Ciência Histórica. Essa nova aborda-
gem apontava não mais a velha exposição dos fatos e seus encadeamen-
tos, que fez parte do ofício do historiador no século XIX e parte do século 
XX, período esse denominado, sinteticamente, de positivismo. Essa nova 
proposta voltou-se para novos discursos e para um processo mais reflexi-
vo e conjuntural de construção da História.
Grande parte dessas mudanças e das novas abordagens aconteceram 
principalmente na década de 1920, com o surgimento da Escola dos An-
nales1, cujos principais representantes foram Lucian Febvre e Marc Bloch. 
As propostas dos Annales foram importantíssimas para a renovação dos 
estudos históricos e geraram desdobramentos consideráveis. O grupo 
de intelectuais dos Annales serviu como uma espécie de grupo de con-
testação ao que fora produzido no século XIX e denun ciava uma história 
de eventos de pouco alcance histórico. A idéia dos acontecimentos e do 
1 A revista dos Annales foi fundada em 1929 tendo como principais mentores Marc Bloch e Lucian Febvre. Sua nova abordagem para 
o estudo da História trouxe conseqüências e influên cias até os dias de hoje. A revista se consagrou conjuntamente com a obra de seus 
principais fundadores. O movimento dos Annales, normalmente chamado de Escola dos Annales, não possui exatamente os elementos 
que constituem uma escola, rigidamente organizada, fechada, estritamente em torno de uma convicção ou paradigma.Entre as obras 
de maior destaque daqueles que compuseram o movimento dos Annales, encontram-se os Reis Taumaturgos de Marc Bloch, publicado 
em 1924, ou seja, antes da fundação da revista, e o O Mediterrâneo de Fernand Braudel.
O estudo da História no 
1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – 
Conceitos fundamentais: o fato histórico
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
tempo históricos, e a construção de conceitos consoantes a estas questões foi a 
base da obra historiográfica desses dois pensadores.
Complementando essa renovação ocorrida dentro da História em 1929, deve 
ser ainda lembrada a publicação de Fernand Braudel na revista dos Annales: 
 “História e Ciências Sociais: a longa duração”. Sem dúvida alguma, essa obra é 
peça chave para a compreensão do conceito de tempo adotado pelos historia-
dores contemporâneos. A partir de então, a História, de forma geral, passou a 
trabalhar com os conceitos de tempo de longa e curta duração, tempo da estru-
tura, da conjuntura e do acontecimento breve. 
Todavia, mesmo avaliando o tempo histórico dentro de novas perspecti-
vas, não se pode deixar de considerar que o entendimento dos fatos históricos 
compõe, justamente, esse cordão de ações humanas que podem ser elencados 
ao longo do tempo. É importante ressaltar que estes estudos sejam feitos com 
fatos contextualizados.
Mas o que é, então, fato histórico? O fato histórico é algum acontecimento 
ou evento cujo significado é importante para a compreensão do passado. Esses 
fatos podem ter ocorrido em um passado distante, bem como em um passado 
mais próximo. Eles podem ser também apresentados de uma maneira isolada ou 
descontextualizada, o que, na verdade, é uma opção do professor, mas que, com 
certeza, empobrece o trabalho que está sendo desenvolvido.
Ainda, o fato histórico pode ser entendido como um sinônimo do que Fer-
nand Braudel denominou de tempo do acontecimento breve, ou seja, aquele que 
representa a dimensão de um acontecimento breve, correspondendo a um mo-
mento preciso. Pode ser algum acordo firmado em determinada data, o nasci-
mento de algum personagem histórico, o fim de um governo ou a independên-
cia de uma nação.
O conceito de fato histórico e a definição dos fatos que serão investigados 
e estudados naquele ano escolar orientam as noções e o tipo de trabalho que 
serão desenvolvidos em sala de aula. Se, por muitos anos, ilustrar os fatos histó-
ricos e torná-los a única ferramenta ou objeto da História foi a grande referência 
para a formação do conhecimento histórico escolar, hoje, o que se propõe é que 
este fato tenha um sentido de importância maior, capaz de trazer em si funda-
mentos para compreender as mudanças materiais e culturais ocorridas ao longo 
do tempo e traduzindo a dinâmica histórica das sociedades humanas. O fato 
histórico deixa de ser um dado singular solto no tempo e passa a ter raízes mais 
profundas para a compreensão da história.
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O estudo da História no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – Conceitos fundamentais: o fato histórico
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Por que se estudava uma História factual?
Até a década de 1980, fazer História ou ensinar História no Brasil tinha em sua 
essência uma relação com o civismo e com o poder do Estado. Para que o pro-
fessor e o aluno fossem bons, era preciso que dominassem o conceito de tempo 
histórico. Todavia, essa compreensão limitava-se a entender o tempo cronológico 
e a sucessão de datas, calendário e seqüência entre passado, presente e futuro. 
Isso ocorria justamente porque era fundamental para o Estado que se criasse 
uma consciência cívica, normatizadora e moralizante nos cidadãos, e não uma 
compreensão e elaboração da História de uma maneira mais crítica. A História 
estava na escola para ser decorada e sua prática constava de recitar lições, datas 
e nomes considerados significativos. Esse tipo de História e de conhecimento es-
colar sobre História esteve presente desde o século XIX, com algumas pequenas 
mudanças ou descaminhos em determinados momentos. Assim, foi dominante 
a criação de programas de História com narrativas morais, de grandes eventos e 
de grandes heróis, uma História factual.
A exemplo disso, podemos citar a escola e o conteúdo ensinado nos esta-
belecimentos de ensino durante o Período Imperial brasileiro. Nesse momento, 
mea dos do século XIX, a História da civilização substitui a antiga História Sa-
grada; no entanto, assimila alguns de seus traços. A ordem dos acontecimen-
tos era articulada com uma sucessão de reis e de lutas, bem como de grandes 
eventos, como a Independência. Segue, portanto, a velha fórmula da criação de 
uma identidade pátria, o alicerce da pedagogia do cidadão, um passado glo-
rioso, permeado por feitos heróicos e personagens históricos perfeitos. Pode-se 
observar, por exemplo, as habilidades de Duque de Caxias, patrono do Exército, 
ou a inabalável imagem do mito de Tiradentes, criada na República. Sem contar, 
é claro, com a triunfante Guerra do Paraguai, por muito tempo citada como a 
grande batalha da vitória brasileira.
Esse modelo permaneceu inalterado, mesmo com algumas reformas instituí-
das pelos primeiros governos republicanos. A situação da escola pública pouco 
mudou e da mesma maneira pouco se viu alterações curriculares, o que aconte-
ceu também com a História.
A partir de 1930, com o governo getulista, e uma forma ditatorial de governar, 
persegue-se as mesmas condições de ensino da História, salvo uma mudança: a 
ênfase em um discurso democrático racial para encobrir um governo extrema-
mente racista e despótico. 
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
Nas décadas de 1960 e 1970, sob o domínio militar, a História passa a ser 
uma disciplina mais significativa, conhecida como Estudos Sociais, dentro do 
espírito nacionalista de caráter moralizante e cívico. A História factual mantém 
seu curso. Trata-se de enaltecer alguns fatos importantes e manter na popula-
ção a imagem da nação perfeita e da aceitabilidade de que o poder e a glória 
cabem somente a alguns.
O que aconteceu, então, na década de 1980, para que um novo projeto de 
História na escola fosse apresentado? Por que ensinar História tão cedo e de uma 
maneiracrítica?
Longe de uma História apenas de fatos 
No decorrer da década de 1970, as lutas de profissionais, desde a sala de aula 
até a universidade, ganharam maior expressão, além da força que foram buscar 
junto a associações como a Associação Nacional de História (ANPUH) e a Asso-
ciação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), na busca do retorno da Geografia e da 
História como disciplinas autônomas. 
A nova clientela e as mudanças políticas e sociais brasileiras permitiam um 
espaço de discussão maior sobre o papel da escola e também sobre a necessi-
dade de novas políticas educacionais. Nessa corrente de mudanças de caráter 
pedagógico, se inseriam também às modificações quanto ao ensino de História. 
Nesse momento, foi possível que se pensasse também na possibilidade do retor-
no da História e da Geografia para as Séries Iniciais. 
Com a possibilidade de voltar a ser uma disciplina e de ter novamente um 
papel mais definido na formação da cidadania, a História Tradicional passa a 
sofrer contestações. Diante de uma nova forma de fazer e ensinar História, de 
acordo com o novo projeto da História Crítica, os currículos foram modificados 
e amplia dos. A disciplina passou a ser ensinada nas escolas, desde a Educação 
Infantil até os primeiros anos do Ensino Fundamental. Não aquela velha História 
dos fatos isolados e dos heróis mitificados, mas a História dos fatos contextu-
alizados e da presença de pessoas. E como sugerem os Parâmetros Curricula-
res Nacionais: “reafirmar sua importância no currículo não se prende somente a 
uma preocupação com a identidade nacional, mas sobretudo no que a disciplina 
pode dar como contribuição específica ao desenvolvimento dos alunos como 
sujeitos conscientes, capazes de entender a História como conhecimento, como 
experiência e prática da cidadania”.
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O estudo da História no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – Conceitos fundamentais: o fato histórico
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Mexendo com os fatos
Já que o fato puro não agrega criticidade, 
o professor não deve limitar-se a ensinar aos 
seus alunos os nomes e feitos de personali-
dades, mas mostrá-los no contexto em que 
sua ação ganhou significado. Dessa forma, 
a História deixa de ser o resultado da vonta-
de de alguns indivíduos imperando sobre os 
outros, ou mesmo de fatos estanques, e passa 
a ser uma História vinculada a um tempo his-
tórico, e à vida de uma nação, de um povo ou 
de uma comunidade.
É provável que, por meio do estudo de um 
fato, possa-se fazer uma abordagem socio-
cultural da política que orienta determinado período da História. Por exemplo, 
por meio da morte de Tiradentes e da iconografia a respeito desse fato, é pos-
sível fazer uma releitura de época e absorver os interesses da elite brasileira. O 
mito é apresentado com características que lembram Cristo (a barba e os cabe-
los longos, trajes alvos, os pés descalços têm um sentido). O que Tiradentes e sua 
morte sugerem? O importante é saber o que Tiradentes tem a acrescentar para a 
vida das crianças. Por que se comemora o dia de Tiradentes até hoje nas escolas? 
Por que o Brasil transformou Tiradentes em um herói? Quando ela passou a ter 
importância para a historiografia?
É possível, assim, mais do que forjar a identidade nacional, que se compreen-
da a alteridade do sentimento, da crença, da cultura e dos sonhos de uma nação 
pela leitura de seus diferentes segmentos: pobres e ricos. Do Período Colonial 
até os dias de hoje, a população mais simples é tida como incapaz, indolente, 
inculta, perigosa, demoníaca, subversiva e selvagem. Tiradentes é quem entre 
eles? Assim, apresentando traços por meio das diferentes linguagens (iconogra-
fia, letras de músicas, arquitetura e propaganda), um fato histórico pode ter múl-
tiplas facetas, vários olhares e uma compreensão e valoração maior.
Em suma, ao observar a sociedade local ou nacional, o aluno deve ser capaz 
de compreender que determinados fatos são de suma importância para a histó-
ria daquele grupo. Cabe ao professor o trabalho de reelaboração do que é pro-
posto como conteúdo a ser trabalhado, transformando-o, da melhor maneira 
possível, em conteúdo transmissível e assimilável pelos estudantes. Ao passar 
Tiradentes.
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
determinado fato ou data cívica, o professor deve buscar metodologias e técni-
cas que motivem o aluno a compreender e a se interessar pelo que estuda. Para 
tanto, é importante que se tenha claro técnicas de motivação e elaboração de 
atividades instigantes. 
A compreensão do fato por meio da imagem
É sabido, no entanto, que muitos professores ainda têm como referencial 
os textos impressos. A essa predominância dos textos escritos é o que Debray 
(1995) chama de “racionalidade grafosfera”. Essa utilização quase que limitada 
ao texto escrito e que o professor administra em classe é que deve ser quebrada. 
A fonte escrita é importante, mas, principalmente nas Séries Iniciais (1.° ciclo), 
o trabalho com a imagem é fundamental. Não se pode esquecer que continu-
amente os alunos sofrem influências da televisão, e essa deve ser também um 
recurso constante. 
O aluno chega à sala de aula com algum grau de informação sobre alguns 
temas ou fatos que estão sendo trabalhados pelo professor. É claro que com as 
apropria ções distorcidas das informações adquiridas por intermédio dos meios 
de comunicação. Cabe ao professor empregar em suas aulas recursos visuais e 
tornar mais rico o fato histórico trabalhado. Assim, o referencial do aluno será, 
além do texto escolar, oral ou escrito, aquele que lhe é veiculado pela televisão 
ou pelo filme. É importante que o professor seja capaz de utilizar esse recurso 
(o filme) e fazer, portanto, essa conversação entre o fato histórico mostrado no 
filme e aquele trabalhado em sala. De acordo com Saliba, as imagens não falam, 
mas agregam referenciais: “as imagens são estratégias para conhecimento da 
realidade, mas não constituem sucedâneos para nenhum suporte escrito. Ao 
contrário do que se diz, freqüentemente, a imagem não fala. Sem comentários, 
uma imagem não significa rigorosamente nada.” (1996, p. 161). A articulação da 
imagem com o texto escrito trará ao aluno elementos suficientes para que ele 
tenha uma compreensão mais ampla do fato/conhecimento histórico.
Além do que é veiculado na televisão, o filme revela também o acontecimen-
to. Ele não é somente a obra de arte, mas também o produto, uma imagem-
objeto, cujas significações e compreensões podem extrapolar o simples limite 
cinematográfico. O filme pode ser abordado como um documento que revela 
momentos passados ou contemporâneos. O professor pode utilizar-se da análi-
se de filmes, ou fragmentos de filme, de acordo com a sua necessidade, em dife-
rentes abordagens: cenário, narrativa, público, período etc. Revelando o mundo 
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O estudo da História no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – Conceitos fundamentais: o fato histórico
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da ficção e da história. De acordo com Ferro, “o filme pode suscitar, no nível da 
imagem, o factual” [grifo nosso] (1995, p. 202).
Dicas de estudo
Guerra do Fogo, 1981. Para trabalhar aspectos da Pré-História.
A Era do Gelo, 2002. Desenho animado interessante que mostra como viviam os 
homens primitivos. Ótimo para trabalhar com crianças.
Os Trabalhos de Hércules, 1960. Muito interessante, para trabalhar cultura grega.
Asterix entre os Bretões, 1986. A história de Asterix e Obelix retrata as guerras 
entre romanos e gauleses.
Lancelot, o primeiro cavaleiro, 1995. Idade Média e olendário rei Artur.
Simbad, 2003. Desenho animado que fala sobre os costumes e lendas árabes.
Atividades
1. Como se define fato histórico?
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
2. O que é uma história cujo conteúdo e abordagem são factuais?
3. Como o estudo dos fatos foi utilizado pelo poder público para a manipula-
ção da consciência cívica?
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O estudo da História no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – Conceitos fundamentais: o fato histórico
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4. Procure elaborar uma aula, a partir de um fato histórico, utilizando como re-
curso ilustrativo um filme.
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Gisele Thiel Della Cruz
No passado, podiam-se acusar os historiadores de querer conhecer 
somente as ‘gestas dos reis’. Hoje, é claro, não é mais assim. 
Cada vez mais se interessam pelo que seus predecessores 
haviam ocultado, deixado de lado ou simplesmente ignorado. 
‘Quem construiu Tebas das sete portas?’ – perguntava o ‘leitor 
operário’ de Brecht. As fontes não nos contam nada daqueles 
pedreiros anônimos, mas a pergunta conserva todo o seu peso.
Carlo Ginzburg
Os conceitos que estamos trabalhando são representações mentais da 
realidade. Em cada cultura, existe sua representação por meio de um signo. 
Esses elementos se tornam idéias abstratas independentes da experiência 
concreta. A aprendizagem de História resulta da apropriação de conceitos 
específicos e do estabelecimento de relações entre eles, formando uma es-
pécie de rede conceitual. O processo de conhecimento está justamente em o 
aluno ser capaz de estabelecer essas conexões e, gradativamente, estar apto 
para identificar esses conceitos básicos em diferentes realidades estudadas.
O conceito de sujeito histórico estabelece novas relações com o fato 
e com o tempo histórico. Assim como a concepção sobre o estudo dos 
fatos históricos ganhou um novo contorno a partir da Escola dos Annales, 
a noção de sujeito histórico também foi reformulada. A História Tradicio-
nal contada por meio dos fatos e dos grandes vultos deixou de ser o único 
modelo de produção historiográfica. A Nova História passou a fazer uma 
nova abordagem e a se preocupar não só com a avaliação e com o conhe-
cimento da vida de poucos homens ou com as ações isoladas ou vontades 
individuais de poderosos, mas também com a dimensão das ações coleti-
vas, das lutas por mudanças, dos valores e perspectivas de grupos sociais, 
dos costumes que permaneceram ou que se modificaram, noções e per-
cepções que ultrapassam os mecanismos políticos e econômicos.
O estudo da História no 
1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – 
Conceitos fundamentais: o sujeito histórico
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Fundamentos Teóricos e Práticos do Ensino de História
Definições sobre o sujeito histórico
O sujeito histórico é o agente da ação social, escolhido pelos historiadores como 
foco de análise e importante para a compreensão dos estudos sobre a História. 
Pode-se observar uma outra concepção descritiva abordada nos Parâmetros 
Curriculares Nacionais:
Sujeito Histórico – Podem ser, assim, todos aqueles que, localizados em 
contextos históricos, exprimem suas especificidades e características, sendo 
líderes de lutas para transformações (ou permanências) mais amplas ou de 
situações mais cotidianas, que atuam em grupo ou isoladamente, e produ-
zem para si ou para uma coletividade. Podem ser trabalhadores, patrões, es-
cravos, reis, camponeses, políticos, prisioneiros, crianças, mulheres, religio-
sos, velhos, partidos políticos etc (PCN, v. 5. p. 36).
Nessa concepção, bastante ampla, o papel do sujeito histórico é apresentado 
como sendo o de diferentes componentes no jogo social. Dessa forma, variados 
elementos integram essa compreensão de sujeito histórico, desde líderes e figu-
ras heróicas, até gente simples em suas atividades cotidianas. Evidentemente, 
nem todos esses elementos podem ser elaborados ou abordados pelos historia-
dores ou mesmo servem como objeto de transmissão e compreensão sistemá-
tica da História em sala de aula. Então quais são as abordagens mais freqüentes 
que os historiadores têm produzido e o que tem sido transmitido na Educação 
Básica sobre a História e seus sujeitos?
A historiografia e o sujeito histórico
As novas abordagens que são efetuadas pela História, partem principal-
mente da caminhada historiográfica feita a partir da Escola dos Annales1. Nessa 
Escola, lançou-se a idéia de que era preciso privilegiar o estudo das massas em 
lugar das personalidades conhecidas. Esse enfoque, de acordo com Daumard, 
lançou as bases da História Social na França e passou a dar conta de escrever 
sobre outros elementos da vida dos homens e da sua história. Era preciso en-
contrar os componentes da vida mais banal e cotidiana, tanto nos seus aspectos 
1 A revista dos Annales passou por diversas reformulações desde que foi fundada. Em sua primeira concepção, os trabalhos de seus principais 
pensadores, Marc Bloch e Lucian Febvre, fizeram-na conhecida e reconhecida mundialmente. Com a proposta de renovar-se e manter-se sempre 
atual, notamos nos anos 60 uma grande repercussão da revista e forte influência de Fernand Braudel. Na terceira “fase” dos Annales, ou na chamada 
Nova História, destacam-se histo riadores como Jacques Le Goff e Georges Duby.
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O estudo da História no 1.° e 2.° ciclos do Ensino Fundamental – Conceitos fundamentais: o sujeito histórico
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materiais, como nas suas manifestações mentais. Esse “movimento” alavancou a 
partir de 1950 uma gama enorme de trabalhos que tinham essas características 
(DAUMARD, 1984, p. 12).
Mesmo as biografias que centravam o seu estudo sobre os indivíduos pas-
saram a ter uma outra importância, à medida que serviam como suporte para 
compreensão da história da família e para decifrar aspectos sociais e profissio-
nais, privilegiando assim dados da vida privada. Esse tipo de análise interessava 
para que se compreendesse um outro filão da história: o estudo das mentalida-
des e dos comportamentos coletivos.
Dessa maneira, a antiga concepção do personagem mitificado pela História, 
ou dos grandes feitos e figuras, foi deixando gradativamente de ser o enfoque 
da historiografia. No Brasil, essa caminhada historiográfica foi feita um pouco 
mais tarde, já que essas novas perspectivas foram introduzidas na Academia du-
rante as décadas de 1970 e 1980. 
A noção quase que mítica que fora dada a alguns personagens começa a se 
esvaziar de sentido. De origem grega, a palavra mythos significa narrar para o 
público as origens de qualquer coisa, com sentido fabuloso, mágico, divino e 
incontestável. Esse caráter de verdade inquestionável e de uma explicação para 
tudo sobre algumas personagens da História é um legado da História Positivista/
Tradicional do século XIX e meados do século XX a partir de uma visão mítica. 
Para que se tenha uma idéia do sentido que a História tinha no século XIX, é 
interessante citar um episódio narrado por Peter Burke: 
A história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de que tem sempre se concen-
trado nos grandes feitos dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente ecle-
siásticos. Ao resto da humanidade foi destinado um papel secundário no drama da História. 
A existência dessa regra é revelada pelas reações à sua transgressão. Quando o grande es-
critor russo Alexandre Pushkin estava trabalhando no relato

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