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A infecção atinge o saco amniótico e acomete o feto em aproximadamente dois terços dos casos de gestantes infectadas, variando de acordo com a espiroquetemia da gestante. Infecção nas fases primária ou secundária Infecção nos casos tardios Em cerca de 69% das gestantes não tratadas ou tratadas inadequadamente, a infecção será transmitida para o feto com resultados impactantes para ele, como aborto espontâneo, prematuridade, baixo peso, morte intrauterina, morte neonatal ou sequelas graves para os fetos que sobrevivem Segundo o Ministério da Saúde (MS), 2,6% das gestantes brasileiras possuem sífilis, e estima-se que, anualmente, ocorram mais de 10 mil casos de sífilis congênita, sendo que apenas 56% tiveram o diagnóstico antes do parto. A incidência de sífilis congênita em crianças menores de 1 ano de idade tem apresentado aumento significativo nesta última década, o que vem sendo acompanhado por aumento do número de casos de sífilis primária e secundária nas mulheres A sífilis é uma infecção sistêmica causada pelo Treponema pallidum. S í f i l i s n a g e s t a ç ã o bactéria Gram-negativa do grupo das espiroquetas A INFECÇÃO >> A notificação compulsória da gestante com sífilis no país foi instituída desde 2005 se trata de uma doença que tem sua lesão primária indolor > ENTÃO > deve-se estar atento durante o exame de pacientes de risco quando o diagnóstico de lesões vaginais não for realizado, já que a paciente não se queixa, contribuindo para a progressão e a disseminação e também aumentando o risco de contaminação por outras DSTs ATENÇÃO 70 a 100% cerca de 30% MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O risco de transmissão congênita está diretamente relacionado ao estágio da doença e é extremamente alto nos primeiros 4 anos após a infecção da mãe. Primária Úlcera – Cancro, adenopatia Rash, adenopatia, hepatite, artrite, glomerulonefrite Latente A sífilis primária apresenta um período de incubação de 9 a 90 dias (média de 21 dias) Caracteriza-se por lesões (não ulceradas) disseminadas pelo corpo que podem aparecer como máculas, pápulas, formas papulomaculares e, excepcionalmente, pustulosas que regridem em 1 a 6 semanas. MARÇO 2020GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA // Secundária Assintomática Terciária Cutânea – Lesão comatosa Cardiovascular – Aneurisma da aorta, insuficiência aórtica SNC – Tabes dorsalis, convulsão, demência, paresias, alterações psiquiátricas, pupilas de Argyll-Robertson Treponemas > inoculação > linfonodos regionais > disseminação via hematogênica > Lesão Inicial: cancro duro A lesão atinge 1 a 2 cm, inicia com uma mácula eritematosa, plana, única, que se transforma em úlcera Essa úlcera é indolor, apresenta- se com consistência cartilaginosa, com fundo liso e não infectado. O aparecimento de anticorpos pode levar até 6 semanas após a inoculação inicial exames sorológicos podem estar negativos e somente positivar quando o cancro sifilítico começar a cicatrizar Após a cicatrização, os fenômenos do secundarismo poderão ocorrer dentro de 4 a 8 semanas Na gestação, a placenta e os anexos evidenciam o comprometimento desse processo infeccioso pelo aumento de volume, pelo edema e pela coloração mais pálida e friável dos cotilédones. O concepto, uma vez infectado, poderá apresentar sífilis congênita precoce ou tardia. As manifestações ocorrem até o segundo ano de vida, pode-se ter um comprometimento cutâneo mucoso, em que os pênfigos palmoplantares poderão fazer parte dessa fase, provocando seguidamente uma grande área de descamação da epiderme. Na presença de coriza hemorrágica, deve-se suspeitar de sífilis, sendo essa secreção rica em treponemas. A hepatomegalia e a esplenomegalia evidenciam o comprometimento sistêmico desse processo infeccioso, juntamente com a linfadenopatia, sendo frequente a presença de hiperbilirrubinemia, a qual é consequência da hemólise. As alterações ósseas podem iniciar com manifestações como pseudoparalisia dolorosa (doença de Parrot), ocorrendo osteocondrite e periostite. SÍFILIS PRECOCE SÍFILIS TARDIA Inicia no terceiro ano de vida, podendo provocar alterações ósseas e articulares, surdez, alterações dentárias, lesões oculares, nariz em cela, perfuração do palato duro, etc. Ainda como manifestação dessa fase, podem ocorrer comprometimentos como tabes dorsalis, meningite, paralisia geral, nefrite subaguda, entre outros. DIAGNÓSTICO A escolha do método diagnóstico depende da fase da infecção materna. A identificação do treponema pode ser feita por exame de campo escuro, ou por imunofluorescência direta dos exsudatos da lesão. Estes podem ser utilizados no diagnóstico das lesões sifilíticas em atividade, como cancro duro, condiloma plano, sifílides e sífilis congênita precoce. O método de eleição é o exame de campo escuro (a coloração torna imóveis os treponemas cujo diagnóstico diferencial com os outros treponemas não pode ser realizado). Possui sensibilidade de 74 a 86% O rastreamento com VDRL ou teste rápido (TR) é obrigatório para todas as gestantes no primeiro e no terceiro trimestres da gestação. MARÇO 2020GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA // SOROLOGIA Reações não treponêmicas VDRL, reagina plasmática rápida (RPR) Reações treponêmicas (testes reagínicos não específicos) Teste de imobilização do treponema (TPI, do inglês Treponema pallidum imobilization), teste de absorção fluorescente contra treponema (FTA- ABS, do inglês fluorescent treponemal antibody-absortion), hemaglutinação para Treponema pallidum (TPHA, do inglês Treponema pallidum haemagglutination), enzimaimunoensaio (Elisa), testes imunocromatográficos (TRs). Testes rápidos São práticos e de fácil execução, com resultado em no máximo 30 minutos. Podem ser realizados em amostra de sangue total arterial ou venoso É o teste mais frequentemente utilizado; Torna-se positivo cerca de 30 a 50 dias após a inoculação. É utilizado em todos os casos, exceto na sífilis primária, podendo ser realizado no soro ou líquido cerebrospinal (LCS). Resultados negativos não excluem o diagnóstico de sífilis primária, assim como falsos-positivos podem existir na vigência de doenças autoimunes (colagenoses), na fase aguda de viroses, cirrose hepática, leptospirose, mononucleose, na própria gestação, em outras infecções treponêmicas, em pacientes com hanseníase, na malária, entre outros Detectam anticorpos específicos produzidos pela infecção pelo Treponema pallidum. São raros os casos falsos-positivos. A reatividade destes indica que o usuário teve contato com Treponema pallidum em alguma época de sua vida e desenvolveu anticorpos específicos. Na maioria das vezes, permanecem positivos mesmo após o tratamento. Se há suspeita clínica de sífilis, são necessários dois testes diagnósticos VDRL quantitativo como rastreamento teste treponêmico (em geral, FTA-ABS) positivo? O FTA-ABS IgM (imunoglobulina M) pode fazer diagnóstico da sífilis primária incipiente, pois aparece precocemente, com o cancro duro O VDRL começa a ter resultados positivos geralmente 1 ou 2 semanas após o aparecimento do cancro duro. Os títulos diminuem com tratamento adequado e podem desaparecer em 9 a 12 meses ou permanecer baixos (cicatriz imunológica). A avaliação do LCS (VDRL, FTA-ABS, celularidade, albuminas) deve ser realizada sempre que houver sinais e sintomas neurológicos ou oftálmicos, sífilis terciária, falha de tratamento, paciente anti-HIV positivo, VDRL de altos títulos e tratamento não penicilínico em sífilis tardia O FTA-ABS utiliza o Treponema pallidum como antígeno para avaliar a reação de anticorpos antitreponêmicos no soro do paciente, sendo reativo a partir do 15º dia da infecção. Esse teste é útil para exclusão de falso-positivo, não devendo ser utilizado para o seguimento, pois pode permanecer positivo por toda a vida, independentemente do tratamento. A fração de imunoglobulina (IgM) desse teste é de capital importância para o diagnóstico da sífilis congênita, afastando, assim, os falsos- positivos do recém-nascido(RN), pela passagem de anticorpos maternos ao compartimento fetal. > Após a dose terapêutica inicial na doença recente, poderá surgir a reação febril de Jarisch-Herxheimer, com exacerbação das lesões cutâneas e involução espontânea em 12 a 48 horas. - essa reação não representa alergia, sendo que o tratamento deve ser mantido, e realiza-se o controle dos sintomas. > Quando essa reação ocorre na segunda metade da gestação, há risco de TPP ou condição fetal não tranquilizadora. Nas gestantes alérgicas à penicilina, está recomendada a dessensibilização em ambiente hospitalar e uso da penicilina nas doses habituais A dessensibilização é feita com a administração via oral (VO) de penicilina V (fenoximetilpenicilina potássica) em diluições gradativamente menores e em volumes inversamente maiores. Esse procedimento deve ser realizado em ambiente hospitalar ou onde possa ser assegurado atendimento de urgência caso ocorram manifestações de alergia ou até mesmo choque anafilático. A gestante deve ser observada por 30 minutos, e, após, procede-se à administração parenteral de penicilina. Na presença de alergia ao longo da dessensibilização, interrompe-se o uso e troca-se por medicação alternativa MARÇO 2020GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA // Os TRs para sífilis fornecem resultados em 10 a 15 minutos e podem ser úteis no parto ou em locais onde não se dispõe do VDRL. O MS do Brasil recomenda seu uso em gestantes com sinais de DSTs, no parto quando o VDRL não está disponível, em parceiros de gestantes com TR positivo, no terceiro trimestre gestacional quando o primeiro VDRL foi negativo e quando não se dispõe do resultado no terceiro trimestre. Durante a gestação, qualquer titulação de VDRL deve ser considerada como infecção, a não ser que exista história de tratamento adequado e registro de diminuição da titulação sorológica A te st ag em pa ra o HI V de ve se r of er ec id a pa ra to da s as pa ci en te s co m sí fi li s TRATAMENTO O fármaco de escolha para tratamento da sífilis na gestação é a penicilina benzatina, único capaz de prevenir a transmissão vertical Na impossibilidade do uso da penicilina, as gestantes podem ser tratadas com estearato de eritromicina 500 mg VO de 6/6 horas por 15 dias; porém, o feto será considerado como não tratado Nem sempre é possível estabelecer o momento de contágio da sífilis e o seu estágio. Nas gestantes com VDRL ou TR negativo no primeiro trimestre, que tiverem um teste positivo subsequente, pode-se considerar a infecção como latente recente (até 1 ano), sendo suficiente uma dose de 2,4 milhões UI de penicilina. Entretanto, se houver dúvida, está recomendado o tratamento com três doses de penicilina em intervalos semanais (dose total de 7,2 milhões UI). As gestantes com diagnóstico de sífilis devem ser avaliadas mensalmente, por meio do VDRL. Considera-se um novo tratamento se houver elevação de títulos dos testes não treponêmicos em duas diluições (p. ex., de 1:16 para 1:64, em relação ao último exame realizado), devido à possibilidade de falha terapêutica ou reinfecção. Os títulos devem cair de forma progressiva, permanecendo negativos ou inferiores a 1:8. Ao término da gestação e em não gestantes, recomenda-se a repetição do VDRL quantitativo trimestralmente durante o primeiro ano e, se ainda houver reatividade em titulações decrescentes, deve-se manter o acompanhamento semestralmente até estabilizar. Após 1 ano, pode-se considerar a paciente curada na presença de título baixo e estável em duas oportunidades. Suspeita-se de reinfecção quando ocorrer elevação de duas diluições no título, procedendo-se a um novo tratamento completo, lembrando-se de revisar se o(s) parceiro(s) realizou(aram) o tratamento. Mediante tratamento inadequado ou quadruplicação dos títulos de VDRL, um novo tratamento é recomendado O(s) parceiro(s) deve(m) receber tratamento com penicilina (mesmo esquema da gestante) concomitantemente à gestante ou receber fármacos alternativos como doxiciclina 100 mg VO de 12/12 horas por 15 dias ou ceftriaxona 2 g IV 1 ×/dia de 10 a 14 dias para neurossífilis TRATAMENTO INADEQUADO Quando realizado com qualquer medicamento que não a penicilina; Quando incompleto, mesmo tendo sido feito com penicilina; Se não for adequado para a fase clínica da doença; Quando for realizado menos de 30 dias antes do parto; Quando houver elevação dos títulos após o tratamento; Quando os parceiros não forem tratados, forem tratados inadequadamente ou na ausência de informação sobre o tratamento destes; Na ausência de identificação dos títulos do VDRL ou da queda dos títulos dos parceiros após tratamento.
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