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As Bem-Aventuranças - baseado em Thomas Watson

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As 
Bem-Aventuranças 
 
 
 
 
 
 
 
 
Silvio Dutra 
 
 
 
 
 
 
 
NOV/2015 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A474 
 Watson, Thomas 
 As bem aventuranças./ Thomas Watson; 
tradução e 
 adaptação Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 
 2015. 
 107p.; 14,8x21cm 
 
 Título original: The beatitudes 
 
 1. Teologia. 2. Alves, Silvio Dutra. 3. Vida Cristã. 
 4. Mansos. 5. Humildes. 6. Puros. 7. Pacificadores. 
 I. Título. 
 CDD 252 
3 
 
 
 
 Sumário 
 
 
 
Introdução........................................................... 4 
1 – Os Pobres de Espírito................................. 14 
2 – Os que Choram............................................ 29 
3 – Os Mansos.................................................... 47 
4 – Os Que Têm Fome e Sede de Justiça........ 58 
5 – Os Misericordiosos...................................... 65 
6 – Os Puros de Coração.................................. 76 
7 – Os Pacificadores......................................... 90 
8 – Os Perseguidos........................................... 102 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
Introdução 
 
Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, 
tendo se assentado, aproximaram-se os seus 
discípulos, 
2 e ele se pôs a ensiná-los, dizendo: 
3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque 
deles é o reino dos céus. 
4 Bem-aventurados os que choram, porque eles 
serão consolados. 
5 Bem-aventurados os mansos, porque eles 
herdarão a terra. 
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de 
justiça porque eles serão fartos. 
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles 
alcançarão misericórdia. 
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque 
eles verão a Deus. 
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles 
serão chamados filhos de Deus. 
10 Bem-aventurados os que são perseguidos por 
causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.”. 
(Mt 5.1-10). 
5 
 
As palavras deste sermão pregado por nosso Senhor 
Jesus Cristo devem ser fixadas permanentemente 
pelos seus ministros nas memórias dos seus 
ouvintes, porque há muitos que têm uma memória 
ruim conforme se diz em Tiago 1.25, e as suas 
recordações escoam facilmente tal como a água que 
sai de um recipiente. 
Aqueles que têm o encargo de conduzirem os 
espíritos dos homens no caminho do céu devem 
lembrar que assim como não se pode ter um sangue 
enriquecido sem um intestino que funcione bem, 
de igual modo se uma verdade não ficar retida na 
memória, ela nunca poderá, como diz o apóstolo 
Paulo em I Tim 4.6, nos nutrir com as palavras da fé. 
Com que frequência o diabo, a ave do ar, apanha a 
boa semente que é semeada! 
Quantos sermões o diabo tem roubado! 
É uma triste verdade que as pessoas não se 
permitam serem furtadas tão facilmente de seus 
bens materiais, mas dão pouca ou nenhuma atenção 
ao fato de o diabo lhes furtar continuamente o 
alimento espiritual, através do qual elas podem ser 
fortalecidas na fé. 
Por isso os ministros de Cristo devem sempre 
brilhar não como velas ou lâmpadas, nem mesmo 
como planetas, mas como estrelas no firmamento 
de glória, porque eles são estas estrelas que devem 
brilhar nas mãos do Senhor, como se vê em Apo 1.20; 
6 
 
para que possam iluminar o caminho que conduz os 
pecadores à salvação. 
A honra de converter almas não foi dada por Deus 
aos anjos, mas aos ministros do evangelho. 
Deus confiou aos Seus ministros a maioria das Suas 
joias preciosas, as Suas verdades e as almas das 
pessoas que pertencem a Ele. 
Por isso o púlpito é mais elevado do que o trono de 
qualquer rei terreno, porque o ministro 
verdadeiramente constituído representa ninguém 
menos do que o próprio Deus. 
Agora, quanto ao rebanho do Senhor: se os 
ministros têm que aproveitar todas as 
oportunidades para pregarem, o rebanho por sua 
vez, tem que aproveitar todas as oportunidades para 
ouvir e colocar em prática as coisas que ouve. 
Quando a Palavra de Deus é pregada, o pão da vida é 
repartido a todos, e este pão é mais precioso do que 
ouro e prata com se diz no Sl 119.72. 
Na Palavra pregada, céu e salvação são oferecidos a 
você. 
Jesus começou o Seu sermão no Monte com bem-
aventuranças que contêm promessas e bênçãos. 
O povo de Deus se encontra com muitas 
dificuldades e desânimos, e a marcha dos crentes 
7 
 
não é somente perigosa e cansativa, como o próprio 
coração deles está sempre pronto a desfalecer. 
Não é, portanto, para se estranhar que Jesus tenha 
colocado diante dos crentes a coroa da bem-
aventurança para animar a sua coragem e inflamar 
o seu zelo. 
A bem-aventurança é o alvo que deve ser atingido, é 
o centro do qual devem partir todas as linhas da vida; 
é a flor da alegria dos crentes. 
É aquela condição abençoada na qual devem ser 
achados os servos de Jesus, conforme ele cita em Mt 
24.46: 
“Bem-aventurado aquele servo a quem o seu 
senhor, quando vier, achar assim fazendo.”. 
A bem-aventurança está ligada a uma condição de 
alma, a um estado de espírito, a uma atitude de 
estrita obediência à Palavra de Deus, em todos os 
deveres ordenados nela. 
Assim a bem-aventurança não consiste na 
aquisição de coisas mundanas, na aquisição de bens 
naturais e terrenos. 
Cristo não diz: “Bem-aventurados são os ricos”, ou 
“Bem-aventurados são os nobres”, contudo muitos 
idolatram estas coisas. 
8 
 
Os filósofos pagãos ensinam que bem-aventurança 
é ter suficiência de subsistência e prosperar no 
mundo. 
Mas não há muitos crentes que parecem ser desta 
mesma opinião filosófica? 
Poucos chegam a entender que a árvore da bem-
aventurança não cresce num paraíso terrestre. 
Deus não amaldiçoou a terra por causa do pecado? 
Como vemos em Gên 3.17? 
 Contudo, muitos estão cavando para acharem a sua 
felicidade aqui, como se eles pudessem achar uma 
bênção numa maldição. 
Nestas profundidades terrenas Salomão cavou mais 
do que qualquer outro homem e chegou à conclusão 
que tudo deste mundo é vaidade, enfado e canseira, 
dando um firme testemunho de que é somente em 
Deus que se pode satisfazer verdadeiramente o 
espírito, e alcançar a condição da bem-aventurança. 
As coisas terrenas não podem satisfazer aos 
anelos do espírito e assim nunca tornarem uma 
pessoa bem-aventurada, porque estas coisas são 
transitórias, passageiras, e por isso Paulo diz que 
elas não são uma realidade permanente, senão uma 
aparência passageira, como lemos suas palavras em 
I Cor 7.31: 
9 
 
“e os que usam deste mundo, como se dele não 
usassem em absoluto, porque a aparência deste 
mundo passa.”. 
O dom da vida que reside no espírito é muito mais do 
que o sustento do corpo físico. 
É por isso que Jesus diz o que lemos em seu ensino 
sobre esta verdade em Mt 6.25: 
“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à 
vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que 
haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo 
que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o 
alimento, e o corpo mais do que o vestuário?”. 
A bem-aventurança não se encontra de fato nas 
coisas terrenas porque elas não podem aquietar o 
coração atribulado. Elas não podem trazer alívio e 
livramento ao coração que está sendo batido pelas 
batalhas espirituais. 
 A bem-aventurança não se encontra nas coisas 
terrenas porque é exatamente nelas que 
encontramos a maior fonte de tentação para nosafastar da comunhão com Deus, conforme vemos 
no dizer do apóstolo João em I Jo 2.15 a 17: 
“15 Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se 
alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 
16 Porque tudo o que há no mundo, a 
concupiscência da carne, a concupiscência dos 
10 
 
olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim 
do mundo. 
17 Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas 
aquele que faz a vontade de Deus, permanece para 
sempre.”. 
A bem-aventurança que Deus tem para os seus 
filhos não é fugaz como todas as riquezas deste 
mundo; e não fere os nossos corações como tais 
riquezas, porque não há o temor de perdê-las. 
Se nós não tivermos estas coisas terrenas, não 
seremos amaldiçoados, nem sequer podemos ser 
mais santificados por causa delas. 
E devemos saber que é grande a tentação para 
entesourar riquezas para o próprio dano daquele 
que o fizer, como se diz em Eclesiastes 5.13: “Há um 
grave mal que vi debaixo do sol: riquezas foram 
guardadas por seu dono para o seu próprio dano;”. 
Definitivamente, não é no acúmulo de bens 
terrenos que devemos colocar todo o nosso 
empenho e esperança de encontrar a bem-
aventurança. 
É com todas estas coisas em vista que Paulo afirma o 
que lemos em I Tim 6.9,10: 
“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em 
tentação e em laço, e em muitas concupiscências 
11 
 
loucas e nocivas, as quais submergem os homens na 
ruína e na perdição. 
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os 
males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se 
traspassaram a si mesmos com muitas dores.”. 
 Muito bem. Tendo mostrado em que a bem-
aventurança não consiste, eu mostrarei agora em 
que ela consiste: 
Em primeiro lugar, consiste em alegria, em regozijo 
e gozo pela certeza das coisas que o espírito possui. 
Um homem pode possuir uma propriedade e 
contudo não desfrutá-la. Ele pode ter o domínio da 
coisa mas não o seu conforto. Mas a verdadeira bem-
aventurança sempre produz prazer na alma. 
 Em segundo lugar, a bem-aventurança melhora 
a alma, e a enobrece, tornando-a mais preciosa para 
Deus e para o seu próprio possuidor. 
A bem-aventurança traz deleite verdadeiro e 
duradouro. 
Na verdadeira bem-aventurança há variedade. E 
somente em Jesus há a plenitude de todas as coisas 
das quais necessita o nosso espírito, como se vê em 
Col 1.19. 
A verdadeira bem-aventurança tem a eternidade 
12 
 
estampada nela, e deve ser inabalável, algo que não 
admita nenhuma mudança ou alteração. 
O crente já se encontra abençoado em certo sentido. 
Somente o fato de ter escapado da condenação 
eterna por estar em Cristo já é uma grande bênção. 
Mas há muitas bênçãos ocultas em Cristo que o 
crente é convocado a buscar através de uma vida 
devotada a Deus. 
Simei amaldiçoou Davi mas ele não se importou, 
ainda que em grande angústia e tribulação, porque 
tinha a convicção que ele era um abençoado de 
Deus. 
Os santos são coparticipantes da natureza divina 
como se afirma em II Pe 1.4. Eles foram abençoados 
por Deus com todas as bênçãos espirituais nas 
regiões celestes em Cristo como se vê em Ef 1.3. 
Os crentes têm a semente de Deus neles (I Jo 3.9), e 
esta semente é a semente da bem-aventurança. 
A flor da glória nasce da semente da graça. 
A graça e a glória não diferem em tipo mas em grau. 
A graça é a raiz e a glória o fruto. 
A graça é a gloria no amanhecer, e a glória é a graça 
no entardecer. 
A graça é o primeiro elo da corrente da bem- 
13 
 
aventurança. 
Mas todo aquele que tem o primeiro elo da corrente 
na sua mão, tem a posse da corrente inteira com 
todos os seus demais elos. 
Os santos já são bem-aventurados porque os seus 
pecados não lhes serão mais imputados para juízo 
condenatório. Toda a dívida dos seus pecados foi 
paga por Cristo na cruz. 
Os santos já são bem-aventurados porque têm o selo 
do Espírito Santo. Eles têm todas as coisas desta vida 
cooperando para o seu bem. Tanto a prosperidade 
quanto a adversidade pode torná-los melhores, quer 
em gratidão, quer em devoção, santificação e 
adoração. 
Os santos já são bem-aventurados porque eles 
podem ser achados debaixo da cruz, mas não mais 
da maldição. 
 
 
 
 
 
 
14 
 
1 – Os Pobres de Espírito 
Falemos agora sobre a primeira bem-
aventurança. 
O Senhor Jesus diz em Mateus 5.3: “Bem-
aventurados os pobres de espírito, porque deles é o 
reino dos céus.”. 
Nós podemos observar o toque e aroma da 
divindade neste sermão do Senhor, o qual vai além 
de toda a filosofia humana. 
Na verdade ele vai no sentido contrário da filosofia 
humana, porque aqui se diz que a pobreza produz 
riquezas, e não somente isto, que aquele que é 
enriquecido pela pobreza aqui referida, possui um 
reino. 
De igual modo, nós veremos na bem-aventurança 
que se segue a esta primeira, que o choro, a tristeza, 
produz conforto. 
Diz-se que a água das lágrimas acenderá a chama da 
verdadeira alegria. 
E mais ainda, que a perseguição trará felicidade, 
pois se diz que felizes são os perseguidos por causa 
da justiça. 
Observe como diferem a doutrina de Cristo e a 
opinião dos homens carnais. Eles pensam que bem-
15 
 
aventurados são os ricos, mas Cristo diz que bem-
aventurado é o pobre de espírito. 
O mundo pensa que bem-aventurados são aqueles 
que se encontram no pináculo da glória mundana, 
mas Cristo diz que bem-aventurados são os que 
estão no vale. 
Aqueles que usariam as joias de Cristo, mas que 
recusam a Sua cruz, são estranhos ao verdadeiro 
cristianismo. 
Observe a conexão entre a graça e a sua 
recompensa. 
Aqueles que são pobres de espírito terão o reino de 
Deus. 
Nosso Salvador encoraja os homens à santidade 
associando mandamentos com promessas. 
Ele amarra dever e recompensa juntamente. 
Uma parte destes versículos das bem-aventuranças 
consiste no dever e a outra parte consiste na 
recompensa. 
Nós observamos também nas bem-aventuranças 
que elas estão encadeadas e uma conduz a outra. 
Aquele que tem pobreza de espírito é quebrantado. 
Aquele que é quebrantado é submisso. 
16 
 
Aquele que é submisso é misericordioso e assim por 
diante. 
Nisto consiste a diferença entre um verdadeiro filho 
de Deus, e um hipócrita. 
O hipócrita se gaba de possuir alguma graça 
pretensiosa, no entanto ele não possui todas as 
graças, como verdadeiramente as possui aquele que 
é nascido do Espírito. 
O hipócrita não tem pobreza de espírito, nem pureza 
de coração. 
Mas um filho de Deus tem todas as graças no seu 
coração, ainda que seja em semente, e necessite 
ainda crescer em graus. 
Ser pobre de espírito não é o mesmo que ser pobre 
de bens terrenos, porque é possível ser pobre de 
bens e não ser pobre de espírito. 
Há também distinção em ser espiritualmente 
pobre, e ser pobre de espírito, porque aquele que 
não tem a graça de Jesus, é espiritualmente pobre, e 
não é pobre de espírito, e não conhece até mesmo a 
sua pobreza espiritual, como se vê em Apo 3.1. 
Bem, então, o que devemos entender por pobre de 
espírito? 
A palavra grega para pobre é ptocoi, e esta significa 
estar reduzido à mendicância, ser destituído de 
17 
 
riqueza, influência, posição, honra, e estar 
destituído de virtudes cristãs e riquezas eternas, ser 
desamparado, e impotente para realizar um 
objetivo, enfim, ser necessitado em todos os 
sentidos. 
Pobre de espírito significa então aqueles que são 
trazidos ao senso da sua própria miséria, em razão 
dos seus pecados, e que não veem nenhuma 
bondade em si mesmos, e em seu desespero se 
entregam completamente à misericórdia de Deus 
em Cristo. 
Pobreza de espírito é um tipo de autonegação. 
A pessoa se vê como o publicano da parábola de Lc 
18.13, e fala juntamente com Paulo que não há 
nenhuma justiça nela própria que lhe possa 
recomendar a Deus, como se vê em Fp 3.9. 
Por que Jesus teria começado o sermão do Monte 
com pobreza de espírito?Certamente o Senhor a colocou na frente das 
demais bem-aventuranças, citando-a antes das 
demais, porque a pobreza de espírito é o 
fundamento no qual todas as outras graças são 
colocadas. 
Tal como o fruto não pode ser produzido numa 
árvore sem raiz, de igual modo as demais graças não 
podem existir sem pobreza de espírito. 
18 
 
Quando uma pessoa vê os seus próprios defeitos e se 
vê imperfeita por causa dos seus pecados, então 
chorará na presença de Cristo. 
Esta pobreza de espírito fará com que tenha fome e 
sede de justiça, porque desejará estar conformado 
àquilo que Deus é em Sua própria natureza, a saber: 
santo. 
Assim, a pobreza de espírito é a causa da humildade, 
porque quando um homem vê a sua necessidade de 
Cristo, e como depende das suas graças, isto o leva a 
se humilhar. 
Até que sejamos pobres de espírito, não somos 
habilitados a receber a graça. 
Aquele que está inchado com uma opinião de auto 
excelência e autosuficiência, não está ajustado para 
receber a Cristo. 
Ele já está cheio de si mesmo. 
Se a mão está cheia de pedras, ela não pode receber 
ouro. 
O copo deve ser esvaziado primeiro, antes que possa 
ser enchido com a água viva do Espírito. 
Assim, Deus esvazia primeiro o homem de si 
mesmo, antes de enchê-lo com a Sua preciosa graça. 
19 
 
Somente o pobre de espírito pode ser alcançado pela 
missão de Cristo, porque se diz que ele veio para os 
que estão quebrados quanto ao senso da sua 
indignidade: 
Nós lemos no texto de Isaías 61.1: 
“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque 
o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos 
mansos; enviou-me a restaurar os contritos de 
coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a 
abertura de prisão aos presos;”. 
Até que sejamos pobres de espírito, Cristo não é 
precioso para nós. 
Antes de vermos nossas próprias necessidades, 
nunca veremos o valor que Cristo tem para nós. 
Os que são ricos em pobreza de espírito são aqueles 
que são verdadeiramente ricos da graça de Deus, 
porque Ele a derrama abundantemente sobre os 
humildes. 
Deste modo, as riquezas de um crente consistem na 
sua pobreza de espírito. 
Esta pobreza o habilita a um reino celestial. 
Logo, quão pobres são aqueles que pensam serem 
ricos, e quão ricos são aqueles que se veem pobres e 
necessitados da graça de Deus! 
20 
 
Se bem-aventurado é o pobre de espírito, então pelo 
sentido oposto podemos entender que o 
amaldiçoado é o orgulhoso de espírito, como vemos 
em Pv 16.5, que diz: 
“Todo homem arrogante é abominação ao Senhor; 
certamente não ficará impune.” 
Aqueles que se julgam muito bons para irem para o 
céu jamais o alcançarão. 
Tal como o fariseu de Lc 18.11 não serão justificados 
por Deus porque o orgulho deles não lhes permite 
enxergarem o quanto necessitam de 
arrependimento. 
Não admira que Cristo chame tais homens de cegos 
porque eles estão nus, mas se recusam a receber o 
vestido branco de justiça de Jesus para cobrirem a 
sua nudez, porque pensam que são ricos e que não 
necessitam de nada da parte do Senhor. 
Eles estão cegos e não poderão ver que estão nus 
caso não apliquem o colírio de Cristo aos seus olhos 
espirituais para que possam ver. 
O pobre de espírito é verdadeiramente rico para 
com Deus porque entre os muitos benefícios que lhe 
advêm de tal pobreza podemos destacar os 
seguintes: 
O pobre de espírito é desmamado de sua própria 
alma. O seu ego deixa de ser o centro de seus 
21 
 
objetivos e atenções, e Cristo passa a ocupar este 
lugar central em sua vida. 
Ele não confia em si mesmo e não busca apoio na sua 
própria alma para estar firme, mas nAquele que o 
fortalece em tudo. 
Assim, o pobre de espírito é um adorador e 
admirador de Cristo. 
Ele tem os pensamentos mais elevados acerca de 
Jesus. 
Ele se vê nu e corre para Cristo para se cobrir com a 
Sua veste de justiça, de modo a poder obter a Sua 
bênção. 
O pobre de espírito nunca está satisfeito com a 
pobreza da sua alma quanto aos dons e graças de 
Deus, e se empenha diligentemente em buscá-los 
nEle, para enriquecer o seu espírito. 
Ele lamenta sempre por não ter mais graça para 
poder glorificar ainda mais o nome do Seu Deus. 
Esta é a diferença principal entre o hipócrita e um 
verdadeiro filho de Deus. 
O hipócrita se gaba daquilo que pensa possuir, e o 
filho de Deus lamenta o que lhe falta e reconhece 
que sem a graça do Senhor nada é e nada tem. 
22 
 
Assim, aquele que é pobre de espírito é também 
humilde de coração. 
Homens ricos costumam ser orgulhosos e 
arrogantes, mas o pobre de espírito é manso e 
submisso. 
Além disso, quanto mais graça ele tem, mais 
humilde ele se torna, pois entende o quanto é 
devedor a Deus. 
Quando executa bem qualquer dever reconhece 
que o fez muito mais pela força de Cristo do que pela 
sua própria força; porque ele reconhece que o seu 
trabalho na obra de Deus foi realizado pela graça do 
Senhor, sendo, portanto, imitador do apóstolo 
Paulo, conforme podemos ver em I Cor 15.10. 
O pobre de espírito ora muito porque reconhece o 
quanto depende da oração porque vê o quão longe 
está do padrão da santidade divina, então implora 
mais graça e mais fé ao Senhor, para poder estar em 
conformidade com Ele. 
O pobre de espírito é muito grato porque sabe o 
quanto tem sido alvo da misericórdia de Deus. 
A pobreza de espírito é o fundamento no qual Deus 
constrói o edifício da glória. 
Deste modo, é possível que alguém tenha as 
riquezas do mundo e ainda ser pobre, porque a 
23 
 
verdadeira riqueza de alguém não consiste na 
quantidade de bens mundanos que ele possui, mas 
na grandeza da sua pobreza de espírito. 
Quanto mais pobre de espírito uma pessoa for, mais 
rica ela será da graça de Jesus, porque terá sempre 
mãos vazias para serem enchidas por Deus com as 
bênçãos espirituais que destinou aos crentes em 
Cristo Jesus. E assim se cumpre a verdade citada em 
Ef 1.3: 
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus 
Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos 
espirituais nas regiões celestes em Cristo;”. 
Esta pobreza é a nobreza do crente. 
Deus olha para o pobre de espírito como uma pessoa 
honrada. 
Aquele que é vil aos seus próprios olhos é precioso 
aos olhos de Deus, porque se apresenta verdadeiro 
diante dEle por se reconhecer ser um vil pecador. 
A pobreza de espírito aquieta a alma, pois leva a 
pessoa a descansar em Cristo. 
Ele se vê pobre, mas pode dizer juntamente com 
Paulo em Fp 4.19: “o meu Deus proverá todas as 
minhas necessidades”. 
24 
 
Os que desejam ser ricos segundo o mundo buscam 
construir um reino temporal aqui, mas o pobre de 
espírito almeja por um reino celestial. 
E os santos reinarão com Cristo numa maneira 
gloriosa, porque lhes é prometido não um reino 
terreno, mas o reino dos céus. 
Depois da morte os santos são coroados como 
vemos em Apo 2.10. 
Eles não são apenas perdoados por Cristo, mas são 
também coroados. 
A coroa é um símbolo de honra e autoridade. 
A coroa que os santos receberão é mais excelente do 
que todas as demais. E não haverá o risco de se 
perder esta coroa, conforme o temor que sentem os 
reis terrenos quanto à possibilidade de perderem as 
suas. 
Esta coroa não instigará inveja porque um santo não 
invejará outro, porque todos serão coroados. 
Esta coroa é imarcescível, porque não pode 
murchar, tal como murchavam as coroas de louro 
que os atletas vitoriosos recebiam no passado. E esta 
coroa dos crentes é também eterna, e jamais 
perderá o seu brilho, conforme se vê em I Pe 5.4. 
No terceiro céu, a saber, no paraíso, que é citado em 
II Cor 12.2, neste lugar sublime e glorioso será 
25 
 
erguido o trono dos santos, e este trono é seguro e 
inabalável, conforme a promessa que Jesus fez aos 
crentes vencedores em Apo 3.21:. 
“Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente 
comigo no meu trono.”.Um preço foi pago para isto. Jesus derramou o seu 
sangue na cruz para que os santos conquistassem o 
reino através do Seu sangue. 
Jesus foi pregado na cruz para nos trazer à coroa. 
Ele diz que bem-aventurados são os pobres de 
espírito porque eles têm um reino, a saber, o reino 
dos céus. 
Aqueles que têm um reino têm também uma coroa. 
A recompensa da pobreza de espírito é muito alta e 
não pode ser comparada a nenhum bem terreno 
passageiro. 
Nós entendemos então porque são tão fortes as 
exigências de Deus para que os Seus filhos se 
santifiquem em tudo, empenhando-se em todo o 
esforço para mortificarem o pecado e a carne, pois 
afinal, a recompensa que lhes é feita é a de um reino 
eterno celestial glorioso. 
Nós podemos pensar que é um grande sacrifício nos 
empenharmos para mortificar definitivamente o 
26 
 
pecado em nossas vidas, mas Deus não acha 
nenhum sacrifício em nos dar graciosamente um 
reino tão maravilhoso; ao contrário, foi do Seu 
inteiro agrado concedê-lo a nós, conforme se vê em 
Lc 12.32. 
Os crentes são herdeiros do reino, e qual destes 
herdeiros não deseja ser coroado? 
Tiago nos diz em Tg 2.5: “Ouvi, meus amados 
irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres 
quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e 
herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?”. 
Enquanto neste mundo, parece que os santos fiéis e 
piedosos são massacrados pelas suas próprias 
fraquezas, e pelas investidas furiosas dos 
principados das trevas sobre eles, mas eles são 
chamados pelo Senhor a exultarem em tudo isto 
porque a fidelidade deles será recompensada com 
um reino onde serão consolados definitivamente de 
todos os seus sofrimentos. 
Para que nós tivéssemos a firme certeza desta 
esperança Deus colocou o reino dentro de nós. 
O reino de Deus está dentro do crente como se vê em 
Lc 17.21. 
Este reino significa o reino da graça no coração. 
E a graça pode ser comparada a um reino porque 
27 
 
ordena a lei de Deus no espírito e executa tudo o que 
é necessário para a nossa transformação de glória 
em glória à própria imagem e semelhança do 
Senhor. 
A graça rege sobre os nossos pecados destruindo-os 
e colocando-os com sua autoridade, em cadeias. E 
governa assim sobre o orgulho, sobre a paixão e a 
incredulidade. 
Se há evidências seguras deste reino da graça 
trabalhando no nosso coração, então podemos estar 
certos de que entraremos no reino dos céus depois 
da nossa morte, e de que seguramente seremos 
coroados por Cristo para reinarmos juntamente 
com Ele. 
Lembremos que assim como há graus de tormento 
para aqueles que forem para o inferno, de igual 
modo há graus de glória para os herdeiros do reino 
de Deus, e assim quanto mais serviço alguém fizer 
para o Senhor, maior será a sua glória no reino 
futuro que lhe está prometido e garantido por Deus. 
Deus recompensará os homens segundo as suas 
obras, e assim, quanto for maior o serviço, maior 
será a recompensa. 
Deus tem planejado isto para nos incentivar a 
buscarmos uma santidade, devoção e serviço cada 
vez maiores. 
Quanto for maior a glória que Deus receber através 
28 
 
de nossas obras, maior será a nossa própria glória 
quando estivermos reinando juntamente com 
Cristo. 
Isto será uma grande honra para nós pelo modo 
como o Senhor nos distinguirá como forma do Seu 
agrado pela nossa fidelidade a Ele. 
Basílio disse que a esperança de um reino deveria 
levar o crente a ter coragem e alegria em todas as 
suas aflições. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
2 – Os que Choram 
 
Há oito degraus na escada da bem-aventurança. 
Eles podem ser comparados à escada de Jacó que 
alcançava o topo do céu. Nós já analisamos o 
primeiro e agora falaremos sobre o segundo degrau, 
que é o da consolação que nos vem pelo fato de 
chorarmos. 
Nós temos que passar pelo vale das lágrimas para 
podermos chegar ao paraíso. 
Choro é um assunto triste e desagradável para se 
tratar, mas não é nisto em que consiste a bem-
aventurança, senão no consolo que vem depois do 
choro. 
O choro é colocado aqui no lugar do 
arrependimento. E o que o texto quer afirmar é que 
os quebrantados são bem-aventurados, porque 
embora as lágrimas dos santos sejam lágrimas 
amargas, contudo elas são lágrimas abençoadas. 
Há uma tristeza mundana que consiste geralmente 
no lamento pela perda de coisas terrenas, e há uma 
tristeza diabólica que é o lamento por não se poder 
satisfazer aos desejos pecaminosos, e à soberba da 
vida. 
Há dois objetos da tristeza espiritual referida por 
Jesus nesta bem-aventurança: primeiro, tristeza 
30 
 
pelo nosso próprio pecado, e segundo, tristeza pelo 
pecado de outros. 
Enquanto nós tivermos o fogo do pecado queimando 
em nossas vidas, nós, temos que ter a água das 
lágrimas para extingui-lo (Ez 7.16). 
João Crisóstomo dizia que bem-aventurados não 
eram necessariamente aqueles que choram pelos 
mortos, mas os que choram por causa do pecado. 
A Caim aborreceu mais o castigo que Deus proferiu 
sobre ele, do que o seu próprio pecado. Ele disse que 
o seu castigo era mais do que o que ele poderia 
suportar. Em vez de chorar e se arrepender ele se 
endureceu no seu pecado. 
Assim, a declaração de Caim é uma rebelião e não 
uma demonstração de arrependimento. 
Tal como ele há muitos que rasgam as suas vestes 
diante de Deus, mas não os seus corações. 
Um arrependimento sincero é espontâneo e 
voluntário. 
Um arrependimento verdadeiro é espiritual, pois 
nos faz lamentar muito mais pelo pecado do que 
pelo sofrimento ao qual o nosso pecado deu causa. 
Faraó estava triste pela pestilência que o Egito 
estava sofrendo, mas não pela pestilência que havia 
em seu próprio coração endurecido, que estava 
31 
 
dando causa a todos aqueles juízos que Deus 
despejou sobre o Egito nos dias de Moisés. 
Um pecador pode assim lamentar os juízos que 
acompanham os seus pecados, e não lamentar 
propriamente pelo pecado. 
A palavra hebraica para pecado é hatat, e significa 
rebelião. 
Esta palavra define bem o que é o pecado, porque 
um pecador luta contra Deus. 
Então bem-aventurados são todos os que conhecem 
o que significa o pecado e que se entristecem pela 
sua condição de pecadores, com o desejo de serem 
santificados por Deus, e serem libertos dos seus 
pecados. 
Nós temos que chorar pelo pecado como sendo a 
forma de ingratidão mais alta. 
Nós pecamos contra o sangue de Cristo e contra a 
graça do Espírito Santo e não choraremos? 
Nós reclamamos da descortesia que sofremos da 
parte de outras pessoas e não choraremos pela 
nossa própria descortesia para com Deus? 
Mas não são apenas estes os motivos pelos quais 
devemos chorar por causa do pecado. Nós devemos 
chorar também o fato de o pecado nos impor uma 
32 
 
privação, pois nos impede de ter comunhão com 
Deus. 
Por isso, as lágrimas do evangelho devem cair do 
olho da fé. Se estas lágrimas espirituais de tristeza 
pelo pecado não fluírem de nós, de maneira alguma 
poderemos receber as consolações do Espírito 
Santo, traduzidas no derramar das suas graças em 
nossos corações. 
As águas de um verdadeiro arrependimento são 
águas que limpam. Elas levam para longe, como 
numa inundação, toda a sujeira dos nossos pecados. 
Tal como o apóstolo Paulo diz em II Cor 7.10: 
“Porque a tristeza segundo Deus opera 
arrependimento para a salvação, o qual não traz 
pesar; mas a tristeza do mundo opera a morte.” . 
Este tipo de tristeza pelo pecado que é segundo 
Deus, traz indignação contra o pecado, luta contra o 
pecado, defesa da justiça de Deus: 
Diz-se que bem-aventurados são os que choram, 
porque lágrimas procedem dos olhos, e a palavra 
hebraica para olho, é ain, que é a mesma palavra 
usada para fonte, manancial. 
Isto indica que as nossas lágrimas por causa do 
pecado têm que jorrar continuamente de nossos 
olhos espirituais, assim como a água que jorrade 
33 
 
uma fonte. 
As águas do arrependimento não devem 
transbordar somente pela manhã, mas durante 
todos os períodos do dia. 
Como Paulo disse: eu morro diariamente'”” (I Cor 
15:31), assim um crente também deveria dizer: “eu 
lamento diariamente”. 
Esta tristeza pelo pecado é o melhor antídoto contra 
a apostasia, a saber, para não se voltar as costas para 
Deus e abandonar a comunhão dos santos na Igreja. 
Até mesmo os próprios filhos de Deus têm que 
chorar pelo pecado, pedindo perdão a Deus, para 
perdoar pecados passados, presentes e futuros, 
porque assim como o arrependimento é renovado, o 
perdão também é renovado. 
Caso os pecados pudessem ser perdoados antes de 
serem cometidos, isto tornaria nulo o ofício de 
Cristo de nosso Mediador e Sumo-Sacerdote, 
porque não haveria necessidade da Sua intercessão 
em nosso favor junto do Pai. 
É importante saber que embora o pecado seja 
perdoado, ele ainda tentará se rebelar, embora seja 
coberto, no entanto não está curado (Rom 7.23). 
Assim como a água penetra no casco de um barco 
furado, e deve ser escoada continuamente para que 
o barco não afunde, de igual modo navegamos nas 
34 
 
águas do pecado, que devem ser continuamente 
escoadas de nossas vidas através do 
arrependimento. 
Assim como nós choramos pelos nossos próprios 
pecados, devemos também chorar pelos pecados de 
outros. Chore pelos erros e blasfêmias da nação. 
Chore pelo quanto a vontade de Deus é transgredida 
no mundo, pelo quanto a Sua Palavra é desonrada e 
quanto o Seu santo nome é blasfemado. 
Nossas lágrimas podem ajudar a extinguir a ira de 
Deus, que está pronta a ser despejada sobre o 
mundo pecador. 
Por isso a Palavra nos ordena a interceder em favor 
de todos os homens, e a maior parte desta 
intercessão consiste no pedido de misericórdia a 
Deus pelos seus pecados, como podemos ver em I 
Tim 2.1,2. 
Quando há sinais de que a ira de Deus está pronta 
para irromper sobre a nação, sobre os nossos lares, 
igrejas, não há momento mais oportuno para 
intensificarmos a nossa tristeza em 
arrependimento pelo pecado, porque quando Deus 
tira a Sua espada da bainha para pelejar contra o 
mundo de pecado, quando parece que Ele está de pé 
no limiar do templo, pronto para levar de nós o Seu 
evangelho e nos abandonar, nossas lágrimas 
possivelmente podem fazer com que cesse a Sua ira 
e Ele volte a ser favorável a nós. E este procedimento 
35 
 
é ordenado na própria Bíblia, como podemos ver os 
profetas Isaías, Oseias, Joel, Sofonias, entre outros. 
A Ceia do Senhor é também outro momento 
oportuno para nos entristecermos pelos nossos 
pecados e confessá-los a Deus. 
Se ela foi instituída por Jesus para ser um memorial 
da Sua morte, então certamente Ele deseja que 
façamos uma justa avaliação dos nossos pecados, 
pois foi exatamente por causa deles que Ele morreu 
na cruz. 
Se é pela morte do Senhor que alcançamos 
misericórdia da parte de Deus, não podemos 
esquecer que sem uma tristeza amarga pelo pecado 
não podemos receber tal misericórdia, porque a 
ausência de tristeza pelo pecado indica o nosso 
desprezo pelo Seu sacrifício, e a falta de 
reconhecimento da necessidade que temos da Sua 
misericórdia para sermos perdoados. 
Quando há ausência de sensibilidade pelo pecado, o 
coração permanece endurecido como pedra. E uma 
pedra não é sensível a qualquer coisa. Um coração 
de pedra é conhecido por sua inflexibilidade. Uma 
pedra não se dobra e não se rende ao toque. Por isso 
um coração endurecido não se inclinará diante do 
cetro de Cristo. 
Há muitos murmuradores, mas poucos 
quebrantados de coração. A maioria está como o 
36 
 
chão rochoso no qual há falta de umidade, como se 
vê na parábola do semeador. 
Nós ouvimos muitos lamentos em tempos difíceis, 
mas os que lamentam não estão conscientes de 
terem um coração endurecido. 
Quando Deus chama os homens ao arrependimento 
em vez de lamentarem por seus pecados, eles 
endurecem seus corações e se alegram em suas 
luxúrias em vez de se entristecerem, eles se 
colocam na situação de juízo extremamente 
perigosa, citada em Is 22.12-14. 
É exatamente para evitar este terrível 
endurecimento de coração que o apóstolo Tiago nos 
ordena a transformar o nosso riso em pranto, 
quando há pecados em nós ou em outros para serem 
lamentados, em vez de vivermos nos alegrando 
desconsiderando tais pecados numa clara 
demonstração de desprezo aos juízos de Deus. 
“Senti as vossas misérias, lamentai e chorai; torne-
se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em 
tristeza.” (Tg 4.9). 
É melhor chorar pelo pecado e ser alegrado por 
Deus, do que se alegrar agora no pecado, e depois 
chorar eternamente num juízo eterno. 
É neste sentido que entendemos as palavras 
proferidas por Cristo em Lc 6.24,25. 
37 
 
“24 Mas ai de vós que sois ricos! porque já 
recebestes a vossa consolação. 
25 Ai de vós, os que agora estais fartos! porque tereis 
fome. Ai de vós, os que agora rides! porque vos 
lamentareis e chorareis.” (Lc 6.24,25). 
É somente quando o pecado cessar que as lágrimas 
também cessarão (Apo 7.17). 
Por isso, enquanto estivermos neste mundo, 
devemos evitar a todo custo a maldição de um 
engano terrível que é muito comum de se ver, pois 
não são poucos os que afirmam a misericórdia de 
Deus como pretexto para continuarem em seus 
pecados. 
Assim, alguém afirma que Deus é misericordioso e 
então se entrega à prática deliberada do pecado. 
Mas afinal para quem é a misericórdia? 
Para o pecador que não se arrepende, ou para o 
pecador entristecido? 
Não há misericórdia para aquele que não pretende 
abandonar o pecado. 
Deus faz uma proclamação de misericórdia ao 
quebrantado, e como pode então aquele que vive 
abertamente em rebelião contra Ele reivindicar o 
benefício do Seu perdão? 
38 
 
Outro grande perigo para o endurecimento do 
coração é o fato de se pensar que há pecados 
pequenos que não são considerados por Deus. 
“Não é um pequeno pecado?”. 
Eles dizem. 
E assim ficam endurecidos e insensíveis e incapazes 
de lamentar por suas misérias. 
E quem buscaria a Deus com um coração penitente 
em busca de misericórdia, enquanto continuar 
pensando que o pecado é apenas uma coisa leve? 
Nenhum pecado pode ser pequeno porque é contra 
a Majestade do céu. 
Não há nenhuma traição pequena, porque todas elas 
são contra a pessoa do Rei Jesus. 
Não permita, portanto, que Satanás lance uma 
nuvem diante de seus olhos para que você não veja 
a real dimensão do pecado. 
Ninguém se iluda com a infinita paciência e 
longanimidade de Deus que faz com que ele não 
execute imediatamente a Sua sentença sobre o 
pecado. 
Deus não é um credor precipitado que requer o 
pagamento imediato da dívida e que não dá 
qualquer tempo para o seu pagamento. 
39 
 
A longanimidade de Deus não deve ser um motivo 
para abusarmos da Sua bondade e graça, e assim 
nenhum crente verdadeiro deveria permitir que o 
canal da tristeza que conduz ao arrependimento seja 
obstruído pela corrupção do pecado. 
O juízo do Senhor é como uma pedra que cai, cujo 
peso de impacto é maior quanto maior for o tempo 
da sua queda. 
Pecados contra a paciência de Deus são pecados 
terríveis porque nem mesmo os anjos caídos 
cometeram este tipo de pecado que é contra a 
misericórdia e longanimidade de Deus. 
 Então é preciso que o Espírito Santo produza em nós 
quebrantamento de coração e inspire nossas 
tristezas pelo pecado para que possamos expressá-
las diante de Deus. 
O consolo prometido no texto da bem-aventurança 
é produzido pelo Espírito. 
Observe que Deus reserva a melhor safra do seu 
vinho para o final. Primeiro ele prescreve tristeza 
pelo pecado e então serve por último o vinho da 
consolação. 
O diabo faz exatamente o contrário. Ele serve o 
melhor primeiro e reserva a pior safra para o final. 
Satanás oferece os seus pratos delicados diante dos 
homens. Elelhes apresenta o pecado de uma forma 
40 
 
colorida, atraente, com beleza, adocicado com 
prazer, com lucro, e então, no fim, a triste conta é 
apresentada para ser paga. 
Esta é a razão por que o pecado tem tantos 
seguidores, porque mostra o melhor primeiro. 
Mas Deus mostra o pior primeiro. Primeiro ele 
prescreve um remédio amargo, o do 
arrependimento, e é isto o que nos leva a chorar, 
mas então Deus nos dá uma recompensa, a de 
sermos consolados conforme a promessa da bem-
aventurança. 
Por isso as lágrimas do evangelho não são perdidas 
porque são sementes de consolo divino. 
Depois da corrente de lágrimas o Espírito Santo faz 
fluir no nosso interior uma corrente de alegria. 
Daí, se dizer que aqueles que semeiam em meio a 
lágrimas ceifarão com alegria, conforme se lê no Sl 
126.5. 
O coração quebrantado é esvaziado do orgulho e 
então Deus o enche com a Sua bênção. 
O vale de lágrimas traz ao espírito um paraíso de 
alegria. 
A alegria de um pecador impenitente produzirá 
tristeza, porque é sempre este o salário que é pago 
pelo pecado. 
41 
 
Mas a tristeza do quebrantado produz alegria. “Sua 
tristeza será transformada em alegria” (João 16:20). 
As consolações que Deus dá aos quebrantados 
excedem todos os demais consolos e a raiz na qual 
estes confortos crescem é o Espírito Santo. 
Ele é chamado ”o Consolador” em João 14.26. 
O Espírito consola aplicando as promessas a nós 
mesmos e nos ajudando a tirar águas desses 
mananciais da salvação. 
O Espírito derrama o amor de Deus no coração do 
crente e sussurra secretamente a ele o perdão que 
recebeu para os seus pecados, e esta visão do perdão 
dilata o coração com alegria. 
Estes confortos são reais e verdadeiros, porque o 
Espírito de Deus não pode testemunhar aquilo que é 
falso. 
Há muitos nesta época que fingem confortar, mas 
os confortos deles são meras imposturas. 
Mas os confortos dos santos são verdadeiros porque 
eles têm o selo do Espírito Santo fixado neles. 
Quando um homem é trazido aos mandamentos de 
Cristo, para crer e obedecer, então ele fica 
preparado para receber a misericórdia. 
É por isso que antes de consolar o Espírito primeiro 
42 
 
convence do pecado. 
Quando o coração é arado pelo convencimento do 
pecado, Deus semeia nele a semente do conforto. 
Assim, aqueles que se vangloriam de conforto, mas 
que nunca foram convencidos ainda de seus 
pecados, nem quebrantados por causa dos seus 
pecados, devem ter motivo para suspeitar que o 
conforto deles não passa de uma ilusão de Satanás. 
O Espírito de Deus é um Espírito santificante, antes 
de ser um Espírito consolador. 
 Alguns falam sobre o Espírito confortante, mas 
nunca tiveram o Espírito santificante. 
Assim, suas alegrias são falsas, e estes falsos 
confortos deixarão os homens na morte. 
Eles terminarão em horror e desespero. 
Então os efeitos da verdadeira consolação do 
Espírito Santo são completamente diferentes dos 
confortos de Satanás, que muitos alegam ser de 
Deus. 
O diabo é capaz, não somente de se transfigurar em 
anjo de luz, como se lê em II Cor 11.14, como também 
em se disfarçar em consolador. 
Mas todos os consolos de Deus nos conduzem à 
43 
 
humilhação porque não permitem que sejamos 
inchados com orgulho, apesar destes consolos do 
Espírito Santo elevarem o nosso coração em 
gratidão. 
Os confortos que Deus dá aos quebrantados não são 
misturados. Eles não trazem pesar conforme se 
afirma em II Cor 7.10. 
Mas os confortos mundanos são como água 
misturada com sujeira, porque em meio aos 
sorrisos o coração está triste. 
O pecador pode ter um rosto sorridente enquanto 
tem uma consciência que o acusa. 
Mas os confortos espirituais são puros. Eles não são 
misturados com culpa porque lançam fora o medo e 
trazem o perdão de Deus. De modo que o consolo 
que vem depois da tristeza pelo pecado é a alegria do 
Espírito Santo, e nada mais do que alegria. 
Tão doces são estes confortos do Espírito que eles 
enfraquecem muito e moderam nossa alegria em 
coisas mundanas. 
Aquele que tem bebido da água do Espírito, não terá 
depois sede de água; e aquele homem que tem uma 
vez provado quão bondoso é o Senhor e bebido do 
Espírito, não terá sede imoderada por delícias 
terrenas. 
O Espírito Santo não pode produzir no nosso espírito 
44 
 
alegrias impuras tal como o sol não pode produzir 
trevas. 
Assim aquele que tem os confortos do Espírito Santo 
se manifestando nele, nunca desejará negociar com 
o pecado, porque ele mataria tais confortos. 
Os confortos que Deus dá para os seus quebrantados 
nesta vida são confortos gloriosos: “Alegria cheia de 
glória” como se lê em I Pe 1.8. 
Eles são gloriosos porque eles são um antegosto 
daquela alegria que nós teremos no céu. 
São tão gloriosos os confortos do Espírito que um 
crente nunca está tão triste que não possa se alegrar. 
Observe então que é verdadeiramente bem-
aventurado o que chora, porque o quebrantado é um 
privilegiado, pois será confortado por Deus. 
Os olhos do quebrantado não devem estar tão cheios 
de lágrimas a ponto de lhe impedir de enxergar as 
promessas de perdão no sangue de Jesus Cristo. 
A virtude e conforto de um remédio está em usá-lo. 
De igual modo quando as promessas forem 
aplicadas com fé, elas trarão conforto. 
Mas lembremos que uma mente mundana pode nos 
privar do conforto divino. 
Deus esconde o seu rosto daqueles que amam o 
45 
 
mundo e que se conformam ao modo do mundo. 
Um coração, enquanto mundano, não deve contar 
com as consolações do Espírito Santo. Aquele que 
busca confortos terrenos apagará com estes falsos 
confortos o verdadeiro conforto do Espírito. 
Devemos evitar também a tentação de fazer dos 
confortos divinos o fim mesmo da vida cristã, 
porque até mesmo ao Senhor faltaram tais 
confortos em determinados momentos de seu 
ministério terreno, e é de se esperar que o mesmo 
suceda conosco. 
Mas embora um filho de Deus nem sempre tenha 
conforto expressado em flor, ele sempre o tem em 
semente. 
Embora ele não sinta conforto de Deus contudo ele 
está debaixo do Seu conforto. 
Um crente pode ser elevado em graça e ser 
rebaixado em conforto. 
As montanhas altas estão sem flores. 
As minas de ouro têm pouco ou nenhum trigo 
crescendo nelas. 
O coração de um crente pode ser uma mina de ricos 
filões de graça, entretanto ser estéril de conforto. 
Entretanto, o quebrantado é o herdeiro do conforto, 
46 
 
porque somente por um breve momento Deus 
poderá abandonar as pessoas do Seu povo como 
vemos em Isaías 54.7, contudo há um tempo que 
vem brevemente quando os quebrantados terão 
todas as lágrimas enxugadas de seus olhos, e serão 
plenamente cheios de conforto. 
Esta alegria está reservada para o céu. Porque se 
diz que são bem-aventurados os que choram porque 
deles é o reino dos céus. Aleluia. Amém! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
3 – Os Mansos 
 
Vamos da continuidade ao nosso comentário 
sobre as bem-aventuranças, falando agora sobre a 
terceira bem-aventurança, citada por Jesus no texto 
de Mateus 5.5, no qual lemos o seguinte: 
“Bem-aventurados os mansos, porque eles 
herdarão a terra.”. 
Esta mansidão tem um aspecto duplo, mansidão 
para com Deus e mansidão para com o homem. 
Na mansidão para com Deus duas coisas são 
insinuadas: a primeira é a submissão à Sua vontade; 
e a segunda, o dobrar-se à Sua Palavra. 
Ser manso então em relação a Deus significa seguir 
o exemplo de mansidão que Jesus nos deixou sendo 
submisso à vontade do Pai, e por ter se dobrado 
inteiramente à Sua palavra, vivendo debaixo do 
exclusivo poder e direção do Espírito Santo. 
Assim, é espiritualmente submisso aquele que se 
conforma à mente de Deus, e não luta contra as 
instruções da Sua santa Palavra, mas com as 
corrupções do seu coração. E quão feliz é isto, 
quando a Palavra vem com majestade e é recebida 
com mansidão no coração,como se diz em Tiago 
1.21. 
Este ato de receber a Palavra com mansidão referido 
48 
 
por Tiago, significa acatar com submissão tudo que 
nos é ordenado nela pelo Senhor. 
A mansidão consiste basicamente em três coisas: a 
primeira, suportar danos; a segunda, perdoar danos, 
e a terceira, recompensar o mal com o bem. 
Vamos repetir para você poder memorizar em que 
consiste basicamente a mansidão: 
Primeiro, suportar danos. 
Segundo, perdoar danos. 
E terceiro, recompensar o mal com o bem. 
Quanto a suportar danos, podemos dizer desta graça 
da mansidão, que ela não é conseguida facilmente. 
Mas lembremos que um espírito submisso, tal como 
pano molhado, não pegará fogo facilmente. 
A mansidão é a rédea da raiva. 
As paixões são inflamáveis, mas a mansidão é a água 
divina que as apaga. 
A mansidão é a rédea da boca, porque amarra a 
língua e lhe dá um bom comportamento. 
A precipitação de espírito é oposta à mansidão. 
49 
 
Quando o coração ferve em paixão e ira, ele se 
encontra longe da mansidão. 
A raiva pode ser encontrada num homem sábio, 
mas ele não se permitirá ser dominado por ela, no 
entanto a raiva permanece no coração dos tolos, e 
tem ali a sua moradia. 
O homem iracundo é como pólvora, sempre pronto 
a entrar em chamas ao menor atrito. 
A ira altera o estado de consciência tanto como o 
álcool o faz no que está embriagado. Assim o uso da 
razão é suspenso naquele que se deixa dominar pela 
ira. 
Somente em alguns casos é justificado ficarmos 
irados. Há uma ira santa. Aquela ira sem pecado que 
é contra o pecado. Na qual mansidão e zelo podem 
estar juntos. 
Em assuntos da defesa da verdade do evangelho, um 
crente deve ser vestido com o espírito de Elias, e 
estar “cheio da ira do Senhor” como se vê em Jer 6.11. 
Cristo era manso conforme se diz em Mt 11:29, 
contudo era zeloso, como se vê em João 2.14,15. E 
este Seu zelo pela casa de Deus o consumiu. 
A malícia também é oposta à mansidão. A malícia é 
o retrato do diabo. 
Um espírito malicioso não é um espírito manso. 
50 
 
A disposição para se vingar também é oposta à 
mansidão. A vingança é um ofício para Deus e não 
para os homens. Por isso a Bíblia proíbe a vingança, 
como se vê em Rom 12.19. 
Lutas espirituais são legítimas, quando consistem 
na luta contra o diabo, e com a parte carnal do 
homem, e abençoado é todo aquele que busca se 
vingar das suas luxúrias. 
Mas outros tipos de lutas são ilegais. 
Passar por um dano sem vingança não traz qualquer 
descrédito à honra de um homem. 
Um espírito nobre esquece um dano que tenha 
sofrido, ainda que injustamente. 
No entanto, a autodefesa, ou legítima defesa, como 
é mais conhecida, é consistente com a mansidão 
cristã. 
Neste sentido os magistrados são ministros de Deus 
para vingarem o mal, como citado em I Pe 2.14 e Rm 
12.17, e assim, o exercício do ofício deles não é oposto 
à mansidão. 
A maledicência também é oposta à mansidão. A 
maledicência sempre carrega a intenção de 
desprezar, ofender e difamar outros. 
Quando Paulo chamou os Gálatas de insensatos, a 
51 
 
sua intenção não era a de ofendê-los e difamá-los, 
senão apenas de reformá-los pela repreensão que 
lhes dirigiu. 
Não é mansidão, mas fraqueza separar-nos da nossa 
integridade. 
Deve haver mansidão cristã, como também 
prudência cristã. Ambas devem caminhar lado a 
lado. 
É legítimo sermos nossos próprios defensores em 
face de acusações injustas que possamos sofrer. 
Somente haverá falta quando replicarmos os danos 
procurando pagá-los na mesma moeda com que os 
sofremos. 
Tendo considerado acerca da mansidão quanto ao 
seu aspecto de suportar danos, vejamos agora o 
relativo ao de se perdoar danos. 
Um espírito manso é um espírito perdoador. 
Por natureza os homens são dados a esquecerem a 
bondade que recebem de outros, mas lembram-se 
com facilidade dos danos que sofreram. 
Mas Deus exige que sejamos como Ele, a saber, 
perdoando de coração e esquecendo os danos que 
sofremos, conforme se exige em Mt 18.27. 
Deus perdoa completamente os nossos pecados. 
52 
 
E um crente verdadeiramente manso também 
perdoa todos os danos dos seus ofensores, em face 
do arrependimento deles. 
Deus perdoa frequentemente porque nós pecamos 
frequentemente. Como Ele perdoa setenta vezes 
sete nos ordena também que façamos o mesmo. 
É nosso dever estar sempre prontos para perdoar 
conforme se ordena em Col 3.13; ainda que 
tenhamos que suportar aqueles que parecem mais 
monstros do que homens, porque não deixam de 
nos fazer o mal a par de todo o bem que possamos 
lhes fazer. 
Mas nós cessaríamos de fazer o bem porque outros 
não cessaram de serem maus? 
Lembremos que quanto mais danos perdoarmos 
mais brilhará a nossa graça. 
Se faltar a algum crente esta virtude do perdão, 
então lhe faltarão também as demais graças. Porque 
onde há uma graça, há todas as demais. 
Se a mansidão estiver faltando, o que haverá é 
apenas uma falsa corrente de graça. A fé será uma 
fábula, o arrependimento uma mentira, e a 
humildade, uma hipocrisia. 
Considerando que você diz que não pode perdoar, 
pense em seu pecado. Seu próximo não é tão ruim 
lhe ofendendo quanto você é por não lhe perdoar. 
53 
 
Seu próximo, lhe ofendendo, transgride contra um 
homem, mas você, enquanto se recusa a lhe 
perdoar, peca contra Deus. 
Também considere o perigo que você está correndo 
negando-se a perdoar, porque Deus tem disposto o 
dever de perdoar de tal maneira que as suas ofensas 
não serão perdoadas por Ele, se você não perdoar as 
ofensas do seu próximo conforme vemos em Mc 
11.26. 
O terceiro aspecto relacionado à mansidão é 
recompensar o mal com o bem; e este é um grau 
mais elevado do que o anterior. 
Jesus diz em Mt 5.43,44: “Ouvistes que foi dito: 
Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. 
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, 
bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos 
odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos 
perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que 
está nos céus;”. 
E o apóstolo Paulo acrescenta em Rom 12.20,21: 
“Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de 
comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, 
fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua 
cabeça. 
Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o 
bem.”. 
54 
 
E também o apóstolo Pedro nos diz em I Pe 3.9: 
“Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; 
antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para 
isto fostes chamados, para que por herança 
alcanceis a bênção.”. 
A mansidão nos mostra a marca de um verdadeiro 
santo. Ele é de um espírito submisso, sincero. Ele 
não é provocado facilmente. 
Quando o crente se dispõe a vencer o mal com a 
mansidão, Deus honra a sua obediência à sua 
Palavra, fazendo com que triunfe a causa do bem. 
Deixe-me pedir a todos os vocês que se esforcem 
para buscarem esta graça superior da mansidão; 
conforme se ordena no texto de Sofonias 2.3: 
“Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da terra, 
que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a 
justiça, buscai a mansidão; pode ser que sejais 
escondidos no dia da ira do Senhor.” 
Buscar insinua que nós podemos perder esta graça 
da mansidão, não a alcançando. Então, nós temos 
que fazer uma exibição pública depois de achá-la. E 
isto faremos mostrando que somos de fato mansos 
tanto para aprender de Deus, quanto para suportar 
danos e perdoar ofensas sofridas. 
A mansidão é necessária em tudo o que fizermos, 
especialmente quando estivermos instruindo 
55 
 
outros no caminho da verdade conforme se ordena 
em II Tim 2.25. 
A mansidão conquista os oponentes da verdade. 
A mansidão é necessária quando ouvimos a Palavra, 
como se afirma em Tg 1.21. 
Aquele que ouve o sermão ou o ensino da verdade 
com preconceito e sem mansidão, não adquire 
nenhum bem, mas feridas. Ele transformará o azeite 
da graça de Deusem veneno e se ferirá com a espada 
do Espírito, que é a Palavra de Deus, em vez de 
vencer o Inimigo com ela. 
Paulo diz em Gál 6.1: “se algum homem chegar a ser 
surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois 
espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão; 
olhando por ti mesmo, para que não sejas também 
tentado.”. 
No original grego, o verbo para corrigir neste 
texto de Gálatas 6.1 é katartizo, que significa 
emendar, tal como um cirurgião faz a união de um 
osso fraturado com o cuidado de não causar outras 
lesões ao ferido. 
Somos indesculpáveis se não buscarmos a graça da 
mansidão porque temos este exemplo fixado na 
Bíblia, na vida dos servos de Deus e na do próprio 
Cristo. 
56 
 
“Dizei à filha de Sião: Eis que o teu Rei aí te vem, 
manso, e assentado sobre uma jumenta.”(Mt 23.5). 
Jesus foi insultado, mas não insultou os seus 
agressores como se lê em I Pe 2.23. 
Jesus nos ordena em Mt 11.29 a aprendermos do Seu 
próprio exemplo de mansidão. 
Moisés era o homem mais manso da terra, 
conforme se afirma em Nm 12.3. Quando os 
israelitas murmuravam contra ele em vez de se irar, 
ele intercedia em favor deles (Ex 15.24, 25). 
A mansidão é um grande ornamento de um crente 
como afirmado em I Pe 3.4. E quão agradável se 
torna aos olhos de Deus o crente que usa esta joia 
preciosa. 
Deus poderia facilmente esmagar os pecadores e 
enviá-los logo ao inferno, mas Ele modera a Sua ira 
porque embora esteja cheio de majestade, contudo 
está cheio de mansidão. 
A mansidão forja um espírito nobre e excelente. Um 
homem manso é um homem valoroso. Ele adquire 
uma vitória sobre si mesmo. A paixão surge de 
fraqueza, mas o homem manso pode conquistar a 
sua fúria. Aquele que é tardio para se irar, ou seja, 
que é longânimo, é melhor do que o poderoso, e do 
que aquele que conquista uma cidade, como lemos 
em Pv 16.32. 
57 
 
Ser manso é nadar contra a natureza, é contrariá-la, 
e, portanto, é algo difícil de ser conquistado, e por 
isso este esforço merece ser recompensado, e daí se 
dizer que os mansos herdarão a terra. 
A paixão pode fazer um inimigo de um amigo, mas a 
mansidão, ao contrário, pode fazer um amigo de um 
inimigo. 
Quando é dito que os mansos herdarão a terra, não 
significa que eles não herdarão mais do que a terra. 
Eles herdarão o céu também. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
 
4 – Os Que Têm Fome e Sede de Justiça 
 
Nós procederemos agora ao comentário da quarta 
bem-aventurança citada por Jesus em Mateus 5.6: 
 “Bem-aventurados os que têm fome e sede de 
justiça porque eles serão fartos.” 
Nós chegamos agora ao quarto passo da bem-
aventurança. 
A fome e a sede espiritual são abençoadas porque é 
prometido que serão saciadas por Deus. 
Toda fome e sede relativas à justiça do reino de Deus 
serão saciadas. 
A fome e a sede natural são desejos por alimento e 
água necessários para crescimento ou para a 
manutenção da vida. O pão e a água naturais provêm 
o sustento do corpo natural; e o pão e a água 
espirituais provêm o sustento do corpo espiritual. 
Qual é o significado da justiça referida por Jesus? 
Esta justiça é evangélica, a saber, que alcançamos 
por causa da nossa fé no evangelho. Ela é uma 
justiça dupla: uma que nos atribuída e outra que é 
implantada em nós. 
A justiça evangélica que nos é atribuída por Deus no 
dia da nossa conversão, quando cremos pela 
59 
 
primeira vez em Cristo, recebendo-O em nossos 
corações é a relativa à nossa justificação. Esta 
justiça que nos é atribuída é a justiça do próprio 
Cristo. 
 Ela nos é atribuída pela nossa fé nEle. Em virtude 
desta justiça, quanto à condenação eterna, Deus 
olha para o crente que foi justificado por tal justiça 
de Jesus, como se ele nunca tivesse pecado. Esta é 
uma justiça perfeita. É por causa desta justiça com a 
qual fomos justificados na conversão, que se diz em 
Col 2.10 que os crentes se encontram perfeitos em 
Cristo diante de Deus: “E estais perfeitos nele, que é 
a cabeça de todo o principado e potestade;”. É por 
causa desta justiça que lhe foi atribuída na 
conversão, que o crente terá fome daquela outra 
justiça que é implantada. 
Uma justiça implantada se refere à retidão inerente 
à pessoa do crente, ou seja, às graças do Espírito; à 
santidade do coração. 
Esta fome por esta justiça que é implantada 
comprova a existência da verdadeira vida espiritual. 
Daí Cristo afirmar que estes que têm fome e 
sede de justiça serão saciados, porque foram 
vivificados pelo Espírito Santo na conversão, e agora 
podem ter esta fome e sede, porque enquanto 
estavam mortos em delitos e pecados, sem a vida do 
Espírito Santo habitando neles, não poderiam ter tal 
fome e sede. 
60 
 
O crente pode, no entanto, perder o seu apetite por 
esta justiça evangélica que deve alimentar o seu 
espírito, caso venha a entristecer e a apagar o 
Espírito Santo, porque, neste caso, apesar de ter sido 
vivificado por Cristo, estará como morto perante 
Deus, porque as graças do Espírito estão prontas a 
morrer naqueles que se afastam da comunhão com 
Jesus. 
Um homem morto não pode ter fome. A fome 
procede da vida. A fome espiritual se seguirá ao 
novo nascimento (I Pe 2.2). Assim, sem esta fome 
espiritual não pode haver crescimento espiritual, 
porque somente os que têm fome se disporão a se 
alimentar do verdadeiro alimento espiritual. 
Tudo o que Deus requer de Seus filhos, para 
participarem do Seu banquete espiritual é que eles 
tragam apenas o seu apetite, porque Ele tem 
estabelecido um preço que é acessível a todos para 
obtenção das coisas divinas, como se lê em Is 55.1,2: 
“1 Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e 
os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e 
comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem 
preço, vinho e leite. 2 Por que gastais o dinheiro 
naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho 
naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me 
atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se 
deleite com a gordura.”. 
Assim não nos é ordenado que compremos a justiça 
com dinheiro. 
61 
 
Se alguém convidar amigos à sua mesa, ele não 
espera que eles deveriam trazer dinheiro para pagar 
pelo jantar deles, mas que venham somente com 
apetite. Assim, o Senhor diz que não é penitência, 
peregrinação, farisaísmo que Ele requer. Traga 
somente seu estômago se você tem fome e sede de 
justiça. 
O pecado tem um gosto doce para os ímpios porque 
eles não têm nenhuma fome espiritual de justiça. 
Eles estão cheios da sua própria justiça como se vê 
em Rm 10.3. E um estômago cheio recusa o favo de 
mel. Esta é a doença de Laodiceia. Ela estava cheia e 
não tinha nenhum estômago para valorizar o colírio 
e o ouro de Cristo, conforme se lê em Apo 3.17. 
Não há ninguém que esteja tão vazio da graça como 
aquele que julga estar cheio. 
A Palavra reprova aqueles que em vez de terem 
fome e sede de justiça, têm fome e sede de riquezas. 
Esta é a fome e a sede dos homens cobiçosos. A 
avareza é idolatria como se afirma em Col 3.5. 
Muitos crentes erigiram o ídolo de ouro no templo 
dos seus corações. O pecado mais difícil de se 
desarraigar é o da cobiça. Geralmente quando 
outros pecados deixarem os homens, este 
permanece. 
E a cobiça, o amor ao dinheiro, é a raiz na qual 
nascem todos os males. E a cobiça não produzirá 
fome e sede de justiça, senão fome e sede de toda 
sorte de injustiças. 
62 
 
Deste modo, o problema não está em ser a fome e 
sede fracas, mas haver a ausência total delas. Uma 
fome e sede fracas são como um pulso que bate 
fraco, mas mostra que há vida. E estes desejos fracos 
não devem ser desencorajados porque há uma 
promessa feita a eles de que a cana quebrada não 
será esmagada pelo Senhor como Ele afirma em Mt 
12.20. 
Uma cana é algo fraco em si mesma, e quanto mais 
se a cana estiver quebrada, entretanto não será 
esmagada e florescerá como a vara seca de Arão. 
Olhando em sua fraquezapara Cristo, Seu Sumo-
Sacerdote será ajudado por Ele porque é paciente, 
poderoso e misericordioso. 
Se você não tem aquele apetite como antigamente 
pelas coisas divinas, contudo não seja 
desencorajado, porque com o uso adequado dos 
meios da graça você pode recuperar seu apetite. 
Chamamos de meios de graça a oração, o louvor, o 
jejum, a adoração, a meditação e prática da Palavra 
de Deus, a comunhão dos crentes, e o compromisso 
com a obra do evangelho. 
As riquezas não duram para sempre, mas a justiça 
dura para sempre e é por isso que os homens são 
exortados a trabalharem por este alimento que não 
perece, e não para ajuntar riquezas terrenas. 
A menos que nós tenhamos fome desta justiça 
evangélica nós não podemos obtê-la, porque Deus 
63 
 
nunca jogará fora as Suas bênçãos naqueles que não 
as desejam. 
Assim como os exercícios físicos estimulam o 
apetite natural, de igual modo o exercício na 
piedade estimula o apetite espiritual, conforme se 
afirma em I Tim 4.7. 
Aos que têm fome e sede de justiça Deus promete 
dar-lhes plenitude de fartura e daí se dizer que os 
tais são bem-aventurados porque serão 
aperfeiçoados na justiça que eles desejam como 
algo vital para a sua subsistência espiritual. 
Deus saciará o espírito faminto porque Ele mesmo 
incitou esta fome. Ele plantou desejos santos em 
nós, e Ele não satisfaria esses desejos? 
Deus satisfará o faminto porque o espírito faminto é 
muito grato pela misericórdia. Deus ama dar a 
misericórdia dele onde ele pode ter um maior 
louvor. 
Nós nos encantamos em dar àqueles que são gratos. 
Deus enche o espírito faminto com plenitude de 
graça, paz e alegria. 
Assim é de fato uma grande bem-aventurança ter 
fome e sede de justiça. 
Considere por que Cristo recebeu o Espírito sem 
medida (João 3.34). Não foi para Si mesmo. Ele estava 
64 
 
infinitamente cheio antes. Mas ele estava cheio com 
a unção santa para este fim, a saber, para que ele 
pudesse derramar a Sua maravilhosa graça no 
espírito faminto. 
 Você é ignorante? Cristo estava cheio com 
sabedoria para poder lhe ensinar. 
Você está sujo? Cristo estava cheio com graça para 
poder limpá-lo. 
A alma não virá então a Cristo que tem toda a 
plenitude para saciar o faminto? 
Peçamos, portanto, a Deus que jamais nos falte o 
apetite espiritual pelo qual Ele nos dará crescimento 
e força, para podermos fazer a Sua vontade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
65 
 
5 – Os Misericordiosos 
 
Nós procederemos agora ao comentário da quinta 
bem-aventurança citada por Jesus em Mateus 5.7: 
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles 
alcançarão misericórdia.” 
Haveria necessidade de pregar sobre misericórdia 
mais do que nestes tempos desapiedados em que 
nós vivemos? 
Mas como muitos não sabem exatamente o que é 
misericórdia, falaremos primeiro sobre os vários 
tipos de misericórdia. 
A misericórdia é uma disposição por meio da qual 
nós carregamos no coração as misérias de outros e 
estamos prontos em todas as ocasiões a sermos 
instrumentos para o bem deles. 
Muitos confundem misericórdia com amor, mas há 
algumas diferenças marcantes entre ambos. 
Em algumas coisas o amor e a misericórdia são 
iguais, mas em outras eles diferem, como as águas 
de um rio que podem ter duas nascentes, mas se 
encontram no fluxo. 
O amor e misericórdia diferem nisto: o amor é mais 
extenso. O amor é um amigo constante que nos 
visita até mesmo quando estamos bem. 
66 
 
Já a misericórdia é como um médico que só nos 
visita quando estamos doentes. 
O amor age mais por afeto. 
Mas a misericórdia age mais por um princípio de 
consciência. 
A misericórdia empresta sua ajuda a outros, mas O 
amor dá seu coração a outros. 
Deste modo, eles diferem, mas o amor e a 
misericórdia concordam em que ambos estão 
sempre prontos a prestarem bons serviços. 
A misericórdia procede de um trabalho da graça no 
coração. 
Por natureza, nós estamos bem longe da 
misericórdia. 
O pecador é por natureza uma oliveira brava e não 
uma oliveira que dá bom azeite. 
O caráter e vocação do homem natural é ser 
desapiedado como se lê em Rm 1.31; e a misericórdia 
que ele possui é um instinto natural e não a 
misericórdia santificada que é um fruto do Espírito 
Santo. 
Por natureza nós não produzimos azeite, mas 
veneno; não o óleo da misericórdia, mas o veneno do 
pecado. 
67 
 
Além desta falta da misericórdia divina que não 
pode ser achada na nossa natureza terrena, há algo 
que é também implantado por Satanás, porque o 
príncipe das trevas trabalha no coração dos homens 
como se vê em Ef 2.2. E se ele domina os homens não 
é de se estranhar que eles sejam inclinados a serem 
implacáveis e sem misericórdia. 
Afinal, que misericórdia pode ser esperada do 
inferno? 
De forma que, se o coração é afinado com a 
misericórdia, é por causa da mudança que a graça 
produziu nele, conforme se vê em Col 3.12. 
Assim, antes de um homem ser misericordioso, é 
necessário que seja uma nova criatura; e a 
misericórdia é algo para ser aprendido com Deus, 
que nos ensinará isto de modo prático, na 
experiência da vida. 
Nós devemos ser misericordiosos às almas de 
outros, especialmente aquelas que não foram 
salvas. 
Realmente este é o principal tipo de misericórdia, 
porque o espírito é a coisa mais preciosa que existe. 
Mais do que nós sentimos pela morte física de 
alguém, nós deveríamos sentir pela sua morte 
espiritual, porque este é o estado permanente de 
toda pessoa que não conhece a Cristo, e também 
devemos sentir pela sua morte eterna, que se 
68 
 
seguirá à sua morte física. Assim uma alma 
misericordiosa reprovará os pecadores 
impenitentes na expectativa de que eles se 
convertam de seus pecados. 
Nós estaremos sendo misericordiosos quando 
lutarmos com eles pela salvação de seus espíritos e 
não permitirmos que eles desçam quietamente para 
o inferno. 
Se a casa de uma pessoa estivesse pegando fogo nós 
deixaríamos de lhe dar o devido aviso para não 
assustá-la quanto ao prejuízo que estava sofrendo? E 
nós ficaremos calados vendo alguém dormir o sono 
da morte e vendo o fogo da ira de Deus pronto para 
queimá-lo? 
Veja então como é um trabalho abençoado o 
trabalho do ministério! A pregação da Palavra nada 
mais é do que mostrar misericórdia às almas. 
Ministros que toleram o pecado por temor de não 
ofenderem as pessoas são maus ministros. 
É um erro pensar que ser agradável a todos, ainda 
que estejam perdidos em pecados é uma forma de 
mostrar estima e amizade por eles. 
Na verdade, ainda que muitas pessoas se sintam 
ofendidas e ressentidas com os pastores, quando 
eles pregam de maneira veemente contra o pecado, 
não importa, porque aquele que faz isto está sendo 
verdadeiramente misericordioso para com elas, 
69 
 
uma vez que é disto que depende o destino eterno 
feliz delas, caso venham a se arrepender dos seus 
pecados. 
Olhe como Jesus e João Batista pregavam em seus 
ministérios. Eles diziam “arrependei-vos e crede no 
evangelho” fazendo duras repreensões contra 
aqueles que viviam no pecado. 
Quando Jesus e João diziam aos fariseus que eles 
eram uma raça de víboras, que seriam cortados pela 
raiz pelo machado do juízo de Deus, eles estavam 
demonstrando verdadeiro amor e verdadeira 
misericórdia para com eles, porque estavam dando 
a eles o aviso solene do que lhes sucederia caso não 
se arrependessem dos seus pecados. 
Então fiel, misericordioso, e verdadeiramente 
amigo é o pastor que repreende aqueles que estão 
vivendo na prática deliberada do pecado. Ainda que 
aqueles que estão na carne façam um juízo errado 
pensando que isto é falta de misericórdia. 
Então estes pastores que não pregam contra o 
pecado são maus pastores. 
São ministros que não têm uma misericórdia 
verdadeira pelas almas perdidas. 
O cuidado deles é maior por dízimos do que por 
almas. 
Por realizações materiais do que por almas.70 
 
Os tais são mercenários e não ministros de Cristo, e 
caso tenham tido uma chamada para o ministério, 
acabaram se desviando dela. 
Como podem ser chamados de pastores aqueles que 
não possuem intestinos de misericórdia? 
Tais homens não alimentam os espíritos das 
pessoas com verdades sólidas. 
Quando Cristo enviou os seus apóstolos, ele lhes 
deu o texto que eles deveriam pregar e ensinar. 
Os ministros de Cristo devem pregar as coisas que 
pertencem ao reino de Deus. 
Eles são desapiedados se em vez de repartir o pão da 
vida, encherem as cabeças das pessoas com 
especulações e noções vazias, que fazem apenas 
cócegas na consciência. 
Há ministros que pregam como se eles estivessem 
falando uma língua desconhecida. 
 Alguns ministros gostam de planar nas alturas 
como a águia e voam acima da capacidade das 
pessoas, e se esforçam bastante para serem mais 
admirados do que compreendidos. 
É falta de misericórdia para com as almas pregar 
para não ser entendido. 
71 
 
Ministros deveriam ser estrelas para dar luz, não 
nuvens para esconder a verdade. 
É crueldade para com as almas quando nós 
andarmos para tornar as coisas fáceis em coisas 
difíceis. 
Muitos são culpados de subirem ao púlpito somente 
para exibirem a própria glória deles e divertirem as 
pessoas. Isto cheira mais a orgulho do que a 
misericórdia. 
Nós devemos também ser misericordiosos com os 
nomes de outros. 
Um bom nome é uma das maiores bênçãos na terra. 
Assim, é grande falta de misericórdia, uma grande 
crueldade, infamar o renome dos homens, 
conforme se vê em Rom 3.13. 
O homem orgulhoso e invejoso atacará a reputação 
de outros. 
Pensando em apagar os nomes que ataca, julga que 
o seu poderá brilhar mais do que os deles. 
O invejoso difama a dignidade dos outros, mas a 
Bíblia nos ensina a nos alegramos com a estima e 
fama de outros como se vê em Rm 1.8 e Hb 11.2. 
A calúnia é uma grande demonstração de falta de 
misericórdia. 
72 
 
A defesa do bom nome dos que são caluniados é 
uma grande demonstração de misericórdia. 
Lembremos que Deus requererá em juízo cada 
palavra ociosa que foi proferida pelos homens, 
especialmente aquelas que foram usadas para 
infamar outros. 
Em vez de infamarmos as pessoas, nós devemos ser 
misericordiosos em relação às ofensas que eles nos 
fazem. 
Estejamos prontos para mostrar misericórdia 
àqueles que nos prejudicaram. 
Nós lemos em Pv 19.11 que “A discrição do homem 
fá-lo tardio em irar-se; e sua glória está em esquecer 
ofensas.”. 
Nós devemos ser misericordiosos às necessidades 
de outros. Considere os pobres; veja as lágrimas 
deles, e os seus suspiros e gemidos. 
Deus demonstra a Sua misericórdia e cuidado com 
os pobres nos muitos mandamentos da Lei de 
Moisés que prescreveu para o benefício deles como 
se pode ver por exemplo em textos como Êx 23.11; 
Lev 19.9; 25.35 e Dt 14.28,29. 
Na verdade Deus agrava o Seu juízo nos ricos mais 
do que nos pobres, porque se aos primeiros deu 
confortos e facilidades neste mundo, no entanto 
pesou muito sobre eles a responsabilidade de 
73 
 
assistirem aos necessitados com suas riquezas, e na 
medida que não o fazem agravando a pobreza no 
mundo, sofrerão um maior juízo de condenação. 
No entanto, o pobre não foi cumulado com este peso 
de responsabilidade da parte de Deus, e nisto tem 
uma grande vantagem em relação aos ricos, e assim 
não houve nenhuma injustiça da parte de Deus em 
ter disposto a criação de tal sorte que houvesse 
pobres e ricos no mundo. Então a riqueza deve ser 
usada para a exibição de generosidade para com o 
próximo, conforme é da vontade de Deus. 
Por isso Deus requer as boas obras depois que somos 
justificados, mesmo que sejamos pobres, porque se 
somos pobres de bens materiais, nada nos impede 
de sermos ricos da graça de Jesus para usá-la em 
benefício de outros. 
Assim, apesar de sermos justificados somente pela 
fé, devemos lembrar que a fé justificadora nunca 
está só, porque deve ser acompanhada pelas boas 
obras. 
Embora as boas obras não sejam a causa da salvação, 
contudo elas são evidências da salvação. 
Embora elas não sejam o fundamento da nossa casa 
espiritual, contudo elas são a sua estrutura. 
Deste modo, não deve ser edificada uma fé em 
obras, mas devem ser edificadas obras em fé. 
74 
 
As boas obras são a pedra de toque da fé como se vê 
em Tg 2.18. 
Estes frutos das boas obras adornam a árvore da 
justiça. Assim deixe a liberalidade da sua mão ser o 
ornamento da sua fé. 
Pelo menos em dois aspectos as boas obras são em 
algum senso, mais excelentes do que a fé. 
Porque as boas obras são de uma natureza diferente 
e mais nobre. 
Embora a fé seja mais necessária para nós mesmos, 
contudo as boas obras são mais benéficas a outros. 
A fé é uma graça que nós recebemos, mas as boas 
obras são para o bem de outros, e é uma coisa mais 
abençoada dar do que receber. 
A fé é uma graça mais oculta. As boas obras são mais 
visíveis. 
A fé pode permanecer escondida no coração e pode 
não aparecer, mas quando são unidas as boas obras 
com a fé, a fé brilhará diante dos homens, por causa 
das nossas boas obras e trará glória ao Senhor. 
Lembremos sempre que fomos criados em Cristo 
Jesus para as boas obras como se afirma em Ef 2.10. 
Foi para este fim que fomos tornados filhos de Deus, 
em Cristo Jesus. 
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É nosso dever vivermos para atender ao propósito 
para o qual fomos criados. 
Através da misericórdia nos assemelhamos a Deus, 
que é um Deus de misericórdia. DEle é dito em 
Miqueias 7.18 que se deleita na misericórdia. 
Ele requer que o mal seja vencido com o bem. 
Exige que pratiquemos o bem como vemos em Hb 
13.16: “Mas não vos esqueçais de fazer o bem e de 
repartir com outros, porque com tais sacrifícios 
Deus se agrada.” 
Antes de fechar este assunto eu devo dizer que tudo 
o que fizermos deve ser de modo livre e voluntário e 
devemos fazê-lo em Cristo e para Cristo, porque 
estão perdidas, as melhores obras que não são 
originadas da fé. 
Todo fruto aceitável a Deus deve ser produzido na 
Videira Verdadeira. 
As obras de misericórdia devem ser feitas em 
humildade e sem ostentação. E se a nossa ação em 
atender à necessidade do pobre for feita de tal forma 
que venha a humilhá-lo, isto será em si mesmo um 
mal maior do que a própria necessidade dele. 
Sejamos então criteriosos no exercício da 
misericórdia. 
 
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6 – Os Puros de Coração 
 
Nós procederemos ao comentário da sexta bem-
aventurança citada por Jesus em Mateus 5.8: 
“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles 
verão a Deus.” 
Deus é tão puro de olhos que não pode ver o mal, e 
não pode contemplar a perversidade, como se 
afirma em Hc 1.13. 
Isto significa que os olhos de Deus são perfeita e 
puramente bons e não param para se deleitarem na 
observação da maldade. 
Os olhos de Deus não se detêm na contemplação do 
mal, antes têm repugnância a toda forma de 
maldade. 
Isto sucede com Deus porque a pureza é uma coisa 
sagrada perfeitamente refinada e que se levanta em 
oposição a tudo o que é sujo. 
Nós devemos distinguir os vários tipos de pureza. 
Primeiro, há uma pureza primitiva que está 
originalmente e essencialmente em Deus. 
A santidade é a glória da divindade. Deus é o padrão 
e protótipo de toda a santidade. 
Segundo, há uma pureza criada. 
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Assim, a santidade está nos anjos eleitos e esteve no 
começo da criação em Adão, antes dele cair no 
pecado. 
O coração de Adão não tinha a menor mancha ou 
impureza. 
Nós chamamos isto de ouro puro que não tem 
qualquer escória misturada nele. 
Tal era a santidade de Adão. 
Mas tal pureza absoluta como estava em Adão antes 
da sua queda no pecado, não será mais achada na 
terra. 
Nós temos que buscar tal pureza no céu para poder 
encontrá-la, e se a encontrarmos, ela será aqui na 
terra, uma pureza evangélica. 
Nesta pureza evangélica a graça se encontra

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