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Análise Psicanalítica do Crime das Irmãs Papin

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Disciplina: Psicanálise para Jacques Lacan e Wilfred Bion. 
Identificação da tarefa: Tarefa 4. Unidade 3. Envio de arquivo.
Pontuação: 15 pontos.
TAREFA 4
Ao longo da disciplina, discutimos sobre as principais contribuições psicanalíticas de Lacan e Bion. Realize pesquisa na literatura científica (devidamente referenciada), utilizando pelo menos duas referências, e faça uma crítica sobre a análise do estudo de caso sobre as irmãs Papin, de acordo com o extrato a seguir: 
Análise acerca de O Crime das Irmãs Papin de Jacques Lacan.
Jacques Lacan, autor que revolucionou o estudo da psicanálise, analisa, no texto em questão, do ponto de vista desses estudos, crime peculiar que ocorreu em sua época. O crime, dotado de características terríveis e intrigantes foi de autoria de duas irmãs, de 28 e 21 anos, que foram durante anos criadas de uma família burguesa, com a qual, estranhamente, não dialogavam, não trocavam palavra alguma, numa relação de silêncio absoluto e “obscuro”.
Certa noite, após banal corte de eletricidade e consequente reclamação das patroas (mãe e filha), as irmãs, num ato de furor, “...cada uma se apoderou de uma adversária, arrancou-lhe em vida os olhos das órbitas, fato espantoso, disseram nos anais do crime, e os destroçou. Depois, com a ajuda do que encontraram ao seu alcance, martelo, pichel de estanho, faca de cozinha, atacaram os corpos de suas vítimas, destruíram-lhes o rosto e, expondo seu sexo, talharam profundamente as coxas e nádegas de uma, para macular com esse sangue as da outra. Em seguida, lavaram os instrumentos desses ritos atrozes, purificaram-se e se deitaram na mesma cama.”.
Agiram com comportamento inusitado também durante o processo, quando não demonstraram qualquer motivo de raiva contra as vítimas, tendo apenas como preocupação partilharem a responsabilidade do crime. Após cinco meses afastadas uma da outra, Christine (uma das irmãs), apresentou violenta crise, com alucinações, em que tenta sem sucesso arrancar seus próprios olhos. Após, ambas foram condenadas à morte.
Seguiram-se intensos debates na tentativa de compreender o crime ocorrido por parte de psicólogos e cientistas. Lacan sugere uma teoria autônoma para solucionar o mistério, partindo de uma análise psicanalítica.
Segundo ele, a pulsão agressiva pode ser considerada inconsciente, “o que significa que o conteúdo intencional que a traduz na consciência não pode se manifestar sem um compromisso com as exigências sociais integradas pelo sujeito, isto é, sem uma camuflagem de motivos que é precisamente todo o delírio”. Ou seja, as explicações conscientes, que parecem muitas vezes sem nexo lógico, são manifestações, exigidas socialmente, do desejo inconsciente – manifestações que não tem linearidade, que se sucedem, repetem-se, como significantes, sintoma, afinal, “o inconsciente se estrutura como linguagem”.
Mas essa pulsão é dotada de relatividade social, sempre tem a intencionalidade de um crime, quase sempre de uma vingança, frequentemente de uma punição, uma expiação moralista proveniente de ideais sociais.
É dessa forma que o conteúdo intelectual do delírio parece uma superestrutura ao mesmo tempo justificadora e negativa da pulsão criminal. O delírio varia, dissipando-se com a realização dos fins do ato, e tais variações são, para Lacan, essenciais. Os temas delirantes expressos por Christine na prisão são sintomas típicos do delírio, da mesma forma que o desconhecimento sistemático da realidade, tomado efeito na ambivalência de toda crença delirante.
A forma da psicose das irmãs é estreitamente correlata, senão idêntica. Para Lacan, Freud dá a chave dessa compreensão. Segundo este, em seus estudos sobre a sexualidade infantil, ocorre, em certa época, redução forçada da hostilidade primitiva entre os irmãos, mas pode aí haver uma inversão anormal, em que hostilidade se converte em desejo, causando uma “fixação amorosa”. “Essa integração se faz, no entanto, segundo a lei da mínima resistência, por uma fixação afetiva ainda muito próxima do eu (moi) solipsista, fixação que merece ser chamada de narcísica e na qual o objeto escolhido é o mais parecido com o sujeito: esta é a razão de seu caráter homossexual”.
A ambivalência afetiva em relação à irmã mais velha dirige o comportamento autopunitivo da irmã mais nova: cada uma delas, prisioneira do narcisismo, se torna nova imagem dessa Irmã que nossa doente transformou em seu ideal. Tornam-se “almas siamesas”. Segundo Lacan, “na noite fatídica, sob a ansiedade de uma punição iminente, as irmãs misturam à imagem de suas patroas a miragem de seu mal”.
Do ponto de vista criminal, não restam dúvidas de que as irmãs são as autoras, confessas, do crime. O que torna tão intrigante o caso é que elas não fazem questão de se eximir da culpa, pelo contrário, assumem-na conjuntamente. A questão é se a punição a elas deve ser realizada sem discriminações, de maneira severa, levando em conta a crueldade do crime; ou se elas merecem ser tratadas, como vítimas de problemas psicológicos, do ponto de vista da saúde mental.
Como o próprio Jacques Lacan coloca, “Mas, observamos, utilizando-nos daqueles a quem assusta a via psicológica à qual engajamos o estudo da responsabilidade, que o adágio ‘compreender é perdoar’ está submetido aos limites de cada comunidade humana e que, fora desses limites, compreender (ou acreditar compreender) é condenar”.
O que se entende de toda a análise do caso em questão é que por mais hediondo que tenha sido o crime, o estado de saúde mental das autoras é evidentemente um estado de doença, em que são acometidas por aflições psíquicas. Não se deve analisar o fenômeno social e psicológico do crime como um julgamento entre o bem e o mal, uma luta maniqueísta cristã, cruzada moralista, ou coisa do gênero.
Dizem as teorias burguesas mais avançadas sobre o Estado que o crime tem razões mais complexas, e sua sanção é realizada pelo Estado, que não deve perseguir os anseios de particulares, mas preservar a ordem social e comum de todos, de maneira neutra e impessoal, e isso é alcançar a justiça. A função da pena, ao menos em teoria, no plano do dever-ser, é de ressocialização do condenado, de melhoramento do tecido social. Dessa forma, questiona-se que tipo de bem à sociedade e que tipo de justiça seria vindo do encarceramento ou pena de morte das autoras.
Entretanto, esse discurso apenas oculta a real causa de crimes extremos. A própria psicanálise ensina que elementos que parecem estar fora do sistema (no caso o social), que contradizem o todo e a unidade desse sistema, não são elementos externos, patológicos, mas parte integrante desse todo, manifestação do seu Real mais íntimo, são seus sintomas.
Crimes de tamanha crueldade e de difícil explicação são excessos de uma mesma realidade, que cria crimes mais brandos na sociedade, que provoca exploração, miséria e violência institucionalizada e internalizada enquanto saberes inconscientes na forma de ideologia.
Como coloca Slavoj Zizek, assim como a sociedade de consumo capitalista produziu um excesso que fugiu do seu controle, o fascismo, e necessitou da ajuda de seu oposto, o socialismo soviético, para dar cabo a esse extremo; nossa sociedade do fim da história, modelo, democrática, produz um excesso demasiado terrível, que lhe foge do controle, a criminalidade1, a qual para ser combatida, necessita da união com o lado mais terrível, oposto, da realidade democrática liberal, o sistema prisional absurdo e a polícia exterminadora – ambos pairam muito longe das garantias democráticas mínimas incluídas mesmo em legislação.
Mas o problema do crime está longe de ser resolvido, pois não pode ser tratado como elemento patológico, estranho, ao “desenvolvimento” do restante da sociedade (que segue como uma locomotiva que anda por sobre trilhos derretidos rumo ao abismo interminável) – a totalidade das relações explicita que o culpado flagrante pela realidade produtora de irmãs que cometem crimes brutais contra suas patroas, pedofilia, crimes contra mulheres (como a do recente caso do goleiro Bruno),etc. é a própria realidade.
O dever-ser dos manuais, que cinicamente colocam as metas de ressocialização em um Estado “neutro”, “impessoal”, como dito antes, fetichiza o problema, ocultando-o pro trás de pseudossolucões de caráter burocrático e técnico, elucubrando acerca de mil meias soluções que visam justamente fazer o que está sendo feito: recalcar os sintomáticos excessos de si mesmo, sem psicanalista, sem anestesia.
Esse fukuyamismo presente de maneira tão forte no “pensamento” jurídico deve ser combatido radicalmente, e, como dito por célebre filósofo alemão, ser radical é agarrar as coisas pela raiz, e a raiz para o homem é o próprio homem. Simplesmente, para acabar com o problema, deve-se acabar com o problema, e não preservar sua essência e causa ao tolher os repetitivos sintomas horríveis, que representam não mais que a própria totalidade das relações – a face oculta que os fukuyamistas (alguns de “esquerda”) preferem não ver.
O caso das irmãs Papin leva o debate sobre a consciência humana e sobre as causas obscuras de crimes estranhos e aparentemente injustificáveis, em que as causas são ocultadas pela vileza do ato praticado, de fato horrendo.
Compreender aqui significa muito mais que perdoar ou condenar as irmãs assassinas, tão culpadas quanto vítimas do crime de sangue que cometeram. Significa, inescapavelmente, agir. E esse agir, simplesmente, significa agir socialmente.
A igualdade formal assegura a existência de seu oposto perversor de sua unidade lógica, a desigualdade material – essa situação, aliada com outros excessos produz a necessidade do crime para sobrevivência, tanto material quanto psicológica.
Texto disponível em: http://fatossaoteimosos.blogspot.com.br/2010/10/analise-acerca-de-o-crime-das-irmas.html. Acesso em 27/3/2017.
 
O texto deve ter entre 300 e 600 palavras, excluídas as referências bibliográficas. 
Autora: Leila Bastos Medeiros
Texto: Análise acerca de O Crime das Irmãs Papin de Jacques Lacan (Jacques-Marie Émile Lacan foi um psicanalista francês. Depois dos estudos em medicina, Lacan se orientou em direção à psiquiatria e fez doutorado em 1932, com a tese Da psicose paranoica em suas Relações com a Personalidade).
A Psicose às Escuras
A partir das ponderações de Lacan vamos expressar nesta resenha nossas considerações, analisando o porquê de crimes tão hediondos a partir de duas irmãs consideradas, por muitos em sua cidade, como trabalhadoras, corretas, caladas, com boa reputação, ocorreram. Lacan elenca vários aspectos para tornar o entendimento de Christine e Léa quanto aos motivos que culminaram nos atos de crueldade contra Léonie (mãe) e Genevieve (filha), suas patroas. Segundo ele, a pulsão agressiva pode ser considerada inconsciente, que explicações conscientes que parecem sem nexo são manifestações que não tem linearidade, que se sucedem, repetem-se, como significantes, sintoma, pois o inconsciente se estrutura como linguagem; que a forma da psicose das irmãs é estreitamente correlata, senão idêntica; que a ambivalência afetiva em relação à irmã mais velha dirige o comportamento autopunitivo da mais jovem. Vimos, também, que um Estado neutro fetichiza a questão problemática do crime, bem como a questão social e jurídica. O crime das irmãs Papin, categoricamente, foi um crime hediondo, numa época de desvalia dos excluídos, em que todas as vertentes foram levadas a pensar na crueldade de duas empregadas contra suas delicadas e frágeis senhoras. O preconceito era a regra naquela época, tornando difícil a vivência à margem da sociedade que sempre precisou lutar para ter o direito de existir e manter seu nome longe das injustiças, contudo, de forma preconceituosa e como forma da sociedade manter seu caráter elitista, colocava-os à frente dos crimes mais violentos, como até hoje perdura: é amplo o direito dos abastados; é pobre a justiça em favor dos vulneráveis. Michel Foucault em sua obra |Vigiar e Punir, retrata de forma cristalina, relevante e recente para a contemporaneidade, seu estudo filosófico e histórico sobre o surgimento da prisão, assunto de maior importância para o meio jurídico e social, uma vez que abre-se uma caixa de pandora e se revela as penas como meio de suplício, punição, disciplina e prisão, tornando o condenado, indistintamente, um ser infame, entregue à liturgia punitiva, baseada no sofrimento e vigilância. Recendo o histórico de vida das irmãs, vimos que nasceram num lar totalmente disfuncional, e após seus nascimentos foram entregues a tios diferentes, criadas separadas entre si e de seus pais. Reencontraram-se quando já estavam com idade para tralharem e o fizeram juntas, sendo discriminadas e desvalorizadas, consideradas escória. Havia boatos que, na casa onde ocorreu o crime, eram abusadas psico e fisicamente por Léonie (depressiva, usava a patologia como desculpa da prática dos abusos). Para Lacan, tratava-se de um quadro clínico de paranoia das irmãs, ilustrado como relação especular. \neste tipo de relacionamento, um mecanismo identificatório conduz o sujeito a construir-se mediante o reconhecimento do outro. Dessa forma um sujeito se constitui a partir do espelhamento do outro. Essa relação concebida é constituinte da subjetividade. Para ele, essa relação de identificação tem a capacidade de produzir no sujeito uma transformação na condição de expressar-se através de imagens, definindo o sujeito como simbólico/linguagem, caracterizando sujeito de falta, ou seja, a violência seria resultado de um desejo não satisfeito, pela radical ausência de um objeto específico. Relacionamos esta falta à ausência do complexo de édipo não experimentado e a uma castração nunca ocorrida, já que ambas irmãs foram rejeitadas logo após o nascimento e entregue a terceiros. Havia nelas uma enorme carência que se refletia em uma desestruturação afetiva que deu lugar a aços muito intrínsecos entre ambas. São notórias as presenças de identificação imaginária cujo movimento transformatório, o “eu”, se alienaria na imagem refletida pelo outro em uma relação especular e dual, contando com a presença de intensa cumplicidade e sadismo. Uma psique problemática desenvolveu-se diante do relacionamento entre empregadas e patroas. Entendemos que, muito embora, a passagem pelo complexo de édipo não tenha sido adequada, devido aos seus históricos de vida, a relação de identificação, por passarem a viver juntas, os mesmos traumas, propiciaram uma certa estabilidade estrutural: eram unidas pelas dor, pelo mesmo desejo: serem amadas; sustentaram-se uma à outra. Uma identificação imaginária, quando interceptada por um elemento ameaçador, desestrutura a relação, desencadeando a psicose. Institui-se o “Eu Ideal”. Acreditamos que o gatilho do surto tenham sido as palavras de desprezo, desqualificação, humilhação e, principalmente, a ameaça de separá-las, momento em que projetaram seu ódio. Até porque, no meu entendimento, o desejo que existia não era um sentimento de amor pelas patroas, mas ao que elas representavam diante de suas fantasias: eram amadas. A agressividade que emergiu se constituiu como defesa/proteção contra o medo do aniquilamento, expulsando, totalmente, a pulsão, identificando-as com o objeto-dor. É a identificação fantasística que teme a satisfação do desejo, o alívio da tensão, o pleno estado de gozo. Ao desencadear o surto, apresentam-se o delírio, a ruptura, a emergência do real no ato do crime, juntando-se a esses meios relativos ao objeto, seus desejos sexuais recalcados. A mente psicótica não tem autointersecção, mas um pensamento (superfície) contínuo, unilátero; não há interior nem exterior. O que importa à psicanálise é a conjunção dos pensamentos concretos e abstratos (Cross-cap > superfície fechada). Mentes saudáveis possuem uma ordem interna do corpo sempre em perfeita continuidade com o meio ambiente. Existe só um Real, único, sem divisão, definido por sua modalidade de ser impossível de representar.
Referências:
- Psicose e desencadeamento: sustentação e ruptura. Pepsic Periódicos Eletrônicos em Psicologia. 2004, Barcelona. http://pepsi.bvsalud.org- Máscaras da violência: fendas na relação especular. Psicologia em Estudo. Maio/Agosto, 2007. http://www.scielo.br
- Násio, J. D. Introdução à topologia de Lacan. Editora Zahar, 2011. Rio de \janeiro

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