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Orando no Espírito com Spurgeon Traduzido, adaptado e editado por Silvio Dutra FEV/2016 2 A474 Spurgeon, Charles H. Orando no Espírito com Spurgeon./ Charles H. Spurgeon : tradução e adaptação Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 288p.; 14,8x21cm 1. Oração. 2. Pregação. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252 3 Sumário A Chave de Ouro da Oração........................... 4 Certeza do Êxito na Oração.......................... 29 Como Suplicar.................................................. 45 O Dever da Oração Incessante...................... 65 O Poder da Oração Unânime.......................... 83 “Orai sem cessar” (I Tes 5.17)....................... 90 Pedir e Receber................................................ 110 “Sede perseverantes na oração” (Rom 12.12)......................................................... 135 Nossa Oração Pública...................................... 155 Verdadeira Oração, Verdadeiro Poder...... 172 Oração de Davi na Caverna........................... 189 A Oração Espontânea...................................... 199 Oração de Intercessão................................... 212 Ordem e Argumento na Oração.................... 223 Orai, Orai Sempre............................................ 236 Oração a Deus em Angústia - um Sacrifício Aceitável......................................... 264 Incentivo a Confiar e Orar............................. 272 A Intercessão do Espírito Santo.................. 284 4 A Chave de Ouro da Oração Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra) "Clama a mim e te responderei e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não conheces." (Jer 33:3) Algumas das obras mais famosas do mundo têm o odor do azeite da mediocridade; porém há obras, livros e ditos mais espirituais e escritos pelos homens que têm o aroma úmido das masmorras. Poderia citar vários exemplos, sem dúvida, O Peregrino de João Bunyan é melhor que um cento deles. E este bom texto que temos ante nossos olhos, amolecido e frio com a prisão em que Jeremias se encontrava, tem, não obstante, um brilho e beleza em si, que jamais houve e não haverá, como uma oração reconfortante do Senhor para o prisioneiro, encerrado no pátio do cárcere. O povo do Senhor sempre tem encontrado o melhor de seu Deus quando se acha na pior das condições. Ele é bom em todo o tempo porém parece dar a conhecer sua melhor expressão quando os seus estão em seu pior momento. Rutherford teria um dito pitoresco; quando era lançado nas celas da aflição, recordava-se que o Grande Rei guardava ali o seu vinho, de modo que imediatamente se poria a buscar as botijas e a 5 beber. Os que mergulham no mar da aflição são os que pegam as pérolas mais preciosas. Com- panheiros na aflição, vocês sabem que assim é. Vocês têm comprovado que Ele é um Deus fiel, e que quando abundam as suas tribulações, suas consolações superabundam por Cristo Jesus. Ao escolher este texto para esta manhã, minha oração é que sua grata promessa seja ouvida no coração de alguns dos prisioneiros do Senhor; que se encontram amarrados e encerrados e não podem sair devido ao seu presente estado de espírito pesado, escutem o que E1e lhes diz ao ouvido em um suave murmúrio que chega até ao coração: "Clama a mim e eu te responderei e te mostrarei coisas grandes e poderosas que tu não conheces.". O texto está dividido naturalmente em três partes da verdade. Falaremos destas na medida que Deus o Espírito Santo nos capacite. Em primeiro lugar, há uma ordem para orar: "Clama a mim"; em segundo lugar, a promessa de uma resposta: "e te responderei"; em terceiro lugar, o estímulo à fé: "e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não sabes.". I. A primeira divisão é: UMA ORDEM PARA ORAR. Não se nos aconselha e recomenda somente que oremos, senão que se nos ordena orar. Esta é uma grande condescendência. Constroem um 6 hospital. Considera-se que basta dar livre admissão aos enfermos que buscam ser atendidos. Porém a diretoria do hospital não emite uma ordem no sentido de mandar que uma pessoa cruze suas portas. No mais rigoroso do inverno se abre uma sala de jantar bem abastecida. Divulga-se a notícia: para comer ali, os pobres devem apenas pedir; porém não se pensa que o Parlamento promulgue uma lei obrigando os pobres a entrarem pelas suas portas em busca da caridade oferecida. Pensa-se que basta se dar a conhecer isto sem emitir nenhuma ordenança no sentido de que os homens devam aceitá-la. Sem dúvida, é tão estranha a vaidade humana, por um lado, faz-se necessária uma ordem para que tenha misericórdia de sua própria alma., e tão maravilhosa é a condescendência do nosso Deus misericordioso, por outro, que dá uma ordem de amor sem a qual nem sequer um só homem nascido de Adão poderia participar da festa do evangelho, antes preferiria morrer de fome e não obedecer. É assim que ocorre com a oração. O povo de Deus necessita mesmo de um mandamento para orar, pois de outro modo, não o fará. Porém, como pode ser isto? Queridos amigos, isto se deve a que nós estamos mui sujeitos a arrebatamentos de mundanismo, sim é que esse não é o nosso estado normal. Não nos esquecemos de comer; não esquecemos de 7 fechar nossas casas; não esquecemos de ser diligentes nos negócios; não esquecemos de tirar nossas folgas para descansar. Porém, com frequência esquecemos de lutar com Deus em oração, e ter, como deveríamos, longos períodos em consagrada comunhão com nosso Pai e nosso Deus. Para muitos professores o maior livro é tão pesado que não o podem mover, enquanto que a Bíblia, que representa sua devoção, é tão pequena que podem colocá-la em um bolso de sua roupa. Horas para o mundo! Pequenos momentinhos para Cristo! O mundo recebe o melhor do nosso tempo, enquanto nossa câmara de oração recebe somente os desejos. Damos nossa força e juventude aos caminhos de Mamon, e nossa fadiga e languidez aos caminhos do Senhor. Por isso é que se faz necessário um mandamento para participar do ato mesmo que deveria constituir nossa maior felicidade, do mais alto privilégio que podemos ter, isto é, ir ao encontro de nosso Deus. "Clama a mim," diz E1e, porque sabe que somos dados a esquecer de clamar a Ele. "Que tens, dorminhoco? Levanta-te, e clama a teu Deus," é uma exortação que necessitamos hoje tanto quanto Jonas em meio à tormenta. Ele sabe quão pesados são nossos corações quando estamos sob uma sensação de pecado. Satanás nos diz: "Por que tens que orar? Como pensas prevalecer? Em vão estás dizendo “levantar-me-ei e irei a meu Pai”, porque não és 8 digno nem sequer de ser como um de seus empregados. Como podes olhar o rosto do Rei depois de havê-lo traído? Como te atreves a acercar-te do altar que tu mesmo tens manchado, e quando o sacrifício que poderias oferecer é pobre e imundo?" Oh, irmãos, quão bom é que nos seja ordenado orar. Se Deus o ordena, indigno como sou, me arrastarei até o estrado da graça. Pois que ele disse: "Orai sem cessar," ainda que minhas palavras faltem e meu coração divague, todavia poderei balbuciar os desejos de minha alma faminta e dizer-lhe: "Oh Deus, ensina-me ao menos a orar, e ajuda-me a prevalecer diante de ti!". Não somos dados a orar devido à nossa frequente incredulidade? A incredulidade murmura: "Que proveito tem o que busca ao Senhor em tal coisa? Seja algo muito trivial, ou relacionado com coisas temporais, ou uma questão emtorno da qual tem pecado em demasia, ou algo demasiadamente elevado, demasiadamente difícil, uma questão demasiadamente complicada, não tens direito a isso diante de Deus!" Isto é o que sugere desde o inferno o inimigo imundo. Por isso permanece escrito como um preceito para todos os dias e apropriadamente para cada caso em que possa ver-se envolvido um cristão: "Clama a mim ...clama a mim." Estás enfermo? Queres ser curado? Clama a mim, porque sou o Grande Médico! Perturba-te a providência? Temes que 9 não poderás suster-te com honestidade diante dos homens? Clama a mim! Te provocam desgostos teus filhos? Estás sentindo aquilo que é mais agudo do que os dentes de uma víbora, a ingratidão de teu filho? Clama a mim! São tuas tribulações, poucas porém dolorosas, como pequenas pontas de espinho? Clama a mim! É tua carga pesada, tanto que parece que tu cedes sob ela? Clama a mim! "Lança sobre Jeová a tua carga, e ele te sustentará; não deixará caído para sempre o justo.". Não devemos dar por encerrado nosso primeiro ponto antes de fazer outra observação. Devemos alegrar-nos muito no fato de que Deus nos tem dado este mandamento em sua palavra para que seja seguro e permanente. Poderia ser um interessante exercício para alguns de vocês descobrir com quanta frequência nos é mandado orar. Surpreenderia vocês descobrir quantas vezes são-nos dadas palavras como estas: "Invoca-me no dia da angústia e eu te livrarei"; "Oh, crentes, derramai diante dele vosso coração;" "buscai a Jeová enquanto pode ser achado, procurai-o enquanto está perto;" "Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e se vos abrirá;" "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." "Orai sem cessar;" "acheguemo- nos confiadamente ao trono da graça;" "Achegai- vos a Deus e ele se achegará a vós;" "Perseverai na oração." Não é necessário multiplicar os exemplos em um ponto em que não posso ser 10 exaustivo. Basta colher duas ou três desta grande bolsa de pérolas. Vamos cristão!, não deves jamais perguntar se tens direito a orar; não deves jamais perguntar: “É-me permitido entrar em sua presença?”. Posto que tens tantos mandamentos (e os mandamentos de Deus são promessas), podes achegar-te confiadamente ao trono da graça celestial, pelo novo e vivo caminho do véu que se rasgou. Porém, há oportunidades em que Deus não somente manda seu povo orar na Bíblia, senão que também o faz ordenando-lhes que orem de modo direto por meio dos impulsos de seu Espírito Santo. Vocês, que conhecem a vida interior, haverão de me compreender. Em meio de seu trabalho vocês sentem um repentino estímulo de retirarem-se para orar. Poderia ser que ao princípio não notem particularmente a inclinação, porém uma e outra vez, vai e volta: "Retira-te e ora!" Enquanto em oração percebo que sou como um moinho de água que corre muito bem enquanto há água em abundância, porém que vai perdendo força à medida que o volume de água do rio baixa; ou como o barco que navega sobre as águas e estende todo o seu velame quando o vento é favorável, porém que tem que mover trabalhosamente as velas para captar algo de uma pequena brisa favorável. Agora, bem, me parece que quando nosso Senhor lhes der esta inclinação especial para orar, vocês devem duplicar sua diligência. 11 Devem sempre orar e não desmaiar, porém, quando ele põe em seu coração um desejo especial de orar, e sente uma atitude peculiar e gozo nele, terá, além do mandamento que o obriga constantemente, outra ordem que o levará a uma grata obediência. Penso que em tais ocasiões poderíamos estar na posição de Davi, a quem o Senhor disse: "Quando ouvires o ruído como de marcha pelas copas das palmeiras então te moverás." O ruído de marcha nas copas das palmeiras bem poderiam ser as pisadas de anjos que viriam apressadamente ajudar a Davi, então Davi deveria atacar os filisteus, e assim quando as misericórdias de Deus se aproximam, suas pisadas são nossos desejos de orar; e nossos desejos de orar devem ser uma indicação que tem chegado o momento divino de favorecer imediatamente a Sião. Semeia abundantemente agora, porque tua colheita será segura. Luta agora, Jacó, porque estás a ponto de converter-te em um príncipe que prevalece, e teu nome será chamado Israel. Agora é teu tempo, mercador espiritual; o mercado está em alta, há muito negócio; teu ganho será alto. Preocupa-te em usar de forma correta a hora ensolarada, e realiza tua colheita enquanto brilha o sol. II. Consideremos agora nosso segundo ponto: A PROMESSA DE UMA REPOSTA Não deveríamos sustentar nem sequer por um só momento o horrível pensamento que Deus 12 não responderá a oração. sua natureza, segundo se manifesta em Jesus Cristo, demanda que assim seja. Ele tem se revelado no evangelho como Deus de amor, cheio de graça e verdade; assim, como poderia negar-se a ajudar aos que são seus, que humildemente buscam seu rosto e seu favor pelo modo que foi estabelecido por ele mesmo? Em uma ocasião, o senado ateniense considerou mais conveniente reunir-se ao ar livre. Enquanto estavam sentados em suas deliberações, um pardal, perseguido por um falcão, voou em direção ao senado. Perseguido muito de perto pela ave de rapina, buscou refúgio no seio de um dos senadores. Este homem de caráter rude e vulgar, tomou a ave de seu seio, a lançou contra o solo e a matou. Naquele instante todo o senado se pôs de pé, e sem uma só voz discordante, o condenaram à morte, como indigno de sentar-se no senado com eles ou de ser chamado um ateniense, posto que havia negado o socorro a uma criatura que havia confiado nele. Podemos supor que o Deus do céu, cuja natureza é amor, vá lançar de seu seio a pobre pomba que para ali voa fugindo da águia da justiça e se refugia no seio da sua misericórdia? Nos dará o convite para buscar seu rosto, e quando nós, como ele sabe, com tanta vacilação de temor, reunimos forças para voar a seu seio, será então tão injusto e carente de graça como para atender em ouvir nosso 13 clamor e responder-nos? Não pensemos tão mal do Deus do céu. Recordemos logo, junto com sua natureza, seu caráter passado. Me refiro ao caráter que lhe tem feito famoso através de suas obras de graça passadas. Considerem, meus irmãos, aquela grandiosa demonstração de amor - se quiséssemos nomear um milhar, não poderíamos dar uma melhor ilustração do caráter de Deus do que aquele fato grandioso: "O que não poupou nem a seu próprio filho, senão que o entregou por todos nós. Como - e esta não é uma inferência minha, senão inspirada conclusão do apóstolo - não nos dará também com ele todas as coisas?" Se o Senhor não se nega a escutar minha voz sendo pecador culpado e inimigo, como vai recusar meu clamor agora que tem sido justificado meu coração, que não conhecia, e não buscava ajuda, se depois de tudo não me escutará agora que sou seu filho e seu amigo? As feridas sangrentas de Cristo são a segura garantia da oração atendida. Em seu conhecido poema The Bag (a Bolsa), George Herbert apresenta o Salvador dizendo: “Se há algo que queiras mandar ou escrever, para entregar nas mãos de meu Pai, creia-me que seguramente vai recebê-lo, porque me preocuparei do teu encargo. Perto do meu coração o podes, e se outros querem empregar- me assim, a porta acham aberta de par em par, 14 e, o que enviar, em mãos do Pai entregarei acrescentado para que receba mais.” Certamente o pensamento de George Herbert era que a expiação por si mesma é uma garantia de que a oração deve ser ouvida, que a grande ferida feita junto do coração do Salvador, que ficou exposto à luz para que se visse as profundidades do coração da divindade, era una prova de que aquele que se senta nos céus quer escutar o clamor de seu povo. Se pensas que a oração é inútil, estás fazendo uma leitura equivocada do Calvário. Porém,amados, temos a promessa de Deus a respeito, e E1e é Deus, que não pode mentir. "Invoca-me no dia da angústia . . . te responderei." Não tem dito "Tudo o que pedires em oração, crendo, o recebereis?". Por certo, não podemos orar a menos que creiamos nesta doutrina; "porque é necessário que o que se aproxima de Deus, creia que E1e é galardoador dos que o buscam"; e se temos alguma dúvida quanto a que nossa oração seja ouvida somos comparáveis com os que têm ânimo dobre: "Porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é arrastada pelo vento e é lançada de uma parte a outra. Não pense pois, quem o faz, que receberá alguma coisa do Senhor." Poderia além disso dar força ao nosso argumento se disséssemos que nossa experiência nos leva a crer que Deus atenderá a 15 oração. Eu não posso falar por ti; porém posso falar por mim. Se há algo que eu sei, algo de que estou seguro além de qualquer dúvida, é que as palavras de uma oração jamais são gastas em vão. Se não há aqui algum homem que se atreva a dizê-lo, eu me atrevo a afirmá-lo, e sei que posso prová-lo. Minha própria conversão é o resultado de longas, afetuosas, ferventes e importunas orações. Meus pais oravam por mim; Deus ouviu seus clamores, e aqui estou para pregar o evangelho. Desde então, tenho me aventurado em empresas que estavam muito acima de minha capacidade, porém, nunca tenho fracassado, porque me tenho lançado nos braços do Senhor. Vocês sabem como igreja que não tenho tido escrúpulos para fixar-me em grandes ideias do que poderíamos, fazer para Deus. E tudo a que nos temos proposto temos cumprido. Tenho buscado a ajuda de Deus, seu socorro e auxílio em todas as múltiplas empresas, e ainda não posso contar aqui a história de minha vida privada enquanto faço a obra de Deus, se a escrevesse seria uma prova firme de que há um Deus que atende a oração. Ele tem ouvido minhas orações, não de vez em quando, não um par de vezes, senão muitíssimas vezes, tantas, que se tem convertido em um hábito expor minha causa diante de Deus com absoluta certeza de que aquilo que lhe pedir, Ele me concederá. Agora não é um "talvez" ou uma 16 possibilidade. Sei que meu Senhor me atende, e não me atrevo a duvidar, porque seria certa- mente uma tolice fazê-lo. Assim como estou seguro que uma quantidade de força sobre uma alavanca levantará uma coisa pesada, eu sei que uma certa quantidade de oração traz a bênção. Como a primavera tudo enche de flores, assim as súplicas asseguram as misericórdias. Em todo trabalho há ganho, porém mais que em tudo há na obra de intercessão; pois estou seguro, porque dele tenho tido minha colheita. Lembre-se porém que a oração sempre se oferece em sujeição à vontade de Deus; que quando dizemos "Deus ouve a oração, não queremos dizer com isto que ele sempre nos dá literalmente o que pedimos. Todavia queremos dizer isto, que ele dá o que é melhor para nós e que se ele não nos dá a misericórdia que lhe pedimos em prata, a concede em ouro. Se não nos retira o aguilhão da carne, nos diz "Basta-te a minha graça," e isso finalmente equivale ao mesmo. Lord Bolinbroke dizia à condessa de Huntingdon: "Não entendo, senhora, como poderia fazer uma oração sincera que se harmonizasse com a vontade divina.". "Meu filho, disse ela, "Isso é algo que não oferece dificuldade. Se eu fosse da corte de algum generoso rei, e ele me desse autorização para solicitar dele qualquer favor, eu certamente lhe 17 diria: "Poderia sua majestade em sua graça conceder-me tal e tal favor? Porém, ainda que muito o deseje, se de alguma forma empane a honra de vossa majestade, ou se segundo o critério de sua majestade parece bem que não receba tal favor, estarei tão contente sem ele como se o houvesse recebido." Assim você pode ver que eu posso apresentar sinceramente minha petição, porém submissimamente deixar a resposta nas mãos do rei.". O mesmo ocorre com Deus. Nós nunca oferecemos uma oração sem inserir aquela oração: "Porém não se faça minha vontade, senão a tua.”. Somente podemos orar sem um "se" condicional quando estamos seguros de que nossa vontade é a vontade de Deus. III. Chegamos a nosso terceiro ponto, que, penso, está cheio de alento para todos os que se exercitam na arte bendita da oração: O ESTÍMULO À FÉ: "Te ensinarei coisas grandes e ocultas que tu não conheces." Notemos que isto originalmente foi dito a um profeta em prisão, e a maneira de conhecer as verdades reservadas, as verdades mais elevadas e misteriosas de Deus, é esperando em Deus em oração. Ontem, enquanto lia o livro de Daniel notei de forma muito especial como Daniel descobriu o sonho de Nabucodonosor. Os encantadores, magos, astrólogos e caldeus trouxeram seus livros curiosos, e seus 18 estranhos instrumentos, e começaram a pronunciar suas abracadabras e a realizar toda sorte de encantamentos misteriosos, porém todos fracassaram. Que fez Daniel? Se pôs a orar, e sabendo que a oração de um corpo unido de homens prevalece melhor que a oração de um só, vemos Daniel convidando a seus irmãos a unirem-se a ele em fervente oração para que Deus, em sua infinita misericórdia, pudesse dar- lhe a conhecer a visão. E no caso de João, que é o Daniel do Novo Testamento, recordareis que ele viu um livro na mão direita daquele que estava assentado no trono, um livro selado com sete selos, não achando-se ninguém digno de abrir os selos. Que fez então João? O livro foi aberto pelo Leão da Tribo de Judá, que havia prevalecido para abrir o livro, porém está escrito que antes que o livro se abrisse, "eu chorava muito." Sim e as lágrimas de João, que eram suas orações líquidas, foram no que lhe respeita, as chaves sagradas pelas quais foi aberto o livro selado. Irmãos no ministério, vocês que são mestres na Escola Dominical, e todos os que são estudantes na escola de Jesus Cristo, lhes rogo que recordem que a oração é seu melhor meio de estudo. Como Daniel entenderão o sono e a interpretação, quando o buscarem em Deus. E como João verão os sete selos abertos entregando as preciosas verdades depois que houverem chorado muito. "Se clamares à 19 inteligência, e à prudência deres a tua voz; se como a prata a buscares, e a procurares como a tesouros, então entenderás o temor de Jeová, e acharás o conhecimento de Deus.". As pedras não se rompem senão por meio do uso aplicado do martelo, e o picador de pedras usualmente se põe de joelhos. Utiliza o martelo da verdade, e além disso exercita o joelho da oração e as doutrinas da Revelação, duras como rocha, necessárias a vosso entendimento, se abrirão diante de vocês o exercício dela e da oração. “Orar bem é estudar bem" é uma sábia sentença de Lutero, que tem sido citada com tanta frequência, que apenas nos temos atrevido a fazer uma alusão a ela. "Haver orado bem é haver estudado bem.". Podes abrir-te caminho através de qualquer coisa com a vara da oração. Os pensamentos e os raciocínios podem ser como cunhas de um arado que podem abrir um caminho até a verdade, porém a oração é a chave, a alavanca que abre o cofre de ânimo do mistério sagrado, para obter o tesouro ali escondido somente para quem pode abrir com esforço uma via para alcançá-lo. O reino dos céus todavia sofre violência e os violentos o arrebatam. Cuidem em trabalhar com o poderoso implemento da oração, e nada poderá opor-se a vocês. Todavia, não devemos deter- nos aqui. Temos aplicado o texto a um só caso. Se pode aplicar a centenas. Queremos assinalar outro. O santo deve esperar descobrir uma experiência mais profunda e conhecer mais de 20 uma vida espiritual mais elevada ao dedicar-se mais à oração. Há diferentes traduções do meu texto. Uma versão diz: "Te mostrarei coisas grandes e reservadas que tu não conheces." Agora bem, nem todos os progressos na vida espiritual são igualmente fáceisde alcançar. Estão presentes as estruturas comuns e os sentimentos de arrependimento, fé, gozo e esperança que desfruta toda a família. Porém há uma esfera superior de rapto, de comunhão e de união consciente com Cristo que estão longe de ser lugares comuns para os crentes. Todos os crentes vêm a Cristo. Porém nem todos podem por seus dedos nas feridas dos cravos, nem meter suas mãos em seu lado. Nem todos temos o privilégio que João teve de reclinar-se sobre o peito de Jesus, nem o de Paulo de ser arrebatado ao terceiro céu. Na arca da salvação encontramos o primeiro, segundo e terceiro pisos. Todos estão na arca, porém nem todos estão no mesmo piso. A maioria dos crentes, quanto ao rio da experiência, têm a água somente até os tornozelos. Outros tem vadeado o rio até que as águas lhes cheguem aos joelhos; uns poucos encontram a água até ao peito. Porém somente uns poucos - quão poucos! Encontram-se no rio de tal modo que podem nadar, cujo fundo não pode ser tocado. Meus irmãos, há alturas no conhecimento experimental das coisas de Deus que o olho da águia da perspicácia e do 21 pensamento filosófico não tem logrado ver. E há sendas secretas que a razão e o juízo ainda não têm aprendido a transitar. Somente Deus nos pode levar até ali. Porém a carruagem em que nos leva, e os cavalos de fogo que conduzem a carruagem, são as orações prevalecentes. A oração que prevalece é vitoriosa pela misericórdia de Deus. "Com seu poder venceu o anjo; venceu o anjo e prevaleceu; chorou e lhe rogou; em Betel lhe falou, e ali falou conosco.". A oração que prevalece conduz o crente até o Carmelo e o habilita para cobrir os céus com nuvens de bênçãos, e a terra com correntes de misericórdia. A oração prevalecente leva o crente ao alto do monte de Pisga e lhe mostra a herança que tem reservada. O eleva ao Tabor e o transfigura até que na semelhança de seu Senhor, como Ele é, assim somos nós neste mundo. Se queres alcançar algo mais alto que a ordinária experiência de humilhação, contemple a rocha que é mais alta que tu, e com os olhos e de cima dela olhe através das janelas da oração importuna. Assim que, para crescer na experiência, deve haver muita oração. Rogo a vocês que tenham paciência comigo enquanto aplico este texto a um, dois ou três casos mais. É certamente verdadeiro para o que sofre provas. Se em oração espera em Deus, receberá uma liberação muito maior que 22 pudera haver sonhado: "Coisas grandes e poderosas que tu não conheces.". Este é o testemunho de Jeremias: "Te aproximaste no dia que te invoquei, disseste: “Não temas.". Advogaste, Senhor, a causa de minha alma; redimiste minha vida.". E com Davi dá-se o mesmo: "Na minha angústia invoquei o Senhor, e me respondeu pondo-me num lugar espaçoso... Te louvarei porque me tens ouvido, foste-me por salvação.". E também: "Clamaram a Jeová em sua angústia e ele os livrou de suas aflições. Os dirigiu por caminho direito para que viessem à cidade habitada.". "Meu marido morreu," disse a pobre mulher, "e tem vindo o credor para levar meus dois filhos como servos.". Ela esperava que Eliseu possivelmente dissesse: "Quanto deves? Eu pagarei." Em lugar de fazer isso, ele multiplicou o azeite até que pôde dizer-lhe: "Paga a teus credores, e" - para quê era o "e"? - "tu e teus filhos vivam do que restou.". Com muita frequência ocorrerá que Deus não somente ajudará a seu povo a cruzar os lugares lamacentos do caminho, Ele os levará a salvo através de toda a viagem. Foi um milagre realmente notável. Quando em meio da tormenta Jesus Cristo veio caminhando sobre o mar, os discípulos o receberam no barco, e não somente se acalmou o mar, senão que está escrito: "O barco, chegou em seguida à terra para onde iam.". 23 Essa foi uma misericórdia superior ao que haviam pedido. Às vezes os escuto orar usando uma citação que não está na Bíblia: É poderoso para fazer todas as cousas muito mais abundantemente do que podemos pedir ou entender." Não diz assim na Bíblia. Eu não sei o que podemos pedir ou o que podemos entender. Porém diz: "É poderoso para fazer todas as cousas muito mais abundantemente do que pedimos ou entendemos.". Então, queridos amigos, quando estivermos em grande tribulação digamos somente: "Agora estou em prisão; qual Jeremias, orarei como ele o fez, porque tenho o mandamento de Deus de fazê-lo; e esperarei, como ele o fez, até a hora por mim desconhecida. E1e não somente vai conduzir o seu povo através da batalha, protegendo suas cabeças nela, senão que os levará adiante com os estandartes ondeando, para repartir despojos com os poderosos, e reclamar sua porção com os fortes. Esperai grandes coisas de um Deus que lhes dá promessas tão grandes como estas. Além disso, há aqui um estímulo para o obreiro. Meus queridos amigos, esperai muito de Deus em oração, pois tendes a promessa de que E1e fará por ti cousas maiores do que as que conheces. Não sabemos quanta capacidade de serviço há em nós. Aquela queixada de jumento tirada da terra, que poderia fazer? 24 Nada se sabe para que serve. Porém nas mãos de Sansão, que não pode fazer? Nada se pode duvidar agora que Sansão a maneja. E tu, amigo, frequentemente tens te considerado tão desdenhável como este osso e tens dito: "Que posso fazer?". Sim, porém quando Cristo pelo seu Espírito te toma, o quê não podes fazer? Certamente podes adotar a linguagem do apóstolo Paulo e dizer; "Tudo posso em Cristo que me fortalece.". Todavia, não deveis depender da oração sem esforço. Em uma escola havia uma menina que conhecia ao Senhor. Muito graciosa, sensível e confiante. Como deve ser, a graça se desenvolveu na menina conforme a sua posição. suas lições sempre eram as melhores da classe. Outra menina lhe disse: "Como consegues que tuas lições estejam sempre bem?". "Oro a Deus para que me ajude a aprender minhas lições," respondeu ela. "Bem," pensou a outra, "Eu farei o mesmo.". No dia seguinte, quando fez a lição não sabia nada, e sentindo-se desgraçada se queixou à outra colega e lhe disse: "Por que eu orei a Deus pedindo-lhe que me ajudasse a aprender a lição e não aprendi nada? Para que serviu a oração?". "Porém, te sentaste para aprendê-la?" "Oh, não," disse ela. "Nem sequer olhei o livro.". "Ah," disse a outra, "Eu pedi a Deus que me ajudasse a aprender a lição, porém em seguida me sentei para estudá-la, e prossegui até que a soubesse bem, e a aprendi com facilidade, porque meu 25 desejo sincero, que havia expressado a Deus, era que me ajudasse a ser diligente em meu esforço para cumprir meus deveres." Assim ocorre com alguns que vêm as reuniões de oração e oram, e logo se acham de braços cruzados e se vão esperando que a obra de Deus siga adiante. Como a mulher que disse: "Voa, voa, poderoso evangelho," porém não pôs dinheiro no ofertório. sua amiga lhe tocou o braço e lhe disse: "Porém, como pode voar, se tu não lhe dá as asas?". Há muitos que parecem ser muito poderosos em oração, maravilhosos em suas súplicas, porém logo requerem que Deus faça o que eles podem fazer por si mesmos, e portanto, Deus não faz nada por eles. “Deixarei meu camelo solto,”, disse um árabe a Maomé, “e confiarei na providência”. “Amarra-o firmemente”, disse Maomé, “ e depois confia na providência”. Assim, vocês que dizem, "Orarei e entregarei minha igreja, ou minha classe, ou minha obra ao cuidado de Deus,", mas bem poderias ouvir a voz da experiência e da sabedoria que diz: "Faz o melhor de tua parte; trabalha como se tudo dependesse do teu trabalho; como se teu próprio braço pudesse trazer-te a salvação"; "e quando houveres feito tudo bem. Descansa sobre aquele sem o qual é em vão levantar-se cedo, sair tarde e comer o pão do esmero. E se 26 ele te der um caminho abençoado, dá-lhe graças.". Não lhes deterei por muitos minutos mais,porém quero destacar que esta promessa deve provar sua utilidade para consolar aos que intercedem em favor de outros. Vós, que estais clamando a Deus para que salve a vossos filhos, que abençoe vossos vizinhos, que tenha harmonia com vossos maridos e com vossas esposas, em sua misericórdia, podereis receber consolo disto: "Te mostrarei cousas grandes e ocultas que tu não conheces.". Não podes imaginar a grande bênção com que Deus te abençoaria. Se somente chegas e ficas parado à sua porta, não podes dizer o que Ele lhe tem reservado. Se não rogas, nada receberás. Porém se lhe rogas, não te irás a dar com ossos e restos de carne, senão se dirá ao que serve a tua mesa: "Toma essa carne primorosamente servida e coloque ante este pobre homem.”. Rute foi a rebuscar as espigas; esperava ter umas poucas espigas, porém Boaz lhe disse: "Que recolhesse também espigas entre as gavelas, e não a censureis," e além disso, à hora da comida: "Venham aqui e come do pão, e molha teu bocado em vinagre.”. Ela encontrou um marido onde somente esperava encontrar um punhado de cevada! Assim ocorre quando oramos pelos outros, Deus pode dar-nos tais misericórdias que cairemos perplexos ante elas 27 pois que esperávamos somente um pouco. Lembrem-se do que disse a Jó: “Jeová disse...: Meu servo Jó orará por vós porque certamente atenderei a ele para não tratar-lhes afrontosamente, porquanto não tendes falado de mim com retidão como meu servo Jó.”. E Jeová retirou a aflição de Jó, quando ele orou por seus amigos, e aumentou ao dobro todas as coisas que Jó havia tido. Agora, esta palavra para terminar. Alguns de vocês estão buscando sua conversão. Deus tem vivificado o interesse de vocês por orar por suas próprias almas. Não lhes alegra ir para o inferno. Vocês querem o céu. Querem ser lavados no sangue precioso. Querem a vida eterna. Queridos amigos, eu lhes rogo que se apropriem deste texto – Deus mesmo o tem dito para vocês: "Clama a mim e te responderei e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não conheces.". Toma imediatamente a palavra de Deus. Regresse para casa, entra no teu quarto, fecha a porta e prova-o. Jovens, provai e vede se ele é fiel ou não. Se Deus é verdadeiro, não podereis buscar misericórdia em suas mãos por meio de Cristo e receber uma resposta negativa. Posto que sua própria promessa e seu caráter o obrigam, ele deve abrir-lhes as portas da misericórdia quando lhe clamarem de todo o coração. Deus te ajude, crendo em Cristo Jesus, a clamar em voz alta a Deus e sua resposta de paz está já a caminho para encontrar-se contigo. O 28 ouvirás dizer: "Teus pecados, que são muitos, têm sido perdoados.". Que Deus os abençoe por causa do seu amor! Amém. 29 Certeza do Êxito na Oração Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra) “Por isso vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe, o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.”. (Lc 11.9,10). Buscar ajuda em um ser sobrenatural em tempo de angústia é um instinto da natureza humana. Não dizemos que a natureza humana não renovada ofereça uma oração verdadeiramente espiritual, ou que possa exercer a fé salvadora no Deus vivo. Porém, não obstante, como criança que cora na escuridão com desejo angustiante de receber ajuda de um ou de outro lugar, dificilmente pode saber de onde, a alma com profundo pesar quase invariavelmente clama a algum ser sobrenatural no seu pedido de socorro. Não há pessoas mais dispostas a orar em tempo de angústia que aquelas que têm ridicularizado a oração em tempos de prosperidade; e provavelmente não há orações mais reais e em conformidade com os sentimentos da hora que as que o ateu tem oferecido sob a pressão do temor da morte. 30 Este instinto de procurar ajuda sobrenatural foi colocado pelo próprio Deus no homem, de forma que possa se deixar achar especialmente pelos seus escolhidos, tanto para dar-lhes a salvação quando os chama, como para socorrê- los em suas aflições. O homem ora porque há algo na oração. Como quando Deus deu a suas criaturas o dom da sede, é porque existe a água para saciá-la, e a sede é o sinal de que o corpo necessita de ser reabastecido pela água. Da mesma forma, há uma sede espiritual que indica a necessidade da alma de ser reabastecida com a graça de Deus. Assim, quando Deus inclina os homens a orarem é porque a oração tem uma bênção correspondente que está unida a ela. Encontramos uma poderosa razão para esperar que a oração seja efetiva pelo fato de que é uma instituição de Deus. Na palavra de Deus, repetidas vezes se nos dá o mandamento de orar. As instituições de Deus não são vazias. Posso crer que o Deus infinitamente sábio me tem ordenado um exercício que é ineficaz e que não é mais que um jogo de meninos? Me ordena orar, e contudo, a oração não tem mais resultado do que o silvo do vento? Se não há resposta à oração, a oração é um monstruoso absurdo e Deus é o autor dele. E isto é uma blasfêmia se alguém se atreve a afirmá-lo. Nenhum homem que não seja um tonto seguirá orando uma vez que se lhe tem provado que a 31 oração não faz qualquer efeito diante de Deus, e nunca recebe uma resposta. A oração é uma tarefa de idiotas e loucos, e não para pessoas sãs, se fosse verdade que seus efeitos terminam no mesmo homem que ora. Jesus sabia que surgiriam muitas dificuldades em relação à oração, e poderiam fazer vacilar a seus discípulos, assim, eliminou toda oposição mediante uma afirmação incontroversível: “Por isso vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe, o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.”. No texto, o Senhor faz frente a todas as dificuldades, em primeiro lugar, dando-nos o peso da sua autoridade: “Por isso vos digo”. Em segundo lugar, dando-nos uma promessa: “Pedi e dar-se-vos-á, etc”. E recordando-nos um fato indiscutível: “todo o que pede recebe, o que busca encontra, e a quem bate abrir-se-lhe-á”. Temos aqui três feridas mortais para as dúvidas que o crente possa ter em relação à oração. I. Em primeiro lugar, NOSSO SALVADOR NOS DÁ O PESO DA sua PRÓPRIA AUTORIDADE: “Por isso vos digo”. A primeira marca de um seguidor de Cristo é que crê em seu Senhor. De nenhum modo podemos seguir ao Senhor se levantamos dúvidas acerca de pontos que Ele tem estabelecido positivamente. Embora uma 32 doutrina esteja rodeada de dez mil dificuldades, o dito do Senhor Jesus suprime todas elas. No que concerne aos verdadeiros crentes. Estes sabem que há condições que acompanham a oração triunfante e perseverante. Eles sabem quais renúncias têm que fazer quanto à carne, ao mundo e ao diabo, para se manterem na Palavra do Senhor, e assim poderem conhecer a sua vontade, para pedirem de acordo com ela, submetendo-se a tudo que está ordenado por Deus, ou pelo menos esforçando-se neste sentido, à medida que crescem no conhecimento do Senhor e da sua vontade, renunciando ao próprio eu, para serem achados em conformidade com a santidade de Cristo. Se as palavras dele estiverem em nós, e se estivermos nele, para que Ele permaneça em nós, então pediremos o que quisermos, que seja conforme a sua vontade, e nos será feito. Mas, como dizíamos, a declaração do nosso Mestre é todo o argumento que necessitamos para sabermos que nossas orações são ouvidas e respondidas, quando atendem às condições a que nos referimos antes. Quando Ele diz: “Por isso vos digo” todo debate e dúvida chegam ao fim. Porque Ele tem dito, e isto põe um ponto final em tudo o mais. Se a natureza tem leis irreversíveis, não importa porque Aquele que criou todas as coisas diz: “pedi e dar-se-vos-á”. Então certamente será 33 assim, sejamquais forem as leis da natureza. Sendo o Criador o Senhor conhece todo o mecanismo de todas as forças do universo, e assim Ele diz: “Pedi e dar-se-vos-á”. Não há forças naturais ou espirituais que possam impedir o cumprimento da palavra do Senhor. Pedi e dar-se-vos-á. Agora, quem é que diz isto? É o que tem estado com o Pai desde o princípio, e Ele conhece quais são os propósito de Deus e como é o coração de Deus, porque tem dito em outro lugar, “o Pai mesmo lhes ama”. Agora, já que Ele conhece o decreto do Pai, e o coração do Pai, pode dizer com absoluta certeza de um testemunho ocular que não há nada no conselho eterno que entre em conflito com esta verdade e de que o que pede recebe, e o que busca acha. Ele tem lido os decretos do princípio ao fim. Não tem tomado o livro e não tem desatado os sete selos, declarando as ordenanças do céu? Ele lhes diz que nada há que seja contra os teus joelhos dobrados e teus olhos molhados com lágrimas, e com o fato de que o pai abra as janelas dos céus para fazer chover sobre ti as bênçãos que tu estás buscando. Mais ainda, Ele mesmo é Deus: os propósitos dos céus são seus propósitos, e aquele que ordenou o propósito aqui da segurança de que nada há nele que impeça a eficácia da oração. “Eu vos digo”. E quando Ele diz cessam todos os argumentos contrários. E as tuas dúvidas são lançadas ao vento, porque sabes que Ele ouve a oração. 34 Porém às vezes surge em nossa mente uma terceira dificuldade, que está associada com nosso próprio juízo acerca de nós mesmos e nossa avaliação de Deus. Sentimos que Deus é muito grande, e trememos na presença de sua majestade, sentimos que somos muito pequenos, e que, além disso, somos vis, e parece uma coisa incrível que uma insignificância culpável tenha poder para mover o braço que move o universo. Me pergunto se não é esse temor culpável o que nos impede frequentemente que oremos. Porém Jesus responde docemente: “Eu vos digo: Pedi e dar- se-vos-á.”. E pergunto novamente, quem é o que diz “eu vos digo”? É aquele que conhece tanto a grandeza de Deus como a fraqueza do homem. Ele é Deus e desde sua excelsa majestade, imagino ouvir-lhe dizer: “Eu vos digo: Pedi e dar- se-vos-á”. Porém Ele também é homem como nós, e diz: “Não tenhas medo de tua insignificância, porque eu, osso de teus ossos, e carne de tua carne te asseguro que Deus ouve a oração do homem.”. E, se contudo o terror do pecado nos espante, e nosso pesar nos deprime, eu lhes recordaria que quando diz: “Eu vos digo”, Jesus nos dá a autoridade, não somente de sua pessoa, senão de sua experiência. Jesus era dado a orar. Nunca ninguém orou como ele o fez. Ele passava as noites em oração, e dias inteiros em fervente intercessão. Ele é quem nos diz: “Eu vos digo, 35 pedi e dar-se-vos-á”. Jesus provou o poder da oração. Além disso, recordem que se Jesus podia falar positivamente aqui, há razões maiores ainda para crer nele agora, porque passou além do véu, e se assentou à destra de Deus Pai, e a voz que agora nos vem não nos chega do homem pobre que usa uma túnica sem costura, senão do sacerdote entronizado que nos diz desde a destra de Deus: “Eu vos digo: pedi e dar-se-vos- á”. Vocês não creem no seu nome? Se creem, então como poderia cair em terra uma oração que se oferece sinceramente nesse nome? Quando apresentas a tua petição no nome de Jesus, uma parte da sua autoridade reforça as tuas orações. Se tua oração é recusada, Cristo é desonrado. Não podes crer que isso possa ocorrer. Posto que tens confiado nele. Creia que a oração oferecida por meio dele deve ter êxito, e o terá. II. Agora recordaremos que NOSSO SENHOR NOS APRESENTA UMA PROMESSA Note-se que a promessa é dada para diversas formas de oração: “Eu vos digo: Pedi e dar-se- vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”. O texto claramente afirma que todas as formas de oração verdadeira serão escutadas, com a condição de serem apresentadas por intermédio de Jesus Cristo, e são para bênçãos prometidas. Algumas são orações verbalizadas 36 em que os homens pedem, não devemos jamais deixar de oferecer a oração expressada pela língua, porque a promessa é que o que pede será ouvido. Porém, há outros que sem descuidar a oração ativa, porque pelo uso humilde e diligente dos meios eles buscam as bênçãos que necessitam. seus corações falam com Deus por meio de seus anelos, seus esforços, suas emoções e seus trabalhos. Que não cessam de buscar, porque certamente acharão. Há outros que, em seu ardor, combinam as formas mais apaixonadas, atuando e falando, porque clamam, e isso é uma forma intensa de pedir e uma forma veemente de buscar. Assim a oração cresce desde o pedir – que é sua vocalização, sua declaração, até o buscar – que é suplicar; e clamar – que é importunar. Para cada uma destas etapas da oração há uma promessa clara. O que pede terá aquilo que pediu. Porém, o que busca tendo ido mais além, encontrará, desfrutará, estreitará entre suas mãos, saberá que tem obtido. E o que clama, irá mais longe ainda, porque entenderá, e se lhe abrirão as coisas preciosas. Não somente terá a bênção e o desfrute, senão que a compreenderá, entenderá com todos os santos quais sejam as alturas e as profundidades. Contudo, quero que notem o seguinte, que engloba tudo, seja qual for a forma de oração, terá êxito. Se somente pedis, recebereis; se buscais, achareis; se clamais, será aberto, porém em cada caso lhes será feito conforme a vossa fé. As cláusulas da promessa 37 que temos diante de nossos olhos não se nos apresentam coletivamente, como dizemos no direito: o que pede e busca e clama, receberá, o que busca achará e o que clama lhe será aberto. Não é quando combinamos as três coisas que recebemos a bênção, embora indubitavelmente se as combinamos receberemos uma resposta combinada; porém se exercemos somente uma destas três formas de oração, de todos os modos teremos o que nossa alma necessita. Estes três métodos da oração exercitam uma variedade de nossa graça. Os pais comentam sobre esta passagem que a fé pede, a esperança busca e o amor clama, e vale a pena repetir esse comentário. A fé pede porque crê que Deus dará; havendo pedido, a esperança espera, e em consequência busca a bênção; o amor leva mais perto ainda, e não receberá uma negativa de Deus, antes deseja entrar em sua casa e cear com Ele, e por isso clama à sua porta até que lha abram. Porém, voltamos ao nosso ponto original. Não importa qual é a graça que se exerce, uma bênção corresponde a cada uma. Se a fé pede, receberá; se a esperança busca, achará, e se o amor clama, lhe será aberto. Estes três modos de orar nos convêm em diferentes situações de angústia. Ali estou, pobre mendigo, à porta da misericórdia, peço e receberei. Porém, me extravio, de modo que não posso falar com Aquele a quem uma vez pedi tão exitosamente; então posso buscá-lo com a 38 certeza de que o acharei. E se estou na última das etapas, não somente pobre e confuso, senão também imundo como para sentir-me separado de Deus, como leproso que é lançado fora do acampamento, então posso clamar e a porta se me abrirá. Cada uma desta diferentes descrições das orações é sobremaneira sincera. Se alguém dissesse: “Não posso pedir”, nossa resposta seria: “não entendes a palavra.”. Com toda a segurança qualquer pessoa pode pedir. Uma criança pode pedir. Muito antes que o bebê saiba falar, ele pode pedir. Não necessita de palavras para pedir o que necessita, e não há um só entre nós que esteja incapacitado de pedir. Não é necessário que as orações sejam belas. Creio que Deus abomina as orações floreadas. Quando oramos, quanto mais sincera for nossa oração melhor, a linguagem mais sincera, a mais humilde, que expressa o que queremos dizer, é a melhor de todas. A segunda palavra é buscar, e certamente não hádificuldade para buscar. Poderia haver dificuldades para encontrar, porém não para buscar. Quando a mulher da parábola perdeu o dinheiro, ela acendeu uma luz e a buscou. Não creio que tenha estado alguma vez na universidade, ou que foi qualificada como doutora em medicina, ou que houvesse estado diante da Junta Escolar como mulher de sentido 39 superior, porém ela podia buscar. Todo o que deseja fazê-lo pode buscar, seja homem, mulher ou criança; e para estimular-lhes, a promessa não é dada de alguma forma filosófica particular quanto ao buscar, senão estabelece simplesmente, “o que busca acha”. Agora vejamos o “clamar” ou “chamar”, que é traduzido em nossa Bíblia como “bater”. Bater à porta é o mesmo que clamar ou chamar à porta. A ideia é que alguém venha nos atender. Muito bem, quando éramos crianças, sempre encontrávamos métodos para chamar. Uma pedra ou um bico com nossa bota serviam para chamar a atenção daqueles que eram muito altos em relação à nossa estatura. Qualquer coisa servia para bater na porta. De nenhum modo estava isso além da nossa capacidade. Portanto, Jesus o põe desta maneira como para dizer-nos: “Não necessitas ter escolaridade, preparação, talento, e nem gênio para orar. Pede, busca, chama, isso é tudo, e há uma promessa para cada uma destas formas de orar. Crerás na promessa? É Cristo quem a dá. Jamais tem saído de seus lábios uma mentira. Oh, não duvidem dele. Se tens orado, prossegue orando, e se nunca tens orado, Deus te ajude para que comeces ainda hoje. III. Nosso terceiro ponto é que JESUS DÁ TESTEMUNHO DO FATO DE QUE A ORAÇÃO É OUVIDA 40 Havendo dado uma promessa, logo acrescenta: Podeis estar completamente seguros de que esta promessa será cumprida, não somente porque eu vos digo, senão porque é e tem sido sempre assim. Quando um homem diz que manhã após manhã sairá o sol, e cremos, porque sempre tem sido assim. Nosso Senhor nos diz, como fato indiscutível, que através de todas as eras o verdadeiro pedir tem sido seguido pelo receber. Recordem que quem afirma este fato o conhece. Se eu afirmasse um fato, poderias responder-me: “Sim, no que respeita ao que tu tens observado, é verdade”, porém a observação de Cristo não tem limites. Jamais tem havido uma oração verdadeira que Ele não tenha conhecido. As orações aceitáveis ao Altíssimo lhe chegam pela via das feridas de Cristo. Daí que o Senhor Jesus pode falar com conhecimento pessoal, e sua declaração é que a oração tem tido êxito: “Todo o que pede recebe, e o que busca encontra.”. Neste ponto devemos supor, desde logo, as limitações que iniciaria o sentido comum ordinário, e que são estabelecidas pelas Escrituras. Não é que todo o que peça com frivolidade ou maldade a Deus, vá obter o que pediu. Deus não responderá cada petição néscia, ociosa e desconsiderada do coração não regenerado. De nenhum modo. As Escrituras colocam o limite: “Não recebeis porque não pedis, ou pedis mal”. Há um pedir mal que 41 nunca obterá o que pede. Porém tendo em conta estas cousas, a declaração de nosso Senhor não tem outra limitação: “Todo o que pede recebe.”. Cabe recordar que frequentemente, ainda quando os ímpios e os perversos têm pedido a Deus, têm recebido. Com muita frequência no dia da angústia têm clamado a Deus, e Ele lhes tem respondido. Como te atreves a dizer isso? Diz alguém. Não o digo eu, a Escritura é quem o diz. A oração de Acabe foi respondida e o Senhor disse: “Não tens visto como Acabe se tem humilhado diante de mim? Pois porquanto se tem humilhado diante de mim, não trarei o mal em seus dias; nos dias de seu filho trarei o mal sobre sua casa.”. Assim também, o Senhor ouviu a oração de Joacaz, filho de Jeú, que fez o que era mau diante do Senhor (II Rs 13.1-4). Os israelitas também, quando por seus pecados foram entregues a seus inimigos, clamaram a Deus, pedindo libertação e receberam sua resposta, contudo, o Senhor mesmo testifica a respeito deles que somente o lisonjeavam com seus lábios. Muitas vezes, no tempo de enfermidade e no tempo de dor, Deus tem atendido às orações dos ingratos e dos maus. Pensas que nada dá senão aos bons? Tens ficado ao pé do Sinai e tens aprendido a julgar segundo a lei dos méritos? Que eras quando começaste a orar? Eras bom e justo? Não te tem mandado Deus que faças bem aos maus? Crês que Ele te mandaria fazer algo que ele mesmo não faria? Não tem 42 dito que envia a chuva sobre justos e injustos? Não está dando bênçãos cotidianas a quem lhe maldiz? Esta é uma das glórias da graça de Deus. Bem, agora se Deus tem ouvido as orações ainda que de homens que não o buscam da maneira mais elevada, e lhe tem dado libertação temporal em resposta aos seus clamores, não te ouvirá com maior razão quando te humilhas na sua presença, e desejas ser reconciliado com Ele? O publicano estava de pé e tão quebrantado de coração que não se atrevia a levantar os olhos ao céu. Contudo, Deus o contemplou desde acima e atendeu à sua oração. Manassés tinha sido um cruel perseguidor dos santos, e não havia nele o que pudesse servir-lhe de recomendação diante dos olhos de Deus. Mas Deus lhe ouviu desde suas prisões e concedeu liberdade à sua alma. Pelo seu próprio pecado Jonas chegou ao ventre do grande peixe. Contudo, desde o seio do inferno clamou e Deus lhe ouviu. “Todo o que pede recebe, e o que busca acha e ao que chama se lhe abrirá.”. Todo o que. Eu não creio que entre os condenados ao inferno haverá alguém que se atreva a dizer: “Eu busquei ao Senhor e ele me recusou.”. Não se achará no dia final da redenção uma só alma que possa dizer: “Chamei à porta da misericórdia, porém Deus se negou a abrí-la.”. Isto não poderá ocorrer de modo algum, porque 43 Deus não pode negar-se a si mesmo. Ele não pode deixar de ser fiel à sua Palavra para a cumprir, pois tem dito “Todo o que... recebe, acha, abrir-se-lhe-á”. Se tens dúvidas, faça a prova, se já tens provado, prova novamente. Estás vestido de farrapos? Não importa, todo o que pede recebe. Estás imundo pelo pecado? Não tem importância, todo o que busca encontra. Te sentes como se estiveras de todo separado de Deus? Tampouco importa, chama e a porta será aberta, para que você seja atendido. Quando o Senhor disse estas palavras, ele poderia haver recorrido à sua própria vida como evidência. Em todo caso, nós podemos nos referir à mesma agora e demonstrar que ninguém pediu a Cristo sem receber. A mulher sirofenícia descobriu que todo aquele que pede recebe. A mulher que sofria de hemorragia e tocou a veste do Senhor, não estava pedindo, estava buscando, e encontrou. “Tenho pedido fé”. Diz alguém. Bem, que queres dizer com isso? Crer em Jesus é um dom de Deus, porém além disso deve ser um ato teu. Pensas que Deus crerá por ti, ou que o Espírito Santo crê no nosso lugar? Que tem que crer o Espírito Santo? Tu deves crer por ti mesmo ou te perderás, caso não conheças ainda ao Senhor. Ele não pode mentir. Ele tem dito que o que crer e for batizado será salvo. Se alguém pede em oração para ser salvo, mas não crê ao mesmo tempo no Senhor Jesus, não pode ser salvo. 44 Porque a Palavra não diz: “Ora e serás salvo”, mas sim “crê e serás salvo”. Confia no Senhor e serás salvo, e tua oração será respondida. Se na tua constante comunhão com o Senhor te sentes movido a orar pela salvação de determinada pessoa, continua orando com esperança porque obterás a resposta à tua oração. Há muitos que têm tido a resposta às suas orações por outros depois de mortos. 45 Como Suplicar Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra) “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!” (Sl 70.5). Oh! Quantas convicções errôneas temosfixado em todas as nossas relações com as pessoas, não sabendo a forma de dar a devida honra e deferência a quem é digno de honra, conforme está determinado pelo Senhor. E com o próprio Deus também não sabemos como convém sobre a maneira de nos dirigirmos a Ele, e isto é algo para ser aprendido ao longo de toda a vida. Mas podemos aprender muitas coisas básicas a este respeito, e temos um bom professor para isto na pessoa de Davi. Os pintores, na antiguidade costumavam aprender debaixo dos pés dos grandes mestres. Eles estavam convencidos de que poderiam alcançar mais facilmente os níveis de excelência se estivessem na escola de homens eminentes. Os homens têm gasto grandes somas em dinheiro para que seus filhos possam ser aprendizes das pessoas que são as melhor preparadas em seus ofícios e profissões. Agora se algum de nós quiser aprender a sagrada arte 46 e mistério da oração, é bom que estude as produções dos grandes mestres desta ciência. As condições da oração ouvida, em relação ao comportamento e à vida do que ora, a sua atitude, o objeto de sua petição, e tantas outras minúcias, podemos aprender da vida daqueles que prevaleceram com Deus na oração. E não houve quem melhor entendesse a arte da oração do que o salmista Davi. Ele também conhecia a forma de louvar, e seus salmos se converteram na linguagem dos bons homens de todas as épocas. Ele entendeu tão bem como se deve orar, que se nós captarmos o seu espírito, e seguir sua maneira de orar, teremos aprendido a suplicar a Deus da maneira que melhor prevalece. Põe diante de ti, em primeiro lugar ao Filho e Senhor de Davi, o mais poderoso de todos os intercessores, e junto a Ele encontrarás a Davi como um dos mais admiráveis modelos para ser imitado. Então consideraremos nosso texto como uma das produções de um grande mestre em assuntos espirituais, e o estudaremos orando todo o tempo que Deus nos ajude a orar da mesma maneira. Em nosso texto teremos a alma de alguém que suplica com êxito sob quatro aspectos: em primeiro lugar, vemos a alma que confessa: “eu sou pobre e necessitado”. Logo, temos a alma que suplica, porque usa sua pobre condição 47 como argumento para pedir, e acrescenta: “ó Deus, apressa-te em valer-me”. Em terceiro lugar podes ver uma alma premida pela urgência, porque exclama: “apressa-te”, e varia a expressão porém conserva a mesma ideia: “Senhor, não te detenhas!”. E tens em quarto e último lugar, uma alma que se aferra a Deus, porque o salmista o expressa deste modo: “pois tu és o meu amparo e o meu libertador.”, assim se agarra a Deus com suas mãos, como para não deixá-lo ir até haver obtido a bênção. I. Então, para começar, vejamos neste modelo de súplica UMA ALMA QUE CONFESSA O lutador se despe antes de começar a luta, e a confissão faz o mesmo pelo homem que está por apresentar sua causa diante de Deus. O que corre nas pistas da oração não pode esperar o triunfo a menos que, por meio da confissão e arrependimento e fé, se despoje de todo o peso do pecado. Para a salvação da alma é necessário que se reconheça pela operação do Espírito, a condição de miséria espiritual em que nos encontramos por conta do pecado, para que Deus possa nos salvar tornando-nos ricos com a sua graça. No caso de crentes, que têm necessidades específicas, é necessário o reconhecimento e pesar diante de Deus destas necessidades e da nossa total incapacidade de atendê-las. A alma confessa que é pobre e necessitada e Deus se move para suprir a vida 48 daquele que ora com o que for necessário à manutenção da sua vida, enquanto ele se mantém em obediência e fiel à vontade de Deus, porque os seus olhos repousam sobre os justos e sobre os que se humilham, mas Ele resiste ao soberbo. Agora, temos que recordar sempre que a confissão é absolutamente necessária para o pecado quando busca pela primeira vez ao Salvador. O que busca, não pense que achará a paz para o seu coração atribulado, enquanto não tiver reconhecido a sua transgressão e iniquidade diante do Senhor. Pode fazer tudo o que desejar, mesmo tentar crer em Jesus, porém irá descobrir que a fé dos eleitos de Deus não está ainda nele, a menos que esteja disposto a fazer uma confissão completa de suas transgressões, e desnudar seu coração diante de Deus. Geralmente nós não fazemos doações de caridade a pessoas que não a necessitam. O médico não dá seu medicamento a quem não está enfermo. O cego junto ao caminho a mendigar. Se ele tivesse dúvida quanto à sua cegueira, o Senhor teria passado de largo adiante dele. Ele abre os olhos aos que se confessam cegos, porém ao demais diz: “porque dizeis vemos, o vosso pecado permanece”. Aos que eram levados diante dele, perguntava: “Que queres que eu te faça” para que sua necessidade fosse publicamente reconhecida. Tem que ser 49 assim para todos nós: devemos oferecer a confissão, ou não podemos obter a bênção. Permitam-me que fale a vocês que desejam encontrar a paz com Deus, e a salvação por meio do precioso sangue de Jesus. Vocês farão bem em fazer uma confissão muito sincero e muito explícita diante de Deus. É certo que vocês não têm nada para esconder, porque nada há que possam esconder. Ele já conhece a culpa de vocês, porém ele quer que vocês a conheçam, e por isso manda que a confessem. Entra no detalhe dos seus pecados reconhecendo-os secretamente diante de Deus. Reconhece a maldade do pecado, pede a Deus que lhe faça senti-la. Não o trates como se fosse uma coisa pequena, porque não é. Deus odeia o mínimo pecado. Para redimir o pecador dos efeitos do pecado, Cristo mesmo teve que morrer, e de outra sorte não poderia haver perdão de qualquer pecado, por mínimo que fosse. Procure ver o pecado como Deus o vê, como uma ofensa contra tudo o que é bom, uma rebelião contra tudo o que é amável. Veja o pecado como traição, como ingratidão, como uma coisa baixa e egoísta. Nunca espere que o Rei do céu perdoe a um traidor, se este não confessa e abandona sua traição. Até o pai mais terno espera que o filho se humilhe quando tem causado uma ofensa, e não deixará de mostrar-lhe a face franzida até 50 que ele com lágrimas diga: “pai, tenho pecado”. Você se atreve a esperar que Deus se humilhe diante de você, e não seria ao contrário que Ele te constrangeria a se humilhar a Ele? Você quer que Ele faça vista grossa às suas faltas e feche os olhos às suas transgressões? Ele terá misericórdia, porém é santo. Está disposto a perdoar, porém não tolera o pecado, e portanto, não pode lhe perdoar se você segue acariciando os seus pecados, ou se atreve a dizer: “não tenho pecado”. Assim pois dá-te pressa, lhe rogo, e apresenta-te diante do trono da graça com isto em teus lábios: “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!”. Com tal reconhecimento começas bem a tua oração, e por Jesus Cristo prosperarás nisto. Amados leitores, o mesmo princípio se aplica à igreja de Deus. Estamos orando por uma demonstração do poder do Espírito Santo nesta igreja, para o fim de orarmos com êxito nisto, é necessário que unanimemente façamos a confissão que se acha em nosso texto: “eu sou pobre e necessitado”. Temos que reconhecer nisto que carecemos de poder. A salvação é de Jeová e não podemos salvar uma só alma. O Espírito de Deus está escondido em Cristo, pelo que devemos buscá-lo diante do que é o grande Cabeça da Igreja. Não podemos enviar o Espírito, e nada podemos fazer sem Ele. 51 Ele sopra onde quer. Devemos sentir isto profundamente e reconhecê-lo honestamente. Antes de abençoar a sua igreja, Deus quer que saiba que a bênção vem completamente dele, não com exército, nem com força, senão com o seu Espírito, diz o Senhor. A lição que aprendemos da experiência que Deus concedeu aGideão para confirmar que faria por meio dele aquilo que havia designado, é muito instrutiva. Lemos em Jz 6.36-40: “Disse Gideão a Deus: Se há de livrar a Israel por meu intermédio, como disseste, eis que eu porei uma porção de lã na eira: se o orvalho estiver somente nela, e seca a terra ao redor, então conhecerei que hás de livrar a Israel por meu intermédio, como disseste. E assim sucedeu; porque ao outro dia se levantou de madrugada e, apertando a lã, do orvalho dela espremeu uma taça cheia de água. Disse mais Gideão: não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã: que só a lã esteja seca, e na terra ao redor haja orvalho. E Deus assim o fez naquela noite: pois só a lã estava seca, e sobre a terra ao redor havia orvalho.”. Gideão tem sido retratado nesta passagem como um homem cheio de dúvidas, medroso, mas isto não faz honra ao seu caráter, porque Deus não teria respondido ao coração que duvida do seu poder. Vemos de outra forma, uma prova da fé que Gideão tinha em Deus, e por isso mesmo foi 52 chamado por Ele para liderar Israel, pois Ele cria que Deus era poderoso para fazer o que fez. Vemos uma atitude de prudência e de confirmação, de que quem o estava chamando era de fato o Senhor, porque nenhum outro poderia fazer o que Ele fez. A lição que Deus ensinou a Gideão e que também nos ensina nesta passagem é que sem o orvalho da sua graça nada podemos fazer. Não é porque estamos no auge de um ministério que Deus normalmente abençoa, ou porque estamos numa igreja que Deus normalmente visita com sua graça, porém nos faz ver que as visitações do seu Espírito são o fruto da sua soberana graça, e são dons do seu amor infinito, e não da vontade do homem, nem pelo homem. Como disse Tomás Fuller: “os ventos de Deus podem mudar e serão tão gloriosos de uma maneira como de outra.”. Tal qual o Senhor fizera com a lã de Gideão, numa noite encharcou a lã com o sereno, deixando tudo seco ao redor, e numa outra noite fez o contrário, deixou a lã seca e encharcou tudo ao seu redor. O pedido de Gideão foi sábio, porque o orvalho que cai numa região, não pode cair num só pequeno ponto (a lã), e não ao redor, como também não pode deixar de cair num único pequeno ponto, enquanto cai em todo o seu redor. Isto somente Deus pode fazer pelo seu poder. Isto nos revela que no que se refere especialmente a milagres, dependemos inteiramente dele e da sua soberana vontade. Somos de fato, diante dele, 53 pobres e necessitados. Nada podemos fazer quando o feito excede a nossa capacidade pessoal. Dependemos inteiramente do Espírito que age como quer e onde quer e sobre quem quer, assim como o vento que sopra onde quer. É muito significativo que antes que desse de comer aos milhares de pessoas, Jesus pediu que os discípulos fizessem antes o inventário das provisões que estavam disponíveis, para que ninguém dissesse que o milagre foi feito com os recursos do próprio homem que estavam disponíveis no momento. Quando Jesus ordenou aos discípulos que lançassem as redes à direita do barco e eles o encheram de peixes, ele não fez o milagre até que eles tivessem confessado que haviam trabalhado a noite inteira e que não tinham conseguido pescar nenhum peixe. Assim, souberam que naquele milagre o êxito foi inteiramente devido ao seu Senhor. Devemos entender e aprender isto, e quanto mais cedo o consigamos, melhor. Por isso dou graças a Deus quando nos limpa a alma de toda autosuficiência e vaidade e bendigo o seu grande nome quando nos levar a sentir a pobreza de nossa alma como igreja, porque é certo que então virá a bênção. Um pai e crente fiel, chora porque o dinheiro mal dá para pagar as contas e já não pode ofertar e ajudar a outros como gostaria, e na sua pobreza financeira chora diante de Deus, não 54 murmurando, mas prosseguindo com sua alma grata e satisfeita ao Senhor, mesmo com o quase nada que tem, reconhece sua pobreza e necessidade, e incapacidade de inverter a situação, porque todas as portas parecem ter sido fechadas. Não demora muito e a resposta vem do céu trazendo a provisão necessária para tornar aquele coração confiante na certeza de que há um Deus no céu que cuida de cada uma das nossas necessidades. Quando o fogo vem do céu como resposta à nossa oração, dá-se o mesmo que se deu com Elias, podemos colocar água, uma, duas, três vezes sobre o altar onde nos oferecemos como sacrifício vivo e santo ao Senhor, e o fogo queimará a oferta, e nenhuma água poderá apagá-lo. Se nesta igreja, se deseja que o Senhor nos abençoe grandemente, o Senhor pode enviar-nos a prova de derramar água, uma, duas, ou três vezes. Pode desalentar-nos, afligir- nos, provar-nos e fazer-nos esmorecer, até que vejamos que não é o pregador, nem a organização, não é o homem senão completamente de Deus, o Alfa e o Omega, que vem a bênção da igreja, daquele que opera todas as cousas de acordo com o conselho da sua vontade. Assim, tenho demonstrado que para ter uma boa sessão de oração o melhor é começar com a confissão de que somos pobres e necessitados. Aprendamos com o rei Davi que prevaleceu diante de Deus. 55 II. Em segundo lugar, quando a alma se tem despojado do peso dos méritos e da autosuficiência, e começa a orar, então nos encontramos diante de UMA ALMA QUE SUPLICA. “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!”. O leitor cuidadoso notará quatro súplicas neste único versículo. Deus é quem tudo faz. É quem opera o querer e o efetuar. Mas você tem que atender as condições que Ele mesmo estabeleceu para abençoar o seu povo: obediência à sua vontade, à sua Palavra, e isto implica muitas coisas. Lutar com Ele em súplica, ser submisso a quem é devido, amar com apreço os pastores, o cônjuge, os filhos, enfim, andar em fidelidade nos seus deveres para com o Senhor, guardando a sua Palavra e esforçando-se para honrar o seu nome. A bênção virá no entanto não pelo nosso mérito decorrente da nossa obediência, esta é condição, mas não é a causa, a causa é sempre o próprio Senhor, lembre-se sempre que somos pobres e necessitados, nada há em nós, mesmo em nossa fidelidade que nos recomende à benção de Deus. Sobre este tema quero destacar que é hábito da fé, quando está orando, usar súplicas. Que sejam até mesmo suspiros do coração, mas que sejam 56 expressões da alma que se move diante do Deus vivo e procura o seu socorro e auxílio. Os que são simples pronunciadores de orações, de nenhum modo estão orando, porque se esquecem de se oferecer a Deus. Porém aqueles que querem prevalecer, oferecem suas razões e seus poderosos argumentos e debatem a questão com Deus. Os que lutam o fazem de acordo com certas regras. Têm um estilo de se lançar sobre o oponente. E a arte da luta da fé é suplicar a Deus, e dizer com ousadia: “que seja assim e assim, por tais e tais razões”. Quando Jacó temia seu irmão Esaú, ele se colocou diante de Deus e lembrou-Lhe que ele estava vindo àquele lugar em obediência a Ele e que Ele lhe havia prometido que lhe faria bem. Estando em grande aperto, se firmou na promessa do Senhor: “Disseste: eu te farei bem.”. E o Senhor o ouviu e o abençoou. Irmãos, aprendemos assim a suplicar com os preceitos e promessas, e com qualquer outra coisa que possa servir-nos; porém tenhamos sempre algo em que basear nossa súplica. Não faças conta de ter orado se não tens argumentado porque o argumentar é a medula mesma da oração. O que suplica com argumentos conhece o segredo de prevalecer com Deus, especialmente se apela ao sangue de Cristo, porque isso abre a fechadura dos tesouros celestiais. 57 A fé invocará ousadamente todas as relações da graça de Deus. Poderás Lhe dizer: “Não és tu o Criador?Desampararás a obras das tuas mãos? Não és o Redentor? Normalmente a fé se deleita em lançar mão da paternidade de Deus. “Tu és Pai e nos castigarás e matarás? Um pai e não proverás? Um pai e não te compadeces e nem tens misericórdia? Um pai e negas o que teu filho pede?”. Os que oram de verdade são como pessoas sérias que vão ao banco sacar dinheiro. Elas não saem da agência até que tenham retirado o seu dinheiro. Assim, são pessoas frívolas aqueles que jogam a oração, digo que jogam, porque não pedem com seriedade e não esperam o recebimento da resposta de Deus, e assim são pessoas puramente frívolas, que não honram ao Senhor. Não lhe dão a oportunidade de provar a sua completa fidelidade. O Senhor não está jogando ou brincando quando faz promessas. Não foi um jogo quando derramou o seu sangue, e não devemos converter a oração numa frivolidade, orando com um espírito que nada espera. O Espírito Santo é sério e nós devemos também ser sérios. Devemos ir em busca de uma bênção, e não ficarmos satisfeitos até que a tenhamos alcançado. Como o caçador, não fica satisfeito por haver corrido, tantas milhas, e não está contente até que tenha colhido uma presa. 58 Ademais, a fé apela às proezas de Deus. Contempla o passado e diz: “Senhor, tu me salvaste em tais e tais ocasiões, me faltarás agora?”. “Tens me trazido até este ponto para que ao final seja posto em vergonha?”. A fé conhece as antigas misericórdias de Deus, e as converte em argumentos para obter favores presentes. Porém todo teu tempo se terá ido se tratas de mostrar sequer a milésima parte dos argumento da fé. Contudo, às vezes os argumentos da fé são muito singulares. Como ocorre no nosso texto, de nenhum modo se conforma às regras da orgulhosa natureza humana ao suplicar: “Eu sou pobre e necessitado, oh Deus apressa-te em socorrer-me”. Esta não é a maneira com que os homens suplicam, porque dizem: “Senhor, tem misericórdia de mim, porque não sou tão pecador como os outros.”. Porém a fé faz sua leitura sob uma luz mais realista, e baseia seus argumentos na verdade. “Senhor, posto que meu pecado é grande, e tu és o grande Deus, que tua misericórdia seja concedida a mim.”. Vocês conhecem a história da mulher siro- fenícia. É um grande exemplo da ingenuidade do arrazoamento da fé. Veio a Cristo a suplicar por sua filha, e ele não lhe respondeu palavra alguma. Que creem que disse seu coração? “Bem, está bem, porque não me tem recusado. Posto que não tem falado não me tem 59 recusado.”. Animando-se com isto, começou a suplicar de novo. Deste vez Jesus lhe falou de forma um tanto áspera, e então seu valente coração disse: “Por fim tenho alcançado o que esperei. Logo terei uma obra maravilhosa.”. Isso também a alegrou, e então, quando Ele a chamou de cachorro, ela respondeu: “porém um cachorrinho é parte da família, tem alguma conexão com o amor da casa. Embora não coma à mesa, recebe as migalhas que caem dela, e agora te tenho a ti, grande Amo, ainda que seja um cachorrinho. A grande misericórdia que te estou pedindo, embora seja muito grande para mim, para ti é somente uma migalha. Conceda- ma te rogo.”. Poderia fracassar o que estava pedindo? Impossível. Quando a fé tem um desejo, sempre encontra um caminho, e obterá a vitória quando todas as coisas pressagiam uma derrota. Ainda que o próprio Deus nos ponha à prova indicando que não está muito interessado em resolver nossos problemas. Não é um argumento contundente afirmar que estamos aflitos e necessitados. Não é esse o principal argumento diante da benevolência, seja humana ou divina? Não é nossa necessidade a melhor razão que podemos oferecer? III. No ponto seguinte devo ser breve. É UMA ALMA PREMIDA PELA NECESSIDADE 60 “Apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!”. Podemos pedir urgência a Deus, se todavia não somos salvos, porque nossa necessidade é urgente. Estamos em perigo constante, e perigo da pior espécie. Oh, pecador, dentro de uma hora, dentro de um minuto, podes encontrar-te onde a esperança já não te visitará mais. Portanto, clama: “Dá-te pressa, Oh, Deus, livra-me, apressa-te em socorrer- me!”. O teu caso é um que não admite demoras. Não tens tempo para perder. És uma alma premida, porque tua necessidade é urgente. E recorda, se estás realmente numa necessidade, e o Espírito está operando em ti, terás a sensação de urgência e deves atuar com urgência. Um pecador comum poderia contentar-se com esperar, porém um pecador vivificado quer misericórdia agora mesmo. Um pecador morto permanecerá quieto, porém um pecador vivificado não pode descansar até que o perdão tenha sido selado em sua alma. Se tens urgência agora, fico contente com isso, porque na tua urgência alcançarás a posse da vida espiritual. Quando já não podes viver sem um Salvador, o Salvador virá a ti, e tu te regozijarás nele. Irmãos, membros desta igreja, a mesma verdade tem valor para vocês. Deus virá para abençoá-los, e virá prontamente, quando a sensação de urgência se faça mais profunda e urgente. Oh, quão grande é a necessidade desta 61 igreja! Não se acostume ao seu fracasso. Não se acostume à sua enfermidade, se esta é espiritual. Não se acostume á frieza de coração. Isto nos fará mundanos, nos colocará longe da santidade, nos dividirá, trará discórdias de todas as espécies. Satanás se regozijará, e Cristo será desonrado, a menos que obtenhamos uma maior medida do Espírito Santo. Nossa necessidade, então receberemos a bênção que desejamos se a buscarmos com o espírito de urgência em Deus. De minha parte, irmãos e irmãs, desejo sentir um espírito de urgência dentro de minha alma enquanto suplico a Deus o orvalho de sua graça descendo sobre esta igreja. Jesus tem dito que devemos orar sempre e não desmaiar. Deus nos tem convidado a nos aproximarmos do trono da graça. Ele te motiva, te ordenando que acudas a Ele, e tem prometido que tudo o que pedirmos em oração, crendo, o receberemos. Então venha com urgência, venha em forma importuna, venha com esse argumento: “estou pobre e necessitado, não te detenhas, oh Deus meu”, e seguramente virá uma bênção, não tardará. Que Deus nos conceda o poder de vê-la, para que lhe demos toda a glória. IV. Esta é outra parte da arte e mistério da oração: A ALMA QUE SE AFERRA A DEUS. A alma tem suplicado, tem mostrado a urgência, e agora se aproxima de Deus e se agarra a Ele. 62 Agarra-o com uma das mãos e diz? “Tu és minha ajuda”, e com a outra mão: “Tu és meu libertador.”. Agora, pecador, possa Deus ajudá-lo a dizer nesta manhã ao bendito Cristo de Deus: “Tu és minha ajuda e meu libertador.”. Talvez te queixes de não poder ir longe, porém, pobre alma, tens outra ajuda? Se a tens, não podes ter dois ajudadores em uma só mão. “Oh, não,”, digas, “não tenho ajuda alguma. Não tenho esperanças senão em Cristo.”. Então, pobre alma, posto que tens as mãos vazias, essa mão vazia foi preparada intencionalmente para aferrar-se a teu Senhor. Aferra-te a Ele. O Senhor ama a ousadia dos pobres pecadores. “Oh”, diz alguém, “porém sou tão indigno. “Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Ele não é Salvador dos que se creem justos. Ele é Salvador dos pecadores: “amigo dos pecadores.” é seu nome. Tu que te sentes indigno, aferra-te a Ele. “Oh,”, diz alguém. “porém não tenho direito”. Bem, posto que tu não tens direito, tua necessidade será teu clamor: é tudo o que necessitas pedir. Parece-me ouvir alguém que diz: “é demasiado tarde para que eu suplique pedindo graça. “Não pode ser, é impossível, enquanto vivas e desejes a graça, não será demasiado tarde para buscá-la. Qualquer momento é o tempo oportuno para invocar o nome de Jesus. Assim não deixes que o 63 diabo te tente com o pensamento de que é demasiado tarde. Acode a
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