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Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. APG 15 – “PROMESSA INTERROMPIDA.” Abertura: 26/03/2021 Devolutiva: 30/03/2021. Objetivos: 1. REVER DOENÇAS AUTOSSÔMICAS. -> autossômicas dominantes; autossômicas recessivas. 2. ALTERAÇÕES RELACIONADAS À DOENÇA DO COLÁGENO. -> Lúpus eritematoso; Poliarterite nodosa; Esclerodermia sistêmica; Dermatomiosite. 3. SÍNDROME DE MARFAN. -> Fisiopatologia; Manifestações clínicas; exames laboratoriais. ➔ DOENÇAS AUTOSSÔMICAS DOMINANTES: Tais doenças são particularmente importantes porque podem ser causadas por mutações em um único alelo. Diferentemente das doenças recessivas, nas quais a patogênese é relativamente mais simples, já que há perda da função do gene, as doenças dominantes podem ter vários mecanismos, muitos deles específicos para a função da via genética envolvida. As doenças autossômicas dominantes atingem várias gerações consecutivas e não ocorrem na prole dos indivíduos sãos. A FREQUÊNCIA É IDÊNTICA EM HOMENS E MULHERES, POIS O GENE DEFEITUOSO ESTÁ EM UM DOS 22 AUTOSSOMOS. As mutações autossômicas dominantes alteram apenas um dos dois alelos de um dado locus. A separação desses alelos na meiose é aleatória, por isso a chance de um descendente ser acometido é de 50%. A menos que tenha havido uma nova mutação na linhagem germinativa, todos os indivíduos acometidos devem ter um dos genitores acometido. As crianças com genótipo normal não transmitem a doença. As manifestações clínicas das doenças autossômicas dominantes podem variar em função de diferenças na penetrância ou na expressividade. Tais variações podem dificultar a determinação do padrão de herança. No entanto, deve-se ter em mente que alguns indivíduos podem herdar o gene mutante de um genitor não acometido. As mutações novas da linhagem germinativa são mais frequentes nas etapas mais tardias da divisão celular durante a gametogênese, o que explica por que é raro que irmãos sejam acometidos. Como mencionamos antes, as novas mutações na linhagem germinativa são mais comuns em pais de idade avançada. POR EXEMPLO, A MÉDIA DE IDADE DOS PAIS QUE TRANSMITIRAM SÍNDROME DE MARFAN POR MEIO DE NOVAS MUTAÇÕES OCORRIDAS NA LINHAGEM GERMINATIVA É DE CERCA DE 37 ANOS, ENQUANTO OS PAIS QUE TRANSMITIRAM A DOENÇA POR HERANÇA TÊM, EM MÉDIA, APROXIMADAMENTE 30 ANOS. ➔ DOENÇAS AUTOSSÔMICAS RECESSIVAS: Nas doenças recessivas, os alelos mutantes resultam em perda parcial ou total da função. Tais doenças costumam envolver enzimas de vias metabólicas, receptores ou proteínas das cascatas de sinalização. Em doenças autossômicas recessivas, o indivíduo acometido, que pode ser de qualquer sexo, é um homozigoto ou um heterozigoto composto para um determinado defeito monogênico. Salvo poucas e importantes exceções, as doenças autossômicas recessivas são raras e muitas vezes ocorrem em um contexto de consanguinidade dos genitores. A frequência de algumas doenças recessivas, como a anemia falciforme, a fibrose cística e a talassemia, pode, em parte, ser explicada pela vantagem biológica seletiva do estado heterozigoto. Embora os portadores heterozigotos de um alelo defeituoso costumem ser clinicamente normais, eles às vezes apresentam diferenças sutis no fenótipo que só aparecem quando são feitos testes mais precisos ou o paciente é submetido a determinados fatores ambientais. Na anemia falciforme, por exemplo, os heterozigotos geralmente são assintomáticos. Entretanto, em situações de desidratação ou de redução na pressão de oxigênio, é possível ocorrer crise falcêmica em heterozigotos. Na maioria dos casos, os indivíduos acometidos são descendentes de genitores heterozigotos. NESSE CASO, CADA FILHO TEM 25% DE CHANCE DE SER PORTADOR DE GENÓTIPO NORMAL, 50% DE CHANCE DE SER HETEROZIGOTO E 25% DE CHANCE DE SER HOMOZIGOTO PARA OS ALELOS RECESSIVOS. Em caso de um dos genitores ser heterozigoto não afetado e o outro homozigoto afetado, a probabilidade de doença aumenta para 50% a cada criança. Nessa situação a análise genealógica se assemelha à do modo de herança autossômico dominante (pseudodominância). Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Diferentemente do que ocorre nas doenças autossômicas dominantes, novas mutações de alelos recessivos raramente se manifestam, pois em geral resultam no estado de portador assintomático. 2- ALTERAÇÕES RELACIONADAS À DOENÇA DO COLÁGENO. -> Lúpus eritematoso; Poliarterite nodosa; Esclerodermia sistêmica; Dermatomiosite. Algumas das condições mais comuns que são transmitidas geneticamente em famílias consistem em distúrbios que provocam alterações clinicamente evidentes no esqueleto, na pele ou em outros tecidos relativamente acelulares, os quais têm sido amplamente definidos como tecidos conectivos. Por serem hereditários, esses distúrbios foram reconhecidos como potencialmente atribuíveis a mutações de genes pouco depois da introdução dos princípios de genética na medicina. Nessas últimas décadas, muitos desses distúrbios foram associados a mutações em várias centenas de diferentes genes. Entretanto, a classificação dos distúrbios com base em suas manifestações clínicas ou nas mutações que os provocam representa um desafio tanto para o médico quanto para o geneticista. Um importante progresso nesse campo foi realizado por McKusick, quando sugeriu que um grupo de distúrbios, que incluía ossos quebradiços em crianças (osteogênese imperfeita), hiperelasticidade da pele (síndrome de Ehlers- Danlos) e deformidades características do esqueleto (síndrome de Marfan), deveria ser considerado como “distúrbios hereditários do tecido conectivo”, E QUE AS MUTAÇÕES RESPONSÁVEIS POR ESSES DISTÚRBIOS DEVERIAM SER ENCONTRADAS NOS GENES QUE CODIFICAM AS PROTEÍNAS DOS TECIDOS. As informações sobre os distúrbios continuaram a ser obtidas em dois níveis. As classificações clínicas iniciais sugeridas por McKusick e outros tiveram de ser aprimoradas conforme mais pacientes eram examinados. Por exemplo, alguns pacientes apresentavam alterações cutâneas semelhantes àquelas comumente observadas na síndrome de Ehlers-Danlos, porém essa característica era obscurecida por outras manifestações, como hipotonia extrema ou ruptura súbita de vasos sanguíneos de grande calibre. Para dar conta de todo o espectro de apresentações observadas em pacientes e famílias, muitos dos distúrbios foram reclassificados várias vezes, e cada um deles foi dividido em uma série de subtipos. Por exemplo, um esforço recente para classificar todos os distúrbios hereditários que alteram o esqueleto definiu 456 condições distintas, as quais foram divididas em 40 grupos principais. A identificação de mutações que causam as doenças seguiu um caminho paralelo. Os primeiros genes clonados relacionados com os tecidos conectivos foram dois genes que codificam o colágeno tipo I, a proteína mais abundante nos ossos, na pele, nos tendões e em vários outros tecidos. Alguns dos primeiros ensaios realizados em pacientes com osteogênese imperfeita (OI) revelaram mutações nos genes do colágeno tipo I. Dados bioquímicos utilizando culturas de fibroblastos da pele de pacientes afetados demonstraram que as mutações alteram drasticamente a síntese ou a estrutura das fibras colágenas. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. OS RESULTADOS ESTIMULARAM ESFORÇOS PARA IDENTIFICAR MUTAÇÕES ADICIONAIS EM GENES QUE CODIFICAMPROTEÍNAS ESTRUTURAIS. Os genes dos colágenos proporcionaram um paradigma atraente para a pesquisa de mutações, visto que foi encontrada uma série de diferentes tipos de colágenos em diferentes tecidos conectivos, e os genes dos colágenos foram facilmente isolados em virtude de suas sequências individuais singulares. Além disso, os genes dos colágenos são particularmente vulneráveis a um grande número de mutações diferentes devido aos requisitos estruturais incomuns da proteína. A PESQUISA DE MUTAÇÕES NOS GENES DOS COLÁGENOS FOI PRODUTIVA, VISTO QUE FORAM IDENTIFICADAS MUTAÇÕES NA MAIORIA DOS PACIENTES COM OI, EM MUITOS PACIENTES COM HIPERELASTICIDADE DA PELE, EM ALGUNS PACIENTES COM NANISMO E EM PACIENTES COM OUTROS DISTÚRBIOS, INCLUINDO SÍNDROME DE ALPORT, QUE INICIALMENTE NÃO FORAM CLASSIFICADOS COMO DISTÚRBIOS DO TECIDO CONECTIVO. ➔ Além disso, mutações em genes dos colágenos foram identificadas em um subgrupo de pacientes com diagnóstico de osteoartrite e em outro subgrupo de pacientes com diagnóstico de osteoporose. Todavia, a pesquisa de mutações expandiu-se rapidamente para centenas de outros genes, incluindo genes para outras proteínas estruturais, para o processamento pós- tradução de proteínas estruturais e para fatores de crescimento e seus receptores, bem como outros genes cujas funções ainda não estão totalmente conhecidas. Em muitos casos, as mutações ajudaram a definir o subtipo clínico do distúrbio. Entretanto, isso não ocorreu em outros distúrbios. Foi constatado que alguns pacientes com as mesmas apresentações clínicas tinham mutações em diferentes genes. Além disso, também foi observado que alguns pacientes com manifestações diferentes apresentavam mutações nos mesmos genes. Foi difícil estabelecer se uma mudança na estrutura de determinado gene causava as alterações fenotípicas observadas nos pacientes e não representava simplesmente um polimorfismo neutro. Por conseguinte, tem havido discussões contínuas para definir se os distúrbios devem ser classificados com base nas apresentações clínicas ou com base nas anormalidades genéticas. Para ilustrar o problema, foi constatado que mutações em 226 genes estavam associadas aos 456 distúrbios definidos do esqueleto, porém a nosologia mais atual continua sendo um “híbrido” entre uma lista de distúrbios clinicamente definidos, aguardando uma definição molecular, e um banco de dados anotados documentando o espectro fenotípico produzido por mutações em determinado gene. Um sistema mais simples de classificação demonstrou ser possível para um distúrbio hereditário raro da pele, a epidermólise bolhosa. O distúrbio foi definido pela primeira vez pela presença de bolhas induzidas por atrito. Em seguida, foi dividido em subtipos, que foram definidos pelas camadas ultraestruturais da pele que sofriam clivagem e formação de bolhas. Subsequentemente, foi constatado que os pacientes em cada subtipo apresentavam, em sua maioria, mutações em genes expressos na camada correspondente da pele. Entretanto, mesmo com esses pacientes, a força da correlação genótipo- fenótipo varia, e ainda não foram encontradas mutações em todos os pacientes. Por fim, relatórios de consenso apresentados por especialistas no campo e fontes como o banco de dados do Online Mendelian Inheritance in Man fornecem valiosos recursos para médicos que pesquisam diagnósticos para pacientes com manifestações clínicas incomuns. Todavia, os pacientes com as formas mais comuns dos distúrbios apresentam mutações em um número limitado de genes. COMPOSIÇÃO DOS TECIDOS CONECTIVOS: Os tecidos conectivos, COMO A PELE, O OSSO, A CARTILAGEM, OS LIGAMENTOS E OS TENDÕES, constituem os arcabouços estruturais essenciais do corpo, importantes para o desenvolvimento e a função. Consistem em uma complexa rede de matriz extracelular de colágenos, proteoglicanas e grande número de glicoproteínas e proteínas não colágenas. Embora essas combinações precisas de até cerca de 500 unidades de construção potenciais da matriz extracelular proporcionem uma função tecidual específica, existem muitas semelhanças gerais na composição, como o papel das fibrilas de colágeno compostas na produção da força e do formato, fibrilas de elastina e proteoglicanas e outras proteínas de interação e glicoproteínas que aprimoram a função. Os componentes mais abundantes consistem em três colágenos fibrilares semelhantes (tipos I, II e III). Eles possuem uma força de tração semelhante, como fios de aço. Os três colágenos fibrilares distribuem-se de maneira específica nos tecidos: o colágeno tipo I é responsável pela maior parte da proteína da derme, dos ligamentos, dos tendões e do osso desmineralizado; o tipo I e o tipo III são as proteínas mais abundantes dos vasos sanguíneos de grande calibre, e o tipo II é a proteína mais abundante da cartilagem. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. BIOSSÍNTESE E RENOVAÇÃO DOS TECIDOS CONECTIVOS: Os tecidos conectivos estão entre os componentes mais estáveis dos organismos vivos, porém não são inertes. Durante o desenvolvimento embrionário, as membranas dos tecidos conectivos já aparecem no estágio inicial do blastocisto de quatro células, proporcionando força e uma base estrutural para o embrião em desenvolvimento. COM A FORMAÇÃO DOS VASOS SANGUÍNEOS E DO ESQUELETO, OCORRE UM RÁPIDO AUMENTO NA SÍNTESE, NA DEGRADAÇÃO E NA RESSÍNTESE DOS TECIDOS CONECTIVOS. A renovação prossegue em um ritmo mais lento, porém ainda rápido, durante todo o desenvolvimento pós-natal e, em seguida, alcança um pico durante o estirão de crescimento da puberdade. Durante a vida adulta, a renovação metabólica da maioria dos tecidos conectivos é lenta, porém prossegue em um ritmo moderado no osso. Com a idade, a desnutrição, a falta de atividade física e um baixo estresse gravitacional, a taxa de degradação da maioria dos tecidos conectivos, em particular o osso e a pele, começa a ultrapassar a taxa de síntese, de modo que ocorre retração dos tecidos. Na inanição, uma grande fração do colágeno na pele e em outros tecidos conectivos sofre degradação e fornece aminoácidos para a gliconeogênese. Tanto na osteoartrite quanto na artrite reumatoide, ocorre extensa degradação do colágeno das cartilagens articulares. Os glicocorticoides enfraquecem a maioria dos tecidos ao diminuir a síntese de colágeno. Entretanto, em muitos estados patológicos, observa-se um depósito de colágeno em excesso. Na maioria das lesões teciduais, as respostas inflamatórias e imunes estimulam o depósito de fibrilas de colágeno na forma de cicatrizes fibróticas. O depósito das fibrilas é, em grande parte, irreversível e impede a regeneração dos tecidos normais na cirrose hepática, na fibrose pulmonar, na aterosclerose e na nefrosclerose. ESTRUTURA E BIOSSÍNTESE DOS COLÁGENOS FIBRILARES: A força de tração das fibras de colágeno provém principalmente da automontagem dos monômeros de proteínas em grandes estruturas fibrilares, em um processo que se assemelha à cristalização. A automontagem requer monômeros de estrutura altamente uniforme e relativamente rígida. Depende também de uma complexa série de etapas de processamento pós-tradução, que mantêm a solubilidade dos monômeros até que eles sejam transportados aos sítios extracelulares apropriados para a montagem das fibrilas. DEVIDO À NECESSIDADE ESTRITA DE UMA AUTOMONTAGEM CORRETA, NÃO É SURPREENDENTE QUE A OCORRÊNCIA DE MUTAÇÕES NOS GENES DOS COLÁGENOS FIBRILARES PROVOQUE MUITAS DAS DOENÇAS DOS TECIDOS CONECTIVOS. Os monômeros dos três colágenos fibrilares são formados a partir de três cadeias polipeptídicas, denominadas cadeias α, que se enrolam uma ao redor da outra em uma conformação de hélice tripla semelhantea uma corda. A hélice tripla é uma estrutura singular entre as proteínas, conferindo rigidez à molécula. Ela também orienta as cadeias laterais de aminoácidos de “dentro para fora” em relação à maioria das outras proteínas, de modo que os resíduos com carga elétrica e hidrofóbicos na superfície podem direcionar a automontagem dos monômeros em fibrilas. A conformação helicoidal tríplice do monômero é gerada porque cada uma das cadeias α possui uma sequência repetitiva de aminoácidos, em que a glicina (Gly) aparece a cada terceiro aminoácido. Cada cadeia α contém cerca de 1.000 aminoácidos. Por conseguinte, a sequência de cada cadeia α pode ser designada como (-Gly-X- Y-) n , onde X e Y representam aminoácidos diferentes da glicina e n é > 338. A presença de GLICINA, o menor dos aminoácidos, a cada terceira posição na sequência é crítica, visto que esse resíduo precisa se encaixar em um espaço esfericamente restrito no meio da hélice, onde as três cadeias se reúnem. A NECESSIDADE DE UM RESÍDUO DE GLICINA A CADA TERCEIRA POSIÇÃO EXPLICA OS GRAVES EFEITOS DAS MUTAÇÕES QUE CONVERTEM QUALQUER UM DOS RESÍDUOS DE GLICINA EM UM AMINOÁCIDO COM CADEIA LATERAL MAIS VOLUMOSA. Muitos dos aminoácidos nas posições X e Y consistem em prolina e hidroxiprolina, que, em virtude de suas estruturas em anel, conferem rigidez adicional à hélice tripla. Outras posições X e Y são ocupadas por aminoácidos com carga elétrica ou hidrofóbicos que dirigem com precisão a montagem lateral e longitudinal dos monômeros em fibrilas finas altamente organizadas. As mutações que substituem aminoácidos em algumas posições X e Y também podem, em raras situações, produzir doenças genéticas. As fibras formadas pelos três colágenos fibrilares diferem quanto à sua espessura e ao seu comprimento, embora tenham uma estrutura fina semelhante. Quando examinadas à microscopia eletrônica, todas exibem um padrão característico de estriações transversais, que têm cerca de um quarto do comprimento dos monômeros e refletem o acondicionamento preciso em fibrilas. Entretanto, os três colágenos fibrilares diferem nas sequências encontradas nas posições X e Y das cadeias α e, portanto, em algumas de suas propriedades físicas. O colágeno tipo I compõe-se de duas cadeias α1(I) e de uma terceira cadeia α2(I) que difere ligeiramente em sua sequência de aminoácidos. O colágeno tipo II é composto de três cadeias α(II) idênticas. O colágeno tipo III é composto de três cadeias α1(III) idênticas. Para que um monômero de estrutura correta alcance o local apropriado de montagem das fibrilas, a biossíntese dos colágenos fibrilares envolve um grande número de etapas de processamento singulares. O monômero, inicialmente sintetizado na forma de um precursor solúvel denominado procolágeno, contém um domínio globular adicional em cada extremidade. À medida que as cadeias pró-α de procolágeno são sintetizadas nos ribossomos, as extremidades N-terminais livres deslocam-se para o interior das cisternas do retículo endoplasmático rugoso. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Os peptídeos sinalizadores nas extremidades N-terminais são clivados e começam reações pós-tradução adicionais. Os resíduos de prolina na posição Y das sequências repetitivas -Gly- X-Ysão convertidos em hidroxiprolina pela enzima prolil - hidroxilase. A hidroxilação dos resíduos de prolil é essencial para o dobramento das três cadeias α do monômero em uma hélice tripla na temperatura corporal. A enzima exige a presença de ácido ascórbico como um de seus cofatores essenciais, uma observação que explica por que as feridas não conseguem cicatrizar no escorbuto. No escorbuto, algumas das proteínas insuficientemente hidroxiladas e não dobradas se acumulam nas cisternas do retículo endoplasmático rugoso e são lentamente degradadas. Os resíduos de lisina na posição Y também são hidroxilados à hidroxilisina por uma lisil- hidroxilase distinta. Muitos dos resíduos de hidroxilisina são glicosilados com galactose ou com galactose e glicose. Um grande oligossacarídeo rico em manose é montado no pró- peptídeo C-terminal de cada cadeia. As cadeias pró-α são montadas por meio de interações entre esses pró-peptídeos C- terminais que controlam a seleção das cadeias associadas apropriadas para formar hetero ou homotrímeros e fornecer o registro de cadeias corretas necessário para a formação subsequente da hélice tripla do colágeno. Após a montagem das três cadeias pró-α pelos pró-peptídeos C-terminais, forma- se um núcleo de hélice tripla próximo à extremidade C- terminal, e a conformação helicoidal propaga-se em direção à extremidade N-terminal como um zíper que se assemelha ao processo de cristalização. O dobramento na hélice tripla é espontâneo em solução; entretanto, conforme discutido adiante, a identificação de mutações raras que causam OI demonstrou que o dobramento no interior da célula é assessorado por proteínas auxiliares. Em seguida, a proteína totalmente dobrada é secretada. Após a secreção, o procolágeno é processado em colágeno pela clivagem dos N- pró-peptídeos e C-pró-peptídeos por duas proteinases específicas. A liberação dos pró-peptídeos diminui a solubilidade da proteína em cerca de 1.000 vezes. A energia entrópica liberada impulsiona a automontagem do colágeno em fibrilas. As fibras colágenas automontadas exibem considerável força de tração, porém sua força é aumentada ainda mais por reações de ligação cruzada que formam ligações covalentes entre as cadeias α em uma molécula e as cadeias α em moléculas adjacentes. Embora a montagem dos monômeros de colágeno em fibras seja uma reação espontânea, o processo nos tecidos é modulado pela presença de colágenos menos abundantes (tipo V com tipo I, e tipo XI com tipo II) e por outros componentes, como uma série de pequenas proteínas ricas em leucina (SLRPs, de small leucine-rich proteins). Alguns dos componentes menos abundantes alteram a taxa de montagem das fibrilas, enquanto outros modificam a morfologia das fibras ou suas interações com células e outras moléculas. As fibras de colágeno são resistentes à maioria das proteases; entretanto, durante a degradação dos tecidos conectivos, são clivadas por metaloproteinases (colagenases) específicas da matriz, que provocam a abertura parcial das hélices triplas em estruturas semelhantes à gelatina, as quais são ainda degradadas por proteinases menos específicas. OUTROS COLÁGENOS E MOLÉCULAS RELACIONADAS: As propriedades singulares da hélice triplas são usadas para definir uma família de pelo menos 28 colágenos que contêm sequências repetitivas de -Gly-X-Y- e formam hélices triplas de comprimento e complexidade variáveis. As proteínas são heterogêneas tanto em sua estrutura quanto em sua função, e muitas delas constituem os locais de mutações que provocam doenças genéticas. Por exemplo, o colágeno tipo IV encontrado nas membranas basais é composto de três cadeias α sintetizadas a partir de qualquer um de seis genes diferentes. A ocorrência de mutações em qualquer um dos seis genes pode causar a síndrome de Alport. ➔ AGREGADOS DE FIBRINA E ELASTINA: Além da força de tração, muitos tecidos como o pulmão, os vasos sanguíneos de grande calibre e os ligamentos necessitam de elasticidade. A elasticidade foi originalmente atribuída a uma proteína amorfa semelhante à borracha, denominada elastina. Análises subsequentes estimuladas, em grande parte, por descobertas de mutações que causam a síndrome de Marfan (SMF) demonstraram que a elasticidade reside em fibrilas finas compostas principalmente por glicoproteínas grandes, denominadas fibrilinas. As fibrilinas contêm grandes números de domínios semelhantes ao fator de crescimento epidérmico intercaladoscom domínios característicos ricos em cisteína, que também são encontrados em proteínas de ligação do fator de crescimento transformador β (TGF-β, de transforming growth factor β). As fibrilinas são montadas em longos filamentos semelhantes a esferas, que também contêm numerosos outros componentes, incluindo quantidades pequenas e variáveis de elastina, proteínas morfogênicas do osso (BMPs, de bone morphogenic proteins) e glicoproteínas associadas a microfibrilas (MAGPs, de microfibril associated glycoproteins). Os princípios pelos quais as fibrilas conferem elasticidade ao tecido e sua montagem no processo de biossíntese ainda estão em fase de pesquisa. Além de sua contribuição para a estrutura da matriz celular, as fibrilinas desempenham um importante papel na sinalização do TGF-β. ➔ PROTEOGLICANAS: A resiliência à compressão dos tecidos conectivos, como a cartilagem ou a aorta, é explicada, em grande parte, pela presença das proteoglicanas. As proteoglicanas são compostos de uma proteína central à qual está Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ligada uma grande série de polímeros de dissacarídeos de carga negativa (em grande parte, sulfatos de condroitina). Foram identificadas pelo menos 30 proteoglicanas. Essas proteoglicanas variam em sua ligação aos colágenos e a outros componentes da matriz, porém ainda não foram definidas funções específicas para a maioria deles. A principal proteoglicana da cartilagem, denominada AGRECANO, possui uma proteína central de 2.000 aminoácidos que é decorada com cerca de 100 cadeias laterais de sulfato de condroitina e sulfato de queratina. Por sua vez, a proteína central liga-se a longas cadeias do dissacarídeo polimérico, o hialuronano, para formar agregados de proteoglicanas, uma das maiores estruturas macromoleculares solúveis na natureza. Em virtude de sua carga altamente negativa e estrutura extensa, o agregado de proteoglicanas liga-se a grandes quantidades de água e pequenos íons para distender a arcada tridimensional de fibras de colágeno encontradas nos mesmos tecidos. Por conseguinte, esse agregado torna a cartilagem resiliente à pressão. LÚPUS ERITEMATOSO: O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é a mais diversa das doenças autoimunes sistêmicas e é caracterizado pela produção de múltiplos autoanticorpos, alguns deles intimamente relacionados a características específicas da doença. O LES afeta principalmente pacientes jovens do sexo feminino durante a idade reprodutiva. No entanto, pode se desenvolver em qualquer idade. A patogênese do LES permanece obscura, entretanto, vários fatores têm sido implicados, incluindo genéticos, ambientais e hormonais. Além disso, foram descritas desregulações celulares (em células B e T, apoptose) e um desequilíbrio de citocinas. Sua apresentação clínica é heterogênea e qualquer órgão pode estar envolvido. As principais manifestações clínicas incluem artrite, erupção cutânea, glomerulonefrite, serosite (pleurite e / ou pericardite), envolvimento do sistema nervoso central e, em algumas ocasiões, trombose. Um dos principais fatores prognósticos é o envolvimento renal, o que reduz claramente as taxas de sobrevida. Estudos recentes sugerem um melhor controle da doença, reduzindo as crises de LES e melhorando as taxas de sobrevida. Nos últimos anos, vários novos tratamentos foram desenvolvidos, alguns deles com resultados promissores. POLIARTERITE NODOSA: A poliarterite nodosa é uma doença rara. Trata-se de uma vasculite sistêmica caracterizada pela presença de um processo inflamatório agudo e necrose fibrinoide das artérias de pequeno e médio calibre. O curso pode ser agudo ou crônico, com grande variabilidade de sinais e sintomas devido aos diversos órgãos que podem ser afetados, preferencialmente o sistema nervoso periférico, rins e pele. Os autores relatam o caso de um paciente com manifestações clínicas e evolução incomum. É uma doença considerada rara, com uma prevalência na população geral de cerca de seis por 100.000 pessoas. É mais comum nos homens entre 40 e 60 anos, com uma proporção de cerca de 2:1 em relação às mulheres1. O curso pode ser agudo ou crônico, com longos intervalos assintomáticos. Há grande variabilidade dos sinais e sintomas devido aos diversos órgãos que podem ser afetados, atingindo preferencialmente o sistema nervoso periférico, o rim, a pele, o aparelho digestivo, o coração e as articulações. Em mais de 70% dos doentes, a febre é a manifestação inicial. Artralgias ou artrite surgem em cerca de 50% dos casos, sendo a poliarterite assimétrica não deformante das grandes articulações das extremidades inferiores a mais comum. Na PAN, são frequentes as manifestações cutâneas, sendo as mais comuns: livedo reticularis, fenômeno de Raynaud e úlceras e alterações isquêmicas das extremidades dos dedos. Sintomas sistêmicos, como a dor em vísceras e nos músculos esqueléticos, ocorrem devido ao declínio do suprimento arterial. É comum no quadro, a hipertensão arterial de início rápido. A doença pode progredir para uma insuficiência renal devido à vasculite. A patogênese é ainda pouco conhecida, mas relacionada a mecanismos imunes. Cerca de 30% dos pacientes com PAN possuem os antígenos de superfície HbSAg e Anti-Hbs do vírus da hepatite B no soro. O diagnóstico é histopatológico e baseia-se na demonstração das lesões vasculares características em biópsias de, por exemplo, pele ou músculo. ESCLERODERMIA SISTÊMICA A esclerodermia sistêmica é uma doença do tecido conjuntivo com variada expressão clínica que acomete múltiplos sistemas. Caracteriza-se pela abundante fibrose da pele, veias e órgãos viscerais e, como aspecto clínico predominante, observa-se a instabilidade vascular. Os autores têm como objetivo apresentar os aspectos clínicos gerais e as manifestações bucais de um caso de esclerodermia sistêmica progressiva, com a Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. finalidade de alertar os profissionais sobre esta patologia e sobre a importância da integração do cirurgião-dentista dentro de uma equipe multidisciplinar. As manifestações orais encontradas na esclerodermia sistêmica progressiva foram a presença de um alto índice de doença de cárie e de determinadas alterações que podem interferir no tratamento odontológico, como a limitada abertura de boca, enrijecimento da língua e encurtamento do freio lingual, problemas mucogengivais, aumento do espaço do ligamento periodontal, reabsorção patológica do rebordo alveolar e da cabeça do côndilo da mandíbula, disfunção da articulação temporomandibular e dificuldade de reparação tecidual. O fluxo salivar encontrado situava-se dentro dos limites da normalidade DERMATOMIOSITE Dermatomiosite é doença idiopática inflamatória crônica que afeta a musculatura estriada, a pele e outros órgãos. Apresenta critérios diagnósticos definidos por Bohan & Peter, podendo os pacientes ser classificados em cinco grupos: dermatomiosite juvenil, dermatomiosite primária idiopática, dermatomiosites amiopáticas, dermatomiosite associada a neoplasias e dermatomiosite associada a outras doenças do tecido conectivo. O sexo feminino é mais afetado, e a idade média do diagnóstico é 40 anos. Manifestações cutâneas são observadas em todos os pacientes. Das alterações sistêmicas, a manifestação muscular mais frequente é a perda de força proximal, e a manifestação pulmonar mais comum é a pneumopatia intersticial. Podem ser observadas neoplasias durante o seguimento da doença, sendomais frequentes nos pacientes acima de 60 anos. A desidrogenase lática é a enzima muscular alterada na maioria dos casos. Para diagnóstico da dermatomiosite, pode ser realizado exame anatomopatológico de biópsia cutânea e biópsia muscular, além de eletroneuromiografia. Os corticóides são a terapia mais utilizada. As causas de óbito mais freqüentes são a neoplasia maligna, a septicemia e a infecção pulmonar. A dermatomiosite (DM) é doença do tecido conjuntivo que associa miopatia a manifestações cutâneas características, cuja causa permanece desconhecida, sendo considerada doença idiopática. Na etiologia, consideram-se as associações com antígenos de histocompatibilidade, vírus, drogas e auto-imunidade. Pacientes com DM apresentam manifestações cutâneas e sistêmicas, sendo mais comuns lesões em áreas fotoexpostas, fraqueza muscular proximal, alterações da musculatura respiratória e disfagia. Na forma juvenil, há maior incidência de calcinose cutânea. O diagnóstico é realizado através da história e exame físico, sendo corroborado pelas enzimas musculares, biópsia muscular, biópsia cutânea, eletroneuromiografia (ENMG), ultra-sonografia (USG) e ressonância nuclear magnética (RNM). O interesse pela dermatomiosite vem aumentando na última década não apenas pelo maior conhecimento imunológico sobre a doença, mas também devido ao progresso das técnicas de imagem, que tanto auxiliam no diagnóstico. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. SÍNDROME DE MARFAN. -> Fisiopatologia; Manifestações clínicas; exames laboratoriais. Essa doença autossômica dominante está associada a alto risco de morbidade materna. Cerca de 15% das mulheres grávidas com síndrome de Marfan apresentam manifestação cardiovascular significativa durante a gravidez, e quase todas as mulheres sobrevivem. Um diâmetro da raiz aórtica < 40 mm é associado a um resultado favorável da gravidez. Preconizou- se a terapia profilática com betabloqueadores, embora não se tenham realizado estudos clínicos em grande escala na gestação. A síndrome de Ehlers-Danlos (SED) pode estar associada a trabalho de parto prematuro, e na SED do tipo IV há aumento do risco de ruptura de órgãos ou vasos, o que pode causar morte. SÍNDROME DE MARFAN (SMF) A SMF inclui manifestações que afetam primariamente o esqueleto, o sistema cardiovascular e os olhos. A maioria dos pacientes apresenta mutações no gene da fibrilina-1. Classificação: A SMF foi inicialmente caracterizada por uma tríade de manifestações: (1) alterações esqueléticas, que incluem membros longos e finos, com frequência associados a articulações frouxas; (2) visão reduzida em consequência de luxação das lentes (ectopia lentis) e (3) aneurismas aórticos. Um grupo internacional de especialistas desenvolveu uma série de “critérios de Ghent”, que são úteis na classificação dos pacientes. Incidência e herança A incidência da SMF está entre as mais altas de qualquer distúrbio hereditário: cerca de 1 em 3.000/5.000 nascimentos na maioria dos grupos raciais e étnicos. As síndromes relacionadas são menos comuns. Em geral, as mutações são herdadas como traços autossômicos dominantes, porém cerca de 25% dos pacientes apresentam mutações novas esporádicas. Efeitos esqueléticos Os pacientes apresentam membros longos e em geral são altos em comparação com outros familiares. A razão entre o segmento superior (do topo da cabeça até o topo do ramo púbico) e o segmento inferior (do topo do ramo púbico até o solo) em geral é dois desvios-padrão abaixo da média para a idade, a raça e o sexo. As mãos e dedos são longos e finos, possuindo a aparência de uma aranha (aracnodactilia). Muitos pacientes exibem deformidades torácicas graves, como depressão (pectus excavatum), protrusão (pectus carinatum) ou Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. assimetria. A escoliose é frequente e costuma ser acompanhada de cifose. O palato alto e arqueado, bem como os arcos do pé altos ou o pé plano, é comum. Alguns pacientes exibem hipermobilidade articular grave semelhante à SED. A tomografia computadorizada ou a ressonância magnética da região sacral lombar frequentemente revelam aumento do canal neural, adelgaçamento dos pedículos e das lâminas, alargamento dos forames ou meningocele anterior (ectasia dural). Manifestações cardiovasculares As anormalidades cardiovasculares constituem a principal fonte de morbidade e mortalidade. O prolapso da valva mitral surge precocemente na vida e, em cerca de 25% dos pacientes, evolui para a insuficiência da valva mitral de gravidade crescente. A dilatação da croça da aorta e os seios de Valsalva constituem manifestações características e sombrias da doença que podem surgir em qualquer idade. A taxa de dilatação é imprevisível, mas pode levar a insuficiência aórtica, dissecção da aorta e ruptura. A dilatação provavelmente é acelerada por estresses físico e emocional, bem como pela gravidez. Os pacientes em geral diferem daqueles com aneurismas aórticos familiares que tendem a desenvolver aneurismas na parte abdominal da aorta. Entretanto, a localização dos aneurismas é um tanto variável, e a alta incidência de aneurismas aórticos na população geral (1 em 100) torna difícil o diagnóstico diferencial, a não ser que outras manifestações da SMF estejam claramente presentes. Manifestações oculares A luxação do cristalino para cima é comum. Em geral, não é progressiva, mas pode contribuir para a formação de cataratas. O globo do olho com frequência está alongado, e os pacientes são, em sua maioria, míopes, porém com visão adequada. Pode ocorrer descolamento da retina. Outras manifestações Podem ocorrer estrias nos ombros e nas nádegas. Diversos pacientes desenvolvem pneumotórax espontâneo. As hérnias inguinais e incisionais são comuns. Em geral, os pacientes são magros, com pouca gordura subcutânea, porém os adultos podem desenvolver obesidade centrípeta. Defeitos moleculares Mais de 90% dos pacientes clinicamente classificados como portadores de SMF pelos “critérios de Ghent” apresentam uma mutação no gene da fibrilina-1 (FBN1). São encontradas mutações no mesmo gene em alguns pacientes que não preenchem os critérios de Ghent. Além disso, alguns pacientes com SMF sem mutações no gene FBN1 possuem mutações no gene para o receptor 2 do TGF-β (TGFBR2). Ademais, são encontradas mutações no TGFBR2 ou no TGFBR1 na síndrome de Loeys-Dietz relacionada, que se caracteriza por aneurismas da aorta, fenda palatina e hipertelorismo. As mutações no gene FBN2, que se assemelha estruturalmente ao gene FBN1, são encontradas em pacientes com síndrome de aracnodactilia contratural congênita semelhante à SMF. As mutações do gene FBN1 estão distribuídas através de seus 65 éxons de codificação. A maioria consiste em mutações privadas, porém cerca de 10% são mutações novas recorrentes que estão localizadas, em grande parte, em sequências CpG, conhecidas como “pontos quentes”. As mutações mais graves estão localizadas nos códons centrais (24-32). Cerca de um terço das mutações introduzem códons de terminação prematura, e cerca de dois terços consistem em mutações de sentido incorreto que alteram domínios de ligação do cálcio nos domínios repetitivos da proteína semelhantes ao fator de crescimento da epiderme. Mutações mais raras alteram o processamento da proteína. Como em muitas doenças genéticas, não é possível prever a gravidade do fenótipo a partir da natureza da mutação. A descoberta de que síndromes semelhantes à SMF são causadas por mutaçõesno TGFBR1 e no TGFBR2 reorientou a atenção para a semelhança estrutural entre a fibrilina-1 e as proteínas de ligação do TGF-β que sequestram o TGF-β na matriz extracelular. Em consequência, foi constatado que algumas das manifestações da SMF surgem de alterações em sítios de ligação que modulam a biodisponibilidade do TGF-β durante o desenvolvimento do esqueleto e de outros tecidos. De modo semelhante, as mutações TGFBR1 e TGFBR2 na síndrome de Loeys-Dietz alteram a sinalização do TGF-β. Tanto na SMF quanto na síndrome de Loeys-Dietz, os mecanismos patogênicos envolvem uma sinalização aumentada do TGF-β, o que contribui para a formação de aneurismas. Diagnóstico Todos os pacientes com suspeita de diagnóstico de SMF devem ser submetidos a um exame com lâmpada de fenda e a um ecocardiograma. Além disso, deve-se descartar a possibilidade de homocistinúria pela análise dos aminoácidos no plasma. O diagnóstico de SMF de acordo com os padrões internacionais de Ghent dá ênfase aos critérios principais, os quais incluem a presença de pelo menos quatro anormalidades esqueléticas: ectopia lentis; dilatação da parte ascendente da aorta com ou sem dissecção; ectasia dural, e parente consanguíneo que preencha os mesmos critérios, com ou sem diagnóstico de DNA. O diagnóstico final baseia-se em uma avaliação ponderada dos principais critérios, em conjunto com vários critérios menores. A ausência de alterações oculares sugere a síndrome de Loeys- Dietz, enquanto a presença de contraturas com alguns dos sinais de OI sugere aracnodactilia contratural congênita. Dispõe-se de exames complementares com base no sequenciamento dos genes ou na detecção de defeitos proteicos. Os resultados provavelmente não irão alterar o tratamento ou o prognóstico, porém são úteis para informar os Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. pacientes e suas famílias, bem como para excluir rapidamente o diagnóstico nos familiares não afetados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ➔ GÓMEZ-PUERTA JÁ. CERVERA R. LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO. MEDICINA E LABORATÓRIO. 2008; ➔ OTACILIO FIGUEREDO SILVA JUNIOR ET AL. POLIARTERITE NODOSA: REVISÃO DE LITERATURA A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO. JORNAL VASCULAR BRASILEIRA. 2010; ➔ MARIA TERESA BOTTI RODRIGUES DOS SANTOS, AINDA SABBAGH HADDAD. MANIFESTAÇÕES ORAIS DA ESCLERODERMIA SISTÊMICA PROGRESSIVA (ESCLERODERMA): RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA. REVISTA BRASILEIRA DE CLÍNICA ODONTOLÓGICAS INTEGRADAS. 2003; ➔ LUCIENA CEGATTO MARTINS ORTIGOSA, VITOR MANOEL SILVA DOS REIS. DERMATOMIOSITE. ANAIS BRASILEIROS DE DERMATOLOGIA. ARTIGO DE REVISÃO. 2008; ➔ MEDICINA INTERNA DA HARRISON; ➔ MICHEL WRIGTH. ET AL. GENÉTICA, CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE MARFAN E DISTÚRBIOS RELACIONADOS. 2021
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