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RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA SP 2.4 – ESSE TREMOR QUE ME ACOMPANHA LOCOMOÇÃO E PREENSÃO 1. CARACTERIZAR, DO PONTO DE VISTA NEUROFISIOLÓGICO O MECANISMO DE REFLEXO, CONTROLE E COORDENAÇÃO MOTORA (manuscrito) 2. CARACTERIZAR A MARCHA NORMAL E SEUS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO. Cada indivíduo anda de um modo que lhe é único, notando-se inclusive clara influência da personalidade e do estado emocional do mesmo. Não raro, suspeitamos da aproximação de um amigo só de escutar suas passadas. A deambulação, apesar de aparentemente trivial, depende da integridade de tantos setores do Sistema Nervoso, que tende a funcionar como a bússola do EN e nos orientar na direção do diagnóstico. Segundo Gilles de la Tourette, na marcha normal é o indivíduo que se desloca, na patológica é a doença que gera o andar. Isto decorre do fato de que as marchas consideradas típicas nas doenças neurológicas são respostas adaptativas às limitações impostas por cada mazela. Acostume-se a observar a marcha no máximo de aspectos possíveis já no exato momento em que o paciente adentra o recinto onde será examinado. Alguns padrões de marcha são tão estereotipados que o diagnóstico nosológico empírico (só de ver) se impõe com pouca chance de erro. MARCHA NORMAL ou ATÍPICA Apesar das particularidades individuais, os indivíduos saudáveis compartilham, ao caminhar, muitas características em comum. DIREÇÃO DO OLHAR: O olhar é dirigido para frente, e só se volta para baixo quando circunstâncias eventuais exigem maior atenção e cautela. RITMO: O ritmo é regular e as passadas homogêneas, de tal forma que se pode comparar distâncias simplesmente contando passos. CICLO DA MARCHA: 1) DESLOCAMENTO DO PRIMEIRO PÉ: Partindo da posição em pé com os pés juntos, deslocamos o centro de gravidade para frente e concomitantemente avançamos com um dos pés, mediante flexão da coxa sobre o quadril. Este avanço se acompanha de suave flexão do joelho e flexão dorsal do pé. 2) REPOUSO DO PRIMEIRO PÉ: O pouso do pé que avançou se dá primeiramente com o toque do calcanhar; à medida que o corpo se desloca para frente o restante do pé progressivamente se apoia no chão. 3) DESLOCAMENTO DO SEGUNDO PÉ: Ao mesmo tempo, o segundo pé começa a se descolar do chão, primeiro o calcanhar e por último a ponta. Note-se que este segundo pé não se deslocará para apenas se posicionar ao lado do primeiro, mas avançará o suficiente para atingir a passada normal do indivíduo em questão, de tal forma que o deslocamento total do segundo pé será o dobro do primeiro. Observe também que dado o afastamento dos pés, a distância vertical do quadril ao chão será menor que o comprimento do membro inferior, determinando uma flexão ainda maior do joelho do membro que avança. 4) REPOUSO DO SEGUNDO PÉ: Quando o segundo pé pousar no chão, o ciclo se reinicia, de modo que os pés se alternam no papel de avanço e apoio. 5) DISTÂNCIA ATINGIDA: Atingida a distância a ser percorrida, o último movimento é apenas para posicionar um pé ao lado do outro e não haverá deslocamento efetivo do corpo. 6) MEMBROS SUPERIORES: Os membros superiores participam da marcha por meio do balançar alternado e oposto aos pés, ou seja, o braço direito avança sincronicamente à perna esquerda, resultando em otimização do equilíbrio. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ AVALIAÇÃO DA MARCHA Atualmente, apesar dos padrões estereotípicos das marchas anormais, o exame semiótico desarmado (sem os recursos do laboratório de marcha, estabilometria ou posturografia) do equilíbrio dinâmico evoluiu, e não deve se prender apenas em observar o andar livre, como faziam J M Charcot e seus discípulos em meados do século XIX. Para isso possuímos diversos testes de fácil aplicação. No que se refere ao exame da marcha e da estática, obviamente não há necessidade de se aplicar todos os testes abaixo mencionados. ------------------------------------------------------------------------ VELOCIDADE DA MARCHA (PREFERENCIAL E MÁXIMA) Teste: cronometre o tempo necessário para o indivíduo caminhar a distância de seis metros. Primeiro na velocidade preferencial (VP) e depois na velocidade máxima (VM). Velocidade da marcha = distância (6 m) / tempo (s). Valores referência consignados de acordo com o sexo e a idade: Aos 20 anos de idade, VP (m/s) homens: 1,09; mulheres: 1,06. VM (m/s) homens: 1,95; mulheres: 1,96. Aos 70 anos de idade, VP (m/s) homens: 0,94; mulheres: 0,85. VM (m/s) homens: 1,35; mulheres: 1,19. ------------------------------------------------------------------------ MARCHA TANDEM Teste: caminhar 10 passos pé ante pé (tandem). Esta prova está tipicamente alterada no paciente com lesão cerebelar ou vestibular, mas também é um bom marcador diferencial entre parkinsonismo atípico (incluindo-se: atrofia de múltiplos sistemas, paralisia supranuclear progressiva e parkinsonismo vascular) e doença de Parkinson. Alteração: mais de dois passos laterais enquanto executa a tarefa. Isto aponta para parkinsonismo atípico em vez de D. de Parkinson. ------------------------------------------------------------------------ ÍNDICE DINÂMICO DA MARCHA (IDM) Além de aferir a marcha em seis metros e em oito diferentes situações, quantifica risco de queda. Teste: 1. Ande confortável e livremente na velocidade normal. 2. Ande mudando a velocidade da marcha: normal, rápido e lento. 3. Ande virando a cabeça para direita ou esquerda ao comando. 4. Ande virando a cabeça para cima e para baixo ao comando. 5. Ande, pare e volte-se no sentido contrário ao comando. 6. Ande e passe por cima de uma caixa de sapato (não em volta dela). 7. Ande entre dois cones (pela direita do primeiro e pela esquerda do segundo). 8. Suba degraus como faz em casa. Caso não tenha uma escada, pergunte como faz em casa. Sobe cada degrau individualmente alternando os pés? Apoia-se no corrimão? Graduação: (3) normal; (2) comprometimento leve; (1) comprometimento moderado; (0) comprometimento grave. Total de pontos 24. Abaixo de 19 pontos: RISCO DE QUEDA. ------------------------------------------------------------------------ TEMPO DE LEVANTA E ANDA (TIMED UP & GO – TUG) Trata-se da medida em segundos do tempo necessário para o paciente levantar-se, caminhar confortavelmente tão rápido quanto possível, mas sem comprometer a segurança, por três metros, girar, caminhar de volta e sentar-se novamente. A prova é feita com os auxílios de uso habitual pelos indivíduos (bengala, muleta, etc). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Inicia a prova com as costas de encontro ao encosto e os braços apoiados nos braços da cadeira. A instrução é: levante-se e caminhe confortável e seguramente quando ouvir: “Vai”. Neste exato momento acione o cronômetro. Desative o cronômetro quando o paciente se sentar de volta no assento, depois de ter caminhado três metros e voltado. • O tempo abaixo de 10 segundos é normal. • Entre 11 e 20 segundos é considerado ainda dentro do limite normal para o paciente idoso frágil ou dependente de auxílio. • Escores > 20 segundos são indicativos de disfunção da mobilidade funcional. • Escores > de 30 segundos indicam dependência na maioria das atividades de vida diária com mobilidade prejudicada. ------------------------------------------------------------------------ TEMPO DE LEVANTA E ANDA COM ATENÇÃO DIVIDIDA (TIMED UP & GO DIVIDED ATTENTION) A marcha é considerada um processo automático onde processos cognitivos, especialmente atenção e função executiva, exercem significativa influência. Evidências recentes sugerem que a execução de dupla tarefa simultânea, cognitiva e manual,gera grande dificuldade em alocar atenção específica ao equilíbrio enquanto se caminha, podendo contribuir significativamente para aumentar o risco de quedas em adultos idosos. Risco esse que pode não ser aparente durante o EN convencional de rotina. • Tempo de levanta e anda – Cognitivo O método de avaliação é o mesmo do levanta e anda. Cronometre o tempo necessário para o indivíduo levantar, ir, girar, voltar falando em voz alta as letras do alfabeto de modo alternado (a, c, e, g, etc.) ou realizando subtrações seriadas a partir de 90, de três em três (90, 87, 84), e sentar-se. A inabilidade de caminhar enquanto fala fornece um alto valor preditivo para quedas futuras. Cerca de 86% entre os que param de caminhar para falar experimentam queda subsequente. A mesma predição pode ser aplicada para adultos não dementes. (variação: Andar enquanto fala) • Tempo de levanta e anda – Manual O método de avaliação é o mesmo do levanta e anda. Cronometre o tempo necessário para o indivíduo levantar, ir, girar, voltar e sentar, levando um copo cheio de água em uma das mãos. A diferença entre o TUG manual e o TUG simples, caso seja maior do que 4,5 s, indica risco de queda. ------------------------------------------------------------------------ TESTE DE FUKUDA Acessa a estabilidade durante o início do movimento da marcha e é facilmente administrado e quantificado. Não é um teste específico para disfunção vestibular, e nem deve ser considerado isoladamente. Teste: com o paciente de olhos fechados e braços estendidos anteriormente a 90°, solicite que marche (elevando um joelho de cada vez), sem sair do lugar. O examinador se coloca atrás do paciente e conta até 50 (a cada número um membro inferior é elevado). Alteração: na disfunção vestibular unilateral, o teste é considerado positivo quando, ao tentar marchar no mesmo lugar, o paciente gira > 45° para o lado comprometido, além de poder adiantar-se por mais de um metro. 3. CITAR E CARACTERIZAR OS TIPOS DE ALTERAÇÕES DA MARCHA. MARCHA HEMIPLÉGICA ou CEIFANTE. É típica da síndrome piramidal unilateral e resulta principalmente da hipertonia espástica e da paresia/plegia do membro afetado. Deste modo, o indivíduo só avança com o lado são e o membro parético servirá apenas como apoio. Dada a espasticidade e a diminuição de força, há dificuldade ou mesmo impossibilidade de se dobrar o joelho do lado afetado, assim a maneira mais eficiente para se deslocar implica na circundução do membro par ético, resultando no característico movimento ceifante, que, aliás, é outra denominação para este padrão de marcha. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA BIPIRAMIDAL ou MARCHA EM TESOURA É encontrada nas paraparesias espásticas como a que acompanha a infecção pelo HTLV1, a diplegia de Little, a paraparesia espástica familial, e até mesmo a mielopatia secundária à espondilose cervical. A velocidade de progressão é bastante lenta e a passada curta, dada a espasticidade que afeta ambos os membros inferiores. O aspecto mais característico desta marcha deve-se ao grande envolvimento dos adutores da coxa. Isto resulta em uma tendência dos joelhos para cruzar a linha média a cada passo, motivo pelo qual esta modalidade também é conhecida como marcha em tesoura. ATÁXICA SENSITIVA ou MARCHA TALONANTE É característica das doenças que envolvem o cordão posterior, como a avitaminose B12 ou a Tabes Dorsalis, mas também é encontrada nas neuropatias periféricas com envolvimento das fibras mielínicas grossas e consequente perda da propriocepção. Chama atenção a estrita dependência do paciente à visão, de modo que, com os olhos fechados ou em baixa luminosidade ambiente a marcha é tipicamente impossível, salvo em casos muito incipientes. A base é alargada e os braços também se afastam do corpo e são usados como balancins, de modo a melhorar o equilíbrio. Levanta exageradamente os pés e também golpeia fortemente o chão quando os pousa. O pouso se dá com toda a planta ou mais caracteristicamente com o calcanhar, provocando um ruído decorrente do impacto no solo, daí o nome alternativo de marcha talonante. ATÁXICA MOTORA ou MARCHA EBRIOSA É típica das doenças cerebelares. Face ao déficit de coordenação motora, o paciente tem extrema dificuldade de posicionar cada passo como planejado e assim a passada se dá ora curta, ora longa, ora mais para dentro, ora mais para fora. Surge, portanto, um andar em ziguezague que lembra muito o típico das pessoas que abusam das bebidas alcoólicas, daí a nomenclatura marcha ebriosa. Nas lesões cerebelares unilaterais, observa-se a tendência ao desvio para o mesmo lado do hemisfério cerebelar comprometido – lateropulsão. Neste caso, se solicitamos ao paciente que ande em torno de uma cadeira, veremos que paulatinamente ele se aproximará ou se afastará da cadeira, conforme o sentido da lateropulsão – sinal do compasso. Observe que a lateropulsão também ocorre no paciente com o acometimento vestibular. A presença de ataxia unilateral no doente cerebelar ajuda na diferenciação. VESTIBULAR ou MARCHA EM ESTRELA Nesta marcha o aspecto mais relevante é a lateropulsão. Durante a realização do teste de BabinskiWeil, solicitamos que o paciente ande de cinco a oito passos para frente e para trás alternadamente. Ao caminhar para frente desviará para o lado do comprometimento vestibular e ao andar para trás desviará para o lado são. Após alguns ciclos de idas e vindas, o paciente “desenhará” uma estrela, daí o nome marcha em estrela ou bússola (alusão à Rosa dos Ventos). O sinal do compasso também está presente. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA PARKINSONIANA. A síndrome parkinsoniana é muito expressiva na deambulação. O paciente assume uma postura com tendência à flexão do tronco, com passos curtos e em geral lentos, sem balançar os braços. A inclinação para frente, quando muito acentuada, recebe a denominação de camptocormia. Com certa frequência, no entanto, observamos aceleração dos passos (festinação), como se o paciente perseguisse seu próprio centro de gravidade. Outras manifestações típicas são o congelamento da marcha, principalmente ao contornar obstáculos ou cruzar portas, e a virada em bloco. Esta última é observada quando, durante o exame da marcha, solicitamos o retorno do paciente. Completa o quadro a hipomimia facial e o tremor “girando pílulas” das mãos. MIOPÁTICA ou ANSERINA As miopatias, quase sempre, acometem dominantemente a musculatura proximal, gerando postura e marcha anormais. Desta forma, o envolvimento da cintura pélvica é típico e visível na deambulação. Quando andamos, a contração dos músculos glúteos médio e mínimo do membro cujo pé está apoiado no chão evita que o quadril se incline para o lado do membro que avança. O déficit de força nestes músculos e a consequente desestabilização do quadril fazem que a marcha assuma um aspecto rebolativo que lembra o caminhar dos patos e marrecos, daí o nome marcha anserina. MARCHA DE TRENDELEMBURG. Nos casos de fraqueza unilateral dos músculos glúteos médio e mínimo (nervo glúteo superior, raízes L4S1), que são abdutores da coxa e estabilizam a pelve, ao apoiar a perna do lado comprometido, ocorre derreamento da pelve para o lado oposto e inclinação compensatória do ombro para o mesmo lado dos músculos comprometidos. MARCHA COM FRAQUEZA DO GLÚTEO MÁXIMO. Na falência do músculo glúteo máximo (nervo glúteo inferior, raízes L5S2), responsável pela extensão e rotação lateral da coxa, ocorre a inclinação do corpo para trás, com adiantamento das pernas ao caminhar. ESCARVANTE ou MARCHA DO PÉ CAÍDO Surge quando há comprometimento do músculo tibial anterior. Incapaz de realizar a flexão dorsal dopé, corre-se o risco de arrastar ou tropeçar sobre a ponta do mesmo. Nesta situação, o paciente se vê obrigado a levantar exageradamente a perna e a coxa, promovendo um ligeiro açoite com a ponta do pé. Quando o pé toca o chão, será com a ponta ou, na melhor das hipóteses, com a planta, nunca com o calcanhar. Por sinal, andar sobre os calcanhares é impossível para estes pacientes. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA CAUTELOSA. Caracteriza-se pelo aumento da base de sustentação, passada curta, andar vagaroso, e rotação do corpo “em bloco”. É um padrão de marcha compensatório no qual o paciente anda lentamente, similar a maneira que qualquer um de nós andaria quando negociamos o caminhar por sobre uma superfície lisa e escorregadia. Não há dificuldade para iniciar a marcha, confusão ou congelamento. A cadência é normal, e a resposta postural reativa (reação postural ao ser empurrado) é pobre. Por aumentar o tempo de permanência de ambos os pés no chão, dificilmente se mantém em equilíbrio sobre um só pé. Muitos pacientes com este tipo de marcha expressam a necessidade de tomar cuidados para não cair. Trata-se de um padrão de marcha inespecífico e aparentemente reacional à percepção, por parte do paciente, de que se tem pouco equilíbrio. Pode ser uma resposta a desordens artríticas, disfunção sensitiva ou motora, ou a fase inicial das alterações de nível alto. O caso é aqui ressaltado por ser o padrão de marcha anormal mais comum apresentado pelo idoso. É necessário diferenciá-la dos estados astasobasofóbicos, representados pelo medo incapacitante de ficar de pé e de caminhar, como o que ocorre nos pacientes idosos com a “síndrome pósqueda”. FUNCIONAL ou CONVERSIVA. As expressões desta marcha, apesar de extremamente variáveis, apresentam um importante componente em comum: não são passíveis de correlação anatomofuncional. Frequentemente demandam muito mais força e coordenação do que a marcha normal. Vale lembrar que o paciente sabidamente conversivo pode apresentar também comprometimento neurológico genuíno. APRAXIA DA MARCHA. Neste caso o paciente apresenta perda de habilidade em utilizar-se dos membros inferiores para caminhar, sem que exista evidência de alteração da sensibilidade, coordenação motora ou da força muscular. Ao se colocar de pé, observamos que o paciente apresenta dificuldade em iniciar a sequência automática dos movimentos próprios do andar. Havendo locomoção, esta ocorre com extrema dificuldade e em pequenos passos. Pode haver o levantar do pé sem que ocorra o passo. Essa apraxia é observada nos casos de lesão cerebral extensa, principalmente dos lobos frontais. 4. CARACTERIZAR O TREMOR ESSENCIAL E DIFERENCIÁ - LO DO TREMOR DE DOENÇA DE PARKINSON DO PONTO DE VISTA FISIOPATOLÓGICO E CLÍNICO. O tremor é o movimento involuntário mais comum e é definido como oscilação rítmica de uma determinada parte do corpo decorrente de contrações de músculos antagonistas, podendo estas ser síncronas ou alternantes. O temor essencial (TE) caracteriza-se por ser cinético e de postura bilateral, pode afetar qualquer parte do corpo, sendo os membros superiores e o segmento cefálico os mais frequentemente acometidos. O novo consenso de critérios diagnósticos clínicos pela pela Movement Disorder Society define a divisão em dois eixos: → Eixo I considerará as características clínicas → Eixo II características etiológicas O TE é definido como: A. Síndrome de tremor de ação isolado dos membros superiores, bilateral, com duração de mais de 3 anos, com a presença ou não de acometimento de outras partes do corpo (cabeça, voz etc.), sem a presença de outros sinais neurológicos (distonia, parkinsonismo, ataxia etc). B. Síndrome TE plus: pacientes com síndrome TE com alguns sintomas neurológicos e sistêmicos leves de significado indeterminado. Nos critérios de exclusão temos: tremor focal isolado (cabeça, voz), tremor ortostático com frequência maior que 12 Hz, tremor tarefa e postura específica, início súbito, deterioração gradual. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ ETIOLOGIA Genética do TE -> Uma relação entre o TE e a doença de Parkinson tem sido motivo de muita discussão. Em algumas famílias de pacientes parkinsonianos, é frequente a existência de indivíduos com TE. A possibilidade de um paciente com TE desenvolver sinais clínicos de parkinsonismo após alguns anos também tem sido considerada. Pacientes com DP podem iniciar o quadro com tremor postural ou de ação antes dos sintomas parkinsonianos. O modo de transmissão genética é autossômica dominante com penetrância variável, entretanto casos esporádicos têm sido relatados. Uma história familiar positiva pode ser encontrada em 17% a 100% dos acometidos, dependendo da amostra estudada. Fatores ambientais -> O papel dos fatores ambientais também tem sido considerado na etiologia do TE. Um dos motivos é que estudos com gêmeos monozigóticos não apresentam concordância 100%. Além disto, os alcaloides bcarbolínicos harmina e harmane, são substâncias que produzem tremor. Estas substâncias estão naturalmente presentes em pequenas quantidades em várias cadeias de alimentos como milho, trigo, cevada, em algumas bebidas como vinho, cerveja, whisky e também em nosso organismo. A presença de concentrações altas de harmine e harmane foi observada em pacientes com TE em comparação com controles. Entretanto não está claro se estes fatores estão implicados na gênese do tremor. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA Os mecanismos fisiopatológicos no TE não são totalmente conhecidos. O tremor parece estar relacionado com um aumento da atividade oscilatória cerebelo-olivar-tálamo-cortical. Estudos experimentais com drogas indutoras do tremor como a harmalina, quando administrada a animais, produz um tremor nos membros semelhante ao tremor cinético do TE e essa atividade rítmica parece ser mediada através do núcleo olivar inferior. Estudos neuroquímicos mostraram redução dos receptores GABAA e GABAB no núcleo denteado de pacientes com TE e relacionados inversamente com a duração da doença. Essas alterações não foram encontradas no córtex cerebelar. Essa redução dos receptores GABAB no núcleo denteado poderia levar a uma desinibição do output do cerebelo e se propagar ao circuito cerebelotálamocortical, gerando o tremor. Perda do receptor poderia ocorrer por um processo degenerativo ou resultar de um aumento póssináptico do impulso de GABA das células de Purkinje. Outro estudo bioquímico observou redução da parvalbumina, que é um marcador de GABA, no locus coeruleus, mas não no cerebelo, em pacientes com início tardio do TE. Esses achados podem sugerir diferenças nos mecanismos do TE de acordo com a idade de início do tremor. São necessários mais estudos para confirma-los. Os principais achados neuropatológicos são a perda de células de Purkinje e a presença de “torpedos” (um acúmulo de neurofilamentos desordenados nas células de Purkinje degeneradas) ou swelling fusiforme do segmento proximal do axônio da célula de Purkinje. Estudos de neuroimagem, como o PET, mostraram hiperativação cerebelar, tálamo e córtex prémotor. denteado e pedúnculo cerebelar superior foram detectadas com ressonância nuclear magnética com tensor de difusão. ____________________________________________ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O TE tem início lento e insidioso e pode manifestar-se em qualquer idade. Existem dois picos mais frequentes: no final da adolescência e após os 50 anos. FREQUÊNCIA: A frequência do tremor varia de 4 a 12 Hz e está inversamente relacionada com a idade. A característica do tremor é de ação e/ou postura,sendo que, em alguns, prevaleceu mais sobre a outra e, usualmente, desaparecem em repouso e durante o sono. Quando o tremor é muito intenso pode haver tremor intencional ou de repouso associado, mas de menor intensidade que o tremor de ação. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA LOCALIZAÇÃO: As MÃOS estão acometidas em cerca de 90% dos casos, com a característica do movimento em flexão e extensão. O início geralmente é bilateral mas pode ser assimétrico em alguns casos. Outras partes do corpo acometidas são o SEGMENTO CEFÁLICO, geralmente ocasionando movimentos em negação, e os MÚSCULOS DA FONAÇÃO, tornando a voz trêmula. O acometimento da mandíbula, da língua, do tronco e dos membros inferiores é menos comum. A presença do tremor cefálico tem sido observada mais no sexo feminino, e a idade de início mais precoce, no masculino. Uma leve instabilidade postural e marcha tandem também têm sido descritas. FATOR DE MELHORA: A melhora com a ingestão de álcool por via oral é frequentemente observada e não se conhece exatamente o mecanismo de ação. FATOR DE PIORA: O tremor piora com ansiedade, fadiga muscular e situações de estresse e social, podendo provocar embaraços profissionais. Em cerca de 15% a 25% dos pacientes o tremor pode ser incapacitante. SINTOMAS ASSOCIADOS: Além das manifestações motoras, outros sintomas têm sido descritos, como alterações auditivas e alterações do olfato, mas os dados dos estudos não são muito claros. As alterações cognitivas têm sido descritas e, entre estas, foram observadas alterações de memória recente, fluência verbal e função executiva; déficit de atenção e destreza manual. Alterações de personalidade tais como pessimismo, medo, introversão têm sido relatadas em pacientes com TE. Existe uma tendência a serem mais amáveis e menos agressivos que a população em geral, entretanto não está claro se isso seria uma tendência pré-mórbida ou uma comorbidade. ____________________________________________ TREMOR ESSENCIAL X TREMOR PARKINSONIANO O tremor Parkinsoniano tem a característica de ser em REPOUSO ou POSTURAL. Em geral, está presente quando o membro está em repouso completo e, frequentemente, reduz-se quando o membro se move e ocupa uma nova posição, embora possa surgir novamente (“tremor reemergente”) em um tempo curto após a manutenção da nova posição. Possui uma frequência do tremor que varia de 4-6 Hz a 6-10 Hz. O tremor atinge mãos unilateral ou bilateral e assimétrico MMII, mento. Exames como a tomografia por emissão de fóton único (SPECT) com transportador de dopamina (DAT) pode ser útil na diferenciação do TE com doença de Parkinson. As concentrações do transportador de dopamina no estriado estão menores nos pacientes parkinsonianos do que em controles. No TE os resultados são semelhantes aos controles. 5. ELUCIDAR A DOENÇA DE PARKINSON (CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO) CONCEITO A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, ultrapassada apenas pela doença de Alzheimer (DA). Manifesta-se com caráter predominantemente motor, é progressiva e ligeiramente mais comum no sexo masculino. Na etiologia da DP interagem de forma complexa fatores genéticos, ambientais e o próprio envelhecimento. As formas genéticas da doença, geralmente, são de início mais precoce. Clinicamente, a DP caracteriza-se por tremor de repouso, rigidez, bradicinesia e disfunção da marcha RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA com instabilidade postural. Essas manifestações são conhecidas como “manifestações essenciais” da doença. Anormalidades não motoras como distúrbios cognitivos, psiquiátricos e autonômicos, hiposmia, fadiga e dor também podem ocorrer, e algumas delas podem preceder as alterações motoras. Outros achados clínicos podem incluir freezing da marcha, dificuldade na fala, comprometimento da deglutição, distúrbios autonômicos e uma série de características não motoras, incluindo alterações sensitivas, transtornos do humor, disfunção do sono, comprometimento cognitivo e demência. Patologicamente, as características principais da DP consistem em degeneração dos neurônios dopaminérgicos na parte compacta da substância negra (SNpc), redução da dopamina estriatal e inclusões proteináceas intraneuronais, conhecidas como corpos de Lewy e neuritos de Lewy, que contém principalmente a proteína α-sinucleína. Embora o interesse tenha se concentrado principalmente no sistema dopaminérgico, a degeneração neuronal com formação de corpúsculos de inclusão também pode afetar os neurônios colinérgicos do núcleo basal de Meynert (NBM), os neurônios noradrenérgicos do locus ceruleus (LC), os neurônios serotoninérgicos dos núcleos da rafe do tronco encefálico e neurônios do sistema olfatório, hemisférios cerebrais, medula espinal e sistema nervoso autônomo periférico. Essa patologia “não dopaminérgica” é provavelmente responsável pelo desenvolvimento das manifestações clínicas não dopaminérgicas. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com a Doença de Parkinson, o que representa aproximadamente 1% da população mundial a partir dos 65 anos. Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população, o número pode dobrar até 2040. Em 2016, estimou-se uma prevalência global de 6,1 milhões de indivíduos com DP, e parece ser mais frequente nos homens, pelo menos em alguns grupos etários. No Brasil, a estimativa é de que 200 mil pessoas vivam com a enfermidade. A idade média de início da DP é de cerca de 60 anos, e o risco ao longo da vida é de cerca de 2% para os homens e de 1,3% para as mulheres. A frequência da DP aumenta com o envelhecimento, porém podem ser observados casos em indivíduos na terceira década de vida. A DP geralmente surge após os 50 anos, sendo considerada de início precoce quando se instala antes dos 40 anos (cerca de 10% dos casos) e juvenil antes dos 20 anos (extremamente rara). A doença de Parkinson é rara em indivíduos com idades inferiores a 40 anos, sendo que a incidência da doença aumenta após os 60 anos, com uma idade média no diagnóstico de 70,5 anos. ____________________________________________ FATORES DE RISCO Em relação às chances de se desenvolver Doença de Parkinson, sabe-se que há diversos fatores de risco relacionados e que podem impactar no seu desenvolvimento, já que é uma moléstia idiopática e cuja etiologia é multifatorial. Entre os principais fatores corroboradores está o estilo de vida e os fatores ambientais, tais como: exposição a agentes tóxicos, como a praguicidas e metais essenciais e não essenciais; hábitos específicos como o consumo de água de poço, uso contínuo de medicamentos, bloqueadores dos canais de cálcio, antagonistas β2-adrenoreceptores, consumo de tabaco, laticínios, cafeína, chá preto e de carne vermelha. A idade e história familiar de DP estão associados a maior risco, e o tabagismo possivelmente a menor risco. Há ainda a relevância do histórico médico ou doenças comórbidas, história familiar positiva, história de traumatismo craniano e da idade avançada como preditores da Doença. Por outro lado, paralelamente aos fatores de riscos, há menção de diversos fatores protetores, como carga tabágica de 50 cigarros/ano/dia e outros fatores RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA dietéticos-ácido úrico, ácidos graxos poli insaturados, ingestão de vitamina E, atividade física, gota, antiinflamatórios não esteroidais e agonistas β2-adrenoreceptores. Isto posto, permanece elucidado a influência e envolvimento de fatores de risco ambientais, dietéticos, comórbidos, farmacológicos e genéticos, na patogênese da Doença de Parkinson e consequentemente imprescindíveis para aplicação de sua prevenção. ____________________________________________ ETIOLOGIA Os casos de DP são, em sua maioria, esporádicos (cerca de 85 a 90%) e de causa desconhecida. As mutações gênicas são as únicas causas conhecidas de DP. Atualmente há seis genes estabelecidos para a forma clássica de parkinsonismo (três autossômicos dominantes e três autossômicos recessivos), e um total de 26 loci genéticos foram estabelecidos por estudos de associação de todo genoma para esta forma da doença. Em cerca de 10% a 15% dos casos a moléstia é de natureza genética, sendo que mais de 20 loci já foram identificados. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA O neoestriado é formado pelo núcleo caudado e pelo putâmen, e são eles que recebem as eferências corticais e de onde partem as aferências talâmicas e do tronco encefálico, quais sejam as fibras estriado- talâmicas e as fibras estriado-nigrais. O paleoestriado é, por sua vez, formado pelo globo pálido, subdividido ainda em globo pálido interno e externo. Todas as estruturas citadas até aqui, à exceção do tálamo e da substância negra, têm predomínio de fibras GABAérgicas. A Substância Negra ou Substância Nigra (SN), presente no mesencéfalo, é, ainda, subdividida em 2 porções: 1. Pars compacta (SNc) 2. Pars reticulata (SNr), levando esse nome em virtude do acúmulo de neurônios com melanina. Para o parkinsonismo, a estrutura mormente importante é a SNc, formada por neurônios dopaminérgicos. A SNr é composta, sobretudo, por neurônios GABAérgicos. O sistema extrapiramidal normal funciona de 2 formas: 1. via direta (facilitadora do movimento) 2. via indireta (dificultadora do movimento). Descritivamente, a via direta é constituída pelo neoestriado, que emite fibras GABAérgicas (inibitórias) para o globo pálido interno e SNr, os quais irradiam fibras GABAérgicas para o tálamo, que encerra a via com fibras glutamatérgicas (excitatórias) para o córtex. Já a via indireta é formada pelo neoestriado, em sinapse GABAérgica com o globo pálido externo, que emite fibras GABAérgicas para o núcleo subtalâmico, de onde partem fibras glutamatérgicas para o globo pálido interno e a SNr, com o término da via idêntico ao fim da via direta. Perceba que, na via direta, o resultado final é de maior excitação do córtex, enquanto na via indireta, o resultado final é de maior inibição. Esses dois processos coexistem, e estão suscetíveis à modulação pela liberação de dopamina. Nela, há neurônios dopaminérgicos que estimulam o neoestriado responsável pela via direta (rico em receptores D1) e inibem o neoestriado responsável pela via indireta (rico em receptores D2). O resultado, assim, é o comprometimento da estimulação do córtex pelo tálamo, resultando em supressão cortical, trazendo à clínica os sintomas clássicos de lentificação da doença de Parkinson. Nossos neurônios começam a morrer a partir dos 30 anos. Normalmente, nosso encéfalo encolhe 10% entre os 30 e os 70 anos. Quando há uma doença neurodegenerativa, essa morte celular ocorre de forma mais acelerada em determinados neurônios, como no caso da doença de Parkinson. Quando o processo neurodegenerativo atinge as células da pars compacta da substância negra mesencefálica, a perda de 60% dos neurônios dessa estrutura desencadeia o aparecimento dos primeiros sintomas motores na doença de Parkinson. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA A perda de neurônios dopaminérgicos na região ventrolateral da substância negra mesencefálica que se projetam para o putâmen dorsal é o achado patológico clássico da doença de Parkinson e que o difere do envelhecimento normal, em que encontramos perda de neurônios da parte dorsal da porção compacta da substância negra que se projetam para o núcleo caudad. A pars compacta da substância negra mesencefálica contém neurônios dopaminérgicos que participam do circuito nigroestriatal. A ação da dopamina sobre receptores D1 do estriado (caudado e putâmen) ativa uma via conhecida como direta (globo pálido interno - > tálamo -> córtex motor) e inativa a via indireta (globo pálido externo -> núcleo subtalâmico -> globo pálido interno -> tálamo -> córtex motor). Em ambos os casos, ela facilita a realização dos movimentos. As outras vias dopaminérgicas são a mesolímbica e mesocortical, envolvidas com quadros de esquizofrenia, e a tuberoinfundibular, que bloqueia a liberação de prolactina. A dopamina é o principal neurotransmissor envolvido na disfunção neuroquímica na doença de Parkinson e está presente em 4 vias: • nigroestriatal: envolvida com a doença de Parkinson; • mesolímbica e mesocortical: envolvidas com a esquizofrenia; • tuberoinfundibular: responsável pela inibição da produção de prolactina. ------------------------------------------------------------------------ A origem neuroquímica da Doença de Parkinson (DP) foi elucidada em 1960 por Hornykiewicz, que demonstrou que o conteúdo de dopamina (DA) da substância negra parte compacta (SNpc) e do núcleo caudado/putâmen (também conhecido como estriado) em encéfalos post-mortem de pacientes com a DP, era muito baixo, e estava associado à redução do número de neurônios dopaminérgicos. Posteriormente, documentou-se que a DP estava relacionada a perda seletiva de neurônios dopaminérgicos de todos os núcleos da base (núcleo caudado/putâmen, lobo pálido, núcleo subtalâmico e substância negra parte compacta) e presença de agregados proteicos intraneuronais conhecidos como corpúsculos de Lewy. Em estados avançados a degeneração pode prejudicar também a integridade funcional do córtex pré-frontal. Histopatologicamente a DP é caracterizada pela degeneração de neurônios pigmentados dopaminérgicos da Substância Negra parte compacta (SNpc) e consequente redução dos níveis de dopamina no estriado (núcleo caudado e putâmen). Outra característica neuropatológica observada em pacientes da DP é a presença de corpúsculos de Lewy em diversas regiões mesencefálicas. A fisiopatologia da DP está associada à disfunção dos sistemas neurotransmissores, principalmente, por uma redução nas concentrações de dopamina no estriado em decorrência da perda progressiva dos neurônios dopaminérgicos da parte compacta da substância negra. A projeção do estriado para os núcleos de saída é realizada por duas vias diferentes: via direta e via indireta. Na via direta expressam altos níveis de receptores dopaminérgicos tipo D1 e receptores muscarínicos M4, e co-expressam dinorfina e substância P. Em contraste, os da via indireta expressam altos níveis de receptores dopaminérgicos tipo D2 e receptores de adenosina A2, e co-expressam encefalina. Os receptores dopaminérgicos D1 e D2 são receptores metabotrópicos e estão ligados a diferentes vias de sinalização intracelular (diferentes tipos de proteína G). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA A dopamina exerce efeitos distintos sobre estes receptores, ao apresentar efeito excitatório sobre os receptores D1 na via direta e efeito inibitório sobre os receptores D2 na via indireta. Desta forma, em condições fisiológicas, os efeitos da dopamina no sistema nigroestriatal resulta em uma facilitação da via tálamo-cortical e consequente liberação do movimento. Na DP, os neurônios aferentes dopaminérgicos para o estriado são perdidos e o funcionamento das vias direta e indireta torna-se alterado. A depleção de dopamina no estriado causa uma hiperativação da via indireta e um hipoativaçãoda via direta, o que promove uma hiperestimulação do NST e Gpi/SNr e uma inibição da via tálamo-cortical, resultando em uma redução da atividade locomotora e movimentos. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES MOTORAS Na DP a principal manifestação clínica é a síndrome parkinsoniana (síndrome extrapiramidal – hipocinética), decorrente do comprometimento da via dopaminérgica nigroestriatal. O parkinsonismo ou síndrome parkinsoniana é um dos mais frequentes tipos de distúrbio do movimento e apresenta-se com quatro componentes básicos: → BRADICINESIA → RIGIDEZ → TREMOR DE REPOUSO → INSTABILIDADE POSTURAL. A BRADICINESIA OU ACINESIA é caracterizada essencialmente por lentidão e redução da amplitude de movimentos voluntários e automáticos. Esse tipo de transtorno motor pode englobar ainda incapacidade de sustentar movimentos repetitivos, fatigabilidade anormal e dificuldade para realizar atos motores simultâneos. A bradicinesia manifesta-se na área cranial por redução da expressividade facial (hipomimia). A bradicinesia associada à rigidez acometendo a região oral, faríngea e laríngea acarreta a redução da deglutição automática da saliva, levando a acúmulo da mesma na cavidade bucal e perda pela comissura labial (sialorreia), disfagia e disartrofonia. Esta última é caracterizada por comprometimento da fonação e da articulação das palavras, configurando um tipo de disartrofonia denominada hipocinética na qual sobressaem: redução do volume da fala, que pode tornar-se apenas um sussurro; perda da capacidade de inflexão da voz, que se torna monótona; e distúrbios do ritmo, que podem consistir em episódios de hesitação inicial e cadência lenta, pontuada por pausas inadequadas, hesitações ou acelerações involuntárias (fenômeno semelhante à aceleração involuntária da marcha). Nos membros, a bradicinesia manifesta-se claramente e pode ser testada por meio de movimentos repetitivos dos dedos (finger tapping), das mãos e dos pés. Em tarefas do cotidiano compromete a destreza dos movimentos necessários para vestir-se e cuidados com higiene. Outra alteração típica do parkinsonismo determinada pela bradicinesia é a redução do tamanho da letra (micrografia), podendo desfigurar a assinatura. Outras tarefas motoras finas como digitação e manejo do mouse podem ser afetadas. A repercussão da bradicinesia sobre a marcha determina a redução da amplitude dos passos e/ou arrastar os pés e a perda dos movimentos associados dos membros superiores caracterizando a marcha “em bloco”. Outras alterações da marcha eventualmente presentes na síndrome parkinsoniana são a festinação, o bloqueio da marcha (freezing), e a cinesia paradoxal. → A FESTINAÇÃO, é caracterizada por uma aceleração involuntária da marcha, com inclinação para a frente, como se o paciente estivesse buscando seu centro de gravidade, às vezes levando a quedas. → O BLOQUEIO DE MARCHA (FREEZING) caracteriza-se pela perda abrupta da capacidade de iniciar ou sustentar a marcha, caracterizando-se como uma hesitação no seu início ou de uma frenação súbita da marcha, às vezes levando à queda, já que a inércia tende a manter o corpo em movimento. O bloqueio de marcha pode surgir quando o paciente se depara com um obstáculo real, como uma pequena RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA elevação do solo, ou apenas visual, como uma faixa pintada no solo. Outras vezes, uma situação de tensão emocional pode desencadear o fenômeno. Determinados estímulos sensoriais ou motores podem contornar essa dificuldade, e alguns pacientes, conscientes desse fato, utilizam-no para controlar o fenômeno. Esse tipo de alteração da marcha é incomum nos primeiros anos de evolução da DP mas tende a surgir com a progressão da mesma, podendo agravar consideravelmente a incapacidade motora. O bloqueio de marcha não costuma responder bem à reposição dopaminérgica o que sugere a participação de outros circuitos e neurotransmissores na gênese deste fenômeno. → CINESIA PARADOXAL: Fenômeno inverso ao bloqueio da marcha pode ocorrer na DP, ou seja, melhora abrupta e de curta duração do desempenho motor na marcha, quando sob forte emoção. Este fenômeno é conhecido como cinesia paradoxal. O bloqueio da marcha e a cinesia paradoxal, diversamente da bradicinesia, que é consequente ao déficit dopaminérgico, podem estar relacionadas com as oscilações de atividade noradrenérgica e/ou colinérgica. A RIGIDEZ é outra anormalidade motora quase sempre presente na síndrome parkinsoniana. Trata-se da hipertonia denominada plástica. A resistência à movimentação do membro afetado pode ser contínua ou intermitente, sendo que esta configura o fenômeno da “roda denteada”. Outra característica da hipertonia plástica é o acometimento preferencial da musculatura flexora, determinando alterações típicas da postura, com anteroflexão do tronco e semiflexão dos membros (postura simiesca). Outro aspecto semiológico relacionado com a hipertonia plástica é a exacerbação dos reflexos tônicos segmentares (reflexo local de postura). Esse fenômeno pode ser mais facilmente observado quando o examinador faz a flexão dorsal do pé do paciente. Essa movimentação passiva desencadeia uma contração prolongada dos músculos envolvidos levando à persistência dessa postura por algum tempo. O TREMOR PARKINSONIANO é clinicamente descrito como de repouso, exacerbando-se durante a marcha, no esforço mental e em situações de tensão emocional e diminuindo com a movimentação voluntária do segmento afetado e desaparecendo com o sono. A frequência varia de quatro a seis ciclos por segundo e costuma envolver preferencialmente as mãos, configurando a alternância entre pronação e supinação ou flexão e extensão dos dedos. Na fisiopatologia do tremor parkinsoniano além da participação da disfunção da via dopaminérgica nigroestriatal parece haver também o envolvimento do circuito cerebelo-tálamo-cortical. A INSTABILIDADE POSTURAL é decorrente da perda de reflexos de readaptação postural, evidenciando-se em mudanças bruscas de direção durante a marcha. Esse distúrbio que não é comum em fases iniciais de evolução da DP, posteriormente pode agravar-se e determinar quedas frequentes. A presença de instabilidade postural em fase precoce da DP é um elemento contra o diagnóstico da DP e sugere uma das formas de parkinsonismo atípico (paralisia supranuclear progressiva). Pode ser avaliada pelo pull test que o examinador puxa pelos ombros o paciente bruscamente para trás. A resposta é anormal se o paciente dá mais que duas passadas para trás para reequilibrar-se. MANIFESTAÇÕES NÃO MOTORAS Na DP, ainda que o quadro clínico seja dominado pelas manifestações motoras representadas pela síndrome parkinsoniana, alterações não motoras estão presentes e decorrem em grande parte do envolvimento de estruturas fora do circuito dos núcleos da base. As manifestações não motoras na DP podem ser agrupadas em quatro tipos: → Neuropsiquiátricas → Autonômicas → Distúrbios do sono → Outras RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Entre as MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS as mais relevantes são a depressão e o declínio cognitivo, mas ansiedade e apatia também podem estar presentes. As alterações cognitivas em fases iniciais da moléstia, quando presentes, geralmente são discretas (distúrbios visuoespaciais) e sem repercussão significativa sobre o desempenho cognitivo. Entretanto, em cerca de 20% a 40% dos casos, em fases adiantadas da evolução da doença podem instalar-se alterações cognitivas graves, configurando um quadro demencial. A depressão é considerada o distúrbio neuropsiquiátrico mais comum na DP. Sua prevalência varia nos diferentesestudos, porém, situa-se em torno de 40% em pesquisas que utilizaram escalas de avaliação mais adequadas como as de Beck e de Hamilton. Os principais fatores associados a depressão na DP são: sexo feminino, maior incapacidade motora, flutuações motoras mais intensas, presença de disfunções cognitivas e autonômicas e insônia ou sonolência diurna. A depressão na DP manifesta-se com algumas características comuns na depressão primária não relacionada com a DP, tais como: tristeza, pessimismo, alterações somáticas (perda de apetite, alteração de peso, fadiga e distúrbios do sono), perda de autoestima e ansiedade. Entretanto, sintomas como sentimento de culpa, autocrítica excessiva, sensação de ruína e impotência, alucinações e delírios, comuns na depressão primária, são raros na depressão em pacientes com DP. A ansiedade é uma manifestação psiquiátrica comum na DP e é devida em parte à incapacidade física trazida pela doença e, em casos avançados, à imprevisibilidade de resposta à medicação. É fato bastante conhecido que a ansiedade é um fator precipitante de piora das manifestações motoras da DP. Os tipos mais comuns de transtornos de ansiedade na DP são: crises de pânico (geralmente ocorrendo em estados of), transtorno de ansiedade generalizado e fobias simples e social. Apatia pode ser definida como falta de motivação manifestada por redução de comportamentos dirigidos a determinado objetivo e redução do engajamento emocional. Está associada a comprometimento social e funcional e redução na qualidade de vida. Pode ocorrer como parte de outra condição (principalmente depressão e demência) ou como síndrome isolada. Entre as ALTERAÇÕES AUTONÔMICAS, as mais relevantes são: as gastrointestinais, a hipotensão postural e a disfunção vesical, mas podem estar presentes ainda seborreia, disfunção erétil e alterações da termorregulação. Neste grupo de manifestações não motoras as mais frequentes são as gastrointestinais entre as quais estão: a obstipação intestinal (a mais comum e mais precoce), a disfagia e a gastroparesia. A sialorreia, assim como a disfagia, relacionam-se com alterações do complexo mecanismo de deglutição sobre o qual interferem, a bradicinesia, a rigidez e as disfunções autonômicas. Os principais TRANSTORNOS DO CICLO SONOVIGÍLIA são: insônia e sonolência excessiva diurna. Os transtornos noturnos estão presentes em cerca de 20% a 40% dos pacientes com DP enquanto a sonolência diurna afeta cerca de 30% dos pacientes. Entre as OUTRAS MANIFESTAÇÕES não motoras da DP estão a redução do olfato (hiposmia), a fadiga e a dor (esta geralmente secundária às alterações motoras). A hiposmia está presente em cerca de 80%-90% dos pacientes com DP e pode ser um dado clínico útil para, em casos de dúvida diagnóstica, distinguir a DP do tremor essencial ou de certas formas de parkinsonismo degenerativo (paralisia supranuclear progressiva e degeneração corticobasal), condições nas quais o olfato está usualmente preservado. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Parkinsonismo é um termo genérico empregado para definir uma síndrome manifestada por bradicinesia com rigidez e/ou tremor. Entre as diferentes formas de parkinsonismo, a DP é a mais comum (cerca de 75% dos casos). Historicamente, a DP era diagnosticada com base na presença de 2 das 3 características parkinsonianas (tremor, rigidez, bradicinesia). Entretanto, estudos post mortem encontraram uma taxa de erro de 24% quando somente esse critério era usado para o diagnóstico. Subsequentemente, estudos de correlação clinico- patológicos determinaram que o parkinsonismo associado ao tremor de repouso, assimetria do comprometimento motor e resposta satisfatória à levodopa mais provavelmente predizia o diagnóstico patológico correto. Com esses critérios revisados (conhecidos como U.K. Brain Bank Criteria), o diagnóstico clínico de DP é confirmado patologicamente em até 99% dos casos. Recentemente, a International Parkinson’s Disease and Movement Disorder Society (MDS) sugeriu critérios clínicos revisados para a DP (conhecidos como Critérios Diagnósticos Clínicos da MDS para a Doença de Parkinson) que atualmente estão sendo submetidos a validação internacional. O diagnóstico da DP é fundamentado em dados clínicos e os exames complementares têm como maior finalidade descartar condições que podem ser confundidas. O diagnóstico da DP envolve três passos, conforme proposto por Gibb e Lees - London Brain Bank: 1) CRITÉRIOS DE SUPORTE (características que aumentam a confiabilidade no diagnóstico de DP): caracterização da síndrome parkinsoniana; 2) CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO ETIOLÓGICA E EXCLUSÃO ABSOLUTA: identificação da causa do parkinsonismo e portanto exclusão de formas secundárias decorrentes de causas específicas e de formas atípicas de parkinsonismo relacionadas com afecções neurodegenerativas da meia-idade e as relacionadas com doenças degenerativas ou dismetabólicas de causa genética de início nas primeiras décadas de vida; 3) CRITÉRIO CONFIRMATÓRIO: confirmação do diagnóstico clínico com base na resposta terapêutica à levodopa e na evolução da doença. ____________________________________________ PASSO 1: CRITÉRIOS DE SUPORTE CARACTERIZAÇÃO DA SÍNDROME PARKINSONIANA Conforme mencionado anteriormente a síndrome parkinsoniana tem quatro componentes básicos: bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural. Nos critérios diagnósticos para DP propostos recentemente pela Movement Disorders Society pelo menos dois desses componentes, excluída a instabilidade postural (que não está presente em fase inicial da doença), são necessários para a caracterização da síndrome. A principal diferenciação do tremor da DP deve ser feita em relação ao tremor essencial (TE), condição muito mais frequente que a DP e de evolução benigna. Entretanto, deve-se considerar que em pacientes com DP, eventualmente, o tremor de repouso pode persistir na postura (com a mesma frequência), embora com menor amplitude. Por outro lado, pacientes com TE podem vir a desenvolver DP (comorbidade), pois ambas as condições são de alta prevalência a partir dos 50 anos de idade. É relevante observar que na DP a síndrome parkinsoniana acomete inicialmente um hemicorpo, na maioria das vezes iniciando-se pelo membro superior e na evolução, após meses ou anos, estende-se para o outro lado do corpo. O acometimento bilateral, desde o início da instalação da síndrome parkinsoniana é um dado clínico que levanta suspeitas contra o diagnóstico de DP, e sugere formas secundárias de parkinsonismo ou parkinsonismo degenerativo atípico. Destes componentes o que leva mais rapidamente ao reconhecimento da síndrome parkinsoniana é o tremor de repouso, que está presente em 70% a 80% dos pacientes com DP na fase inicial da moléstia. Deve-se considerar ainda que manifestações não motoras, tais como hiposmia, constipação intestinal, depressão e transtorno comportamental do sono REM, frequentemente já estão presentes quando se instala a síndrome parkinsoniana, e a sua identificação pode auxiliar no diagnóstico da DP. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ Passo 2: CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO ETIOLÓGICA E EXCLUSÃO ABSOLUTA Identificação da causa da síndrome parkinsoniana A identificação da causa da síndrome parkinsoniana implica no reconhecimento de causas específicas (parkinsonismo secundário) ou de formas atípicas de parkinsonismo degenerativo, como a atrofia de múltiplos sistemas (AMS), paralisia supranuclear progressiva (PSP), degeneração corticobasal (DCB) e demência com corpos de Lewy (DCL). O diagnóstico diferencial dadoença de Parkinson de início precoce Nas formas da DP de início precoce, que representam cerca de 10% a 15% dos casos, o quadro de diagnósticos diferenciais é bastante distinto da DP que se instala na meia-idade e é representado pelas afecções degenerativas ou dismetabólicas, geralmente de causa genética. • Doença de Wilson • Formas genéticas de distonia associadas ao parkinsonismo • Neurodegenerações com acúmulo cerebral de ferro • Calcificação estriatopálidodenteada (síndrome de Fahr) • Degeneração palidal (pura ou dentatorubralpálido- Luysiana) • Neuroacantocitose • Atrofias espinocerebelares (Tipos 2, 3 e 17) • Demência frontotemporal com parkinsonismo • Forma rígida da doença de huntington (variante de Westphal) • Prémutação do gene do X Frágil Critérios negativos (excludentes) para doença de Parkinson: 1. História de AVE de repetição com sintomas em degraus 2. História de traumatismo craniano grave ou repetitivo 3. História definida de encefalite 4. Crises oculógiras 5. Tratamento prévio com neurolépticos 6. Remissão espontânea dos sintomas 7. Quadro clínico estritamente unilateral após três anos 8. Paralisia supranulear do olhar 9. Sinais cerebelares 10. Sinais autonômicos precoces 11. Demência precoce com alterações de memória, linguagem ou praxias 12. Liberação priramidal com sinal de Babinski 13. Presença de tumor cerebral ou hidrocefalia comunicante 14. Resposta negativa a altas doses de levodopa 15. Exposição a MPTP (1metil4fenil1,2,3,6tetrahidropiridina) Excluídas estas possibilidades estaremos diante de uma forma primária de parkinsonismo, ou seja, a DP. ____________________________________________ Passo 3: CRITÉRIO CONFIRMATÓRIO Confirmação do diagnóstico de DP com base na resposta terapêutica e evolução A boa resposta às drogas de ação dopaminérgica, especialmente a levodopa, é um critério obrigatório para a confirmação do diagnóstico da DP. Entretanto, pacientes com outras doenças que se manifestam com parkinsonismo podem apresentar resposta positiva a essas drogas, ainda que inferior à observada na DP. Entre estas doenças destacam-se aquelas que são mais difíceis de serem diferenciadas da DP como a PSP e AMS. Estima-se que 20% dos pacientes com PSP e 50% dos casos de AMS, respondam à levodopa em fases iniciais dessas doenças. A evolução da DP é lenta e, sob tratamento, os pacientes mantêm-se independentes pelo menos nos primeiros 5 anos após a instalação das manifestações motoras da moléstia. Portanto, diante de uma evolução desfavorável, com limitações motoras graves após poucos anos do início da doença, o diagnóstico de DP deve ser colocado em dúvida. Outro aspecto a ser valorizado como confirmatório do diagnóstico de DP é o aparecimento, em longo prazo, de discinesias induzidas por levodopa. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ Mais recentemente, conforme mencionado anteriormente, a Movement Disorders Society propôs novos critérios diagnósticos incorporando os recentes avanços nos conhecimentos sobre a DP. Baseia-se em três categorias adicionais de características diagnósticas: • Critérios de suporte (características que aumentam a confiabilidade no diagnóstico de DP) • Critérios de exclusão absolutos • Sinais de alerta ou red flags (que precisam ser contrabalançados por critérios de suporte para possibilitar um diagnóstico de DP). Com o uso desses critérios, foram delineados dois níveis de certeza: a DP clinicamente estabelecida e a DP provável. ____________________________________________ EXAMES COMPLEMENTARES NO DIAGNÓSTICO DA DP Como mencionado acima, o diagnóstico da DP apoia-se amplamente na anamnese, exame neurológico e acompanhamento do paciente. Exames de imagem estruturais como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada do encéfalo são utilizadas como auxílio para a exclusão dos diagnósticos diferenciais. 6. EXPLICAR A AÇÃO DOS MEDICAMENTOS UTILIZADOS PARA O TRATAMENTO DE PARKINSON, BEM COMO OS FÁRMACOS, DROGAS OU AGENTES QUÍMICOS QUE PROVOCAM PARKINSONISMO SECUNDÁRIO. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO SINTOMAS MOTORES 1) LEVODOPA A LEVODOPA segue sendo a principal forma de tratamento da DP desde o seu lançamento comercial no final dos anos 1960. Atua diretamente sobre a deficiência dopaminérgica que é a base fisiopatológica dos sinais e sintomas motores associados à doença. É a droga mais eficaz para o controle dos sintomas motores, mas seu uso pode estar associado a problemas especialmente no longo prazo, podendo ocorrer redução do tempo de efeito (wearing-off) e movimentos involuntários (discinesias). O uso de duas a quatro doses diárias de 50 ou 100 mg de levodopa permite um efeito homogêneo e estável durante as 24 horas do dia. A levodopa é considerada uma “pró-droga”, pois seu efeito é decorrente da conversão para dopamina. A dopamina, se ministrada por via oral ou parenteral, é incapaz de transpor a barreira hematoencefálica e por esta razão utiliza-se a levodopa. Os preparados comerciais de levodopa vêm com DROGAS INIBIDORAS DA DOPA DESCARBOXILASE (DDC) no sangue periférico para permitir uma maior entrada de levodopa no SNC e minimizar os efeitos adversos da ação direta da dopamina sobre os receptores periféricos (hipotensão postural, náuseas e vômitos). Há dois inibidores periféricos de DDC disponíveis comercialmente, a carbidopa e a benserazida. EFEITOS ADVERSOS: → ENCURTAMENTO DO TEMPO DE EFEITO: Nas fases iniciais ainda existem neurônios dopaminérgicos sobreviventes e com a entrada da levodopa no cérebro, parte dela é convertida em dopamina dentro do neurônio e é estocada em vesículas para ser utilizada posteriormente. Outra parte da levodopa é convertida em dopamina e é utilizada imediatamente no terminal sináptico. Com o passar do tempo, a reserva de neurônios dopaminérgicos vai escasseando e a maior parte da levodopa passa a ser convertida em dopamina fora do neurônio dopaminérgico. Esta é uma das razões para a ocorrência de uma das complicações mais frequentes do tratamento da DP, o encurtamento do tempo de efeito (wearing-off). → DISCINESIAS: Nos não parkinsonianos, a estimulação sobre os receptores dopaminérgicos estriatais ocorre de forma tônica, contínua, sem grandes oscilações ao longo do período ativo do paciente. Com a estimulação pulsátil, não fisiológica, ocorre uma modificação no citoplasma do neurônio póssináptico, levando a um processo de fosforilação de proteínas que irão modificar o funcionamento de outros receptores, como os de glutamato (receptor NMDA) e receptores de adenosina A2A. Com o passar do tempo, esta modificação dos receptores leva a disparos anormais RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA no neurônio póssinático, modificando todo o funcionamento do circuito dos núcleos da base agravando as oscilações motoras e o aparecimento de discinesias. ____________________________________________ OUTRAS OPÇÕES TERAPÊUTICAS Todas as outras opções terapêuticas para o tratamento da DP são menos eficazes que a levodopa, mas têm meia-vida plasmática maior e, portanto, um perfil de efeitos adversos diferente não estando associados a wearing-off e a discinesias. Temos como drogas com ação no sistema dopaminérgico, além da levodopa, os agonistas dopaminérgicos (rotigotina e pramipexol), os inibidores da MAO (selegilina e rasagilina) e os inibidores da COMT (entacapona e tolcapona). As drogas com ação fora do sistema dopaminérgico são os anticolinérgicos (biperideno e triexifenidila) e os antiglutamatérgicos (amantadina). Os ANTICOLINÉRGICOS (biperideno e triexifenidila) são cada vez menos utilizados no tratamento da DP. Embora tenham uma ação contrao tremor de repouso e a rigidez razoável, o perfil de efeitos adversos não é favorável para este tipo de medicação. A ação anticolinérgica sistêmica é significativa e caracteriza-se por constipação intestinal, ou piora da já existente, secura da boca, turvação visual (interferência na contração pupilar) e retenção urinária. Nos pacientes mais velhos, especialmente após os 70 anos de idade, ou naqueles com qualquer grau de declínio cognitivo costumam ocorrer delírios e alucinações. Estudos de longo prazo demonstram que o uso de anticolinérgicos aumenta o risco de os pacientes desenvolverem demência nas fases mais avançadas da DP. Esta é uma das principais razões do declínio das indicações para o uso desta classe de medicação. No grupo das drogas com ação INIBITÓRIA SOBRE A ENZIMA MAOB (IMAOB) temos a selegilina e a rasagilina. A selegilina está em uso desde os anos 1980 e tem uma ação sintomática discreta. A rasagilina, um IMAOB de geração mais recente, tem a seu favor o fato de ter um efeito sintomático aparentemente maior do que o da selegilina e os estudos demonstram que iniciar precocemente o tratamento com a droga determina uma melhor evolução em longo prazo. Na fase inicial, como única medicação antiparkinsoniana, o efeito motor é modesto, mas os resultados apontam para uma menor necessidade de adicionar drogas dopaminérgicas ao longo do tempo quando comparados com os pacientes que não recebem qualquer tipo de tratamento. A rasagilina também é útil na fase avançada no controle das complicações em longo prazo, como as flutuações motoras. A adição de rasagilina na dose de 1 mg ao dia ao regime de tratamento com levodopa é capaz de reduzir em cerca de 1,2 hora do total do período of (acinesia) do paciente ao longo do dia. Os AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS disponíveis são o pramipexol e a rotigotina. São mais potentes que as drogas com ação fora do sistema dopaminérgico, mas têm uma menor eficácia sobre os sintomas motores e menor tolerabilidade em relação à levodopa. Podem levar a náuseas, vômitos, hipotensão ortostática, sonolência, alucinações e delírios com muito mais frequência que a levodopa. O perfil de tolerabilidade do pramipexol e da rotigotina é muito superior se comparados com os agentes dopaminérgicos disponíveis no passado, como a bromocriptina e o piribedil. Os agonistas dopaminérgicos podem ocasionar edema de membros inferiores reversível com a retirada da medicação. Nos últimos anos foram descritos distúrbios comportamentais do tipo transtornos de controle de impulso como, jogo patológico, compras compulsivas, hipersexualidade e comportamento obsessivo especialmente nos pacientes recebendo doses mais altas. Os pacientes que iniciam o tratamento com agonista dopaminérgico em vez de levodopa demoram mais tempo para desenvolver discinesias, mas com o tempo o risco se iguala nos dois grupos. Os agonistas são drogas úteis na fase inicial para o controle dos sintomas motores com pouca ou nenhuma incapacitação. Na fase avançada, nos casos em que ainda não faz parte do esquema terapêutico, podem ser adicionados ao tratamento com levodopa para controlar as complicações como o wearing-off e as discinesias. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO Uma vez feito o diagnóstico de DP, intervir farmacologicamente parece fazer diferença na evolução da doença. Há evidências de que algum tipo de tratamento farmacológico é melhor que nenhum, mesmo em fases muito iniciais e oligossintomáticas. Não existe uma fórmula pronta e acabada para se estabelecer um tratamento-padrão para cada fase da doença. Não há esquema terapêutico “certo” ou “errado” para o parkinsoniano. Cada paciente deve ter sua necessidade individualizada para depois se estabelecer um plano de tratamento. Levamos em consideração a idade do paciente e – portanto sua expectativa de vida –, o grau de incapacitação funcional, se o paciente ainda mantém atividade de trabalho. Como iniciar o tratamento da doença de Parkinson Primeiro considere o grau de incapacitação do paciente • Sintomas presentes, mas com pouco incômodo e nenhuma incapacitação: rasagilina, selegilina ou anticolinérgicos ou amantadina • Sintomas incomodam, mas não incapacitam ou incapacitam pouco: agonista dopaminérgico ou levodopa • Sintomas incomodam e há uma considerável incapacitação: levodopa Depois considere a idade do paciente • Pacientes com mais de 70-75 anos podem não tolerar bem a selegilina, rasagilina, anticolinérgicos e agonistas dopaminérgicos: opte por levodopa de saída. ____________________________________________ TRATAMENTO DOS SINTOMAS NÃO MOTORES O tratamento da depressão pode ser feito com qualquer dos antidepressivos tricíclicos ou dos inibidores seletivos de recaptura da serotonina, mas os primeiros estão associados a efeitos colaterais intoleráveis para muitos pacientes. Temos boa experiência com o uso da sertralina, escitalopram e venlafaxina, mas qualquer deles pode ser indicado. A demência pode ser manejada adequadamente com os anticolinesterásicos (rivastigmina, donepezila e galantamina). A rivastigmina, das três drogas, é a que tem um maior número de pacientes estudados. Nesta fase, a ocorrência de alucinações e delírios são frequentes e, além dos anticolinesterásicos, podem-se adicionar quetiapina (doses de 25 a 200 mg ao dia) ou clozapina (doses de 12,5 a 100 mg ao dia). Constipação intestinal pode ser manejada com orientação dietética rica em fibras associada a laxantes não irritantes da mucosa intestinal. O macrogol e a lactulona são os laxantes mais frequentemente indicados. Hipotensão postural pode melhorar com medidas de aumento do consumo de hidroeletrólitos e uso de meia elástica. A prescrição de fludrocortisona de 0,1 a 0,2 mg ao dia em uma ou duas tomadas. Os sintomas psicóticos (alucinações visuais e delírios) devem ser inicialmente abordados considerando a retirada de alguns dos antiparkinsonianos. Ordem em que devem ser consideradas a redução da dose e eventualmente a retirada de antiparkinsonianos: 1. Anticolinérgicos (triexifenidil e biperideno) 2. Amantadina 3. Selegilina 4. Agonistas dopaminérgicos (pramipexol e rotigotina) 5. Rasagilina 6. Entacapona 7. Levodopa
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