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357_METEOROLOGIA_E_CLIMATOLOGIA_VD2_Mar_2006

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METEOROLOGIA E CLIMATOLOGIA
Mário Adelmo Varejão-Silva
Versão digital 2 – Recife, 2006
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virtude da diferença de concentração. 
O processo de crescimento apenas por difusão requer cerca de um dia para que um gotí-
cula possa atingir o tamanho característico de uma gota de chuva (0,5mm de diâmetro). A experi-
ência mostra, no entanto, que uma nuvem quente pode se formar e iniciar precipitação em poucas
horas, fato muito comum na Região Tropical, por exemplo. É evidente, portanto, que outros meca-
nismos devem estar envolvidos no crescimento das gotículas.
As gotículas possuem um movimento desordenado, o que aumenta a probabilidade de
colisões, seguidas de aglutinação, processo que se denomina acreação. Esse efeito é maior em
nuvens cumuliformes devido à turbulência em seu interior. Por outro lado, gotas grandes desen-
volvem velocidade de queda maior e varrem um volume claramente cônico, englobando várias
gotículas em sua trajetória. Durante o movimento ascendente, por serem mais pesadas movem-se
mais lentamente e podem ser atingidas por gotículas (mais velozes). Duas gotinhas que tenham
trajetórias paralelas e próximas são atraídas (pela descompressão do ar que flui entre elas) e ten-
dem a coalescer. O mecanismo de acreação (colisão-coalescência) é importante para explicar o
crescimento de gotas, mas sozinho não justifica as chuvas torrenciais. 
I. Langmuir desenvolveu uma teoria explicando que, em seu movimento vertical, as maio-
res gotas normalmente se fragmentavam e as gotinhas resultantes, não tão pequenas, continua-
vam a crescer por colisão-coalescência com as gotículas circunjacentes, numa verdadeira reação
em cadeia (Peixoto, 1970). O efeito multiplicador desse processo seria suficiente para justificar
como as nuvens cumuliformes conseguem desenvolver aguaceiros em tão pouco tempo.
7. Estimulação artificial de nuvens.
As nuvens mais propícias à estimulação artificial são precisamente os cúmulos e cumulo-
nimbos. Uma nuvem convectiva (cumuliforme) deve ser entendida como uma fábrica de chuva em
potencial. A matéria prima é o vapor d'água e as partículas capazes de se tornarem ativas. Estas
são, em geral, tão abundantes na atmosfera que aparentemente não chegam a constituir fator
limitante. É, então, o suprimento de vapor d'água que vai condicionar a produção de precipitação.
No caso de nuvens cumuliformes em desenvolvimento, o suprimento é o assegurado pela umida-
de do ar que ascende, penetrando na base da nuvem. Ao atravessá-la, uma considerável quanti-
dade de vapor d'água se condensa, de maneira que o ar estará muito menos úmido ao ultrapassar
o topo da nuvem.
Sob o ponto de vista dinâmico, o requisito básico para que essa fábrica funcione é a exis-
tência de instabilidade atmosférica, favorecendo o desenvolvimento de correntes ascendentes
intensas as quais irão facilitar o crescimento das gotas. Caso não existam mecanismos capazes
de assegurar a requerida instabilidade, a nuvem formada certamente não conseguirá produzir
precipitação, ou o fará em quantidades insignificantes. Tampouco haverá precipitação abundante
na ausência de um suprimento adequado de vapor d’água.
Diversas tentativas têm sido feitas no sentido de provocar a formação de gotas grandes,
capazes de desencadear precipitação. A técnica mais comum, no caso de nuvens quentes, con-
siste em aspergir nelas (a partir de uma aeronave) grandes gotas de solução salina,. A hipótese
assumida é a de que tais gotas irão iniciar a reação em cadeia. Em nuvens frias costuma-se efe-
tuar a estimulação mediante a dispersão de neve carbônica (CO2 congelado), visando à geração

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