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1 O Pentateuco Pe. Aldemir F. Belaver AULA 1 - Generalidades 1. Uma obra em cinco partes O Pentateuco1 ou Torah é um texto dividido em cinco partes. Estas partes são chamadas de “Livros”. O Pentateuco é um conjunto de Livros carregado de enigmas, se relacionam tanto a questão histórica quanto a questão literária. Na questão histórica é justamente saber se aqueles personagens do passado, Adão, Eva, Abraão, Moisés e tantos outros, se eles de fato existiram ou se são grupos sociais. A outra questão vai no campo literário, por que esse conjunto de narrativas você tem que perceber como se fosse um grande mosaico, um grande tapete ou um grande conjunto de narrativas diferenciadas que tratam de um mesmo tema, mas que são de épocas diferentes, de conjunturas diferentes. Um exemplo: quando tomamos a primeira página dos textos do Pentateuco ou do conjunto, nós nos deparamos com o relato da Criação, logo na segunda página você tem outro relato da criação, então ali, quando você tem os dois relatos criacionais um focando na criação do céu e da terra e o outro focando a criação da Terra, de Adão, de Eva, de todo o conjunto do Jardim então nós temos ali nada mais que dois grupos diferentes falando da sua visão sobre a origem do mundo, sobre a origem 1A palavra “Pentateuco” é muitas vezes traduzida por “cinco Livros”. Era assim que os Judeus de Alexandria, no Egito, chamavam o conjunto dos cinco primeiros Livros da Escritura. Originalmente a palavra significa “cinco vasos”. De fato, “penta”, em Grego, é “cinco”, em português. E “teuchos”, em Grego (o “ch” se pronuncia como “rr”: “teurrós”) é vaso, em Português; pode ser também urna, vela de navio, etc. Então a palavra “pentateuco” pode ser, na origem, “cinco vasos”: dentro de cada vaso um rolo ou livro. Assim Pentateuco é “cinco vasos”. Sendo que cada vaso guardava um livro então ficou sendo “cinco livros”. Pode-se também identificar o Pentateuco como as Cinco Partes da Lei. Os Judeus da Palestina chamavam de “Torah”, palavra de muitos sentidos que pode significar “ensino”. Um ensino constante cria um processo de caminhada. Por isso Torah pode ser também “Caminho”. da humanidade, então você tem ali quase que dois retalhos, dois textos, narrativos diferenciados. Outro exemplo que eu gostaria de mostrar é as duas versões do Decálogo, uma está no Êxodo, outra está no Deuteronômio, são o mesmo texto com algum aspecto nas minúcias que da diferença entre uma listagem e outra listagem, claro que os mandamentos são os mesmos, mas nessas duas estagies você tem duas versões. São dois grupos e lugares diferentes, montando aquilo que eles concebem como a grande lei dada por Deus, então quando você vai ler lá em Êxodo, nas entrelinhas ele vai colocar a enumeração dos mandamentos, mas ali ele coloca a sua diferença com relação ao outro texto, quando vai explicar justamente o mandamento do sábado, o sábado no texto do Êxodo tem em vista a criação, por que Deus descansou no sétimo dia, por isso deve ser lembrado o Sábado. No Deuteronômio precisa-se lembrar o Sábado por que no sábado nós somos libertos da Escravidão, nós fomos libertos do Egito, então, a memória do sábado no texto do Deuteronômio tem referência ao próprio Êxodo, a memória do sábado no livro do Êxodo faz referência ao relato da Criação. Então isso tudo demostra que esses textos vieram de lugares diferentes, de grupos diferentes, e cada qual com sua história, experiência e leitura de fé, ou com sua teologia. O Pentateuco é um grande mosaico que amarra um grande conjunto de textos, um grande conjunto de experiências dentro quase que na tentativa de formar uma grande pintura na teologia, uma grande pintura na sua história, uma grande pintura literária, o Pentateuco é um mosaico de experiências. Veja que este é um dado importante: o Pentateuco ou Torah é um texto dividido! Quer dizer que, originalmente, ele podia ser lido inteiro, como um único livro. O que se teria é um conjunto de informações que indicaria um caminho a ser seguido. Por isso que a palavra Torah, que é o nome hebraico deste conjunto de Livros, pode ser traduzido por “caminho” ou “ensino”. Fazendo uma comparação básica, podemos dizer que aquilo que os Evangelhos são para o Novo Testamento e para a Fé Cristã, é a Torah ou Pentateuco para os fiéis judeus. Se os Profetas são importantes e os 2 Salmos são a oração do Povo da Bíblia, a Torah é a narração e o caminho fundamental a ser seguido. A Torah ou Pentateuco não é um ensino acadêmico, matemático, sistemático. Mas é um ensino com histórias, com a vida de pessoas e acontecimentos. É também a proposta de um modo de ser, de agir, de viver. Neste sentido pode ser identificado com “Lei” ou “Normas”, no sentido de indicar a conduta das pessoas. Os Livros do Pentateuco ou Torah compõem uma grande obra. Esta obra pode ser lida em sequência, cada Livro sendo ligado a outro e formando uma narração ou corpo coerente de informações. Os nomes das cinco partes do Pentateuco são gregos e devem-se aos judeus que fizeram a tradução alexandrina ou dos LXX; Gênesis quer dizer origem, porque este livro começa falando das origens do mundo e do homem. Êxodo significa saída, porque o livro trata da saída dos judeus prisioneiros no Egito; Levítico é o livro dos levitas ou sacerdotes, pois apresenta leis para o culto; Números é o livro que começa pela história de um recenseamento feito por Moisés no deserto; Deuteronômio é o livro que contém a repetição da Lei (déuteron = segundo; nómos = Lei). O Gênesis compreende duas partes: Gn 1-11 e 12-50. A primeira é chamada "pré-história bíblica", porque apresenta acontecimentos anteriores à história bíblica; esta começa no capítulo 12 com Abraão (séc. XIX a.C.) Tudo o que precede Gn 12, vem a ser o fundo de cena que explica por que Deus quis chamar Abraão e fazer-lhe promessas; o Criador fez o mundo e o homem muito bons, mas o pecado estragou a obra de Deus (como se vê no caso de Caim, no do dilúvio, no da torre de Babel); por isto Deus separa um homem e sua descendência para serem os depositários da esperança de um Messias Salvador. A segunda parte do Gênesis (12-50) apresenta os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, mediante os quais Deus vai realizando a preparação do Messias. O Êxodo descreve: 1) a saída do Egito mediante as dez pragas e a celebração de Páscoa (1,1-15,21); 2) a caminhada até o monte Sinai (15,22-18,27); 3) a aliança e a legislação do Sinai (19,1-40,38). O Levítico apresenta coleções de leis relativas ao culto (1,1- 10,20) e à santidade do povo (11,1-27,34). O livro dos Números contém outras leis mescladas com a narrativa da caminhada até as margens do Jordão (1,1-36,13). O Deuteronômio consta de cinco sermões de Moisés que recapitulam a Lei (1,1.4,43; 4,44-11,32; 12,1-28,68; 28,69-30,20; 31,1- 29) e da narração do fim da vida de Moisés (31,30.34,12). Estes dados permitem avaliar a importância histórica, religiosa e moral do Pentateuco, ao qual nenhum outro documento da antiguidade pode ser comparado. Bibliografia BIBLIA DE JERUZALÉM BALLARINI, T., Introdução à Bíblia, vol. II/I. Ed. Vozes. 1975. BRIEND, J., Uma leitura do Pentateuco. Ed. Paulinas. 1980. CHARPENTIER, E., Para uma primeira leitura da Bíblia. Ed. Paulinas. 1980. LÄPPLE, A., Bíblia: interpretação atualizada e catequese. Vol. 1. Ed. Paulinas. 1978. LOPEZ, FELIX GARCIA. Pentateuco Vol 3, Coleção Introdução ao Estudo da Bíblia. Editora Ave Maria. 2015. SKA, Jean Louis. Introdução ao Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3ª ed. São Paulo: Loyola. 2014. 3