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ALTHUSSER, Louis. Os aparelhos ideológicos de Estado. In: Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes. pág. 41-52.

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Teorias da Socialização – Profª Christiane M. Coelho
Caio Fábio Sampaio Porto – 15/0031688
RESENHA
Texto: ALTHUSSER, Louis. Os aparelhos ideológicos de Estado. In: Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes. pág. 41-52.
O texto aqui resenhado é parte do livro Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado, de Louis Althusser, onde o autor apresenta notas para uma investigação acerca da teoria marxista do Estado, a qual ele pretende aprimorar com o estabelecimento de métodos criteriosos de análise da realidade social. No capítulo que lemos, Althusser apresenta seu conceito de “aparelhos ideológicos de Estado” (AIE), em uma oposição complementar à idéia pouco clara, mais prática que teórica no marxismo, dos aparelhos de Estado (AE), subdividindo-o entre os já citados AIE e a concepção de “aparelho repressivo de Estado” (ARE).
Para além da clássica divisão entre “poder de Estado” e “aparelho de Estado”, portanto, o autor acredita ser essencial a subdivisão do segundo, na forma que apresentaremos a seguir. Essa subdivisão entre ARE e AIE se baseia numa série de diferenças fundamentais entre as duas formas, como já apresentado em notas de rodapé por Gramsci, que complexificam a visão da teoria marxista acerca do Estado: enquanto o primeiro é predominantemente exercido através da violência, da repressão materialmente coercitiva e se constitui de forma unificada na instituição pública do Estado burguês e seus desdobramentos, o segundo é predominantemente exercido através da ideologia, da difusão de idéias, crenças, formas em geral de interpretar a realidade compatíveis com o status quo, constituindo-se num grupo extremamente fragmentário de instituições de natureza provada de todo tipo, sendo assim muito mais dificilmente identificável, à primeira vista, por parte dos membros de dada sociedade.
Por sua pluralidade, normalmente é difícil identificar os AIE como tais, por uma suposta falta de coesão expressa no fato de serem aparelhos ideológicos as organizações religiosas, as famílias, escolas, sindicatos, imprensa, esportes e expressões culturais em geral, além dos partidos políticos e do sistema político do qual fazem parte. A unidade entre eles não é, segundo o autor, “imediatamente visível” (p.45). Questionado acerca do caráter provado dessas AIE, em contraste com os interesses públicos do Estado, o autor argumenta que a divisão entre público e privado faz sentido apenas e tão somente dentro da forma burguesa de compreender a realidade social, expressa no “direito burguês”. O direito, por isso, é tanto AIE quanto ARE, uma vez que todos os aparelhos possuem uma dimensão repressiva e ideológica, mas apenas aparelho jurídico ambas são fortemente presentes, de forma que não há uma predominância. Althusser chega a argumentar por isso que o Estado não é, então, nem público nem privado, mas sim o instrumento de poder da burguesia que legitima e permite que seja possível e que faça sentido na sociedade burguesa a própria concepção da divisão entre público e privado. Assim, a unidade da qual antes parecia carecer os AIE se encontra justamente naquilo que têm em comum: o objetivo da manutenção dessa falsa dicotomia, em outras palavras, a manutenção da ideologia dominante – a ideologia da classe dominante (p.48).
Nem tudo, porém, deve parecer perdido: o autor afirma enfaticamente que “nenhuma classe pode duravelmente deter o poder de Estado sem exercer simultaneamente a sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos de Estado” (p.49). De uma afirmação dessas é possível depreender uma conclusão semelhante à de Gramsci, mas que não havia sido elaborada de maneira sistemática como ora o fez Althusser: a ideia de que “os Aparelhos Ideológicos de Estado podem ser não só o alvo mas também o local da luta de classes”(ibid. grifos do autor.). Aqui, o autor deixa clara a possibilidade de que esses aparelhos sejam espaços dentro dos quais seja feita a disputa e se efetue a resistência contra a classe dominante. 
Claro que a luta de classes enquanto conceito e realidade material perpassa tanto AIE quanto AIE quanto todas as outras dimensões das relações materiais de produção e reprodução da sociedade, não se afirma aqui que a luta de classes esteja contida na disputa pelas AIE, mas que as contradições internas desta podem servir para estabelecer, no campo tradicionalmente dominado pelo inimigo, uma “posição de combate” (p.50).

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