Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Artrite reumatoide Catharina Moura- 3º Semestre • Caso clínico: • Conceito Doença autoimune inflamatória e sistêmica com evolução crônica e progressiva, muito mais prevalente em mulheres (3:1) em torno de 30 – 50 anos. É caracterizada por acometer preferencialmente a membrana sinovial articular podendo levar à destruição cartilaginosa e óssea de pequenas e grandes articulações. • Quadro clínico As manifestações clínicas da AR são reflexo do processo fisiopatológico, onde é evidente a forte relação entre a atividade da doença e a lesão tecidual. - Início insidioso - Fadiga, fraqueza, mal-estar -sintomas sistêmicos inespecíficos - Poliartrite crônica- pode acontecer em qualquer articulação do esqueleto periférico e costuma preservar o eixo da coluna sendo os mais comuns punhos e mãos nas articulações interfalangianas proximais e metacarpofalangianas. - Sinais inflamatórios evidentes - Grandes e pequenas articulações - Simétrica e aditiva, ou seja, as dores nas articulações vão se somando (não é migratório, ou seja, não melhora de um lado e depois surge no outro) - Geralmente poupa esqueleto axial, exceto cervical - Rigidez matinal > 1h - Pode cursar com febre e manifestações sistêmicas extra- articulares - Tende a ser uma artrite deformante e com incapacidade funcional, devido a inflamação crônica - Nódulos subcutâneos presentes– correspondem aos processos inflamatórios com fibrose • Epigenética envolvida Os fatores genéticos que estão relacionados com AR são as mutações no gene HLA, sendo o HLA-DR1 e HLA-DR4 as mais comumente encontrada. Quanto aos fatores ambientais merecem destaque: alterações nos hormônios sexuais, gravidez, periodontite, obesidade, tabagismo, agentes infecciosos e etilismo. • Dica: geralmente quando a doença é mais prevalente em mulheres há relação com os hormônios sexuais femininos. Indivíduos predispostos geneticamente e expostos à fatores ambientais desenvolvem a doença a partir de alterações imunológicas que levam à ativação de subpopulações de células T, B e macrófagos resultando na produção de citocinas e mediadores pró- inflamatórias. Tais componentes promovem uma resposta inflamatória aos antígenos citrulinados, que será amplificada no tecido articular e culminará com o dano ósseo e articular. QUEBRA DA TOLERÂNCIA!! MAS, O QUE SÃO Ag CITRULINADOS?! QUANDO ALGUMAS CÉLULAS DO NOSSO ORGANISMO, COMO O COLÁGENO TIPO II, VIMENTINA E IGs, SOFREM CONSTANTES PROCESSOS DE ESTRESSE AMBIENTAL (COMO POR RADIAÇÃO INTESA OU TABAGISMO) ELAS SOFREM MUTAÇÕES, QUE FAZEM COM QUE OS SEUS AMINÓACIDOS ARGININA SE CONVERTA EM CITRULINA, EM UM PROCESSO DENOMINADO DE CITRULINAÇÃO. PESSOAS COM PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA, RESPONDEM A ESSES CORPOS ALTERADOS (DEVIDO OS FATORES AMBIENTAIS), GERANDO RESPOSTAS INFLAMATÓRIAS CONTRAS ELES. É FATO QUE ESSAS CÉLULAS PODEM SE ENCONTRAR EM OUTROS LOCAIS DO ORGANISMO; CONTUDO A SUA PRESENÇA MAJORITARIAMENTE SE CONCENTRA NAS ARTICULAÇÕES, E JUSTAMENTE POR ISSO, QUE A ARTRITE REUMATÓIDE SERÁ CARACTERIZADA POR AFETAR ESSAS ESTRUTURAS. • Fisiopatologia A AR é influenciada por fatores genéticos, com destaque para as mutações dos antígenos leucocitários humanos- HLA, sendo que os alelos HLA-Dr1 ou DR4 estão presentes em cerca de 80% dos pacientes. Essas mutações indicam a expressão de epítopos na fenda da molécula que servem de pontos de ligação para os autoantígenos da AR, desencadeando assim a doença. Ou seja, quando a APC alterada (devido a mutação no seu gene HLA) reconhece e apresenta o Ag próprio ao ThO há uma quebra de tolerância, pois o Thvirgem que não deveria responder ao próprio é autoreativo, e por isso (somado ao HLA alterado) essa célula pode se polarizar para Th1 ou Th17. A resposta é deflagrada contra autoantígenos citrulinados, e os LT ativados estimulam as células B com concomitante produção de AutoAc anti-citrulina e mediadores inflamatórios no tecido articular (gerando o quadro de sinovite) com a participação de diversas células e mediadores, como: TNF-α, IL-1, IL6, IL-7, IL-15, IL- 17A, IL-17F, IL-18, IL-21, IL-23, IL-32, IL-33. A lesão tecidual na AR não é imunologicamente mediada diretamente pelas células T ativadas ou pelos autoanticorpos produzidos por células B. Desenvolve-se a partir do processo de remodelação do tecido sinovial em resposta aos estímulos inflamatórios, ou seja, uma imunopatologia. Esses estímulos inflamatórios fazem com que o tecido se torne proliferativo e com a estrutura alterada pela ação dos osteoclastos ativados que promovem a reabsorção óssea. Gradativamente, o tecido sinovial vai se tornando infiltrado e espesso e os fibroblastos são ativados produzindo localmente mediadores que dão sustentação ao processo inflamatório e produção de enzimas proteolíticas que promoverão a degradação da matriz extracelular. + Recapitulando: durante a resposta inflamatória teremos a ativação endotelial, de condrócitos, fibroblastos e osteoclastos, e a atividade mediada por essas células, em resposta aos estímulos inflamatórios (que se início porque essa pessoa apresenta uma doença autoimune) que gerarão a lesão tecidual da AR. ➢ Papel de cada uma célula: a) Linfócitos T Marcam o início do processo inflamatório na AR e a cronificação da inflamação a partir da ativação de monócitos e macrófagos para a produção de citocinas pró-inflamatórias. As subpopulações mais presentes são Th1, caracterizada pela síntese de IFN-g e TNF e Th17, caracterizada pela síntese de IL-17A, IL- 17F, IL-21, IL-22 e TNF. A IL-17a tem um papel de destaque no desenvolvimento da osteoclastogênese (formação de novos osteoclastos), na reabsorção óssea, ativação de fibroblastos, células endoteliais, queratinócitos e no recrutamento de neutrófilos a partir da produção de fator estimulados de colônias de granulócitos. ✓ Relembrando: Osteclastos -> células do tecido ósseo que participam de absorção e remodelação do tecido ósseo. Fibroblastos -> célula do tecido conjuntivo com a função de produzir proteína amorfa. Queratinócitos -> células do tecido epitelial responsáveis pela síntese de queratina. As citocinas IL-1B; IL-6; IL-23; TGF-B são responsáveis por favorecer a polarização dos linfócitos T virgens no perfil Th17 e na supressão para a diferenciação em células Treg, favorecendo assim com o processo fisiopatogênico da AR. Quanto as citocinas secretadas pelos linfócitos Th1 vemos uma relação muito forte com a intensificação da resposta inflamatória, ativação de macrófagos e ativação dos LB. b) Linfócitos B Essas células atuam tanto (como APC) na apresentação dos autoAg para linfócitos T específicos como na produção de autoAc. Os autoAc formam imunocomplexos circulantes que se depositam em diverso tecidos ativando a via clássica do sistema complemento e favorecendo a lesão tecidual. c) Macrófagos O sistema imune inato encontra-se cronicamente ativado na AR, evidenciado pela expressão continua de citocinas derivadas de macrófagos de CD, como TNF-a, IL-1 e IL-6. De maneira geral, os macrófagos apresentam perfil M1, ou seja, pró-inflamatório que promove a síntese de metalopreinase, colagenase e estromelisina pelas células da membrana sinovial, gerando uma inflamação local com lesão tecidual da cartilagem e destruição óssea. ✓ Aplicação clínica: terapias que induzem a formação de um perfil M2 poderão ser úteis no melhor controle da AR. Além disso, fibroblastos são ativados e induzidos a produzir diversas citocinas (IL-1B, TNF, IL-17) que promovem além de quimiotaxia e aumento da inflamação hiperplasia e destruição articular. >> A avaliação histológica da membrana sinovialna AR demonstra expressiva infiltração de células da linhagem mieloide e linfóide, hiperplasia de fibroblastos e formação de pequenos vasos sanguíneos (angiogênese) que induzem a formação uma camada de tecido fibrovascular anormal (pannus) que altera a estrutura e a funcionalidade das articulações sinoviais (FIRESTEIN, 2003; PABLOS; CANETE, 2013). Além de macrófagos, linfócitos T e B, o ambiente articular é infiltrado por demais células com perfil inflamatório como células dendríticas, células Natural Killere mastócitos (Hitchon; El-Gabalawy, 2011) << ✓ Esclarecendo conceitos: Sinovite -> corresponde a inflamação da membrana sinovial, uma fina camada de tecido conjuntivo que reveste estruturas como tendões musculares e bolsas sinoviais. Essa membrana produz e absorve o líquido sinovial e quando está inflamada, o equilíbrio entre a produção e a absorção se altera e a articulação se enche de líquido sinovial. Por outro lado, a artrite corresponde a uma doença inflamatória crônica, que tem como um dos sintomas a sinovite, em que há a presença de destruição da cartilagem e óssea de pequenas e grandes articulações. + Recapitulando os processos que ocorrem na fisiopatologia da AR: • Reação ao Ag citrolinado próprio • Resposta inflamatória com perfil Th1/ Th17; presença de infiltrado formando por macrófagos, neutrófilos e linfócitos T e B. • Citocinas inflamatórias finais: TNFa; IL- 1; IL-6 e IL-17. • Produção de autoAc -> ativação do sistema complemento. • Células sinoviais e condrócitos ativado– formando metaloproteinases • Hiperplasia de fibroblastos – gerando a produção de colágeno • Angiogênese • Erosão osteoclástica sinovial • Formação do pannus (camada de tecido fibrovascular anormal que altera a estrutura e a funcionalidade das articulações) • Invasão e destruição óssea • Diagnóstico Presença de pelo menos quatro dos sete seguintes critérios: ➢ Critérios clínicos presentes por pelo menos 6 meses consecutivos I. Rigidez matinal por pelo menos 1h II. Artrite de três ou mais áreas III. Atrites simétricas IV. Artrites de articulações das mãos V. Nódulos reumatoides ➢ Critérios laboratoriais I. Fator reumatoide (FR) sérico Embora as lesões sejam predominantes celulares, os Ac também participam, logo a presença deles pode ser utilizada como diagnostico. FR é utilizado como traigem (é mais inespecifico) e corresponde a um grupo de anticorpos contra a porcao Fc da IgG inespecíficas. ❖ Como funciona o teste: O soro em análise é olocado em contato com um reagente que contém partículas de látex revestidas com IgG. O FR, se presente, provoca aglutinação visível a olho nu nas partículas do látex. Esse teste permite uma avaliação qualitativa (referente a presença ou não do processo de coagulação) e quantitativa, que será realizada caso o teste qualitativo seja positivo. Nesse segundo momento buscamos analisar com quanto de soro aquele IgG reage, quanto mais o soro tiver diluído menor a probabilidade de reagir (pois tenho menos Ac na solução), logo, se esse IgG apresentar reação em uma solução de 1:32 isso significa que a pessoa apresenta uma reação ao Ag muito forte. ➔ 1:64 é o maior nível possível de aglutinação (a pessoa está mais encrencada), porque mostra que mesmo com a solução diluída ele ainda reage; então 1:2 é uma menor reação, fraco positivo. • Outros Ac que podem estar presentes, mas que não são obrigatórios para o diagnostico são: anti-filagrina, anti- profilagrina (anticorpos contra antígenos epiteliais da mucosa) e anti- CCP. ➢ Critério de imagem I. Erosão ou descalcificação localizadas em radiografias de mãos e punhos. • Tratamento O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são fundamentais para o controle da atividade da doença e para prevenir incapacidade funcional e lesão articular irreversível. ➢ Controle de sintomas • AINES -> utilizados nos casos mais leves • CO oral ou infiltrado -> em quadros mais agudos que não devem ser utilizados durante muito tempo ou em quadros reincididos • Opioide -> utilizados associados aos CO ➢ Drogas modificadoras da doença Utilizadas precocemente para prevenir a erosão, deformações e complicações e que apresentam efeitos imunossupressores. • Metotrexato -> principal droga, fármaco padrão. É um antimetabolico que bloqueia a di-hilidro fosfato redutase, havendo assim um bloqueio da síntese do ácido fólico e DNA consequentemente, logo toda a célula que está em processo de mitose constante irá sofrer apoptose, gerando a morte das células imunes como macrófagos com elevado poder mitótico mas também gera um efeito sobre as células normais com efeito proliferativo alto. • Hidroxicloroquina – mecanimo menos conhecido. Acredita-se que haja sobre interferência na produção de algumas ILs e é uma molécula alta penetração, alterando o pH dos lisossomos levando a inibição da atividade fagocítica para os macrófagos. • Sulfassalazina • Leflunomida – menos poder apoptótico ➢ Agentes biológicos- anticorpos monoclonais: - Anti-TNF: adalimumabe, etanercepte e infliximabe; Anti-IL-1: Anakinra ANTI-IL6: Tocilizumab Anti CD20 (Depletores de linfócito B): rituximabe; Anti-CTLA4: Abatacept (impede ativação CD28)
Compartilhar