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1 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC ESPECIALIDADE CLÍNICAS I JULIANA OLIVEIRA HEMATOLOGIA NEUTROPENIA FEBRIL O QUE É NEUTROPENIA? É quando se tem <1500 neutrófilos. Deve-se olhar os números absolutos e os valores relativos, p.ex. normalmente o hemograma define a quantidade de leucócitos, assim, convencionou-se com base em populações caucasianas que o valor normal de leucócitos é de 4.400 a 11.000 cels/microL, no entanto, na Bahia, como se tem uma população mista, são considerados normais cerca de 3.500 até 10.000 cels/microL leucócitos No adulto, a principal célula de defesa que aparece no hemograma são os neutrófilos (40 a 70%), logo, sempre deve-se observar esses valores e possíveis alterações nessas porcentagens. Podem ser chamados de segmentados ou polimorfonucleares. Deve-se sempre olhar o valor absoluto, pois é ele quem define se há neutropenia ou não!!!! CONTAGEM ABSOLUTA DE NEUTRÓFILOS: Neutropenia corresponde a ANC = WBC (Cells/microL) x percent (PMNs + bands) / 100. A neutropenia corresponde à soma de polimorfonucleares ou segmentados + bastonestes. Logo, cuidado para não negligenciar os bastonetes caso eles apareçam no hemograma. ➔ Classificação: Em relação à intensidade: ▪ Leve ANC > 1000 e < 1500 cel/microL. ▪ Moderada ANC > 500 e < 1000 cel/microL. ▪ Grave ANC < 500 cells/microL. ▪ Muito grave ANC <200 cells/microL. Na clínica, ao se deparar com um paciente que possua menos que 500 neutrófilos, deve-se pensar que esse paciente praticamente não tem imunidade celular, sendo assim, o risco de sepse é altíssimo. Logo, quando se tem um paciente com menos de 200 neutrófilos, ele praticamente não tem defesa. Em relação à duração: ▪ Crônica: > 3 meses ▪ Constitucional: Faz parte do indivíduo desde a infância. ▪ Isolada: Não existe mais nada além da neutropenia. ▪ Granulocitopenia: Todos granulócitos abaixo do normal (eosinófilos, neutrófilos e basófilos). Essa classificação é importante para raciocinar em relação à urgência de abordagem clínica. ➔ Como surge a neutropenia? Toda vez que se estiver diante de um paciente com neutropenia deve-se: 1. Eu tenho alguma urgência nessa abordagem? 2. Qual a causa dessa neutropenia? Tem-se três principais mecanismos de surgimento da neutropenia, sendo eles: - Redução da produção na medula óssea ou diferenciação de neutrófilos na medula óssea. - Redistribuição, de modo que as células foram produzidas normalmente, se diferenciou e chegou ao estágio de neutrófilo, mas por algum motivo ou infecção elas foram consumidas no endotélio ou por alguma esplenomegalia foi retida no baço → pensa -se em sepse ou esplenomegalia. - Destruição imune → pensar nas induções por uso de drogas ou infecções. ➔ Quais as causas de neutropenia? Causas congênitas: São as causas mais raras. ▪ Neutropenia étnica congênita: Comum na Bahia devido à miscigenação da população. ▪ Neutropenia familiar ** Nesses subtipos a cima não se tem síndromes. ** ▪ Neutropenia congênita Já nesse caso tem-se outros achados sindrômicos além da neutropenia, como: - Síndrome de Shwachman-Diamond: Na qual se tem insuficiência pancreática exocrina, tendência à citopenia na medula óssea e malformação ósseas. - Neutropenia Cíclica: A neutropenia se instala a cada 3 semanas, isso devido à uma deficiência em uma enzima na medula óssea em que se tem a produção de neutrófilos, no entanto, eles possuem uma meia vida mais curta. Se manifesta nas crianças com uma neutropenia que aparece a cada três semanas e depois se recupera e durante o quadro de neutropenia a criança tende a apresentar febre e ulcerações orais que ao recuperar os neutrófilos melhoram. Se essas crianças não morrerem por alguma infecção e chegarem a fase adulta tendem a desenvolver um quadro mais brando de sinusite e cefaleia. - Síndrome de Chediak-Higashi Bebês albinos com o cabelo cacheado e que começam a apresentar muitas infecções de repetição. No sangue periférico dessas crianças é repleto de partículas e não 2 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC ESPECIALIDADE CLÍNICAS I JULIANA OLIVEIRA HEMATOLOGIA funcionam direito, por isso tendem à essas infecções de repetição. Causas adquiridas: ▪ Infecção é a principal causa p.ex. no mecanismo de redistribuição. ▪ HIV ▪ EBV ▪ Bacteriana ▪ Hepatite: Evidenciando a hepatite aguda, todas são causas de neutropenia por consumo. ▪ Uso de medicamentos: Difícil descobrir devido à uma relação temporal não muito clara. Logo, deve-se perguntar se iniciou o uso de um novo medicamento ou aumentou a dose. ▪ Citotóxicos ou imunossupressores (plaquetopenia ou anemia) p.ex. em casos de quimioterapia. ▪ ITKs (inibidores de tirosina kinase). ▪ Idiossincrásicos: Clozapina e AINES, o paciente pode desenvolver neutropenia muito tempo após à exposição ao medicamento. ▪ Nutricional: Deficiência de B12 e folato, causando pancitopenia (neutropenia + leucopenia + anemia), mas também pode apresentar uma neutropenia isolada. ▪ Malignidades hematológicas: Se o paciente não tem nada, não tem traço sindrômico, hemogramas normais, nega uso de medicação nova e apresenta neutropenia, deve-se investigar malignidades. As mais comuns para causarem neutropenia isolada são: - Leucemia large granular - Tricoleucemia - SMD (síndrome mielo displásica). ▪ Reumatológicas: - Artrite reumatoide. - Lúpus. Atenção! Na infecção basicamente se tem os três mecanismos de formação da neutropenia de modo que as células tronco hematopoiéticas são sobrecarregadas durante o processo infeccioso, deixando de produzir neutrófilos adequadamente ou são produzidos e se aderem às células endoteliais devido ao processo infeccioso em curso e ali mesmo é consumido, ou então durante o processo infeccioso são induzidos autoanticorpos que atacam os neutrófilos. ➔ Como avaliar o neutropenia inicialmente? ▪ História (históricos de infecção na infância? Histórico de investigação com o hematologista?) + exame físico (procurar sinais de infecção e sinais sindrômicos). ▪ Diferencial ao hemograma: Deve-se olhar como está o leucograma, analisando se há uma descrição para células blásticas ou atípicas. ▪ Revisão de esfregaço sanguíneo: Analisar se há alguma célula anormal encontrada. ▪ É importante definir se há urgência médica baseado no nível dos neutrófilos, questões hemodinâmicas e descrição de blastos em sangue periférico. - Neutropenia grave + instabilidade hemodinâmica como p.ex. hipotensão, alteração do nível de consciência, insuficiência respiratória e elevação em lactato sérico, tem-se uma urgência médica →cabe internamento imediato e instituição de atb na primeira hora do atendimento. - Neutropenia grave + descrição de blastos em sangue periférico é um indicativo de leucemia aguda → cabe internamento imediato. Atenção!! Se não houver neutropenia com sinais de neutropenia grave, instabilidade hemodinâmica e não tem sinais de que o paciente tem alguma doença hematológica, pode-se seguir ambulatorialmente, principalmente se o paciente apresentar neutrófilos acima de 500 e se o paciente já apresenta neutropenia crônica. Deve-se repetir o hemograma completo nesses casos. Normalmente diante de uma neutropenia deve-se repetir o hemograma, pois, o paciente pode ter estado diante de um quadro infeccioso viral, teve a neutropenia e dentro de 2 semanas recupera. ➔ Como avaliar um esfregaço sanguíneo? Supõe-se que um paciente chega com um hemograma que acusa neutropenia e o técnico do laboratório traz: ▪ Granulações tóxicas: Correspondem à um neutrófilo que está reagindo a algum processo infeccioso. ▪ Bilobados ou displásicos: Esse paciente deve ter uma síndrome mielodisplásica e deve ser encaminhado ao hematologista. ▪ Hipersegmentado: Deficiência de B12, ou seja, não é normal. ▪ Bastonestes de Auer: É o diagnóstico de leucemia mieloide aguda e cabe internamento. ➔ O que fazer diante de um quadro de neutropenia febril? ▪ Manter o paciente vivo. ▪ Menor exposição a agentes antimicrobianos, ou seja, não se deve expor o paciente à vários atb de amplo espectro, pois, pode-se selecionar uma bactéria multirresistente, sendo assim, deve-se saber manejar o Células tronco hematopoiéticas Anticorpos Adesão à cel. endoteliais Consumo em sítio 3 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC ESPECIALIDADE CLÍNICAS I JULIANA OLIVEIRA HEMATOLOGIA paciente com o atb que ele precisa e não com o que se acha que ele precisa. ▪ Os sítios mais comuns são pele, trato respiratório e TGI. ▪ Febre no neutropênico é considerata tax> 38 ºC ▪ Exame físico ▪ Culturas: Sangue e urina a cada 48hrs. ▪ O neutropênico febril deve receber atb em 1 hora do evento. ▪ Se infecção sem febre deve-se manter o atb baseado nas culturas. ▪ O tratamento antibiótico empírico deve-se cobrir gram negativo, especificamente pseudomonas p.ex. cefepime ou tazocin (cefalosporina de 3ª ou 4ª geração como 1ª atb). GRAM negativo é a principal bactéria que causa sepse em pacientes neutropênicos. Deve-se pensar em GRAM positivos quando se está diante de pacientes que tem infecção de pele ou cateteres com sinais de inflamação. Quando mudar o esquema empírico de atb? O paciente neutropênico febril fez febre, iniciou-se o atb e ele continuou com febre, quando se pensa em mudar o atb? Se eu tenho pacientes com febre até 5 dias após a introdução pode ser parte da mesma bactéria. ▪ Desfeverscência da febre: - Em 3 dias: Iniciou atb e em 3 dias o paciente parou de fazer febre e não foi definido um foco pode-se suspender esse esquema antibiótico. (72h de atb + hemocultura identificada pode suspender tranquilamente). - Em 4 dias: Iniciou atb e em 4 dias o paciente parou de fazer febre e o foco foi identificado pode-se tratar por no min 4 dias e o máximo depende do foco. ▪ Colher hemoculturas a cada 48h se o paciente mantiver a febre. ▪ Dosagem de proteína C reativa (PCR) visto que é um reagente positivo de fase aguda de inflamação, as vezes aparece antes mesmo do surgimento da febre. ▪ Galactomana: É um glicopeptídeo da parede de fungos filamentosos, assim, se há dúvida, deve-se solicitar. 2 a 3 vezes por semana, quando positivo sugere infecção por aspergillus. ▪ Lactato: É um sinal de que se tem má perfusão dos tecidos. É um indicador de prognóstico, acusando que o paciente precisa ir para a UTI. Se o paciente iniciou o tratamento com um antibiótico e ele chocou em cerca de 72h deve-se escalonar (sair de um atb de menor espectro para um atb de maior espectro) o antibiótico, logo, a piora clínica deve ter como conduta a mudança do antibiótico. Se o paciente tem culturas negativas, pode-se fazer o descalonamento (sair de um atb de espectro maior para espectro menor p.ex. sair de um meropeem → cefepime) após 48h. Quando suspender o esquema empírico? ▪ Pelo menos três dias de uso (72h) e culturas negativas. ▪ Sinais vitais normais. ▪ Se algum sítio de infecção foi detectado e tratado adequadamente ou então após iniciar o atb o paciente tem culturas negativas e recuperou os neutrófilos, assim, se 48h depois de recuperar os neutrófilos as culturas derem negativas o paciente já voltou com a sua imunidade e o atb pode ser suspenso. ▪ Se a recuperação da neutropenia se dá sem que haja um foco definido o atb pode ser suspenso, se tiver um foco definido a duração do atb depende do sítio de infecção. Definir duração e gravidade: ▪ Sempre tratar os sítios de infecção independente de febre. ▪ Sempre iniciar atb na 1ª hora quando houver neutropenia febril em que os neutrófilos estejam < 500. Imprescindível! ▪ Definir se o paciente é uma urgência médica. ▪ Se sim, deve-se administrar o atb e solicitar as culturas como dosagem de PCR, lactato e já dirigir uma conduta diante daquele paciente ainda que não se tenha logo o resultado dos exames.
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