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2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 BREVE HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA ............................ 4 2.1 Aspectos evolutivos do cérebro humano .............................................. 9 2.2 A mente humana ................................................................................ 15 3 DEMÊNCIA ............................................................................................... 22 3.1 Classificação ...................................................................................... 24 3.2 Etiologia .............................................................................................. 25 4 DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL (FTD) ................................................. 26 4.1 Aspectos clínicos ................................................................................ 30 4.2 Variante comportamental da demência Frontotemporal ..................... 31 4.3 Afasia progressiva primária ................................................................ 35 4.4 Demência Semântica ......................................................................... 36 4.5 Afasia progressiva não fluente ........................................................... 37 5 DOENÇA DE ALZHEIMER ....................................................................... 38 5.1 Vias inflamatórias no cérebro na doença de Alzheimer ..................... 46 5.2 DOENÇA DE PARKINSON ................................................................ 49 5.3 Fisiopatologia da doença de Parkinson / área comprometida ............ 49 5.4 Sinais e Sintomas ............................................................................... 52 5.5 Tratamentos para Doença de Parkinson ............................................ 54 5.6 Trifosfato de Adenosina (ATP) ........................................................... 56 5.7 Modulação da neurotransmissão dopaminérgica pelo ATP ............... 58 5.8 2 Receptores P2X7 ............................................................................ 59 6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 64 4 2 BREVE HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA Fonte: cicloceap.com.br A Neurociência Cognitiva, segundo Tabacow (2007; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014), é um campo da ciência que estuda a aquisição de conhecimento e o comportamento em sua origem. É considerada uma linha de estudo relativamente nova. Especificamente, segundo Kandel (neurobiólogo, psiquiatra) e colaboradores, citado por Tabacow (2007, p. 14; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014): “um misto de neurofisiologia, anatomia, biologia desenvolvimentista, biologia celular e molecular, psicologia cognitiva e ciência computacional”. Segundo Kandel et al. (1997; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014) pesquisas experimentais tentam relacionar mecanismos moleculares à cognição, sendo que “cognição” pode ser definida como “Função da inteligência ao adquirir um conhecimento. ” (PRIBERAM, s/p)9 Para Kandel et al., “[…] a fusão da Biologia com a Psicologia Cognitiva é mais do que uso comum de métodos e de conceitos” (1997, p. 552; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014). A neurociência moderna está construída sobre o forte fundamento de descobertas individuais, e cada uma dessas descobertas desempenhou sua função ao revelar os mistérios do cérebro e como este promove nossos pensamentos e comportamento. A visão acerca do funcionamento do cérebro mudou nos últimos 100 anos e continua a mudar, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). No século XIX, entre 1810 e 1819, Franz Joseph Gall, frenologista, acreditava que as saliências na superfície do crânio refletiam circunvoluções na superfície do cérebro e propôs que a propensão a certos traços de personalidade, como a 5 generosidade, a timidez e a destrutividade podiam estar relacionadas às dimensões da cabeça, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). Assim, funções básicas cognitivas como a linguagem e a percepção, esperança e autoestima, eram concebidas como sendo mantidas por regiões específicas do cérebro. Para sustentar sua alegação, Gall e seus seguidores coletaram e mediram cuidadosamente o crânio de centenas de pessoas representando uma variedade de tipos de personalidades, desde os mais privilegiados até os criminosos e loucos. Esta nova “ciência” de correlacionar a estrutura da cabeça com traços da personalidade foi denominada de frenologia. (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002; apud JÚNIOR C; et al., 2017). A partir de 1960 que a Neurociência Cognitiva ampliou sua abordagem integrando cinco áreas: a eletro-fisiologia (estuda o comportamento do neurônio face a um estímulo), reconhecimento de grupos celulares (neurônios, relacionados especificamente aos processos cognitivos superiores como a atenção e a tomada de decisão), neurociência e sistemas de psicologia cognitiva (a cognição é constituída por vários sistemas cognitivos); técnicas de imagem radiológica (neuroimagem: mostram a relação de neurônios com atos mentais específicos), ciência computacional e psicofísica (relação entre atributos físicos de um estímulo e a percepção) (TABACOW, 2007; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014). Gall propôs ainda, que o centro para cada função mental aumentaria de tamanho como resultado do uso, de forma idêntica ao aumento do tamanho de um músculo pelo exercício esse aumento do tamanho de uma região cerebral causaria uma distorção no crânio. Assim Gall, há 200 anos, foi o pioneiro da noção de que diferentes funções mentais são realmente localizadas em diferentes partes do cérebro – localizacionismo cerebral, porém ele estava enganado em como isso é conseguido pelo cérebro. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997; apud JÚNIOR C; et al., 2017). Mais tarde a frenologia foi rejeitada e descartada pela comunidade científica como uma forma de charlatanismo e pseudociência, tendo, portanto, uma importância histórica, sendo suplantada pelos campos em desenvolvimento da psicologia e da neurociência. Podemos, por assim dizer que os frenólogos desempenharam um papel relevante, ainda que equivocado, nos primeiros avanços da neurociência moderna. Hoje, sabemos que existe uma nítida divisão de trabalho no encéfalo, com diferentes partes realizando funções bem distintas, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). 6 O cientista creditado por influenciar a comunidade científica a estabelecer a localização das funções cerebrais foi o neurologista francês Paul Broca, em 1861. Broca descreveu o caso de um paciente que era capaz de entender o que se dizia a ele, mas incapaz de falar, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). Esse paciente não apresentava qualquer problema motor convencional em sua língua, boca ou cordas vocais passíveisde interferir com sua fala. Era capaz de enunciar palavras isoladas e de cantar uma melodia sem dificuldade, mas não conseguia falar gramaticalmente ou em frases completas, nem conseguia expressar seus pensamentos por escrito. O exame do cérebro desse paciente, após sua morte, revelou uma lesão na região posterior do lobo frontal esquerdo – região que, hoje, é chamada de área de Broca e baseado em estudos em oito pacientes com quadros semelhantes, concluiu que esta região do cérebro humano era especificamente responsável pelo controle da expressão motora da fala. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997; apud JÚNIOR C; et al., 2017). As funções cognitivas altamente complexas estão localizadas em regiões específicas do cérebro, mas não significa que apenas uma região seja responsável, exclusivamente, por determinada função. Significa que certas regiões cerebrais estão mais envolvidas com um tipo de função que outras. Os três principais córtices de associação são o pré-frontal, parietal temporal- occipital e áreas de associação límbica (KANDEL et al., 1997; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014). O trabalho de Paul Broca estimulou a busca dos locais corticais de outras funções comportamentais específicas. Em 1870, na Alemanha, o fisiologista Gustav Fritsch e o psiquiatra Eduard Hitzig eletrizaram a comunidade científica com sua descoberta de que a estimulação elétrica de determinadas regiões do cérebro do cão produzia movimentos característicos dos membros. Essa descoberta levou os neuroanatomistas a uma análise mais detalhada do córtex cerebral e sua organização celular, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). Assim, no ser humano, a mão direita, usada comumente para a escrita e para os movimentos que exijam habilidades, é controlada pelo mesmo hemisfério esquerdo que controla a fala e na maioria das pessoas, o hemisfério esquerdo é considerado como dominante (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997; apud JÚNIOR C; et al., 2017), responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa, enquanto o hemisfério direito é responsável pelo pensamento simbólico e criatividade. Nos canhotos as funções estão invertidas. O hemisfério esquerdo diz-se dominante, pois 7 nele localiza-se a área de Broca, a área responsável pela motricidade da fala e a área de Wernicke, o córtex responsável pela compreensão verbal. Carl Wernicke, em 1876, propôs uma teoria para a linguagem a partir do estudo de um caso de uma vítima de acidente vascular cerebral. Nesse trabalho Wernicke descreveu um novo tipo de afasia, relacionado ao distúrbio da compreensão e não da execução. Enquanto os pacientes de Broca podiam entender, mas não conseguiam falar, o paciente de Wernicke podia falar, mas não compreendia a fala, já que o que o paciente dizia não fazia sentido nem para ele mesmo, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). Segundo Wernicke as funções mentais não estariam localizadas em regiões cerebrais específicas, mas, sim, que cada função estaria difusamente representada por todo o córtex. Baseado em seus achados e nos resultados de Broca e de Fritsch e Hitzig, Wernicke propôs que apenas as funções mentais mais básicas, as relacionadas com as atividades perceptivas e motoras simples, estariam localizadas em áreas corticais únicas, e que as funções intelectuais mais complexas resultariam das interconexões entre várias regiões funcionais, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). Ao colocar o princípio da localização das funções dentro do arcabouço conexivo, Wernicke admitia que os diversos componentes de um mesmo comportamento seriam processados em regiões cerebrais distintas. Wernicke formulou, assim, a primeira evidência para a ideia de processamento distribuído, que é atualmente, a ideia central para nossa compreensão do funcionamento cerebral. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997; apud JÚNIOR C; et al., 2017). Assim como a linguagem apresenta evidências anatômicas convincentes, segundo as descobertas de Michael Posner e Marcus Raichle, em 1988, as características afetivas e traços de personalidade são também anatomicamente definidos. Embora a localização do afeto (emoções) ainda não esteja mapeada de maneira precisa, as funções motoras, sensórias e cognitivas, foi demonstrada de maneira contundente. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003; apud JÚNIOR C; et al., 2017). No entanto, a grande revolução na compreensão sobre o sistema nervoso ocorreu no final do século XIX quando Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal fizeram descrições detalhadas das células nervosas. Golgi desenvolveu uma maneira de corar os neurônios com sais de prata, visualizando no microscópio sua estrutura: um corpo Felip Destacar 8 celular e ramificações dendríticas de um lado e um axônio em forma de cabo do outro. Cajal conseguiu corar os neurônios separadamente, usando as técnicas de Golgi. Ele foi o primeiro a identificar não somente a natureza unitária do neurônio, mas também a transmissão de informação elétrica em uma única direção, dos dendritos para a extremidade do axônio. (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006; apud JÚNIOR C; et al., 2017). No início do século XX, surgiu na Alemanha, uma nova escola de localização cortical, liderada pelo anatomista Korbinian Brodmann. Essa escola buscou diferenciar as diversas áreas funcionais do córtex cerebral com base nas diferenciações das estruturas celulares e na organização característica dessas células em camadas. Usando esse método citoarquitetônico, Brodmann distinguiu 52 áreas, funcionalmente distintas, no córtex cerebral humano (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997; apud JÚNIOR C; et al., 2017). Foi subsequentemente descoberto que muitas, porém não todas das áreas identificadas por Brodmann correspondem a áreas funcionalmente distintas e encontramos referência a áreas como BA17, que significa Área 17 de Brodmann (EYSENCK; KEANE, 2007; apud JÚNIOR C; et al., 2017). Assim, no começo do século XX, já existiam evidências convincentes, funcional e anatômica, para a existência de muitas áreas distintas no córtex, e para algumas delas podia ser atribuída participação específica em determinados comportamentos. No final de 1930, Edgar Adrian, na Inglaterra e Wade Marshall e Philip Bard, nos Estados Unidos, comprovaram que estímulos aplicados sobre a superfície corporal (no caso de um gato) geravam atividades elétricas em áreas específicas do córtex cerebral descritas por Brodman, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). No final de 1950, Wilder Penfield usou pequenos eletrodos para estimular o córtex cerebral de pacientes que, em neurocirurgias, estavam despertos e assim, conseguiu confirmar as áreas descritas por Broca e Wernicke. Mais recentemente, George Ojemann descobriu outras áreas essenciais para a linguagem, indicando que as redes neurais para a linguagem são maiores do que aquelas delimitadas por Broca e Wernicke. (TABACOW, 2006; apud JÚNIOR C; et al., 2017). Assim, a neurociência continua a revelar a surpreendente complexidade e a especialização do córtex cerebral. A partir de 1990, ocorreu um grande avanço nos estudos sobre o cérebro, através do desenvolvimento tecnológico e uso de técnicas 9 como a IRMf – Imagem por Ressonância Magnética Funcional e a Tomografia por Emissão de Pósitrons, conforme JÚNIOR C; et al., (2017). Os avanços tecnológicos permitem várias maneiras de obter informações detalhadas sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro, como por exemplo, nos ajuda a ver quais regiões do cérebro ficam relativamente mais ativas quando um pensamento, emoção ou comportamento correspondente acontece. Hoje, é possível estabelecer onde e quando ocorrem no cérebro os processos cognitivos específicos. Essa informação pode permitir determinar a ordem em que diferentes partes do cérebro tornam-se ativas quando alguém está realizando uma tarefa, além de permitir também se duas tarefas envolvem as mesmas partes do cérebro da mesma maneiraou se há diferenças consideráveis. (EYSENCK; KEANE, 2007; apud JÚNIOR C; et al., 2017). A Neurociência Cognitiva ou Neurocognição prioriza estudos sobre pacientes com lesões cerebrais e com imagens que representam a atividade cerebral, indicando regiões com maior fluxo sanguíneo enquanto pessoas leem, falam ou praticam outras atividades. Alguns fatores são muito evidenciados como as percepções e a memória, e afirmam a distinção entre “mente e cérebro”. Considera o avanço da Computação um marco para os estudos mais recentes e com melhores resultados, enquanto a área da Inteligência Artificial (subárea da Computação) busca assemelhar o funcionamento dos computadores aos dos seres humanos, valendo-se dos estudos da Neurociência e Psicologia Cognitiva. Assim, importa saber: “o aprendizado pode causar alterações estruturais no cérebro. ” Experimentos com animais têm confirmado esta proposição, ou seja, o aprendizado produz alterações funcionais e estruturais em células neurais específicas. Nos humanos cada componente funcional é representado por centenas de milhares de células nervosas. O aprendizado, provavelmente, causa alteração de muitas células nervosas e possivelmente no padrão de interconexão dos diversos sistemas sensoriais e motores participantes de determinada tarefa aprendida (KANDEL et al., 1997; apud HINTERHOLZ L; et al., 2014). 2.1 Aspectos evolutivos do cérebro humano Compreender os aspectos evolutivos do cérebro permite entender esta estrutura. Estes aspectos podem ser analisados sob diferentes pontos de vista e com diversas finalidades. Aqui se procurou evidenciar aspectos relevantes aos objetivos da pesquisa, conforme OLIVEIRA G; (2011). Evidências científicas apontam o período do Pleistoceno como o começo da evolução do homem em sua forma atual. O cérebro percorreu um longo caminho até chegar à sua forma atual no ser humano. Esta história começou na África, cerca de quatro milhões de anos atrás. Após a glaciação, no período Paleolítico, os humanos Felip Destacar 10 modernos migraram e se espalharam pelo mundo, que em muito se parecia com o mundo atual em diversos aspectos, conforme OLIVEIRA G; (2011). O processo de surgimento da espécie humana não traça uma linha reta a partir dos hominídeos. Até chegar ao Homo Sapiens Sapiens algumas espécies foram extintas e outras surgiram. Os hominídeos já se diferenciavam de outros primatas por sua postura bípede e seu cérebro maior. Para chegar ao Homo Sapiens foi necessária a aquisição de outras características morfológicas, funcionais e psíquicas, conforme OLIVEIRA G; (2011). Durante este processo evolutivo, os hominídeos tornaram-se mais hábeis e capazes de se adaptar a ambientes e de migrar. Passaram a produzir objetos para uso em suas atividades diárias e tornaram-se muito criativos. O gênero Homo sapiens se distingue dos outros hominídeos e a antropologia física o reconhece como seu objeto de estudo. A evolução do cérebro humano sempre atraiu a atenção dos pesquisadores, parecendo óbvio que se atribua à sua inteligência o sucesso evolutivo da espécie humana, conforme OLIVEIRA G; (2011). O surgimento do sistema nervoso primitivo representou um salto gigantesco no processo evolutivo ao separar o reino vegetal do reino animal. O sistema nervoso surge no reino animal como um sistema apto a reagir ao meio ambiente e elaborar uma resposta. Nos primeiros e mais primitivos seres vivos, a resposta elaborada é simples como se retrair. No outro lado da ponta da evolução está o complexo cérebro humano com respostas altamente elaboradas, conforme OLIVEIRA G; (2011). A grande tarefa do sistema nervoso é a de identificar ambientes hostis e preparar o indivíduo para fugir ou enfrentar a situação do melhor modo possível. Também deve identificar condições favoráveis para a sobrevivência e desenvolver comportamentos que aproximem o indivíduo desses ambientes. Rocha (1999; apud OLIVEIRA G; 2011) lembra dos mecanismos de dor e prazer desenvolvidos em áreas cerebrais para processar reações básicas de defesa e aproximação. “Afinal, hoje muitos acreditam que nós somos o nosso cérebro, que o eu e o cérebro são uma única coisa. Mas vamos nos perguntar, porque ele existe? ”. (ROCHA, 1999, p.11; apud OLIVEIRA G; 2011). De acordo com OLIVEIRA G; (2011), o surgimento do cérebro representou uma centralização das respostas do sistema nervoso. A evolução garantiu uma crescente capacidade adaptativa não somente dos descendentes, mas do próprio indivíduo em questão. Darwin (2003; apud OLIVEIRA G; 2011) propôs, no final do século XIX, uma 11 teoria, um paradigma central para explicar fenômenos da biologia. São ideias sobre a evolução e a seleção natural das espécies. Em sua teoria, ele fez a suposição de condições como: Capacidade de reproduzir cópias de si mesmos capazes de se reproduzirem; Cópias que herdem as características originais; Existir a ocorrência de cópias imperfeitas, como diversidade, no interior da população; O ambiente seleciona os indivíduos. A seleção natural não cria, mas destrói e origina os indivíduos mais aptos, conforme OLIVEIRA G; (2011). Toda vez que um indivíduo de uma espécie passa por modificações, a natureza inicia a seleção. As modificações que favorecem a melhor adaptação do novo indivíduo são preservadas e serão repetidas nos outros seres gerados. Existe um custo elevado para a evolução em espécies com um tempo longo de vida e uma baixa taxa de reprodução, pois este processo é extremamente lento. O surgimento do sistema nervoso, e em especial do cérebro, como solução evolucionária acrescenta uma nova habilidade para o indivíduo: modificar o ambiente em que vive, conforme OLIVEIRA G; (2011). O processo evolutivo assegura a sobrevivência dos indivíduos por meio de uma complexidade crescente do cérebro, observável no acompanhamento da evolução a partir dos primatas até o surgimento do homem moderno. Com o cérebro, é possível se modificar rapidamente o comportamento diante de condições ambientais adversas e se readaptar. Fica garantida a evolução do próprio indivíduo sem a necessidade de se esperar por uma nova geração que encontre uma solução adaptativa, conforme OLIVEIRA G; (2011). O aprendizado é um eficiente instrumento de sobrevivência, capaz de moldar a casualidade da evolução, ao selecionar respostas adaptativas eficientes e transferir o conhecimento a outros indivíduos para garantir a sobrevivência da espécie. O máximo deste processo ocorre no ser humano, cujo cérebro é cerca de três vezes maior que o dos grandes primatas e capaz de funções altamente diferenciadas. A posição da cabeça e a postura ereta exigiram adaptações da musculatura extensora de todo o corpo. A vocalização, essencial na comunicação e na vida social, iniciou seu 12 desenvolvimento a partir dos primatas. A garganta humana foi modificada para facilitar a fala e pôde produzir uma gama de sons, mas, criou um risco de asfixia por alimentos que não existe em outras espécies, conforme OLIVEIRA G; (2011). Do mesmo modo, o córtex visual também era desenvolvido desde os primatas sendo aprimorado no ser humano. Uma série de adaptações foi necessária para que a postura bípede mantivesse o equilíbrio biomecânico. Uma pequena adaptação do uso do polegar representou uma enorme diferença evolutiva. O ser humano é o único capaz da oponência do polegar, fechando em forma de pinça ao tocar os demais dedos. Esta habilidade está representada no córtex cerebral, conforme OLIVEIRA G; (2011). Existe uma representação cortical proporcional à importância da atividade motora voluntária. Esta distribuição cortical foi descrita por Penfield como o “homúnculo motor de Penfield”. Assim o polegar, a boca e a língua ocupam uma grande área cortical. Representa, na prática, capacidade sensorial consciente e a capacidade de manusear objetos com habilidade e precisão.Esta característica do ser humano ganha, nas palavras de Brandão (2002, p.1; apud OLIVEIRA G; 2011), um toque de especial: Somos filhos do dedo polegar oposto e muito do que aprendemos a fazer para viver e criar uma vida diferente vem deste pequeno milagre. Mas não só, pois o corpo dos que nos antecederam a arquitetura da boca perdeu aos poucos a ferocidade de quem come rasgando pedaços de carne crua, e se preparou para o milagre da fala. E os olhos dos seres de quem herdamos o rosto e a vida, fixaram-se na frente da face e aprenderam a olhar e a ver em foco uma imagem única colorida de muitas cores. Estava aberto o caminho para a atenção concentrada, o olhar inteligente e o gesto humano do pensamento. O aumento do tamanho do cérebro e o aparecimento de novas áreas, principalmente na região frontal, foram resolvidos sem o aumento do tamanho do crânio por meio de dobras do córtex cerebral. A capacidade intelectual está, em aspectos gerais, relacionada ao tamanho do cérebro. O aumento drástico do tamanho do crânio dá-se a partir dos hominídeos primitivos. O crânio do Homo erectus tinha a capacidade de 1200 centímetros cúbicos e o homem moderno tem aproximadamente a capacidade de 1400 centímetros cúbicos. O formato do crânio foi se modificando com aumento da região anterior e modificando as características da face humana. 13 Houve um aumento considerável do número e na profundidade das circunvoluções cerebrais. O cérebro ficou com a superfície enrugada para acomodar na caixa craniana, conforme OLIVEIRA G; (2011). Ao que parece, o aumento da inteligência foi um subproduto da necessidade evolutiva do cérebro humano aumentar de tamanho para se proteger do superaquecimento. O sol equatorial levou, também, à redução de pelos com maior difusão do calor corporal, com aumento da pigmentação de melanina. A adaptação à vida social criou a possibilidade de comunicação por meio de expressões faciais com os mesmos músculos que existem na face de um chimpanzé. A abertura ocular é muito maior que nos demais mamíferos que permitem a comunicação visual de estados sutis da mente. Os lábios aumentados facilitam a comunicação e expressão não verbal se constituindo num idioma universal. Estes aspectos evolutivos apontados demonstram que os humanos são seres sociais. Brandão (2002, p. 1; apud OLIVEIRA G; 2011) comenta: Um pequeno cérebro, no começo, igual ao dos seres da vida de quem somos mais próximos, os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos, de uma geração para muitas outras, herdeiras de quem fomos aprendendo a ser, foi aumentando muito. E foi tornando cada vez mais complexas as áreas onde não apenas sentimos, mas pensamos o que sentimos e sentimos o que pensamos. E nos lembramos de sentir e pensar e ao nos lembrarmos e convivermos uns com os outros, pensamos e sentimos. Outra solução evolutiva foi continuar o desenvolvimento humano após o seu nascimento. O ser humano tem a característica da neotenia maior que os demais primatas e significa uma tendência de se manter generalista anatomicamente sem uma especialização a um determinado estilo de vida. Ferrar (2006, p.41; apud OLIVEIRA G; 2011) comenta na neotenia: “O fenômeno conhecido com neotenia pode ser entendido, em uma conceituação geral, como extensão da fase imatura, referindo- se a uma lentificação do processo de maturação, permitindo maior tempo para o crescimento cerebral”. Não existem, no ser humano, grandes transformações das características juvenis. Este fato relacionado à grande adaptabilidade que o ser humano tem, mesmo na fase adulta, a uma variedade de situações de vida, não se restringindo a um nicho, leva a uma maior plasticidade comportamental capacitando-o a viver em, praticamente, qualquer ambiente da Terra. A consequência é a maior demora no 14 processo de maturação, principalmente cerebral, com evidentes reflexos para sua capacidade de aprendizagem para se adaptar à complexidade sociocultural humana, conforme OLIVEIRA G; (2011). O cérebro humano nasce imaturo e grande parte do seu desenvolvimento ocorre em contato com o meio ambiente e outros indivíduos. O cérebro imaturo no nascimento tem maior plasticidade, o que significa maior capacidade adaptativa ao meio ambiente. A demora no processo de amadurecimento leva a uma dependência maior em relação aos pais em relação a qualquer outra espécie. O bebê humano é dependente de cuidados dos adultos para sobreviver. É como se experimentassem outro ano de gestação fora do útero, enquanto ocorre o crescimento rápido do cérebro, conforme OLIVEIRA G; (2011). Mantendo-se saudável, o ser humano não perde a capacidade de aprender e fica cada vez mais difícil definir quando realmente se independe dos pais. Os indivíduos se organizaram em grupos e sociedades de complexidade crescente. Este padrão desacelerado de desenvolvimento é genético e tem consequências enormes na cultura humana. O desenvolvimento da cultura provavelmente foi direcionado pela necessidade de cooperação exigida pelo modelo de organização social humana e pela necessidade de cuidar de suas crias que mantém uma relação de proximidade prolongada, conforme OLIVEIRA G; (2011). A zoologia clássica subentende que o caminho evolutivo percorrido até se chegar ao ser humano se repete, seria uma recapitulação da evolução das espécies. É importante frisar que a evolução do ser humano não ocorreu somente no indivíduo adulto. Todo o ciclo de desenvolvimento, da concepção até a maturidade e a própria reprodução passou por uma evolução. As semelhanças entre mamíferos humanos e não humanos podem ser encontradas em nível genético, bioquímico ou estrutural, mas o desenvolvimento do cérebro tem seu desenvolvimento único para o ser humano, conforme OLIVEIRA G; (2011). O cérebro humano depende da cultura para completar seu desenvolvimento e sobreviver em ambientes cada vez mais variados e complexos. Pode ficar subtendido que todos os seres humanos são semelhantes, não somente em sua constituição biofísica, mas que seus cérebros também o são. Ao examinar a estrutura macroscópica do cérebro humano, não são observadas muitas variações, apenas detalhes anatômicos de pequena relevância. Cosenza34 (2011, p.27; apud OLIVEIRA G; 2011), analisando o desenvolvimento do sistema nervoso, a neuroplasticidade e a aprendizagem dizem que: “Em relação à nossa espécie, sabemos que não existem 15 dois cérebros iguais, mas podemos afirmar que todos têm vias motoras e sensoriais que seguem o mesmo padrão”. Mesmo em populações diversas, a estrutura, a fisiologia, o funcionamento neuroquímico do cérebro se repete. O que se sabe é que o funcionamento do cérebro humano tem ajustes programados e que mesmo pequenos desvios poderão ter consequências severas. Segundo Rose (2006, p. 74; apud OLIVEIRA G; 2011): Dentre estas variações menores, no entanto, devem estar também as diferenças que ajudam a constituir a exclusividade de cada indivíduo humano. Ou seja, nosso cérebro demonstra ao mesmo tempo a unidade essencial dos seres humanos e a individualidade essencial de cada um. A fonte, tanto das semelhanças como das diferenças, está nos processos de desenvolvimento, desde a concepção até o nascimento, que pegam a matéria bruta dos genes e do ambiente e os empregam em um desenrolar contínuo, aparentemente sem marcas. O programa genético define o caminho a ser percorrido pelo desenvolvimento. Outros trajetos serão traçados mais tarde pelo ambiente, pela socialização e pela cultura. A cronologia destas variáveis já foi interpretada como uma sequência relativamente fixa, mas o que se pode deduzir é que o ambiente pode influenciar no material genético, assim como aspectos genéticos podem influenciar na cultura. Mesmo gêmeos geneticamente idênticos têm sua identidade particular conforme estudos de Luria (1992; apud OLIVEIRA G; 2011). Não se trata, portantode uma veloz produção celular para se construir o cérebro humano. Existe uma organização em todo este processo que inicia na concepção e que, aparentemente, não se finda com o indivíduo adulto. 2.2 A mente humana Tentar compreender a mente é tentar resgatar a essência do ser humano. Na pessoa é que estão as funções mentais, chamadas de funções corticais superiores. Estas funções capacitam o ser humano para pensar, refletir, falar, aprender, sentir, amar. Como expressar estas funções mentais? Do que se sabe por meio da neurociência é que o funcionamento cerebral está diretamente ligado à possibilidade de ocorrência e expressão destas funções. Sem o cérebro, como a mente se expressaria? Haveria sentido no cérebro sem a mente? O processo ensino- 16 aprendizagem ocorre pelo cérebro ou pela mente? Por ambos? Conforme OLIVEIRA G; (2011). São perguntas que polemizam. Qualquer resposta apressada teria validade por muito pouco tempo em decorrência da velocidade de produção de conhecimento nesta área. O desenvolvimento cerebral vem sendo pesquisado e observado pela neurociência em suas várias áreas, conforme OLIVEIRA G; (2011). Ao que parece, alcançar o conhecimento depende da cognição que envolve um complexo de eventos cerebrais como atenção, raciocínio, memória, percepção. Seria suficiente para a mente a experiência do mundo por meio dos sentidos? Não parece possível a delimitação: quanto de cérebro ou de mente existe neste contínuo cérebro/mente? Causa e reciprocidade parece definir melhor a relação cérebro/mente. O vínculo da causa com o efeito tem como condição a existência de fenômenos relacionados com a causa ou com o efeito. Na reciprocidade, existe uma tendência a responder positivamente a uma ação positiva e negativamente a uma ação negativa, conforme OLIVEIRA G; (2011). Como definir a natureza mental? O que é mente? Quais manifestações caracterizariam a mente? Referências à mente como “espírito”, “alma” lhe confeririam características e propriedades específicas capazes de subsistir à morte cerebral e à do próprio organismo. As discussões sobre a mente ainda caminham por um mundo fantasioso e fantástico. Parte disso pode ser justificada por não ser a mente visível e muitas de suas manifestações ainda não são passíveis de investigação científica, conforme OLIVEIRA G; (2011). A psicologia desenvolveu técnicas e teorias de como a mente funciona. Não se pode dizer que existe consenso do que seja a mente. A mente com características subjetivas e particulares a cada um de nós serviria somente para cada um dos indivíduos? A mente, na verdade, nada tem a ver com o cérebro? A aprendizagem, que ocorre no ensino, atua na mente ou no cérebro? O conhecimento capaz de desenvolver complexos pensamentos e criações fantásticas ocorre na mente ou é consequência de processos físicos e químicos que ocorrem no cérebro? Como uma substância introduzida no organismo pode modificar o funcionamento cerebral e atingir a mente interferindo em suas funções? Conforme OLIVEIRA G; (2011). 17 Sabemos que cérebros danificados podem modificar o comportamento dos indivíduos e alterar suas funções mentais em consequência da neuroplasticidade. Testemunho de familiares de pessoas que sobreviveram à acidentes ou cirurgias neurológicas dizem que estas pessoas não eram as mesmas de antes, conforme OLIVEIRA G; (2011). Estes argumentos seriam suficientes para distinguir mente e cérebro? Existe ligação, continuidade, relação entre cérebro e mente? Ou seria tudo isso uma ilusão de uma realidade inexistente? Respostas poderão vir do avanço tecnológico, mas serão sempre questões filosóficas. Quem sou eu? Sou minha mente e suas funções ou sou a minha estrutura orgânica, genética e neuroquímica do meu cérebro? Conforme OLIVEIRA G; (2011). O cérebro não é independente do corpo, necessitando de seu suprimento em oxigênio e glicose. Ele necessita também dos órgãos dos sentidos para estar atualizado em relação às respostas que se deseja produzir. Segundo Rose (2006, p. 186; apud OLIVEIRA G; 2011): Esse cérebro, então, é aquele maravilhoso produto e processo, o resultado de eras de evolução e, para cada adulto humano, décadas de desenvolvimento, o órgão necessário para a consciência, do pensamento, da memória e da identidade, e que a ciência moderna está começando tanto a descrever como a explicar. Estaria a neurociência próxima de explicações sobre o funcionamento da mente após terem se passado cerca de vinte anos da chamada “Década do cérebro”? Milhões de anos de evolução e nove meses de gestação dão ao cérebro humano base biológica para nos tornar seres humanos, com capacidades exclusivas como a linguagem, a consciência de si próprio e da existência do outro, conforme OLIVEIRA G; (2011). Da origem da vida com os rudimentos do sistema nervoso até o surgimento do cérebro humano, percebe-se que a conversão deste ser em humano é um processo muito mais complexo. Recursos humanos exclusivos, mesmo quando comparados com espécies próximas, mostram a descontinuidade evolutiva das espécies. Mais do que a própria estrutura cerebral, a mente humana, em sua capacidade de ser consciente, é absolutamente única, conforme OLIVEIRA G; (2011). 18 Descrever a evolução do cérebro humano é tarefa bem simples diante da discussão da mente humana. Este é um desafio para a neurociência atual. Entender a mente como produto do cérebro pode satisfazer o discurso científico, mas em nada contribui para as discussões da neurociência atual. Os processos mentais e conscientes do ser humano seriam a continuação do processo evolutivo de funções adaptativas necessárias à sobrevivência do ser humano que possuidor de um cérebro de tamanho privilegiado? Conforme OLIVEIRA G; (2011). Descrever a evolução do cérebro humano é tarefa bem simples diante da discussão da mente humana. Este é um desafio para a neurociência atual. Entender a mente como produto do cérebro pode satisfazer o discurso científico, mas em nada contribui para as discussões da neurociência atual. Os processos mentais e conscientes do ser humano seriam a continuação do processo evolutivo de funções adaptativas necessárias à sobrevivência do ser humano que possuidor de um cérebro de tamanho privilegiado? Conforme OLIVEIRA G; (2011). Rose (2006, p. 102; apud OLIVEIRA G; 2011) procura demonstrar que a evolução do cérebro humano foi relevante para o desenvolvimento da mente humana. Da diferenciação da estrutura corporal dos humanos modernos, a adoção da postura bípede com equilíbrio do crânio na postura ereta; do aumento do tamanho do cérebro, ao uso do polegar em oposição; de um período de maturação e vida mais longa, até o uso de ferramentas; da organização social, à comunicação e a consciência da sua existência, as informações se baseiam no conhecimento produzido pelos paleontólogos. Divergências e descobertas vão clareando esta ciência que nos oferece datação e reconstrução de fósseis e trazem a história à tona. Pesquisas sobre comportamento, organização social e a evolução da mente dos ancestrais humanos tornam-se menos consensuais. Relacionar mudanças na estrutura do crânio e da face com o aumento do lobo frontal e associar estas modificações com a aquisição de funções mentais específicas do ser humano parecem especulativas. Segundo Rose (2006, p. 106; apud OLIVEIRA G; 2011): Desse modo, o tamanho do cérebro é um marcador pouco confiável das capacidades mentais e comportamentais, e as medidas dos volumes de crânios fósseis têm a capacidade de dizer bem pouco a respeito da organização interna do cérebro, e ainda menos a respeito do comportamento e do suposto sentido de ação do seu dono durante sua vida. 19 O estudo genético mostrou que os seres humanos são 99% idênticos aos chimpanzés. Segundo Rose (2006; apud OLIVEIRA G; 2011) a semelhança é ainda maior quandose avalia os genes importantes para a função cerebral, embora exista uma significativa diferença em relação à expressão destes genes. Intrigante é como pequenas diferenças genéticas puderam levar o ser humano a um desenvolvimento tão diferente do chimpanzé. Estudos do genoma humano poderão ser elucidativos quanto a esta questão. O ponto em que surgiram as funções exclusivas do ser humano não tem, ainda, uma resposta. Rose (2006, p. 108; apud OLIVEIRA G; 2011) afirma: “É inequívoco que nosso cérebro e mente humanos são produtos da evolução, mas os processos pelos quais as mentes modernas evoluíram e as restrições que esses processos evolutivos podem ter imposto são questões de debate intenso e apaixonado”. As histórias de racismos promovidos pela ciência ao estudar as diferenças entre populações humanas se firmaram nas diferenças genéticas inicialmente identificadas entre as raças. Estas informações não se confirmaram com a genética moderna que não identificou diferenças genéticas ligadas às divisões raciais. Existiriam mais diferenças genéticas entre os indivíduos de uma mesma raça. Autores sugerem que no contexto humano melhor seria designar diversidade biogeográfica em lugar de raça (ROSE, 2006; apud OLIVEIRA G; 2011). Concepções mais recentes sobre o desenvolvimento são apresentadas pela Psicologia do Desenvolvimento e Evolucionista (PDE). Hansen51 (2007; apud OLIVEIRA G; 2011) discute aspectos dessa ciência que tem como pressupostos a herança biológica e a cultura como componentes do desenvolvimento dos indivíduos. Aspectos estruturais do desenvolvimento humano foram selecionados pela evolução e a genética os transmite. Hansen (2007, p. 3; apud OLIVEIRA G; 2011) diz: Por fim, vale destacar que, ao investigar a influência da história evolucionária da espécie humana no desenvolvimento ontogenético atual, a PDE utiliza conhecimentos da Psicologia Comparativa, bem como da Etologia. Isso porque considera que existe uma continuidade filogenética entre o ser humano e outros animais, buscando ter uma visão mais abrangente da nossa espécie e ter uma melhor compreensão do que é ser humano. 20 A Psicologia Evolutiva propõe que a alma humana deva ser compreendida à luz da evolução. O cérebro humano, composto por diversos mecanismos funcionais responsáveis pelas adaptações psíquicas teria evoluído pela seleção natural. Uma conceituação mais recente, a Psicologia Evolutiva tem suas raízes na Psicologia Cognitiva e na Biologia Evolutiva, integrando-se à Ecologia Comportamental, à Inteligência Artificial, à Genética, à Etologia, à Antropologia, à Arqueologia, à Biologia, à Zoologia e à Sociobiologia. O termo psicologia evolutiva foi difundido a partir de Ghiselin em 1973. Jerome Barkow, Leda Cosmides e John Tooby escreveram, em 1992, The adapted mind: Evolucionary and te generation of culture, tornando popular a psicologia evolutiva. Palacios56 (2004, p. 17; apud OLIVEIRA G; 2011) diz: A psicologia evolutiva estuda todas as questões que analisamos até aqui. Estuda, por definição, os processos de mudança psicológica que ocorrem desde nossa concepção até nossa morte; muitos dos processos de mudança (sobretudo os que ocorrem no início e no final do processo) se relacionam com a maturação que nos leva da imaturidade biológica de partida até a maturidade, assim como com os processos biológicos vinculados ao envelhecimento. Esta área recente da psicologia procura demonstrar formas de comportamento e de organização social que evoluíram adaptativamente por diversas gerações humanas com a característica caçador-coletora. O que chama a atenção é que existe um período geológico e evolutivo, relativamente curto, em que o Homo Sapiens, e a própria sociedade moderna, surgiu, conforme OLIVEIRA G; (2011). Segundo Rose (2006, p. 114 apud OLIVEIRA G; 2011), entretanto, o ponto fundamental é a assertiva feita por psicólogos evolutivos de que a escala de tempo na história humana foi curta demais para que as pressões da seleção natural tenham produzido mudanças significativas. O problema é que sabemos pouco a respeito da velocidade com a qual essas mudanças podem ocorrer. Atribuindo ao tempo de uma geração cerca de quinze a vinte anos, chegou a haver aproximadamente 11 mil gerações entre os fósseis Herto e o presente. Embora seja possível calcular taxas de mutações, e daí as taxas potenciais de mudanças genéticas, estas não se “traduzem” simplesmente em taxas de mudanças fenotípicas. Rose (2006 apud OLIVEIRA G; 2011) destaca que os psicólogos evolutivos avaliam que diversos processos esculpem a mente humana, a qual não é tanto um produto direto da ação genética como propõem os pesquisadores da linha determinista genética. 21 Com base nos conceitos da Inteligência Artificial, os psicólogos evolutivos retiraram o argumento de que a mente é uma máquina cognitiva, um dispositivo de processamento de informações que ocorre no cérebro. Rose (2006 apud OLIVEIRA G; 2011) diz que a proposta de módulos (de fala, de sentido de números, de reconhecimento de faces, de detector de trapaças) para explicar a mente humana foi apresentada em 1983 por Jerry Fodor. Apresenta também o argumento do arqueólogo Steven Mithen de que apesar dos módulos serem diferentes, a característica da mente humana é a sua capacidade de realizar a integração entre estes. Ela não funcionaria como módulos especializados e independentes, mas o próprio pesquisador reviu alguns conceitos e levantou a hipótese de que os módulos mentais existiriam somente para funções mentais de menor nível e não para aquelas funções que envolvam aspectos cognitivos ou afetivos mais complexos, conforme OLIVEIRA G; (2011). O que a neurociência atual demonstra é que não se pode reduzir mente/cérebro a uma maquinaria cognitiva que processa informações. A capacidade de interpretar e expressar a emoção, por si, sem falar de outros aspectos o diferencia em muito de um computador. Quando a elas se associam estados mentais caracterizando sentimentos, podemos dizer que aí existe uma exclusividade humana, conforme OLIVEIRA G; (2011). A Psicologia Evolutiva não tem explicações irrefutáveis para muitas questões sobre a evolução da mente humana. Segundo Rose (2006, p. 119 apud OLIVEIRA G; 2011): Uma compreensão mais modesta dos processos evolutivos pode nos fazer reconhecer que o trajeto evolutivo que leva aos humanos, produziu organismos com cérebros/mente e modos de vida altamente plásticos, adaptáveis, conscientes. Em virtude de nossos grandes cérebros, e supostamente das propriedades da mente e da consciência que esses cérebros propiciam, os seres humanos criaram sociedades, inventaram tecnologias e culturas; ao fazer isso, também mudaram a si próprios, seus estados de consciência e, de fato, seus genes. Somos herdeiros não apenas dos genes, mas também de culturas e tecnologias dos nossos ancestrais. Fomos profundamente formados por eles, e, porque temos esse formato, podemos por sua vez ajudar a formar nossos próprios futuros e os dos nossos descendentes. Qual seria o ponto da evolução em que ocorreu a conversão para seres humanos é ainda uma especulação. Em alguma época do Pleistoceno, entre seiscentos a cem mil anos, pressões evolutivo-ambientais, que não se conhecem, 22 teriam levado ao aparecimento da mente e da consciência humanas. Rose (2006) cita o período iniciado há duzentos e cinquenta mil anos em que as variações climáticas severas ocorridas na África impuseram condições adversas que exigiram habilidades mentais necessárias para a sobrevivência. Buscar traços universais humanos que poderiam distinguir os seres humanos é uma aventura que deve se prolongar para as ciências, conforme OLIVEIRA G; (2011). 3 DEMÊNCIA Fonte: jovempanbauru.com Demência pode ser definida como uma síndrome caracterizada pelo declínio progressivo ou crônico de uma ou mais funçõescognitivas que afeta a memória, o pensamento, o comportamento, a linguagem, a capacidade de cálculo, a aprendizagem e a emoção, não devendo nunca ser associada a um processo normal de envelhecimento, conforme SANTOS L; et al., (2012). De acordo com o relatório DEMENTIA- A Public Health Priority, no mundo inteiro em 2010, era de 35,6 milhões. Anualmente calcula-se que o número de novos caso de pessoas com demência seja de cerca de 7,7 milhões, um novo caso a 4 segundos. As previsões são que em 2050 o número de pessoas que sofrem demência no mundo inteiro triplique, chegando há 115,4 milhões de pessoas, como observamos no gráfico (ALMEIDA,2010; apud SANTOS L; et al., 2012): 23 Fonte: fait.revista.inf.br (Gráfico 1 - Estimativa do número de pessoas afetadas por Demência entre 2010 e 2050 no mundo inteiro. [Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponíveis em (World Health Organization, 2012; apud SANTOS L; et al., 2012). Os custos das demências dizem respeito à assistência médica, mas também aos cuidados prestados. Nos países de elevado rendimento, nos quais, segundo dados do Banco Mundial, os custos médicos diretos (consultas médicas, exames médicos, medicamentos, entre outros) constituem a menor parte de todos os custos associados às demências, conforme SANTOS L; et al., (2012). Em primeiro lugar, encontram-se os custos associados aos cuidados informais (cuidados não diretamente pagos e prestados maioritariamente pela família, mas também por amigos ou membros da comunidade), seguidos pelos custos dos cuidados formais (lares especializados, serviço domiciliário, transporte de doentes, entre outros), como é possível observar pelo seguinte gráfico (ALMEIDA,2010; apud SANTOS L; et al., 2012): 24 Fonte: fait.revista.inf.br (Gráfico 2 - Distribuição dos custos associados às demências em países de elevado rendimento [Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponíveis em (World Health Organization, 2012; apud SANTOS L; et al., 2012) ] 3.1 Classificação As demências podem ser divididas em duas classes: primárias e secundárias, Lesões primárias ou irreversíveis: Configuram-se as demências degenerativas, em que o evento principal que leva a deterioração cognitiva é a degeneração e morte dos neurônios do SNC. As lesões causam danos progressivos ao cérebro que não podem ser revertidos ou interrompidos (GALLUCCI,2005; apud SANTOS L; et al., 2012). Doença de Alzheimer Demência com corpos de Lewy Demência vascular, resultante de uma série de pequenos acidentes vasculares cerebrais (AVC) Demência frontotemporal Lesões secundárias ou reversíveis: são aquelas que apesar de causarem danos ao cérebro, podem ter seus sintomas revertidos (BAZARELLA,2010; apud SANTOS L; et al., 2012). Tumores cerebrais Demências de causa metabólica, em que há alterações nos níveis de açúcar, sódio e cálcio no sangue Baixos níveis de vitamina B12 Hidrocefalia normotensiva 25 Uso de determinados medicamentos, principalmente alguns para tratar colesterol, conforme SANTOS L; et al., (2012). De acordo com SANTOS L; et al., (2012), existem ainda outros tipos de demências: Traumatismo craniano Doença de Parkinson Esclerose múltipla Doença de Huntington Doença de Pick Paralisia supranuclear progressiva Infecções que podem afetar o cérebro, como HIV/AIDS e doença de Lyme Doença de Creutzfeldt-Jakob. 3.2 Etiologia As demências podem ter as mais variadas etiologias, podendo ser metabólicas, degenerativas, endocrinológicas, nutricionais, infecciosas, cardiovasculares, tóxicas e sensoriais. O comprometimento intelectual nas demências se desenvolve ao longo do tempo, com perda das funções mentais anteriormente adquiridas, de forma progressiva e irreversível na maioria das vezes. As causas de demência incluem lesões e tumores cerebrais, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), álcool, medicamentos, infecções, doenças pulmonares crônicas e doenças inflamatórias (BAZARELLA,2010; apud SANTOS L; et al., 2012). Na maioria das vezes as demências são causadas por doenças degenerativas primárias do sistema nervoso central (SNC) e por doença vascular. Cerca de 10 a 15% dos pacientes com sintomas de demência apresentam condições tratáveis como doenças sistêmicas (doenças cardíacas, renais, endócrinas), deficiências vitamínicas, uso de medicamentos e outras doenças psiquiátricas (depressão). A causa mais comum das demências em idosos continua sendo a Doença de Alzheimer (DA), responsável por mais de 50% dos casos de demências na maior parte dos países (DOURADO,2011; apud SANTOS L; et al., 2012). 26 Digamos também que a incidência e a prevalência das demências aumentam exponencialmente com a idade, a partir dos 60 anos de idade. Após os 65 anos de idade, a prevalência é de cerca de 5 a 10%, e a incidência anual é de cerca de 1 a 2%, passando, após os 75 anos de idade, para 15 a 20% e 2 a 4%, respectivamente (DOURADO,2011; apud SANTOS L; et al., 2012). CITAREMOS ABAIXO ALGUNS EXEMPLOS DE TIPOS DE DEMÊNCIAS E ÁREAS QUE PODEM SER COMPROMETIDAS: DEMÊNCIA FRONTO - TEMPORAL, DOENÇA DE ALZHEIMER E DOENÇA DE PARKINSON: 4 DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL (FTD) O termo clínico demência frontotemporal (FTD) é usado para designar as condições clínicas degenerativas, decorrentes do acometimento do lobo frontal e/ou da porção anterior do lobo temporal. A FTD é subdividida em três síndromes principais: variante comportamental da FTD (bv-FTD), demência semântica e afasia progressiva não fluente, conforme SANTOS R; (2012). Fonte: institutobernalmeida.com Na variante comportamental, prevalecem as alterações de comportamento; nas outras entidades clínicas a alteração de linguagem. Algumas vezes, associam-se, ainda, à doença distúrbios do movimento. Apesar de características aparentemente distintas, o diagnóstico da FTD nem sempre é fácil, o que motiva a busca por métodos 27 capazes de elucidar o quadro, como um biomarcador molecular associado ao diagnóstico clínico, conforme SANTOS R; (2012). Quanto ao processo inflamatório, envolvido na maioria das doenças neurodegenerativas, incluindo a doença de Alzheimer (AD), é frequentemente denominado “neuroinflamação". Admite-se que a neuroinflamação seja elemento importante na fisiopatologia da FTD. A demência frontotemporal (FTD) é termo clínico usado para designar as condições clínicas degenerativas decorrentes do acometimento do lobo frontal e/ou a porção anterior do lobo temporal. Apesar de a FTD comumente ser empregada por alguns autores como sinônimo de degeneração lobar frontotemporal (FTLD- Degeneração lobar frontotemporal), usaremos o uso do termo FTD para descrever os aspectos clínicos, reservando o termo FTLD para referir aos aspectos patológicos dessas síndromes como recomendado na literatura, conforme SANTOS R; (2012). Com efeito, a FTD é subdividida em três síndromes principais: variante comportamental da FTD (bv-FTD- Variante comportamental da demência frontotemporal), demência semântica (SD), afasia progressiva não fluente (PNAF) e pode-se associar a distúrbios extrapiramidais do movimento (parkinsonismo e degeneração corticobasal [CBD]), ou, ainda, à doença do neurônio motor (FTD-NMD) conforme SANTOS R; (2012). Historicamente, a literatura reconhecia a FTD como doença de Pick em homenagem ao neurologista Arnold Pick, quem primeiro relatou essa condição em 1892, em um paciente de 71 anos. Pick descreveu-a, originalmente, como um quadro clínico que se caracteriza pela deterioração progressiva da cognição e com uma afasia grave incomum cuja avaliação post-mortem demonstrava atrofia do lobo temporal esquerdo. Hoje, o diagnóstico desse paciente seria de demência semântica (SD), que é uma das entidades nosológicas que compõem a FTD. Doze anos após (1904), esse mesmo autor publicouum artigo com relato de três novos casos, conforme SANTOS R; (2012). Em 1911, Alzheimer descreveu alterações microscópicas que seriam características da FTD. Tais alterações se referiam a inclusões neuronais argentofílicas e às células edemaciadas, localizadas em lobos frontais e temporais atrofiados. Alois nomeou, então, essas alterações corpúsculos e células de Pick respectivamente. Mas somente alguns anos depois, o epônimo doença de Pick foi 28 utilizado. Inicialmente, por Onari e Spatz em 1926 e fortalecido por Carl Schneider. Entretanto, esses autores concentraram seus esforços no componente frontal da síndrome, conforme SANTOS R; (2012). Na década de 1980, pesquisadores de Lund na Suécia relataram uma série de casos de pacientes dementados, com degeneração do lobo frontal. Tais pacientes não apresentavam os corpúsculos de Pick e, portanto, empregou-se o nome degeneração frontal do tipo não Alzheimer, conforme SANTOS R; (2012). No mesmo período, outros pesquisadores em Manchester, no Reino Unido, também publicaram trabalhos sobre estudos clinicopatológicos em demência pré-senil e empregaram o termo demência do tipo frontal. Pouco depois, outros grupos descreveram casos semelhantes empregando outros nomes. Knopman, por exemplo, utilizou o termo demência carecendo de achados histopatológicos distintos enquanto Miller preferiu o termo degeneração do lobo frontal. Todos esses trabalhos chamaram a atenção para a sintomatologia decorrente da atrofia do lobo frontal, ressaltando alterações na conduta social, no controle inibitório, no comportamento sexual, bem como alterações do apetite, do comportamento ritualístico e estereotipado além da redução da empatia e desenvolvimento de apatia, conforme SANTOS R; (2012). Afinal, o emprego de diferentes nomes para descrever a mesma condição clínica e a falta de um critério diagnóstico único motivaram a confecção de um consenso para normatizar o nome e os critérios diagnósticos. Deve-se, portanto, ao trabalho conjunto do grupo de Lund e de Manchester, o primeiro critério clínico para o diagnóstico FTD. Mas as afasias ainda não eram consideradas dentro de grupo. Somente quatro anos depois, numa nova reunião de especialistas, houve a inclusão das afasias progressivas primárias dentro desse grupo. Surgiu, assim, a sugestão do emprego do termo degeneração lobar frontotemporal (FTDL), conforme SANTOS R; (2012). Assim sendo, os diversos nomes até então empregados, como degeneração do lobo frontal do tipo não Alzheimer, doença de Pick, complexo demencial de Pick, demência do lobo frontal, degeneracão do lobo frontal, demência pré-senil não deveriam mais ser mais adotados. Apesar de os critérios de Neary e colaboradores constituírem um marco em termos de diagnóstico dessa síndrome, esse critério era destinado, primariamente, à pesquisa, conforme SANTOS R; (2012). 29 Mais recentemente, foi publicado o consenso internacional para o diagnóstico de bvFTD, por grau de probabilidade (FTD possível, provável e definitivo), a exemplo de outras demências. Tal consenso foi baseado nos critérios revisados em 2007, por Rascovsky e colaboradores, conforme SANTOS R; (2012). Dessa forma, no encontro de pesquisadores realizado em 2000, foram revisados os marcadores neuropatológicos da FTLD em decorrências das novas descobertas. Nesse encontro foi proposto, também, um guia para orientar os médicos em geral (aqueles não vinculados diretamente aos centros de pesquisa em FTD) no processo diagnóstico dessa síndrome, conforme SANTOS R; (2012). Já em 2006, com os avanços da genética molecular, bioquímica e métodos imuno-histoquímicos ampliaram-se as proteinopatias com a inclusão da TDP-43, reconhecida, então, como o achado histopatológico mais comum da FTLD com ubiquitina positiva (FTLDU) (com ou sem doença do neurônio motor associado) e, também, da esclerose lateral amiotrófica. Esses avanços permitiram sistematizar os diversos achados presentes na degeneração lobar frontotemporal. Posteriormente, em 2007 foi publicado um novo consenso para diagnóstico histopatológico da FTLD, sendo descritos 7 tipos distintos de padrões histopatológicos, conforme SANTOS R; (2012). Didaticamente, pode-se separar a FTLD em dois grupos principais: FTLD com Tau+ e FTLD Tau. Pouquíssimos casos não se encaixarão nesses dois grupos e serão classificados como FTLD Tau- e sem inclusões Ub ou p62. Este último grupo, que representa aproximadamente 10% dos pacientes em estudo, é heterogêneo, composto por uma coleção de condições incomuns. Um percentual significativo desses pacientes apresenta imunorreatividade para proteína FUS, estão aqui incluídos, também, os pacientes com doenças por prion e DLDH, conforme SANTOS R; (2012). Contudo, apesar dos avanços tanto no reconhecimento das formas clínicas de FTD quanto dos marcadores histopatológicos da FTLD, não há ainda clara associação clinico patológica, conforme SANTOS R; (2012). 30 4.1 Aspectos clínicos Ao contrário da doença de Alzheimer, tanto a apresentação clínica quanto o substrato histopatológico da FTD são heterogêneos. Duas são as formas principais de manifestação da demência frontotemporal (FTD): variante comportamental da FTD (bv-FTD) e a afasia progressiva primária. Esta última é representada pela demência semântica (SD) e pela afasia progressiva não-fluente (PNAF), conforme SANTOS R; (2012). Fonte: psicologia.pt Essas entidades nosológicas podem associar-se, ainda, a distúrbios cujo comprometimento neurológico são classicamente descritos como motores. Incluem- se, aqui, as doenças que se desenvolvem com distúrbios extrapiramidais do movimento (paralisia supranuclear progressiva [PSP] e degeneração corticobasal [CBD]), ou, ainda, aquelas ligadas ao comprometimento do neurônio motor (FTD- NMD) como, por exemplo, esclerose lateral amiotrófica. Todas essas condições devem apresentar os sinais de uma doença neurodegenerativa, conforme SANTOS R; (2012). 31 Dessa forma, sinais ou sintomas de comprometimento progressivo da cognição ou do comportamento, por um período mínimo de 6 meses, são necessários. Tal comprometimento deve ocasionar declínio no desempenho de testes neuropsicológicos e, além disso, repercutir na funcionalidade do paciente. Tais alterações não podem, contudo, serem decorrentes de comorbidade clínica, conforme SANTOS R; (2012). 4.2 Variante comportamental da demência Frontotemporal Ao contrário da doença de Alzheimer, cujas formas clássicas o primeiro sintoma é uma redução na memória episódica, na variante comportamental da demência frontotemporal (bv-FTD - Variante comportamental da demência frontotemporal), a forma mais prevalente da FTD, marcadamente se manifesta por meio de alteração nas condutas sociais, na personalidade e controle emocional em relação ao estado pré mórbido. São características dessa variante: apatia (inércia e perda da motivação), desinibição social e desatenção, conforme SANTOS R; (2012). As pacientes vítimas de (bv-FTD- variante comportamental da demência frontotemporal) podem ser, didaticamente, subdivididos em dois grupos contrastantes, de acordo com a sintomatologia predominante: um grupo em que prevalecem apatia, inércia e perda da volição; outro em que prevalecem desinibição, falta de atenção e hiperatividade sem propósito. Cabe ressaltar que essas duas formas de apresentação podem estar presentes no mesmo paciente e que o meio social pode influenciar na ocorrência destas. Como tais alterações decorrem de alterações degenerativas, as quais provocam desintegração dos circuitos cerebrais envolvidos no controle comportamental, emocional, bem como na adaptação social e no processo de tomada de decisão, o aparecimento dessa sintomatologia é insidioso e progressivo, conforme SANTOS R; (2012). Assim, é muito difícil estabelecer o início dos sintomas da doença, especialmentepela perda da autopercepção (anosognosia), que é muito comum ocorrer nesses pacientes. A entrevista isolada com as pessoas que convivem de perto com o paciente é fundamental para elucidar esses declínios. Contudo, as alterações precoces no afeto e a redução na autopercepção são elementos que podem ser úteis para distinguir a (FTD - Demência frontotemporal) e da (AD - Doença de Alzheimer). 32 Apesar de a memória estar preservada nas fases iniciais da (bv-FTD - variante comportamental da demência frontotemporal), cerca de 10% dos pacientes com (FTD - Demência frontotemporal) são acometidos pela síndrome amnésica como sintoma inicial da doença, conforme SANTOS R; (2012). De acordo com SANTOS R; (2012), com efeito, os principais sintomas da (bv- FTD - variante comportamental da demência frontotemporal) são: redução do insight (anosognosia), apatia, desinibição, desatenção, comportamento alimentar anormal, comportamento estereotipado e ritualístico, diminuição da empatia, rigidez mental, síndrome disexecutiva (disfunção das funções executivas), alteração da linguagem (adinamismo) e alteração na memória. Cada um desses sintomas será descrito a seguir: Anosognosia: redução da consciência pessoal, com perda da percepção dos próprios sintomas mentais. Isso fica evidente pela franca negação da sintomatologia ou falta de preocupação com as consequências sociais, ocupacionais e financeiras, decorrentes de estado mental do paciente, conforme SANTOS R; (2012). Apatia: sintoma praticamente presente em todos os pacientes, manifestado por passividade, inércia e inatividade associadas com isolamento social. Paciente pode permanecer horas sentado ou deitado quieto, descarta os robes. Pode ser confundido com depressão, mas, ao contrário da depressão, não apresentam sentimento de culpa, tristeza e pessimismo. Apatia nesses pacientes está relacionada à região medial dos lobos frontais incluindo o córtex dorsal anterior do cíngulo, região medial do córtex órbito frontal medial, porção inferior dos lobos frontais, região dorsolateral direita do córtex pré-frontal e região anterior do lobo temporal, conforme SANTOS R; (2012). Desinibição: sintoma comum nas fases iniciais. Parece estar particularmente relacionado com a atrofia do córtex do órbito frontal medial. Contudo a porção inferior dos lobos frontais, da região anterior do lobo temporal e da região anterior do lobo temporal e do córtex dorsolateral do córtex pré-frontal esquerdo também estão afetadas (62,63). É detectada pela presença de comportamentos incongruentes com o comportamento pré-morbido do paciente. Pacientes agem de forma impulsiva, sem se preocupar com as consequências de seus atos, perdem o tato social e apresentam comportamento anômico (faux pas). Irritabilidade, inquietude, hiperatividade, agressividade, gestos inapropriados, violação dos espaços interpessoais, 33 comentários rudes com conteúdos sexuais, exibicionismo e comportamentos explosivos podem ocorrer. O paciente pode ainda se tornar um jogador patológico, envolver-se em furtos ou desenvolver hiperreligiosidade, conforme SANTOS R; (2012). Comportamento alimentar: trata-se de alteração no padrão alimentar. Os indivíduos tornam-se tipicamente gulosos, vorazes para alimentar, mudam as preferencias alimentares, com fixação por certos tipos de alimentos (carboidratos e doces por exemplo), têm dificuldade em experimentar novas comidas. Com o avançar da doença, podem surgir combinações bizarras de alimentos e hiperoralidade. Consumo excessivo de líquidos, bebidas alcoólicas e cigarro ocorrem com frequência. E, com o avançar da doença, podem aparecer ainda hiperoralidade e hipersexualidade, sintomas da síndrome de Klüver-Bucy. Esta geralmente ocorre quando há lesão extensa da amígdala e pode ocorrer também nos pacientes com (AD - Doença de Alzheimer), conforme SANTOS R; (2012). Comportamentos estereotipados e ritualísticos: repetições excessivas de atos motores ou verbais simples (maneirismos, bater palmas, esfregar as mãos, movimentos com lábios ou bater os pés) estão presentes em até 75% dos pacientes, mas esses atos não apresentam grande valor discriminatório no diagnóstico diferencial. Comportamentos mais complexos, por exemplo, colecionismo (lixo, pedras, selos, papéis), preocupações ritualísticas com limpeza e vestuário, ou andar no mesmo ritmo e trajeto também são comuns. Repetições do mesmo termo ou expressões nas diversas situações de linguagem também ocorrem, conforme SANTOS R; (2012). Diminuição da empatia e embotamento do afeto: perdem a preocupação com aspectos emocionais que envolvem outras pessoas tornando-se aparentemente egoístas ou desrespeitosos. A compreensão e expressão das emoções estão reduzidas. Frequentemente, não se observa pesar diante da morte de um familiar, ou remorso após um acidente, ou período de grande violência. A falta de sentimentos pelos cuidadores (familiares ou não) é uma das principais causas de estresse para o cuidador. As respostas dos pacientes são desprovidas de emoção (robóticas). Sintomas depressivos podem ocorrer, e muitos pacientes com (FTD- Demência frontotemporal) acabam recebendo o diagnóstico de transtorno do humor, antes do quadro demencial ficar evidente. Os sintomas depressivos são geralmente atípicos 34 podendo ser uma pista para o diagnóstico de (FTD -Demência frontotemporal). Já delírios e alucinações são mais raros, mas, quando presentes, são tipicamente de grandiosidade ou bizarros. Já na (FTD- Demência frontotemporal: MND doença do neurônio motor) esses sintomas psicóticos são prevalentes e podem, inclusive, anteceder os sintomas motores, conforme SANTOS R; (2012). Rigidez mental: egocentrismo e perda da capacidade mental de adaptar-se evidenciada pela falta da capacidade de perceber o ponto de vista do outro, pela aderência fixa à rotina, à falta de criatividade e incapacidade de adaptar-se diante novas circunstâncias. A falta de atitude abstrata, associada à redução da empatia, forma a base para a teoria da mente (ToM), que é o elemento central presente também no autismo ou na síndrome de Asperger, conforme SANTOS R; (2012). Síndrome disexecutiva: ocasiona a redução dos quatro componentes da função executiva: volição, planejamento, ação objetiva (transformação de uma intenção em uma atividade produtiva) e execução efetiva (capacidade de monitorar, corrigir, regular a intensidade, o tempo e outros aspectos qualitativos da ação). Apesar de poderem ser o primeiro sintoma da (FTD- Demência frontotemporal), esses sintomas não são úteis para discriminar de (FTD - Demência frontotemporal de AD - Doença de Alzheimer), mas indicam a gravidade da demência e estudos sugerem que pacientes com (AD- Doença de Alzheimer), em fases iniciais apresentam comprometimento do circuito dorsolateral, o que está associado com essas funções. Redução da capacidade de trabalho podem ocasionar demissões, busca de trabalhos progressivamente mais simples, ou até mesmo aposentadorias precoces. Tudo isso pode ter impactos financeiros importantes no paciente ou na família, conforme SANTOS R; (2012). Negligência no autocuidado: declínio na capacidade de realizar as atividades de vida diária é comum tornando esses pacientes funcionalmente mais comprometidos que os pacientes com (AD - Doença de Alzheimer). Sem cuidados de terceiros, esses pacientes podem ficar imundos e, em casos extremos, apresentar síndrome de Diogenes, conforme SANTOS R; (2012). Alteração da linguagem: caracteriza-se, principalmente, por redução progressiva do discurso (economia na expressão verbal e falta de espontaneidade), estereotipia de linguagem. Paciente tem dificuldade de iniciar a conversação, mesmo 35 quando incentivado, as respostas são curtas ou expressas por uma única palavra, conforme SANTOS R; (2012). Alterações de memória: São caracteristicamentedecorrentes de um comprometimento da memória de trabalho caracterizado e se expressam pela dificuldade em registrar e evocar as informações. Já o comprometimento da memória episódica, em fases precoces, é um bom indicativo de (AD- Doença de Alzheimer), entretanto, há vários trabalhos mostrando que a memória episódica está comprometida em uma parcela dos pacientes com (FTD - Demência frontotemporal), conforme SANTOS R; (2012). 4.3 Afasia progressiva primária Na variante temporal da (FTD - Demência frontotemporal), ocorre comprometimento precoce da linguagem. O comportamento, a personalidade, a função executiva, a memória episódica e as habilidades visoespaciais estão preservadas no início da doença. Esse quadro é denominado afasia progressiva primária, que se subdivide em demência semântica e afasia progressiva não fluente, veja a figura abaixo o exemplo de comprometimento no cérebro, conforme SANTOS R; (2012). Fonte: chln.pt 36 A figura acima ilustrou a anatomia das três variantes clínicas da Afasia Progressiva Primária – NFPA – agramática; SD – semântica; LPA - logopénica (Gorno- Tempini et al, Ann Neurol, 2004 apud FERREIRA E et al., 2015). 4.4 Demência Semântica A demência semântica é uma síndrome caracterizada pela perda progressiva do conhecimento semântico ou do conhecimento sobre as pessoas, objetos, fatos e palavras. A perda neuronal acomete a porção anterior do neocórtex temporal, bilateralmente. As queixas referem-se ao comprometimento da linguagem, descritas como perda do significado das palavras e de conceitos. O paciente geralmente está consciente da dificuldade de expressar, mas usualmente não percebe suas dificuldades de compreensão. Segue a figura abaixo com exemplos de demência semântica, conforme SANTOS R; (2012). Fonte: pt.slideshare.net 37 O discurso é fluente, mas, frequentemente, ocorre parafasias semânticas e utilização repetida de termos vagos, genéricos (coisa, negócio, trem) em substituição de termos específicos ou frases. A repetição, prosódia, sintaxe e geração de verbos estão preservadas. Nesses casos, a atrofia envolve predominantemente a porção anterior do neocórtex temporal esquerdo. Por outro lado, quando a atrofia predomina na porção anterior do neocórtex direito, o paciente apresenta déficit no reconhecimento de faces familiares (prosopagnosia) e objetos. Daí, que, geralmente, se manifesta por uso inapropriado ou incapacidade de reconhecer utensílios domésticos, por exemplo, abridor de lata, conforme SANTOS R; (2012). 4.5 Afasia progressiva não fluente Na afasia progressiva não fluente, a atrofia é assimétrica e compromete a área perissylviana esquerda (ínsula, região frontal inferior e temporal superior). O quadro clínico é caracterizado pela presença de anomia (dificuldade para encontrar as palavras), hesitação, alteração da pronúncia e redução da fluência verbal. Segue a figura abaixo com exemplos de afasia progressiva não fluente, conforme SANTOS R; (2012). Fonte: pt.slideshare.net 38 A anomia é mais pronunciada com relação a verbos que a nomes. Geralmente, os pacientes com (AF - afasia progressiva não fluente) não apresentam as anormalidades comportamentais típicas da variante frontal da (FTD - Demência frontotemporal). O discurso torna-se progressivamente mais empobrecido e, nos estágios finais, ocorre mutismo, conforme SANTOS R; (2012). 5 DOENÇA DE ALZHEIMER A Doença de Alzheimer se caracteriza por uma patologia neurodegenerativa incurável de estabelecimento gradual e curso progressivo e insidioso que inevitavelmente resultará em danos aos processos cognitivos e, portanto, na incapacitação do sujeito em estágios avançados (Dalgalarrondo, p. 378, 2008; Hamdan, 2008; Hayden, K. M, 2013; Ritchie et al, 2017; Sereniki, A; Vital, M, 2008; apud GUIMARÃES C; et al., 2018). O cérebro humano adulto saudável possui por volta de cem bilhões de neurônios, que por meio de várias conexões entre si, formam cerca de cem trilhões de sinapses. Essa característica de rede permite a geração, o estabelecimento e o funcionamento dos processos cognitivos como atenção, memória, linguagem, pensamento, aprendizagem, percepção, etc. Dessa maneira, histopatologicamente, há perda sináptica significativa e morte neuronal capazes de inviabilizar o funcionamento cortical (Alzheimer's Association, 2018; Sereniki, A; Vital, M. 2008; Sternberg, 2016; apud GUIMARÃES C; et al., 2018). Conforme GUIMARÃES C; et al., (2018), os principais biomarcadores para a doença de Alzheimer são: As placas senis, formadas principalmente pelo acúmulo da proteína beta-amiloide e As proteínas tau hiperfosforilizadas. Ritchie (2017; apud GUIMARÃES C; et al., 2018) explica que existem 6 isoformas humanas de proteína tau e que cada uma possui diferentes localizações de fosforilação em sua estrutura. 39 Fonte: files.bvs.br.com (Esquema da sequência de eventos na fisiopatologia da doença de Alzheimer, dos fatores desencadeantes às manifestações clínicas). Essas localizações funcionam na interação das proteínas com a tubulina, exercendo um papel importante na estabilização dos microtúbulos do citoesqueleto celular. Gil (2014; apud GUIMARÃES C; et al., 2018) diz que na Doença de Alzheimer existem mais três tipos de proteína tau, que são anormais, elas são hiperfosforilizadas e responsáveis pela formação dos emaranhados neurofibrilares intracelulares que bloqueiam o fluxo axonal. Gil (2014; apud GUIMARÃES C; et al., 2018) complementa que as placas senis sequestram proteínas tau dos microtúbulos que formam a estrutura citoesquelética neuronal, desestabilizando a célula. De acordo com Ritchie e colaboradores (2017; apud GUIMARÃES C; et al., 2018) a proteína beta-amilóide é produzida principalmente por neurônios, secretada no líquido cefalorraquidiano, removida pela barreira hematoencefálica e então degradada pelo sistema retículoendotelial; portanto percebemos o equilíbrio dessas relações. No caso do Alzheimer a proteína forma um composto amiloide insolúvel e permanece em tecido intraparenquimatoso, ou seja, não é secretada no líquor. 40 Gil (2014; apud GUIMARÃES C; et al., 2018) continua com a pontuação de que os processos descritos afetam o sistema colinérgico, a serotonina e a norepinefrina. Esse argumento corrobora com os escritos de Hamdan (2008; apud GUIMARÃES C; et al., 2018), que explicita a diminuição da atividade da acetilcolinesterase, diminuição dos níveis de acetilcolina para Gil (p. 247, 2014; apud GUIMARÃES C; et al., 2018), a acetilcolina tem sua síntese ativada pela proteólise "normal" da proteína precursora amiloide, podendo explicar o déficit e perda da atividade da enzima colinoacetiltransferase. Essas alterações no sistema colinérgico, nos terminais axonais provenientes do nível do núcleo basal de Meynert, afetam diretamente o hipocampo, principal responsável pela memória, que por sua vez é a principal queixa na Doença de Alzheimer. Conforme Gil (p. 245, 2014; apud GUIMARÃES C; et al., 2018), segue abaixo áreas de comprometimento da degeneração da doença Alzheimer: A degeneração neurofibrilar onde progride no sistema nervoso central em dez estágios sequenciais: (S1) transentorrinal, (S2) entorrinal (sendo que esses dois estágios atingem o giro para- hipocâmpico); (S3) hipocampo; (S4) polo temporal; (S5) temporal inferior; (S6) temporal médio; (S7) córtex associativo multimodal (pré-frontal, parietal inferior, temporal superior); (S8) córtex unimodal; (S9) córtex primário motor e sensitivo; (S10) conjunto do isocórtex. Essa progressão, segundo Petersen (2014; apud GUIMARÃES C; et al., 2018), resulta em atrofia cortical e expansão ventricular 41 Fonte: pucrs.br Há alguns fatores de risco estabelecidos na literatura e outros que são variáveis
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