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Realismo - Brasil

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UM BRASIL EM CRISE
Na segunda metade do século XIX, o Brasil enfrenta um cenário de crise. O fim 
do tráfico negreiro, em 1850, acelera a decadência da economia açucareira e anuncia 
a ruptura definitiva do regime escravocrata. As discussões sobre a abolição dos 
escravos não afetam somente os grandes latifundiários, que dependiam dessa mão de 
obra para plantar e colher. 
As instituições políticas também são abaladas, porque a ala progressista ganha 
força para se opor à mentalidade conservadora dos escravocratas. Essa instabilidade 
institucional atinge a economia, a política e ameaça até o imperador D. Pedro II, com 
o início da propaganda republicana. O quadro é agravado quando o país se envolve 
na Guerra do Paraguai
Panorama geral do Realismo 
• Ocorre na 2.ª metade do século XIX
• Caracteriza-se pela abordagem objetiva da realidade e pelo interesse por 
temas sociais, reagindo ao subjetivismo romântico.
• Manifestações literárias em prosa: romance social, psicológico (psicológico 
do ser humano daquele período, seus comportamentos) e de tese (cria teses 
para a postura da sociedade daquela época).
• Critica à sociedade do momento.
• O pensamento filosófico que exerce mais influência no surgimento do 
Realismo é o Positivismo, que analise a realidade através das observações e 
constatações racionais.
CARACTERÍSTICAS
• Objetividade no compromisso com a verdade.
• Predomínio da razão.
• Observação, análise e denúncia dos males sociais.
• Criação do romance de análise (Realismo).
• Critica: burgueses, adultério.
Características 
• Reprodução da realidade observada.
• Personagens baseadas em indivíduos comuns.
• Lei da causalidade: toda ação tem uma reação.
• Exposição das condições sociais e culturais das personagens.
UM BRASIL EM CRISE
As bases sociais que sustentavam a ideologia romântica 
desaparecem. O pensamento burguês mais conservador, que 
assumira o poder econômico, entra em confronto com os anseios 
de uma classe média cada vez mais numerosa. 
A sociedade precisava de novos intérpretes para essa 
realidade. É Machado de Assis quem desenvolve um novo olhar 
para a sociedade do Segundo Império, esboçando de modo 
revelador e impiedoso seu retrato mais fiel.
REALISMO NO BRASIL 
O Realismo no Brasil teve seu início, oficialmente, em 1881, com a 
publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de seu mais célebre 
autor, Machado de Assis. Esta escola só entra em declínio com o surgimento 
do Parnasianismo, por volta de 1893. Com a introdução do estilo realista, 
assim como do naturalista, o romance, no Brasil, ganhou um novo alcance, a 
observação. Começou-se a escrever buscando a verdade, e não mais para 
ocupar os ócios dos leitores
Autor destaque
Machado de Assis
Sua extensa obra constitui-se de nove 
romances e peças teatrais, duzentos 
contos, cinco coletâneas de poemas e 
sonetos, e mais de seiscentas crônicas. 
Machado de Assis é considerado o 
introdutor do Realismo no Brasil, com a 
publicação de Memórias Póstumas de Brás 
Cubas (1881).
MARCOS LITERÁRIOS
• INÍCIO – Publicação, em 1881, de Memórias póstumas 
de Brás Cubas, de Machado de Assis (Realismo), e O 
mulato, de Aluísio Azevedo (Naturalismo). 
• FIM – em 1893, com o Parnasanismo 
FASES DE MACHADO DE ASSIS 
• 1. Primeira fase (romântica). Embora já trabalhasse muitos de 
seus temas presentes na fase realista, como a hipocrisia dos 
personagens, a valorização das aparências (em detrimento da 
essência) e os interesses financeiros, Machado de Assis 
apresentou em seus primeiros romances traços típicos da estética 
romântica, sobretudo em relação à estrutura formal. Pertencem a 
essa fase Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena 
(1876) e Iaiá Garcia (1878).
ROMANCES REALISTAS: MELANCOLIA E SARCASMO
A obra da segunda fase machadiana é composta pelos romances Memórias 
póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro 
(1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). A trama de todos 
desenvolve-se durante o Segundo Reinado, tendo como cenário a cidade do 
Rio de Janeiro, capital do Império. 
Os romances da segunda fase machadiana concentram-se na falsidade da 
vida depois do casamento, marcado pela traição. A insistência nesse tema 
parece ter origem no pessimismo do autor, que vê as relações humanas sempre 
motivadas por interesse. Tal visão faz com que as personagens, reflexo das 
camadas dominantes, busquem o proveito próprio, sem espaço para as ações 
desinteressadas.
OBRAS 
Os recursos estilísticos
● O narrador não confiável, que ilude, provoca, desconcerta o 
leitor, em “conversas” em que muitas vezes ironiza suas 
expectativas, por exemplo, no caso das leitoras românticas. 
● As reflexões metalinguísticas, que fazem a crítica da 
linguagem e da estrutura da narrativa tradicional, e 
questionam o próprio processo de criação literária, ao longo 
de seu desenvolvimento.
● A quebra da linearidade do enredo
Os recursos estilísticos
● O humor sutil e permanente, destruindo as ilusões 
românticas.
● Presença da ironia. 
● A linguagem sutil, ambígua, de múltiplos sentidos.
● Mantém uma conversa direta com o leitor.
● Microcapítulos digressivos, que explicam outros capítulos e 
dão pistas para a sua leitura. 
A metalinguagem
 “Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, 
porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão.”
“ Releva-me estas metáforas; cheiram ao mar e à maré que deram morte 
ao meu amigo e comborço Escobar.”
“D. Sancha, peço-lhe que não leia este livro; ou, se o houver lido até aqui, 
abandone o resto.”
“Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver 
outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo.”
Machado de Assis: um cético analisa a 
sociedade
Com Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis 
profetiza a construção de um Realismo diferente daquele que 
surgiu com Flaubert e chegou ao Brasil com os romances de Eça de 
Queirós. Como avisou no prólogo, seu livro “é taça que pode ter 
lavores de igual escola, mas leva outro vinho”. 
Memórias Póstumas de 
Brás Cubas
o Capítulos muito curtos. (às vezes metade de uma página)
o Ao criar um narrador que resolve contar sua vida depois de 
morto, Machado de Assis muda radicalmente o panorama 
da literatura brasileira, além de expor de forma irônica os 
privilégios da elite da época. 
o A obra possui dois tempos: o psicológico e o cronológico
o Espaço – Rio de Janeiro
o Narrador – 1.ª pessoa.
o Ceticismo e pessimismo: dedicatória ao verme.
Personagens 
• Brás Cubas: Ele é o narrador-protagonista, ou o “defunto autor”, como 
se define; um morto que decide retratar suas memórias de uma forma 
irônica. É dessa posição que ele julga a vida humana.
• Virgília: Mulher do político Lobo Neves e amante do protagonista. Ela 
teve a oportunidade de se casar com Brás Cubas, mas optou por se 
tornar esposa de um homem influente e, ao mesmo tempo, manter um 
relacionamento clandestino com o antigo namorado.
• Quincas Borba: Amigo de Brás Cubas, ele cria a filosofia do 
humanitismo.
Personagens 
• Eugênia: Garota claudicante beijada pelo protagonista e depois 
desprezada por ele.
• Marcela: Garota de programa com quem Brás teve um caso quando era 
jovem.
• Cotrim: Marido de Sabina, irmã de Brás Cubas. Ele é um sujeito grosseiro 
na forma de lidar com os escravos.
• Nhã Loló: Ela é da família de Cotrim. Sabina faz de tudo para seu irmão 
se casar com ela, mas a jovem morre antes da cerimônia.
• Dona Plácida: Ex-serviçal de Virgília, ela encobre o relacionamento 
marginalizado entre o protagonista e Virgília.
As afrontas de um “defunto autor”
Costuma-se dizer que o ano de 1881 marca o início do Realismo 
no Brasil, porque foi nessa data que Machado de Assis publicou 
Memórias póstumas de Brás Cubas, que promoveu uma ruptura 
radical com o “modelo” romântico de narrativa. 
O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador 
protagonista que se apresenta, no primeiro capítulo, como um 
“defunto autor”. O contextonarrativo criado é, portanto, 
surpreendente: um morto, cansado da vida eterna, resolve escrever 
suas memórias “póstumas”
As afrontas de um “defunto autor”
O estilo machadiano aparece bastante alterado nessa obra. 
Machado de Assis abandona a preocupação com o 
desenvolvimento de uma história central e cuida de apresentar 
uma série de episódios ilustrativos da vida de Brás Cubas. 
A história não tem nada de excepcional. Na verdade, o que 
merece estudo e atenção é a composição detalhada e atenta das 
personagens
O menino é pai do homem [...] Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino 
diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, 
indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, 
porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o 
malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à 
minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. 
Prudêncio, um moleque da casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, 
recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na 
mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas vezes 
gemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao 
que eu retorquia: — “Cala a boca, besta!”
O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, — 
vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, 
domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor. 
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. 
p. 87-90. (Fragmento).
OBSERVE QUE 
É impressionante observar a arrogância e a prepotência que 
constituem os traços fundamentais do caráter de Brás Cubas. 
Diferentemente do que se esperaria de um narrador protagonista, 
ele revela os piores traços de sua personalidade, “liberado” das 
consequências por sua cômoda posição de defunto autor, que não 
tem mais nada a perder porque já está morto. A frase final explica o 
título “O menino é pai do homem”: seu caráter se formou em um 
contexto familiar que favorecia comportamentos prepotentes. 
IMPORTANTE 
O realismo machadiano é diferente dos outros, foge da crítica 
direta e fácil. De modo engenhoso, surpreende com um retrato fiel 
e sem retoques de um membro da elite brasileira. Ao apresentar 
Brás Cubas em toda a sua desfaçatez e arrogância, o que se percebe 
é que esse era o comportamento daqueles que ocupavam as altas 
posições em nossa sociedade. Através dele, o leitor é forçado a 
encarar, sem atenuantes, o retrato de sua própria miséria humana.
Dom Casmurro
❖ Publicado em 1900, Dom Casmurro é narrado em 
primeira pessoa. Bentinho conta a sua própria história, 
a partir de um flashback da velhice para a 
adolescência.
❖ Confirma o olhar certeiro e crítico que o autor estendia 
sobre toda a sociedade brasileira. Também a temática 
do ciúme, abordada com brilhantismo nesse livro, 
provoca polêmicas em torno do caráter de uma das 
principais personagens femininas da literatura 
brasileira: Capitu.
Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um 
desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me 
reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o 
mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as 
indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as 
mesmas alcovas e salas. [...] O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, 
uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há 
aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, 
não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. 
Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde, mas 
falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se 
põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o 
interno não aguenta tinta. 
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. 32. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 14. (Fragmento).
DOM CASMURRO: OS MISTÉRIOS DA ALMA HUMANA
O texto que você acabou de ler faz parte do segundo capítulo do romance 
Dom Casmurro. Nele, o narrador, Bento Santiago, procura explicar a seus 
leitores a razão de ter decidido escrever um livro sobre sua vida. 
Bento confessa ter tentado reconstituir a adolescência na velhice por meio 
da construção de uma réplica perfeita da casa onde passou sua infância. A 
estratégia fracassou: ele não é mais a mesma pessoa que viveu dias felizes na 
casa de Matacavalos (“Se só me faltassem os outros, vá; [...] mas falto eu 
mesmo, e esta lacuna é tudo”).
DOM CASMURRO: OS MISTÉRIOS DA ALMA HUMANA
Essas palavras iniciais do narrador são pistas valiosas para a 
compreensão do projeto narrativo a que se dedica Bento Santiago: 
provar para o leitor do romance que sua felicidade foi destruída 
pela traição cometida pela esposa Capitu e pelo amigo Escobar. 
Sua personalidade começa a transparecer nas primeiras 
revelações que faz sobre a vida que leva: solitário, sem amigos, em 
meio às recordações de um passado que busca reconstituir. O 
isolamento em que vive e a postura algo arrogante valeram-lhe o 
apelido de “dom casmurro”, como ele mesmo esclarece ao explicar 
o título da obra
A DESTRUIÇÃO COMPLETA DO INDIVÍDUO
De modo bastante resumido, Dom Casmurro conta a história de 
um homem completamente perturbado por um sentimento 
mesquinho: o ciúme. 
A questão básica é: até que ponto a narrativa de um homem 
certo de ter sido traído pela esposa é confiável? Como saber o que 
de fato aconteceu entre Capitu e Escobar (se é que houve mesmo 
um envolvimento amoroso entre ambos)? Apenas Bento Santiago, 
amargurado e só, decide o que deve ou não ser relatado ao leitor.
Por que Bentinho acha que Capitu o 
traiu?
A desconfiança de Bentinho com Capitu sempre foi presente no romance, desde o 
começo, quando ainda eram crianças. Um dos motivos mais fortes que levaram 
Bentinho a se afastar de Capitu foi o fato de ele achar que seu filho, Ezequiel, fosse, 
na verdade, filho de seu amigo, Escobar, em virtude de uma semelhança na aparência 
e nos modos de agir.
Além disso, Bentinho e Capitu tiveram muita dificuldade para engravidar, 
tentando por anos até que conseguissem. Atrelado a essas desconfianças, houve uma 
ocasião em que Bentinho, ao chegar da ópera que havia ido só, encontrou, por acaso, 
Escobar na porta de sua casa, o que se somou as suas desconfianças de que, de fato, 
Ezequiel era filho de Escobar.
A defesa de Capitu
Capitu, apesar de se mostrar muito esperta e astuta, jamais deu indícios reais de 
que estaria com Escobar. Os acontecimentos que pautaram as desconfianças de 
Bentinho são ambíguos e, por isso, não há como defender nem Capitu nem Bentinho.
No entanto, é possível presumir que alguns desses casos de desconfiança sejam 
frutos de uma má interpretação por parte de Bentinho, tais como a demora para 
engravidar, que poderia ser justificada como um problema congênito, tendo em vista 
que Dona Glória também demorara para engravidar de Bentinho; ou como o garoto 
assemelhava-se aos modos de Escobar, o que poderia ser uma brincadeira de criança, 
tendo em vista que o garoto tinha esse costume de imitar; a fisionomia parecida 
poderia ser o acaso, tal qual a semelhança entre Capitu e a mãe de Sancha, que nada 
tinham de parentesco e, aindaassim, pareciam-se.
Afinal, Capitu traiu ou não traiu 
Bentinho?
Várias conjecturas são possíveis nesse clássico romance 
brasileiro de Machado de Assis: Bentinho pode ter razão em suas 
desconfianças, assim como Capitu pode não ter traído Bentinho. As 
circunstâncias apresentadas no romance não são capazes de 
confirmar nada, pois se trata de uma história contada pelo próprio 
personagem: não há outro ponto de vista que não o do próprio 
Bentinho.
ASSIM...
Assim, a grande questão do livro deixa de ser se Capitu 
cometeu ou não adultério. O que importa é perceber como 
Machado retrata, de modo extraordinário, o 
comportamento de um homem completamente 
transtornado pelo ciúme.
Otelo em Dom Casmurro
Machado não deixa claro em “Dom Casmurro” se Capitu é inocente ou culpada, o 
que até hoje provoca discussões apaixonadas, mas Helen Caldwell é de tal forma 
convincente que o leitor não pode deixar de ver em Capitu uma autêntica Desdêmona 
brasileira e, portanto, inocente. Capitu não morre como Desdêmona, mas seu 
banimento assemelha-se a uma morte em vida. Machado deu ao capítulo LXII de 
“Dom Casmurro” o título de “Uma Ponta de Iago”, pelo ciúme sofrido por Bentinho 
em razão do comentário mordaz do agregado José Dias sobre Capitu: “Tem andado 
alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar um peralta da 
vizinhança, que case com ela…” 
OS CONTOS: O EXERCÍCIO CRÍTICO EM NARRATIVAS 
CURTAS
Os contos de Machado de Assis constituem pequenas obras-primas da 
literatura brasileira. Das várias coletâneas, quatro se destacam: Papéis avulsos 
(1882), Histórias sem data (1884), Várias histórias (1896) e Relíquias de casa 
velha (1906)
“Missa do Galo”, por exemplo, apresenta a sedução de um jovem por uma 
mulher mais velha. Nesse conto, Machado revela toda a sua capacidade de 
tratar do erotismo sem apelar para descrições de natureza sexual, algo que 
criticava ferozmente nos romances de Eça de Queirós.
Outro exemplo de maestria é “O alienista”, narrativa que obriga o leitor a 
olhar de modo crítico para o fervor científico que dominou a sociedade na 
segunda metade do século XIX.
Quincas Borba
Quincas Borba é um romance do escritor 
brasileiro Machado de Assis. Publicado entre 
1886 e 1891 na Revista Estação, a obra é 
composta de 201 capítulos curtos.
Ela faz parte da trilogia realista do escritor, 
ao lado de Memórias Póstumas de Brás 
Cubas e Dom Casmurro.
Personagens da obra
• Rubião: professor, enfermeiro e protagonista da história. Ele é o 
herdeiro do filósofo Quincas Borba.
• Cristiano Palha: esposo de Sofia e suposto amigo de Rubião, mas que 
afinal está somente interessado em sua fortuna.
• Sofia Palha: esposa de Cristiano e que por fim, fica interessada em 
Carlos Maria. Ela apoia o marido em suas ações.
• Carlos Maria: homem que desperta o interesse de Sofia e que por fim, 
casa-se com sua prima.
• Maria Benedita: prima de Sofia e esposa de Carlos Maria.
• Camacho: advogado, político e falso jornalista que também se aproveita 
da fortuna de Rubião.
Resumo da obra
O título do livro está relacionado com o filósofo Quincas Borba, que 
logo no início da história falece. Com a morte dele, Pedro Rubião de 
Alvarenga, discípulo do filósofo e seu enfermeiro particular, é agraciado 
com uma grande herança.
Resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, num palacete no Botafogo. 
Antes, ele vivia numa fazenda na cidade mineira de Barbacena. Além 
disso, Rubião fica encarregado de cuidar do cão de seu amigo, que 
também se chamava Quincas Borba.
Sendo assim, a obra narra a história de Rubião, ex-professor primário 
e enfermeiro, que resolve mudar sua vida provinciana passando a viver 
na cidade. Durante sua trajetória, ele conhece o casal Palha: Cristiano e 
Sofia. A partir disso, ele começa a ter contato com diversas características 
que o levam a se tornar um “professor capitalista”.
Resumo da obra
Isso porque na sua ingenuidade, que estava ligada a vida simples que levava, 
Rubião foi visto como uma pessoa que facilmente poderia ser ludibriada. Assim, 
passa a conviver com seus novos “amigos”, o casal Palha.
Extasiado pela beleza e meiguice de Sofia, Rubião acaba por se interessar 
pela moça. Num momento, ele revela seu amor, porém é rejeitado pela 
personagem. Fiel a seu marido e suas ações, Sofia conta a Cristiano.
Mesmo sabendo, ele continua a relação com Rubião, uma vez que tinha 
interesses maiores, relacionados com sua fortuna.
Triste com a decisão de Sofia, Rubião, aos poucos, vai sendo acometido pela 
loucura. Ele crê ser Napoleão III e repete incessantemente a máxima de seu 
amigo falecido Quincas "Ao vencedor, as batatas".
Por fim, Rubião foge para Barbacena e ali morre ele e o cão. Por outro lado, o 
casal Palha tornam-se ricos.
A crítica
• Afinal, a história de Rubião confirma a filosofia de Quincas Borba. Sofia e seu 
marido não fazem mais do que seguir a máxima segundo a qual “Humanitas precisa 
comer”. Eles seguem à risca essa prescrição, alimentando-se da fortuna e da 
credibilidade de Rubião. Os espólios da guerra se destinam aos vitoriosos, segundo 
outra máxima da filosofia, “Ao vencedor, as batatas” – a frase pronunciada por 
Rubião pouco antes de morrer. Este, por sua vez, é o derrotado justamente por 
representar o anti-Humanitas: nada em sua vida foi conseguido com luta, mas por 
acaso. Sua loucura gradativa – a mesma, aliás, que assolou o filósofo – é a 
confirmação do destino de quem acreditou excessivamente na aparência, Rubião 
morreu acreditando-se Napoleão III.

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