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INTERTEXTO, BERTOLD BRECHT

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# 61
Seja bem-vindo ao Literatura Oral, podcast de leitura comentada e de sugestões literárias. Eu sou Sabrina Siqueira, jornalista com doutorado em literatura. 
Tô escrevendo este roteiro em 8 de agosto de 2021, dia em que terminam as Olimpíadas de Tóquio. Ficam duas lições importantes desse evento. Primeiro, que quando brasileiros têm oportunidades, quando pessoas conseguem oportunidade, por menor que seja, fazem muito, surpreendem, fazem bonito. As pessoas precisam e merecem oportunidades. Segundo, que saúde mental, saúde psicológica é tão importante quanto saúde física. E que tá muito errado forçar os limites da tua saúde pra fazer o que as pessoas esperam de ti. 
Eu fico contente que gente sem noção, que teve oportunidade de se vacinar e não fez a vacina, tenha perdido na sua modalidade. Só não entendo como foram admitidos no Japão pra competir. Como o Comitê Olímpico não tinha esse critério como pré-requisito. Gente, não façam como medina sem vacina, vacinem-se! E usem máscara! E reflitam sobre em quem vão votar! E quanto a atletas da seleção masculina de vôlei que postaram elogios ao genocida naro, já pisaram na quadra derrotados. Quem é otário de elogiar alguém como naro, é derrotado fora da quadra. É um fracasso como ser humano. Só espero que o naro não use as vitórias pra se promover, porque esse governo não ajuda esporte nem ciência. É bom lembrar que atleta não brota nas Olimpíadas. Eles, assim como os cientistas, os pesquisadores de todas as áreas, vivem naqueles 4 anos entre um evento olímpico e outro. E pra viver eles moram, comem, vestem, pagam impostos, usam medicamentos, e tudo isso custa dinheiro. 
Aqui no Literatura Oral a proposta é ler criticamente os textos literários pra que a gente exercite essa habilidade pros textos e ações do dia a dia. Por exemplo, o presidente da câmara dos deputados, Arthur Lira, decidiu levar a pauta do voto impresso para votação no plenário da câmara, mesmo essa pauta tendo sido rejeitada em comissão especial da própria câmara. E mesmo a pauta representando um retrocesso, mais gastos e uma sandice sem tamanho. Vamos interpretar a ação do Arthur Lira. Por qual motivo ele continua dando holofotes pra pauta, que já foi rejeitada? Quem sugeriu a pauta? O naro. Então Lira toma uma atitude que agrada naro. Lembra que em fevereiro naro apoiou Lira na eleição pra câmara. E aí, será que esses dois fatos estão relacionados? Será que Lira deve obediência a naro pelo apoio na eleição da câmara? Faz sentido seguir com o assunto do voto impresso, com tanto assunto importante e urgente pra tratar? Ó, tem uma propaganda espalhando informação falsa de que privatizar os correios vai ser bom. É mentira e vai ser péssimo pra quem é pobre, ou seja, todos nós. Te liga!
No último episódio, li o conto “O homem do furo na mão”, de Ignácio de Loyola Brandão. Hoje vou ler o poema “Intertexto”, de Bertold Brecht. Provavelmente eu to pronunciando errado esse sobrenome, mas... ah, por falar em pronunciar errado, no episódio #59 eu li uma crônica de Ana Paula Tavares e falei na importância da oralidade em Angola, e nas figuras dos contadores de histórias, e falei griot. Depois fiquei sabendo que a pronúncia correta é griot. Claro, faz todo sentido que o T seja mudo. Então tá corrigido, os anciãos e sábios que contam as histórias do povo embaixo da sombra das árvores, em Angola, são os griots. 
Bertold Brecht foi um dramaturgo e poeta alemão, que nasceu em Augsburg, em 1898, e morreu em Berlim Leste, quando o país ainda era dividido, em 1956, com apenas 58 anos. Dia 14 de agosto agora será 65 anos de sua morte. Ele influenciou muito o teatro contemporâneo, propondo estranhamento. 
O tipo de peças que ele escreveu e dirigiu foram chamadas de “Teatro épico”, e são assentadas em experimentos e na crítica artística ao desenvolvimento das relações humanas no sistema capitalista. Brecht se torna adepto da teoria marxista nos anos 1920. Que que é isso? O nome marxismo vem do filósofo alemão Karl Marx, que cunhou, junto com Friedrich Engels, esse método de análise socioeconômica sobre as relações de classe e conflito social. O marxismo engloba uma teoria econômica, uma teoria sociológica, um método filosófico e uma visão revolucionária de mudança social.
Brecht estudou medicina e trabalhou como enfermeiro, em Munique, durante a 1ª GM e muito de sua obra tem como mote a guerra. Quando Hitler é eleito, em 1933, ele sai da Alemanha e se exila em diferentes países. Ele entendia que o teatro tem uma função social, e que pode ser uma forma de as pessoas se politizarem, entenderem os mecanismos que controlam a sociedade. Falando assim pode parecer que as peças dele são complexas, difíceis de entender, mas não. São profundas, mas em algumas personagens ocorre humor. Uma das influências estéticas de Brecht foi o cinema mudo de Charles Chaplin, daí a importância do gestual, do humor e da ironia em seu teatro. Sendo que humor não se opõe ao sério, mas realça a seriedade dos temas, por contraste. A minha tese foi sobre isso e eu adoro esse tema. 
O teatro épico de Brecht é marcado por interrupções de cena, pessoas passando com um letreiro, ou começa uma música que não tinha nada a ver com o roteiro. Essa é uma forma do autor chamar a atenção do público para o fato de que está assistindo a uma construção artística, e alertar para mudanças no ambiente social. 
O teatro épico difere do teatro clássico aristotélico. Para Aristóteles, o teatro corresponde ao gênero literário dramático, e se divide em tragédia e comédia. Sendo a tragédia para representar os homens melhores do que são, e a comédia para representá-los piores. E tá aí porque eu não uso o conceito de comédia de Aristóteles nos meus estudos de humor. É muito limitado. Pra Aristóteles, o personagem ou o espectador buscam expurgar as emoções, realizar uma catarse com esse gênero literário. E no teatro épico não há busca pela catarse, nem divisão dos textos em tragédias e comédias, pois os dois estilos podem coexistir. Walter Benjamin diz que o teatro brechtiniano questiona o caráter de diversão atribuído ao teatro, porque Brecht não se propôs emocionar o público, mas sim colocar o público a pensar. Brecht afasta o público da questão cênica com a finalidade de fazer refletir. 
Vamos à leitura do poema ‘Intertexto”:
VINHETA 
INTERTEXTO
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
VINHETA
Hoje eu li o poema “Intertexto”, de Bertold Brecht, que fala sobre nossa responsabilidade social, sobre autoritarismo, sobre empatia.
Existe uma discussão se esse poema é mesmo do Bertold Brecht. Eu não encontrei o ano de publicação ou em qual livro ele foi publicado. Mas encontrei um texto semelhante do pastor alemão Martin Niemöller, que viveu entre 1892 e 1984 e fez resistência ao nazismo na sua igreja e nos seus discursos. 
Martin Niemöller é o autor do discurso anti-nazista “E Não Sobrou Ninguém”, que diz assim: "Primeiro eles levaram os socialistas e eu não protestei porque eu não era socialista. Depois levaram os sindicalistas, e eu não protestei porque não era sindicalista. Depois eles vieram pelos judeus, e eu não protestei porque não era judeu. Então eles vieram por mim, e já não havia ninguém para protestar por mim”.
Eles eram da mesma geração, o pastor 6 anos mais velho que Brecht. Talvez esse discurso de Niemöller tenha sido a inspiração para Brecht, que adaptou a mensagem e por isso chamou o poema de “Intertexto”, porque dialoga com esse discurso do pastor. Enfim, se tu souber mais sobre essa poesia, sobre a veracidade da autoria, me conta nos comentários. 
O poema fala da importância de nos posicionarmos pelo que é certo, pela liberdade por exemplo,e contra prisões arbitrárias, independente de essa cassação de liberdades estar ameaçando a nós ou a um grupo do qual não fazemos parte, porque quando a liberdade de uma pessoa está ameaçada, toda a sociedade está sob ameaça também. E mais cedo ou mais tarde, pode respingar em quem nem tinha nada com isso. 
Aproveita pra deixar o teu like, te inscreve no canal e faz teu comentário pra eu saber o que tu achou deste episódio. 
Por hoje fico por aqui. Fiquem bem, usem máscara e até o próximo episódio do Literatura Oral.

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