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10 III REALIZAÇÃOAPOIO GRATUITA Esta publicação não pode ser comercializada PROMOÇÃO DA CIDADANIA E DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS PARA A POPULAÇÃO LGBTQIA+ Cláudia Maria Inácio Costa Cin Falchi Ilustração de João Victor Batista Veloso com intervenção de Carlus Campos Ilustração de João Victor Batista Veloso com intervenção de Carlus Campos Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 P967 Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação / vários autores; organizado por Ana Lourdes Maia Leitão; vários ilustradores. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021. 192 p. : il.; 26cm x 30cm. – (Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação ; 12v.) Inclui bibliografia e apêndice/anexo. ISBN: 978-65-86094-76-3 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-84-8 (Fascículo 10) 1. Direitos Humanos. 2. Políticas Públicas. 3. Assistência Social. 4. Drogas. 5. Igualdade Racial. 6. Segurança Alimentar e Nutricional. 7. Proteção à Vida. 8. Direito das Mulheres. 9. População LGBTQIA+. 10. Pessoas com deficiência. I. Leitão, Ana Lourdes Maia. II. Título. III. Série. 2021-1549 CDD 341.4 CDU 341.4 Índice para catálogo sistemático: Direitos Humanos 341.4 Direitos Humanos 341.4 Copyright©2021 Fundação Demócrito Rocha FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência Luciana Dummar Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo Gerência Geral Marcos Tardin Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto Análise de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA, MULHERES E DIREITOS HUMANOS (SPS) Secretária de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS Socorro França Coordenação Técnica PROARES III SPS Maria de Fátima Lourenço Magalhães Gerência Técnica do PROARES III Anete Morel Gonzaga Gerência de Fortalecimento Institucional do PROARES III Selma Maria Salvino Lôbo UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerência Pedagógica Viviane Pereira Coordenação de Cursos Marisa Ferreira Design Educacional Joel Lima Front-End Isabela Marques CURSO PROTEÇÃO SOCIAL: PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCOMUNICAÇÃO Concepção e Coordenação Geral Cliff Villar Coordenação de Conteúdo Ana Lourdes Leitão Revisão Daniela Nogueira Projeto Gráfico, Edição de Design e Coordenação de Marketing Andrea Araujo Design Mariana Araujo, Miqueias Mesquita e Kamilla Damasceno Arte-terapia Joana Barroso Ilustrações Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, com intervenção de Carlus Campos Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 PROMOÇÃO DA CIDADANIA E DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS PARA A POPULAÇÃO LGBTQIA+ 3 POPULAÇÃO LGBTQIA+ E SAÚDE NO BRASIL DIREITOS HUMANOS E A LGBTFOBIA 4 POPULAÇÃO LGBTQIA+ E MERCADO DE TRABALHO 5 DOS DOCUMENTOS OFICIAIS ÀS FRENTES DE AÇÕES REFERÊNCIAS 148 149 150 156 157 159 Ilustração de Júlia Nogueira de Holanda com intervenção de Carlus Campos 1 148 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste o foco e a força motriz para a busca por garantia de direitos para tais sujeitos. Por- tanto, a sigla utilizada hoje para fins de no- menclatura é a LGBTQIA+, que representa um movimento político e social que busca fomentar a garantia dos direitos funda- mentais de cada cidadão e cidadã, respei- tando e reconhecendo a diversidade em torno das orientações sexuais, afetivas e identidades de gêneros. Este fascículo se divide, então, em pontos fundamentais e históricos para a luta LGBTQIA+, iniciando com a discussão sobre as políticas de saúde, pensando-a como um Direito Humano básico e sendo este o ponto de partida histórico da or- ganização política das populações LGB- TQIA+. Em seguida, trataremos sobre os direitos e a LGBTfobia no Brasil, elemento importante para compreendermos a vio- lência e o acesso aos direitos fundamen- tais de cidadania da população LGBTQIA+. Em consonância ao acesso aos direitos, será tratado sobre a configuração do mer- cado de trabalho para a população LGBT- QIA+ e, em seguida, os documentos legais que balizam as ações e luta por direitos. A o falarmos sobre população LGBTQIA+ no Brasil, muitas questões nos são tensionadas, especialmente no campo da ci- dadania e direitos humanos. Ao contrário do que o senso comum muitas vezes apre- goa, a luta por direitos por parte desta po- pulação é um capítulo longo e de muitos anos na nossa história, tendo seu marco nas décadas de 1960 e 1970, não por aca- so, décadas marcadas por movimentos que reivindicavam a ampliação dos direi- tos sociais e civis de populações até então excluídas do conceito de cidadania. INTRODUÇÃO É importante apresentar já aqui o porquê da várias letras e significados das siglas. Desde que os movimentos começaram a tomar forma e organizar-se, houve uma prevalência das nomenclaturas gays e lésbicas, já mais organizados politicamente. Contudo, outras represen- tações foram se formando, organizando e somando forças ao movimento. Não há de se romantizar e pensar que houve consenso desde o princípio, mas, desde a década de 1990, há um esforço para que o movimento represente toda a diversidade que existe nele, sendo essa diversidade Ilustração de Júlia Nogueira de Holanda com intervenção de Carlus Campos 2 Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 149 PROMOÇÃO DA CIDADANIA E DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS PARA A POPULAÇÃO LGBTQIA+ O contexto de lutas da popula-ção LGBTQIA+ aqui no Brasil seguiu uma onda que se ar-refeceu com um marco histó- rico, necessário para se pensar as lutas e construção de movimentos dessa po- pulação, que é Stonewall ou a Revolta de Stonewall, que merece um momento para sua explicação. Stonewall Inn, era um bar de Nova Ior- que frequentado, principalmente, por tra- vestis, gays afeminados, lésbicas masculi- nas, michês, drags, negros e LGBTs pobres (QUINALHA, 2019). Representavam, dessa forma, um conjunto da população excluí- da dos direitos de cidadania nos Estados Unidos e em todo o mundo. Estamos fa- lando de 1969, período em que iniciava o arrefecimento das lutas da população ne- gra americana em busca da conquista por reconhecimento de seus direitos civis e políticos. Após uma violenta ação da polí- cia direcionada aos frequentadores deste bar, como reação, eclode-se uma revolta espontânea, protagonizada pelos sujeitos que iam àquele bar e que, sem qualquer acusação,foram presos e violentados pela polícia. Desta revolta espontânea, causada pela ação de um ente do estado que não reconhecia a cidadania daqueles sujeitos, explodiram manifestações em prol das liberdades e direitos das pessoas LGBTs1. No entanto, Stonewall não é o iní- cio do movimento LGBT; as associações e 1 Neste momento histórico, a sigla utilizada ainda era a que dava conta de gays, lésbicas e travestis; portanto, a escrita se organizará a partir dos usos históricos das siglas. movimentos já existiam, especialmente os de homens gays. As lutas feministas, luta do movimento negro, juventudes e as lutas por liberdade sexual, que se construíam desde a década de 1950, são marcos importantes para a organização de tais movimentos. Em termos de organização política, po- demos apontar como o grande momento as décadas de 1970 e 1980, por causa de um fato importante ligado à saúde pública: Ilustração de Júlia Nogueira de Holanda com intervenção de Carlus Campos 3 150 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste a epidemia da aids2. Tendo esta epidemia uma marca do preconceito (pois todos a associavam a uma “doença de gays”), organizar-se politicamente era necessário para garantir acesso ao direito à saúde e à própria vida. Tal movimentação se faz em torno da negação de um direito humano básico ao ser humano: a vida. Desse modo, podemos compreender a epidemia tanto do ponto de vista biológico como “uma construção social” (MISKOLCI, 2017). A aids passa por um processo de construção cultural, em que se faz atrelada ao com- portamento sexual imprimido por certos indivíduos, pois passa a ser reconhecida como uma doença sexualmente transmis- sível (DST)3, colocando no foco grupos de indivíduos que não seguiam a ordem sexu- al historicamente vigente. Nesse sentido, as construções sobre a doença, a forma como a sociedade a encarou (encara) e mitos construídos em torno das suas vi- vências e formas de contágio acabam por nutrir uma “resposta conservadora à Re- volução Sexual” (MISKOLCI, 2017) em cur- so tanto no Brasil como em todo o mundo. Podemos afirmar, então, que a aids foi um elemento que catalisou as lutas dos movimentos gays, lésbicos e de travestis (especialmente), como forma de se con- trapor à investida conservadora contra tais grupos, que tinham na resistência política a via para denúncia contra os ataques aos seus direitos fundamentais de existência. 2 Termos referenciados a partir dos documentos da UNAIDS, 2017. 3 Atualmente a nomenclatura e sigla utilizadas são: In- fecções Sexualmente Transmissíveis – IST. Tal denomi- nação passou a ser utilizada a partir de 2016, quando da publicação do Decreto nº 8.901/2016 publicada no Diário Oficial da União em 11.11.2016, em que orienta a substituição e apresenta a justificativa de que o ‘D’ (doença) se refere a sintomas e sinais perceptíveis no indivíduo, ao passo que ‘I’ (infecções) podem ser assin- tomáticas ou manter-se por períodos assintomáticos, porém possíveis de serem transmitidas. POPULAÇÃO LGBTQIA+ E SAÚDE NO BRASIL Na análise documental da legislação brasileira sobre a área saúde e legislações do Brasil, no que diz respeito às políticas públicas para LGBTQIA+, podemos observar que o cenário legal do Sistema Único de Saúde (SUS) está mais bem ancorado em decretos, planos e políticas nortea- doras de ações que visem à promoção e às estratégias para que tal promoção possa ser implementada, do que a área do trabalho, enquanto empregabilidade, por exemplo. Por mais que haja a interconexão das áreas para que possa exis- tir o acesso integral e pleno à cidadania e defesa dos direitos hu- manos, é importante ressaltar que cada área de atuação é formada por especificidades que carecem de ações próprias para a manu- tenção e o acesso de grupos heterogênicos, o que faz com que as práticas precisem ser pensadas a partir de suas especificidades. Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 151 Também é importante ressaltar esse ponto nevrálgico, pois, quando evidencia- mos as ações voltadas para a população LGBTQIA+, não estamos procurando ou gerando privilégios em detrimento a ou- tras populações. Ao contrário, quando go- vernamentalmente as especificidades são acolhidas, o que temos é um cenário de acesso e manutenção de políticas públi- cas para todos os públicos possíveis, ob- servando as distintas ofertas necessárias para que haja, efetivamente, promoção dos serviços de maneira a atender a maior promoção de serviços com ampliação quantitativa e qualitativa, privilegiando um atendimento humanizado da deman- da pública, visando a uma qualidade sem- pre maior nesses atendimentos. Pensando a partir dessa linha de racio- cínio, o SUS explana, a partir de sua Polí- tica Nacional de Saúde Integral de LGBT uma caminhada em prol de valorizar e amparar a população que se encontra in- clusa nesse grupo. Temos, portanto, uma ampla documentação que foi revisitada e reformulada durante anos para que os atendimentos e acesso possam estar em consonância com o cenário atual popu- lacional e suas demandas. No entanto, essa afirmativa documental não implica, necessariamente, acesso real e amplo. Também não significa que não haja ações ocorrendo para que o acesso e a manu- tenção das práticas da saúde sejam ofer- tados e oferecidos. Mas tais práticas per- manecem em um local de aprendizagem e desenvolvimento no Brasil. No que diz respeito a marcos legais, temos em 2006 uma primeira inserção no SUS que evidencia a busca por um aten- dimento mais humanizado. Nesse ano, a Carta dos direitos dos usuários de saúde in- troduziu o direito ao uso do nome social para travestis e transexuais, e essa movi- mentação resultou na Portaria nº 1.802 de 2009, no artigo 4 inciso I. Uma ação como essa respeita a dignidade humana e colabora para o acesso em maior escala da população trans na área da saúde. Outro documento que ampara e busca colaborar com a disseminação dos aten- dimentos para essa população é o que institui o processo transexualizador, for- mulado em 2008 e ampliado e redefinido em 2013 a partir da portaria 2803/2013. Nessa portaria procedimentos como hormonização, cirurgias de modificação corporal e genital e o acompanhamento multiprofissional tornam-se acesso per- mitido para toda a população trans, e não apenas para mulheres trans, como estava previsto em 2008. Assim, abarca homens trans, mulheres trans e travestis, aumentando sua oferta à saúde. Vale ressaltar que tais procedimentos ainda não são ofertados em todos os es- tados brasileiros, podendo ser encontra- dos apenas nas cidades de Porto Alegre, Goiânia, Recife, São Paulo e Rio de Ja- neiro. O mais alarmante é que, para ter o acesso efetivo a tal processo, há uma fila de espera de mais de dez anos. Em 2012 é redigido o Plano Operati- vo da Política Nacional de Saúde Integral, com gerência e revisitação programada de 2012 a 2015. Esse primeiro plano já de- limita estratégias para gestões em todos os âmbitos, federal, estadual, municipal e Distrito Federal, e traz em seu norte a ne- cessidade de uma articulação intra e inter- setorial na transversalidade para o desen- volvimento de tais políticas públicas. Ilustração de Beatriz Vazzoler Villar com intervenção de Carlus Campos 152 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste e bissexuais, por exemplo, não eram, ne- cessariamente, atendidas em suas especi- ficidades, e não eram contabilizadas para fins estatísticos. Não havendo o aporte estatístico nacional, há uma maior difi- culdade e possibilidade de estratégias a serem desenhadas assim como de planos serem efetivamente concretizados. Essa questão, até hoje, é uma luta que os mo- vimentos sociais LGBTQIA+ realizam, com um olhar em especial às movimentações trans, em busca das demandas que solici- tam acesso e atendimento. Em continuidade à Política Nacional de Saúde Integral de LGBT, em 2017, a partirda Resolução n.º 26 de setembro, há a inserção do II Plano Operativo da Po- lítica Nacional de Saúde LGBT. Esse Plano é composto por cinco eixos que contam com as importâncias para que haja aces- so, promoção, educação, mobilização e monitoramento das ações necessárias para que o atendimento seja pleno. Tam- bém tem nove estratégias para que haja desde o aperfeiçoamento e qualificação Desse Plano Operativo é construída, em 2013, a Política Nacional de Saúde Integral de LGBT, pelo Ministério da Saúde, com a organização da Secretaria de Gestão Es- tratégica e Participativa. Esse documento evidencia mais uma grande conquista das movimentações sociais, já que elas são as norteadoras e balizadoras para que tais po- líticas possam vir a se concretizar em ações necessárias para o acesso e o atendimento da população LGBTQIA+. É essa política que vai expressar e agir para que todas as estra- tégias predefinidas anteriormente possam ser efetivamente implementadas, fiscaliza- das e, se necessário, repensadas. Mais uma vez, é importante evidenciar que muitas vezes os documentos cami- nham com maior agilidade que as ações. Nesse sentido, por mais que tenhamos, já em 2013, uma ampla documentação a res- peito do acesso e atendimentos a popula- ção LGBTQIA+, ainda se faz necessária uma atenção muito pontual para essa mesma população que não consegue encontrar uma acolhida tão ampla, na prática. No que se refere à demanda de atendi- mento, é fundamental pensar nos proces- sos formativos de profissionais, para além dos espaços físicos necessários para tal fim. A população LGBTQIA+, durante sua historicidade de existência no Brasil, sem- pre foi realocada para outras demandas de atendimento. Pessoas lésbicas, gays de profissionais da área até a estimulação e o fortalecimento da população LGBT nos espaços de participação popular e de edu- cação para o controle social. Atualmente o Brasil também tem três focos preventivos para crianças e adoles- cente entre 3 e 17 anos que sejam LGB- TQIA+, estando contidos apenas nas regi- ões Sul e Sudeste, especificamente em São Paulo, Campinas e Porto Alegre. Em terri- tório nacional há também 14 ambulatórios LGBT, que estão em Curitiba, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Floria- nópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Lagarto, Recife, Ribeirão Preto, São Paulo e Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 153 Niterói. Às pessoas que não se encontrem nesses grandes polos é oferecido um ser- viço de tratamento fora de domicílio. Esse número de ambulatórios, dada a extensão territorial nacional, ainda é muito baixo e por se encontrarem em grandes centros populacionais, se por um lado viabilizam a possibilidade de acesso a uma parcela maior da população, por outro retardam a possibilidade de acesso a uma grande parcela da população LGBTQIA+, que se encontra vulnerável em cidades menores, com repasses e verbas mais restritas. Ações como o Conselho Estadual de Combate à Discriminação LGBT do estado do Ceará são um exemplo claro das mo- vimentações sociais em busca de conso- nância participativa para com o governo, para que haja a expansão de acesso para a população LGBTQIA+, mas também para que haja a possibilidade educacional da população brasileira contra as discrimi- nações com essa mesma população. Esse Conselho visa monitorar, fiscalizar e avaliar a execução de políticas públicas para a po- pulação LGBT e é uma conquista histórica de movimentos sociais cearenses que efe- tivam, por meio da paridade de represen- tantes do Poder Público Estadual do Ceará com representantes da sociedade civil, um órgão que é consultivo e deliberativo. Como ressaltado anteriormente, é im- prescindível que as demandas LGBTQIA+ sejam contabilizadas oficialmente para que a saúde integral dessa população possa ser efetivamente atendida. Portan- to, para além do levantamento oficial de demanda, dadas as multiplicidades de vi- vências e possibilidades de experiências que estão contidas nessa grande sigla, é evidente a necessidade de uma promo- ção educacional que tenha como meta aportar profissionais da área da saúde com um olhar mais próximo e acolher as necessidades básicas dessa população. Todas essas documentações também precisam estar mais próximas das ações realizadas pelos governos vigentes, para que as políticas públicas transversais pos- sam ter uma participação mais objetiva e clara nas deliberações de verbas públicas para programas de atendimentos básicos voltados para a preservação das vidas LGB- TQIA+, já que, atualmente, é uma das popu- lações mais violentadas socialmente. Por não haver contabilização oficial de dados que componham a população LGB- TQIA+, a geração de políticas para preven- ção da saúde mental, por exemplo, fica muita debilitada e inconstante. No que diz respeito à orientação sexual, muitas pes- soas deixam de compor um quadro mais verdadeiro, pois são contabilizadas ape- nas como pessoas cisgêneras4, não haven- do o cuidado em ressaltar a importância de saúde para os espectros de sexualida- des possíveis de serem vividos. No que diz respeito à população trans e travesti, não há nacionalmente essa contabilização as identidades de gênero composta no es- pectro identitário. Logo, ações de políti- cas públicas ficam pouco ancoradas nas realidades do cenário social das pessoas trans, gerando uma onerosa e lenta ação de acesso ao sistema. Levando em consideração que a popu- lação LGBTQIA+ brasileira, mesmo havendo leis protetivas, ainda é alvo de uma quan- tidade muito alta de violências e discrimi- nações, compondo o ranking de país que mais assassina pessoas trans, por exemplo, é mais do que importante que a área da saúde esteja não apenas atenta, mas pron- ta para o atendimento dessa população, que carece de uma atenção primária mais consolidada e especializada, para que seja garantida a preservação da vida, direito e desejo fundamental no território brasileiro. 4 O termo cisgênero se reporta ao indivíduo que se identifica com o seu gênero biológico. Ilustração de João Vazzoler Villar com intervenção de Carlus Campos 154 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Ao tratarmos de populações excluídas, fa- lamos, ao mesmo tempo, de resultados de construções de imagens de determinados indivíduos e conjuntos de indivíduos que são construídas e alimentadas por grande parcela da população, inclusive o próprio Estado. Tal exclusão se reflete diretamente nas ações (ou inexistência delas) e políti- cas públicas voltadas a populações espe- cíficas historicamente excluídas. Em se tratando da população LGB- TQIA+, há um vácuo no que concerne às garantias de direitos, à criação e à efetiva- ção de políticas públicas e, principalmen- te, à garantia do direito humano essencial: a vida. Percebemos isso ao nos reportar- mos aos dados que deveriam alimentar as informações sobre as violências contra esse público e que deveriam balizar as políticas de enfrentamento à LGBTfobia no Brasil. Somente em 2019, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública5 passa a divulgar, pela primeira vez, em seu levan- tamento nacional publicado anualmente, os dados oficiais sobre a violência contra a população LGBTQIA+. Tais dados são fornecidos pelas Secretarias da Seguran- ça Pública e mostram o quão desarticula- das ainda estão tais informações. Vários estados não forneceram dados, como o estado do Ceará. Isso mostra não só uma falta de interesse em publicizar dados como também o descaso com informa- ções que são importantes para justificar e organizar o foco de políticas públicas de combate e prevenção à LGBTfobia. Aten- tamos aqui para a questão de que não se trata de uma política pública específica, 5 O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é uma publicação organizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. mas uma ação intersetorial, que requer planejamento e ações em vários âmbitos das políticaspúblicas, articulando educa- ção, assistência social, saúde, segurança pública e demais políticas de estado. En- tende-se LGBTfobia como (...) os crimes e manifestações múltiplas de ódio e preconceito a todo e qualquer sujeito gay, lésbica, bissexual, travesti e transexual que escapa a norma sexista e heteronorma- tiva estruturada na sociedade, de forma que referir-se apenas como homofobia, invisibili- zaria as particularidades da lesbofobia, bifo- bia e transfobia que embora se diferenciem na nomenclatura, é semelhante no papel opressivo de conduzir estes sujeitos à situa- ções de violência e violações enquanto pes- soas portadoras de direitos sociais garantidos de bem estar e acessos sociais (PONTES et. al apud LEMOS, 2017) Tramitava na Câmara Federal há um tempo a PLC 122/06 que tentava incluir à Lei 7.716 a homotransfobia ou simples- mente LGBTfobia, como crime análogo ao racismo. Tal lei tenta trazer ao campo jurídico uma ferramenta de proteção e uma retratação por parte do Estado em relação a formas legais de proteção à po- pulação LBGTQIA+, excluída e invisibiliza- da dentro das ações de proteção e garan- tia dos direitos fundamentais do cidadão. Somente em 2019 e após decisão do Superior Tribunal Federal (STF), a Lei de Injúria Racial passou a incluir também a LGBTfobia como crime de racismo. Dessa forma, a lei fundamenta e deve proteger esta população contra toda e qualquer forma de injúria e discriminação que atente contra sua integralidade. Ainda de acordo com o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os registros de cri- mes contra a população LGBTQIA+, entre DIREITOS HUMANOSE A LGBTFOBIA Ilustração de Luanna Madureira Marques com intervenção de Carlus Campos Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 155 os anos de 2018 e 2019, sendo o último ano já com a vigência da nova lei, ainda mostram a dificuldade em se fazer cum- prir a lei de injúria racial como reconheci- mento de proteção contra a LGBTfobia+. Como já exposto, nem todos os estados da federação divulgaram seus dados, o que torna ainda mais difícil a análise da situação em todo o território nacional. Por causa da falta de dados e estatísti- cas sobre a violência contra a população LGBTQIA+, mais especificamente contra a população trans brasileira, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (An- tra) passa a divulgar, a partir de 2017, um dossiê anual sobre as mortes de travestis e transexuais no Brasil. É um documento mais completo sobre esses dados e fruto dos movimentos sociais de proteção a tra- vestis e transexuais brasileiros. De acordo com o Dossiê de 2020, o Brasil é o país em primeiro lugar no ranking mundial de as- sassinatos de pessoas trans no mundo. Os dados colhidos para o dossiê são frutos de pesquisa sobre notícias e notificações de assassinatos de pessoas trans no país. Tal metodologia se justifica pela dificuldade de notificação por parte das secretarias da Segurança Pública dos estados, assegu- rando que há uma ampla subnotificação de tais casos de violência. Ainda de acor- do com o Dossiê 2020, foram registradas 184 notícias de mortes de pessoas trans, lançadas no mapa dos assassinatos de 2020. A partir do levantamento feito pela Antra, desses 184 assassinatos, 175 foram de pessoas que expressavam o gênero fe- minino, o que aponta outra questão muito importante: o caráter misógino da violên- cia contra pessoas trans no Brasil. Há de se atentar que tais dados são frutos de um período em que teve início a realida- de de pandemia no Brasil e no mundo. A violência cometida contra pessoas trans mostrou-se em maior número e mais se- vera durante a pandemia. Devido às subnotificações e à não di- vulgação de dados por parte dos estados, há a falsa impressão de uma queda desses números em 2019; porém o Dossiê 2020 da Antra alerta para o aumento exponencial dos casos de violência em 2020 e para a falta de ações específicas de enfrentamen- to à violência contra este tipo de violência. O que se observa no Brasil, nos últimos anos, é um desmonte das já escassas polí- ticas voltadas para a população LGBTQIA+. Data de 2001 a criação do Conselho Nacio- nal de Combate à Discriminação (CNCD), que se vinculava ao Ministério da Justiça e era meio de reivindicação e construção de políticas públicas voltadas para esta popu- lação. Se comparado a outros movimen- tos sociais (como negros e mulheres), o movimento LGBTQIA+ conquista de forma tardia algumas pautas que são inclusas na versão construída em 2002 do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH- 2). Dentre as 518 ações previstas nesta segunda versão da PNDH, apenas cinco se referiam à orientação sexual como ga- rantia do direito à liberdade, opinião e ex- pressão e mais dez ações sobre a garantia do direito à igualdade de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais (GLTTB). As questões relativas ao direito à saúde e a eliminação da discriminação institucional da população LGBTQIA+ passam a incluir a terceira versão no PNDH (PNDH 3). Em relação aos dados estatísticos e às estratégias legais e políticas públicas específicas à população LGBTQIA+, perce- bemos no Brasil uma imensa lacuna, além da dificuldade de execução das poucas vias legais já existentes, o que nos leva a afirmar que há uma forte tendência a des- cumprir preceitos básicos dos direitos fun- damentais do cidadão quando se trata de populações específicas como a LGBTQIA+. 4 156 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste POPULAÇÃO LGBTQIA+ E MERCADO DE TRABALHO cado de trabalho” como mantenedor de possibilidades formativas, de saúde, de manutenção básica da vida, enfim. Dada a importância do consumo e expectativa de vida, o mercado de trabalho, tão cita- do e anunciado como vilão ou salvador da pátria, precisa ser não apenas observado, mas fomentado, com um olhar atento e com ações práticas para que sua impor- tância seja concreta e funcional, na vida de qualquer indivíduo ou sujeito social. uando falamos em mercado de trabalho, não estamos falando apenas de uma atividade que será realizada durante um pe- ríodo de tempo para obtenção de renda. Essa leitura de mer- cado de trabalho pode ocorrer dentro dos lares e pela própria vida. No entanto, para que realizemos uma análise com maior amplitude e expressividade nacional, faz- -se necessário visualizar o nicho “mer- É também importante ressaltar que mercado de trabalho não expressa o conceito trabalho, mas está muito mais próximo da tangenciação de empregos e atividades remuneradas. Isso implica evi- denciar um primeiro recorte indispensável para que qualquer análise nessa perspec- tiva possa vir a ser cuidadosamente ob- servada. Portanto, quando anunciamos trabalho, estamos evidenciando a força de trabalho de uma pessoa possível de ser implementada, por exemplo, em um emprego e/ou atividade remunerada, mas não apenas. O sociólogo Karl Marx, a partir da relação dialética entre classes, eviden- cia a produção material como resultante de tal dialética a partir da força de traba- lho da classe proletária, necessária para a preservação da classe burguesa e para a manutenção básica da própria existência. Neste momento, nossa análise não busca aprofundar-se nas fundamentações teóricas das amplitudes de conceitos e suas aplicabilidades, mas faz-se impor- tante ressaltar tais implicações para futu- ras análises e para que não haja generali- zações superficiais a partir dos dados que fundamentarão a leitura que se segue. Assim, quando pretendemos realizar uma explanação a respeito de promo- ção de cidadania e defesa dos direitos humanos, é imprescindível apontar que o recorte utilizado a partir da população LGBTQIA+ está contido em todas as esfe- ras possíveis de análises estruturais, tan- to no que diz respeito à força de trabalho quanto em sua utilização para empregos e/ou atividades remuneradas. Isso impli- ca afirmar que evidenciar dados, mar- cos legaise ações efetivas de promoção de cidadania são parte indispensável da Ilustração de Maria Júlia Sousa de Oliveira com intervenção de Carlus Campos Q 5 Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 157 própria atividade de promoção e de di- reitos humanos, pois aborda trajetórias, obstáculos e transformações – tanto que ocorreram como as que ainda precisam ocorrer para que as desigualdades sejam sempre objetos e ações de superação e/ ou transformações sociais. Para este momento, portanto, serão uti- lizados dados da Coqual, grupo que se au- tointitula uma consultoria de populações subrepresentadas no local de trabalho; dados do Transemprego, o maior portal de vagas e currículos para pessoas trans do Brasil; e os documentos federais balizado- res para a construção de políticas públicas na área dos direitos humanos: o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) II e III, respectivamente de 2002 e 2009. Essas referências são abrangentes e expressam dados e propostas amplas que podem ser utilizadas, posteriormente, para um olhar mais criterioso e objetivo nos diversos ter- ritórios que o Brasil contempla. DOS DOCUMENTOS OFICIAIS ÀS FRENTES DE AÇÕES Dos documentos federais que mais se destacam para a pro-moção da cidadania dos grupos que implicam as vulnerabilida- des mais recorrentes no Brasil, encontra- mos o PNDH. Esse documento é composto por três momentos históricos e de registro distintos e, ao mesmo tempo, complemen- tares. É necessário evidenciar que as po- líticas públicas no Brasil podem e devem perpassar as três esferas possíveis de rea- lização, que, por mais que interligadas, são também autônomas para a apropriação dos programas e planos balizadores governamentais. Isso significa dizer que os governos estaduais e municipais, mesmo estando abaixo hierarquicamente do governo federal, são contidos de autonomia não apenas para propor política inclusiva ou promocional própria, desde que não fira as esferas superiores, como também para criar, a partir de programas e planos federais, um modus operandi próprio, da- das as diversidades amplas cultural, social e econômica que o Brasil expressa ter. Assim sendo, quando analisamos o PNDH II (2002), podemos notar que há um espaço reservado para a população GLT- TB, sigla oficializada na época, que com- porta dez ações que buscam, dentro das especificidades expressas, uma exclusivi- dade no olhar atento para essa população alocada em “garantia do direito à igualda- de”. Dessas dez ações que estão entre os pontos 240 e 249, existe no ponto 245 um primeiro momento que pode ser interpre- tado como voltado para o mercado de tra- balho. Esse ponto anuncia a necessidade de “estimular a formulação, implementa- ção e avaliação de políticas públicas para a promoção social e econômica da comu- nidade GLTTB”. (BRASIL, 2002, p.51) Essa comunidade é muito ampla e, para cada segmento representado nas letras expressas, há importâncias, possi- bilidades, leituras sociais e econômicas distintas. No entanto, por ser um docu- mento de amplitude macro, nota-se a in- terligação dessa população múltipla em um nicho único de assistência e direitos legalmente estabelecidos. Para além desse detalhe crucial das multiplicidades da população LGBTQIA+, sigla atualmente aceita e disseminada entre os movimentos sociais do país, há de ser ressaltada a alocação dessa popu- lação a partir das violências que a aco- mete. Essa questão fica evidente quando, no mesmo documento, temos os outros nove pontos ressaltando a importância da promoção de estímulos a campanha de conscientização e sensibilização de profissionais de diversas áreas, a criação de atendimentos especializados em vio- lência e discriminação, e de levantamen- to de dados sobre violências e discrimi- Tais documentos não deixam de ser uma promoção à cidadania, visto que os dados dessa população ainda não compõem integralmente as pesquisas populacionais do território brasileiro. Entretanto, é necessário ressaltar a im- portância de cada governo em caminhar sempre em busca não exclusivamente de obtenção de dados, mas de ações efeti- vas que promovam a defesa dos direitos humanos de forma ampla e factual. Ainda de maneira ampla, podemos vi- sualizar o trabalho internacional realiza- do pela Coqual a partir de um infográfico que reforça alguns dados importantes para a população global LGBT, sigla uti- lizada em suas pesquisas. Nesse infográ- fico podemos visualizar os dados de que 75% dos empregadores/as analisados nações ocorridas contra essa população. Assim sendo, sobra-lhe apenas um único ponto de possibilidade de implementa- ção de políticas públicas para a economia da população GLTTB, neste momento. Em 2009 o PNDH III realiza nova inser- ção governamental e no objetivo estraté- gico V temos a garantia do respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero. Nesse documento, já podemos visualizar ações programáticas subdividas por áreas responsáveis por ação. De maneira bem objetiva, no decreto n7.037 da Casa Civil subdivide-se em Eixos Orientadores e Di- retrizes para cada eixo. O objetivo estraté- gico citado está na Diretriz 9 – Combate às desigualdades estruturais, contido no Eixo Orientador II do mesmo decreto. O item h desse objetivo é o que tangencia e eviden- cia o mercado de trabalho. Nele lê-se Realizar relatório periódico de acom- panhamento das políticas contra dis- criminação à população LGBT, que con- tenha, entre outras, informações sobre inclusão no mercado de trabalho, assis- tência à saúde integral, número de viola- ções registradas e apuradas, recorrências de violações, dados populacionais, de renda e conjugais. Nesse sentido, os documentos que de alguma maneira são marcos para a população LGBTQIA+ no Brasil ainda es- tão na busca por levantamento de dados que concretizem essa população como atuante no mercado de trabalho e ativi- dades remuneráveis. não fazem uso de políticas sobre discri- minação de gênero em suas empresas, levando em consideração que 75 países observados nessa pesquisa criminali- zam condutas sexuais realizadas por pessoas do mesmo sexo. O Brasil, nessa mesma pesquisa, está entre os países aliados de LGBT por conter leis protetivas a esta população, como também é o caso da África do Sul, do Reino Unido e dos Estados Unidos, por exemplo. No entanto, um dado sal- ta aos olhos quando percorremos um pouco mais o documento. Na tabela a seguir é possível vermos as implicações diretas na vida de trabalhadores/as LGBT, no que diz respeito às suas iden- tidades, nas empresas que serviram de fundamento para esse estudo. 158 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Ilustração de Carlus Campos Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 159 Como podemos visualizar, buscan- do a especificidade do Brasil, vemos um dado expressivo no que diz respeito aos empregados/as. De acordo com o gráfico, 49% dos/as empregados/as analisados/ as estão de alguma forma assistidos/as em suas vidas profissionais e, ainda as- sim, minimizam suas identidades LGBT, por algum motivo. Há também 61% que não evidenciam suas identidades LGBT no ambiente de trabalho. Há importância na visualização desses dados, pois eles entram em acordo com as ações que o PNDH III, por exemplo, evidencia como necessárias levando em consideração o Combate às desigualdades estruturais. Em todos os mercados ana- lisados nessa pesquisa, as pessoas LGBT ou estão “no armário” ou evidenciadas a partir das políticas de proteção/inclusão. Por fim, para que possamos verificar uma ação propositiva advinda de um mo- vimento social no Brasil, podemos obser- var o trabalho realizado no Transempre- go, um projeto social idealizado a partir das observações advindas, primeiramen- te, pela preocupação no enfoque da edu- cação e informação para a sociedade brasileira como um todo, mas que, após o surgimento da Associação Brasileirade Transgêneros (Abrat), funda o Transem- prego com a prerrogativa da importância da manutenção das vidas trans no mer- cado de trabalho formal brasileiro. Atualmente, o projeto administra 22.537 usuáries, mantém parceria com 715 empre- sas no território nacional e, no período de um ano, colaborou para o emprego de 794 profissionais trans. No site há também da- dos sobre a escolaridade des usuáries, gê- nero e cor/raça, visto que toda essa discus- são não se faz sem a interseccionalidade estar presente e ser pedra basilar. O que evidenciamos, portanto, é que, ao falarmos e buscarmos a promoção da cidadania e defesa dos direitos humanos para a população LGBTQIA+, por mais que tenhamos a validação legal das ações para promoção e direitos, muitas vezes esse pa- pel ainda é realizado em demasia por gru- pos de base social, que carecem de apoios governamentais para a manutenção de suas propostas. Nesse sentido, governamental- mente é imprescindível que marcos legais se tornem, concretamente, investimentos nas estruturas de proteção social e nas es- truturas de educação econômica e práticas de inclusão para essa população no Brasil, perpassando por seus estados e municípios. Por ser uma população múltipla e que comporta uma multiplicidade identitária, para além dos documentos federais, es- tados e municípios precisam se atentar aos levantamentos de dados da popula- ção LGBTQIA+ para que assim possam, efetivamente, realizar um trabalho conci- so e coeso com a realidade de cada terri- tório, visando dessa forma à abertura de possibilidades de trabalhos formais que incluam, cada vez mais, essa mesma po- pulação em busca de condições da manu- tenção de uma vida passível de ser vivida, que implica menos violência e mais opor- tunidades profissionais. Referências BRASIL. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em: <https://forumseguranca.org. br/wp-content/uploads/2021/02/anuario-2020- final-100221.pdf> BRASIL. Ministério da Saúde. POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS. Brasília-DF. 2010. Disponível em: http:// www.abglt.org.br/docs/PoliticaNacional_ SaudeIntegral_LGBT.pdf. Acesso em: 19 de março de 2017. BENEVIDES, Bruna G., NOGUEIRA, Sayonara Naider Bonfim (Orgs.). Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020. São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021. Disponível em: <https://antrabrasil.org/assassinatos/> MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. PONTES et al. LGBTfobia no bairro Benfica: violência e políticas públicas em foco. VIII Jornada Internacional Políticas Públicas. 2017. Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/ joinpp2017/pdfs/eixo6/lgbtfobianobairro benficaviolenciaepoliticaspublicasemf> QUINALHA, Renan. O mito fundador de Stonewall. In.: Revista Cult, Edição 246. 2019. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/ home/o-mito-fundador-de-stonewall/> UNAIDS. Guia de Terminologia do UNAIDS. 2017. Disponível em: <https://unaids.org.br/wp- content/uploads/2017/10/WEB_2017_07_12_ GuiaTerminologia_UNAIDS.pdf?=e7c8b3c974> III REALIZAÇÃOAPOIO Autores Cláudia Maria Inácio Costa Tem graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará e mestrado em Políticas Públicas e Sociedade também pela Uece. É doutoranda no programa de pós-graduação em Sociologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde colabora como pesquisadora no Núcleo de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividades - NUSS. Esteve como pesquisadora colaboradora do Núcleo de Pesquisas Sociais da Uece-Nupes e pesquisadora membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família Nuafro/Uece. Atua como professora substituta do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará. Foi servidora pública, ocupando o cargo de Assistente Social na prefeitura de Caucaia-CE. Suas pesquisas têm foco na grande área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Juventude, relacionando às questões de gênero, sexualidade, cidadania e políticas públicas. É produtora, apresentadora e cocriadora do podcast de divulgação científica feminista Elas Pesquisam. Cin Falchi É Doutor pela Unesp-Marília em Filosofia da Educação, professor da rede pública do estado de São Paulo e professor de Educação Infantil da rede municipal de Marília. É Doutor em Filosofia da Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp-Marília. Tem graduação em Filosofia (bacharel - 2010 / licenciatura-2011) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp-Marília e graduação em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação Alvorada Plus (2015). É Mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp-Marília, na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação. Tem experiência na área de Filosofia e Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia da educação, erótica e sexualidades, questões de gênero na Filosofia da Diferença. Ilustradores (as) Desenhos originais das crianças Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, que participaram da Oficina de Ilustração com Joana Brasileiro Barroso, com intervenção artística de Carlus Campos. Ilustração de Júlia Nogueira de Holanda com intervenção de Carlus Campos
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