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Direitos Sociais e Competências em Serviço Social Material Teórico O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Mariana Aparecida da Silva Revisão Técnica: Prof. Me. Denis Barreto da Silva Revisão Textual: Prof.a Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos • O Mercado de Trabalho e o Contexto de Precarização • Os Espaços de Trabalho e a Atuação Profissional • Reflexões sobre a Práxis · Conhecer os desafios contemporâneos colocados para a profissão frente aos mecanismos de desregulamentação das políticas sociais e do mercado de trabalho. · Perceber a imediaticidade na prática e possíveis reflexões OBJETIVO DE APRENDIZADO O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas, dentre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Contextualização Para iniciarmos nossa abordagem sobre o contexto contemporâneo do mundo do trabalho, não só para os assistentes sociais, mas para outras áreas também, a reportagem abaixo traz uma informação importante para iniciarmos nossa reflexão. Fonte: iStock/Getty Images Diploma de nível superior não é mais garantia de emprego; Desocupação entre profissionais com curso superior cresce 21,2% no 1º trimestre em relação a igual período de 2014. Acesse o link: https://goo.gl/ESSUxB Ex pl or A reportagem traz uma face da precarização das condições de trabalho e da procura de emprego pelos profissionais, que mesmo possuindo graduação não conseguem espaço no mercado de trabalho. 8 9 O Mercado de Trabalho e o Contexto de Precarização Considerando o contexto do mercado de trabalho, inúmeras profissões estão sofrendo com a precarização da prática profissional e com o aumento das taxas de desemprego, o que não é um privilégio apenas dos assistentes sociais, pois estão todos expostos aos movimentos e mudanças do mundo do trabalho. Como descreve Iamamoto: O problema da insegurança do trabalho ou da redução de postos de trabalho não é peculiar ao Assistente Social: o seu enfrentamento exige, ao contrário, ações comuns que fortaleçam a capacidade de articulação e organização mais ampla de coletivos de trabalhadores, contrarrestando a desarticulação política e sindical, amplamente estimulada pelas políticas de cunho neoliberal. (IAMAMOTO, 2015, p. 118-119) Diante da desregulamentação do trabalho, como legado da expansão neoliberal, além da fragilização de direitos sociais, as diversas áreas profissionais estão se reinventando em diferentes aspectos para sobreviverem no mercado de trabalho. Observamos que esse situação de desemprego e a formação de um grande exérci- to de reserva formam um contexto de crise, pois vivemos um momento de retração do Estado como garantidor de direitos sociais transferindo suas responsabilidades para outras instituições que devem oferecer os serviços sociais para a população. Assim, temos o cenário atual: as multifaces da questão social se expandindo, em conjuntura nacional e mundial, em alguns aspectos. Observamos o aumento da miséria, da pobreza de investimentos na educação, na saúde e em outros campos que poderiam fomentar a transformação desse contexto. Observamos um dilema, pois ao mesmo tempo em que o trabalho figura como condição de sobrevivência dos trabalhadores assalariados, nem todos são absorvidos por ele. Mas vivenciamos uma mudança que de alguma forma era prevista, principalmente pelo desenvolvimento tecnológico e consequente modernização dos meios de trabalho, que já não oferece espaço para todos os profissionais, exigindo uma especialização da mão de obra antes ignorada ou não necessária. O trabalhador se vê diante de um impasse, pois a força de trabalho é o que pode vender em troca de sua subsistência. Ao mesmo tempo em que se restringem as oportunidades de trabalho, o acesso ao trabalho continua sendo uma condição preliminar de sobrevivência da maioria da população, alijada de outras formas de propriedade que não seja sua capacidade de trabalho. (IAMAMOTO, 2015, p. 87) 9 UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Iamamoto ressalta que o trabalho vivo foi potencializado pelo desenvolvimento tecnológico e científico, houve um avanço das forças produtivas, mas ao mesmo tempo é esse mesmo avanço que torna algumas práticas profissionais descartáveis e temporárias, pois mudou também o período em que se mantém o emprego, percebido que a rotatividade nos espaços de trabalho torna-se característica deste momento. Fonte: iStock/Getty Images Presenciamos a informalização do trabalho e a massificação dos gêneros de trabalho, ou seja, através da preocupação dos trabalhadores em se tornarem polivalentes, que surge como exigência do mercado de trabalho atual, as divisões em áreas profissionais surgem como um aspecto que não é mais primordial, observamos um movimento contraditório em que a formação acadêmica é um diferencial para o profissional e, ao mesmo tempo, dispensável diante da flexibilização da práxis. Antunes descreve que o mundo do trabalho sofre mutações que estão relacionadas à reestruturação produtiva do capital, que foi se modificando junto aos diferentes processos de organização financeira, principalmente, aos quais os trabalhadores sucumbem. Portanto, essas mutações estão intrinsecamente conectadas ao: [...] processo de reestruturação produtiva do capital, no qual as grandes empresas, por meio da flexibilização dos regimes de trabalho, da subcontratação e da terceirização, procuram aumentar sua competitividade fraturando e fragmentando inda mais a classe-que-vive-do-trabalho. (ANTUNES, 2011, p. 133) Outro aspecto abordado por Antunes é o surgimento de profissionais conectados ao desenvolvimento tecnológico e que vivem a informatização do trabalho, o que pode trazer ganhos e ao mesmo tempo perdas para o trabalho em si, pois se desenvolve a informalização do trabalho, em campos de atuação em que a flexibilização e a subcontratação avançam rapidamente, o que o autor também define como cyberproletariado. Estamos presenciando a época da informalização do trabalho, caracteri- zada pela ampliação dos terceirizados, pela expansão dos assalariados dos call centers, dos subcontratados, dos flexibilizados, dos trabalhadores em tempo parcial e dos teletrabalhadores, pelo cyberproletariado. (ANTUNES, 2011, p. 133)10 11 Porém, nesse sentido, é importante aprofundarmos nosso debate sobre a otimização tecnológica que ocorre nos espaços sócio-ocupacionais do assistente social. A informática apontou na década passada como o grande diferencial para os tempos vindouros surgiu como um divisor de águas entre os processos de trabalho já existentes e em como se desenvolveriam a partir dela. Fonte: iStock/Getty Images Pensar em um profissional cibernético, já não é mais algo atípico, pois como já citamos, é uma exigência de alguns espaços de trabalho. Já não é mais possível sobreviver profissionalmente sem conhecer minimamente os recursos que um computador oferece. Saber lidar com a tecnologia torna-se um diferencial para os profissionais. É importante ressaltar que o profissional não precisa se tornar um programador, ou um desenvolvedor tecnológico, mas precisa se manter atualizado sobre os avanços da modernidade. Leia as reportagens abaixo: https://goo.gl/U2mXyG A reportagem acima traz exatamente o contexto que estamos tentando compreender de forma mais aprofundada que é a crise do trabalho e o avanço de novas formas de atuação profi ssional. Observe que a divulgação da reportagem foi em 2009 Há cinco anos se debatia como o uso da informática causaria grandes transformações no cotidiano das pessoas e em diversos contextos, Considerando o que você leu, na sua opinião, quais os aspectos positivos e negativos trazidos pelo avanço tecnológico? Causou impacto em sua vida? E para o Serviço Social, o que acha que signifi ca? Guarde suas refl exões para nossos próximos debates... Ex pl or 11 UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Os Espaços de Trabalho e a Atuação Profissional O assistente social aparece como profissional que possui certa independência em sua atuação profissional, seja na esfera pública ou privada, essa é uma característica dessa categoria. Porém, essa independência e autonomia são cerceadas pelos limites institucionais dos locais de trabalho, além de ser um trabalhador assalariado também e incluso no mundo do trabalho como qualquer profissional que busca por oportunidades de emprego, claro, dentro de suas competências e atribuições. Fonte: iStock/Getty Images Ou seja, mesmo perante a possibilidade de uma prática profissional dotada de certa liberdade, a condição de trabalhador oferece os mesmos mecanismos de garantia de direitos e formas de trabalho que oferece a outros trabalhadores. Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o assistente social com um ser prático-social dotado de liberdade e teleologia, capaz de realizar projeções e buscar implementá-las na vida social; e a condição de trabalhador assalariado, cujas ações são submetidas ao poder dos empregadores[...] (IAMAMOTO, 2009: 8) Percebemos que os assistentes sociais podem trabalhar em diferentes contextos profissionais. Nesse sentido, vamos destacar alguns espaços em que a atuação desse profissional se faz presente. 1. Esfera pública/ Estatal 2. Esfera Privada/ Empresarial 3. Terceiro Setor 12 13 Inicialmente, vamos pensar na atuação na esfera pública, no assistente social como servidor público, ou como atuante nesse campo através do trabalho com Organizações Não Governamentais (ONGs) que mantêm vínculos em âmbito municipal ou estadual para prestação de serviços públicos. Iamamoto (2009) descreve que o setor público é o que mais emprega assistentes sociais, mas que essa esfera vem sofrendo uma crise também, pois houve uma redução dos concursos públicos, além da falta de incentivos à formação continuada dos profissionais e da precarização das condições de trabalho inerentes ao sistema econômico excludente, no qual estamos inseridos e vivenciamos seus rebatimentos diariamente. Os assistentes sociais funcionários públicos vêm sofrendo os efeitos deletérios da Reforma do Estado no campo do emprego e da precarização das relações de trabalho, tais como a redução dos concursos públicos, demissão dos funcionários não estáveis, contenção salarial, corrida à aposentadoria, falta de incentivo à carreira, terceirização acompanhada de contratação precária, temporária, com perda de direitos etc. (IAMAMOTO, 2015 p. 123-124) A esfera pública ainda figura como espaço privilegiado para os assistentes sociais, o que é uma característica que marca historicamente a profissão. A Saúde e a Assistência Social são os maiores empregadores dos profissionais de Serviço Social: o assistente social é o profissional formado para lidar com as expressões da questão social que se manifestam socialmente. Nesse sentido, o trabalho com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) são a matéria-prima de atuação desse profissional. Sistema Único de Saúde (SUS) Disponível em: https://goo.gl/bJfSnt Sistema Único de Assistência Social (SUAS) Disponível em: https://goo.gl/xkWUwV Ex pl or Os assistentes sociais trabalham com o esclarecimento da população com relação aos seus direitos e deveres e em como acessá-los e executá-los. São ações que possuem um caráter de orientação e prevenção. Além disso, no campo público, os profissionais precisam desenvolver novas formas de atuação, principalmente no que diz respeito ao controle social. É uma característica que leva em conta principalmente o monitoramento e fiscalização de serviços públicos que são prestados por ONGs, uma vez que as responsabilidades estatais são passadas para essas instituições. Além da execução de políticas públicas, os assistentes sociais também podem atuar na elaboração, avaliação e monitoramento das mesmas. Os assistentes sociais estão sendo chamados a atuar na esfera da formula- ção e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e monitoramento, 13 UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade inscritos em equipes multiprofissionais. Ampliam seu espaço ocupacional para atividades relacionadas ao controle social à implantação e orientação de conselhos de políticas públicas, à capacitação de conselheiros, à ela- boração de planos e projetos sociais, ao acompanhamento e avaliação de políticas, programas e projetos. (IAMAMOTO, 2009: 31) Como indicação para aprofundamento do assunto, no link abaixo você encontra o documento “Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social”. É um texto importante para estudo da prática profissional. https://goo.gl/oWgHG1 Ex pl or Seguindo o debate sobre os diferentes espaços de trabalho dos assistentes sociais, vamos analisar então a esfera privada/empresarial como empregadora da força de trabalho dos profissionais. Considerando o contexto de desregulamentação das leis trabalhistas, flexibili- zação do trabalho e consequente precarização da prática profissional, segundo Amaral e Cesar (2009), é a partir das décadas de 1970 e 1980 que os assistentes sociais começam a ocupar, de forma significativa cargos em empresas. É nesse período, também, que as empresas iniciam um novo olhar sobre a produção indo para a sustentabilidade através de práticas sociais embutidas nas características da empresa, com o simples intuito de formar uma imagem de responsabilidade social, aumentando sua credibilidade e produção. Nessa direção, o assistente social é chamado para atuar. De modo análogo, as corporações empresariais passam a difundir a retórica da “responsabilidade social corporativa”, articulada à ideia de um “compromisso ético” como o “desenvolvimento sustentável”, ao tempo em que discursam sobre a “ineficiência” do Estado na solução dos “problemas sociais” do país e defendem a substituição dos sistemas de proteção social pelas ações focalizadas na pobreza. (AMARAL; CESAR, 2009, p. 2) Fonte: iStock/Getty Images 14 15 As frentes de trabalho que surgiram para os assistentes sociais foram focalizadas na saúde e bem-estar do quadro de recursos humanos nas empresas, pois a força de trabalho precisa ser mantida para não interferir no processoprodutivo. Os interesses do capital prevalecem nesse sentido. Fonte: iStock/Getty Images Com relação ao Serviço Social, a década de 1980 representa um marco na mudança de postura profissional dos assistentes sociais que a partir do pro- cesso de ruptura com as bases conservadoras construídas historicamente ama- dureceram sua criticidade. É esse profissional que começa a ser absorvido pelas empresas privadas. Porém, a esfera privada exige um profissional com algumas características como: o entendimento de informática, a experiência com grupos, formação e gestão de recursos humanos, além da habilidade de falar em público, liderança, entre outras. Para o ingresso na esfera empresarial têm sido exigidos requisitos que extrapolam o campo de conhecimentos para abranger “habilidades e qualidades pessoais” tais como: experiência, criatividade, desembaraço, versatilidade, iniciativa e liderança, capacidade de negociação e apresentação em público, fluência verbal, habilidade no relacionamento e “capacidade de sintonizar-se com as rápidas mudanças no mundo dos negócios” (IAMAMOTO, 2015, p. 130) O que foi identificado nesse contexto foi a intervenção dos assistentes sociais para mediar conflitos entre o capital e os trabalhadores e a manutenção da força de trabalho, como citado anteriormente. Ou seja, o profissional exercia um papel de “apaziguador” que deveria manter o status quo das empresas para que os trabalhadores não reivindicassem direitos que já estavam fragilizados. Para os donos das empresas essa ação dos assistentes sociais permitia que os trabalhadores fossem controlados e disciplinados de acordo com as metas a serem alcançadas pelo empresariado. E nesse mesmo contexto que o assistente social 15 UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade pode, através das mediações, construir uma intervenção e práticas profissionais de acordo com a análise de conjuntura do espaço de trabalho. Importante! Leia o trecho abaixo: O grande capital, ao investir nos serviços sociais, passa a demonstrar uma “preocupação humanitária”, coadjuvante da ampliação dos níveis de rentabilidade das empresas, moralizando sua imagem social. Trata-se de um reforço à necessidade de transformar propósitos de classes e grupos sociais específicos em propósitos de toda a sociedade: velha artimanha, historicamente assumida pelo Estado, e que hoje tem a mídia como importante aliada nesse empreendimento. (IAMAMOTO, 2009) A partir da leitura do trecho acima, qual a sua opinião sobre os projetos de sustentabili- dade das empresas? Você conhece algum projeto assim? Se sim, qual? Trocando ideias... Finalmente chegamos à esfera do trabalho no terceiro setor, conhecido por assumir as demandas que seriam estatais através da prestação de serviços públicos em todos os âmbitos para a população. A expansão neoliberal e a crise do Estado de Bem-Estar Social reduziram o sistema de seguridade social a práticas assistencialistas e imediatistas em detrimento da acumulação capitalista, as manifestações da questão social surgem a partir da precarização do trabalho, do desemprego estrutural, das problemáticas ambientais, das multifaces da violência e dos diversos tipos de discriminação. É nesse contexto que o assistente social é chamado para atuar em ONGs que suprem a falta de respostas que deveriam ser dadas pelo Estado para as demandas sociais. A tendência de desregulamentação, por parte do Estado, de atividades até então sob sua responsabilidade direta acentuam a transferência de funções de Estado para a Sociedade Civil, atribuindo-lhe funções de caráter público. (IAMAMOTO, 2015: 132) O trabalho do assistente social no terceiro setor adquire caráter eventual em determinados aspectos, pois historicamente se agrega a esse espaço de trabalho as ações filantrópicas e de benemerência, que apenas forma um grupo de voluntariado. A prática profissional vivenciada de forma crítica pode influenciar em qualquer área de atuação do serviço social, pois o que irá determinar os avanços ou retrocessos são as mediações realizadas pelos profissionais. 16 17 Quando analisamos esse processo de transferência de responsabilidades do Estado para a sociedade civil, e em como os direitos sociais estão sendo desconsiderados em prol da acumulação capitalista, percebemos que a profissão assiste social está consequentemente fragilizada também. Se os direitos mínimos de cidadania estão sendo violados ou fragmentados, o assistente social é impulsionado por esse movimento a procurar outros espaços sócio-ocupacionais, e o terceiro setor torna-se um grande empregador dessa mão de obra. Por outro lado, observa-se que, com a tendência de redução do Estado, tem-se a diminuição do espaço profissional do assistente social mediante os processos de diminuição das despesas estatais na órbita da esfera social, acarretando a racionalização dos gastos sociais com as políticas sociais, com implicações nos postos de trabalho para o assistente social na esfera pública, com a diminuição de demandas, sucateamento do aparato organizacional e institucional, a precarização das condições de trabalho, principalmente em face do perigo da terceirização. (ALENCAR, 2009, p. 12) Trabalhar com projetos sociais exigem competências profissionais diferenciadas, pois o assistente social deve ser capaz também de atuar nos campos de consultoria e assessoria, que é uma demanda que ONGs apresentam perante o desconhecimento de ferramentas importantes para o conhecimento da Política de Assistência Social, como os principais marcos regulatórios que norteiam a profissão. O conhecimento da legislação é imprescindível para a intervenção profissional. No que se referem às atribuições profissionais, os assistentes sociais estão sendo demandados nestes novos espaços profissionais para atuar na Gestão de programas sociais, o que implica o desenvolvimento de competências no campo do planejamento, formulação e avaliação de políticas sociais. (ALENCAR, 2009, p. 13) Outro viés do trabalho com o terceiro setor é a inserção do assistente social em empresas com o discurso pautado na sustentabilidade de suas ações, com o intuito de transmitir a ideia de responsabilidade social e ambiental. Outra perspectiva do trabalho com ONGs são as parcerias firmadas entre as organizações e o poder público para a execução dos serviços sociais, sejam em caráter municipal ou estadual, o que cria as políticas de atendimento focalizadas para as demandas específicas da questão social. São serviços que atendem a população em torno da garantia e efetividade de direitos, e que possuem profissionais que acabam executando quase as mesmas funções que os profissionais admitidos pelos concursos públicos. 17 UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Reflexões sobre a Práxis Os assistentes sociais figuram como profissionais diferenciados frente ao trabalho com a questão social. Os profissionais, não apenas assistentes sociais, estão sendo impulsionados à qualificação profissional dinâmica que a contemporaneidade exige para a inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho. O Serviço Social forma trabalhadores assalariados que analisam criticamente esse contexto em que estão inseridos. Em qualquer espaço sócio-ocupacional, os assistentes sociais irão se deparam com as disparidades geradas pela dualidade capital X Trabalho. A mercantilização da força de trabalho, pressuposto do estatuto assalariado, subordina esse trabalho de qualidade particular aos ditames do trabalho abstrato e o impregna dos dilemas da alienação, impondo condicionantes socialmente objetivos à autonomia do assistente social na condução do trabalho e à integral implementação do projeto profissional. (IAMAMOTO, 2009, p. 8) Outro aspecto fundamental que merece atenção da categoria profissional é a necessidade de reciclagem profissional e suas atualizações para se manterem no mercado de trabalho, ou serem inseridos em campos diferenciados detrabalho. O uso da informática, que surgiu como uma tendência e atualmente determina que está apto ou não para lidar com o contexto contemporâneo do mercado de trabalho, além de outras competências que são exigidas, como a liderança, a boa fluência verbal, a versatilidade do profissional em lidar com as mudanças no mundo dos negócios . O assistente social possui uma característica diferencial para a atuação em qualquer campo de trabalho, que é a atuação direta com as expressões da questão social e ser capaz de realizar leituras aprofundadas e com níveis de criticidade que fogem ao senso comum. Portanto, considerando esse potencial crítico e a relativa autonomia teórica, ética, política e técnica do assistente social, é possível direcionar o exercício profissional para os interesses fundamentais dos trabalhadores, em contraposição aos interesses de lucratividade e rentabilidade dos empresários no circuito da reestruturação capitalista, trabalhando o campo de mediações presentes na ordem burguesa, necessário à identificação de estratégias de ação que se articulem ao projeto ético‐político da profissão. (AMARAL; CESAR, 2009, p. 18) 18 19 Os desafios postos a intervenção profissional dos assistentes sociais são repercussões da modernidade, desenvolver a capacidade de resolução de conflitos e principalmente de decifrar o que ocorre cotidianamente através de formas criativas que acompanhem as mutações no mercado, compõem competências profissionais exigidas pelas esferas de trabalho. Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. (IAMAMOTO, 2015, p. 20) Fonte: iStock/Getty Images Durante esta unidade, estudamos: Importante! • O mercado de trabalho na contemporaneidade e suas modifi cações para todos os profi ssionais; • A mudança no perfi l dos profi ssionais e em suas formas de atuação frente às exigências do mercado de trabalho; • Os espaços sócio-ocupacionais em que os assistentes sociais podem ser inseridos; • Algumas refl exões sobre a práxis dos profi ssionais. Em Síntese 19 UNIDADE O Trabalho do Assistente Social na Contemporaneidade Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Serviço Social na Cena Contemporânea IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Cena Contemporânea. In: Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/UNB, 2009. Disponível em: https://goo.gl/5IvpjI O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas ALENCAR, M. M. T. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas. In: Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ UNB, 2009. Disponível em: https://goo.gl/3CVAsR O trabalho do assistente social nas empresas capitalistas CESAR, M. J.; AMARAL, A. S. O trabalho do assistente social nas empresas capitalistas. In: Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/UNB, 2009. Disponível em: https://goo.gl/hdjbDG Política Social e Serviço Social: os desafios da intervenção profissional MIOTO, R. C. T.; NOGUEIRA, V. M. R. Política Social e Serviço Social: os desafios da intervenção profissional. R. Katál, Florianópolis, v. 16, n. esp., p. 61-71, 2013. Disponível em: https://goo.gl/u6W3No 20 21 Referências ANTUNES, R. O Continente do Labor. São Paulo: Boitempo, 2011. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2015. 21
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