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Resumo do bloco 2 de farmaco III

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1 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
❖ Resumo elaborado com base nas aulas e slides apresentados em 2021/1 e nos livros “Rang & Dale - 
Farmacologia”, “As Bases Farmacológicas da Terapêutica De Goodman e Gilman - Brunton”, 
“Farmacologia Básica e Clínica – Katzung”, “Farmacologia Ilustrada – Karen Whalen”, “Farmacologia 
Clínica e Terapêutica – Fuchs”, “Princípios De Farmacologia: A Base Fisiopatológica – Golan” e 
“Farmacologia Clínica – Rosane Gomez”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
SUMÁRIO 
Aula.................................................................................................................................Página 
Contraceptivos hormonais.......................................................................................................3 
Tratamento de disfunção erétil e hiperplasia prostática benigna.......................................... 12 
Tratamento de incontinência urinária................................................................................... 16 
Uso de fármacos em idosos.................................................................................................. 18 
Tratamento de cefaleia......................................................................................................... 24 
Tratamento de anemia.......................................................................................................... 30 
Tratamento de doenças da tireoide...................................................................................... 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → CONTRACEPTIVOS HORMONAIS 
» Introdução 
► Controle neuro-hormonal do sistema reprodutor feminino: 
O ovário desempenha funções gametogênicas 
importantes, que estão integradas com a sua atividade 
hormonal. Na mulher, a gônada permanece relativamente 
em repouso durante a infância, o período de rápido 
crescimento e de maturação. Na puberdade, o ovário inicia 
um período de função cíclica de 30 a 40 anos de duração, 
denominado ciclo menstrual, em virtude dos episódios 
regulares de sangramento que constituem a sua 
manifestação mais óbvia. A partir de então, os esteroides 
sexuais, estrógenos e progesterona, estão envolvidos no 
ciclo menstrual e na gravidez. 
 
 
 
 
 
O ciclo menstrual começa com a menstruação, que perdura 
por 3 a 6 dias, durante a qual a camada superficial do endométrio 
uterino é eliminada. O endométrio regenera-se durante a fase 
folicular do ciclo, após o término do fluxo menstrual. Um fator 
liberador, o GnRH, é secretado por neurônios peptidérgicos do 
hipotálamo, que os libera de modo pulsátil cerca de uma descarga 
por hora. O GnRH estimula a adeno-hipófise a liberar hormônios 
gonadrotróficos – FSH e LH. Estes atuam nos ovários para promover 
o desenvolvimento de pequenos grupos de folículos, cada um 
contendo um óvulo. Um dos folículos desenvolve-se mais 
rapidamente que os outros e forma o folículo de Graaf, que secreta 
estrógenos, e o restante se degenera. O folículo de Graaf maduro 
consiste em células da teca e granulosas dispostas ao redor de um 
núcleo preenchido por líquido, dentro do qual está o óvulo. Os 
estrógenos são responsáveis pela fase proliferativa da regeneração 
endometrial, que ocorre de 5 a 6 dias até a metade do ciclo. Durante 
essa fase, o endométrio aumenta em espessura e vascularização, e 
no pico de secreção de estrógeno há secreção cervical abundante de 
muco, de pH 8 a 9, rico em proteínas e carboidratos, que facilita a 
entrada dos espermatozoides. O estrógeno tem efeito de 
retroalimentação negativa na adeno-hipófise, diminuindo a liberação 
de gonadotrofina tanto durante a administração crônica de estrógeno 
como na contracepção oral. Em contraste, a secreção endógena 
elevada de estrógeno exatamente antes da metade do ciclo 
sensibiliza as células liberadoras de LH da hipófise à ação do GnRH e 
 
4 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
induz o surto de secreção de LH na metade do ciclo. Isso causa rápido inchaço e ruptura do folículo de 
Graaf, resultando na ovulação. Se a fertilização ocorrer, o óvulo fertilizado desce as tubas uterinas em 
direção ao útero, começando a dividir-se no trajeto. 
Estimuladas pelo LH, as células do folículo rompido proliferam e desenvolvem-se no corpo lúteo, 
que secreta progesterona. A progesterona atua, por sua vez, no endométrio preparado pelo estrógeno, 
estimulando a fase secretória do ciclo, que se traduz em endométrio suscetível à implantação do óvulo 
fertilizado. Durante essa fase, o muco cervical torna-se mais viscoso, menos alcalino e, em geral, menos 
oportuno para o espermatozoide. A progesterona exerce retroalimentação negativa no hipotálamo e na 
hipófise, diminuindo a liberação de LH. Ela também tem efeito termogênico, causando, por ocasião da 
ovulação, elevação da temperatura corporal em cerca de 0,5°C, sendo mantida até o final do ciclo. 
Se não ocorrer a implantação de um óvulo fertilizado, a secreção de progesterona para, 
desencadeando a menstruação. Por outro lado, se a implantação ocorrer, o corpo lúteo continua a secretar 
progesterona e, pelo seu efeito no hipotálamo e na adeno-hipófise, previne uma ovulação adicional. O 
córion (um antecessor da placenta) secreta gonadotrofina coriônica humana (hCG; do inglês, human 
chorionic gonadotropin), que mantém o revestimento do útero durante a gravidez. À medida que a 
gravidez prossegue, a placenta desenvolve outras funções hormonais e secreta uma variedade de 
hormônios, incluindo gonadotrofinas, progesterona e estrógenos. A progesterona secretada durante a 
gravidez controla o desenvolvimento do alvéolo secretor da glândula mamária, enquanto o estrógeno 
estimula os ductos lactíferos. Após o parto, o estrógeno, juntamente com a prolactina, é responsável pela 
estimulação e manutenção da lactação, enquanto doses suprafisiológicas de estrógeno suprimem a lactação. 
► Estrogênios: 
Os estrógenos são sintetizados pelo ovário e pela placenta e, em pequenas quantidades, pelos 
testículos e pelo córtex da suprarrenal. A substância inicial para a sua síntese e de outros esteroides é o 
colesterol. Os precursores imediatos para os estrógenos são substâncias androgênicas – androstenediona 
ou testosterona. Há três estrógenos endógenos principais nos humanos: estradiol, estrona e estriol. O 
estradiol é o principal e mais potente estrógeno secretado pelo ovário. Existem também estrogênios 
sintéticos, produzidos a partir de diversas alterações químicas nos estrogênios naturais. 
 
 
5 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
➔ Estrogênios naturais: Estradiol, estrona e estriol 
➔ Estrogênios sintéticos: Mestranol, etinilestradiol, dietilestilbestrol 
Mecanismo de ação: 
Os estrógenos se ligam a receptores nucleares, como outros hormônios esteroides. Existem pelo 
menos dois tipos adicionais de receptores para estrógenos, chamados de ERα e ERβ. A ligação é seguida 
pela interação dos complexos resultantes com pontos nucleares e efeitos genômicos subsequentes. Além 
desses receptores intracelulares “clássicos”, alguns efeitos estrogênicos, em particular suas ações 
vasculares rápidas, são iniciados pela interação com receptores de membrana, incluindo o receptor de 
estrógeno acoplado à proteína G (GPER; do inglês, G protein-coupled estrogen receptor). 
Efeitos fisiológicos: 
Os estrogênios afetam muitos tecidos e possuem várias ações metabólicas nos seres humanos e em 
animais. Esses efeitos dos estrogênios sobre determinados aspectos do metabolismo mineral, dos lipídeos, 
bem como dos carboidratos e das proteínas, são particularmente importantes ao entendimento de suas 
ações farmacológicas. Os estrogênios exercem efeitos positivos sobre a massa óssea, pois regulam 
diretamente os osteoblastos e aumentam a sobrevida dos osteócitos aoinibir a apoptose. Além disso, 
diminuem o número e a atividade dos osteoclastos. Os estrógenos têm ações mineralocorticoides, 
promovendo retenção de sais e água. Eles aumentam as concentrações plasmáticas de lipoproteínas de 
alta densidade (HDL), um efeito potencialmente benéfico que pode contribuir para o risco relativamente 
baixo de doenças ateromatosas em mulheres em pré-menopausa, comparadas com homens da mesma 
idade. Entretanto, os estrógenos também aumentam a coagulação sanguínea e o risco de tromboembolia. 
Usos clínicos: 
Os estrogênios são mais frequentemente usados para contracepção e tratamento hormonal (TH) 
pós-menopausa. Os estrogênios também são usados no tratamento de reposição em pacientes pré-
menopáusicas com deficiência desse hormônio, em casos de hipogonadismo. 
Efeitos adversos: 
Náuseas e sensibilidade nas mamas são os efeitos adversos mais comuns do tratamento estrogênico. 
Além disso, o tratamento estrogênico causa retenção de sal e água resultando em edema, aumenta o risco 
de eventos tromboembólicos e cardiovasculares e câncer de mama e endometrial. 
► Progestogênios: 
O hormônio progestacional natural (progestógeno) é a progesterona, que é secretada pelo corpo 
lúteo na segunda parte do ciclo menstrual e pela placenta durante a gravidez. Quantidades pequenas 
também são secretadas pelos testículos e pelo córtex da suprarrenal. Existem também progestogênios 
sintéticos, produzidos a partir de diversas alterações químicas nos progestogênios naturais. 
➔ Progestogênios naturais: Progesterona 
➔ Progestogênios sintéticos: Desogestrel, dienogeste, drospirenona, levonorgestrel, noretisterona, 
noretisterona, norgestimato, norgestrel, medroxiprogesterona, hidroxiprogesterona, didrogesterona. 
Mecanismo de ação: 
Os progestogênios exercem seu mecanismo de ação de forma análoga à de outros hormônios 
esteroides. 
 
 
6 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Efeitos fisiológicos: 
A progesterona estimula a atividade da lipoproteína lipase e parece favorecer a deposição de 
gordura. O hormônio tem efeito termogênico, causando, por ocasião da ovulação, elevação da 
temperatura corporal em cerca de 0,5°C, sendo mantida até o final do ciclo. 
Usos clínicos: 
Os principais usos clínicos de progestogênios são a contracepção e o tratamento hormonal (TH) pós-
menopausa. Além disso, os progestogênios também são usados para o controle do sangramento uterino 
disfuncional, para o tratamento da dismenorreia, para o controle da endometriose e para o tratamento 
da infertilidade. 
Efeitos adversos: 
Os principais efeitos adversos associados ao uso das progestinas são cefaleia, depressão, aumento 
de massa corporal e alterações na libido. Progestinas derivadas da 19-nortistosterona (p. ex., 
noretisterona, acetato de noretisterona, norgestrel, levonorgestrel) têm alguma atividade androgênica, 
devido à similaridade estrutural com a testosterona, e podem causar acne e hirsutismo. Assim, a 
espironolactona (um inibidor da produção de androgênios e antagonista dos seus receptores) pode ser 
utilizada concomitantemente para combater hirsutismo e acne nessas mulheres. Possui o benefício 
adicional de ser um diurético leve. Todavia, é teratogênica. A ciproterona (agonista parcial de receptores 
para os androgênios) também pode ser utilizada para esta finalidade. 
» Fármacos utilizados para contracepção hormonal 
O desenvolvimento de contraceptivos seguros e eficazes para mulheres revolucionou as práticas 
sexuais. As duas classes de contraceptivos orais amplamente utilizadas são combinações de estrógeno-
progestágeno e contracepção com progestágeno apenas. Existem ainda outros tipos de métodos 
contraceptivos que serão abordados. Por fim, o desenvolvimento de contracepção masculina constitui uma 
área ativa de pesquisa, e as abordagens atuais para essa terapia são discutidas de modo sucinto no final da 
seção. 
• Contraceptivos orais 
⤷ Pílula combinada, com estrogênio e progestogênio. 
⤷ Minipílula, apenas com progestogênio. 
• Outros sistemas 
• Contracepção pós-coito 
• Contracepção masculina 
 
► Contraceptivos combinados (associações de estrógeno-progestágeno): 
A combinação de um estrógeno e um progestágeno constitui o método mais potente conhecido de 
suprimir a secreção de GnRH, LH e FSH, suprimindo o desenvolvimento folicular e inibindo a ovulação. A 
coadministração de estrógeno e progestágeno também pode inibir a gravidez por vários mecanismos 
secundários, incluindo alterações em peristaltismo tubário, receptividade endometrial e secreções de 
muco cervical. Essas últimas ações juntas poderiam inibir o transporte apropriado de óvulo e 
espermatozoides, mesmo se tivesse ocorrido ovulação. Em conjunto, esses mecanismos explicam a eficácia 
de ∼ 99% dos contraceptivos orais combinados. 
Os estrógenos utilizados nos contraceptivos combinados consistem em etinilestradiol e mestranol. O 
uso de estrógenos “sem oposição” promove crescimento endometrial, e estudos iniciais de 
anticoncepcionais com predomínio estrogênico estabeleceram que esses agentes aumentam o risco de 
 
7 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
câncer endometrial. Em decorrência desse achado, estrógeno é sempre administrado concomitantemente 
com progestágeno para limitar a extensão do crescimento endometrial. São utilizados numerosos 
progestágenos nos contraceptivos combinados, e todos são potentes agonistas dos receptores de 
progesterona. O progestágeno ideal deveria apresentar apenas atividade nos receptores de progesterona; 
entretanto, quase todos os progestágenos atualmente disponíveis também exibem alguma reatividade 
cruzada androgênica. Progestágenos variam quanto à sua atividade androgênica. Em base molar, norgestrel 
e levonorgestrel são os que apresentam maior atividade androgênica, enquanto noretindrona e acetato de 
noretindrona apresentam atividade androgênica mais baixa. Progestágenos de terceira geração – etinodiol, 
norgestimato, gestodeno e desogestrel – exibem reatividade cruzada ainda menor com receptores de 
andrógeno. Drospirenona é progestágeno sintético que também exibe atividade antiandrogênica. 
Pode-se também classificar os anticoncepcionais orais combinados em monofásicos (todos os 
comprimidos da cartela possuem a mesma concentração hormonal), bifásicos (duas concentrações de um 
ou ambos os componentes da fórmula) e trifásicos (três concentrações). Todavia, os bifásicos ou trifásicos 
não apresentam nenhuma vantagem em relação aos monofásicos, não havendo justificativas para seu 
emprego. 
Os esquemas clássicos de anticoncepcionais orais combinados consistem na administração de 
comprimidos durante 21 dias, seguidos de 7 dias de pílula placebo. O período de 7 dias com placebo 
remove a estimulação hormonal exógena, promovendo a descamação do endométrio e consequente 
sangramento. Como a administração de progestágeno durante todo o ciclo inibe o crescimento 
proliferativo do endométrio, a maioria das mulheres tem períodos menstruais menos intensos quando 
fazem uso de anticoncepcionais orais combinados, e, com frequência, o ciclo menstrual torna-se mais 
regular. A formulação do ciclo 21-7 teve por objetivo simular um ciclo de 28 dias; todavia, é relativamente 
arbitrário. Dispõe-se também de formulações que contêm 24 pílulas de hormônios diários, com 4 dias de 
placebo. Uma vantagem dessa formulação é que a ovulação não tende a ocorrer se a mulher se esquecer de 
iniciar seu novo ciclo de pílulas por 3 ou 4 dias. 
 
Cartela com 21 comprimidos ativos (a mulher deve 
fazer a pausa por conta, sem tomar placebo) 
Cartela com 21 comprimidos ativos + 7 placebo 
 
 
 
 
Cartela com 24 comprimidos ativos (a mulher deve 
fazer a pausa por conta, sem tomar placebo) 
Cartela com 24 comprimidos ativos + 4 placebos 
 
8 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Efeitos adversos 
• Ganho de peso 
• Retenção de líquido (edema) 
• Náusea e vômito 
• Cefaleia 
• Depressão 
• Fadiga eirritabilidade 
• Alteração da libido 
• Aumento da pigmentação da pele 
• Aumento da oleosidade da pele 
• Amenorreia após a cessação da ingestão da pílula 
• Aumento da coagulabilidade do sangue 
• Aumento do riso de doença cardiovascular 
• Aumento do risco de desenvolvimento de câncer endometrial, ovariano e colorretal 
• Aumento do risco de desenvolvimento de câncer mama 
 
► Minipílula (contracepção apenas com progestogênios): 
Em situações nas quais o estrógeno possa estar contraindicado, é possível justificar o uso contínuo 
de progestágenos orais em baixas doses. Além disso, está indicado durante a amamentação, pois não inibe 
a produção de leite. 
A contracepção oral só com progestágenos impede a ocorrência de ovulação, provavelmente 
porque os progestágenos alteram a frequência dos pulsos de GnRH e diminuem a responsividade da 
adeno-hipófise ao GnRH. A despeito da frequência relativamente alta de ovulação, esse método de 
contracepção tem eficácia de 92%, sugerindo que certos mecanismos secundários também atuam, como 
alterações em muco cervical, receptividade do endométrio e peristaltismo das tubas. Como a progesterona 
inibe a proliferação do endométrio e promove sua secreção, é também possível que o ovo seja incapaz de 
se implantar em endométrio continuamente exposto a progestágeno. 
Mulheres que tomam esses fármacos geralmente não menstruam, porém é comum a ocorrência 
de sangramento inesperado e de períodos menstruais irregulares e de pouca intensidade durante o 
primeiro ano de administração. 
O uso desses fármacos deve ser diário, sem pausa entre as cartelas, preferencialmente no mesmo 
horário. 
 
Cartela com 28 comprimidos ativos Cartela com 35 comprimidos ativos 
 
Vantagens e desvantagens adversos 
Por não conterem estrógenos, os anticoncepcionais orais progestogênicos têm menores riscos de 
complicações, como acidente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio e tromboembolismo 
venoso. Também parece não haver efeito significativo sobre o metabolismo dos lipídios e carboidratos. 
 
9 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Todavia, a desvantagem em seu uso é a necessidade de adesão cuidadosa ao método, além da 
possibilidade de alteração de padrão menstrual, com sangramento irregular, ocasional ou prolongado. 
Além disso, é menos eficaz que a pílula combinada. 
► Contracepção de emergência (“pílula do dia seguinte”): 
 Contracepção de emergência refere-se à administração de 
medicamentos para impedir a gravidez após falha de contraceptivo de 
barreira (ruptura de preservativo) ou relação sexual desprotegida recente 
(incluindo estupro). Historicamente, os comprimidos de estrógeno-
progestágeno eram administrados para contracepção de emergência. 
Ensaios clínicos recentes demonstraram que o contraceptivo de emergência mais eficaz e com menos 
efeitos adversos é levonorgestrel oral de 1,5 mg, administrado em dose única, o mais rápido possível após 
a exposição. Levonorgestrel é potente progestágeno capaz de bloquear o surto de LH, interrompendo a 
ovulação normal, e de produzir alterações endometriais que impedem a implantação. 
A contracepção de emergência deve ser utilizada até 72h após a relação. Se realizado corretamente, 
o percentual de eficácia deste método é de aproximadamente 98%. Como pode causar náuseas, para 
evitar que a pílula pode seja perdida, pode-se associar um antiemético ao esquema. 
► Outros métodos: 
Além dos contraceptivos orais, a terapia hormonal está disponível na forma de adesivos 
transdérmicos, anéis vaginais, injeções intramusculares, implantes subcutâneos e dispositivos 
intrauterinos (DIU). 
→ Adesivo transdérmico: O anticoncepcional transdérmico consiste em matriz que 
l ibera continuamente etinilestradiol e progestágeno sintético, a 
norelgestromina. O adesivo é trocado semanalmente, durante 3 semanas. Na 
quarta semana, o adesivo não é utilizado, e pode ocorrer menstruação. 
 
 
 
→ Anel vaginal: O anel vaginal consiste em cilindro de silicone contendo etinilestradiol e progestágeno, o 
etonogestrel. Os esteroides são liberados com cinética de ordem zero. O anel é aplicado 
na vagina, onde permanece por 21 dias. Em seguida, é removido, e, 7 dias depois, coloca-
se novo anel. Durante os 7 dias após a remoção do anel vaginal, pode ocorrer 
menstruação. 
 
→ Injeções intramusculares: Os anticoncepcionais hormonais combinados injetáveis são utilizados 
mensalmente. Os mais utilizados são o de valerato de estradiol com 
enantato de noretisterona, e o cipionato de estradiol com acetato 
de medroxiprogesterona. A aplicação ocorre via intramuscular no 
músculo deltoide a cada 30 dias. O sangramento menstrual ocorre 
a cada três semanas após o 22° dia da injeção. Além disso, acetato 
de medroxiprogesterona pode ser administrado por via parenteral 
a cada 3 meses. 
 
10 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
→ Implante subcutâneo: Dispõe-se também de implante de silicone que libera etonogestrel; esse método 
mostra-se efetivo por 3 anos. O implante normalmente é inserido na face dorsal do antebraço. 
 
→ DIU: O DIU de levonogestrel, também conhecido pelo nome comercial Mirena, é um dispositivo de 
poliuretrano em forma de T que libera 20mcg levonorgestrel por dia. Tem validade de cerca de 5 anos. 
Funciona levando ao efeito a atrofia do endométrio, tornando o muco cervical espesso e dificultando a 
espermomigração e motilidade tubária. 
 
► Contracepção masculina: 
O objetivo da contracepção masculina seria suprimir de modo reversível a produção endógena de 
espermatozoides, ocasionando um estado de azoospermia (ausência de espermatozoides no ejaculado), 
sem suprimir a libido ou a função erétil. A inibição confiável da espermatogênese é tarefa difícil, uma vez 
que até mesmo redução de 99% da espermatogênese ainda resultaria em número suficiente de 
espermatozoides viáveis para fertilização. 
Os estudos iniciais de contracepção masculina se concentraram na administração parenteral de 
ésteres de testosterona, como enantato de testosterona ou undecanoato de testosterona. Como produto 
final do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, a testosterona suprime significativamente a liberação de 
gonadotrofinas. Os níveis circulantes reduzidos de LH e FSH são incapazes de estimular a função das células 
de Sertoli, resultando em diminuição da espermatogênese. Em ensaio clínico de grande escala, essa 
abordagem produziu taxa de fracasso contraceptivo de 1 por 100 homens-ano. Ensaios clínicos recentes 
indicam que a administração concomitante de andrógeno e progestágeno pode ser superior ao andrógeno 
isoladamente na supressão da espermatogênese, uma vez que a combinação suprime mais 
completamente a secreção de GnRH e a liberação de gonadotrofinas. As seguintes combinações 
 
11 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
demonstraram ser contraceptivos masculinos reversíveis efetivos: enantato de testosterona por via 
parenteral, mais levonorgestrel oral diariamente; e undecanoato de testosterona por via parenteral, mais 
acetato de medroxiprogesterona injetável; e administração transdérmica de testosterona e progestágeno 
sintético, a nestorona. As principais dificuldades encontradas com essa abordagem têm sido: acentuada 
variabilidade no grau de inibição da espermatogênese (em média, apenas 60% dos homens apresentam 
azoospermia) e efeitos adversos significativos, incluindo acne, ganho de peso, policitemia e aumento 
potencial no tamanho da próstata. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → TRATAMENTO DE DISFUNÇÃO ERÉTIL E 
HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA 
Disfunção erétil e hiperplasia prostática benigna são distúrbios urológicos comuns nos homens. 
» Disfunção erétil 
A disfunção erétil é a incapacidade de manter a ereção peniana para realizar a atividade sexual 
bem-sucedida. O termo – mais adequadodo que a palavra impotência, com conotação negativa – 
representa o distúrbio sexual masculino mais comum, classificado de acordo com a etiologia em 
psicogênica, orgânica e mista. Embora a maioria dos pacientes apresente fatores psicológicos e orgânicos 
associados (isto é, uma disfunção erétil mista), pode haver predomínio de uns ou outros. Quanto à 
intensidade, pode ser categorizada em leve, moderada ou grave. Embora não constitua ameaça à vida dos 
pacientes, essa condição gera profundo impacto na qualidade de vida dos homens e casais afetados. 
Aproximadamente 25 milhões de homens no Brasil sofrem de disfunção erétil em algum grau, sendo 
moderada ou grave em cerca de 11 milhões deles. 
 Fisiologia da ereção: 
A estimulação sexual resulta em relaxamento da musculatura lisa do corpo cavernoso, 
aumentando o influxo de sangue. O mediador dessa resposta é o óxido nítrico (NO), liberado tanto por 
nervos nitrérgicos como pelo endotélio. O NO ativa a guanilil ciclase, que forma monofosfato cíclico de 
guanosina (GMPc) a partir de trifosfato de guanosina. O GMPc produz relaxamento do músculo liso pela 
diminuição da concentração intracelular de Ca2+. 
 
 Fármacos utilizados no tratamento da disfunção erétil: 
A terapêutica da disfunção erétil abrange medidas não medicamentosas (psicoterapia, terapia a 
vácuo, tratamento cirúrgico, inserção de prótese peniana) e medicamentosas. Fármacos são usados por 
vias oral e intracavernosa e sob forma de reposição hormonal. 
► Inibidores da 5-fosfodiesterase (PDE5): 
➔ Representantes: Sildenafila, vardenafila, tadalafila e avanafila 
Para a terapia inicial de disfunção erétil, recomendam-se os inibidores da 5-fosfodiesterase por 
causa de sua eficácia, facilidade de uso e perfil de efeito colateral favorável. 
Mecanismo de ação: 
A 5-fosfodiesterase (PDE5) é a enzima que inativa o GMPc. Consequentemente, a inibição da 
fosfodiesterase V potencializa o efeito, sobre o músculo liso vascular peniano, do óxido nítrico. As 
 
13 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
concentrações plasmáticas máximas da sildenafila 
ocorrem aproximadamente 30 a 120 min após doses orais 
e são retardadas pela ingestão de alimentos; por isso, ela 
é ingerida 1 h ou mais antes da atividade sexual. É 
administrada em dose única, quando necessário. A 
tadalafila tem meia-vida mais longa que a sildenafila e, 
por isso, pode ser tomada muito antes da atividade 
sexual. 
 
Efeitos adversos: 
Muitos dos efeitos adversos dos inibidores da 5-fosfodiesterase são causados pela vasodilatação de 
outros leitos vasculares; eles incluem hipotensão, rubor e dor de cabeça. Além disso, alterações visuais são 
ocasionalmente descritas, e é consenso que a sildenafila tem alguma ação na 6-fosfodiesterase, presente 
na retina e importante na visão (um processo também dependente do GMPc). Logo, os fabricantes avisam 
que a sildenafila não deve ser usada em pacientes com doenças degenerativas hereditárias da retina (tais 
como retinite pigmentar), devido ao risco teórico de contribuir para o agravamento da doença. A 
vardenafila é mais seletiva para a isoenzima tipo 5 do que a sildenafila, mas é também contraindicada em 
pacientes com doenças hereditárias na retina. 
Interações medicamentosas: 
A sildenafila é metabolizada pela CYP3A4, que é induzida por carbamazepina, rifampicina e 
barbitúricos, e inibida por cimetidina, antibióticos macrolídios, imidazolinas antifúngicas e alguns agentes 
antivirais, como o ritonavir. Esses fármacos podem interagir com a sildenafila em consequência disso. 
Interação farmacodinâmica clinicamente importante, comum a todos os inibidores de 5-fosfodiesterase, 
ocorre com todos os nitratos orgânicos, que trabalham por meio do aumento de GMPc e são, portanto, 
marcadamente potencializados pela sildenafila. Consequentemente, o uso de nitrato ao mesmo tempo 
contraindica o uso concomitante de qualquer inibidor de 5-fosfodiesterase. 
► Outros: 
Ao longo dos séculos, tem ocorrido um comércio de diversas substâncias para o tratamento de 
disfunção erétil. A ioimbina, um antagonista de um receptor α2-adrenérgico, pode ter algum efeito 
positivo nesse sentido, mas os testes realizados mostraram-se inconclusivos. A apomorfina, agonista da 
dopamina, causa ereções em humanos, assim como em roedores, quando injetada subcutaneamente, mas 
é um poderoso emético, efeito desvantajoso nesse contexto. O quadro mudou quando foram descobertos 
fármacos vasodilatadores injetados diretamente no corpo cavernoso, causando a ereção peniana. A 
papaverina, se necessário com adição de fentolamina, foi usada nessa via. A via de administração não é 
aceitável para a maioria dos homens; contudo, os diabéticos, em particular, frequentemente não se 
assustam com agulhas, e esse enfoque foi uma verdadeira dádiva para a maioria desses pacientes. A PGE1 
(alprostadil) é comumente combinada com outros vasodilatadores quando administrada por via 
intracavernosa. Ela pode também ser administrada por via transuretral, como alternativa para a injeção, 
embora esse método também seja “pouco romântico”. 
Efeitos adversos: 
Efeitos adversos de todos esses fármacos incluem o priapismo (ereção prolongada e dolorosa com 
risco de lesão tecidual permanente), que não representa problema trivial. O tratamento consiste em 
 
14 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
aspiração do sangue e, se necessário, administração intracavernosa cuidadosa de um vasoconstritor, como 
a fenilefrina. 
» Hiperplasia prostática benigna 
A hiperplasia prostática benigna é o aumento não maligno da próstata, que ocorre naturalmente 
com o avanço da idade do homem. Conforme a próstata aumenta, desenvolvem-se sintomas no trato 
urinário inferior que podem impactar na qualidade de vida do paciente. 
 
 Fármacos utilizados no tratamento da hiperplasia prostática benigna: 
As principais classes de fármacos são usadas para tratar a hiperplasia prostática benigna: 
antagonistas α1-adrenérgicos e inibidores da 5-α-redutase. Todavia, outros fármacos podem ser utilizados. 
► Antagonistas α1-adrenérgicos: 
➔ Representantes: Terazosina, doxazosina, tansulosina, alfuzosina e silodosina 
Mecanismo de ação: 
Estes fármacos são bloqueadores competitivos seletivos do receptor α1. Assim, causam 
relaxamento da musculatura lisa do colo da bexiga e da cápsula prostática, o que melhora o fluxo da urina. 
Por isso, tais fármacos são úteis no tratamento da retenção urinária associada à hiperplasia prostática 
benigna. 
Os receptores α1A são encontrados na próstata, os receptores α1B estão presentes na próstata e nos 
vasos e os receptores α1D são encontrados nos vasos. Bloqueando os receptores α1A e α1B na próstata, os 
α-bloqueadores causam relaxamento do músculo liso prostático, o que melhora o fluxo da urina. 
Doxazosina, terazosina e alfuzosina bloqueiam os receptores α1A e α1B e assim, pelo bloqueio dos 
receptores α1B, diminuem a resistência vascular periférica e a pressão arterial, por relaxarem os músculos 
lisos arteriais e venosos. Em contraste, tansulosina e silodosina têm menor efeito na pressão arterial, pois 
são mais seletivos para o receptor α1A específico da próstata. 
Efeitos adversos: 
Os α1-bloqueadores podem causar tontura, falta de energia, congestão nasal, cefaleia, sonolência 
e hipotensão ortostática. Como já comentado, a tansulosina e a silodosina inibem os receptores α1A 
encontrados no músculo liso da próstata e, dessa forma, essa seletividade é responsável pelos efeitos 
relativamente mínimos na pressão arterial. 
 
15 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Devido ao risco de hipotensão ortostática, esses fármacos geralmente são administrados na hora 
de dormir e a dose é então titulada ao longo de várias semanas. Assim, pressão arterial deve ser monitorada 
em pacientes que iniciaram o tratamento com bloqueadores dos receptores alfa-adrenérgicos. 
Além disso, cerca de 82% dos homens tratados com qualquer bloqueador alfa-adrenérgicotêm 
algum grau de disfunção ejaculatória. Todavia, os α1-bloqueadores não afetam a função sexual masculina 
de modo tão acentuado quanto os α-bloqueadores não seletivos, isto é, que atuam tanto em receptores 
α1, quanto em α2, como fenoxibenzamina e fentolamina. 
► Inibidores da 5-α-redutase: 
➔ Representantes: Finasterida e dutasterida 
Mecanismo de ação: 
Estes fármacos inibem a enzima 5-α-redutase, que é responsável por converter testosterona em di-
hidrotestosterona (DHT) mais ativa. A DHT é o androgênio que estimula o crescimento da próstata. Assim, 
reduzindo a DHT, a próstata encolhe, e o fluxo melhora. 
Efeitos adversos: 
Os inibidores da 5-α-redutase causam efeitos adversos sexuais, como diminuição da libido, 
disfunção erétil, diminuição do volume seminal e ginecomastia. Finasterida e dutasterida têm potencial 
teratogênico. Logo, mulheres grávidas ou em idade fértil não devem manusear ou ingerir qualquer um dos 
fármacos, pois isso pode causar defeitos congênitos graves envolvendo a genitália de fetos masculinos. 
► Inibidores da 5-fosfodiesterase (PDE5): 
➔ Representante: Tadalafila 
A tadalafila é o único inibidor da PDE-5 aprovado para o tratamento da hiperplasia prostática benigna. 
A enzima 5-fosfodiesterase está presente na próstata e na bexiga. Assim, a inibição da 5-fosfodiesterase 
pela tadalafila permite a vasodilatação e o relaxamento do músculo liso da próstata e da bexiga, o que 
reduz os sintomas da hiperplasia prostática benigna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → TRATAMENTO DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA 
 Incontinência urinária é definida como qualquer 
perda involuntária de urina. Essa perda involuntária de 
urina pode estar associada com a urgência ou também 
com esforço, incluindo atividades esportivas ou em 
espirros ou tosse. É uma condição que afeta 
dramaticamente a qualidade de vida, comprometendo 
o bem-estar físico, emocional, psicológico e social. 
A incontinência urinária pode acometer 
indivíduos de todas as idades, com maior prevalência 
entre os idosos; e de ambos os sexos, porém a incidência 
dentre as mulheres chega a ser o dobro em relação aos 
homens. 
 
» Tratamento não medicamentoso 
Em casos leves, o tratamento da incontinência urinária pode ser feito com fisioterapia, especialmente 
em pacientes idosos, podendo ser realizada por meio de diversas técnicas de reabilitação do assoalho 
pélvico, visando fortalecer a musculatura perineal e melhorando o suporte vesical. Além disso, outras 
medidas terapêuticas não-farmacológicas envolvem reduzir peso, cessar tabagismo, diminuir o consumo 
de fluidos em excesso – especialmente de cafeína, álcool, bebidas carbonatadas e bebidas dietéticas – e 
estabelecer horários específicos para urinar durante o dia (intervalos a cada 2 a 3 horas parecem 
adequados). 
» Tratamento medicamentoso 
Os anticolinérgicos (antagonistas muscarínicos) constituem o grupo de drogas de primeira escolha. 
Outra opção medicamentosa são os agonistas β3-adrenérgicos. 
► Antagonistas muscarínicos: 
➔ Representantes: Oxibutinina, tolterodina e darifenacina 
Mecanismo de ação: 
Os antimuscarínicos atuam inibindo a contração do músculo detrusor da bexiga e estimulando a 
contração dos esfíncteres e, assim, são úteis no tratamento da incontinência urinária. A proporção de 
pacientes que relatam controle dos sintomas com esses fármacos é de 49%. 
Efeitos adversos: 
Os principais efeitos adversos desses fármacos advêm justamente de seu mecanismo de ação, isto é, 
bloquear receptores muscarínicos. Assim, podem causar midríase, visão borrada, constipação, retenção 
urinária, boca seca, hipertermia e confusão mental. Infelizmente, esses efeitos adversos acabam muitas 
vezes limitando o uso desses fármacos, visto que muitos pacientes não conseguem os tolerar. 
► Agonistas β3-adrenérgicos: 
➔ Representantes: Mirabegrona 
Mecanismo de ação: 
A mirabegrona é um agonista β3 adrenérgico. O receptor β3 está presente no músculo detrusor da 
bexiga e, assim, ao ser ativado, promove relaxamento deste músculo, aumentando a capacidade de 
armazenamento da bexiga, tendo, dessa forma, seu efeito no tratamento da incontinência urinária. 
 
17 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Tal fármaco deve ser considerado no tratamento da incontinência urinária caso o paciente tenha 
alguma contraindicação ao antagonista muscarínico, como glaucoma de ângulo fechado e arritmias 
cardíacas. Além disso, pode ser utilizado de maneira sinérgica com um antagonista muscarínico naqueles 
pacientes que não respondem à monoterapia. 
Efeitos adversos: 
Da mesma forma, os principais efeitos adversos desses fármacos advêm justamente de seu 
mecanismo de ação, isto é, ativar receptores adrenérgicos. Logo, podem causar arritmia, hipertensão, 
cefaleia, hiperatividade, tremores, insônia e náusea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → USO DE FÁRMACOS EM IDOSOS 
Na atualidade, a população brasileira é constituída por 12,5% de pessoas com 
mais de 60 anos de idade, segundo projeções do IBGE. A velocidade de envelhecimento 
é elevada, permitindo estimativas de que em 2030 o número proporcional de idosos será 
superior ao de indivíduos com menos de 14 anos de idade, com completa inversão da 
pirâmide etária em 2050. Tal realidade permite estimar o processo de transição 
epidemiológica com potencial impacto sobre as ações de saúde, visto que diversas são as peculiaridades 
fisiológicas e patológicas associadas ao envelhecimento. Isso coloca o indivíduo idoso sob maior risco de 
desenvolver doenças, maior demanda de tratamentos e maior risco de complicações não intencionais 
associadas a esses tratamentos, ou seja, iatrogenia. A iatrogenia, em virtude de seu significativo impacto 
clínico sobre a saúde do idoso, é considerada uma das síndromes geriátricas ou “gigantes da geriatria”. 
» Heterogeneidade do envelhecimento e vulnerabilidade individual 
De forma relevante, alterações próprias do envelhecimento (senescentes), em conjunto com as 
alterações patológicas (senis), reduzem a reserva funcional orgânica e têm consequências clínicas que se 
traduzem em menor resiliência e maior vulnerabilidade a distintos estímulos. Entretanto, não se trata de 
tradução de um processo dicotômico: ser ou não ser vulnerável. Há um espectro que parte de idosos 
plenamente robustos, passando por fenótipos intermediários de fragilização, até aqueles com dependências 
totais em situação de fragilidade plena; o que caracteriza a heterogeneidade do envelhecimento. Cabe 
destacar que esse fator independe da idade. Entre as diferentes categorias de vulnerabilidade, um mesmo 
estímulo nocivo poderá tanto ser inerte – naqueles mais robustos – como acarretar distintos graus de 
gravidade de complicações nos mais frágeis. Por outro lado, diferentes graus de estímulos nocivos podem 
causar uma mesma complicação (p. ex., hospitalização por evento adverso de fármaco), dependendo do 
perfil de vulnerabilidade do paciente exposto. Ou seja, pequeno estímulo nocivo (p. ex., diurético de alça 
em baixa dose) pode ter repercussão danosa em idoso frágil; porém, exposição a fármaco com alto 
potencial iatrogênico (p. ex., quimioterápico em 
alta dose) será necessária para desencadear 
evento clínico adverso de igual magnitude em 
idoso robusto. A figura abaixo ilustra tal 
fenômeno de interação de fatores tendo 
iatrogenia como desfecho. Portanto, identificar 
idosos de alto risco é fundamental ao adequado 
planejamento de prescrição e supervisão dos 
tratamentos. 
 
» Alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas no envelhecimento 
Modificações de funções fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento alteram tanto a 
farmacocinética como a farmacodinâmica nos idosos, mesmo na ausência de doenças, contribuindosignificativamente para maior suscetibilidade à iatrogenia, assim como para menor efetividade dos 
tratamentos. 
► Alterações farmacocinéticas: 
Alterações farmacocinéticas relacionadas ao envelhecimento ocorrem nas distintas fases do 
processamento medicamentoso: absorção, distribuição, metabolismo e excreção. 
 
19 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
A absorção dos fármacos não se altera de forma clinicamente relevante em condições usuais de 
envelhecimento, mesmo diante de menor superfície de absorção intestinal e motilidade do trato 
gastrointestinal, já que ocorre um balanço entre alterações que promovem ou retardam a absorção 
medicamentosa. Contudo, situações clínicas frequentemente observadas em idosos acabam contribuindo 
significativamente para alterações da absorção: problemas de deglutição, desnutrição proteica, 
alimentação por sondas e utilização de outros fármacos que atuam sobre pH e fluxo sanguíneo gástricos 
podem interferir na absorção de medicamentos. 
A distribuição dos fármacos é o processo farmacocinético de maior modificação com o 
envelhecimento, motivada, por exemplo, por alterações de constituição corporal e níveis plasmáticos de 
albumina. À medida que o corpo envelhece, há contínua redução de massa magra (muscular) e aumento 
da massa adiposa, também associada à lipossubstituição dos tecidos. Dessa forma, fármacos lipofílicos 
têm seu volume de distribuição elevado, o que justifica o aumento de sua meia-vida. Exemplo muito 
destacado em geriatria é o comportamento farmacocinético de diazepam nos idosos, fármaco altamente 
lipofílico, cuja meia-vida pode chegar a 96 h, aumentando o risco de complicações iatrogênicas. Níveis 
plasmáticos de albumina podem estar reduzidos, sobretudo em idosos com doenças crônicas, havendo 
consequente maior disponibilidade de frações livres de medicamentos. Sendo assim, a distribuição pode 
estar alterada de forma a tanto interferir na eficácia dos fármacos como elevar seu potencial tóxico. 
O metabolismo hepático de fármacos também se altera na senectude. À medida que um indivíduo 
envelhece, há redução de fluxo sanguíneo hepático e de parênquima funcionante do órgão, observando-
se redução de 30 a 40% na depuração de alguns medicamentos. As alterações mais proeminentes ocorrem 
sobre as reações de fase I (oxidação, redução, hidrólise) e sobre o metabolismo de primeira passagem. Por 
conseguinte, maiores níveis circulantes dos fármacos que se destoxificam pelo fígado são encontrados em 
idosos. 
A excreção renal de fármacos também se altera. No envelhecimento, o rim reduz massa total e fluxo 
sanguíneo renal. As alterações mais significativas estão relacionadas a redução do fluxo (cerca de 50% 
menor em octogenários em comparação a adultos jovens), esclerose glomerular e progressiva diminuição 
da taxa de filtração glomerular após a quarta década de vida. Consequentemente, há menor reserva 
funcional renal e maior acúmulo dos fármacos eliminados por essa via. Postula-se que o produto final do 
somatório dessas alterações farmacocinéticas seja maior acúmulo de fármacos e potencial aumento na 
toxicidade dos medicamentos em idosos. 
 
 
20 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Alterações farmacodinâmicas: 
Há também alterações farmacodinâmicas que podem influenciar a eficácia dos fármacos durante o 
envelhecimento, principalmente relacionadas aos efeitos em sistema cardiovascular e sistema nervoso 
central (SNC). Em grande parte, tais modificações de comportamento farmacológico se explicam por 
alteração no número de receptores celulares ou em suas afinidades. É muito difícil prever as respostas 
individuais dos idosos a diferentes medicamentos, porém, partindo-se das evidências de alterações de 
ação de alguns fármacos, deve-se ter maior precaução mediante prescrição de medicamentos com 
resposta hipotensora, efeitos inotrópicos negativos e ação no SNC. 
» Risco de iatrogenia medicamentosa em idosos 
Eventos adversos de fármacos, importante forma de iatrogenia, ocorrem em cerca de 20% de todos 
os tratamentos prescritos e já constituem a sexta causa de morte entre idosos dos EUA. Quando graves, 
eventos adversos de fármacos exigem hospitalização e são mais comuns em idosos. E grande parte das vezes, 
são evitados com simples prevenção. Uma metanálise de estudos observacionais evidenciou que esses 
eventos são responsáveis por até 16% das internações hospitalares e, de forma alarmante, demonstrou que 
88% delas poderiam ter sido evitadas. 
Falhas na prescrição e no uso de medicamentos associam-se a desfechos negativos relacionados a 
fármacos em considerável monta, principalmente quando há superdosagem. Contudo, recente publicação 
evidenciou que tratamentos em si são causa desses eventos em cerca de 90% das vezes, mesmo quando 
adequadamente prescritos. Portanto, há risco iatrogênico significativo mesmo quando os fármacos são 
adequadamente prescritos e consumidos. E, como já comentado, parte do que ocorre se deve a 
vulnerabilidade individual e alterações fisiopatológicas que acompanham o envelhecimento. Todavia, isso 
não explica a totalidade do fenômeno, com outra parte do problema residindo no emprego dos fármacos. 
Nesse cenário, dois fatores se destacam: a polifarmácia e o potencial iatrogênico de cada medicamento. 
► Polifarmácia: 
 Caracteriza-se pelo uso concomitante de 5 ou 
mais medicamentos, definição respaldada por maior 
frequência de mortalidade, fragilidade, quedas e 
incapacidades. A polifarmácia prevalência elevada 
em idosos. Estudo brasileiro de base populacional 
evidenciou que 91% dos idosos utilizavam pelo 
menos 1 medicamento, e que 27% deles recebiam 
diariamente 5 ou mais fármacos. Nos EUA, a 
prevalência foi de 50% para 5 ou mais medicamentos 
e de 12% para uso regular de pelo menos 10 fármacos. 
Contudo, a coocorrência de doenças crônicas não transmissíveis é fator de risco robusto para a 
polifarmácia, podendo corresponder a potencial viés na associação entre essa condição e desfechos. 
Entretanto, recente metanálise de 50 estudos observacionais de boa qualidade metodológica foi capaz de 
demonstrar associação entre polifarmácia e desfechos negativos de forma independente das comorbidades. 
Os medicamentos mais frequentemente prescritos e associados à polifarmácia são justamente os 
com maior potencial de alterações farmacodinâmicas e responsáveis pela maior frequência de eventos 
adversos em idosos, tendo ação sobre sistemas nervoso central e cardiovascular. Portanto, polifarmácia 
constitui fator de risco em pacientes com 60 anos ou mais, impondo revisões constantes da prescrição 
farmacológica e abordagens de uso racional de medicamentos. 
 
21 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Potencial iatrogênico de cada medicamento: 
Tão ou mais importante do que o número de fármacos prescritos, o potencial iatrogênico individual 
de certos medicamentos pode agregar maior risco ainda a essa suscetível população. Isso decorre de sua 
maior permanência e disponibilidade na corrente sanguínea, seu comportamento farmacodinâmico e seu 
potencial de interação farmacológica. Diversos fármacos com alto potencial iatrogênico individual 
costumam ser rotulados de “Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Uso em Idosos” ou “PIMs” 
(sigla oriunda da expressão em inglês). Esse termo foi difundido na comunidade científica a partir de 
consenso de especialistas publicado pela primeira vez em 1991, conhecido como “Critérios ou Lista de 
Beers”, sobrenome do primeiro autor. Esse consenso, posteriormente adotado e frequentemente revisado 
pela American Geriatrics Society (AGS), tornou-se norteador da prescrição farmacológica adequada ao idoso. 
De forma prática, PIMs são separados por classes ou ações farmacológicas, com seus respectivos racionais 
teóricos e níveis de evidência para fazer adequadas recomendações. Além disso, há uma tabela de PIMs, 
categorizados pela potencial interação de um fármaco com uma doençaou síndrome, descrevendo as 
possíveis complicações iatrogênicas da citada interação. O quadro abaixo, no mesmo formato dos Critérios 
de Beers, traz exemplos de fármacos frequentemente utilizados e potencialmente inapropriados para 
idosos. 
 
O quadro abaixo, igualmente adaptado da mesma publicação, apresenta exemplos de interação 
fármaco-doença. 
 
22 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
Apesar de ser amplamente utilizada como referência na avaliação de risco para eventos adversos de 
fármacos em idosos, a categorização de Beers contém medicamentos usados pela minoria deles (12 a 21% 
e perto de 35% das populações idosas norte-americana e brasileira, respectivamente). Adicionalmente, a 
maior parte dos eventos graves é causada por medicamentos não contemplados por essa diretriz, o que 
caracteriza a maior limitação do método. Cerca de 70% das internações hospitalares decorrentes de 
eventos graves são causados por varfarina (33%), insulinas (14%), antiagregantes plaquetários (13%) e 
hipoglicemiantes orais (10%). Diante disso, outras formas de avaliação de potencial iatrogênico individual 
de fármacos em formato de PIMs foram publicadas e têm seu espaço tanto na clínica diária como em 
cenários de pesquisa. Por exemplo, o STOPP/START (Screening tool of older people’s 
prescriptions/Screening tool to alert to right treatment) traz, além dos PIMs, uma lista de omissões 
frequentes de prescrição de medicamentos com benefício claro e sustentado por evidências científicas, 
equívoco tão potencialmente danoso como prescrições inapropriadas. Exemplos são mostrados no quadro 
abaixo. 
 
Existem ainda outras avaliações de risco que priorizam identificação de prescrição e uso de 
medicamentos com ação anticolinérgica e sedativa, e suas consequências sobre sistema nervoso central. 
 
23 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Dentre elas, destaca-se a escala de risco anticolinérgico. A partir de escore de potencial anticolinérgico 
individual de diversos fármacos (de 1 a 3 pontos), soma-se a pontuação total conferida pelos fármacos em 
uso. Quanto maior a pontuação, maior o risco de eventos adversos de fármacos anticolinérgicos, tanto 
centrais como periféricos. O papel fundamental da escala é chamar a atenção para o tópico e educar quanto 
ao potencial iatrogênico de fármacos comumente prescritos. 
Em conclusão, aspectos relacionados ao indivíduo (alterações fisiopatológicas e vulnerabilidade 
relacionadas ao envelhecimento) e aos fármacos (polifarmácia e potencial iatrogênico) são os principais 
fatores de risco para iatrogenia em idosos. 
» Uso racional de medicamentos e otimização da prescrição farmacológica no idoso 
Caracterizado o problema, sua qualificação de risco e seu impacto clínico na iatrogenia em idosos, 
cabe destacar ações para preveni-lo e/ou minimizá-lo. 
O primeiro passo é diagnosticar corretamente e só usar medicamento quando realmente se faz 
necessário (evitar medicalização); o segundo é avaliar o paciente de forma ampla para identificar 
vulnerabilidade e eventual redução de suas reservas funcionais; o terceiro é avaliar se são cabíveis 
medidas não farmacológicas, respeitando o preceito de efetividade demonstrada cientificamente. Em 
sequência, procede-se à escolha apropriada do medicamento, de sua dose e tempo de intervenção para a 
determinada condição de saúde no paciente específico. Considerar comorbidades, medicamentos já em 
uso (potenciais interações) e fármacos classificados como potencialmente inapropriados para idosos faz 
parte desse processo de escolha. 
Entretanto, tratamentos podem ser iatrogênicos mesmo quando bem escolhidos e prescritos, 
principalmente em idosos. Diante disso, a prevenção da iatrogenia vai além da escolha do fármaco. Envolve 
diagnóstico correto, tratamento direcionado a diagnósticos documentados, escolha do medicamento e dose, 
escalonamento gradual da dose, educação dos pacientes (e familiares) e contínua reavaliação, 
preferencialmente de forma sistematizada para permitir aferição de qualidade de cuidado. Esse tipo de 
processo é parte relevante da boa prática clínica em todas as faixas etárias. Porém estima-se que nos 
pacientes com maior vulnerabilidade, tais processos devem ser agregados a itens pontuais que, por sua 
frequência e impacto na prática clínica, podem evitar tanto eventos iatrogênicos como a subprescrição de 
fármacos com potencial benefício. Baseando-se nisso, um projeto denominado Assessing Care of 
Vulnerable Elders (ACOVE), promovido por organização sem fins lucrativos com sede nos EUA, elencou 
indicadores de qualidade do uso de medicamentos, além das demais ferramentas de avaliação de 
qualidade no cuidado do idoso vulnerável. Dentre seus diversos itens, destacam-se alguns: 
 
 
24 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → TRATAMENTO DE CEFALEIA 
Cefaleia é uma queixa extremamente comum, tanto em atendimentos de 
emergência quanto em consultas ambulatoriais. A prevalência média em 1 ano de cefaleia 
é de 46%. De acordo com o estudo Global Burden of Disease de 2010, cefaleia tipo tensão 
e migrânea são respectivamente a segunda e a terceira doença mais comum do mundo, 
perdendo apenas para cáries dentárias. 
As cefaleias podem ser classificadas como primárias ou secundárias, e é de fundamental 
importância a distinção etiológica destas, especialmente porque as cefaleias secundárias estão associadas 
a outras patologias subjacentes, algumas, potencialmente ameaçadoras à vida. As cefaleias primárias 
compreendem a migrânea (conhecida como enxaqueca), cefaleia tipo tensão, cefaleias trigêmino-
autonômicas e outras cefaleias primárias. Por outro lado, toda cefaleia nova que possa ter iniciado após 
alguma perturbação, seja ela da natureza que for, com uma estreita relação causal comprovada, é uma 
cefaleia secundária. Fica implícito que tal distúrbio precisa de fato ser uma causa de cefaleia, como 
traumatismo crânio encefálico, hemorragia intracraniana, lesão intracraniana com efeito de massa, infecção 
de seios paranasais, por exemplo. 
» Bases fisiopatológicas da enxaqueca 
Para entendermos os fármacos mais utilizados no tratamento da enxaqueca, precisamos 
compreender as suas bases fisiopatológicas. As causas da enxaqueca não estão totalmente compreendidas. 
Historicamente, houve o desenvolvimento de três hipóteses principais e que tinham em conta os sintomas. 
A teoria “vascular” clássica, inicialmente proposta há cerca de 50 anos por Wolff, implicava uma 
vasodilatação causadora da cefaleia. 
A hipótese “cerebral” associa os sintomas ao fenômeno da depressão alastrante cortical. Este 
fenômeno, embora dramático, é pouco compreendido e pode ser desencadeado experimentalmente em 
animais pela aplicação local de K+ no córtex. Parece ocorrer em humanos, por exemplo, após uma 
concussão. Nesse caso, uma concussão provoca o avanço de uma onda de profunda inibição neural, que 
evolui lentamente sobre a superfície cortical a uma velocidade aproximada de 2 mm/min. Na área afetada, 
o equilíbrio iônico é grosseiramente perturbado por uma concentração extracelular de K+ extremamente 
alta e redução do fluxo sanguíneo. 
 
A hipótese “inflamatória” propõe que a ativação das terminações nervosas trigeminais, localizadas 
nas meninges e vasos extracranianos, constitui o evento primário de uma crise de enxaqueca. Esse evento 
causaria diretamente a dor e também induziria alterações inflamatórias via liberação de neuropeptídeos 
e outros mediadores inflamatórios a partir das terminações nervosas sensitivas (inflamação neurogênica). 
» Iniciando o tratamento 
O tratamento das cefaléias começa com um diagnóstico adequado, com a identificação de suas 
causas primárias e secundárias. Uma vez realizado o diagnóstico de cefaléia primária, os pacientes se 
beneficiarão de uma explicação completa acerca de sua patologia. Muitos pacientes com cefaléia 
recorrente acreditam que suas queixas não são levadas a sério e geralmentese preocupam com condições 
 
25 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
secundárias que poderiam estar deflagrando sua dor de cabeça, como, por exemplo, tumores cerebrais e/ou 
aneurismas cerebrais. Além disso, é necessário esclarecer aos pacientes os objetivos do tratamento. 
» Tratamento abortivo 
O tratamento abortivo é aquele utilizado durante as crises dolorosas. O seu objetivo é o alívio rápido 
e sustentado da dor. O paciente deve ser orientado acerca da dose diária máxima (para que determinado 
valor não seja excedido), da frequência máxima de uso semanal (visto que o uso crônico de medicamentos 
além de efeitos adversos, pode levar ao desenvolvimento de cefaleia por abuso de analgésicos) e do uso 
precoce desses fármacos. 
 
ATENÇÃO: Opioides NUNCA são usados na cefaleia, pois são menos efetivos, podem diminuir 
o efeito dos medicamentos profiláticos e estão associados a maior risco de induzir cronificação 
da dor. 
 
 
Opções farmacológicas: 
• Para cefaleia de intensidade leve a moderada: 
⤷ Analgésicos simples 
⤷ AINES 
• Para enxaqueca de intensidade moderada a forte: 
⤷ Triptanos 
⤷ Ergotamínicos 
 
26 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Tratamento abortivo da cefaleia de intensidade leve a moderada: 
Para crises de cefaleia de intensidade leve a moderada, analgésicos simples (como paracetamol e 
dipirona) ou AINEs (como AAS, ibuprofeno e diclofenaco de sódio) são os agentes de primeira escolha 
porque são eficazes, menos caros e menos propensos a causar efeitos adversos do que os agentes 
específicos da enxaqueca, como triptanos ou ergotamínicos. Quando ataques leves a moderados estão 
associados a náuseas ou vômitos graves, um antiemético pode ser usado em conjunto com os analgésicos 
referidos. 
► Tratamento abortivo da enxaqueca de intensidade moderada a forte: 
Para crises de cefaleia de intensidade leve a moderada, triptanos são os agentes de primeira escolha. 
Já os ergotamínicos são indicados apenas quando o paciente não consegue usar os triptanos. 
 Triptanos: 
➔ Representantes: Sumatriptano, naratriptano, almotriptano, eletriptano, frovatriptano, 
rizatriptano e zolmitriptano 
Esses fármacos são agonistas de receptores serotoninérgicos do tipo 5-HT1 e são, em geral, 
classificados como agonistas 5-HT1B/1D, em grande parte devido à dificuldade para distinguir as ações 
nesses dois receptores. Assim, agem em um subgrupo de receptores de serotonina encontrado em 
pequenos nervos periféricos que inervam os vasos intracranianos. Logo, são úteis no tratamento da 
enxaqueca, pois atuam em receptores pré-sinápticos do nervo trigêmeo, impedindo a liberação de 
neuropeptídeos vasoativos. Além disso, provocam vasoconstrição direta. 
 
Os efeitos adversos associados a esses fármacos são náusea, vômitos e diarreia. Também estão 
associados a parestesias, rubor facial, palpitação, dor ou sensação de peso no tórax, pescoço e mandíbula. 
Além disso, devido ao efeito de vasoconstrição, podem causar um episódio de isquemia periférica e, 
portanto, são contraindicados em pacientes com cardiopatia isquêmica e HAS não controlada. 
 Ergotamínicos: 
➔ Representantes: Ergotamina e di-hidroergotamina 
Os ergotamínicos são agonistas não-seletivos do receptor de serotonina do tipo 5-HT1. Dessa forma, 
possuem o mesmo mecanismo de ação dos triptanos, mas são menos potentes e estão associados a mais 
efeitos adversos. No Brasil, os ergotamínicos só estão disponíveis via oral e em associação com analgésicos 
simples e cafeína. Não são vendidos de maneira isolada. 
Os efeitos adversos associados a esses fármacos são náusea, vômitos e diarreia. Além disso, devido 
ao efeito de vasoconstrição, podem causar um episódio de isquemia periférica e, portanto, são 
contraindicados em pacientes com cardiopatia isquêmica e HAS não controlada. 
 
27 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Tratamento abortivo da enxaqueca em situações de emergência: 
 
● Administrar antiemético parenteral se vômitos ou uso prévio de medicações: dimenidrato 30mg por 
via intravenosa (IV) diluído em 100ml de soro fisiológico a 0,9% ou dimenidrato 50 mg por via 
intramuscular (IM); 
● Dipirona 1 grama (2 ml) IV diluído em água destilada (8ml); 
● Cetoprofeno 100mg IV diluído em soro fisiológico 0,9% (100ml) ou 100mg IM. 
● Recomenda-se jejum, com reposição de fluidos (soro fisiológico 0,9%) por via intravenosa (IV) se 
houver indícios de desidratação; 
Recomenda-se reavaliar paciente em 1 hora; se não houver melhora, prescrever sumatriptano 
6mg subcutâneo (1 seringa com 0,5ml), repetindo a dose, se necessário, em 2 horas. Se houver melhora 
da dor, liberar o paciente e encaminhar para acompanhamento ambulatorial na UBS. Se houver piora ou 
não melhora da dor após 2 horas de observação, encaminhar paciente para hospital terciário por meio 
da Central de Regulação para avaliação de neurologista. 
 
● Tratamento da crise como citado anteriormente associado a dexametasona 10mg (ampola 
10mg/2,5ml) IV lento. 
● Jejum e acesso venoso para reposição de fluidos se necessário. Infundir soro fisiológico a 0,9% 500ml 
em pinça aberta; 
Se não melhorar com dexametasona e estiver na urgência da UBS encaminhar o paciente para 
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde deverá ser prescrito: clorpromazina 0,1-0,25mg/kg 
IM (ampola 25 mg/5 ml); manter infusão de soro fisiológico a 0,9%. Se em 1 hora o paciente mantiver a 
dor, repetir clorpromazina por até três vezes, no máximo. 
» Tratamento profilático 
O tratamento profilático é aquele feito para evitar o acontecimento de novas crises. O objetivo é 
obter uma redução de pelos menos 50% da frequência, duração ou intensidade nas crises de cefaleia em 
um período de 3 meses e evitar o desenvolvimento da cefaleia por abuso de analgésico. 
 
 
Nos casos em que a dor tem duração inferior a 72 horas: 
Nos casos em que a dor tem duração superior a 72 horas (estado migranoso): 
➢ Crises frequentes (mais de duas por mês) 
➢ Cefaleia interfere significativamente no dia a dia do paciente, apesar do tratamento abortivo das 
crises 
➢ Uso excessivo de medicamentos (em razão de crises frequentes, incapacitantes ou de longa duração) 
➢ As medicações utilizadas na terapia abortiva são inefetivas, contraindicadas ou causam efeitos 
adversos intoleráveis 
➢ Preferência do paciente 
➢ Presença de condições incomuns de migrânea (potencialmente graves), incluindo migrânea 
hemiplégica, basilar, com aura prolongada ou infarto migranoso 
 
 
28 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Os fármacos utilizados são escolhidos com base no perfil de efeitos adversos e na resposta 
individual. A resposta farmacológica é avaliada entre 2 a 6 meses após o início da terapêutica. 
 
Obs.: Em pacientes com enxaqueca, essas quatro classes farmacológicas podem ser utilizadas. No entanto, 
na cefaleia do tipo tensional, a tendência é utilizar mais os antidepressivos tricíclicos. 
 Beta-bloqueadores: 
➔ Representantes: Propranolol 
Os beta-bloqueadores atuam modulando as vias serotonérgicas e adrenérgicas, aumentando o 
limiar para a crise. Os beta-bloqueadores não seletivos, como o propranolol, são mais eficazes. Os 
indivíduos que mais se beneficiam com o uso dessas medicações são pacientes com HAS, ansiedade ou 
cardiopatia isquêmica. 
Os efeitos adversos são bradicardia, hipotensão, alterações do sono, disfunção erétil, tontura e 
fadiga. Há contraindicação para pacientes com asma e DPOC (devido a broncoconstrição), depressão e 
diabetes (visto que pode mascarar uma crise de hipoglicemia). 
 Anti-convulsivantes: 
➔ Representantes: Ácido valproico e topiramato 
O ácido valproico atua bloqueando canais de sódio e cálcio, além de ter efeito agonista de GABA. 
Como consequência, aumenta o limiar nociceptivo para uma crise de enxaqueca. É uma boa opção 
terapêutica para pacientes que têm comorbidades como transtornos psiquiátricos (como bipolaridade) ou 
epilepsia. 
Os principais efeitos adversosdo uso deste fármaco são ganho de peso, alopecia e tremores. Além 
disso, devido ao risco de hepatotoxicidade, é necessária a monitorização da função hepática. Além disso, 
o valproato é teratogênico, logo é necessário atenção no seu uso por mulheres em idade fértil. 
O topiramato tem como mecanismo de ação ser antagonista de glutamato, agonista de GABA e 
bloquear canais de sódio e cálcio. Como consequência, também aumenta o limiar nociceptivo para uma 
crise de enxaqueca. É uma boa opção terapêutica para pacientes que têm comorbidades como epilepsia 
ou sobrepeso/obesidade. 
Os efeitos adversos são parestesias, fadiga, perda ponderal, glaucoma e prejuízos cognitivos. São 
contraindicados em pacientes com história de litíase renal. 
 
Opções farmacológicas: 
• Beta-bloqueadores 
⤷ Propranolol 
• Anticonvulsivantes 
⤷ Ácido valproico 
⤷ Topiramato 
• Antidepressivos tricíclicos 
⤷ Amitriptilina 
• Bloqueadores dos canais de cálcio 
⤷ Verapamil 
⤷ Flunarizina 
 
 
29 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 Antidepressivos tricíclicos: 
➔ Representantes: Amitriptilina, nortriptilina, clomipramin e imipramina 
A amitriptilina é o antidepressivo tricíclico mais utilizado para o tratamento profilático da cefaleia. 
O efeito desse fármaco na dor de cabeça independente da atividade antidepressiva. Os antidepressivos 
tricíclicos atuam bloqueando as bombas de recaptação de noradrenalina (NAT ou NET) e de serotonina 
(SERT). Dessa forma, acabam aumentando o limiar de ação nociceptivo para a crise de dor. Além disso, 
também bloqueiam os receptores serotoninérgicos, α-adrenérgicos, histamínicos e muscarínicos. Ainda 
não se sabe se alguma dessas ações é responsável pelo benefício terapêutico desses fármacos; contudo, 
as ações nesses receptores provavelmente são responsáveis por muitos dos seus efeitos adversos. 
Logo, tais fármacos possuem, como efeitos adversos, efeitos anti-muscarínicos, como xerostomia, 
constipação, retenção urinária, glaucoma, taquicardia e confusão mental, efeitos anti-histamínicos, como 
sedação e ganho ponderal, e efeitos do bloqueio alfa-adrenérgico, como hipotensão ortostática e retardo 
da condução atrioventricular. 
 Bloqueadores dos canais de cálcio: 
➔ Representantes: Verapamil e flunarizina 
Tais fármacos são muito utilizados no tratamento profilático de pacientes com cefaleia associada a 
transtornos vestibulares. 
Os efeitos adversos do verapamil são constipação, náusea e vômito, tontura, hipotensão, edema e 
alterações da condução cardíaca. 
Os efeitos adversos da flunarizina são ganho ponderal, sonolência, depressão, tontura, xerostomia 
e parkinsonismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → TRATAMENTO DA ANEMIA 
A anemia é definida como a concentração plasmática de hemoglobina abaixo do 
normal. Qualquer condição que resulte em deficiência funcional da medula óssea, 
anormalidade primária no eritrócito e destruição ou perda aumentada, pode levar à 
anemia. As manifestações clínicas dependem fundamentalmente de intensidade e 
velocidade do desenvolvimento da anemia, mas também de idade, estado físico do 
paciente e comorbidades. Nas anemias crônica e aguda, os sintomas relacionam-se principalmente à 
hipoxemia de tecidos e órgãos. As manifestações mais precoces de anemia moderada são cansaço, 
fraqueza generalizada seguida de palpitação e dispneia aos esforços. 
» Ferro 
O ferro é uma substância inorgânica, necessária em 
pequenas quantidades e amplamente disponível na dieta. 
Encontra-se principalmente em vegetais verdes, trigo, coração, 
fígado, gema de ovo e carne. Cerca de 5 a 10% do ferro ingerido 
são absorvidos em condições normais, principalmente em 
duodeno e jejuno. Parte do ferro ingerido permanece na 
própria ferritina das células mucosas, e o restante tem acesso 
ao plasma. A absorção depende da forma de ferro. Absorvem-
se 20 a 40% do ferro contido no pigmento heme e 5% do não 
heme (grãos e vegetais). O ferro não heme tem sua absorção 
diminuída por constituintes de dietas vegetarianas, especialmente o fosfato. Ácido ascórbico e carne 
aumentam a absorção, ao passo que inflamações gastrointestinais crônicas e agudas a diminuem. O 
transporte de ferro no plasma é feito por transferrina. A quantidade total de ferro do organismo (50 mg/kg 
em homens e 35 mg/kg em mulheres) distribui-se entre hemoglobina (65%), ferritina e hemossiderina 
(30%), mioglobina e enzimas (5%). 
 
Como constituinte da heme e pela facilidade com que sofre reações de oxirredução, o ferro exerce 
seu papel fisiológico fundamental, o transporte de oxigênio. 
 
31 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
O ferro é rigidamente conservado pelo organismo. Não há sistemas de depuração, perdendo-se por 
dia somente o contido em células descamadas de pele e condutos gastrointestinal e urinário (em torno de 
1 mg/dia). Assim, a grande causa de deficiência de ferro é a perda de sangue. As mulheres podem perder 
mais 0,006 mg/kg/dia, em média, durante a menstruação. Além disso, gestantes perdem 3,5 vezes mais 
ferro que um homem normal. 
Indicações médicas 
As indicações médicas para a administração de ferro podem ser profiláticas e terapêuticas. As 
indicações profiláticas incluem condições etárias ou fisiológicas em que há aumento da demanda, como 
gestação, lactação, fases de crescimento rápido, recém-nascidos com baixo peso e lactentes alimentados 
com fórmulas. Já as indicações terapêuticas são para pacientes já diagnosticados com ferropenia. 
O tratamento de anemias ferroprivas deve ser inicialmente dirigido à eliminação da causa básica. Se 
persistir, cabe escolher entre reposição de sangue ou ferro. Algumas vezes a decisão é evidente, como em 
hemorragia aguda e intensa, em que se repõe sangue. Nesse caso, além de repor elementos figurados, 
corrige-se a volemia. Quando não há acentuados comprometimentos hemodinâmico e sintomático, deve-
se corrigir a anemia por meio da reposição das reservas de ferro. Isso pode ser feito mais rapidamente com 
uso farmacológico de compostos de ferro ou com dietas ricas nesse mineral. Não estão definidos os valores 
de hematócrito ou hemoglobina que suportam uma ou outra conduta. Sais ferrosos são preferíveis aos 
férricos por serem mais bem absorvidos por via oral. Assim, por extensa experiência de emprego e menor 
custo, prefere-se sulfato ferroso. Apresentações mais recentes, na forma de ferro aminoácido quelato ou 
associado à inulina, não mostraram benefícios em relação ao sulfato ferroso. É mais bem absorvido se 
tomado entre as refeições, mas é em geral prescrito com alimentos para amenizar efeitos adversos 
gastrointestinais. As condições ácidas do estômago mantêm o ferro na forma ferros (reduzida), que é a 
forma mais solúvel. Logo, pode-se recomendar que o 
paciente ingira o medicamento com alguma bebida ácida. O 
intervalo entre as doses é em geral de 8 h para permitir o 
pronto aproveitamento do ferro absorvido na síntese da 
hemoglobina e diminuir a irritação gastrointestinal de dose 
única. 
Doses orais profiláticas e terapêuticas, recomendadas 
em diferentes situações clínicas, são mostradas no quadro ao 
lado. 
 
 
32 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
A resposta hematológica a doses adequadas de ferro oral aparece em 2 semanas e aumenta a 
produção de hemoglobina em torno de 0,1 a 0,2 g/dℓ/dia ou 2 g/dℓ nas primeiras 3 semanas de 
tratamento. Se não houver persistência da causa da anemia, a hemoglobina normaliza-se em 2 meses. 
Reticulócitos aumentam a partir do terceiro ou quarto dia, com pico entre o quinto e o décimo dia. A 
frequência de realização de eritrogramas de controle deve ser individualizada para cada paciente. Aqueles 
que não apresentam mais perdas e não têm outras complicações podem ser seguidos clinicamente, 
realizando exame mensal. Caso contrário, recomenda-se a realização de eritrograma semanal. O tratamentonormalmente dura de 3 a 6 meses. 
O uso de ferro parenteral está indicado em ausência de resposta à terapia oral, falta 
de adesão ou indisponibilidade da via oral. Utiliza-se classicamente ferrodextrana 
(complexo oxi-hidroxiférrico com dextrana) ou ferro coloidal, contendo 50 mg/mℓ de ferro. 
Administra-se por via intravenosa, pois a intramuscular não garante adequada 
biodisponibilidade. A vantagem da administração endovenosa é não depender de absorção e poder 
oferecer ao paciente doses mais altas de ferro em menor tempo de tratamento, com aumento inicial da 
hemoglobina mais rápido. 
Efeitos adversos 
Efeitos adversos de ferro oral são, geralmente, dependentes de dose e se devem ao elemento ferro. 
Incluem distúrbios gastrointestinais, particularmente náuseas, dor epigástrica e diarreia ou constipação 
intestinal, além de fezes escuras. O escurecimento das fezes confunde-se por vezes com melena. Além disso, 
soluções de ferro oral tingem os dentes por contato direto, o que pode ser prevenido pela administração 
com conta-gotas na base da língua. Para aumentar a tolerância a sais ferrosos, pode-se iniciar o tratamento 
com doses baixas, aumentando-as progressivamente. 
Com relação a interações medicamentosas, vale saber que a absorção intestinal de ferro oral é 
diminuída por antiácidos, inibidores da bomba de prótons, cálcio, levotiroxina e alguns antibióticos. 
A infusão endovenosa de ferro pode desencadear reações alérgicas e até anafilactóides. 
Entretanto, reações mais severas são extremamente raras. Mais comumente podem ser observadas 
urticária (rash cutâneo), palpitações, tonturas; geralmente quadros autolimitados e de curta duração; mais 
frequentemente iniciados durante as infusões. Alterações podem ainda acontecer nas primeiras 24 horas 
após a infusão e incluem febre, artralgias e mialgias, de leve intensidade e também autolimitadas. 
Falha no tratamento 
As causas mais frequentes de falha no tratamento com ferro por via oral, ou de sua refratariedade, 
estão relacionadas no quadro abaixo. 
• Continuidade da perda de sangue por falha na identificação ou correção de sangramento e/ou de 
distúrbio de absorção de ferro 
• Medicação usada inadequadamente - baixa adesão ao tratamento devido aos efeitos adversos 
gastrointestinais e/ou dose inadequada e/ou duração insuficiente 
• Doença coexistente interferindo na resposta ao tratamento com ferro por via oral - doença renal 
crónica; doença inflamatória ou infecciosa associada 
• Doenças associadas com distúrbio de absorção do ferro - doença celíaca, gastrite atrófica 
autoimune e infecção pelo Helicobactet pylori 
• Diagnóstico incorreto 
• Interação medicamentosa 
• Deficiências nutricionais combinadas 
• Causas genéticas de deficiência de ferro 
https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/quando-e-como-fazer-reposicao-de-ferro-endovenosa/
 
33 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
» Vitamina B12 e Ácido fólico 
A vitamina B12 – também chamada de cianocobalamina – é uma 
vitamina hidrossolúvel, não sintetizada pelo organismo e presente em 
alimentos de origem animal (fígado, músculos, ovos, leite e queijo). É 
composta de substâncias com estrutura química complexa e cobalto 
(cobalamina). 
A necessidade diária de cianocobalamina varia de 0,3 a 1,2 µg, e a 
ingestão diária média oferece de 5 a 15 µg. Para absorção no íleo, é 
necessária sua ligação com proteína secretada no estômago, o fator 
intrínseco. Uma vez absorvida, é transportada por transcobalamina II, uma 
betaglobulina plasmática, sendo levada aos tecidos. O maior sítio de 
armazenamento é o fígado. 
 
 
 
 
 
Já o ácido fólico (folato) é proveniente de alimentos que incluem vegetais de folhas verdes 
(espinafre, alface, brócolis), feijão, frutas (banana, melão, limão), leveduras, cogumelos e proteína animal 
(músculo, fígado, rim). O folato presente na dieta existe em diversas formas, a maior parte deste, na forma 
de poliglutamato folato. 
A vitamina B12 e o ácido fólico são coenzimas necessárias para a síntese de timidina, uma das 
quatro bases encontradas no DNA. Uma deficiência dessas vitaminas ou um prejuízo em seu metabolismo 
resulta em maturação nuclear defeituosa decorrente de síntese desorganizada ou inadequada de DNA, 
com consequente retardo ou bloqueio da divisão celular, um efeito que é clinicamente verificado 
principalmente na medula óssea, na qual a divisão celular é rápida. Assim, quando há uma deficiência de 
vitamina B12, ocorre uma anemia megaloblástica. Sua deficiência é pouco frequente por diminuição do 
aporte na dieta, todavia é muito frequente em pessoas com problemas de absorção gastrointestinal. A 
forma mais frequente é a anemia perniciosa, decorrente da não produção do fator intrínseco no estômago, 
o que, em consequência, determina não absorção da vitamina. Outra possível forma de apresentação é a 
anemia megaloblástica após gastrectomia ou cirurgia bariátrica. 
Além disso, alguns medicamentos interferem no metabolismo do ácido fólico. Pacientes em uso de 
metotrexato, trimetoprima e pirimetamina (inibidores da redutase do ácido di-hidrofólico) que apresentem 
algum grau de deficiência de ácido fólico podem também exibir quadro de anemia megaloblástica. 
Consumo de álcool determina queda rápida nos níveis séricos de ácido fólico, podendo desencadear 
quadro de anemia megaloblástica se a ingestão de ácido fólico não for adequada. 
Indicações médicas 
A reposição de cianocobalamina na anemia perniciosa compreende doses diárias intramusculares 
de 100 µg durante 1 semana; após, aquela dose é repetida semanalmente; por fim, é espaçada 
mensalmente, pelo resto da vida. Também pode ser administrada por via subcutânea profunda, mas não 
intravenosamente. Para outras situações de deficiência, em que não há falta de fator intrínseco, pode-se 
usar vitamina B12 oral, em baixa dose; mesmo na anemia perniciosa, formulação oral (em altas doses) 
pode ser uma alternativa, pois pequenas quantidades de cianocobalamina (1 a 3%) são absorvidas sem 
necessidade de fator intrínseco. 
 
34 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Recomenda-se uso associado de ácido fólico, pois, caso ocorra deficiência concomitante deste, o 
quadro neurológico pode deteriorar-se. Por outro lado, administração isolada de ácido fólico pode levar à 
correção parcial da anemia, sem normalização dos níveis de cianocobalamina, o que permite progressão da 
lesão neurológica, que pode ser irreversível. No tratamento de anemia megaloblástica secundária à 
deficiência de ácido fólico e em diversas indicações de reposição (inclusive nas síndromes de má absorção 
intestinal), a dose empregada é de 1 a 5 mg/dia via oral. Mantém-se o uso até a correção da alteração 
hematológica ou, quando a doença de base leva a uma deficiência crônica, utiliza-se o ácido fólico 
indefinidamente. 
Nas anemias tratadas com cianocobalamina e ácido fólico, alterações na medula óssea revertem em 
24 a 48 h, e reticulócitos aparecem na circulação em 2 a 3 dias, atingindo pico em 6 a 8 dias. O nível da 
hemoglobina eleva-se lentamente (6 a 8 semanas). Caso não ocorra melhora nesse período, outras causas 
de anemia devem ser investigadas. Contagens sanguíneas devem repetir-se a intervalos de 3 a 6 meses, 
por toda a vida, já que a refratariedade à terapia pode desenvolver-se a qualquer momento. Alterações 
neurológicas, na dependência de sua intensidade e duração, revertem de maneira mais lenta, em geral 
em prazo de 6 meses a 1 ano. A recuperação pode ser completa ou parcial. 
Efeitos adversos 
Uso de cianocobalamina e de ácido fólico não se associa a maiores efeitos adversos. No entanto, 
algumas interações medicamentosas são importantes. A absorção intestinal da vitamina B12 é diminuída 
por aminoglicosídeos, ácido aminossalicílico, cloranfenicol, colchicina, anticonvulsivantes, omeprazol, 
preparados de liberação lenta de potássio e uso prolongado e excessivo de álcool. Já o ácido fólico 
antagoniza

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